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Revista Psicopedagogia
Print version ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.24 no.75 São Paulo 2007
ARTIGO ORIGINAL
O software educativo no processo de ensino-aprendizagem: um estudo de opinião de alunos de uma quarta série do ensino fundamental
Educational software in the teaching-learning process: an opinion research of a 4th grade primary school students
Cristiane ScattoneI; Elcie F. S. MasiniII
IPedagoga, Psicopedagoga, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento (Mackenzie), Professora de Pós-Graduação Lato Sensu (Mackenzie)
IILivre Docente em Educação Especial/USP e Dra. em Psicologia
RESUMO
Esta pesquisa refere-se à opinião de alguns educandos sobre os softwares educativos em seu próprio processo de aprendizagem. Este trabalho surgiu do atendimento psicopedagógico, em consultório, a aprendizes que, por diversos motivos, apresentavam resistência a aprender. Esta investigação coletou dados de alunos de uma classe da quarta série do ensino fundamental, por meio de questionário. Para apreciação objetiva, foi realizada uma análise percentual das respostas fechadas e uma análise qualitativa das respostas abertas, buscando-se assim compreender a contribuição dos softwares educativos na aprendizagem. Constatou-se que os softwares educativos desafiaram e aguçaram a curiosidade dos educandos e que, com a utilização deste recurso, o fato de errar não inibiu os educandos e até favoreceu o processo de ensino-aprendizagem. A análise evidenciou que o uso desse recurso despertou o interesse e a motivação dos educandos pela aprendizagem. Frente a isso, cabe enfatizar a importância dos softwares educativos para o enriquecimento do processo de ensino-aprendizagem.
Unitermos: Processo de ensino-aprendizagem. Software educativo. Recurso psicopedagógico. Resistência para o aprender.
SUMMARY
This research refers to the opinion of some students in relation to the educational softwares used in their own learning process. This paper is the result of psychoeducational consultations held with beginners, which, for various reasons, were resistent to learning. This investigation collected data from 4th grade primary school students, by means of a questionnaire. For an objective appeciation, a percentage-based analysis of closed answers and a qualitative analysis of open answers were conducted in order to try to understand the contribution made by educational softwares in the learning process. It was found that educational softwares challenged and stimulated the students' curiosity, and that by using this resource, the making mistakes did not cause embarrassment and actually fomented the teaching-learning process. The analysis showed that the use of this resource awakened the students' interest and motivation for learning. Thus, emphasis must be given to the importance of educational softwares in the teaching-learning process.
Key words: Teaching-learning process. Educational softwares. Resource psycho educational. Motivation. resistent to learning
INTRODUÇÃO
"Aquele que não quer aprender está renunciando a sua razão de vida"
(Macedo1)
O computador favorece o fenômeno educacional? Como os educandos concebem o uso de softwares educativos no ato de aprender?
Essas indagações surgiram ao constatar, na minha experiência profissional, que os educandos tornam-se menos resistentes ao ato de aprender diante do computador. Foram essas questões que motivaram a realização de um trabalho que investigasse a interação dos educandos com os softwares educativos.
Os educandos com dificuldades escolares chegam ao consultório psicopedagógico desmotivados, com baixa auto-estima e autoconfiança, e apresentando má disposição generalizada ou específica em relação aos conteúdos escolares.
É comum relatarem que, em decorrência do baixo rendimento escolar, foram privados pela família de lazer, atividades e objetos, tais como: ficar uma semana sem televisão ou videogame, ter aula particular nas férias, ficar sem presente no Natal, e assim por diante. Também afirmam que os seus esforços para superar as dificuldades foram ignorados.
Durante a intervenção psicopedagógica, o comportamento de resistência ao ato de aprender emergia no momento em que eles evitavam expor suas produções e recusavam-se a executar as atividades. Foi possível observar que, enquanto eles se preocupavam em evitar o erro, a disponibilidade para o processo de ensino-aprendizagem ficava prejudicada.
Segundo Weiss e Cruz2, a instituição escolar, muitas vezes, não se apercebe que pode paralisar ou mesmo deturpar o processo de construção do conhecimento do sujeito pela formação de vínculos inadequados com os objetos do conhecimento quando rotula, estigmatiza ou até mesmo exclui os educandos.
A resistência ao ato de aprender está associada ao medo de errar? Pode o computador desmistificar a correção? O software despertaria e/ou resgataria a motivação dos educandos?
Considerando os aspectos expostos, a proposta desse trabalho foi pesquisar o ponto de vista dos educandos: como eles encaram o aprender perante a máquina e que sentimentos são mobilizados. Os softwares educativos foram elaborados para atendê-los e nada mais justo do que ceder espaço para que eles próprios dessem parecer sobre esse recurso.
Software educativo como recurso psicopedagógico
O software educativo é um recurso psicopedagógico interativo, integrado aos currículos escolares desde a educação infantil e, por isso, fazem-se necessários estudos sobre a sua utilização e se esta ocorre com propriedade.
O que diferencia o software educativo de outros recursos é o fato de ele apontar os erros com feedback imediato e viabilizar a reorganização da ação dos educandos. Ele possibilita que as informações sejam comparadas e organizadas. E favorece a capacidade de concentração e atenção; a interpretação das ordens e regras; o raciocínio lógico e, a percepção visual e auditiva por meio de som, imagem e animação.
Além disso, ao interagirem com os softwares, os educandos serão incitados ao desafio de fazerem a análise os dados apresentados, de levantarem hipóteses e de estabelecerem estratégias de ação, ocorrendo assim o fenômeno educativo.
Minhas observações reiteram a afirmação de Axt3 de que o fato de os educandos, no computador, pensarem sobre o resultado das suas ações e refletirem sobre as correções possíveis a serem realizadas favorece a organização do pensamento. Seria o software um recurso adequado para mediar o acerto?
Weiss e Cruz2 afirmam que os educandos têm a impressão de que é o computador quem causa o erro e não eles, assim, lidam mais tranqüilamente com a frustração. Ao refletirem sobre sua ação, eles fazem a correção e continuam as suas atividades através do erro construtivo. Para as autoras, "o erro é menos frustrante ao ser apontado pela máquina e não pelo professor"2.
Os softwares permitem um trabalho mais individualizado, pois, "...o computador pode ser um recurso flexível, passível de ser adaptado às diferentes necessidades de cada indivíduo4". O computador também pode adaptar-se a qualquer método ou perspectiva pedagógica5.
Portanto, cabe enfatizar que, esse recurso tecnológico pode ser utilizado na modalidade da Educação à Distância e por educandos com necessidades educacionais especiais.
O computador propicia a autonomia na busca do conhecimento. E sendo a motivação e, a participação ativa e voluntária dos educandos essenciais para o processo de ensino-aprendizagem, pressupõe-se que os softwares educativos podem ser um dos recursos psicopedagógicos que contribuirão para a melhoria da qualidade do ato de aprender.
MÉTODO
A abordagem qualitativa norteou a pesquisa. Ela foi desenvolvida por meio do estudo de opinião, no qual os educandos deram seu parecer sobre o uso de softwares educativos em seu próprio processo de aprendizagem.
Para alcançar os objetivos propostos, a pesquisa de campo foi realizada em um colégio de médio porte da rede particular de ensino da cidade de São Paulo.
Definindo os sujeitos...
Para definir os sujeitos participantes, foi necessário coletar o depoimento da professora de informática do colégio.
Com os dados colhidos, ficou decidido que os alunos da quarta série do ensino fundamental (quinto ano a partir de 06/02/2006 - lei 11.274)6 seriam os mais apropriados para a investigação. Eles já adquiriram as habilidades necessárias para a coleta de dados, tais como: leitura, escrita e interpretação de texto. E já eram capazes de identificar as matérias que os motivam ou não e as que, por alguma razão, deixaram de motivá-los a aprender.
O grupo pesquisado foi composto por sete meninas e oito meninos, totalizando quinze participantes. A idade dos educandos variou entre dez e doze anos. O grupo tinha aulas de informática uma vez por semana, como parte do currículo escolar.
Coleta de Dados
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário individual e anônimo, constituído por vinte e duas questões: treze perguntas fechadas (questões objetivas) e nove abertas (questões dissertativas). Um pré-teste foi realizado com seis educandos para o aprimoramento do instrumento à faixa etária; assim, o termo software educativo foi substituído por programas de computador.
Cabe esclarecer que a pesquisa não visou a um determinado software educativo, mas sim, à interação entre os educandos e os softwares educativos no seu processo de ensino-aprendizagem.
Procedimento
A aplicação do questionário deu-se durante o período escolar, em um contato direto e coletivo entre a pesquisadora e os alunos. A duração foi de trinta minutos em média e ocorreu no segundo semestre de 2001.
A coleta de dados foi realizada sem conhecimento prévio da professora para evitar uma possível interferência nas respostas dos educandos. A pesquisadora foi apresentada ao grupo pela coordenadora do colégio.
Os educandos mostraram-se receptivos à pesquisa, mas logo perguntaram se era para nota. Foi explicado que não haveria respostas certas ou erradas e que não precisariam nem colocar o nome.
RESULTADOS
Os dados obtidos com o questionário foram analisados da seguinte forma: as respostas das questões fechadas foram transcritas em uma planilha de Excel para análise percentual e quantitativa, e as respostas das questões abertas foram transcritas na íntegra e agrupadas de acordo com o sexo do participante para favorecer a análise qualitativa.
As respostas do questionário foram comparadas e organizadas em categorias pré-determinadas de acordo com os objetivos da pesquisa. Com os dados, foi possível também definir subcategorias, entretanto, essa divisão é didática e durante a discussão houve o entrelaçamento das mesmas.
A síntese abaixo dos dados apresenta de forma ordenada as categorias e as subcategorias, as quais contêm as questões e as respostas pessoais mais relevantes e que representaram a opinião da maioria do grupo, independentemente do sexo, já que não houve diferença significativa entre os pareceres de meninos e meninas.
1. O convívio do grupo pesquisado com o computador
a) familiaridade com os softwares educativos;
b) uso do computador (quanto tempo por dia);
c) tipos de softwares utilizados (casa e escola).
Grande parte dos sujeitos, isto é, 80% têm computador em casa e usam-no mais nos fins de semana. Os dados coletados demonstraram que, na escola, os educandos utilizavam com freqüência tanto softwares de conteúdos escolares quanto de lazer.
2. Vontade e motivação para aprender
a) estímulo para estudar (curiosidade, desafio, meio social);
b) vontade de estudar.
Questão - O que faz você estudar mais é...
- Respostas dos alunos:
"o livro."
"estudar brincando."
"conhecer coisas novas e fascinantes."
"tirar boas notas e orgulhar minha família."
"para ser uma pessoa intiligente."
"para me dar bem no futuro."
Questão - Como é a sua vontade de estudar quando(Tabela 1):
3. O erro no processo de ensino-aprendizagem
a) sentimentos diante dos erros (surpresa, decepção, vergonha);
b) conseqüências dos erros (vontade e gosto pelo estudo).
Questão - Quando você comete muitos erros numa prova, como se sente(Tabela2)?
Questão- O fato de errar e tirar notas baixas faz você (Tabela 3)
4. Errar nos softwares educativos
a) opiniões sobre errar no software educativo;
b) erro no software educativo (interatividade e feedback);
c) correção (educador e computador).
Questão- Quando você erra nos programas de computador, você (Tabela 4):
Questão - Há diferença em ser corrigido pelo professor e ser corrigido pelo computador.
Do grupo, a grande parte dos participantes julgou haver diferença.
Porque com o computador...
- Respostas dos alunos:
"porque é mais rápido."
"é tudo na hora ele já corrige altomatizamente."
"porque computador não dá bronca."
"mostra o que errou e faz a mesma coisa pra ver se compriender."
"pelo computador a gente não tem vergonha."
"só o computador vai ficar sabendo do erro."
Porque com o professor...
- Respostas dos alunos:
"já fica meio nervoso."
"o professor te ajuda."
"o professor erra na hora da correção."
"é manual e demora mais."
"porque corrigimos e apreendemos junto."
"porque ele dá bronca e ninguém gosta né."
"pela professora a jente tem vergonha."
"e o professor nos diz: para refazer."
"ele vai ficar sabendo e vai pensar que eu não estou estudando."
5. Autonomia do aprendiz com os softwares educativos.
a) aprendizado sozinho;
b) aprendizagem utilizando-se softwares educativos.
Questão - Quando você erra e o computador corrige, você aprende.
A tabela evidenciou que a maioria dos educandos, (86,7%) considera que aprenderam quando o computador corrigiu. As explicações seguem abaixo.
Porque eu...
- Respostas dos alunos:
"gravo."
"presto atenção."
"refaço e aprendo."
"errei o computador me mostrou o certo."
"aprendo a escrever direito."
"aprendo bastante e eu aprendo como escrever a palavra certa."
"às vezes não sei escrever alguma palavra e escrevo como eu sei, aí o computador me corrige."
Questão - Se você aprendeu com os programas de computador, você fica com a sensação de que aprendeu sozinho (Tabela 5).
Os educandos que responderam errado para esta questão, deram a seguinte explicação:
Porque eu...
- Respostas dos alunos:
"presiso de ajuda."
"pressizei do computador para aprender."
"o computador que me ensinou (o jogo)."
"não aprendi sozinho eu aprendi com o computador."
E os 23,7% que responderam certo, justificaram assim:
Porque eu...
- Respostas dos alunos:
"não precisei da ajuda de ninguém."
"que errei e acertei."
"posso fazer pesquisa para estudar para a prova."
6. Os recursos preferidos pelos educandos para realizarem exercícios escolares
a) caderno (escrita manual);
b) softwares educativos (escrita; através do teclado).
Questão - Você prefere fazer exercícios no caderno ou no computador?
O dado surpreendeu, pois a maior parte dos educandos (66,7%) preferiu o caderno para fazer os exercícios:
Porque com o caderno eu...
- Respostas dos alunos:
"faço a mão."
"fico mais segura."
"treino a ortografia."
"acho que é eu quem escrevo e um método diferente."
"acho melhor porque eu escrevo e copio."
"escrevo e é mais cansativo mas eu escrevo mais rápido."
"escrevo com a minha letra."
Porque com o computador eu...
- Respostas dos alunos:
"não treino ortografia."
"não escrevo com minha letra e é um método que não é gostoso de aprender."
"porque eu demoro muito pra escrever."
"faço com teclas."
"uso a letra do computador."
"porque é complicado e é melhor com o caderno."
Os educandos que preferiram utilizar o caderno em relação ao computador apontaram três aspectos sobre as desvantagens do computador:
a) o da participação indireta, pois, segundo eles, não é a letra deles;
b) maior lentidão ao realizarem as atividades;
c) o fato de o computador ser complicado e desconfiarem de que ele pudesse errar.
Do grupo, apenas 33,3% preferiram o computador. Os educandos justificaram da seguinte maneira:
Porque com o caderno eu...
- Respostas dos alunos
"tenho mais dificuldade."
"escrevo e não tenho jogos pra fazer no caderno."
"não gosto de escrever."
"escrevo."
"erro muito."
Porque com o computador eu ...
- Respostas dos alunos:
"digito."
"aprendo jogando."
"erro menos."
"não preciso escrever."
"tenho menos dificuldade."
7. As contribuições dos softwares educativos segundo os educandos
a) compreensão dos conteúdos;
b) desempenho nas provas;
c) motivação para o aprendizado.
Do grupo, 60% acharam que a compreensão ficou facilitada com os softwares educativos. Os educandos consideraram dois aspectos: aprender e divertir-se e justificaram da seguinte forma:
Porque...
- Respostas dos alunos:
"eu me divirto."
"ele avisa."
"porque o computador ensima mais."
"ele da uma boa ajuda e a jente aprende se divertindo."
"o computador pega respostas de varios lugares."
Entretanto, 40% acharam que não ficou mais fácil entender a matéria com os softwares educativos. Eles esclareceram:
Porque...
- Respostas dos alunos:
"para mim tanto pessoas ou com computador eu aprendo do mesmo modo, estão ensinando a mesma coisa."
"a professora ela esplica com um geito facil e no computador é difícil de aprender."
"as vezes o computador fala coisas que eu não entendo."
Questão - Os programas de computador ajudam você:
Observou-se, com os dados das questões fechadas, como o grupo avaliou a contribuição dos softwares educativos em relação aos conteúdos escolares. A maioria considerou que os softwares ajudaram muito para:
*tabuada e ortografia -100%;
*Ciências e História - 80%;
*gostar mais dos conteúdos estudados - 93,3%.
Os educandos que complementaram com respostas abertas revelaram que os softwares educativos despertaram a motivação para o aprender.
Questão - Usar programas de computador faz que você (Tabela 6):
8. Características dos softwares que agradaram os educandos.
a) som;
b) marcação de tempo e de pontos;
c) indicação do erro;
d) enunciado (oral e escrito);
e) criação.
De acordo com as respostas fechadas, o índice dos aspectos que agradaram foram:
*música e marcação de pontos - 100%;
*enunciado oral e criação - 93,3%;
*indicação do erro - 86,7%;
*indicação da resposta certa - 66,7%;
*indicação de tempo - 66,6%;
*enunciado escrito - 60%.
As respostas abertas sobre o que é muito legal nos programas referiram-se aos jogos, à língua estrangeira, às histórias longas com cenas, e ao fato de eles corrigirem e aprenderem.
9. A opinião dos educandos sobre os softwares educativos
a) lúdico;
b) atraente;
c) rápido.
Questão - Escreva o que você pensa sobre os programas de computador.
- Respostas dos alunos:
"Eles são educativos, são divertidos, são interessantes."
"Eu acho que é uma boa forma de estudar se divertindo."
"Eu penso sobre o programas de computador que são muito avançados."
"Eles são muito legais e eu adoro eles."
"Ele faiz a gente aprender; atividades, jogos, filmes, etc..."
"Os progras são interesantes aprendemos e brincamos."
"Eu penso que com estes programas aprende mais rápido e mais fácil e com vontade."
"São muito bons e legais porque servem tanto para o estudo e pesquisas como para brincadeiras."
"As vezes ajuda e ás vezes não depende, é bom quando você vai revisar e ruim quando vai aprender coisas novas."
DISCUSSÃO
O fato de o grupo pesquisado usar o computador em casa e na escola viabilizou e validou a opinião dos educandos sobre os softwares educativos em seu próprio processo de aprendizagem.
Foi interessante constatar que a maioria dos educandos encara o erro como fenômeno natural do processo de aprendizagem. Eles revelaram-se surpresos e decepcionados com os erros nas provas, mas continuaram sentindo-se capazes. O fato de errar despertou o interesse pelo aprender.
Os resultados sugerem que as notas baixas nas provas, e o vínculo inadequado com o conteúdo ou com o educador poderiam interferir na vontade de aprender ou estudar e até mesmo despertar o medo de errar novamente.
Ora, sendo as provas e as notas passíveis de avaliação crítica pelo meio social, este fato leva-nos a pensar que a maneira como os colegas, os pais e professores reagiram ao erro, e a nota dos educandos pôde provocar vergonha ou mesmo inibição.
Isso se confirmou com as respostas abertas sobre as diferenças de correção das atividades entre professor e softwares educativos que revelaram quatro aspectos:
a) o acerto do erro na correção: o computador acertou; o professor, às vezes, errou;
b) a rapidez da correção: o computador foi mais rápido; o professor demorou mais;
c) a forma de correção: o computador corrigiu tudo; o professor deixou escapar;
d) os sentimentos que acompanharam a correção: o computador não contou para ninguém, não deu bronca como o professor, que ainda ficou nervoso, e o aluno, envergonhado.
Ficou claro que os educandos consideraram o computador mais eficiente para corrigir do que o professor e que se sentiram mais à vontade para errar e, por que não, para aprender diante dos softwares educativos. Fagundes7 explica: "A ansiedade perante o erro foi substituída por uma atitude positiva. Esses sujeitos reconhecem que é preciso tentar muitas vezes, porque sempre há um procedimento que oferece uma solução possível"7.
A pesquisa revelou ainda quais os aspectos que estimulam os educandos a estudarem, são eles: serem mais inteligentes, alcançarem a média estabelecida pela escola, o material pedagógico, o reconhecimento social, a afetividade quanto ao conteúdo escolar e ao professor. Vale ressaltar que os estímulos externos podem aumentar ou diminuir a força do motivo, mas o processo é interno, ou seja, é organizado pelo indivíduo8.
Refletindo sobre esse dado, constatou-se que o meio social pode favorecer ou dificultar o desenvolvimento cognitivo9. Um vínculo adequado com o objeto do conhecimento e com o educador otimiza o desejo de estudar e, por que não, de aprender. Masini10 enfatiza que a relação professor-aluno proporciona experiências significativas nas quais se aprende também a tornar-se humano.
Segundo Bruner11, os indivíduos possuem motivos intrínsecos como a curiosidade e o desejo de competência que sustentam a aprendizagem espontânea. Para o autor11, a dificuldade está em encontrar materiais que desafiem o bom aluno, sem destruir a confiança e o desejo de aprender, dos que apresentam dificuldades.
Se 66,7% dos educandos assinalaram que errar nos programas de computador não mobilizou o medo e nem foi encarado como fracasso. Supõe-se que os softwares educativos poderiam ser o recurso a que se referiu Bruner11.
De acordo com as respostas dadas, o grupo confirmou a asserção de que os softwares educativos desafiam e aguçam a curiosidade. Os educandos não desistem das atividades diante das dificuldades; eles persistem. Axt3 esclarece que o erro, ao provocar surpresa, leva os educandos a agirem em busca da solução para atingir um determinado fim. Com o software educativo, os erros são desafios. Tal fato leva a pensar que a motivação para o aprender pode ser otimizada, e a resistência amenizada.
Portanto, a interatividade e o feedback imediato fizeram com que os educandos se sentissem desafiados para as atividades. Foi possível observar que o uso do computador otimizou a disponibilidade para o aprender.
Nesse sentido, pôde-se pensar que os softwares educativos propiciaram o "erro instrutivo"12. Os educandos buscaram novas maneiras de solucionar as atividades ao refazerem o processo e compreenderem o erro cometido. Conclui-se que o computador oferece condições para os educandos fazerem uso de suas funções cognitivas, favorecendo a metacognição.
Embora os educandos tenham assinalado que resolveram sozinhos, com autonomia, as atividades dos softwares educativos, eles não sentiram que aprenderam por si sós. Para eles, o computador os ensina. Eles não perceberam que comandavam o computador, ou seja, que eles próprios manipulavam e tinham o poder de decisão.
Será que a sensação de controle fez que eles preferissem fazer exercícios no caderno?
A escrita e a letra foram associadas ao recurso preferido. Para eles, a escrita manual é mais rápida e pessoal (eu escrevo). O fato de escrever usando o teclado foi considerada uma participação indireta (a letra não é minha). Vale salientar que a idade e a série escolar do grupo podem justificar as respostas pela pouca familiaridade com a digitação.
Outro aspecto a considerar sobre esse dado é que os educandos registram sua produção no caderno, e é nele que recebem reconhecimentos, tais como: parabéns!, muito bem!, você melhorou!, estude mais!, capriche mais!, continue assim! e outros. Os educandos, nessa faixa etária, gostam de ter sua produção reconhecida por professores, colegas e família. Eles necessitam do feedback social para terem consciência do aprender.
Ao mesmo tempo em que o grupo preferiu o caderno, confirmou que o uso dos softwares educativos melhorou o desempenho nas provas e a motivação para aprender. Para Reinhardt, apud Moraes13, a informática na educação aumenta a taxa de retenção dos conhecimentos e melhora a qualidade do rendimento escolar.
Então, a multimídia interativa favoreceu a aprendizagem. A sinalização do erro, do tempo e o aspecto sonoro são os aspectos dos softwares que os educandos mais apreciam. Conclui-se que o aspecto interativo é o mais atrativo.
Ao escreverem o que pensam sobre os softwares educativos, os educandos reafirmaram que o aspecto lúdico beneficiou a compreensão dos conteúdos e o ato de aprender, tornando o processo mais rápido e atraente.
De um modo geral, o grupo pesquisado enfatizou que esse recurso psicopedagógico enriqueceu o processo de ensino-aprendizagem.
CONCLUSÃO
Compreender o significado da utilização do software educativo só é possível considerando-se o dinamismo da interação que esse recurso proporciona em situação de aprendizagem.
A razão pela qual os educandos têm vontade de realizarem as atividades e não desistirem diante das dificuldades é o de sentirem-se desafiados. A interatividade favorece a curiosidade e a motivação, e permite que, de uma forma mais ativa, se entre em contato com a informação e o conhecimento.
Essa pesquisa constatou que, segundo o ponto de vista dos educandos, o aprender ficou mais agradável e divertido. Os recursos audiovisuais dos softwares tornaram o aprender mais atraente.
O grupo sentiu-se mais à vontade para errar no computador, o que, de certa forma, desmistifica a correção, uma vez que esta pode vir acompanhada de sentimentos de culpa, de frustração e de incompetência.
Portanto, com o uso dos softwares educativos, a má disposição do educando pelo processo de ensino-aprendizagem pode ser amenizada e, por que não, até suprimida. Então, esse recurso psicopedagógico será apropriado àqueles educandos que, por diversos motivos, inibiram-se frente às situações de aprendizagem.
E, com o interesse de auxiliar os educadores e profissionais afins, esse trabalho propõe o uso dos softwares educativos como um dos recursos psicopedagógicos para educandos com baixo rendimento escolar, com transtornos de aprendizagem e com necessidades educacionais especiais.
Conclui-se com a pesquisa que os softwares educativos viabilizam novos caminhos para despertar a sensação de bem-estar no processo de aprendizagem. E, se assim for, a aventura do ato de aprender prevalecerá
Cabe ainda mencionar que, provavelmente, a maior contribuição dessa investigação é a de ter levantado pareceres dos educandos oferecendo àqueles que lidam com o processo de ensino-aprendizagem o ponto de vista deles sobre o processo.
Espero que esse trabalho possa ser visto como uma ilustração ao que propõe, Bruner14, um dos maiores estudiosos da aprendizagem humana:
"Tenho argumentado há muito tempo que explicar o que as crianças fazem não é suficiente; o novo propósito é determinar o que elas pensam que estão fazendo e quais são seus motivos para fazê-lo ..."14.
"Os avanços na forma como procedemos para entender as mentes das crianças constituem, portanto, um pré-requisito para qualquer melhoria na pedagogia."14.
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos à Profª. Dr.ª Elcie F. S. Masini, minha orientadora. O seu empenho e incentivo foram decisivos para que a dissertação pudesse ser concluída.
REFERÊNCIAS
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Correspondência:
Cristiane Scattone
Rua: Dr. Mario Cardim, 242
Vila Mariana - São Paulo SP - 04019-000
Tel: (11) 9836-2320
E-mail: cs.psicopedagoga@terra.com.br
Artigo recebido: 17/08/2007
Aprovado: 25/11/2007
Trabalho realizado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP.