A sociedade contemporânea vive uma transformação acelerada, na qual a educação e a aprendizagem enfrentam desafios que vão muito além da simples transmissão de conteúdo. O mundo de hoje é marcado pela explosão da informação e pelo avanço das tecnologias digitais, torna-se necessário ressignificar as práticas educacionais tradicionais para atender às necessidades individuais e preparar cidadãos críticos e conscientes. Nesse cenário, a Psicopedagogia se destaca como uma abordagem capaz de integrar as dimensões cognitivas, sociais e afetivas do processo educativo, identificando barreiras e potencialidades de cada aprendiz de maneira humanizada.
Ao promover uma educação que valoriza o desenvolvimento integral, a Psicopedagogia convoca-nos à mediação, criando ambientes de aprendizagem acolhedores e inclusivos. Essa perspectiva enfatiza a importância da formação continuada e da articulação entre escola, família e comunidade, elementos essenciais para a construção de práticas de aprendizagem que respeitem a diversidade e incentivem a autonomia dos estudantes. Assim, o uso combinado de metodologias diversificadas e recursos tecnológicos não só amplia o acesso à informação, mas também estimula a criatividade e o pensamento crítico, preparando crianças, jovens, adultos e idosos para enfrentarem os desafios do século XXI.
O tempo, entretanto, não volta. Essa certeza reforça a urgência de agir no presente, pois cada momento é precioso e único. Temos em nossas mãos a oportunidade de transformar o futuro por meio do conhecimento, ajustando a educação para que ela se torne uma ferramenta poderosa na superação de desigualdades e na promoção do desenvolvimento pessoal e coletivo. Ao considerar a singularidade de cada pessoa respeitando suas necessidades, a Psicopedagogia contribui para a criação de uma sociedade mais justa e equitativa.
A transformação do mundo passa pelo reconhecimento do potencial individual e pelo incentivo ao diálogo e a estar junto. Cada ação realizada agora é um investimento no futuro, um passo decisivo para construir um ambiente educativo que valorize o conhecimento e o desenvolvimento integral de todos. O nosso melhor desafio é contribuir com a formação de uma sociedade mais humana, inclusiva e sustentável.
Por esse motivo é que publicamos mais uma edição da Revista Psicopedagogia que, com seus artigos, nos instiga à leitura e, com este editorial, os artigos abordam temáticas fundamentais para o campo da Psicopedagogia e áreas interdisciplinares, trazendo contribuições significativas para a compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano com o propósito de formar cidadãos para o mundo atual.
O artigo original “Regulação e emancipação na escola: O estudo de caso do processo identitário de uma jovem”, de Vanessa da Costa Meirelles e Cecilia Pescatore Alves, apresenta um estudo de caso sobre o processo identitário de jovens mulheres brancas, ex-alunas de escolas particulares de elite em São Paulo. A identidade é vista como um processo contínuo, influenciado pelo contexto sócio-histórico e reproduzido no cotidiano escolar. Utilizando entrevistas narrativas, a pesquisa identificou práticas escolares como políticas identitárias regulatórias, impondo um modelo único e patologizando o fracasso. Esse contexto gerou tensões invisibilizadas que levaram ao adoecimento. Conclui-se que tais políticas limitam a emancipação e reforçam exclusões, evidenciando a necessidade de ampliar a investigação.
Em “Avaliação Neuropsicológica das Altas Habilidades/Superdotação em um Projeto de Extensão: Estudo de Caso”, artigo original, Natália Nóbrega Batista, Vinícius Müller de Souza, Rubia Barbosa da Silva Rosa, Tatiana de Cássia Nakano e Ricardo Franco de Lima descrevem e analisam a Avaliação Neuropsicológica de um menino de 8 anos com hipótese de altas habilidades/superdotação. Foram aplicadas diversas técnicas para explorar as demandas familiares e testar a hipótese. Como resultado, obtiveram que o desempenho foi acima da média na maioria dos construtos avaliados, especialmente em criatividade, mas houve altos índices de sintomas internalizantes e baixa regulação emocional. Concluíram que o perfil identificado combina habilidades intelectual-acadêmicas e criativo-produtivas, com dificuldades na expressão emocional. Recomenda-se intervenção psicológica e orientação parental e escolar.
O artigo original “Nada sobre eles, sem eles”: O protagonismo autista no Instagram”, de Maria Gabriela Vicente Soares e Lilian Kelly de Sousa Galvão, analisou a produção de jovens e adultos autistas no Instagram por meio de pesquisa documental. Foram examinados 68 perfis brasileiros usando a Classificação Hierárquica Descendente no IRAMuTeQ. A análise destacou temas como relações familiares, inclusão escolar e capacitismo, ampliando a visibilidade da comunidade autista na ciência.
No estudo longitudinal “Práticas de letramento em crianças e adolescentes com mielomeningocele”, artigo original, Fernanda Vanessa da Costa Varela, Mirelly Danglês de Oliveira Ferreira, Sarah Camilla Ferreira de Oliveira Lima e Cíntia Alves Salgado Azoni investigaram os efeitos de uma intervenção em práticas de letramento com 7 participantes (7 a 15 anos) de uma clínica de lesão medular infantil. Foram realizados 10 encontros semanais de 60 minutos, com avaliação pré e pós-intervenção. Houve melhora significativa em consciência fonológica, nomeação automática, memória fonológica, leitura e escrita. Conclui-se que as práticas de letramento favoreceram o desenvolvimento da linguagem escrita, contribuindo para a inclusão educacional e social.
O artigo original “Treinamento de consciência morfológica em leitura e ortografia do português”, de Silvia Brilhante Guimarães, Márcia Maria Peruzzi Elia da Mota e S. Hélène Deacon, analisou os efeitos do ensino de morfologia oral e escrita em crianças da 3ª série. Foram realizadas 19 sessões com 17 alunos, comparados a um grupo controle de 16 alunos. A intervenção melhorou a consciência morfológica e a ortografia de palavras complexas, mas não influenciou a leitura ou a ortografia geral. Os resultados indicam efeitos específicos do treino morfológico, destacando sua relevância para a compreensão de textos escritos.
No artigo original “Caracterização de erros ortográficos em escolares com queixas de dificuldade de aprendizagem” Ana Beatriz Leite dos Anjos, Bárbara Louise Costa Messias, Flávia Ferreira Lemos, Anna Irenne de Lima Azevedo, Hellen França Alcântara, Bárbara Tavares do Nascimento e Cíntia Alves Salgado Azoni traçam o perfil de erros ortográficos em escolares de uma escola privada no Nordeste do Brasil com queixas de aprendizagem. Participaram 20 crianças (7 a 15 anos, 1º ao 9º ano), avaliadas pelo protocolo LPI e analisadas segundo Zorzi. Nos resultados predominaram erros de omissão de letras, indicando dificuldades na manipulação dos sons da língua, apesar do ensino privado enfatizar regras ortográficas. Concluíram que a análise dos erros ortográficos é essencial para diagnóstico e intervenção em dificuldades de leitura e escrita.
O artigo original “Formação de psicopedagogos: Em busca de um olhar avaliativo despatologizante”, de Laura Monte Serrat Barbosa, reflete sobre a despatologização na avaliação psicopedagógica, por meio de uma pesquisa-ação participativa com 19 alunas de um Curso de Especialização em Psicopedagogia. Elas investigaram 19 aprendizes, focando na identificação de possibilidades de aprendizagem além dos distúrbios. O estudo baseou-se na operatividade de Pichon-Rivière e em abordagens teóricas despatologizantes. Observou-se a construção desse olhar nas Rodas de Conversa, em um seminário temático e nos registros das entrevistas realizadas.
Em “Intervenção em funções executivas pró-produção escrita para universitários”, artigo original de Daniela Patrícia Rosenthal Joaquim, Bruna Martins Avila, Natália Martins Dias e Caroline de Oliveira Cardoso, as autoras investigaram os efeitos do módulo de produção escrita do Programa de Intervenção em Funções Executivas para universitários. Participaram 23 estudantes no grupo experimental e 12 no controle, avaliados por questionários e tarefas de leitura e escrita. O grupo experimental apresentou maiores ganhos em produção escrita e compreensão leitora. A intervenção foi bem compreendida e aplicada às tarefas acadêmicas, trazendo contribuições da Neuropsicologia Escolar para o Ensino Superior.
O artigo original “Habilidades sociais e sintomas clínicos em professores do Ensino Fundamental”, de Andrieli Zorzo, Maria Leatrice Bittencourt, Juliana Delazari, Raquel de Goes Ferreira e Marcia Fortes Wagner, avaliou habilidades sociais e sintomas de depressão e ansiedade em 78 professores do Ensino Fundamental de escolas públicas do RS. Utilizou-se o Inventário de Habilidades Sociais-2-Del-Prette e o DASS-21. Identificou-se que 39,7% apresentaram prejuízo nas habilidades sociais, sugerindo necessidade de intervenção. Parte dos participantes apresentou escores elevados de depressão e ansiedade. Os achados indicam déficits no repertório social e impacto emocional no desempenho profissional.
No artigo original “A criança e o poeta: Uma parceria entre o compositor Milton Karam e alunos de uma escola em Curitiba”, Adriana Barretta Almeida e Diamila Medeiros tratam do trabalho de Milton Karam em uma escola particular de Curitiba, onde ele compõe canções a partir das pesquisas e desejos dos alunos. O projeto inova ao dar voz às crianças, que atuam como coautoras, promovendo um diálogo poético dentro da escola.
A revisão de literatura “Avaliação da teoria da mente em adultos com autismo”, de Marluci Camila Gomes, João Rodrigo Maciel Portes e Andriele Egidio, é um estudo que revisou a literatura sobre instrumentos de avaliação da Teoria da Mente em adultos com TEA entre 2018 e 2023. Foram analisados 18 artigos, identificando 16 tarefas distintas, com predominância do paradigma cognitivo. Os testes mais utilizados foram o Reading the Mind in the Eyes Test e o Strange Stories Film Task. Observou-se um aumento discreto de tarefas integrativas e a necessidade de adaptação de instrumentos para contextos culturais, como o latino-americano.
No artigo de revisão “Pesquisa-intervenção em consciência morfológica no Brasil: Mapeamento, caracterização e perspectivas do campo”, de Rafael Rossi de Sousa e Márcia Maria Peruzzi Elia da Mota, a pesquisa-intervenção aproxima o investigador da realidade estudada, permitindo analisar aspectos desenvolvimentais e situacionais. Este artigo investigou intervenções em consciência morfológica em programas de pós-graduação no Brasil. Os resultados indicam um número reduzido de estudos, mas que apontam o papel facilitador dessa habilidade na aprendizagem da leitura e ortografia.
O artigo de revisão “Desenvolvimento da empatia em estudantes de saúde: Análise das intervenções eficazes”, de Sabrina Almeida do Nascimento e Corina Elizabeth Satler, enfatiza que a empatia é fundamental na área da saúde, associando-se à comunicação eficaz e inteligência emocional. No entanto, há poucas intervenções voltadas ao seu desenvolvimento. Esta revisão integrativa analisou práticas para aprimorar a empatia em estudantes de graduação da saúde, a partir de artigos científicos das bases PubMed, SciELO, MEDLINE e LILACS. Foram identificadas intervenções como escalas, treinamentos em coaching, narração médica e análise reflexiva. Os resultados são promissores, destacando a importância de métodos mistos que combinem prática clínica e desenvolvimento da empatia.
Por fim, o artigo de ponto de vista “Similaridades entre dislexia do desenvolvimento e esquizofrenia: Prejuízos cognitivos-linguísticos”, de Andréa Carla Machado e Simone Aparecida Capellini, aborda as semelhanças entre dois transtornos do neurodesenvolvimento, a dislexia e a esquizofrenia são transtornos distintos, mas podem compartilhar bases neurodesenvolvimentais, como prejuízos na linguagem e funções executivas. Este artigo discute esses aspectos na literatura e propõe diretrizes para avaliações precoces, visando intervenções que minimizem impactos no desenvolvimento escolar.
Esperamos que esta edição da Revista Psicopedagogia, que inicia as publicações de 2025, contribua para a ampliação do conhecimento e estimule novas investigações e reflexões sobre os temas abordados.
Que a leitura seja proveitosa!













