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Revista Psicopedagogia

versão impressa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.42 no.128 São Paulo  2025  Epub 12-Set-2025

https://doi.org/10.51207/2179-4057.20250016 

EDITORIAL

Educação, Desenvolvimento e Psicopedagogia: Contribuições sobre as dimensões humanas da aprendizagem

Education, Development, and Psychopedagogy: Contributions on the human dimensions of learning

Luciana Barros de Almeida1 

1Associação Brasileira de Psicopedagogia Conselheira Vitalícia da ABPp. Editora-Responsável da Revista Psicopedagogia Triênio 2020-2022 / 2023-2025


Nas últimas décadas, o campo da Psicopedagogia vem se aproximando cada vez mais da realidade vivida em contextos educacionais, familiares e sociais, promovendo um olhar integrado sobre o desenvolvimento humano. Os artigos reunidos nesta edição ilustram diversificados enfoques, refletindo o comprometimento científico em compreender e intervir nas questões urgentes do nosso tempo.

A adolescência é abordada a partir de suas luzes e sombras: de um lado, as práticas envolvidas no bullying e no cyberbullying de outro, o refinamento de instrumentos que medem a empatia, competência essencial à convivência ética. No Ensino Superior, também existem as dificuldades acadêmicas e as habilidades sociais como marcadores importantes da qualidade de vida dos estudantes.

Na infância, a atenção se volta tanto às crianças com TDAH quanto às que demonstram precocidade no neurodesenvolvimento, apontando a necessidade de práticas pedagógicas sensíveis às singularidades. Estudos sobre leitura, transcodificação numérica e uso de tecnologias em transtornos específicos de aprendizagem reforçam o compromisso com a alfabetização e o letramento como fenômenos complexos e interdisciplinares.

Ao abordar a paternidade, o autismo, o impacto da pandemia na fluência e compreensão leitora, bem como a atuação das psicopedagogas, esta edição reafirma o compromisso da produção científica com a formação integral do ser humano. Convidamos você, leitor, a ler esta edição e refletir conosco sobre contribuições essenciais para compreender e transformar os contextos de aprendizagem, em direção a uma educação científica e abrangente, voltada a toda a sociedade que dela precisa e usufrui.

Vamos à apresentação dos artigos publicados: abrindo a edição temos um artigo original, “Crenças e práticas de adolescentes envolvidos no bullying e no cyberbullying”, dos autores Dayanne Caroline de Assis Silva, Estela Maria Leite Meirelles Monteiro, Amadeu Sá de Campos Filho, Alcides da Silva Diniz, Débora Maria Santana da Silva e Wallacy Jhon Silva Araújo. O estudo tem o objetivo de compreender as crenças, valores e práticas que os adolescentes mobilizam no desempenho dos papéis no envolvimento no bullying e cyberbullying. Embasado nos pressupostos de Freire, da educação como política social, que se apresenta intrinsecamente articulada ao viver em sociedade, foi realizado um estudo qualitativo, envolvendo a aplicação de um questionário semiestruturado com 45 adolescentes de 10 a 14 anos de idade. Os resultados indicaram que 86,67% dos sujeitos teriam praticado, sofrido ou testemunhado alguma situação de bullying, cyberbullying ou ambos os tipos de violência.

O segundo artigo original, “Tradução e evidências de validade de conteúdo do Quociente de Empatia para Adolescentes (Empathy Quotient for Adolescents - EQ), é de Júlia Felipin de Souza, Letícia Pereira de Lima e Ricardo Franco de Lima e tem como objetivo realizar a adaptação transcultural e obter evidências de validade de conteúdo para a versão brasileira do Quociente de Empatia para Adolescentes (Empathy Quotient for Adolescents - EQ). O estudo resultou na versão brasileira do EQ, com evidências de validade de conteúdo. Estudos futuros são necessários para investigar outras fontes de validade e confiabilidade, contribuindo para a avaliação de indivíduos com TEA.

Na continuidade, no artigo original “Inventário de rastreio das dificuldades no Ensino Superior”, de Sílvia Maria de Oliveira Pavão e Franciele Xhabiaras Grapiglia, o objetivo geral do estudo foi desenvolver um instrumento de identificação de dificuldades enfrentadas por universitários. Os resultados descortinaram um quantitativo limitado de instrumentos de avaliação psicopedagógica que poderiam embasar uma intervenção eficaz no contexto dos estudantes universitários e mostrou ser uma necessidade. Em conclusão, o suporte psicopedagógico pode contribuir nesse processo de investigação das dificuldades dos estudantes na universidade.

Dando sequência, apresentamos o artigo original “Habilidades sociais e qualidade de vida de estudantes de psicologia”, de Silvia Batista von Borowski, Silvia Netto, Gabriel Miguel da Silva e Fernanda Machado Lopes. Esta pesquisa acrescenta informações valiosas aos campos da psicologia e da educação, servindo como ponto de partida para futuros estudos sobre modelos de treinamento e intervenções em instituições de Ensino Superior focadas no desenvolvimento de habilidades sociais específicas, visando à melhoria da qualidade de vida dos estudantes, o que é essencial para o seu sucesso acadêmico e bem-estar geral.

Em seguida, temos o artigo original “Caracterização das habilidades escolares em crianças com TDAH”, de Thainá Sousa Campos, Letícia Borges dos Santos, Lucas Lacerda Camilo, Roberta Bolzan Jauris e Patrícia Martins de Freitas. O artigo é quantitativo, de análise descritiva exploratória. Participaram do estudo 27 crianças com diagnóstico de TDAH identificados por psiquiatras e neurologistas, com idade entre 6 e 10 anos (M=8,29 anos, DP=1,48 anos), 18 (66,6%) participantes do sexo masculino, 17 (63%) matriculados em escolas particulares, 23 (85,2%) não possuem nenhuma comorbidade e 15 (55,6%) fazem uso de medicamento. Os resultados demonstram que, para as três habilidades escolares, a maioria das crianças investigadas apresentou desempenho abaixo do esperado.

Ainda nesta edição, o artigo original “Fluência e compreensão em escolares do terceiro ano após a pandemia”, de Lithiely Dias da Silva, Rafaela Gloger dos Santos, Adriana Marques de Oliveira e Simone Nicolini de Simoni, caracteriza o desempenho da fluência e compreensão de leitura de escolares do terceiro ano do Ensino Fundamental, após a pandemia de COVID-19. Na conclusão a maioria dos escolares não alcançou níveis satisfatórios no desempenho da fluência e compreensão de leitura. As variáveis e taxas de leitura estudadas compreenderam a relação existente com a automaticidade das palavras, impacto na fluência, e compreensão textual.

O artigo original que se segue, “Avaliação do crescimento somático de crianças: Programa de residência pedagógica”, de Luís Felipe Correia, Geovane Biet de Sousa, Giovanna Eduarda da Silva, Marta Carolina Terto de Morais, Deugian Oliveira da Costa, Roberta Zabott, Edson dos Santos Farias e Silvia Teixeira de Pinho, teve como objetivo verificar o crescimento somático com a prevalência pelo escore Z dos indicadores peso corporal, estatura corporal e índice de massa corporal (IMC) por idade, e a interação entre idade e sexo pela variável peso corporal, estatura corporal e IMC. Recomenda-se a realização de novas pesquisas com amostras maiores para a construção de cartas referenciais específicas para a Região Norte do Brasil.

A publicação segue com mais um artigo original, “Evolução da paternidade e desenvolvimento do indivíduo na infância no Paraná”, de Mário Sérgio Silva. Este estudo investigou a evolução dos papéis parentais e seu impacto no desenvolvimento socio-emocional das crianças, destacando a importância do envolvimento ativo do pai na vida familiar. Conclui-se que políticas públicas e programas de apoio devem ser desenvolvidos para promover uma maior igualdade de gênero e estilos parentais equilibrados, visando um desenvolvimento infantil harmonioso.

Complementando a discussão, encerra a categoria de artigo original desta edição o texto “Caracterização das psicopedagogas associadas à ABPpRS”, de Rosalie Isabel Kunst e Lisiane Machado de Oliveira-Menegotto. Este artigo é parte de uma dissertação de mestrado, que teve como objetivo caracterizar as psicopedagogas associadas da ABPp, no estado do Rio Grande do Sul, considerando a formação acadêmica, os contextos de atuação e tendo como foco a trajetória e o envolvimento com o trabalho inclusivo com pessoas com deficiência (PcD).

Também compõe este número a pesquisa do artigo de revisão “Análise do Comportamento e Neuropsicologia: Possíveis intersecções para a compreensão do autismo”, de Bárbara David Rech, Maria Carolina Kovaleski Ferreira, Daniela Pereira Rigotti, Thiago Soares Campoli e Rauni Jandé Roama-Alves, cujo objetivo foi compreender as contribuições de ambas as abordagens, de modo conjunto, na explicação, avaliação e intervenção no TEA. Para tanto, realizou-se revisão integrativa de literaturas nacional e internacional de artigos científicos indexados nas plataformas eletrônicas LILACS, SciELO e BIREME. E, ainda, revisão de capítulos de livros, selecionados por conveniência. Para análise de dados, foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo, na modalidade Temática.

No decorrer da edição, é apresentado o artigo de revisão “Precocidade no neurodesenvolvimento em crianças pré-escolares: Uma revisão de escopo”, de Aline Mendes, Cláudio Sausen Malmann, Estella Mayana Moura Pavão, Eduardo Fonseca Maciel, Chrissie Ferreira de Carvalho e Natália Martins Dias. Esta revisão almeja sintetizar como a literatura aborda de forma conceitual e metodológica a precocidade no desenvolvimento de crianças pré-escolares. Para tal, foi realizada uma revisão de escopo, um total de 5719 estudos foram localizados e, após aplicação de critérios de elegibilidade, 57 estudos foram selecionados. Houve predomínio de pesquisas realizadas na América do Norte (65,07%). Definição de precocidade foi encontrada em menos de 30% dos estudos. Os achados permitiram mapear a definição conceitual e operacional sobre precocidade e sugerem necessidade de ampliar entendimento do fenômeno, considerando sua complexidade, e urgência no desenvolvimento de instrumentos de rastreio. Limitações conceituais e de como avaliar indicadores de precocidade trazem implicações para a prática clínica e educacional com essas crianças.

Avançando na edição, o artigo de revisão “Efeitos associados a práticas educativas punitivas: Revisão sistemática da literatura”, de Júlia Cotica, Dyenifer Luana Garbin e Jéssica Limberger, objetiva analisar estudos empíricos sobre práticas parentais punitivas utilizadas na educação de crianças, a fim de compreender seus efeitos associados. Sugere-se que novos estudos utilizem amostras brasileiras, possibilitando a comparação das repercussões da violência infantil entre diferentes grupos étnicos culturais.

O presente número traz também o artigo de revisão “Estudos sobre transcodificação numérica: Revisão de literatura”, de Mariele Grösz e Beatriz Vargas Dorneles. O presente estudo teve como objetivo delinear o contexto de pesquisas brasileiras já existentes sobre habilidades associadas à transcodificação numérica, a fim de verificar seus principais enfoques e diferenças em relação a pesquisas internacionais. As pesquisas brasileiras apresentaram semelhanças e diferenças quando comparadas a estudos internacionais: em ambas as realidades a memória de trabalho e habilidades linguísticas apareceram na transcodificação, porém, dependendo da língua, ganharam maior ou menor destaque. Nas pesquisas também apareceu a sugestão da avaliação da transcodificação para identificação de dificuldades de aprendizagem na matemática.

No conjunto de textos, encontra-se outro artigo de revisão, “O milagre da leitura em voz alta: Uma revisão integrativa”. Produção de Analice Maria da Silva Albuquerque e Émille Burity Dias, este estudo integrativo se propôs a ir ao encontro de supracitar os impactos cognitivos provenientes da leitura em voz alta que predizem a alfabetização, as barreiras encontradas nesta realização e quais indicadores para uma prática de maior eficiência. Os principais estudos mostram que além de alterações fisiológicas em ambos os hemisférios cerebrais, a leitura em voz alta, também, proporciona inferências positivas no funcionamento cognitivo, no que diz respeito a habilidades mnésicas, executivas, emocionais e de linguagem.

Na continuidade há o artigo de revisão “O uso de tecnologias no transtorno específico de aprendizagem”, de Raimundo José Macário Costa e Emmy Uehara Pires, que teve como objetivo apresentar uma revisão sistemática dos estudos sobre intervenções em crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem que utilizam tecnologia computacional. Nos estudos selecionados, apenas crianças e adolescentes entre 6 e 12 anos participaram das pesquisas, variando de um até 600 participantes. Todos os estudos revisados demonstraram resultados positivos nas intervenções em Transtornos Específicos de Aprendizagem, seja com desenvolvimento típico ou atípico.

Como mais uma contribuição relevante, o artigo de revisão, “Cognição social em crianças com transtorno do espectro autista”, de Amanda Contieri, Ana Lúcia Silva Gomes, Thalita Francielli Lopes Ferreira, Rita de Cássia Coutinho Vieira Fornasari, Janaina Aparecida de Oliveira Augusto e Sylvia Maria Ciasca, tem como objetivo fazer uma revisão integrativa acerca de intervenções direcionadas para promoção da cognição social em crianças com Transtorno do Espectro Autista. Os estudos em sua maioria estavam focados no desenvolvimento de habilidades que envolviam Teoria da Mente; além disso, foi identificada alta variabilidade dos materiais utilizados nas intervenções. De modo geral, os artigos selecionados indicaram melhorias em interação social, habilidades sociais e teoria da mente.

Dentre os estudos reunidos, temos mais um artigo de revisão, “A aprendizagem como foco: Breve história da Psicopedagogia na Paraíba”, de Éder da Silva Dantas, Sandra Cristina de Souza, Igor Moura Mota, Bárbara da Silva Alves e Aldereda Silva de Souza. O estudo tem como objetivo resgatar a história da Psicopedagogia na Paraíba, notadamente no período de 2002-2022, e se constitui como uma investigação pioneira quanto à temática. Procurou-se trabalhar com fontes primárias e secundárias como documentos oficiais das instituições formativas, livros e artigos científicos, entrevistas com atores e atrizes envolvidas do processo, páginas das instituições na Internet e perfis em redes digitais. Apurou-se que a Psicopedagogia na Paraíba se desenvolveu em meio à expansão do Ensino Superior no Brasil (anos 1990-2000) e da emersão dos paradigmas da educação para todos, da educação inclusiva e do foco educacional na aprendizagem. Em 2009, surge a graduação em Psicopedagogia da Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Em 2013, nasce o Grupo de Estudos local da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp. Desde então, trata-se de um campo do conhecimento em expansão no estado, concernente com as crescentes demandas de aprendizagem e seus desafios.

Prosseguindo, apresentamos o relato de experiência “Projeto Social da Associação Brasileira de Psicopedagogia: Estudo de um caso de atendimento psicopedagógico em grupo”, de Silvia Szterling Munimos. Este artigo é um tributo ao Projeto Social da Associação Brasileira de Psicopedagogia que, ao propor atender crianças e adolescentes com problemas de aprendizagem oriundos dos meios populares, cumpre uma função social e política da mais alta importância. O estudo conclui que as relações que se estabelecem entre os pares no interior do grupo podem ter efeitos terapêuticos, isto é, podem mobilizá-los para aprender.

Nesta edição, encontra-se outro relato de experiência “Aprender a Ensinar: Experiência em um Programa de Aperfeiçoamento Didático (PAD) no curso de Fonoaudiologia”, de Mariana Gobbo Medda, Claudia de Cássia Ramos e Claudia Berlim de Mello. Este trabalho teve como objetivo relatar a experiência do estágio associado a uma disciplina de Psicologia Geral do curso de graduação em Fonoaudiologia da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, de forma a contribuir para uma discussão sobre modelos de ensino de prática docente institucional. O estudo evidenciou o PAD como uma disciplina fundamental nos cursos de pós-graduação, contribuindo para o desenvolvimento de melhores práticas docentes e discentes, bem como para o processo formativo do professor universitário.

Encerrando esta edição temos uma resenha, “Resenha do livro Consciência Morfológica, Leitura e Escrita”, de Rafael Rossi de Sousa, na qual o autor discorre sobre o livro “Consciência Morfológica, Leitura e Escrita”, organizado por Márcia Maria Peruzzi Elia da Mota, publicado pela Editora Appris em 2022. O livro traz um panorama a respeito do papel da habilidade morfológica e sua importância para a aprendizagem.

Reafirmamos o compromisso com uma educação que reconhece o sujeito em sua integralidade. A aprendizagem não se trata somente do conteúdo, além disso, envolve afeto, história e sentido.

Entregamos ao leitor mais uma publicação que amplia saberes e práticas em direção a uma formação verdadeiramente humana. Convidamos você à leitura dos artigos que compõem esta edição, certamente fortalecendo a aprendizagem em suas múltiplas dimensões.

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