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Journal of Human Growth and Development

versión impresa ISSN 0104-1282versión On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.34 no.2 Santo André mayo/ago. 2024  Epub 10-Feb-2025

https://doi.org/10.36311/jhgd.v34.15838 

ARTIGO ORIGINAL

Hábitos de sono de crianças pré-escolares após o confinamento da COVID-19 em um município da Paraíba, Brasil

Dixis Figueroa Pedraza, participaram da análise e interpretação dos dados, redação e revisão final do artigo, participou do desenho do estudo e da concepção do artigoa  b 
http://orcid.org/0000-0002-5394-828X

Natalia dos Santos Silva, participaram da análise e interpretação dos dados, redação e revisão final do artigob 
http://orcid.org/0000-0002-3746-5851

Luciane Bresciani Salaroli, participaram da análise e interpretação dos dados, redação e revisão final do artigoa 
http://orcid.org/0000-0002-1881-0306

aPrograma de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo, Brasil;

bDepartamento de Enfermagem, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande, Paraíba, Brasil.


RESUMO

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

A qualidade do sono da criança é de suma importância para a saúde física, mental e o desenvolvimento infantil. A pandemia da COVID-19 trouxe mudanças nas rotinas, utilização do tempo, comportamentos, relações sociais e preocupações que podem prejudicar o sono das crianças. A literatura científica mundial e brasileira sobre os hábitos de sono das crianças durante a pandemia da COVID-19 ainda é escassa.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Foram analisadas 126 crianças aos 4 anos de idade examinando-se seus hábitos de sono. As crianças apresentaram escores médios de 7,0 ± 3,4, para rotina para dormir; 7,3 ± 3,6, para ritmicidade, e 12,8 ± 4,1, para separação afetiva, o que representa 46,7%; 40,6%, e 71,1% das pontuações máximas respectivas. Os achados mostraram ainda que crianças com problemas de saúde, tempo de tela excessivo e muito preocupadas com a COVID-19, bem como a dificuldade da mãe para o cuidado da criança, influenciaram negativamente a qualidade do sono.

O que essas descobertas significam?

As evidências científicas disponibilizadas neste estudo mostraram que a preocupação da criança com a COVID-19 durante a pandemia e a dificuldade da mãe para cuidar da criança influenciaram a qualidade do sono. Se as crianças tiverem preocupações, é importante que as mesmas sejam escutadas e apoiadas para diminuir a ansiedade delas e minimizar os efeitos negativos da preocupação no sono. A capacidade materna de prestar cuidados à criança é fundamental para a promoção do sono saudável da criança. Além disso, crianças com problemas de saúde e que passam muito tempo usando eletrônicos podem desencadear distúrbios do sono. Dessa forma, intervenções para melhorar o sono das crianças são necessárias e devem considerar os cuidados de saúde, a redução do tempo de tela, o cuidado materno da criança e o alívio das preocupações.

Palavras-Chave: COVID-19; criança; sono; comportamentos relacionados com a saúde; nível de saúde

Resumo

Introdução

a pandemia da COVID-19 trouxe mudanças nas rotinas, utilização do tempo, comportamentos, relações sociais e preocupações que podem comprometer o sono das crianças, sendo essenciais estudos sobre a temática.

Objetivo

avaliar os hábitos de sono de crianças pré-escolares após o confinamento da COVID-19 no Brasil.

Método

trata-se de um estudo transversal aninhado a uma coorte de nascidos vivos para avaliar o crescimento e desenvolvimento até os mil dias de vida. Para este estudo, foram coletados dados das crianças aos 4 anos de idade relacionados a perfil biológico, condição de saúde, cuidado materno, tempo de tela e atividade física, e comportamento durante a pandemia da COVID-19. As médias dos escores dos hábitos de sono das crianças (rotina para dormir, ritmicidade e separação afetiva) analisaram-se de acordo com as características das crianças por meio do teste t-student.

Resultados

a rotina para dormir representou o hábito de sono mais prejudicado, com menores médias nos casos de internação hospitalar (p = 0,047), dificuldade da mãe para o cuidado da criança (p = 0,003) e muita preocupação com a COVID-19 durante a pandemia (p = 0,003); seguido da ritmicidade que também foi pior nas situações anteriores. Ainda, crianças com tempo de tela recreativa superior a 60 minutos (p = 0,002) e sem rotina de usar máscara durante a pandemia (p = 0,003) apresentaram médias inferiores de rotina para dormir. Problemas de saúde ao nascimento (p = 0,001), internação hospitalar (p = 0,000), necessidades especiais de saúde (p = 0,025) e dificuldade da mãe para prestar cuidado (p = 0,037) interferiram negativamente na separação afetiva.

Conclusão

crianças com problemas de saúde, tempo de tela excessivo e preocupação com a COVID-19 durante a pandemia, bem como a dificuldade de cuidado materno, influenciaram os hábitos de sono das crianças.

Palavras-Chave: COVID-19; criança; sono; comportamentos relacionados com a saúde; nível de saúde

RESUMO

Highlights

Crianças com muita preocupação com a COVID-19 durante a pandemia tiveram prejuízos na qualidade do sono, do mesmo modo que problemas de saúde no nascimento, tempo recreativo de tela superior ao recomendado e dificuldade materna para o cuidado à criança.

Palavras-Chave: COVID-19; criança; sono; comportamentos relacionados com a saúde; nível de saúde

ABSTRACT

Authors summary

Why was this study done?

The quality of a child’s sleep is of paramount importance for physical and mental health and child development. The COVID-19 pandemic has brought changes in routines, time use, behaviors, social relationships and concerns that can affect children’s sleep. The global and Brazilian scientific literature on children’s sleep habits during the COVID-19 pandemic is still scarce.

What did the researchers do and find?

Were analyzed 126 children at the age of 4 and examined their sleep habits. The children had average scores of 7.0 ± 3.4 for bedtime routine, 7.3 ± 3.6 for rhythmicity and 12.8 ± 4.1 for affective separation, representing 46.7%, 40.6% and 71.1% of the respective maximum scores. The findings also showed that children with health problems, excessive screen time and too much worry about COVID-19, as well as the mother’s difficulty in caring for the child, negatively influenced sleep quality.

What do these findings mean?

The scientific evidence made available in this study showed that the child’s worry about COVID-19 during the pandemic and the mother’s difficulty in caring for the child influenced sleep quality. If children have concerns, it is important that they are listened to and supported to reduce their anxiety and minimize the negative effects of worry on sleep. The mother’s ability to care for the child is fundamental to promoting healthy sleep for the child. In addition, children with health problems and who spend a lot of time using electronics can trigger sleep disorders. Therefore, interventions to improve children’s sleep are necessary and should consider health care, reducing screen time, maternal care of the child and relieving worry.

Highlights

Children who were very concerned about COVID-19 during the pandemic had impaired sleep quality, as well as health problems at birth, more screen time than recommended and maternal difficulty caring for the child.

Key words: COVID-19; child; sleep; health behavior; health status

Abstract

Introduction

the COVID-19 pandemic has brought changes in routines, use of time, behaviors, social relationships and concerns that can compromise children’s sleep, and studies on the subject are essential.

Objective

to evaluate the sleep habits of preschool children after the COVID-19 lockdown in Brazil.

Methods

this is a cross-sectional study nested in a cohort of live births to assess growth and development up to 1,000 days of age. For this study, data were collected from children at 4 years of age related to biological profile, health status, maternal care, screen time and physical activity, and behavior during the COVID-19 pandemic. The mean scores of the children’s sleep habits (bedtime routine, rhythmicity and affective separation) were analyzed according to the children’s characteristics using the Student’s t-test.

Results

sleep routine was the most impaired sleep habit, with lower averages in cases of hospitalization (p = 0.047), mother’s difficulty in caring for the child (p = 0.003) and great concern about COVID-19 during the pandemic (p = 0.003); followed by rhythmicity, which was also worse in the previous situations. In addition, children with more than 60 minutes of recreational screen time (p = 0.002) and without a mask-wearing routine during the pandemic (p = 0.003) had lower average bedtime routines. Health problems at birth (p = 0.001), hospitalization (p = 0.000), special health needs (p = 0.025) and mother’s difficulty in providing care (p = 0.037) negatively interfered with affective separation.

Conclusion

children with health problems, excessive screen time and concern about COVID-19 during the pandemic, as well as the difficulty of maternal care, influenced children’s sleep habits.

Key words: COVID-19; child; sleep; health behavior; health status

INTRODUÇÃO

A qualidade do sono é essencial para a saúde física e mental, inclusive as funções orgânicas e imunológicas, bem como para o bem-estar e o desenvolvimento da criança1-5. Um bom sono é de extrema relevância para o neurodesenvolvimento das crianças, seu desempenho cognitivo, os processos de memória e a tomada de decisões. Ainda, auxilia na regulação das emoções, do comportamento e do estresse5-8. Os distúrbios do sono, por outro lado, podem afetar negativamente esses domínios, com possíveis consequências na saúde, no funcionamento físico, no desenvolvimento psicossocial e na cognição4,5,9-12. Há também uma base consistente de evidências sugerindo associação desses problemas na infância com alterações comportamentais e de saúde mental, representando, por tanto, um importante desfecho pediátrico4,5,9-12. Esses distúrbios caracterizam-se por pioras significativas em situações estressantes como as vivenciados durante as pandemias em decorrência do confinamento e de mudanças no apoio social6-8.

Crianças em idade pré-escolar estão em um estágio de desenvolvimento crucial para estabelecer rotinas de sono saudáveis12. Por sua vez, crianças correm maior risco de apresentar distúrbios do sono e de saúde mental como consequência das mudanças rápidas que acontecem durante o desenvolvimento5. O sono das crianças é regulado intrinsecamente por processos homeostáticos e circadianos13, sendo os comportamentos de sono e vigília até a vida adulta intermediados pelas características do desenvolvimento infantil12,14. Contudo, fatores extrínsecos desempenham um papel importante na determinação do padrão de sono/vigília e na ritmicidade circadiana3. Assim, fatores comportamentais (tempo de tela, atividade física e rotina da hora de dormir), do ambiente físico (exposição à luz e ao ruído) e parentais (estresse, educação e apego entre pais e filhos) influenciam o sono da criança13. Além disso, os horários, as atividades e a modalidade de ensino são mediadores da exposição à luz solar e do uso de tecnologia, influenciando o ciclo sono-vigília e a duração do sono das crianças3,4.

A superexposição à luz azul, por meio do uso de dispositivos baseados em tela, principalmente à noite, e menor exposição à luz externa, pode levar a distúrbios do ritmo circadiano sono/vigília e, portanto, do sono, em decorrência da supressão de melatonina e ativação dos sistemas de vigília5,10,11. Em comparação com indivíduos adultos, as crianças são mais suscetíveis aos efeitos negativos da exposição à luz artificial à noite, pois nessa fase da vida a melatonina é mais sensível à luz10. Além disso, os conteúdos consumidos por dispositivos de tela podem dificultar o adormecimento5. Em contrapartida, a atividade física e as brincadeiras ao ar livre, em particular, podem ajudar a regular a secreção de melatonina e o ritmo circadiano, com resultados positivos no sono15.

Em relação aos fatores comportamentais e às práticas parentais, destaca-se que as crianças em idade pré-escolar exigem maior atenção e cuidado por parte dos pais, pois apresentam problemas de separação e apego mais acentuados16,17. Nesse sentido, distúrbios do sono podem aparecer condicionados a estresse e ansiedade parental, sobretudo materno3,18. O estresse e os distúrbios do sono apresentam relação bidirecional na qual as relações parentais não harmoniosas, disfuncionais e menos positivas podem prejudicar os comportamentos, o bem-estar e a qualidade do sono da criança19,20. Altos índices de estresse e ansiedade podem ser passados dos pais para as crianças, impossibilitando um ambiente de apoio para as mesmas21.

Muitos dos fatores que influenciam os padrões de sono das crianças foram significativamente afetados pelo confinamento ocasionado pela pandemia da doença coronavírus 2019 (COVID-19), inclusive as limitações de acesso a áreas para brincar e se recrear, bem como o fechamento de escolas2-4,7,8,12,22,23. Com o confinamento, as crianças foram expostas a rotinas, atividades e alterações de uso de dispositivos eletrônicos que desencadeiam distúrbios do sono12. Em específico, a ausência da criança à escola, com aumento do tempo de tela, menos atividade física e padrões de sono irregulares, pode prejudicar os ritmos circadianos e o sono10.

Decorrente do confinamento, houve menor exposição à luz do dia, mudanças nas rotinas diárias (maior uso de eletrônicos com mais exposição à luz azul, redução da atividade física, atividades ao ar livre limitadas e diminuição do lazer), contato contínuo com a família, menor interação social, aumento das preocupações familiares, mais estresse e ansiedade dos pais, e horários de sono irrestritos2-4,7,8,12,22,23. Além disso, o confinamento representou um desafio para os pais gerenciarem os comportamentos dos seus filhos16. Dessa forma, o impacto da COVID-19 na vida das crianças e de seus pais pode ser marcante, resultando em um número significativamente grande de consequências não apenas na saúde, mas também no bem-estar social, emocional e mental das crianças, inclusive nos seus padrões de sono2,3,9,23. Esse impacto pode ser vitalício9.

Os efeitos nocivos dessas mudanças no sono das crianças têm sido examinados por estudos de revisão da literatura mundial24-26. Na primeira revisão sobre o tema, pesquisadores mostraram prevalência combinada de distúrbios do sono em crianças e escolares de 54% e piora da qualidade do sono de 27%, durante a pandemia24. Em crianças com 12 anos ou menos, as mudanças mais importantes relacionadas ao confinamento da COVID-19 no sono constatadas foram maior duração do sono, atrasos na hora de dormir e acordar, aumento na latência do sono, sonolência diurna e outros distúrbios do sono25. Em outra revisão sistemática com metanálise, os resultados sugerem influência da pandemia nas características do sono, como aumento da duração do sono, hora de dormir tardia e diminuição da eficiência do sono26. Adicionalmente, segundo o estudo, mudanças nas rotinas familiares durante a pandemia relacionaram-se a essas alterações do sono e o aumento do uso de telas/dispositivos eletrônicos associou-se à pior qualidade do sono26. Dessa forma, são necessários estudos para uma melhor compreensão dos efeitos do distanciamento social e do fechamento das escolas no sono das crianças durante a pandemia de COVID-1924-26.

Assim, o objetivo é avaliar os hábitos de sono de crianças pré-escolares na volta às aulas após o confinamento da COVID-19 no Brasil. Uma melhor compreensão dos efeitos da pandemia no sono das crianças pode auxiliar a tomada de medidas necessárias direcionadas à mudança de comportamento, e educação dos pais e profissionais de saúde, a fim de evitar consequências a curto e longo prazo.

MÉTODO

Desenho de estudo

Trata-se de um estudo transversal aninhado a uma coorte de nascidos vivos, sem problemas de saúde, em um hospital público da cidade de Mamanguape (PB), para avaliar o crescimento e desenvolvimento até os mil dias de vida27. Inicialmente, a coorte pretendia avaliações ao nascimento, no 1º, 2º, 6º mês e aos mil dias de vida das crianças. Contudo, o acompanhamento aos dois anos de idade das crianças teve que ser interrompido como consequência da instalação da pandemia da COVID-19.

Dessa forma, o projeto de referência anterior27 foi reformulado com o propósito de examinar implicações da pandemia da COVID-19 no crescimento e desenvolvimento das crianças. Avaliaram-se 126 crianças aos quatro anos de idade, matriculadas nas cinco escolas municipais do município de Mamanguape (PB) com ensino pré-escolar e que estavam em aulas presenciais.

Coleta de dados

Para a coleta de dados, em agosto de 2022, foi utilizado um questionário estruturado aplicado às mães com informações referentes às crianças. O estudo versa sobre os hábitos de sono das crianças, analisando sua relação com o perfil biológico, as condições de saúde (problemas de saúde, vacinação e necessidades especiais), o cuidado materno, o tempo de tela e a atividade física, e os comportamentos durante a pandemia da COVID-19. O questionário utilizado para avaliar os hábitos de sono baseia-se nas práticas parentais na hora de dormir e na higiene do sono da criança contemplando indicadores sobre a rotina da hora de dormir, a ritmicidade e a separação afetiva28-31.

Sexo e raça/cor foram os dados de interesse do perfil biológico das crianças. A raça foi autorreferida pelas mães.

A condição de saúde das crianças relacionou-se a problemas de saúde ao nascimento, internação hospitalar desde o nascimento por 24 horas ou mais, imunização com a vacina pentavalente e triagem das crianças com Necessidades Especiais de Saúde (NES). Dados acerca da vacinação da criança fram obtidos da Caderneta de Saúde da Criança.

A triagem das crianças com NES realizou-se por meio do Children with Special Health Care Needs Screener, validado no Brasil32. As crianças com NES são aquelas clinicamente frágeis que têm alto risco para apresentar ou que já possuem condições crônicas, físicas, de desenvolvimento, comportamental ou emocional, e, portanto, necessitam dos serviços de saúde e de cuidados clínicos especiais32. O questionário permite identificar e avaliar as demandas de cuidados a crianças com necessidades de saúde em três domínios: i. dependência de medicamentos prescritos para certa condição clínica, ii. utilização dos serviços de saúde acima do considerado normal ou de rotina e iii. presença de limitações funcionais. É composto por 14 perguntas com alternativas de respostas sim (necessidade especial) e não, sendo cinco principais e nove condicionais (quatro das questões principais incluem duas perguntas condicionais; a outra pergunta principal, inclui uma condicional). Quando, no mínimo, uma pergunta principal e sua(s) condicional(is) foram respondidas de forma positiva, foi classificatório de NES (necessidade especial de saúde em no mínimo um dos domínios)32,33.

A obtenção dos dados sobre o cuidado materno da criança fazia referência à facilidade de cuidar da criança e orientá-la em aspectos de saúde, e à rotina de fazer atividades e brincar com a criança. As perguntas tinham as alternativas de respostas “Sim” e “Não”.

Adicionalmente, foi solicitado às mães relatar quanto tempo a criança gastou no último mês assistindo televisão, usando computador, jogando videogame, usando celular/tablete e brincando ao ar livre em um dia normal da semana e em um dia normal do final de semana. Para calcular o tempo total de tela recreativa em um dia, foram somados os minutos utilizados para cada uma das atividades mencionadas, exceto brincar ao ar livre, e determinada a média dos dois momentos de referência (segunda a sexta e final de semana). O tempo de atividade física diário foi obtido de forma similar com base nas respostas sobre o tempo brincando ao ar livre. Para categorização, considerou-se adequado o uso de tela ≤ 60 minutos/dia e o tempo brincando ao ar livre ≥ 180 minutos/dia, com base nas diretrizes de atividade física, comportamento sedentário e sono para crianças com menos de 5 anos de idade da Organização Mundial da Saúde34.

O comportamento da criança durante a pandemia da COVID-19 incluiu informações sobre a rotina de usar máscara e de higienizar as mãos, permanecer em isolamento social sempre/quase sempre que recomendado e a preocupação com a doença. As perguntas foram elaboradas com três alternativas de respostas (“Muito Pouco”, “Pouco” e “Muito”), agrupando-se para análise “Muito Pouco” e “Pouco”.

A avaliação de alterações nos hábitos de sono das crianças foi realizada pelo Sleep Habits Inventory for Preschool Children, anteriormente validado28. Esse instrumento avalia as práticas parentais na hora de dormir e a higiene do sono da criança contemplando três hábitos de sono durante a semana anterior: rotina da hora de dormir (comportamento parental na hora de dormir e independência da criança ao adormecer), ritmicidade (regularidade nos horários e no local de dormir e acordar, e despertar noturno) e separação afetiva (medo e dificuldade de separação dos pais à noite na hora de dormir). O questionário consiste de 17 perguntas (cinco para a rotina da hora de dormir, seis para ritmicidade e seis para separação afetiva) que são respondidas numa escala tipo Likert de 1 a 4 (1 = não esta semana, 2 = 1 a 2 vezes esta semana, 3 = 3 a 5 vezes esta semana e 4 = 6 ou mais vezes esta semana). As pontuações das respostas foram recodificadas da seguinte forma: hábitos positivos e neutros (colocado na cama por um/ambos os pais, tira uma soneca à tarde e trazer um objeto de segurança para a cama): 4 = 3, 3 = 2, 2 = 1 e 1 = 0; hábitos negativos (adormece antes de ir para a cama, acorda durante a noite, demora mais de 30 minutos para adormecer, expressa medo do escuro após ser colocado para dormir, acorda angustiado por sonho ou preocupação, necessita de luz noturna acesa enquanto dorme, chama os pais durante a noite e vai até a cama dos pais à noite): 4 = 0, 3 = 1, 2 = 2 e 1 = 3. Dessa forma, as pontuações máximas e mínimas possíveis foram 15 e 0 para rotina de dormir, 18 e 0 para ritmicidade e 18 e 0 para separação afetiva, respectivamente. Quanto maior a pontuação final de cada hábito de sono, menor o número de problemas de sono e melhor a qualidade do sono28-31.

Análise de dados

As variáveis independentes de caracterização das crianças utilizadas nas análises foram: sexo (masculino, feminino), raça/cor (branca, outras), problemas de saúde ao nascimento (não, sim), internação hospitalar por 24 horas ou mais desde o nascimento (não, sim), imunização com a vacina pentavalente (esquema completo, esquema incompleto), triagem para NES (não, sim), facilidade da mãe para cuidar da criança e orientá-la em aspectos de saúde (sim, não), rotina da mãe de fazer atividades e brincar com a criança (sim, não), tempo de tela recreativa (≤ 60 minutos, > 60 minutos), tempo de atividade física (≥ 180 minutos, ≤ 180 minutos), rotina de usar máscara durante a pandemia da COVID-19 (muito, pouco/muito pouco), rotina de higienizar as mãos durante a pandemia da COVID-19 (muito, pouco/muito pouco), permanecer em isolamento social sempre/quase sempre que recomendado durante a pandemia da COVID-19 (muito, pouco/muito pouco), preocupação com a doença durante a pandemia da COVID-19 (pouco/muito pouco, muito).

As médias dos escores de rotina da hora de dormir, ritmicidade e separação afetiva dos pré-escolares analisaram-se de acordo com as variáveis de caracterização das crianças. As médias foram comparadas por meio do teste t-student. Foi estabelecido o critério de significância estatística p < 0,05. As análises foram conduzidas no pacote estatístico Stata versão 11.0.

Aspectos éticos

O trabalho foi conduzido sob as diretrizes da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. As mães das crianças assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido como condição prévia para participar do estudo após esclarecidas sobre os objetivos, procedimentos e vantagens da sua participação. Os projetos de pesquisa foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (CAAE 81216417.0.0000.5187, Parecer 2.447.509 e CAAE 53281421.8.0000.5187, Parecer 5.137.768).

RESULTADOS

Os resultados do estudo estão apresentados na tabela 1. Do total de crianças do estudo, a condição de saúde negativa mais prevalente foi a internação hospitalar desde o nascimento por 24 horas ou mais (38,9%). A proporção de crianças com NES foi de 26,2% e com esquema para a vacina pentavalente completo de 89,7%. Das mães, 19,0% disse ter dificuldade para cuidar a criança e orientá-la em aspectos de saúde. No que se refere ao tempo de tela recreativa, em 86,5% das crianças foi acima de 60 minutos. O tempo de atividade física inferior a 180 minutos foi 58,7%. Durante a pandemia da COVID-19, 82,5% das crianças usaram máscara na sua rotina, 78,6% tinham costume de higienizar as mãos, 63,5% ficaram em isolamento social sempre/quase sempre que recomendado e 72,2% sentiram-se preocupadas com a doença.

Tabela 1 : Inventário dos hábitos de sono de crianças pré-escolares segundo características das crianças relacionadas a perfil biológico, condição de saúde, cuidado, tempo de tela e atividade física, e comportamento durante a pandemia da COVID-19. Mamanguape, PB, 2022 

Variáveis n % Hábitos de Sono
Rotina para dormir (7,0 ± 3,4) Ritmicidade (7,3 ± 3,6) Separação afetiva (12,8 ± 4,1)
Média Desvio padrão p Média Desvio padrão p Média Desvio padrão p
Perfil biológico
Sexo 0,081 0,394 0,311
Feminino 66 52,4 7,424 3,365 7,242 3,490 12,636 4,044
Masculino 60 47,6 6,583 3,356 7,416 3,814 13,001 4,242
Raça 0,475 0,423 0,299
Branca 38 30,2 7,052 3,548 7,421 4,123 13,105 4,488
Outras 88 69,8 7,011 3,316 7,284 3,427 12,681 3,981
Condição de saúde
Problemas de saúde ao nascimento 0,144 0,231 0,001
Não 112 88,9 7,928 3,341 8,001 3,632 13,196 3,992
Sim 14 11,1 6,910 3,626 7,241 3,721 9,714 4,008
Internação hospitalar desde o nascimento por 24 horas ou mais 0,047 0,010 <0,001
Não 77 61,1 7,653 3,060 8,265 3,837 13,727 3,571
Sim 49 38,9 6,623 3,761 6,727 3,100 11,367 4,549
Imunização com a vacina pentavalente 0,489 0,460 0,094
Esquema completo 113 89,7 7,026 3,290 7,336 3,361 12,973 3,933
Esquema incompleto 13 10,3 7,000 4,183 7,230 5,673 11,384 5,530
Necessidades especiais de saúde 0,259 0,314 0,025
Não 93 73,8 7,139 3,235 7,419 3,609 13,236 3,716
Sim 33 26,2 6,696 3,770 7,060 3,749 11,606 4,980
Cuidado materno
Facilidade da mãe para cuidar da criança e orientá-la em aspectos de saúde 0,003 0,023 0,037
Sim 102 81,0 7,411 3,407 7,637 3,573 13,127 4,125
Não 24 19,0 5,375 2,715 6,033 3,671 11,458 3,934
Rotina da mãe de fazer atividades e brincar com a criança 0,288 0,405 0,464
Sim 118 93,7 7,067 3,375 7,625 3,591 12,796 4,168
Não 8 6,3 6,375 3,502 7,305 4,501 12,900 3,703
Tempo de tela recreativa e atividade física
Tempo de tela recreativa (minutos) 0,002 0,227 0,258
≤ 60 17 13,5 9,176 4,141 7,941 3,381 12,862 5,351
> 60 109 86,5 6,688 3,129 7,229 3,678 12,460 3,931
Atividade física (minutos) 0,139 0,068 0,466
≥ 180 52 41,3 7,297 3,272 7,729 3,558 12,846 3,947
< 180 74 58,7 6,634 3,439 6,750 3,657 12,783 4,275
Comportamento durante a pandemia da COVID-19
Rotina de usar máscara 0,027 0,164 0,301
Muito 104 82,5 7,288 3,145 7,471 3,522 12,721 4,176
Pouco/muito pouco 22 17,5 5,772 4,151 6,636 4,018 13,227 3,951
Rotina de higienizar as mãos 0,158 0,252 0,420
Muito 99 78,6 7,181 3,224 7,212 3,540 12,848 4,023
Pouco/muito pouco 27 21,4 6,444 3,886 7,740 4,005 12,666 4,565
Permanecer em isolamento social sempre/quase sempre que recomendado 0,071 0,121 0,185
Muito 80 63,5 7,296 3,495 7,560 3,618 13,342 3,253
Pouco/muito pouco 46 36,5 6,314 3,304 6,714 3,633 12,604 4,416
Preocupação com a doença 0,003 0,041 0,099
Pouco/muito pouco 35 27,8 7,625 3,211 7,750 3,570 13,434 4,167
Muito 91 72,2 5,978 3,428 6,586 3,667 12,450 4,025

p-valor: valor de significância estatística segundo o Teste t

A internação hospitalar desde o nascimento por 24 horas ou mais (p = 0,047, p = 0,010, p = 0,000) e a dificuldade da mãe para cuidar da criança e orientá-la em aspectos de saúde (p = 0,003, p = 0,023, p = 0,037) representaram menores médias tanto da rotina para dormir quanto da ritmicidade e da separação afetiva. Também apresentaram médias inferiores de rotina para dormir, as crianças com tempo de tela recreativa superior a 60 minutos (p = 0,002). Para a separação afetiva, problemas de saúde ao nascimento (p = 0,001) e a triagem para NES (p = 0,025) também influenciaram as médias negativamente.

Para as variáveis sobre o comportamento durante a pandemia da COVID-19, crianças que não manifestaram preocupação com a doença apresentaram melhores hábitos da rotina para dormir (p = 0,003) e da ritmicidade (p = 0,027). Além disso, crianças com rotina de usar máscara apresentaram maior média da rotina para dormir (p = 0,003).

DISCUSSÃO

O presente estudo fornece uma análise dos hábitos de sono de crianças pré-escolares na volta às aulas após o confinamento prolongado em casa durante o surto de COVID-19. Os hábitos de sono das crianças resultaram em escores médios de 7,0 ± 3,4, para rotina para dormir; 7,3 ± 3,6, para ritmicidade, e 12,8 ± 4,1, para separação afetiva, o que representa 46,7%; 40,6%, e 71,1% das pontuações máximas respectivas. As condições de saúde da criança (problemas de saúde ao nascimento, internação hospitalar e NES), a dificuldade da mãe para o cuidado da criança, o tempo de tela da criança superior ao recomendado, o não uso de máscara pela criança durante a pandemia da COVID-19 e a preocupação da criança com a COVID-19 influenciaram negativamente um ou mais dos hábitos de sono analisados.

Os resultados de estudos sugerem uma influência da pandemia da COVID-19 nas características do sono de crianças pequenas, como aumento da duração do sono, hora de dormir tardia e qualidade do sono prejudicada26. Por exemplo, um estudo espanhol mostrou uma diminuição do tempo de sono em pré-escolares de 3 a 4 anos de idade35. Na França, pesquisadores encontraram um aumento significativo de distúrbios do sono em crianças pequenas, com aumento da pontuação geral da Escala de Distúrbios do Sono para Crianças, redução do número e da duração dos cochilos, e aumento da duração do sono noturno36. Na Itália também encontraram distúrbios em crianças pequenas para variáveis do sono como duração, adormecimento, despertares noturnos e parassonias3. Em contraste, a observação de outras realidades mostrou uma deterioração da rotina e da qualidade do sono durante a fase inicial do confinamento com posterior estabilização, como em crianças italianas dos 3 aos 6 anos37, em crianças chilenas de 1 a 5 anos de idade38, e em bebés (0-35 meses) e pré-escolares (36-71 meses) de diferentes países, principalmente europeus6.

Apesar dos resultados do presente estudo não permitirem estabelecer mudanças de sono decorrentes do bloqueio, sinalizam má qualidade de sono durante a pandemia, no período de volta às aulas, em correspondência com os estudos anteriores3,6,35-38. No Brasil, um estudo com adultos identificou que houve piora na qualidade do sono durante o distanciamento imposto pela pandemia de COVID-1939. Nesse sentido, pode-se conjecturar prejuízos no sono das crianças que é mediado pela interação entre pais e filhos, inclusive a reação a eventos adversos como o confinamento, e relaciona-se com o sono dos pais18,40

Para os hábitos de sono de interesse do presente estudo, a ritmicidade e a rotina para dormir foram os mais comprometidos, o que reforça os achados de estudos anteriores que têm destacado a presença de distúrbios de sono em crianças relacionados ao confinamento3,6,7,10,18,36. Assim, é possível ressaltar que as crianças apresentavam problemas na regularidade dos horários e locais de dormir e acordar, despertar noturno, e dependência para dormir, os quais são plausíveis de modificação por meio de práticas parentais mais positivas relacionadas à organização do sono28-31. Estabelecer um dia estruturado com horários definidos é uma estratégia fácil e eficiente para que as crianças melhorem seus comportamentos e a qualidade do sono41. Manter um horário regular de sono e usar para dormir apenas a cama, concomitante à prática de exercícios físicos e ao uso limitado de meios de comunicação antes de dormir, são soluções fundamentais para promover uma boa qualidade do sono42. Além disso, há de se destacar a importância do contexto familiar que deve ser harmonioso e comunicativo2.

Mudanças nas rotinas familiares e nos comportamentos durante a pandemia da COVID-19 podem ter influenciado as características do sono das crianças2,26,41. Além do isolamento, a pandemia levou à necessidade de incluir na rotina hábitos de prevenção do contágio como o uso de máscara e a higienização das mãos43, os quais, conforme observado anteriormente44, foram frequentes neste estudo. A boa adesão a essas medidas tem por base seu caráter preventivo, funcionalidade e segurança44. Contudo, esses hábitos nem sempre são compreendidos pelas crianças43, nas quais, adicionalmente, as influências ambientais geram mais consequências, em decorrência das mudanças do processo de desenvolvimento6. Essas circunstâncias podem gerar resultados psicológicos e emocionais desfavoráveis e interferir no sono6,40,43,45, mostrando plausibilidade para a relação encontrada neste estudo entre a rotina de usar máscara e a rotina para dormir. Contudo, em outro trabalho a qualidade do sono das crianças não mostrou associação com a adesão às recomendações de isolamento nem com a interação social6.

Repercussões negativas no sono das crianças durante a pandemia podem estar relacionadas a problemas no bem-estar emocional2,37,40,45,46. Em um estudo desenvolvido na Itália, 72,2% dos pais entrevistados responderam que seus filhos ficaram mais nervosos, preocupados ou tristes, seis meses após o início da pandemia, representando nas crianças um fator de risco para distúrbios de sono como a dificuldade em adormecer e de permanecer dormindo durante a noite7. Por sua vez, em Canadá pesquisadores mostraram mudanças nos hábitos de sono da família associadas a medos e preocupações com a COVID-19 tanto dos pais quanto das crianças42.

No presente estudo, a proporção de crianças preocupadas com a doença foi significativa e determinante da rotina para dormir e da ritmicidade. Esses resultados podem estar relacionados à ansiedade, que se traduz em dificuldades de autorregulação na hora de dormir44 e interferir na qualidade do sono2,37,40,45,46. A mídia que alimenta o medo e passar muito tempo lendo notícias ou conversando sobre a COVID-19 pode exacerbar a preocupação com a doença e a ansiedade18,42. Ferramentas educacionais que estimulam o desenvolvimento, como conversar com as crianças sobre a COVID-19, práticas como meditação, ioga e ouvir música/sons relaxantes antes de dormir, podem aliviar sentimentos de ansiedade e melhorar o sono41.

Neste estudo, o tempo de tela recreativa superior ao recomendado entre as crianças foi de 86,5% e condicionou médias inferiores de rotina para dormir (p = 0,002). Outros estudos mostraram que as restrições pandêmicas produziram redução da atividade física, aumento da exposição a tela e alterações nos padrões de sono entre pré-escolares35,38,45. O aumento do tempo de tela durante a pandemia de COVID-19 como condição associada a distúrbios do sono foi confirmado por meio de uma revisão da literatura26, evidenciando a necessidade de monitorar e reduzir o uso de eletrônicos pelas crianças, que poderia ser substituído por interação social, especialmente à hora de dormir38,41,45. Além disso, o acesso a espaços apropriados para brincadeiras ativas em casa ou no ambiente pode beneficiar tanto o comportamento de movimento de 24 horas quanto a qualidade do sono6,38.

Essa conjuntura é particularmente importante entre os pré-escolares, que foi o grupo mais afetado pelas restrições durante a pandemia, especialmente no que diz respeito à atividade física e ao tempo recreativo de tela, pois eles têm mais acesso a dispositivos eletrônicos e necessitam de mais espaço para brincar, quando comparados às crianças de menor idade38. É importante enfatizar que as restrições de circulação para conter a transmissão do vírus variaram de acordo com o país e outras particularidades, repercutindo em diferenças nos padrões de atividade física, comportamento sedentário e sono das crianças26,35,38. A robustez dessa influência evidencia-se por meio de um estudo que mostrou um impacto atenuado do isolamento nos níveis de atividade física, no tempo de tela e na qualidade do sono quando as crianças tinham acesso a espaços para brincar38. Ainda, outra constatação importante foi a diferença nos tempos de exposição à tela e sono quando comparadas crianças em situações de confinamento estrito e relaxado encontrada por outros pesquisadores35.

Quanto ao cuidado materno, evidenciou-se que a facilidade da mãe para cuidar da criança condicionou menos problemas de rotina para dormir, ritmicidade e separação afetiva, reforçando achados prévios que enfatizam a importância dos cuidados infantis para atender as necessidades das crianças e proteger a qualidade do sono2,6. Nesse sentido, características dos cuidadores como o conhecimento sobre práticas de sono saudáveis, a adoção de rotinas de sono consistentes, a comunicação com as crianças, o tempo disponível para prestar cuidados e a resiliência são relevantes2,6,7,18,47. Contudo, a pandemia pode ter influenciado essas características e gerar prejuízos tanto no comportamento e controle parental quanto na qualidade de sono dos filhos24-26. Melhorias na qualidade dos cuidados prestados às crianças são essenciais, pois comportamentos e reflexos positivos dos pais em relação aos filhos, com a sincronia apropriada entre eles, facilita o desenvolvimento da capacidade de autorregulação emocional e a regulação do sono em crianças pequenas, as quais apresentam como tendência natural se sincronizar com seu ambiente social e familiar, principalmente mãe-filho, tanto em níveis comportamentais quanto fisiológicos18. Conhecimentos e práticas parentais adequados relacionados ao sono da criança são essenciais para reconhecer, evitar e gerenciar problemas de sono nos primeiros anos de vida47.

Finalmente, as condições de saúde das crianças, constatadas por problemas de saúde ao nascimento, internação hospitalar e triagem para NES, também influenciaram negativamente os hábitos de sono. Um estudo realizado na Itália seis meses após o início da pandemia com ≤18 anos incluindo crianças com deficiência, transtornos do espectro do autismo, doenças crônicas e dificuldades específicas de aprendizagem mostrou resultados conexos. Nessa pesquisa, a presença de doenças crónicas associou-se às dificuldades em manter o sono, enquanto a dificuldade em adormecer foi maior nas crianças com múltiplas condições7. Esses resultados podem ser explicados com base na relação entre o sono e o sistema de resposta ao stress. Existem evidências que mostram a ligação do ritmo circadiano e do sono às adaptações e perturbações fisiológicas como os aumentos da pressão arterial, da insulina e da glicose48. Dessa forma, fornecer orientações específicas sobre o sono para apoiar os familiares de crianças com vulnerabilidades relacionadas com a saúde é essencial, sobretudo nas condições adversas do confinamento6.

Os resultados do presente não permitem inferir causalidade, com base no seu desenho estudo. Ainda, devem ser interpretados com cautela, pois referem-se a um momento em específico, após o confinamento da COVID-19 no Brasil. Outra limitação deste estudo é que as medidas foram baseadas no relato das mães, o que pode não refletir totalmente a realidade das crianças no que diz respeito às preocupações. Contudo, fornecem resultados importantes sobre os hábitos de sono das crianças relacionados à pandemia. Ainda são poucas as evidências sobre os efeitos da pandemia no sono das crianças obtidas por meio de inquéritos presenciais e os estudos realizados apresentam grande heterogeneidade nos instrumentos utilizados, destacando-se os achados para crianças pré-escolares por serem inconsistentes24-26.

CONCLUSÃO

As médias dos hábitos de sono das crianças indicaram problemas principalmente na ritmicidade e na rotina para dormir. Crianças com problemas de saúde, tempo de tela excessivo e preocupação com a COVID-19 durante a pandemia, bem como a dificuldade de cuidado materno, influenciaram os hábitos de sono das crianças.

Agradecimentos

Este trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) Edital 18/2023.

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Recebido: Setembro de 2023; Aceito: Dezembro de 2023; Publicado: de 2024

Autor correspondente dixisfigueroa@gmail.com

Conflitos de interesse:

Os autores declaram não ter conflitos de interesse com relação à autoria e publicação deste artigo.

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