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Journal of Human Growth and Development
versión impresa ISSN 0104-1282versión On-line ISSN 2175-3598
J. Hum. Growth Dev. vol.34 no.3 Santo André 2024 Epub 11-Abr-2025
https://doi.org/10.36311/jhgd.v34.16786
ARTIGO ORIGINAL
Diagnóstico de anemia em gestantes segundo semanas gestacionais e critério da organização mundial de saúde
aPrograma de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
bPrograma de Pós-graduação em Nutrição e Saúde, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo
cEmpresa Brasileira de Serviços Hospitalares, Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
dCentro de Formação em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Sul da Bahia, Brasil
ePrograma de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
fPrograma de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
Por que este estudo foi feito?
Considerando que a anemia durante a gravidez tem sido associada ao aumento do índice de mortalidade materna e perinatal; ao aumento do risco de prematuridade e baixo peso ao nascer; e ao maior risco de anemia nos primeiros meses de vida do recém-nascido, além do fato de que mulheres que sofreram de anemia no início da gravidez, entre outras complicações, terem maior probabilidade de dar à luz filhos com risco aumentado de autismo e de desenvolver transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), esse estudo objetivou o diagnóstico de anemia em gestante, identificada por meio do critério da semana gestacional e do ponto de corte da Organização Mundial de Saúde e a análise dos fatores associados à presença de anemia gestacional.
O que os pesquisadores fizeram e encontraram?
Os autores realizaram um estudo transversal com amostragem de 990 puérperas residentes na Região Metropolitana da Grande Vitória – Espírito Santo, atendidas em maternidades públicas e conveniadas ao Sistema Único de Saúde da região, essas foram classificadas em anêmicas e não anêmicas segundo os critérios da semana gestacional e a classificação da OMS, além disso, realizaram a análise das frequências de anemia de acordo com fatores sociodemográficos, clínicos e obstétricos, hábitos de vida e orientação sobre alimentação saudável. Sendo assim, o estudo mostrou que fatores como escolaridade e tabagismo materno aumentaram a chance de ocorrência de anemia em gestantes, a depender do critério de classificação utilizado. O tabagismo foi o único fator que se manteve fortemente associado à anemia, independentemente do critério de classificação utilizado. O tabagismo foi o fator, mais fortemente ligado aos resultados observados, entretanto não se pode deixar de mencionar a vulnerabilidade social (baixa escolaridade), que também contribui para o desenvolvimento dessa intercorrência durante a gestação quando o desfecho foi avaliado de acordo com o critério da semana gestacional.
O que essas descobertas significam?
Fatores como a escolaridade e o tabagismo materno aumentaram a chance de ocorrência de anemia em gestantes, a depender do critério de classificação utilizado. O critério diagnóstico preconizado pela OMS é mais sensível e acaba classificando um número maior de mulheres como anêmicas. É necessária que novas pesquisas utilizem o critério da semana de gestação para avaliação de sua eficácia e efetividade como critério de classificação e como preditor de agravos à saúde materna e fetal.
Palavras-chave: gravidez; anemia; pré-natal; saúde maternoinfantil
Introdução:
a anemia na gestação tem sido associada ao aumento da mortalidade materna e perinatal, além de complicações para o bebê.
Objetivo:
analisar os fatores associados à presença de anemia em gestantes identificada por meio do critério da semana gestacional e do ponto de corte da Organização Mundial de Saúde.
Método:
estudo transversal com amostragem de 990 puérperas residentes na Região Metropolitana da Grande Vitória – Espírito Santo, atendidas em maternidades públicas e conveniadas ao Sistema Único de Saúde da região. Foram classificadas em anêmicas e não anêmicas segundo os dois critérios, o que permitiu a análise das frequências de anemia de acordo com fatores sociodemográficos, clínicos e obstétricos, hábitos de vida e orientação sobre alimentação saudável. Utilizaram-se teste qui-quadrado e exato de Fisher, seguidos de regressões logísticas múltiplas nas análises estatística.
Resultados:
encontrou-se diferença significante na prevalência de anemia na gestação conforme critério utilizado, com 29,6% segundo o critério da Organização Mundial de Saúde e 4,6% segundo a semana gestacional. No método por semana gestacional, as mulheres com até oito anos de escolaridade apresentaram maior chance de ocorrência de anemia quando comparadas às mulheres com nove anos ou mais (ORa=3,43; IC95%=1,30-9,03) e as mulheres tabagistas apresentaram maior chance de ocorrência de anemia quando comparadas às mulheres não fumantes (ORa=4,86; IC95%=1,95-12,11). No método proposto pela Organização Mundial de Saúde, somente o tabagismo esteve associado à maior chance de anemia (ORa=1,76; IC95%=1,10-2,81).
Conclusão:
os achados podem ser aplicados no manejo da anemia durante o pré-natal e auxiliar na condução das políticas públicas para gestantes.
Palavras-chave: gravidez; anemia; pré-natal; saúde maternoinfantil
Os achados desse estudo, ajudam na assistência ao pré-natal, pois podem ser aplicados no manejo da anemia durante esse período e auxiliar na condução das políticas públicas para gestantes. O critério das semanas gestacionais, propõe que o diagnóstico de anemia seja realizado com base em valores de hemoglobina de acordo com cada a semana da gravidez, enquanto a classificação da OMS leva em consideração apenas um ponto de corte fixo, o que é um conceito biológico com pouca especificidade, pois é mais sensível e acaba classificando um maior número de mulheres como anêmicas. Uma vez implementadas, a utilização dos pontos de corte por semana gestacional, a prevalência de baixos níveis de Hemoglobina será substancialmente menor, permitindo um tratamento mais direcionado com a redução de custos.
Palavras-chave: gravidez; anemia; pré-natal; saúde maternoinfantil
Why was this study done?
Considering that anemia during pregnancy has been associated with an increase in maternal and perinatal mortality rates; an increased risk of prematurity and low birth weight; and a higher risk of anemia in the first months of the newborn’s life, in addition to the fact that women who suffered from anemia in early pregnancy, among other complications, are more likely to give birth to children with an increased risk of autism and developing attention deficit hyperactivity disorder (ADHD), this study aimed to diagnose anemia in pregnant women, identified using the gestational week criterion and the cutoff point of the World Health Organization, and to analyze the factors associated with the presence of gestational anemia.
What did the researchers do and find?
The authors conducted a cross-sectional study with a sample of 990 postpartum women living in the Greater Vitória Metropolitan Region, Espírito Santo, treated in public maternity hospitals and those affiliated with the Unified Health System in the region. These women were classified as anemic or non-anemic according to the criteria of the gestational week and the WHO classification. In addition, they analyzed the frequency of anemia according to sociodemographic, clinical and obstetric factors, lifestyle habits and guidance on healthy eating. Thus, the study showed that factors such as maternal education and smoking increased the chance of anemia in pregnant women, depending on the classification criterion used. Smoking was the only factor that remained strongly associated with anemia, regardless of the classification criterion used. Smoking was the factor most strongly linked to the results observed; however, it is important to mention social vulnerability (low education), which also contributes to the development of this complication during pregnancy when the outcome was assessed according to the gestational week criterion.
What do these findings mean?
Factors such as maternal education and smoking increased the chance of anemia in pregnant women, depending on the classification criteria used. The diagnostic criteria recommended by the WHO are more sensitive and end up classifying a greater number of women as anemic. Further research is needed to use the gestational week criterion to assess its efficacy and effectiveness as a classification criterion and as a predictor of harm to maternal and fetal health.
Keywords pregnancy; anemia; prenatal care; maternal and child health
Introduction:
anemia during pregnancy has been associated with increased maternal and perinatal mortality, as well as complications for the baby.
Objective:
to analyze the factors associated with the presence of anemia in pregnant women identified using the gestational week criterion and the World Health Organization cutoff point.
Methods:
cross-sectional study with a sample of 990 postpartum women living in the Greater Vitória Metropolitan Region - Espírito Santo, treated in public maternity hospitals and those affiliated with the Unified Health System of the region. They were classified as anemic and non-anemic according to both criteria, which allowed the analysis of the frequencies of anemia according to sociodemographic, clinical and obstetric factors, lifestyle habits and guidance on healthy eating. The chi- square and Fisher’s exact tests were used, followed by multiple logistic regressions in the statistical analyses.
Results:
a significant difference was found in the prevalence of anemia during pregnancy according to the criteria used, with 29.6% according to the World Health Organization criteria and 4.6% according to the gestational week. In the method by gestational week, women with up to eight years of schooling had a greater chance of anemia when compared to women with nine years or more (ORa = 3.43; 95% CI = 1.30-9.03) and smokers had a greater chance of anemia when compared to non-smokers (ORa = 4.86; 95% CI = 1.95-12.11). In the method proposed by the World Health Organization, only smoking was associated with a greater chance of anemia (ORa = 1.76; 95% CI = 1.10-2.81).
Conclusion:
the findings can be applied to the management of anemia during prenatal care and help in the implementation of public policies for pregnant women.
Keywords pregnancy; anemia; prenatal care; maternal and child health
The findings of this study help in prenatal care, as they can be applied in the management of anemia during this period and help in the implementation of public policies for pregnant women. The criterion of gestational weeks proposes that the diagnosis of anemia be made based on hemoglobin values according to each week of pregnancy, while the WHO classification takes into account only a fixed cutoff point, which is a biological concept with little specificity, as it is more sensitive and ends up classifying a greater number of women as anemic. Once the use of cutoff points by gestational week is implemented, the prevalence of low hemoglobin levels will be substantially lower, allowing for more targeted treatment with reduced costs.
Keywords pregnancy; anemia; prenatal care; maternal and child health
INTRODUÇÃO
A anemia durante a gravidez tem sido associada ao aumento do índice de mortalidade materna e perinatal; ao aumento do risco de prematuridade e baixo peso ao nascer; e ao maior risco de anemia nos primeiros meses de vida do recém-nascido. Além disso, mulheres que sofreram de anemia no início da gravidez, entre outras complicações, têm maior probabilidade de dar à luz filhos com risco aumentado de autismo e de desenvolver transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH)1. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência global desse problema entre grávidas foi estimada em 41,8% entre 1993 e 20052, e no Brasil, em 29,1%3.
Antes de 2016, a OMS definia anemia durante a gravidez como uma concentração de Hb abaixo de 110g/L em qualquer momento da gravidez4. No entanto, as recomendações da OMS sobre cuidados pré-natais e as diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA recomendaram pontos de corte específicos do trimestre para anemia (primeiro e terceiro trimestre: <110g/L; segundo trimestre: <105g/L)5.
Contudo, alguns estudos realizaram análises usando vários pontos de corte e relataram que apenas pontos de corte mais extremos foram significativamente associados a resultados adversos ao nascimento6. Nesse sentido o trabalho de Ohuma et al.6 foi o pioneiro a propor que o diagnóstico de anemia fosse realizado com base em valores de hemoglobina de acordo com a semana gestacional – critério da semana gestacional. Esse estudo prospectivo analisou dados do Projeto INTERGROWTH-21st realizado no período de 2009 a 2016, e buscou, por meio da análise secundária a verificação dos percentis de hemoglobina (Hb) em mulheres que tiveram gestação não complicada e que receberam cuidados pré-natais ideias, isto é que se encontravam em boas condições de saúde, nutrição, educação, situação socioeconómica e que iniciaram cuidados pré-natais no início da gravidez, ou seja, <14+0 semanas de gestação.
É importante destacar, que existe forte associação entre questões socioeconômicas e a anemia, que sempre revela maior prevalência em níveis econômicos mais baixos e condições socioeconômicas desfavoráveis, como fazer parte de famílias mais numerosas e viver em domicílio com insegurança alimentar7. A situação da anemia ainda piora para as mulheres grávidas negras, que têm maior prevalência de anemia quando comparadas a outras mulheres8. A provável causa da alta prevalência de anemia entre mulheres negras pode estar associada ao menor nível socioeconômico e à alta paridade desta população9.
Diante disso, este trabalho teve por objetivo analisar os fatores associados à presença de anemia em gestantes identificada por meio do critério da semana gestacional e do ponto de corte da Organização Mundial de Saúde.
MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal desenvolvido com mulheres, após o parto, que durante a concepção foram atendidas em hospitais públicos e conveniados ao SUS e que frequentaram o pré-natal em unidades básicas de saúde da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) – ES, sendo essa formada pelos municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória.
Os dados foram coletados entre abril de 2010 e fevereiro de 2011, por meio de entrevistas com 1.395 puérperas e também em consulta ao cartão pré-natal do SUS das ex-gestantes10, Como critério de compilamento dos dados foi necessária a concordância das informações fornecidas pelas mulheres e as registradas no cartão da gestante. Foram incluídas no estudo as gestantes que residiam na região da Grande Vitória e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e excluídas as que não possuíam o cartão de gestante.
Para a coleta de dados dez entrevistadores foram previamente treinados por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito e um estudo piloto prévio foi realizado com 30 mulheres, após o parto, essas, posteriormente, não foram incluídas no estudo principal. O estudo piloto ocorreu nas instalações das maternidades, mesmo local onde foi realizada a pesquisa principal.
Durante a coleta, primeiramente foi aplicado às participantes um questionário, e posteriormente foram coletados os registros de interesse para a pesquisa presentes nos cartões das gestantes. Dentre as informações relevantes, tanto das entrevistas quanto dos cartões encontravamse, dados sociodemográficos, práticas de saúde durante a gravidez, práticas alimentares, conhecimento sobre anemia na gravidez e nível de hemoglobina.
Foram coletadas as seguintes variáveis sociodemográficas: faixa etária, estado civil, chefe da família, renda familiar mensal, nível de escolaridade, raça/cor autorreferida, número de membros residentes no domicílio. Para avaliação do estilo de vida, foram coletadas as variáveis: tabagismo e ingestão de bebida alcoólica. As variáveis clínicas coletadas foram: presença de doenças crônicas na gravidez (pré-eclâmpsia) e apresentação de alguma intercorrência gestacional. Além disso, foram coletados os seguintes dados obstétricos: tipo de parto; peso ao nascer; idade gestacional ao nascer; número de consultas de pré-natal; e orientação sobre alimentação saudável. O estado nutricional foi classificado pelo índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional coletado do cartão da gestante.
A dosagem de hemoglobina utilizada para classificação de anemia foi coletada com base nos dados disponíveis no cartão da gestante, tendo sido dosada como parte do cuidado pré-natal de rotina. Também foram coletadas informações nos cartões das gestantes sobre alimentação saudável e uso de suplementos preventivos ou terapêuticos contendo ferro e ácido fólico.
Para ambos os critérios de classificação, foram avaliados todos os dados de hemoglobina disponíveis no cartão da gestante. Portanto, foram consideradas anêmicas as gestantes que apresentaram qualquer uma das avaliações registradas abaixo dos pontos de corte estabelecidos.
Os dados foram digitados e analisados no programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 21.0. As associações foram testadas por meio de análises bivariadas com o teste qui-quadrado ou teste exato de Fisher. Em seguida, foram inseridas em um modelo de regressão logística binária, por meio do método “Enter”, as variáveis com p-valor de 5% para identificar determinantes independentes de anemia na gravidez. No modelo final, um valor de probabilidade menor que 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Posteriormente, para fins deste estudo, considerou-se o poder do teste maior que 80% e erro alfa menor que 5%, para testar a proporção do critério gestacional em 604 e o da OMS em 990 mulheres, para as duas situações a amostra mínima seria 120.
O estudo recebeu autorização do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (processo nº. 3060797). Foi obtido das respondentes consentimento informado por escrito e a elas foi garantido que as informações fornecidas serão mantidas em sigilo e serão utilizadas apenas para fins de estudo.
RESULTADOS
Das 1.395 puérperas incluídas no estudo inicial, foram utilizadas neste estudo 990 mulheres, pois possuíam as informações de hemoglobina disponíveis. Deve-se destacar, no entanto, que a classificação da anemia segundo o critério da semana gestacional foi realizada apenas em 604 mulheres, tendo sido as demais excluídas desta análise por não ser possível determinar a idade gestacional no momento da realização de exame de hemoglobina ou por haver apenas dados de hemograma disponíveis anteriores à 14ª semana gestacional.
Dentre as 990 mulheres com dados de hemoglobina disponíveis, a prevalência de anemia segundo o critério da OMS foi de 29,6% (n=293). No entanto, utilizandose o critério de classificação por semana gestacional, entre as 604 mulheres cujos dados de semana gestacional e hemoglobina estavam disponíveis, a prevalência encontrada foi de apenas 4,6% (n=28), ou seja, há uma diferença de 25 pontos percentuais entre os dois critérios de diagnóstico.
Ao associar o desfecho anemia com os dados sociodemográficos, encontrou-se, na classificação da OMS, maior prevalência entre as mulheres que não viviam com o companheiro (35,5%), quando comparadas às mulheres que viviam com companheiro (27,8%, p=0,039). Na classificação por semana gestacional, encontrou-se uma associação limítrofe com as mulheres pretas (10%), quando comparadas às brancas (4,9%) e às pardas (3,7%, p=0,054). Além disso, as mulheres com menor escolaridade (até oito anos) também apresentaram maior prevalência de anemia (7,7%, p=0,001) (tabela 1).
Tabela 1 Prevalência de anemia segundo critério da OMS e por semana gestacional de acordo com dados sociodemográficos, RMGV – ES, 2010-2011
Critério OMS | Critério semana gestacional | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Anemia | Sem anemia | p-valor | Anemia | Sem anemia | p-valor | |||||
n | % | n | % | n | % | n | % | |||
Idade | ||||||||||
Abaixo de 18 anos | 38 | 36,9 | 65 | 63,1 | 0,105 | 3 | 4,9 | 58 | 95,1 | 0,228f |
De 18 a 35 anos | 241 | 29,3 | 582 | 70,7 | 21 | 4,2 | 481 | 95,8 | ||
Acima de 35 anos | 14 | 21,9 | 50 | 78,1 | 4 | 9,8 | 37 | 90,2 | ||
Raça/cor | ||||||||||
Branca | 37 | 28,0 | 95 | 72,0 | 0,661 | 4 | 4,9 | 77 | 95,1 | 0,054f |
Preta | 51 | 32,5 | 106 | 67,5 | 9 | 10,0 | 81 | 90,0 | ||
Parda (morena/mulata) | 192 | 29,2 | 465 | 70,8 | 15 | 3,7 | 389 | 96,3 | ||
Escolaridade | ||||||||||
Até 8 anos (ensino fundamental) | 146 | 31,9 | 312 | 68,1 | 0,095 | 20 | 7,7 | 240 | 92,3 | <0,001f |
9 anos ou mais | 141 | 27,0 | 381 | 73,0 | 6 | 1,8 | 333 | 98,2 | ||
Estado civil | ||||||||||
Vive com companheiro | 223 | 27,8 | 578 | 72,2 | 0,039 | 23 | 4,8 | 456 | 95,2 | 0,729 |
Não vive com companheiro | 66 | 35,5 | 120 | 64,5 | 5 | 4,1 | 11 8 | 95,9 | ||
Chefe da família | ||||||||||
A própria mulher | 38 | 34,9 | 71 | 65,1 | 0,103 | 6 | 9,4 | 58 | 90,6 | 0,124 |
O companheiro | 174 | 27,3 | 463 | 72,7 | 17 | 4,6 | 356 | 95,4 | ||
Outros | 80 | 33,2 | 161 | 66,8 | 5 | 3,0 | 159 | 97,0 | ||
Nº de pessoas no domicílio | ||||||||||
Até 4 pessoas | 225 | 30,4 | 516 | 69,6 | 0,343 | 18 | 4,0 | 429 | 96,0 | 0,230f |
5 ou mais pessoas | 68 | 27,2 | 182 | 72,8 | 10 | 6,4 | 147 | 93,6 | ||
Renda da família | ||||||||||
≤ 1 salário-mínimo | 49 | 31,8 | 105 | 68,2 | 0,241 | 3 | 3,2 | 90 | 96,8 | 0,596f |
>1 salário-mínimo | 188 | 27,1 | 505 | 72,9 | 21 | 4,9 | 406 | 95,1 | ||
Renda por pessoa | ||||||||||
Até R$ 140,00 (pobreza ou extrema pobreza) | 41 | 29,7 | 97 | 70,3 | 0,621 | 5 | 5,8 | 81 | 94,2 | 0,573 |
Acima de R$ 140,00 | 196 | 27,6 | 513 | 72,4 | 19 | 4,4 | 415 | 95,6 |
f= Teste de Fisher,
A tabela 3 evidencia o número de consultas de pré-natal como fator determinante para a ocorrência da anemia (p-valor<5%) segundo critério da OMS e inclui o tabagismo na gestação como fator associado à anemia em gestantes nos dois métodos utilizados. Outras variáveis, tais como hipertensão gestacional, assumiram uma significância menor que 10%.
Tabela 3 Regressão logística entre fatores sociodemográficos, clínicos e obstétricos e hábitos de vida e a anemia segundo o critério da OMS, RMGV – ES, 2010-2011
OR bruta | Limite inferior | Limite superior | p-valor | OR ajustada | Limite inferior | Limite superior | p-valor | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Estado civil | ||||||||
Vive com companheiro | 1 | - | - | - | 1 | - | - | - |
Não vive com companheiro | 1,426 | 1,017 | 1,998 | 0,040 | 1,396 | 0,977 | 1,994 | 0,067 |
N. de consultas pré-natais | ||||||||
Adequado (6 ou mais) | 1 | - | - | - | 1 | - | - | - |
Inadequado (< 6) | 1,349 | 1,004 | 1,811 | 0,047 | 1,201 | 0,884 | 1,633 | 0,241 |
Tabagismo na gestação | ||||||||
Não | 1 | - | - | - | 1 | - | - | - |
Sim | 2,015 | 1,294 | 3,137 | 0,002 | 1,817 | 1,141 | 2,893 | 0,012 |
Após análise de regressão logística, apenas o tabagismo permaneceu associado à ocorrência de anemia segundo o critério da OMS. Mulheres que relataram ser fumantes apresentaram 82% (IC95%: 1,14-2,89) a mais de chance de ocorrência de anemia quando comparadas às que não fumavam (tabela 3).
Em relação à classificação de anemia segundo semanas gestacionais, após ajuste das variáveis na análise de regressão logística, a escolaridade e o tabagismo permaneceram associados à ocorrência do desfecho (tabela 4).
Tabela 4 Regressão logística entre fatores sociodemográficos, clínicos e obstétricos e hábitos de vida e a anemia segundo o critério de semanas gestacionais, RMGV – ES, 2010-2011
OR bruta | Limite inferior | Limite superior | p-valor | OR ajustada | Limite inferior | Limite superior | p-valor | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Raça/cor | ||||||||
Branca | 1 | - | - | - | 1 | - | - | - |
Preta | 2,139 | 0,632 | 7,233 | 0,221 | 1,079 | 0,265 | 4,392 | 0,916 |
Parda (morena/mulata) | 0,742 | 0,240 | 2,297 | 0,605 | 0,743 | 0,230 | 2,395 | 0,618 |
Escolaridade | ||||||||
9 anos ou mais | 1 | - | - | - | 1 | - | - | - |
Até 8 anos (ensino fundamental) | 4,63 | 1,83 | 11,690 | 0,001 | 3,430 | 1,303 | 9,033 | 0,013 |
Tabagismo na gestação | ||||||||
Não | 1 | - | - | - | 1 | - | - | - |
Sim | 5,757 | 2,435 | 13,610 | 0,000 | 4,863 | 1,953 | 12,113 | 0,001 |
Mulheres com escolaridade de até oito anos apresentaram 3,43 vezes (IC95% 1,30-9,03) a chance de ocorrência de anemia quando comparadas às mulheres com 9 anos ou mais anos de estudo. Já as tabagistas apresentaram 4,86 vezes (IC95% 1,95-12,11) a chance de ocorrência de anemia quando comparadas às que não fumavam (tabela 4).
Tabela 2 Prevalência de anemia segundo critério da OMS e por semana gestacional de acordo com dados clínicos e obstétricos e hábitos de vida, RMGV – ES, 2010-2011
Segundo critéio OMS | critério semana gestacional | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Anemia | Sem anemia | p-valor | Anemia | Sem anemia | p-valor | |||||
n | % | n | % | n | % | n | % | |||
Tipo de parto | ||||||||||
Normal | 191 | 31,1 | 424 | 68,9 | 0,184 | 19 | 5,0 | 363 | 95,0 | 0,612 |
Cesáreo | 101 | 27,1 | 272 | 72,9 | 9 | 4,1 | 212 | 95,9 | ||
Peso ao nascer | ||||||||||
Abaixo de 2500g | 27 | 29,7 | 64 | 70,3 | 0,982 | 3 | 5,7 | 50 | 94,3 | 0,728f |
Maior ou igual a 2500g | 266 | 29,6 | 634 | 70,4 | 25 | 4,5 | 526 | 95,5 | ||
Semanas gestacionais | ||||||||||
Prematuro (< 37 semanas) | 9 | 19,6 | 37 | 80,4 | 0,125 | 0 | 0,0 | 22 | 100,0 | 0,616f |
Termo (≥ 37 semanas) | 268 | 30,1 | 621 | 69,9 | 26 | 4,8 | 521 | 95,2 | ||
N. de consultas prénatais | ||||||||||
Adequado (≥ 6) | 93 | 25,7 | 269 | 74,3 | 0,046 | 6 | 2,5 | 237 | 97,5 | 0,060 |
Inadequado (< 6) | 180 | 31,8 | 386 | 68,2 | 20 | 5,7 | 332 | 94,3 | ||
Hipertensão gestacional | ||||||||||
Não | 223 | 29,7 | 529 | 70,3 | 0,074 | 21 | 4,7 | 426 | 95,3 | 1,000f |
Sim | 12 | 19,0 | 51 | 81,0 | 1 | 2,9 | 34 | 97,1 | ||
Orientação sobre alimentação saudável | ||||||||||
Não | 127 | 31,4 | 278 | 68,6 | 0,304 | 13 | 5,8 | 213 | 94,2 | 0,313 |
Sim | 166 | 28,3 | 420 | 71,7 | 15 | 4,0 | 363 | 96,0 | ||
Bebidas alcoólicas durante a gestação | ||||||||||
Não | 264 | 29,4 | 633 | 70,6 | 0,676 | 26 | 4,8 | 513 | 95,2 | 0,757f |
Sim | 29 | 31,5 | 63 | 68,5 | 2 | 3,1 | 63 | 96,9 | ||
Tabagismo na gestação | ||||||||||
Não | 238 | 27,5 | 627 | 72,5 | 0,002 * | 17 | 3,2 | 522 | 96,8 | 0,000f |
Sim | 39 | 43,3 | 51 | 56,7 | 9 | 15,8 | 48 | 84,2 | ||
IMC pré-gestacional | ||||||||||
IMC ≤ 24,9Kg/m2 | 142 | 28,5 | 357 | 71,5 | 0,229 | 10 | 3,1 | 3 11 | 96,9 | 0,277f |
IMC > 24,9Kg/m2 | 50 | 24,0 | 158 | 76,0 | 7 | 5,5 | 120 | 94,5 |
f= Teste de Fisher.
DISCUSSÃO
O tabagismo foi o fator, mais fortemente ligado aos resultados observados, entretanto não se pode deixar de mencionar a vulnerabilidade social (baixa escolaridade), que também contribui para o desenvolvimento dessa intercorrência durante a gestação quando o desfecho foi avaliado de acordo com o critério da semana gestacional. O observado, foi que a prevalência de anemia encontrada no estudo diferiu substancialmente entre os dois métodos de classificação (29,6% segundo o critério da OMS e 4,6% conforme as semanas gestacionais).
Globalmente, estima-se que 40% das gestantes (IC95%: 36,4–44,7%) apresentem anemia, com maior prevalência nas regiões do Sudeste Asiático (58,2%) e menor prevalência nas Américas (25,5%)11. No Brasil, outros estudos que também utilizaram o critério de classificação da OMS registraram prevalências de anemia maiores que a encontrada na Região Metropolitana da Grande Vitória12,13. Ferreira et al.13 encontraram uma prevalência de 50% na região semiárida do estado de Alagoas13, enquanto Bresani et al.12, em estudo realizado em Recife, Pernambuco, encontraram que 56,6% das gestantes apresentaram anemia12. Contudo, na Bahia, em estudo mais recente, a prevalência foi de 18,9% em estudo envolvendo 328 gestantes atendidas nas unidades de saúde urbanas de Vitória da Conquista14.
Este estudo é o primeiro no Brasil a classificar a anemia de acordo com os pontos de corte propostos por Ohuma et al.6, por isso a comparação dos resultados por meio deste método torna-se limitada. Este método considerou os percentis específicos de hemoglobina propostos para cada idade gestacional baseando-se nos dados de 3.502 mulheres saudáveis e bem nutridas de oito países participantes do Estudo Longitudinal de Crescimento Fetal (FGLS), cujos bebês saudáveis foram acompanhados até os 2 anos de idade. Por meio dos achados desses autores foi possível definir, pela primeira vez, trajetórias normativas de hemoglobina para estabelecer distribuições específicas da idade gestacional compatíveis com resultados funcionais normais, como crescimento fetal, morbidade neonatal e crescimento e desenvolvimento infantil até os 2 anos de idade6.
No presente trabalho, a utilização dos pontos de corte por semana gestacional diferenciou a prevalência de anemia em comparação com o método de classificação da OMS, o que claramente acarreta sérias implicações para a saúde pública. Isso porque, uma vez implementadas a utilização dos pontos de corte por semana gestacional, a prevalência de baixos níveis de Hb será substancialmente menor, permitindo um tratamento mais direcionado com a redução de custos no tratamento.
As diferenças nas prevalências encontradas podem ser atribuídas a dois fatores principais. O primeiro relaciona-se ao ponto de corte da OMS, que deriva de uma abordagem estatística baseada principalmente em dados agregados de quatro estudos europeus com tamanhos de amostra muito pequenos, enquanto as novas distribuições de hemoglobina propostas são compatíveis com os níveis de resultados funcionais de saúde observados em uma ampla amostra de gestantes saudáveis de países de vários continentes. O segundo fator destaca que a classificação da OMS leva em consideração apenas um ponto de corte fixo, o que é um conceito biológico implausível, enquanto o outro critério considera as trajetórias de Hb de acordo com cada idade gestacional6. Considerando os avanços científicos feitos desde a compreensão da biologia da hemoglobina, a revisão dos critérios propostos pela OMS pode ser necessária.
Os pontos de corte propostos por Ohuma et al.6 são muito inferiores aos parâmetros atuais da OMS. Assim, passar de um parâmetro mais sensível para um mais específico pode gerar uns falsos negativos para anemia – já que alguns casos antes caracterizados como anemia deixariam de entrar na classificação. Com o subdiagnóstico, muitos casos de anemia deixariam de ser identificados, e não haveria de modo suficiente intervenções precoces de prevenção e tratamento, especialmente nas populações mais vulneráveis. Sabe-se que a baixa taxa de hemoglobina materna é associada a desfechos desfavoráveis ao nascimento (baixo peso ao nascer, parto prematuro, recém-nascido pequeno para a idade gestacional – PIG, natimorto e mortalidade perinatal e neonatal) e desfechos maternos adversos (hemorragia pós-parto, pré-eclâmpsia e transfusão de sangue)15.
Durante a gestação, baixas taxas de hemoglobina podem ocorrer em resposta a diversos fatores da gravidez, tais como: alterações hormonais, aumento do volume total de sangue, ganho de peso e aumento do tamanho fetal. Todos esses fatores têm um impacto fisiológico em todo o sistema da gestante, pois o sangue é diluído ao longo dos meses16. A anemia gestacional está, portanto, relacionada à fisiologia da gestação, entretanto fatores sociais também podem influenciar sua ocorrência, conforme corroborado pelos dados deste estudo.
O tabagismo foi o único fator que se manteve fortemente associado à anemia, independentemente do critério de classificação utilizado. Os efeitos do tabagismo durante a gravidez são universalmente conhecidos. O hábito de fumar pode provocar deficiência na absorção da vitamina B12, uma vez que o ácido cianídrico, contido no cigarro, reduz os seus níveis. A deficiência de vitamina B12, por sua vez, causa a queda de hemoglobina, que está associada a parto prematuro, redução na eritropoiese e leucopoiese, levando à anemia17. Isso demonstra a importância de ações de promoção da saúde que esclareçam as gestantes da importância de não fumar durante a gestação.
Os resultados da presente investigação também demonstram que as populações de menor escolaridade são mais vulneráveis ao desenvolvimento de anemia, o que confirma achados de outros estudos18,19. Possivelmente, esses indivíduos podem ter um conhecimento comprometido sobre alimentação saudável e sobre as estratégias dietéticas necessárias à prevenção de anemia20, além de terem mais dificuldade de entendimento a respeito da necessidade de suplementação preventiva de vitaminas e minerais nessa fase da vida. Ainda, apesar de não ter sido um fator que se manteve associado à anemia neste estudo, indivíduos com menor escolaridade tendem a possuir menor renda, o que também pode dificultar o acesso a uma dieta equilibrada, a aquisição de alimentos ricos em ferro (especialmente derivados cárneos, considerando seu elevado valor agregado) ou de suplementação de ferro e ácido fólico, em caso de indisponibilidade destes no Sistema Único de Saúde.
A redução da anemia materna é amplamente reconhecida como central para a saúde de mulheres e crianças. As metas globais atuais da OMS exigem uma redução da anemia em 50% entre mulheres em idade reprodutiva até 202521.
Cabe destacar que os serviços de saúde têm um papel importantíssimo na prevenção ou no diagnóstico precoce dessa intercorrência, pois a consulta pré-natal propicia o acompanhamento dos parâmetros bioquímicos da gestante, com o objetivo de identificar carências nutricionais precocemente e estabelecer as intervenções cabíveis22. É importante que a orientação nutricional seja realizada durante todo o pré-natal ou até mesmo no período anterior à gestação, já que esse acompanhamento tem um papel fundamental no resultado obstétrico, além de ser um importante aliado na adoção de hábitos alimentares saudáveis com o intuito de melhorar o consumo de nutrientes essenciais à gestação, como o ferro, atuando de forma preventiva e terapêutica contra a anemia23. Também é possível citar a importância do pré-natal nas orientações acerca da adoção de hábitos saudáveis, incluindo a importância de não fumar, já que o tabagismo foi um fator de risco importante encontrado nas análises.
Outro desafio para o serviço de saúde é a captação precoce e a continuidade do cuidado quanto a essa população mais vulnerável, tendo em vista que as mães com pouca escolaridade são as que iniciam o pré-natal mais tardiamente e têm menor frequência de consulta. O baixo nível de escolaridade materna pode levar a dificuldades de compreensão18, mesmo que o fato de ter um pré-natal adequado, por si só, não seja o determinante do agravamento da anemia. Assim, é imprescindível a busca ativa dessas gestantes para um pré-natal de qualidade e o controle das intercorrências que venham a surgir24.
Considerando que ainda existem lacunas importantes na compreensão da associação da concentração de hemoglobina materna com a saúde materno-infantil15, os resultados deste estudo fornecem evidências para avaliação crítica dos atuais pontos de corte de hemoglobina propostos pela OMS e adotados pelo Ministério da Saúde para definir anemia na gravidez. Dada a importância da anemia materna em todo o mundo, é fundamental chegar a um consenso sobre a definição dessa condição. A revisão do critério atualmente utilizado pode ser necessária para evitar superestimação das prevalências de anemia e consequentes tratamentos e direcionamento de recursos de saúde desnecessários. Outros estudos, especialmente coortes prospectivas, seriam valiosos para uma melhor avaliação das implicações que a revisão dos pontos de corte atualmente adotados poderia acarretar6.
Entre as limitações deste estudo, pode-se citar a perda de amostra por ausência de informações no cartão da gestante a respeito de dados de hemoglobina e da semana gestacional referente a cada exame disponível. Além disso, o critério de classificação da anemia segundo a semana gestacional pode ser aplicado apenas a mulheres acima da 14ª semana de gestação, o que também implicou perda de amostra. As dosagens de hemoglobina utilizadas para este estudo foram coletadas do cartão da gestante, portanto não foram realizadas de forma padronizada pelo mesmo laboratório e podem ter sofrido influência da metodologia utilizada.
O pequeno número de indivíduos em algumas categorias pode ter comprometido a qualidade das análises. Deve-se destacar também que não se pode inferir os achados para todas as gestantes, já que a população em estudo foi composta apenas de usuárias do SUS no pré-natal e parto. Por fim, por se tratar de um estudo transversal, não há relação de temporalidade entre os fatores que explicam o desenvolvimento da anemia.
CONCLUSÃO
O estudo mostrou que fatores como escolaridade e tabagismo materno aumentaram a chance de ocorrência de anemia em gestantes, a depender do critério de classificação utilizado. O critério diagnóstico preconizado pela OMS é mais sensível e acaba classificando um número maior de mulheres como anêmicas. É necessária que novas pesquisas utilizem o critério da semana de gestação para avaliação de sua eficácia e efetividade como critério de classificação e como preditor de agravos à saúde materna e fetal.
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Acknowledgments
Não há.
FundingEsta pesquisa foi financiada pela EDITAL FAPES 003/2009, PESQUISA PARA O SUS: GESTÃO COMPARTILHADA EM SAÚDE PPSUS – 2009 - Ministério da Saúde/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/ Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo/ Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo, sob protocolo nº 45581630/09 Este estudo tem o apoio da Fundação de amparo a pesquisa do Estado do Espirito Santo (FAPES), através do edital 18/2023, 5ºciclo
Recebido: 01 de Agosto de 2024; Aceito: 01 de Outubro de 2024; Publicado: 01 de Novembro de 2024
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