Servicios Personalizados
Revista
Articulo
Indicadores
Compartir
Journal of Human Growth and Development
versión impresa ISSN 0104-1282versión On-line ISSN 2175-3598
J. Hum. Growth Dev. vol.34 no.3 Santo André 2024 Epub 11-Abr-2025
https://doi.org/10.36311/jhgd.v34.15873
ARTIGO ORIGINAL
Doença mineral e óssea da doença renal crônica em indivíduos em hemodiálise e a suas correlações com as condições clínicas, antropométricas e laboratoriais
aPrograma de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo, Brasil
bPrograma de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo, Brasil
cDepartamento de Saúde Pública, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo, Brasil
dPrograma de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo, Brasil e Departamento de Saúde Pública, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo, Brasil
Por que este estudo foi feito?
A doença renal crônica é uma das principais comorbidades crônicas globais, com a doença mineral óssea destacando-se como uma de suas complicações mais frequentes, gerando desfechos extremamente graves e fatais em indivíduos submetidos à terapia de hemodiálise. A análise integrada de condições clínicas, nutricionais e laboratoriais neste cenário é de extrema importância para entendimento dessas correlações e serviu como estratégia para o desenvolvimento deste estudo
O que os pesquisadores fizeram e encontraram?
Este é um estudo transversal, realizado em 11 centros de hemodiálise, apresentando como população final 790 indivíduos, no sudeste do Brasil. A doença mineral e óssea da doença renal crônica foi avaliada conforme critérios diagnósticos laboratoriais específicos já definidos pela literatura. Destacamos as seguintes correlações mais fortes: níveis de vitamina D tiveram correlação positiva forte com espessura do músculo adutor do polegar e correlação fortemente negativa com perímetro da cintura e área muscular do braço; além de valores laboratoriais do cálcio iônico que teve forte correlação positiva com tempo de hemodiálise e forte correlação negativa com índice de massa corpórea.
O que essas descobertas significam?
Os resultados obtidos ratificam a proximidade destas condições na prática clínica, enfatizando o entendimento abrangente da doença mineral e óssea na doença renal crônica em indivíduos hemodialíticos. Esta compreensão é essencial para a identificação precisa desse indivíduo e a formulação de estratégias de intervenção mais eficazes. Possibilitando uma atuação mais assertiva na prevenção e tratamento dos agravos relacionados a esta condição clínica, de forma justificada e norteada por evidências científicas. Estes achados indicam que todos os parâmetros laboratoriais da doença mineral e óssea da doença renal crônica, apresentam correlações com fatores clínicos, antropométricos ou laboratoriais observados em indivíduos submetidos à hemodiálise. Assim, a atenção a tais correlações, direciona a seleção de estratégias terapêuticas, preventivas e prognósticas para essa população no ambiente clínico.
Palavras-chave: doença renal crônica; distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica; diálise renal e estado nutricional
Introdução:
a Doença Mineral e Óssea da Doença Renal Crônica é uma das principais complicações dos indivíduos em hemodiálise provavelmente correlacionada com vários aspectos clínicos.
Objetivo:
analisar as correlações dos componentes laboratoriais da Doença Mineral e Óssea da Doença Renal Crônica com fatores clínicos, antropométricos e laboratoriais de indivíduos em hemodiálise.
Método:
estudo transversal com 790 indivíduos em hemodiálise no sudeste do Brasil. A Doença Mineral e Óssea da Doença Renal Crônica foi avaliada conforme critérios diagnósticos laboratoriais específicos já definidos pela literatura. Realizada avaliação quanto à existência de correlação linear entre as variáveis dependentes e independentes. Utilizado: r < 0,4 (correlação fraca); r ≥ 0,4 e < 0,6 (correlação moderada); r ≥ 0,6 (correlação forte). Nível de significância adotado de 5%.
Resultados:
o paratormônio e tempo de terapia renal substitutiva apresentaram correlação positiva moderada entre si (r = 0,582, p <0,001). Níveis de fósforo teve correlação positiva moderada com potássio (r = 0,556, p 0,020) e negativa com a idade (r = -0,413, p 0,036). Valores de vitamina D tiveram correlação positiva com espessura do músculo adutor do polegar (r = 0,602, p 0,018) e força de preensão palmar à direita (r = 0,402, p <0,001), e correlação negativa com prega cutânea tricipital (r = -0,600, p 0,020) e área muscular do braço corrigida (r = - 0,769, p 0,024). Índices de cálcio iônico tiveram forte correlação positiva com o tempo de terapia renal substitutiva, (r= 0,961, p 0,015) e forte correlação negativa com índice de massa corporal (r = -0,82, p 0,046).
Conclusão:
todos os elementos laboratoriais da Doença Mineral e Óssea da Doença Renal Crônica apresentaram correlações importantes com componentes clínicos, antropométricos e laboratoriais dos indivíduos em hemodiálise, contribuindo para melhor abordagem deste contexto clínico e condutas mais assertivas.
Palavras-chave: doença renal crônica; distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica; diálise renal e estado nutricional
Destaca-se que todos os componentes laboratoriais da doença mineral e óssea da doença renal crônica, em indivíduos em hemodiálise da população analisada, apresentaram algum grau de correlação com as condições clínicas, laboratoriais e antropométricas estudadas. Sendo evidenciadas várias correlações fortemente positivas ou negativas.
Palavras-chave: doença renal crônica; distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica; diálise renal e estado nutricional
Why was this study done?
Chronic kidney disease is one of the main global chronic comorbidities, with bone mineral disease standing out as one of its most frequent complications, generating extremely serious and fatal outcomes in individuals undergoing hemodialysis therapy. The integrated analysis of clinical, nutritional and laboratory conditions in this scenario is extremely important to understand these correlations and served as a strategy for the development of this study.
What did the researchers do and find?
This is a cross-sectional study conducted in 11 hemodialysis centers, with a final population of 790 individuals, in southeastern Brazil. Mineral and bone disease in chronic kidney disease was assessed according to specific laboratory diagnostic criteria already defined in the literature. We highlight the following strongest correlations: vitamin D levels had a strong positive correlation with adductor pollicis muscle thickness and a strongly negative correlation with waist circumference and arm muscle area; in addition, laboratory values of ionic calcium had a strong positive correlation with hemodialysis time and a strong negative correlation with body mass index.
What do these findings mean?
The results obtained confirm the proximity of these conditions in clinical practice, emphasizing the comprehensive understanding of mineral and bone disease in chronic kidney disease in hemodialysis individuals. This is essential for the accurate identification of this individual and the formulation of more effective intervention strategies, enabling more assertive action in the prevention and treatment of problems related to this clinical condition, justified and guided by scientific evidence.
Keywords Chronic kidney disease; mineral and bone disorder in chronic kidney disease; kidney dialysis and nutritional status
Introduction:
Chronic Kidney Disease-Mineral and Bone Disease is one of the main complications of individuals on hemodialysis.
Objective:
this research aims to analyze the correlations of the laboratory components of Chronic Kidney Disease-Mineral and Bone Disease with clinical, anthropometric and laboratory factors of individuals on hemodialysis.
Methods:
this is a cross-sectional study with 790 patients on hemodialysis, in southeastern Brazil. Chronic Kidney Disease- Mineral and Bone Disease was evaluated according to specific laboratory diagnostic criteria already defined in the literature. Assessment was carried out regarding the existence of a linear correlation between the dependent and independent variables. References used: r < 0.4 (weak correlation); r ≥ 0.4 and < 0.6 (moderate correlation); r ≥ 0.6 (strong correlation). The Significance level adopted was 5%.
Results:
parathyroid hormone and duration of renal replacement therapy showed a moderate positive correlation with each other (r 0.582, p <0.001). Phosphorus levels had a moderate positive correlation with potassium (r 0.556, p 0.020) and negative correlation with age (r -0.413, p 0.036). 25-hydroxyvitamin D levels had a positive correlation with adductor pollicis muscle thickness (r 0.602, p 0.018) and right hand grip strength (r 0.402, p <0.001), and a negative correlation with tricipital skinfold (r -0.600, p 0.020) and corrected arm muscle area (r -0.769, p 0.024). Ionic calcium levels had a strong positive correlation with duration of renal replacement therapy (r 0.961, p 0.015) and a strong negative correlation with Body Mass Index (r -0.82, p 0.046).
Conclusion:
all laboratory elements of Chronic Kidney Disease- Mineral and Bone Disease showed important correlations with clinical, anthropometric and laboratory components of individuals on hemodialysis.
Keywords Chronic kidney disease; mineral and bone disorder in chronic kidney disease; kidney dialysis and nutritional status
It is noteworthy that all laboratory components of mineral and bone disease in chronic kidney disease in individuals on hemodialysis in the population analyzed showed some degree of correlation with the clinical, laboratory and anthropometric conditions studied. Several strongly positive or negative correlations were evident.
Keywords Chronic kidney disease; mineral and bone disorder in chronic kidney disease; kidney dialysis and nutritional status
INTRODUÇÃO
A doença mineral e óssea da doença renal crônica (DMO-DRC) representa uma das complicações mais comuns dos pacientes submetidos à hemodiálise, e tem como definição dentre outros critérios, o envolvimento de alterações específicas em marcadores bioquímicos como cálcio, fósforo, paratormônio (PTH) e vitamina D1,2,3. As modificações desses parâmetros minerais e ósseos, associadas a alterações nutricionais nos indivíduos em hemodiálise estão frequentemente associadas a desfechos adversos relevantes, principalmente devido à calcificação vascular4,5. O desenvolvimento de modelos para prever essas combinações e otimizar o manejo desses pacientes pode desempenhar um papel crucial nesse contexto1.
A composição corporal é comumente modificada nos indivíduos com Doença Renal Crônica (DRC), caracterizada pela coexistência de obesidade e perda muscular, podendo ocorrer, inclusive, de forma concomitante6. Os componentes laboratoriais da DMO- DRC exercem uma influência significativa sobre o estado nutricional desses indivíduos4,5,6,7. No contexto da hemodiálise (HD), a composição corporal pode refletir ainda diversos aspectos do indivíduo, como ingestão alimentar, os níveis hormonais, aspectos fisiológicos do estágio da DRC, assim como o impacto da própria modalidade de terapia renal substitutiva (TRS)8. Portanto, compreender a relação entre os componentes corporais e as características específicas desses indivíduos representa um desafio significativo.
As alterações nos níveis de fósforo, PTH, cálcio e vitamina D desempenham papéis muito relevante no cenário e desenvolvimento da DMO-DRC, cada um contribuindo de forma distinta, com suas próprias funções fisiológicas, no metabolismo destes indivíduos9. Algumas das implicações incluem a indução da conversão do tecido adiposo branco em tecido adiposo marrom pelo PTH, a associação da vitamina D com a homeostase óssea, a deposição de cálcio em tecidos moles e o aumento da mortalidade cardiovascular associada com descontrole do fósforo10,11,12,13.
De acordo com as diretrizes do Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO), o manejo da DMO-DRC, dentre outras estratégias terapêuticas, devem incluir a realização de avaliações sequenciais dos níveis séricos desses elementos, isso se justifica, visto que os distúrbios do metabolismo mineral e ósseo nesta população tem características singulares e podem ser potencialmente modificáveis2,5,14. A avaliação nutricional também é uma preconização do KDIGO, porém ainda com evidências limitadas sobre a ferramenta recomendada, de forma assertiva, com baixo custo e boa replicabilidade clínica2,15. Com isso, ampliamos a compreensão desses indivíduos considerando a suas correlações com aspectos clínicos, antropométricos e laboratoriais dentro do cenário da DMO-DRC.
Diante dessas considerações o objetivo deste estudo é analisar as correlações dos componentes laboratoriais da DMO-DRC com fatores clínicos, antropométricos e laboratoriais de indivíduos em hemodiálise.
MÉTODO
Local e período do estudo
O estudo foi realizado de fevereiro a setembro de 2019 em 11 centros de hemodiálise na Região da Grande Vitória, Espírito Santo, Brasil.
População do estudo e critérios de elegibilidade
Inicialmente 1.416 participantes foram incluídos. Os critérios de exclusão foram: quem estava em precaução de contato ou respiratória, hospitalizados, transferidos para outra unidade de hemodiálise e os que apresentavam limitações para responder o questionário. Com total de 1047 pessoas elegíveis, com taxa de recusa de 2,2% (n = 23) e 234 com dados faltantes em prontuário, sendo a população final estudada de 790 indivíduos. A população participante desta pesquisa foi composta por maiores de 18 anos, que tinham diagnóstico confirmado Doença Renal Crônica de acordo com a Classificação Internacional de Doenças, versão 10 (CID-10), e que estavam em hemodiálise na rede pública, redes filantrópicas, hospitais e clínicas privadas da região descrita, há mais de 3 meses, e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Coleta dos dados
A antropometria foi realizada após as sessões de hemodiálise, por profissionais treinados, utilizando equipamentos normatizados. As aferições foram realizadas três vezes e obtido a média aritmética das mesmas. Os indivíduos estavam descalços, em posição ereta com pés juntos, com pouca roupa possível, braços estendidos ao longo do corpo e olhar fixo, para medida de massa corporal, estatura e demais medidas15.
Os dados antropométricos avaliados foram: índice de massa corporal (IMC) obtido por kg/m2 e classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS)16; espessura do músculo adutor do polegar (EMAP) realizada com o auxílio do adipômetro (Lange®) exercendo pressão contínua comprimindo o músculo adutor no vértice do ângulo entre polegar e dedo indicador na mão dominante17 e classificado posteriormente18; área muscular do braço corrigida (AMBc) obtida a partir dos valores da circunferência do braço e prega cutânea tricipital15 sendo classificada após19; prega cutânea tricipital (PCT) medida na face posterior do braço e aplicando adipômetro15; força de preensão palmar (FPP) realizada no membro superior dominante do participante ou com a mão sem fístula arteriovenosa, utilizando-se o dinamômetro Jamar® 12- 060020 sendo a classificada utilizando-se o ponto de corte de 27kg para os homens e 16kg para as mulheres21.
A idade foi visualizada diretamente no prontuário e estratificada em até 59 anos e 60 anos ou mais. O tempo de hemodiálise foi questionado diretamente aos indivíduos e categorizado em anos e classificado da seguinte forma: de “0 a 2 anos”, “3 a 5 anos”, “6 a 10 anos” e “mais de 10 anos”. A categoria sexo foi autodeclarada. As amostras laboratoriais foram coletadas como de rotina pelas clínicas, sendo os dados coletados em prontuário clínico dos indivíduos, no período estudado, posteriormente foram classificados conforme literatura22,23.
Análise estatística
Na análise estatística, para a avaliação descritiva, as variáveis foram apresentadas por meio de mediana, média, desvio padrão, mínimo e máximo. A normalidade das variáveis foi avaliada pelo teste Shapiro wilk e foi realizado o teste de Mann-Whitney para comparar as medianas e o teste T de Student para comparação das médias. Para avaliar a existência de uma correlação linear entre as variáveis independentes e dependentes, o teste de correlação de Pearson foi realizado para a distribuição normal e o teste de correlação de Spearman para a distribuição não paramétrica das variáveis. Assim, r < 0,4 (correlação fraca); r ≥ 0,4 e < 0,6 (correlação moderada); r ≥ 0,6 (correlação forte). Todas as análises foram conduzidas no software R (4.2.2) para Windows. O nível de significância adotado foi de 5%.
RESULTADOS
Na tabela 1 e 2 são apresentadas as características descritivas das variáveis antropométricas, clínicas e laboratoriais agrupadas por sexo da população estudada. Conforme evidenciado na tabela 1, o estudo foi composto de 790 indivíduos em hemodiálise (HD) com média (DP) de idade 54,23 anos (DP+14,68), 42% são do sexo feminino, destaca-se ainda o tempo de TRS de 5,68 anos (DP+5,75) nos homens e 5,51 anos (DP+4,67) nas mulheres, respectivamente.
TABELA 1 Tabela descritiva das variáveis clínicas e antropométricas agrupadas por sexo
Sexo | Variável | Idade | Tempo HD | Peso | IMC | PCT | EMAP | FPP DIR | FPP ESQ | PB | AMBc |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
N | 790 | 748 | 788 | 786 | 788 | 789 | 768 | 760 | 788 | 786 | |
Feminino (n= 338) | Média ± DP | 53,2±15,1 | 5,6±5,7 | 64,1±14,6 | 26,1±5,5 | 22,6±9,3 | 11,6±3,9 | 14,0±6,1 | 11,9±5,6 | 29,2±5,0 | 33,4±11,8 |
Mediana | 55 | 4 | 62,5 | 25,22 | 22,23 | 11,3 | 14 | 11,96 | 28,63 | 31,54 | |
IIQ | 41 - 64 | 2 - 7,7 | 53,2 - 68,7 | 22,1 - 29,9 | 18 - 29 | 9 - 14,6 | 10 - 18 | 7 - 15 | 22 - 35 | 28,5 - 33 | |
Mínimo | 20 | 0 | 37 | 14,65 | 4,3 | 2,17 | 0 | 0 | 16,66 | 8,12 | |
Máximo | 85 | 40 | 122,9 | 44,5 | 55,3 | 24,3 | 39,6 | 28,6 | 46,3 | 79,0 | |
Masculino (n=452) | Média ± DP | 54,9±14,3 | 5,5±4,6 | 71,6±14,3 | 25,4±5,9 | 15,7±8,7 | 12,8±4,4 | 24,5±10,6 | 19,9±9,7 | 28,7±4,4 | 38,9±11,5 |
Mediana | 57 | 4 | 69,9 | 24,7 | 14 | 12,3 | 24 | 19,8 | 28,2 | 37,8 | |
IIQ | 45 - 65 | 2 - 8 | 61 - 85,7 | 21,8 - 27,7 | 8,7 - 20 | 10 - 15,2 | 15 - 28,7 | 13 - 25 | 23 - 35 | 34,5 - 49 | |
Mínimo | 20 | 0 | 39 | 13,6 | 1,3 | 3,3 | 0 | 0 | 19 | 2,1 | |
Máximo | 89 | 24 | 127,3 | 94,3 | 77 | 29,3 | 104,7 | 95,3 | 80,3 | 74,4 |
N = número total, IIQ = Intervalo interquartil, HD = hemodiálise, IMC = índice de massa corporal, PC = perímetro da cintura, RCE = razão cintura estatura, PP = perímetro da panturrilha, EMAP = espessura do músculo adutor do polegar, FPP DIR = força de preensão palmara direita, FPP ESQ = força de preensão palmar a esquerda, PB = perímetro do braço, AMBc = área muscular do braço corrigida, DP = desvio padrão,
Tabela 2 Tabela descritiva das variáveis laboratoriais agrupadas por sexo
Sex | Variável | Hb | P | K | Alb | Ferritina | IST | Leuc | FA | Ca ion | Vith | PTH |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
N | 88 | 79 | 80 | 714 | 326 | 300 | 720 | 723 | 670 | 532 | 727 | |
Feminino (n=338) | Média ± DP | 9,3±2,7 | 5,1±1,1 | 5,4±0,8 | 3,7±0,4 | 233,6±197,4 | 24,1±12,2 | 6,7±2,5 | 251,8±328,6 | 4,2±0,5 | 32,8±13,1 | 762,3±566,0 |
Mediana | 9 | 5 | 5 | 3,8 | 168,5 | 22 | 6,5 | 136 | 4,26 | 32 | 535 | |
IIQ | 8 – 10 | 4,7 – 6 | 5 – 6 | 3,7 – 4 | 81 – 351 | 16,5 – 27 | 5,0 – 8,0 | 93,5 – 230 | 4 – 4,75 | 23 – 42 | 362 –1027 | |
Mínimo | 4 | 2 | 3,9 | 2,6 | 10 | 6 | 2,35 | 48 | 2,3 | 7 | 204 | |
Máximo | 20 | 8 | 7 | 7,6 | 1024 | 85 | 28,2 | 2452 | 6,14 | 70 | 3000 | |
Masculino (n=338) | Média ± DP | 10,1±1,7 | 5,7±2,6 | 5,6±0,8 | 3,8±0,6 | 272,3±369,5 | 25,0±12,5 | 6,1±2,0 | 213,6±271,5 | 4,2±0,5 | 34,4±13,0 | 755,2±532,7 |
Mediana | 10 | 5 | 6 | 3,9 | 162 | 22 | 5,8 | 129 | 4,3 | 34 | 560,5 | |
IIQ | 9 – 11 | 4 – 7 | 5 – 6 | 3,8 – 4 | 77,5 – 321 | 16,5 – 29 | 4 – 7 | 83 – 203 | 4 – 4,5 | 27,7 – 43 | 354,5 – 974 | |
Mínimo | 6 | 3 | 3 | 0,9 | 9 | 4 | 2 | 3,4 | 2,39 | 6,4 | 200 | |
Máximo | 14 | 18 | 7 | 13 | 2848 | 85 | 14 | 2850 | 6,19 | 78 | 2598 |
N=número total de indivíduos, IIQ = Intervalo interquartil, Hb= hemoglobina, P = fósforo, K = potássio, IST = índice de saturação de transferrina, Leuc = leucócitos, FA = fosfatase alcalina, Ca ion = cálcio iônico, Vit D = vitamina D, PTH = paratormônio, DP = desvio padrão.
Ainda em relação as variáveis apresentadas na tabela 1, a média de peso entre as mulheres foi de 64,1kg (DP+14,6) e nos homens 71,6kg (DP+14,3), com IMC de 26,1kg/m2 (DP+5,5) e 25,4kg/m2 (DP+5,9) respectivamente. O PCT foi de 22,6mm (DP+9,3) nas mulheres e 15,7mm (DP+8,7) nos homens. EMAP foi de 11,6mm (DP+3,9) no sexo feminino e 12,8mm (DP+4,4) no sexo masculino. A FPP direita foi 14kg (DP+6,1) e 11,9kg (DP+5,6) a esquerda nas mulheres e nos homens FPP direita 24,5kg (DP+10,6) e a esquerda 19,9kg (DP+9,7). O PB evidenciado foi de 29,2cm (DP+5) nas mulheres e 28,7cm (DP+4,4) nos homens. Finalizando a tabela 1, AMBc de 33,4cm2 (DP+11,8) no sexo feminino e 38,9cm2 (DP+11,5) no sexo masculino.
Em relação as variáveis relacionadas a DMO- DRC, destacam-se que as mulheres apresentavam fósforo 5,19mg/dL (DP+1,19) e os homens 5,79mg/ dL (DP+2,61), assim como cálcio iônico 4,25mg/dL (DP+0,51) e 4,26mg/dL (DP+0,51), vitamina D 32,8mg/ dL (DP+13,12) e 34,48mg/dL (DP+13,08) e PTH 762,5mg/dL (DP+566,02) e 755,24mg/dL (DP+532,73) nesta ordem, visto serem essas variáveis as determinantes na definição da DMO-DRC. Foram evidenciadas ainda, as variáveis laboratoriais: hemoglobina, potássio, albumina, ferritina, índice de saturação de transferrina, leucócitos e fosfatase alcalina, conforme a tabela 2.
Na tabela 3 foi evidenciado as correlações entre as variáveis laboratoriais da DMO-DRC com as variáveis clínicas, antropométricas e laboratoriais. Destacam- se desta forma as variáveis com maiores correlações encontradas no presente estudo. Quanto maior o tempo de TRS, maiores níveis de PTH (r = 0,582, p = < 0,001), as outras variáveis analisadas, evidenciaram correlações fracas conforme a tabela 3. Em relação aos níveis de fósforo, quanto menor a idade do paciente, maiores valores laboratoriais do fósforo (r = - 0,413, p = 0,036). Valores de potássio (r = 0,556, p = 0,020) apresentaram, correlação positiva moderada em relação aos de fósforo. As demais variáveis apresentaram correlações fracas.
Tabela 3 Tabela das correlações entre as variáveis laboratoriais da DMO-DRC com variáveis clínicas, antropométricas e laboratoriais
Cálcio iônico | Fósforo | Vitamina D | PTH | |
---|---|---|---|---|
Idade | r = 0,10 (IC 95% 0,02 a 0,10) (p = 0,009) * | r = -0,41 (IC 95% -0,02 a 0,43) (p = 0,036)* | r = -0,14 (IC 95% -0,03 a -0,19) (p = 0,001) * | r = -0,21 (IC 95% -0,14 a 0,28) (p < 0,001) * |
TRS | r = 0,96 (IC 95% 0,02 a 0,16) (p = 0,015) * | r = -0,10 (IC 95% -0,03 a 0,40) (p = 0,394) | r = 0,13 (IC 95% 0,06 a 0,12) (p = 0,004)* | r = 0,58 (IC 95% 0,50 a 0,64) (p = <0,001) * |
peso | r = -0,06 (IC 95%-0,01 a 0,02) (p = 0,097) | r = 0,13 (IC 95%-0,20 a 0,24) (p = 0,248) | r = -0,15 (IC 95% -0,04 a -0,16) (p = <0,001)* | r = -0,00 (IC 95% -0,16 a 0,01) (p = 0,954) |
IMC | r = -0,82 (IC 95% -0,81 a -0,99) (p = 0,046) * | r = 0,13 (IC 95% -0,26 a 0,18) (p = 0,703) | r = -0,20 (IC 95% -0,03 a -0,31) (p = <0,001)* | r = -0,00 (IC 95% -0,00 a 0,01) (p = 0,921) |
PCT | r = -0,07 (IC 95% -0,13 a 0,02) (p = 0,073) | r = 0,13 (IC 95% -0,29 a 0,15) (p = 0,243) | r = -0,60 (IC 95% -0,43 a -0,80) (p = 0,020)* | r = -0,05 (IC 95% -0,02 a 0,12) (p = 0,094) |
EMAP | r = -0,03 (IC 95%-0,13 a 0,03) (p = 0,391) | r = 0,17 (IC 95% -0,08 a 0,35) (p = 0,140) | r = 0,60 (IC 95% 0,53 a 0,84) (p = 0,018)* | r = 0,04 (IC 95% -0,09 a 0,06) (p = 0,265) |
FPP direita | r = -0,00 (IC 95%-0,06 a 0,09) (p = 0,97) | r = 0,17 (IC 95% -0,14 a 0,30) (p = 0,135) | r = 0,402 (IC 95% 0,22 a 0,58) (p = <0,001)* | r = -0,017 (IC 95% -0,02 a 0,13) (p = 0,643) |
FPP esquerda | r = 0,01 (IC 95% -0,05 A 0,10) (p = 0,740) | r = 0,04 (IC 95% -0,12 A 0,32) (p = 0,710) | r = 0,12 (IC 95% 0,03 a 0,20) (p = 0,005) * | r = -0,03 (IC 95% -0,02 A 0,13) (p = 0,391) |
PB | r = 0,01 (IC 95% -0,09 a 0,06) (p = 0,954) | r = 0,066 (IC 95% -0,52 A 0,54) (p = 0,959) | r = -0,252 (IC 95% -0,02 a -0,41) (p = 0,021)* | r = 0,024 (IC 95% -0,17 A 0,21) (p = 0,800) |
AMBc | r = 0,00 (IC 95% -0,04 a 0,11) (p = 0,953) | r = 0,18 (IC 95% -0,15 a 0,29) (p = 0,119) | r = - 0,77 (IC 95% -0,34 a -0,84) (p = 0,024)* | r = -0,00 (IC 95% -0,00 a 0,10) (p = 0,957) |
Hemoglobina | r = 0,32 (IC 95% 0,11 a 0,32) (p = 0,004) * | r = -0,08 (IC 95% -0,68 a 0,65) (p = 0,834) | r = 0,28 (IC 95 %0,17 a 0,34) (p = 0,031)* | r = 0,01 (IC 95% -0,29 a 0,13) (p = 0,954) |
Potássio | r = -0,10 (IC 95% -0,43 a 0,01) (p = 0,389) | r = 0,56 (IC 95% 0,06 a 0,80) (p = 0,020)* | r = 0,26 (IC 95%0,01 a 0,49) (p = 0,054)* | r = -0,079 (IC 95% -0,026 A 0,184) (p = 0,493) |
Albumina | r = 0,48 (IC 95% 0,39 a 0,51) (p < 0,001) * | r = -0,06 (IC 95% -0,16 a 0,28) (p = 0,587) | r = 0,20 (IC 95% 0,11 a 0,28) (p = <0,001)* | r = -0,01 (IC 95%-0,01 a 0,06) (p = 0,790) |
Ferritina | r = 0,03 (IC 95% -0,18 a 0,10) (p = 0,635) | r = -0,22 (IC 95% -0,46 a 0,15) (p = 0,172) | r = -0,05 (IC 95% -0,18 a 0,08) (p = 0,437) | r = -0,07 (IC 95% -0,00 a 0,08) (p = 0,197) |
IST | r = 0,01 (IC 95% -0,15 a 0,10) (p = 0,872) | r = -0,11 (IC 95% -0,54 a 0,14) (p = 0,567) | r = -0,05 (IC 95% -0,09 a 0,19) (p = 0,910) | r = 0,034 (IC 95% -0,01 a 0,09) (p = 0,571) |
Leucócitos | r = 0,06 (IC 95%-0,04 a 0,11) (p = 0,132) | r = 0,11 (IC 95% -0,12 a 0,34) (p = 0,331) | r = -0,03 (IC 95%-0,06 a 0,12) (p = 0,474) | r = 0,06 (IC 95% 0,01 a 0,14) (p = 0,013) * |
Fosfatase alcalina | r = 0,07 (IC 95%-0,02 a 0,13) (p = 0,061) | r = -0,20 (IC 95% -0,32 a 0,13) (p = 0,091) | r = -0,08 (IC 95% -0,01 a -0,18) (p = 0,072) | r = 0,54 (IC 95% 0,49 a 0,59) (p <0,001) * |
Cálcio iônico | - | r = -0,186 (IC 95% -0,360 a 0,097) (p = 0,019) * | r = 0,194 (IC 95% 0,110 a 0,278) (p<0,001)* | r = 0,057 (IC 95% 0,002 a 0,153) (p = 0,138) |
Fósforo | r = -0,186 (IC 95% -0,360 a 0,097) (p = 0,119) | - | r = -0,178 (IC 95% -0,437 a 0,108) (p = 0,220) | r = 0,169 (IC 95% -0,261 a 0,185) (p = 0,141) |
Vitamina D | r = 0,19 (IC 95%0,11 a 0,27) (p = <0,001) * | r = -0,14 (IC 95% -0,44 a 0,11) (p = 0,330) | - | r = -0,04 (IC 95% -0,01 a 0,03) (p = 0,406) |
PTH | r = 0,06 (IC 95% 0,00 a 0,15) (p = 0,138) | r = 0,17 (IC 95% -0,26 a 0,19) (p = 0,141) | r = -0,04 (IC 95% -0,03 a -0,14) (p= 0,228) | - |
IST = índice de saturação de transferrina, PTH = paratormônio, TRS = terapia renal substitutiva, IMC = índice de massa corporal, EMAP = espessura do músculo adutor do polegar, FPP DIR = força de preensão palmara direita, FPP ESQ = força de preensão palmar a esquerda, PB = perímetro do braço, AMBc = área muscular do braço corrigida, DP = desvio padrão. *correlações com significância estatística.
No que se refere as concentrações de vitamina D a correlação positiva foi observada nas variáveis: EMAP (r = 0,602, p = 0,018) e FPPD (r = 0,402, p = < 0,001). Correlação negativa com PCT (r = - 0,600, p = 0,020) e AMBc (r = - 0,769, p = 0,024), logo quanto maiores os valores desses marcadores antropométricos menores os níveis de vitamina D. Da mesma forma, as demais variáveis apresentaram correlações fracas.
Em geral pacientes que apresentavam maiores valores de cálcio iônico tinham mais tempo de TRS, devido a forte correlação positiva (r= 0,961, p = 0,015). Inversamente, quanto menores os valores do cálcio iônico maior o IMC (r = - 0,82, p = 0,046), com forte correlação negativa. Idade, peso, PCT, EMAP, FPP direita, FPP esquerda, PB, AMBc, hemoglobina, potássio, albumina, ferritina, índice de saturação de transferrina, leucócitos, fosfatase alcalina, fósforo, vitamina d e PTH, apresentaram correlações mais fracas em relação ao cálcio iônico, conforme a tabela 3.
DISCUSSÃO
As principais descobertas deste estudo evidenciaram correlações significativas entre as variáveis laboratoriais envolvidas no diagnóstico da DMO-DRC e as características clínicas, antropométricas e laboratoriais dos indivíduos submetidos à hemodiálise. Em síntese, o estudo revelou que os níveis laboratoriais de PTH e de cálcio sérico correlacionam-se positivamente com o tempo de terapia renal substitutiva. Observou-se correlação negativa entre os níveis de cálcio e os valores de IMC dos indivíduos em hemodiálise. Além disso, valores laboratoriais do fósforo evidenciaram correlação positiva com o potássio e negativa com a idade dos indivíduos. Completando, níveis de concentração de vitamina D indicou forte correlação positiva com EMAP e moderada com FPPD, e forte correlação negativa com PCT e AMBc.
Os resultados deste estudo, conduzido em uma população em hemodiálise dentro de território nacional, indicam que os níveis séricos de PTH aumentam progressivamente ao longo dos anos, em que o indivíduo está submetido a essa modalidade de terapia renal substitutiva, conforme evidenciado por uma correlação positiva moderadamente significativa. Essa associação é consistente com as evidências encontradas na literatura de maneira geral1,24,25.O aumento do PTH pode resultar consequências como remodelação óssea aumentada de forma errônea e desordenada, assim como alterações cardíacas, que em geral são evidenciadas principalmente nos indivíduos com maior tempo em hemodiálise25.
Em uma coorte envolvendo 107.299 pessoas, foi observado que os indivíduos mais jovens submetidos à hemodiálise apresentavam níveis mais elevados de fósforo26. Esses achados foram corroborados com o presente estudo, que identificou essa correlação negativa, entre os níveis de fósforo sérico e a idade dos indivíduos, o que pode ser atribuído a uma menor ingestão de fosfato entre os pacientes mais idosos, bem como a tendência à diminuição da remodelação óssea com o avanço da idade26. Analisando ainda a variável fósforo e suas correlações destacadas, esta apresentou correlação positiva moderada com os níveis de potássio. Esse fenômeno pode ser explicado pelo consumo excessivo de alimentos ricos em fósforo, cálcio, sódio e potássio na dieta, refletindo padrões alimentares contemporâneos que podem ser compreendidos como barreiras para o cumprimento das recomendações dietéticas estabelecidas na literatura para essa população27,28,29.
A vitamina D, que em níveis adequados no organismo, é referenciada na literatura como desencadeadora de efeitos favoráveis nos músculos, evidenciou no presente estudo correlação positiva com EMAP e com FPPD30,31. Uma ferramenta particularmente importante como determinante da força muscular é a FPP, principalmente por não ser influenciada diretamente pelo estado de hidratação, porém há dados escassos na população com DRC principalmente em indivíduos submetidos à hemodiálise crônica31,32. Em relação a FPPD estudos anteriores demonstraram uma associação entre o nível sérico de vitamina D e a FPP em indivíduos submetidos à hemodiálise, de forma independente ao estado nutricional30. Outra ferramenta também sugerida na literatura como marcador para o estado nutricional é o EMAP, sendo capaz de predizer a força de preensão manual nos indivíduos em hemodiálise32,33. Neste mesmo cenário, foi identificada também uma correlação fortemente positiva entre a vitamina D e EMAP.
Ainda em relação a vitamina D e os achados do estudo, uma forte correlação negativa foi evidenciado com PCT e AMBc. A obesidade tem sido relatada como um distúrbio nutricional comum na população em hemodiálise34. A associação inversa entre valores de níveis séricos de vitamina D e obesidade tem sido amplamente documentada em diversos estudos, com a utilização de diversas ferramentas antropométricas, sendo uma das hipóteses para essa associação, o sequestro de vitamina D pelo tecido adiposo35,36. Existem poucos estudos que analisaram os níveis de vitamina D e obesidade em população de DRC em hemodiálise, porém ratifica-se com nossos achados, em indivíduos com maiores PCT e AMBc37.
Indivíduos em hemodiálise frequentemente desenvolvem calcificações arteriais, que em geral estão associadas, dentre outras situações, ao excesso do conteúdo corporal de cálcio. O uso de soluções do dialisato com concentrações de cálcio acima de 2,5mEq/l pode ser um fator contribuinte para um balanço de cálcio positivo nestes indivíduos, o que resulta nessa condição38. Este estudo identificou associação fortemente positiva entre níveis séricos de cálcio iônico e o tempo de terapia renal substitutiva. A literatura reforça ainda, que a manutenção de um equilíbrio nos níveis séricos do cálcio é muito complexa na população dialítica e estudos demonstraram a múltipla interação entre o consumo do cálcio, suplementação da vitamina D e conteúdo de cálcio no dialisante38,39.
Quanto à correlação fortemente negativa encontrada no estudo entre maior IMC e menores de níveis de cálcio iônico, podemos apenas especular que indivíduos obesos em hemodiálise têm sido associados a concentrações mais elevadas de PTH, talvez pelo próprio estado nutricional37.
Algumas das variáveis analisadas apresentaram correlações fracas com os componentes laboratoriais da DRC-DMO, conforme demonstrado na tabela 3. Essa fraca relação sugere uma baixa ou até mesmo inexistente associação linear entre as variáveis, o que pode ser interpretado de diferentes maneiras na literatura. Uma possível explicação seria a interferência de fatores não considerados nos resultados, indicando a necessidade de um aprofundamento adicional para uma compreensão mais adequada dessas interações. Além disso, outras abordagens metodológicas podem ser requeridas para explorar possíveis relações não-lineares ou fracas.
O entendimento das correlações dos elementos laboratoriais da DMO-DRC com condições antropométricas, clínicas e laboratoriais nesse estudo enfatiza o caráter inédito da pesquisa. Reforçado pelo cenário de possibilidade de intervenção precoce e assertiva nessa população. Existem limitações para esse estudo, por tratar-se de um estudo observacional transversal, logo, não pode ser inferida causalidade diretamente. O estudo foi realizado em área geográfica que abrange a região metropolitana de grande capital da Região Sudeste, podendo ser ampliado em outras áreas geográficas. A população assemelha-se a outras populações, logo, pode- se extrapolar os achados.
Nossas análises fortalecem as recomendações das diretrizes do NFK-KDOQI, em relação a normalização desses parâmetros no manejo da DMO- DRC, principalmente pelo impacto dessa abordagem na sobrevida dos pacientes em hemodiálise.
CONCLUSÃO
Conclui-se que as correlações entre os componentes laboratoriais da DMO-DRC e as caraterísticas clínicas, antropométricas e laboratoriais estudadas mostraram- se em muitos aspectos com correlações fortemente representativas, evidenciando que na prática clínica muitos aspectos encontrados podem contribuir para melhor entendimento do perfil individual dessa população específica.
Agradecimentos
Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo. UFES – Universidade Federal do Espírito Santo. Nome da agência financiadora: Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) n° 35081,543,19306,18042018, Aviso nº, 03/2018-Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS), Cidade: Vitória, estado: Espírito Santo, Brasil.
REFERÊNCIAS
1 Streja E, Wang HY, Lau WL, Molnar MZ, Kovesdy CP, Kalantar-Zadeh K, et al. Mortality of Combined Serum Phosphorus and Parathyroid Hormone Concentrations and their Changes over Time in Hemodialysis Patients. Bone. 2014; 61: 201–207. DOI:https://doi.org/10.1016/j.bone.2014.01.016. [ Links ]
2 Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD-MBD Work Group. KDIGO clinical practice guideline for the diagnosis, evaluation, prevention, and treatment of Chronic Kidney Disease-Mineral and Bone Disorder (CKD-MBD). Kidney Int Suppl 2009;76:S1–130. https://doi.org/10.1038/ki.2009.188. [ Links ]
3 Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD Work Group. KDIGO 2024 clinical practice guideline for the evaluation and management of chronic kidney disease. Kidney Int 2024;105:S117–314. https://doi.org/10.1016/j.kint.2023.10.018. [ Links ]
4 Yamada S, Tsuruya K, Kitazono T, Nakano T. Emerging cross-talks between chronic kidney disease- mineral and bone disorder (CKD-MBD) and malnutrition-inflammation complex syndrome (MICS) in patients receiving dialysis. Clin Exp Nephrol 2022;26:613–29. https://doi.org/10.1007/s10157-022-02216-x. [ Links ]
5 Cernaro V, Longhitano E, Calabrese V, Casuscelli C, Di Carlo S, Spinella C, et al. Progress in pharmacotherapy for the treatment of hyperphosphatemia in renal failure. Expert Opin Pharmacother 2023;24:1737–46. https://doi.org/10.1080/14656566.2023.2243817. [ Links ]
6 Sembajwe FL, Namaganda A, Nfambi J, Muwonge H, Katamba G, Nakato R, et al. Dietary intake, body composition and micronutrient profile of patients on maintenance hemodialysis attending Kiruddu National Referral Hospital, Uganda: A cross sectional study. PLoS One 2023;18:e0291813. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0291813. [ Links ]
7 Fernández-Martín JL, Martínez-Camblor P, Dionisi MP, Floege J, Ketteler M, London G, et al. Improvement of mineral and bone metabolism markers is associated with better survival in haemodialysis patients: the COSMOS study. Nephrol Dial Transplant 2015;30:1542–51. https://doi.org/10.1093/ndt/gfv099. [ Links ]
8 Marcelli D, Usvyat LA, Kotanko P, Bayh I, Canaud B, Etter M, et al. Body Composition and Survival in Dialysis Patients: Results from an International Cohort Study. Clinical Journal of the American Society of Nephrology 2015;10:1192–200. https://doi.org/10.2215/CJN.08550814. [ Links ]
9 Hussain I, Tandi R, Singh G, Kaur G, Abhishek, Dodda S, et al. Correlation of FGF-23 with biochemical markers and bone density in chronic kidney disease-bone mineral density disorder. Cureus 2023;15:e33879. https://doi.org/10.7759/cureus.33879. [ Links ]
10 Lopes MB, Karaboyas A, Bieber B, Pisoni RL, Walpen S, Fukagawa M, et al. Impact of longer term phosphorus control on cardiovascular mortality in hemodialysis patients using an area under the curve approach: results from the DOPPS. Nephrol Dial Transplant 2020;35:1794–801. https://doi.org/10.1093/ndt/gfaa054. [ Links ]
11 Wu G, Li L, Wu Z. A meta-analysis of randomized controlled trials of tonifying kidney and strengthen bone therapy on nondialysis patients with chronic kidney disease-mineral and bone disorder. Medicine (Baltimore) 2023;102:e34044. https://doi.org/10.1097/MD.0000000000034044. [ Links ]
12 Kir S, Komaba H, Garcia AP, Economopoulos KP, Liu W, Lanske B, et al. PTH/PTHrP receptor mediates cachexia in models of kidney failure and cancer. Cell Metab 2016;23:315–23. https://doi.org/10.1016/j.cmet.2015.11.003. [ Links ]
13 Cordeiro A, Santos A, Bernardes M, Ramalho A, Martins MJ. Vitamin D metabolism in human adipose tissue: could it explain low vitamin D status in obesity? Horm Mol Biol Clin Investig 2017;33. https://doi.org/10.1515/hmbci-2017-0003. [ Links ]
14 Block GA, Klassen PS, Lazarus JM, Ofsthun N, Lowrie EG, Chertow GM. Mineral metabolism, mortality, and morbidity in maintenance hemodialysis. J Am Soc Nephrol 2004;15:2208–18. https://doi.org/10.1097/01.ASN.0000133041.27682.A2. [ Links ]
15 Barreto MA, Cattafesta M, Cunha AC da, Paixão MPCP, Neto ET dos S, Salaroli LB. Relationship between quality of life and sociodemographic, clinical and lifestyle characteristics of patients undergoing hemodialysis. J Hum Growth Dev 2023;33:444–69. https://doi.org/10.36311/jhgd.v33.15422. [ Links ]
16 Lohman TG, Roche AF. Anthropometric Standardization Reference Manual. Champaign, IL: Human Kinetics; 1988. 39–54 p. [ Links ]
17 WHO. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO consultation. World Health Organ Tech Rep Ser 2000;894:i – xii, 1–253. [ Links ]
18 Lameu EB, Gerude MF, Corrêa RC, Lima KA. Adductor pollicis muscle: a new anthropometric parameter. Rev Hosp Clin Fac Med Sao Paulo 2004;59:57–62. https://doi.org/10.1590/s0041-87812004000200002. [ Links ]
19 Bragagnolo R, Caporossi FS, Dock-Nascimento DB, de Aguilar-Nascimento JE. Espessura do músculo adutor do polegar: um método rápido e confiável na avaliação nutricional de pacientes cirúrgicos. Rev Col Bras Cir 2009;36:371–6. https://doi.org/10.1590/s0100-69912009000500003. [ Links ]
20 Frisancho AR. Anthropometric standards for the assessment of growth and nutritional status. Ann Arbor, MI: University of Michigan Press; 1990. 189 p. https://doi.org/10.3998/mpub.12198. [ Links ]
21 Jamal SA, Leiter RE, Jassal V, Hamilton CJ, Bauer DC. Impaired muscle strength is associated with fractures in hemodialysis patients. Osteoporos Int 2006;17:1390–7. https://doi.org/10.1007/s00198-006-0133-y. [ Links ]
22 Cruz-Jentoft AJ, Baeyens JP, Bauer JM, Boirie Y, Cederholm T, Landi F, et al. Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis: Report of the European Working Group on Sarcopenia in Older People. Age Ageing 2010;39:412–23. https://doi.org/10.1093/ageing/afq034. [ Links ]
23 Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD-MBD Update Work Group. KDIGO 2017 clinical practice guideline update for the diagnosis, evaluation, prevention, and treatment of chronic kidney disease-mineral and bone disorder (CKD-MBD). Kidney Int Suppl (2011) 2017;7:1–59. https://doi.org/10.1016/j.kisu.2017.04.001. [ Links ]
24 Martins R. Nutrição e o Rim Capa comum – 10 abril 2013. 2nd ed. Guanabara Koogan; 2013. [ Links ]
25 Péterle VB, Souza J de O, Busato F de O, Eutrópio FJ, da Costa G de AP, Olivieri DN, et al. Clinical and hematological data to group different chronic kidney disease patients: A practical approach to establish different groups of patients. J Clin Lab Anal 2018;32:e22377. https://doi.org/10.1002/jcla.22377. [ Links ]
26 Du J, Wang S, Yu W, Li S, Xu J. Analysis of the parathyroid function in maintenance hemodialysis patients from Changchun, China. Chronic Dis Transl Med 2017;3:181–5. https://doi.org/10.1016/j.cdtm.2017.07.001. [ Links ]
27 Rodelo-Haad C, Rodríguez-Ortiz ME, Martin-Malo A, Pendon-Ruiz de Mier MV, Agüera ML, Muñoz- Castañeda JR, et al. Phosphate control in reducing FGF23 levels in hemodialysis patients. PLoS One 2018;13:e0201537. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0201537. [ Links ]
28 Luis D, Zlatkis K, Comenge B, García Z, Navarro JF, Lorenzo V, et al. Dietary quality and adherence to dietary recommendations in patients undergoing hemodialysis. J Ren Nutr 2016;26:190–5. https://doi.org/10.1053/j.jrn.2015.11.004. [ Links ]
29 Clark-Cutaia MN, Sevick MA, Thurheimer-Cacciotti J, Hoffman LA, Snetselaar L, Burke LE, et al. Perceived barriers to adherence to hemodialysis dietary recommendations. Clin Nurs Res 2019;28:1009–29. https://doi.org/10.1177/1054773818773364. [ Links ]
30 Zanandreia M, Cattafesta M, Martins CA, Paixão MPCP, Soares FLP, Peterle FZ, et al. Socioeconomic, clinical and nutritional factors on interdialytic weight gain in haemodialysis users. Acta Paul Enferm 2024;37:eAPE02062. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2024ao00020622. [ Links ]
31 Kang SH, Do JY, Cho J-H, Jeong HY, Yang DH, Kim JC. Association between vitamin D level and muscle strength in patients undergoing hemodialysis. Kidney Blood Press Res 2020;45:419–30. https://doi.org/10.1159/000506986. [ Links ]
32 Bataille S, Landrier J-F, Astier J, Giaime P, Sampol J, Sichez H, et al. The “dose-effect” relationship between 25-hydroxyvitamin D and muscle strength in hemodialysis patients favors a normal threshold of 30 ng/mL for plasma 25-hydroxyvitamin D. J Ren Nutr 2016;26:45–52. https://doi.org/10.1053/j.jrn.2015.08.007. [ Links ]
33 Pereira RA, Caetano AL, Cuppari L, Kamimura MA. Adductor pollicis muscle thickness as a predictor of handgrip strength in hemodialysis patients. J Bras Nefrol 2013;35:177–84. https://doi.org/10.5935/0101-2800.20130029. [ Links ]
34 de Oliveira CMC, Kubrusly M, Mota RS, Choukroun G, Neto JB, da Silva CAB. Adductor pollicis muscle thickness: a promising anthropometric parameter for patients with chronic renal failure. J Ren Nutr 2012;22:307–16. https://doi.org/10.1053/j.jrn.2011.07.006. [ Links ]
35 Martins CA, Ferreira JRS, Cattafesta M, Neto ETDS, Rocha JLM, Salaroli LB. Cut points of the conicity index as an indicator of abdominal obesity in individuals undergoing hemodialysis: An analysis of latent classes. Nutrition 2023;106:111890. https://doi.org/10.1016/j.nut.2022.111890. [ Links ]
36 Patriota P, Rezzi S, Guessous I, Marques-Vidal P. Association between anthropometric markers of adiposity, adipokines and vitamin D levels. Sci Rep 2022;12:15435. https://doi.org/10.1038/s41598-022-19409-9. [ Links ]
37 De Pergola G, Martino T, Zupo R, Caccavo D, Pecorella C, Paradiso S, et al. 25 hydroxyvitamin D levels are negatively and independently associated with Fat Mass in a cohort of healthy overweight and obese subjects. Endocr Metab Immune Disord Drug Targets 2019;19:838–44. https://doi.org/10.2174/1871530319666190122094039. [ Links ]
38 Ahmadi F, Damghani S, Lessan-Pezeshki M, Razeghi E, Maziar S, Mahdavi-Mazdeh M. Association of low vitamin D levels with metabolic syndrome in hemodialysis patients: Metabolic syndrome in hemodialysis. Hemodial Int 2016;20:261–9. https://doi.org/10.1111/hdi.12316. [ Links ]
39 Gotch F, Levin NW, Kotanko P. Calcium balance in dialysis is best managed by adjusting dialysate calcium guided by kinetic modeling of the interrelationship between calcium intake, dose of vitamin D analogues and the dialysate calcium concentration. Blood Purif 2010;29:163–76. https://doi.org/10.1159/000245924. [ Links ]
Recebido: 01 de Maio de 2024; Aceito: 01 de Setembro de 2024; Publicado: 01 de Novembro de 2024
this article is distributed under the terms of the Creative Commons Attribution 4.0 International License (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/), which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided you give appropriate credit to the original author(s) and the source, provide a link to the Creative Commons license, and indicate if changes were made. The Creative Commons Public Domain Dedication waiver (https://creativecommons.org/publicdomain/zero/1.0/) applies to the data made available in this article, unless otherwise stated.