Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Nova Perspectiva Sistêmica
versão impressa ISSN 0104-7841versão On-line ISSN 2594-4363
Nova perspect. sist. vol.26 no.59 São Paulo dez. 2017
ESTANTE DE LIVROS
Uma boa conversa, possível caminho para compreender a mente
Edith RubinsteinI
Na obra: O cérebro da criança: 12 estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar sua família a prosperar, da nVersos, 2015, a dupla Daniel Siegel, psiquiatra especialista em Psiquiatria da infância e adolescência pela Universidade da Califórnia e Tina Bryson, doutora, psicoterapeuta especialista em Educação parental e desenvolvimento infantil, introduzem de maneira simples, concreta e criativa a contribuição da neurociência para compreender as vicissitudes existenciais do humano e em especial das crianças. Apesar do livro se dirigir a pais, ele é muito esclarecedor e útil a todos os envolvidos com o cuidado das crianças.
Chamam atenção as expressões “nutrir a mente em desenvolvimento” e “ajudar a família a prosperar”. Esta nutrição favorece o desenvolvimento e a maturidade emocional. O veículo para atingir esse objetivo é a linguagem, mais especificamente uma boa conversa através do diálogo que alivia e ajuda a lidar com a dor emocional. As narrativas construídas nesse diálogo são o que os autores denominam “nutrição da mente”. Entende-se que o termo prosperar tem a conotação do desenvolvimento – efeito de um sujeito da aprendizagem mais amadurecido, inserido em um contexto familiar acolhedor, compreensivo, que faz a mediação adequada.
Não é simples a reversão da angústia, sofrimento e “destempero” humano. É algo da natureza complexa da mente. São muitas as variáveis envolvidas. O texto oferece uma proposta relacionada com o processo de aprendizagem em doze etapas. Aprender é da natureza humana, porém nem todos aprendem igualmente. O grande desafio é: como aprender a lidar com o sofrimento oriundo da falta de continência emocional causada pela invasão das emoções?
Os autores escolhem exemplos de conflitos existenciais do cotidiano familiar através dos quais se aprende a compreender o funcionamento mental. Os possíveis efeitos são: fortalecimento e resiliência para evitar o descontrole. A estratégia proposta pelos autores para o ponto de partida é tocar inicialmente as questões relacionadas com o afeto e a emoção, devido à ineficiência da mediação que parte da objetividade e cognição.
Concretamente a configuração do funcionamento mental é o que chamarei de “geografia do cérebro”, assim descrita: hemisfério direito relacionado às emoções, hemisfério esquerdo relacionado com a cognição. Apresentam também o “cérebro do andar de baixo”, que é instintivo, e o “cérebro do andar de cima”, ponderado, responsável pela tomada de decisões, a percepção pessoal, a empatia e a moralidade. O objetivo dessa visão analítica das partes envolvidas é promover uma visão do cérebro por inteiro, ajudando o funcionamento integrado tanto do self lógico, quanto do self emocional.
Outra estratégia concreta é a visual, pictórica, para demonstrar didaticamente os conceitos básicos que favorecem a integração do cérebro por inteiro. As cenas dos conflitos são apresentadas a partir das mediações feitas ora para o self lógico e ora para o self emocional. O conceito topológico do cérebro do andar de cima e do andar de baixo é representado por uma mão que, com os dedos, segura o polegar para representar as boas escolhas e o controle das grandes emoções. Ainda nessa linguagem oferecem uma representação para a “visão mental numa roda da consciência”, que Dan relaciona a uma roda da bicicleta com eixo no centro e raios convergindo em direção ao aro externo. Estes aros representam o mundo dos sentimentos, pensamentos, memórias, desejos, enfim, nosso mundo interno que percebe e sente o mundo externo. “O eixo central da roda é o interior da mente a partir do qual nos tornamos conscientes de tudo que está acontecendo ao nosso redor e dentro de nós”.
A grande “sacada” dos autores é compartilhar conceitos das neurociências para leigos e profissionais de modo didático, interessante, valorizando uma boa conversa e o acolhimento afetivo emocional. O centro da proposta é desencadear novas narrativas a partir da tomada de consciência do funcionamento mental. Não é pouca coisa em um mundo onde ainda são extremamente valorizadas as tendências essencialistas preocupadas com a avaliações quantitativas que identificam a disfunção das funções executivas.
I Psicopedagoga; Terapeuta Familiar; Coordenadora e docente do centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, Ex-presidente e membro do conselho nato da Associação Brasileira de Psicopedagogia. E-mail: edithrubinstein@hotmail.com