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Revista Brasileira de Psicanálise
Print version ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál vol.45 no.2 São Paulo Apr./June 2011
47º CONGRESSO DA IPA - MÉXICO PAINÉIS PRINCIPAIS
COMENTÁRIO
A sexualidade não é mais aquela. O que se faz com ela?
Sexuality is no longer the same. What to do with it?
La sexualidad no es más aquella. ¿Qué hacer con ella?
Bernard Miodownik
Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro SBPRJ
RESUMO
"Explorando conceitos centrais em Psicanálise" é o tema do Congresso Internacional da IPA no México que, entre outros, discutirá os quatro relatórios elaborados por analistas de diferentes regiões e de visões teóricas diversas (Kancyper, Salomonsson, Kulish e Roussillon) sobre sexualidade. Este comentário analisa inicialmente as perguntas dirigidas aos relatores mostrando que indicam o interesse em explorar a centralidade ou não da sexualidade infantil na clínica psicanalítica atual. Nos quatro relatórios verifica-se as inúmeras mudanças ocorridas sobre o tema, principalmente a compreensão dos aspectos não sexuais presentes, sendo que estes se tornaram foco da investigação psicanalítica em algumas vertentes teóricas. Estes aspectos são debatidos, inclusive as controvérsias resultantes dessas mudanças. Este comentário procura mostrar como os aspectos sexuais e não sexuais se alternam dinamicamente e se apoiam de forma mútua.
Palavras-chave: sexualidade infantil; psicanálise contemporânea; relação pulsão-objeto; apoio.
ABSTRACT
Exploring central concepts of Psychoanalysis is the theme of the IPA International Congress, in Mexico. Among other subjects, the congress will discuss the reports elaborated by four different analysts (Kancyper, Salomonsson, Kulish e Roussillon), each from varying regions, and having differing theoretical viewpoints on sexuality. This commentary initially analyses the questions directed to the analysts, indicating that these point to the interest in exploring the focus, or lack thereof, on infantile sexuality in the current psychoanalytic clinic. In all four reports, the numerous changes which have occurred regarding the theme are noted, with particular attention to the comprehension of the non-sexual aspects present, which have become the focus of psychoanalytic investigation of some branches of study. These aspects are debated; including the controversy resulted from these changes. This commentary intends to show how sexual and non-sexual aspects alternate dynamically and have a relationship of mutual support.
Keywords: infantile sexuality; contemporary psychoanalysis; drive-object relationship; support.
RESUMEN
Explorando conceptos centrales en Psicoanálisis es el tema del Congreso Internacional de IPA en México, entre otros aspectos, discutirá los cuatro informes elaborados por analistas de diferentes regiones y diferentes perspectivas teóricas (Kancyper, Salomonsson, Kulish y Roussillon) acerca de la sexualidad. Este comentario analiza inicialmente las preguntas dirigidas a los ponentes demostrando que indican su interés en explorar la centralidad o no de la sexualidad infantil en la clínica psicoanalítica actual. En los cuatro informes, aparecen los muchos cambios que han tenido lugar sobre el tema, especialmente la comprensión de los problemas no sexuales presentes, convirtiéndose estos en el foco de la investigación psicoanalítica en algunas cuestiones teóricas. Estos aspectos se discuten, incluso las controversias resultantes de estos cambios. Este comentario pretende mostrar cómo los aspectos sexuales y no sexuales se alternan dinámicamente y se apoyan de forma mutua.
Palabras-clave: sexualidad infantil; psicoanálisis contemporáneo; relación impulso-objeto; apoyo.
O honroso convite da Revista Brasileira de Psicanálise para comentar os breves relatórios sobre sexualidade que serão apresentados no Congresso da IPA no México colocou diante de mim questões que, assim entendo, atravessam a psicanálise desde suas origens até a contemporaneidade. Explorar o conceito de sexualidade na teoria e na clínica psicanalítica atual a partir da leitura dos textos me fez pensar em pontos como: a relação entre tradição e mudança; a irrupção do novo e como integrá-lo dinamicamente ao pré-existente em contraste com a tentativa de torná-lo estabelecido; o que é um genuíno desenvolvimento científico e o que é uma adaptação desvitalizada de uma ideia original.
Não é incomum que os conceitos psicanalíticos, centrais ou não, passem por esses referidos processos. Surgem como ideias inovadoras que levam um tempo para encontrar o seu lugar e, gradativamente, se tornam parte de um corpo teórico e clínico. Caso o tempo mostre a consistência de um conceito, este recebe acréscimos e aportes contínuos. Por outro lado, pode ir para o limbo ou se perder em incompreensões constantes ou banalizações do termo.
Sexualidade, talvez mais que todos os outros conceitos, concentra grandes dúvidas, dilemas e até impasses teóricos e clínicos. Em parte, pelo aspecto histórico da concepção revolucionária e desestabilizadora de Freud sobre uma psicossexualidade infantil. Apesar de rejeitada por uma larga parcela dos seus contemporâneos, e por muitos até hoje, criou uma nova subjetividade ao considerar que crianças desde a mais tenra idade são seres cada qual com uma singularidade própria. Além de que, apesar de instável e polimorfa, essa singularidade estabelece uma marca indelével em toda a trajetória futura do sujeito. Não seria um exagero dizer que, na teoria freudiana, a sexualidade justifica a ideia do inconsciente. Já em relação à história posterior da psicanálise, a sexualidade infantil se transformou em um foco de conflitos, não somente com o ambiente cultural, mas com os desenvolvimentos pós-freudianos que passaram a considerá-la sob outra magnitude de importância. Outro aspecto que muitas vezes é negligenciado, mas que concorre de forma incisiva para a maneira como se lida com este conceito, é a constante mobilização emocional que a sexualidade nos leva, ("o que não tem sossego, nem nunca terá" como na canção de Chico Buarque), mais especificamente como lidar com isso em um encontro de tanta intimidade como é a relação analítica.
Caso imaginemos a estrutura física de um edifício representando as formações inconscientes, percebemos uma quase onipresença da sexualidade. Podemos encontrá-la nas ligas conectivas, nos tijolos, na pintura, nos pisos, nos móveis e até nos objetos decorativos que, como conteúdos manifestos, parecem somente enfeitar o ambiente. Ou melhor, assim a percebemos se consideramos a sexualidade na psicanálise a partir de uma visão eminentemente freudiana. Todo o pensamento de Freud, tanto o que se manteve numa linha de continuidade quanto o que se modificou ao longo do tempo, sempre teve como objetivo a inclusão das pulsões sexuais nas novas teorizações que a clínica lhe demandava.
Nos desenvolvimentos pós-freudianos, apesar da sexualidade até ser reconhecida como um conceito central, inegavelmente perdeu o status de centralidade de todos os fenômenos. Os psicanalistas franceses são especialmente críticos em relação a essa tendência da Psicanálise contemporânea e têm em André Green, com seus escritos contundentes, o expoente da vertente que considera haver uma negação da sexualidade na clínica. Escreve Green (2008):
Nos Estados Unidos, ... a sexualidade está muito atrás de perturbações de ordem diferente ... que afastam o psicanalista do seu objetivo inicial, tal como Freud o concebeu. Na Inglaterra, particularmente sob a influência de Melanie Klein, a ênfase colocada na destrutividade eclipsa a atenção dada à sexualidade. Assim, a sexualidade deve enfrentar os ataques conjugados da psicologia do ego, da psicologia do self, da intersubjetividade e da perspectiva das relações de objeto. (pp. 84-85)
A teoria das pulsões de Freud sofreu uma verdadeira repressão entre os psicanalistas, prontos para aproveitar todas as ocasiões para livrar-se dela. (p. 90)
Descontando o estilo sarcástico de Green, pode-se depreender que, para ele, naquele edifício psicanalítico aqui imaginado, a sexualidade se tornou para a maioria dos psicanalistas, apenas um retrato na parede. Mas o que representa esse retrato na parede? Um passado que não existe mais e que fica ali estático, amarelando com o tempo? Ou a internalização de um pedaço da nossa história ao qual sempre podemos recorrer e, pela contemplação da imagem, relembrar a sua importância ou recuperar memórias perdidas que abrem novas compreensões?
O que foi a sexualidade na psicanálise, o que continua a ser e no que se tornou é a questão em torno da qual se desenvolvem os artigos apresentados por Kancyper, Salomonsson, Kulish e Roussillon. Na verdade, essa questão já foi encaminhada nas perguntas propostas aos autores. Vamos a elas, então.
A primeira pergunta: Quais são suas ideias implícitas ou explícitas sobre sexualidade e como essas ideias adentram a situação psicanalítica? Em outros termos, qual é a importância da sexualidade em suas ideias a respeito da situação clínica?
Aqui destaco a referência às ideias implícitas ou explícitas sobre sexualidade e a ligação com a situação clínica. Essa é uma questão central sobre a compreensão das manifestações da sexualidade infantil na relação analítica tal como é elaborada na Psicanálise contemporânea. Seria o erótico transferencial, manifesto ou latente, uma forma das pulsões parciais sexuais se repetirem? Ou, por outro lado, representaria a expressão de uma busca por um objeto idealizado capaz de tudo suprir? Neste caso, o objeto não seria somente um receptáculo das demandas pulsionais, mas um objeto capaz de espelhar, reconhecer e atender num sentido afetivo e amoroso. Examinando pelo ângulo contrário: podemos entender a busca de um objeto como uma forma de representar na relação com o analista as demandas sexuais reprimidas?
Ou seja, no pluralismo que hoje nos caracteriza, dependendo da orientação teórica e clínica do psicanalista, o sexual é o conteúdo manifesto da relação objetal ou, por outro lado, a busca do objeto é que é o conteúdo manifesto do sexual. Seriam essas visões excludentes ou há possibilidade de integrá-las? Examinando os quatro relatórios veremos que todos abordam essa questão, a meu ver de uma maneira um tanto diplomática sem entrar muito a fundo na controvérsia. Boa parte dos psicanalistas menciona explicitamente que a sexualidade infantil é um aspecto importante a se trabalhar no processo analítico. No entanto, somente uma parcela trabalha com a sexualidade em torno do prazer-desprazer. Para a maioria, o que está implícito é a compreensão da sexualidade como um caminho para outros processos inconscientes de caráter mais relacional. Em relação aos relatórios apresentados, isso fica mais evidente nos artigos de Salomonsson e Kulish.
A segunda pergunta: Existem elementos (excluindo agressividade ou destrutividade) que sejam exclusivamente não sexuais ou a sexualidade é uma ideia unificadora em sua concepção de transferência? Em que medida você considera a transferência como sexual ou em que medida há fatores não sexuais (excluindo agressividade)? O desejo é um equivalente da sexualidade em suas conceituações clínicas?
Curiosamente, esta pergunta se desdobra em três, as duas primeiras como variações sobre um mesmo tema. Chama a atenção para os aspectos não sexuais na transferência excluindo a agressividade e destrutividade, deixando claro que procura saber sobre elementos não pulsionais. Voltamos a rondar a questão abordada na primeira pergunta sobre o desenvolvimento do conceito de sexualidade na Psicanálise atual.
O conceito original de transferência enfatizava a repetição de situações passadas, especialmente as manifestações da sexualidade infantil que sofreram a ação da repressão após o período de latência. Junto à noção de transferência surgiram os conceitos de neutralidade e abstinência, já que existe a necessidade imperativa de separar a sexualidade infantil da sexualidade adulta para que o processo analítico ocorra. Freud logo percebeu os potenciais perigos dessa situação que na história dos pioneiros (somente dos pioneiros?) logo se tornaram realidade.
Ele (o analista) tem de tomar cuidado para não afastar-se do amor transferencial, repeli-lo ou torná-lo desagradável para a paciente; mas deve, de modo igualmente resoluto recusar-lhe qualquer retribuição ... deve tratá-lo como algo irreal, como uma situação que se deve atravessar no tratamento e remontar às suas origens inconscientes ... Quanto mais claramente o analista permite que se perceba que ele está à prova de qualquer tentação, mais prontamente poderá extrair da situação o seu conteúdo analítico. (Freud, 1915/1974, p. 216)
Há quem diga que as ideias sobre neutralidade e abstinência de Freud tenham sido exageradas nos artigos sobre técnica como uma formação reativa aos não propriamente incomuns desvios de seus contemporâneos. Mas se a transgressão ética continua não consentida, os conceitos de neutralidade e abstinência se flexibilizaram no sentido de que os sentimentos do psicanalista não deveriam ficar fora do tratamento. Os kleinianos entenderam que as emoções despertadas no analista seriam fruto de identificações projetivas do paciente. No caso, formas de comunicação inconsciente do mundo interno deste. Outras escolas, especialmente os intersubjetivistas, entenderam que sentimentos próprios do analista são inerentes ao processo analítico, influindo no seu desenvolvimento. A contratransferência é considerada patológica quando não se interpreta as suas repercussões na relação analítica.
Essas mudanças decorrem de uma relativa longa história. Ferenczi (1929/1988) foi o primeiro que introduziu, mais do que a palavra, a função de acolhimento na clínica psicanalítica. Mas foi a partir do middle-group inglês, particularmente Fairbairn (2001) e Winnicott (1956 /1978), que o aspecto não-sexual se expandiu como ponto cardeal do tratamento psicanalítico com diversas derivações como holding, identificação com o objeto, self-objeto. São os elementos não sexuais da transferência tão enfatizados na pergunta. Novamente Salomonsson e Kulish apresentam de forma mais clara essa vertente influindo no seu trabalho clínico. Kancyper reforça a importância da sexualidade na visão clássica, mas chama a atenção para "a amizade de transferência como uma transferência positiva sublimada... na busca de um estrangeiro confiável, solidário e complementar" (Kancyper, 2011). Procura incluir essa nova concepção como uma derivação da teoria freudiana. Roussillon, apesar de reconhecer a presença de aspectos não sexuais, o faz por outras vias, coerente com suas raízes francesas. Chama a sexualidade de sexual para diferenciar sexualidade adulta da infantil e, principalmente, caracterizar um fenômeno intrapsíquico, inclusive no seu aspecto de relação de objeto. Entende que existem sim aspectos não sexuais, porém intrapsíquicos. O sexual pode tornar-se uma forma de comunicação desses aspectos, especialmente os fenômenos narcisistas.
Em relação aos aspectos não sexuais uma questão que se coloca é o quanto podem servir para aspectos eróticos não declarados desenvolvendo-se no processo analítico sob a forma de enactments crônicos (Cassorla, 2007). Exemplos a partir de visões teóricas diversas: as constantes referências de pacientes aos aspectos acolhedores do analista, muitas vezes servem como pequenas seduções para que este saia de sua posição; analista rígido que estabelece uma relação de características sadomasoquistas com o paciente no debate repetitivo sobre os parâmetros rígidos do primeiro (intervenções do paciente vistas pelo analista como ataques). Situações como essas, relativamente comuns no trabalho analítico, podem se tornar jogos eróticos transferenciais.
A relação afetiva da mãe com o seu bebê estimula as zonas corporais despertando prazer e sabemos como isso tem importância no desenvolvimento psíquico da criança. Porque não poderíamos entender como "natural" que esses aspectos se repitam na transferência, no caso os jogos eróticos não como manifestações pulsionais, mas formas relacionais mais estruturadas? Ou então, caso não tenham ocorrido na história do paciente, também não seria "natural" que este busque encontrá-las na relação com o seu analista? Sem dúvida, esta é a base teórica da presença dos chamados aspectos não sexuais na clínica psicanalítica contemporânea. Mas haveria como excluir o aspecto sexual dessas situações? Se uma transferência erótica se desenvolve seria somente uma forma desesperada do paciente de conseguir a atenção materna? Poderíamos falar de uma junção de aspectos pré-genitais e genitais? Difícil responder.
Salomonsson e Kulish, os autores que mostram maior identificação com o trabalho sobre o não sexual na clínica recorrem a Jean Laplanche (1988) e sua teoria da sedução generalizada.
Ele nega que a sexualidade infantil seja inata. Ao contrário, ela é transferida ao bebê pela mãe via suas "mensagens enigmáticas." Essa comunicação inunda o bebê com impactos que ele não consegue apreender, exatamente devido à sua imaturidade sexual. Laplanche assim solda a teoria pulsional de Freud com uma teoria da interação que abre espaço tanto para comprimentos de onda inconscientes quanto observáveis. (Salomonsson, 2011, p. 28)
Laplanche (1968, 1997) argumenta que a sexualidade e os medos associados a ela tomam forma na mente humana por meio dos vestígios dos encontros e identificações da criança com a sexualidade adulta. Esses encontros inevitáveis causam excessos de estimulação, de confusão e são traumáticos, "uma confusão de línguas", nos termos de Ferenczi (1949). (Kulish, 2011, p. 24)
A segunda pergunta tem um terceiro desdobramento, se o desejo seria equivalente à sexualidade. Nenhum dos relatores se debruçou efetivamente sobre este ponto, somente Kancyper faz breves menções na sua teorização. Vai ver que "a gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo" como na canção de Caetano Veloso. Aqui também estamos no centro de uma controvérsia. Os adeptos de uma visão mais próxima da freudiana costumam entender o desejo como a busca da repetição da experiência de satisfação pulsional. Já os que valorizam os aspectos não sexuais na transferência percebem desejo como a busca de repetição de uma experiência de relação com o objeto. Os primeiros entendem isso não como desejo, mas como necessidade (Green, 1995).
A partir das duas perguntas os relatórios apresentados pelos quatro expositores levantaram diversas questões que serão detalhadas. Antes quero apresentar uma vinheta clínica que expõe as constantes dúvidas de se lidar com os aspectos sexuais e os não sexuais da transferência no trabalho cotidiano.
Em duas das suas diversas experiências anteriores de terapia, Camila teve relacionamentos sexuais com os terapeutas. Na primeira delas houve, segundo ela, um encontro amoroso. Na seguinte o terapeuta insinuou que o relacionamento teria efeitos terapêuticos para a sua autoestima. Camila tinha um leve defeito físico, porém evidente visualmente, o que foi motivo de chacotas na infância por parte de outras crianças. Achava que os pais não a protegiam suficientemente em relação a esse fato, sentindo-se também rejeitada por eles.
No decorrer da terapia ficou evidente que as relações sexuais com os terapeutas preenchiam o seu vazio afetivo. Nos momentos de maior sofrimento se queixava da própria solidão e da insensibilidade da mãe a qual sempre chamava a atenção para o seu defeito físico. Então falávamos como foi em situações semelhantes nas terapias anteriores que se iniciaram os relacionamentos sexuais. O meu entendimento sobre esta situação à época era de que não estar insensível às suas angústias seria a forma de ajudá-la a superar esses estágios mais regressivos.
Camila também costumava se queixar muito do pai pela dedicação dele à mãe. Numa situação de rivalidade, elas aparentemente disputavam quem conseguia mais presentes e benefícios. E foi por causa de um destes benefícios que obteve após muita insistência, o financiamento de um curso no exterior, que ela interrompeu a análise. Ficou clara a resistência, assim como a incapacidade de permanecer na situação regressiva de necessidades amorosas não satisfeitas por coisas concretas como presentes ou sexo.
Posteriormente, examinando retrospectivamente, me dei conta de outro fator. Ao não satisfazer com algum objeto ou contato físico as suas demandas concretas eu, que imaginava uma sensibilidade às suas angústias, fiquei no lugar da mãe insensível que dava muita atenção ao defeito físico (ou mental como o seu vazio). Conseguir o curso do pai foi também o triunfo sobre esta mãe. Tivesse eu percebido a tempo talvez mudasse o curso desta análise, mas não mudaria a minha visão sobre ela, de uma pessoa que demandava um contato amoroso de uma mãe indiferente. A disputa "sexual" seria uma forma de fazer com que a mãe valorizasse outros aspectos de Camila que não o defeito físico.
Acho que essa descrição clínica mostra como geralmente o psicanalista tende a valorizar mais ou o aspecto sexual ou o não sexual. O que não quer dizer que não se deva estar atento ao fator não privilegiado. Primeiro, porque o outro fator sempre existe mesmo que latente e depois, porque os fatores costumam servir de veículos uns para os outros.
O relatório de Kancyper
Kancyper (2011) afirma a sua vinculação à concepção de Freud sobre a sexualidade infantil
ao inscrever o sexual ali onde ele até então era impensável - na infância e no inconsciente -, Freud afirma a incidência determinante no ser humano de uma ordem libidinal inconsciente não só na instauração e no exercício da sexualidade no sentido corrente do termo, mas também numa definição mais ampla da sexualidade: nos diversos aspectos do que ele define como sexual, isto é, um conjunto de atividades, representações e sintomas. (p. 19)
Mais adiante no texto menciona que "a sexualidade humana se constitui no interior de estruturas intersubjetivas imaginárias e simbólicas que preexistem a sua emergência no indivíduo" (p. 19). Vi essa menção às estruturas intersubjetivas (que implicam numa interseção entre atitude relacional e fantasia interna) como a pista para a contribuição própria em que destaca a sexualidade girando em torno de três complexos: narcisismo, Édipo e fraterno.
Aqui há um ponto interessante a se debater sobre o que ocorreu no desenvolvimento pós-freudiano, mesmo entre os que se consideram fiéis às ideias originais do fundador da Psicanálise: a divisão de poderes entre o complexo de Édipo e outros fatores como os responsáveis pela estruturação do psiquismo humano.
Para Freud, a partir da angústia de castração específica do complexo edípico se instalava a interdição de toda a satisfação sexual até aquela etapa nas diversas zonas erógenas. Este fato ocorria porque no desenvolvimento da sexualidade, a busca de objetos mais complexos como os genitores se fazia mais presente. Sem um desenvolvimento corporal que abarcasse as novas demandas pulsionais (diferente do dedo que se pode sugar ou das fezes que se pode reter), este ocorria somente na imaginação provocada pela cena primária: desejo sexual pelo genitor do mesmo sexo e agressividade em relação ao do sexo oposto. A possibilidade de castração colocava o pequeno sujeito na condição de ter que aceitar a interdição e a exclusão de uma satisfação que não lhe pertencia, mas que era própria dos pais. A partir daí, restava ou a sublimação do pulsional ou a formação do sintoma
Melanie Klein retrocedeu o complexo edipiano para o primeiro ano de vida por entender que, já nessa fase, se iniciava alguma forma de construção simbólica que dava algum sentido aos movimentos pulsionais parciais. No entanto, o que modificou significativamente o panorama foi a nova visão do narcisismo. Antes, somente um movimento da libido de retorno ao próprio ego em situações muito específicas, o narcisismo cada vez mais se tornou uma forma de relação com o objeto. Não somente um objeto que se incorporasse ao próprio Eu, mas um objeto minimamente externo que atendesse às necessidades deste narcisismo (espelhamento, satisfação, proteção contra a agressividade). Em torno do narcisismo normal e do narcisismo patológico se desenvolveram inúmeras teorias e aplicações clínicas. Autores como Fairbairn (2001) e Kohut (1988) colocaram o Complexo de Édipo em uma posição secundária entendendo que seriam as vicissitudes das relações primárias com o objeto que determinariam a forma como se daria a resolução da fase edípica. Autores como Faimberg (1993) procuram associar as duas concepções.
Outro ponto importante a se ressaltar foi a gradativa utilização do Complexo de Édipo como metáfora representativa de vivências psíquicas de exclusão, de reconhecimento do outro, de limites, de falta. A angústia de castração como vivência corporal costuma ser vista no processo analítico episodicamente em seus aspectos simbólicos ou, em situações mais patológicas, como equação simbólica.
Kancyper também abraça a ideia de vários planos estruturantes no psiquismo. Narcisismo, Édipo e complexo fraterno (com ênfase na amizade). Sobre este dá a entender que se trata de uma positivação das relações "a meta sexual é inibida e são desativadas, em grande medida, as relações de dominação que se ressignificam nos vínculos endogâmicos" (p. 21), mas não explica como se processa a elaboração. Depreende-se que a orientação teórica que ele apresenta considere a fraternidade como um movimento primário de união para o parricídio. Como ele também destaca o papel da fonte sexual nos vínculos de ternura, deve ter considerado os vínculos homossexuais latentes contidos na amizade entre pessoas do mesmo sexo.
O filme A vida dos outros de Florian von Donnersmarck é um bom exemplo.1 Na história, o agente Wiesler da polícia secreta da Alemanha Oriental é designado para vigiar o escritor Dreyman. Wiesler um homem frio, sádico e meticuloso tem uma dramática mudança na forma de sentir as pessoas e a si mesmo à medida que acompanha a vida de Dreyman e sua companheira Christa. A meu ver, somente algo poderia explicar tamanha transformação: o estado de apaixonamento por Dreyman que se apossou de Wiesler. Mudança tão intensa que, sem se dar conta, Wiesler provoca uma tragédia que talvez não ocorresse caso ele se mantivesse no seu papel original, e que leva à morte de Christa. Sem se dar conta, será? Ou podemos ver aí a rivalidade pelo objeto se manifestando na sua forma mais destrutiva? No final Wiesler e Dreyman constroem uma amizade platônica como forma de reparação. No debate que se seguiu à exibição do filme, muitos preferiram considerar a mudança de Wiesler como uma tomada de consciência, a chegada de um superego tardio que permitiu reconhecer aspectos bons nos outros e em si próprio.
Acho que no caso de Wiesler o componente sexual tem que ser considerado. Porém, faz pensar no porque dessa vez Wiesler não seguiu o roteiro tradicional. Vigiar a cena primária para depois castrar o pai ou o irmão através de denúncias, torturas e humilhações. Teria sido algo não sexual que se conjugou com o vínculo homossexual?
A amizade no processo psicanalítico é uma questão muito importante que é pouco estudada e, certamente, muito vulnerável a confusões. O que há de sexual e não sexual contido nela e como trabalhar este aspecto na relação analítica. O estudo desse tema também é importante devido aos seus reflexos na instituição psicanalítica que está constantemente enredada na formação de grupos e sub-grupos com todos os seus vínculos transferenciais, sexuais e não sexuais.
O relatório de Salomonsson
Conforme já foi mencionado, Salomonsson deixa muito claro a sua tendência a valorizar os aspectos não sexuais na clínica. Não recusa a sexualidade infantil, mas deixa claro que não a vê com características inatas e determinantes tal como na teoria freudiana. Utiliza, talvez de uma forma muito particular, a teoria de Laplanche para embasar a sua própria abordagem. Acha importante a observação da relação mãe com o seu bebê, especialmente as reações deste, para se entender o desenvolvimento da sexualidade. Aqui entra em conflito com os franceses que costumam valorizar o intrapsíquico que foi ressignificado após o Complexo de Édipo e, portanto, pode não ter correspondência ao que foi exatamente vivenciado.
Salomonsson também enfatiza o papel da mãe
A sobrevivência da criança está inextricavelmente ligada à questão de ela vir a ser uma criatura sexual. Isso não seria problema a não ser pelo fato de a mãe nutriz só poder satisfazer parcialmente as pulsões sexuais da criança. Assim, a sexualidade lança o bebê em conflitos consigo próprio e com a mãe. Freud descreve sobrevivência, prazer e conflito como os três vértices do triângulo da vida humana. Esse triângulo se personifica nos protagonistas do complexo de Édipo. (p. 27)
Aqui ele mostra uma afinidade à ideia de que o conflito edípico irá personificar os conflitos primários com a mãe, e que é a partir das insuficiências desta que a criança virá a ser uma criatura sexual: "chupa o dedo porque está em conflito" (p. 27), diz ele, e não chupa o dedo porque deseja repetir a experiência de satisfação, como diriam os freudianos.
Nessa afirmação de Salomonsson vejo semelhanças com as concepções de Fairbairn. Sendo este um dos meus autores preferidos, quero aproveitar para esclarecer algo que costuma ser um mal-entendido a respeito das suas ideias. Green menciona explicitamente a concepção de Fairbairn como uma das grandes responsáveis pelo afastamento da Psicanálise contemporânea do conceito de sexualidade (Green, 1995). A frase "a libido não busca o prazer, mas busca o objeto" (Fairbairn, 2001) pode efetivamente dar a impressão que Fairbairn valorizou mais a necessidade do que o desejo. A minha interpretação é diversa. Fairbairn realmente negou os aspectos inatos da pulsão como significativos na origem dos conflitos primários. Nesse ponto discordo, mas concordo com ele que a libido por si só não tem sentido, mas é a mãe que cria esse sentido. A partir da frustração primária é que as zonas erógenas corporais vão servir, pela sua proximidade com as necessidades básicas, como formas de expressão de sentidos psíquicos. A relação primária com a mãe é que criará a subjetividade do bebê.
O exemplo do bebê Kevin no texto de Salomonsson é típico do que é descrito por Fairbairn como situação de risco para o desenvolvimento de uma personalidade esquizoide. Aqui cabe também uma questão que foi ventilada por alto nos relatórios, apesar de exaustivamente falada em congressos e outros encontros. As concepções sobre sexualidade se modificaram devido a uma observação mais acurada, por parte dos psicanalistas, sobre quadros clínicos que não se enquadravam na teoria das neuroses na qual a sexualidade e suas vicissitudes são predominantes. Nem é preciso dizer que essa questão do papel da sexualidade nas patologias atuais também é controversa (Green, 2008).
O relatório de Kulish
Como Salomonsson, Nancy Kulish também mostra o quanto costuma valorizar os aspectos não sexuais na transferência. Fala de uma trajetória pessoal diferente quando iniciou na teoria clássica da Psicologia do Ego tendo se derivado para um trabalho mais relacional. Penso que ela pretendeu ser polida ou política demais, com elogios à importância da sexualidade infantil e do Complexo de Édipo para, no final, revelar o que aparenta acreditar e praticar:
Se a sexualidade constitui ou não o núcleo central dos transtornos ou conflitos dos nossos pacientes, está sempre em jogo em nossas mentes, devido à sua plasticidade psíquica e à plasticidade da imaginação humana. Ela pode ser solicitada para expressar ou disfarçar muitas necessidades ou estados afetivos. Ornstein (1993), por exemplo, teoriza que comportamentos e anseios sexuais observáveis são frequentemente convocados para reforçar um self fragmentado. Eu argumentaria que a sexualidade nessas condições não é menos importante do que se fosse mais "básica", (p. 24)
Menciona a importância de se compreender a experiência interior da sexualidade, ressaltando os novos estudos sobre feminilidade. Não é possível saber se foi a maneira como estruturou o artigo, ou se foi a falta de espaço, que a impediu de desenvolver mais esse tema. Seria interessante porque traria ao debate outra questão sobre a sexualidade que está muito presente no meio psicanalítico. O quanto as mudanças culturais influíram no trabalho psicanalítico sobre a sexualidade e, por outro lado, o quanto as descobertas da Psicanálise sobre esse conceito transformaram o ambiente cultural. O feminino, por exemplo, passa por uma nova subjetividade devido a suas conquistas recentes ou aquelas histéricas tratadas por Freud foram pioneiras desse movimento ao permitir que aflorassem potenciais reprimidos?
Mudanças efetivas ocorreram nos papéis masculinos e femininos, o que pode explicar o relativo sumiço da bissexualidade nos textos psicanalíticos. Também houve mudanças na visão sobre a homossexualidade. E não podemos esquecer as novas configurações de família e casal e suas repercussões na produção de fantasias incestuosas e na elaboração de problemáticas edipianas.
Apesar de Kulish afirmar que a sexualidade em algum momento fará parte da investigação em um processo psicanalítico, costuma se dizer que os pacientes de hoje em dia falam menos da vida sexual durante a análise. Estariam menos pressionados porque o exercício da sexualidade está mais pleno hoje em dia? A grande oferta de sexualidade nos meios de comunicação diminuiria a produção de fantasias internas? Mas tanta sexualidade concreta só existe porque repercute no mundo interno. Os limites foram se tornando mais elásticos e as definições do que é permitido ou não na sexualidade entre adultos tem linhas menos claras. Não é difícil de imaginar que essas questões devem repercutir na sexualidade infantil interna e na produção das fantasias. O que pode ser visto como maior liberdade sexual também acarreta uma hiper-exposição de objetos parciais. Talvez por isso seja mais difícil falar sobre sexualidade na análise, já que estaremos mais próximos do polimorfismo da sexualidade infantil.
O relatório de Roussillon
Este talvez seja o relatório que mais se aproxima da questão das patologias contemporâneas, aquelas que não teriam no conflito sexual o seu fator etiológico maior. Roussillon fala sobre a papel de metáfora do sexual para "outras questões psíquicas que o trabalho psicanalítico terá de revelar" (p. 5).
Quando mencionamos as patologias contemporâneas geralmente estamos nos referindo a angústias primitivas (de aniquilamento, de separação, de intrusão) e a distúrbios do narcisismo (falta de espelhamento por parte da mãe, falta de empatia ou de identificação com as necessidades do bebê). De uma forma geral falamos de traumas precoces, intensos e prolongados (Fairbairn, 2001) em um sujeito que não tem psiquismo capaz de contê-lo. Devido a isso, o papel da mãe como continente se tornou essencial na teorização do desenvolvimento psíquico, cumprindo o papel que Freud atribuiu inicialmente a um escudo protetor integrante de um ego incipiente.
Roussillon procura abordar essa questão dentro da ótica freudiana:
Freud, ao introduzir a noção de coexcitação libidinal (1914) e depois a de coexcitação sexual (1925), propôs a ideia da possível sexualização de uma experiência não sexual em sua essência, de uma experiência traumática por exemplo. Seja para encontrar o vetor de uma descarga (1914) como foi o caso do "homem dos lobos" criança, que evacua ao se ver confrontado com um trans-bordamento de excitações traumáticas decorrente da confrontação com o coito parental, seja para encontrar uma modalidade de ligação (1925) de experiências traumáticas que não comportam possibilidades de satisfação suficientes. (p. 16)
E então retornamos à noção de apoio na qual a pulsão precisa do corpo e de suas necessidades para utilizá-los como veículos de descarga ou, algo que é pouco referido dentro da teoria freudiana clássica, de ligação.
Entendo que esse é o ponto que percorre os diversos relatórios e as diversas vertentes que procuram dar conta da clínica atual. Cada relatório, cada qual ao seu modo liga o sexual a alguma função, ora do corpo, ora do objeto externo, para alguma finalidade (aliviar a angústia, conter a angústia). Desde os pioneiros das teorias das relações de objeto encontramos a função de apoio se alternando de uma atividade autoerótica e de uso do objeto como descarga para outra de ligação na busca de continente e de sentido psíquico. Até Fairbairn vai por esse caminho à medida que a necessidade do objeto cria a satisfação e o prazer. Sei que não serão poucos os que considerarão esse meu conceito de apoio um tanto eclético. O que eu pretendo destacar é que existem diferenças, sim, e essas terão influência no trabalho clínico (vide as diferentes posturas do analista, mais acolhedor ou mais interpretador), mas que é muito difícil, e talvez desnecessário, apontar o que é primordial (se o pulsional ou o objeto) para se criar uma subjetividade.
No relatório apresentado por Roussillon esse raciocínio não ficou desenvolvido, mas em uma conferência proferida em 20102 essas ideias ficam mais claras. Sem se afastar em nenhum momento das concepções freudianas sobre a sexualidade, Roussillon faz pontes com Winnicott ressaltando que
podemos nos defrontar com movimentos pulsionais que não tenham sido suficientemente refletidos pelo objeto, mantendo-se, portanto, à espera de composição e de apropriação subjetiva. processos que permaneceram apenas potenciais e não alcançaram a subjetivação. (Roussillon, 2010)
Há vivências internas que não alcançaram sentido e, então, o sexual pode ser um veículo para tal.
Essa visão costuma ser predominante na atualidade quando falamos dos chamados desvios sexuais. A perversão não seria mais o inverso da neurose, em termos de pulsões que não foram recalcadas. Hoje costumamos entender que algo no sujeito não criou sentido suficiente, geralmente por conta de um trauma psíquico desorganizador. A "metáfora" do sexual serve para criar alguma organização e sentido, mas de uma forma ritualizada e obsessiva. O estudo das perversões sexuais tem várias vertentes, mas a maioria busca fazer uma junção entre demandas pulsionais e relação com o objeto (Perdigão, 2009). Destaco o conceito de neossexualidades em que os comportamentos ditos desviantes resultam de defesas contra fantasias aterrorizantes em que o sujeito inventa meios que permitam transformar a angústia resultante em jogos erotizados. (McDougall, 1987). Lembrando também que para Kernberg o distúrbio na identidade sexual, que geralmente se manifesta por meio de atitudes perversas, é uma característica fundamental da organização borderline da personalidade (Kernberg, 1975).
Para ilustrar, quero trazer uma situação fora do setting analítico. Na SBPRJ há um Programa de Psicanálise e Interface Social (Propis) que desenvolve um trabalho de criação imaginativa numa base psicanalítica para crianças de uma favela. Os desenhos e a maneira como expressam o que desenham se desenvolve significativamente com repercussões positivas no relacionamento social e familiar. Há tempos atrás, houve uma invasão policial no morro onde a favela está localizada com tiroteios e situações angustiantes. O fato repercutiu no grupo, levando a uma regressão no material de desenho em que apareceram pênis e vaginas isolados em profusão. Ou seja, o sexual, de maneira concreta e parcial, teve a função de diminuir a angústia aterrorizante. Além de moradias com pouca privacidade, os jogos erotizados, como os que se vêem em bailes funk, têm um valor específico funcionando como substitutos de diversas precariedades sociais e emocionais. Torna-se um recurso facilmente acessível para aplacar angústias traumáticas (Rocha & Lopes, 2011).
Explorar um conceito central como sexualidade não é mesmo tarefa fácil. Quantas vertentes foram trabalhadas, quantas interrogações permaneceram. Temas atuais importantes como a questão do abuso contra crianças e suas repercussões no psiquismo nem puderam ser discutidos. Parabéns aos relatores que se desdobraram para transmitir um tema tão vasto como este em poucas páginas. Trouxeram questões que fazem pensar e certamente propiciarão bons debates no Congresso da IPA no México.
Referências
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Correspondência:
Bernard Miodownik
[Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro SBPRJ]
R. Figueiredo de Magalhães, 219, sala 408 Copacabana
22031-010 Rio de Janeiro, RJ
Tel: 21 2549-8734
betchkov@uol.com.br
Recebido em 3/5/2011
Aceito em 31/5/2011
1 Esse filme foi por mim debatido na atividade Psicanálise e Cinema da SBPRJ coordenada pelo psicanalista e crítico de cinema Luiz Fernando Gallego.
2 Apresentada na SBPRJ dentro do programa Capsa da IPA