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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.56 no.2 São Paulo  2022  Epub 19-Ago-2024

https://doi.org/10.5935/0486-641x.v56n2.13 

Temas livres

Tornando explícito, o implícito1

Haciendo explícito, lo implícito

Making the implicit explicit

Pour rendre explicite, l’implicite

Paulo Cesar Sandler2 

Mestre em psiquiatria preventiva pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (fmusp).

2Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Academia Lancisiana de Medicina, Roma


Resumo

Das Unheimliche seria uma característica fundamental na realidade mate- rial e psíquica da natureza humana, integrando o sistema inconsciente? Proponho considerá-lo um conceito, distinguindo o sentido dinâmico entranhado no termo – conferindo-lhe utilidade clínica – dos múltiplos significados simbólicos, úteis para literatos.

Palavras-chave das Unheimliche; associações livres; posições esquizoparanoide e depressiva; transformações em O; sentidos e significados

Resumen

¿Es das Unheimliche una característica fundamental de la naturaleza hu- mana, integrando el sistema inconsciente? Propongo considerarlo un concepto, distinguiendo el significado dinámico incrustado en el término, dándole utilidad clínica, de los múltiples significados simbólicos, útiles para los literatos.

Palabras clave das Unheimliche; asociaciones libres; posiciones esquizoparanoide y depresiva; transformaciones en O; sentidos y significados

Abstract

Is das Unheimliche a fundamental feature in the material and psychic re- ality of human nature, integrating the unconscious system? I propose considering it as a concept, through the discrimination of its dynamic sense, embedded in the term, which gives its clinical utility, from the multiple symbolic meanings, useful for literati.

Keywords das Unheimliche; free associations; paranoid-schizoid and depressive positions; transformation in O; senses and meanings

Résumé

Das Unheimliche serait-il une caractéristique fondamentale de la réalité matérielle et psychique de la nature humaine, intégrant le système inconscient ? Je propose qu’il soit considéré comme un concept – tout en distinguant le sens dyna- mique incrusté dans ce terme, ce qui lui confère une utilité clinique – des multiples significations symboliques, utiles à la linguistique.

Mots-clés das Unheimliche; libre association; positions schizoïde paranoïde et dé- pressive; transformation en O; sens; significations

Freud, sob o vértice psicanalítico, faz uma investigação transdisciplinar para apreender o sentido entranhado em uma expressão idiomática multi- valente: das Unheimliche. Levanto a hipótese de que essa formulação verbal corresponde a um fenômeno da realidade material e psíquica da natureza humana, originando um conceito útil para que psicanalistas examinem o fun- cionamento dinâmico do aparato psíquico. Ao longo do artigo, esclarecerei minha manutenção da língua alemã na grafia do termo.

Natureza humana: adversidades e sofrimentos

O nascimento e o uso clínico da psicanálise são herdeiros da prática médica – historicamente, primus inter pares entre as disciplinas que consideram, sob um vértice individual, os sofrimentos e vicissitudes que parecem ser características da natureza humana. Exercer a clínica em psi- canálise constitui-se como um apreender mesclado com aprender, ainda que parcialmente, alguns processos intrapsíquicos de um paciente, conforme expostos em sua relação com outra pessoa. Como toda clínica em medici- na, ocorre em um grupo formado por duas pessoas (Rickman, 1950), que exercem diferentes funções: uma, de ser paciente; a outra, de ser seu analista. Denomino nosso método, de modo geral, a apreensão e o aprender por meio de uma experiência, a observação participante desses processos (Sandler, 1997a, 2016/2019, 2005/2022), com o intuito de neles intervir de maneira amigável e construtiva, ainda que toscamente.

Há condições para qualificar uma disciplina como ciência ou arte, que tentam apreender realidades materiais e psíquicas, as características da natu- reza humana (Sandler, 1997a). Sugiro compactá-las do seguinte modo, que não exclui outros, propostos por teóricos da ciência e críticos de arte, que revi em outras publicações:

1) Quando se descobre alguma realidade material e psíquica antes desconhecida, torna-se necessário construir uma formulação materializada – verbal, matemática, química etc. – que lhe corresponda e a apresente, ainda que parcial e minimamente. Caso contrário, será uma fuga fantástica de ima- ginação (Bacon, 1620/1994).

2) Disciplinas artísticas ficcionais representam realidades materiais e psíquicas.

3) Obras científicas e artísticas, feitas pela meritocracia técnica em um grupo, precisam ser tornadas públicas (Bion, 1959/2000a) por um trabalho burocrático, acessório e necessário, feito por meritocracias político-administrativas.

Uma análise estatística de trabalhos publicados nos três periódicos de maior circulação mundial e brasileira, escritos por membros do movimento psicanalítico, com citações da obra de Freud, nos últimos 30 anos, mostrou baixa incidência de referências a das Unheimliche: em torno de 0,001%. Parece- me haver desinteresse de psicanalistas praticantes nesse estudo, o que con- trasta com a fascinação de acadêmicos especializados em filosofia, literatura e crítica literária (Da Lomba, 2017; Derrida, 1993; Parente, 2007; Royle, 2003; Schlipphacke, 2015), estudiosos que têm focalizado a palavra-em-si, centran- do-se em um de seus vários significados. Um deles tornou-se lugar comum: das Uhheimliche significaria fantasias aterrorizantes, expressando medo e ódio ao desconhecido. A escolha desse significado específico pode ser coerente com a formação prévia desses acadêmicos.

S.O.S.

Freud elaborou textos de qualidade literária, que dialogam imagina- riamente com leitores críticos. Um exemplo é o de um juiz, o “observador imparcial” sobre a análise leiga (Freud, 1926/1959).

Bion desenvolveu esse modelo, construindo diálogos ficcionais com seus próprios objetos parciais (Sandler, 2016/2019). Trinta e cinco anos depois do fa- lecimento de Bion, pensei em “participar” ficcionalmente de um desses diálogos, apelando para a autorização de sua viúva. “Para que serve nossa vida, caso não auxiliemos nossos semelhantes?” (F. Bion, comunicação pessoal, 1981). O que para mim exalou odor de pirataria foi para ela o apelo de um tradutor literário náufrago, impossibilitado de verter das Unheimliche para o português.

SANDLER: Em português, dispomos de traduções demasiadamente clivadas: es- tranho, inquietante, estrangeiro, não familiar, tremendo, incrível, esquisito, arrepiante, assustador, tenebroso, medonho, horripilante – e paradoxalmente muito íntimo! Não posso tomar a parte pelo todo…

BION: Isso vai depender do fato de estarmos – ou não – nos referindo à… linguagem articulada. Acredito que chineses não empregam essa espécie de linguagem na comunicação. Usualmente esse problema não é, na verdade, comunitário… no sentido macroscópico. Tomemos como exemplo o indivíduo: Melanie Klein, pensando em termos de imagens visuais, considerou que um único indivíduo humano é análogo a um mundo em si mesmo. Roger Money-Kyrle, seguindo tal sugestão, elaborou sobre o retrato que o homem faz de seu mundo.3

EU MESMO: Ao lançarmos mão da visão extremamente detalhada, tornada dispo- nível sob o vértice proposto por Melanie Klein para a prática da psicanálise, o modelo não é macroscopia, mas microscopia. Duvido que microanálise revele uma linguagem articulada, ou seja auxiliada por ela. A comunicação “articu- lada” é o método dominante de comunicação entre o self e o self. Na medida em que a comunicação tem lugar entre aquilo que psicanalistas denominam de níveis inconscientes de indivíduos diferentes, penso que os métodos de co- municação predominantes entre pintores, poetas, músicos obedecem a regras muito diferentes daquelas da comunicação articulada.

ALICE: Tenho certeza de que não obedecem. Isso também vale para as regras da moralidade, como geralmente supomos que elas existam.

ROLAND: Sem dúvida, cada um dos sexos é acusado pelo outro de quebrar as regras morais.

EU MESMO: Quando algum deles diz “Eu amo”, regras do discurso articulado se aplicam ao discurso, não ao amor. Os métodos de comunicação física mais experimentados, embora vocais, não são articulados. O assunto fica iluminado caso suponhamos que o método de comunicação apropriado ao vértice sexo não é verbal, mas é aquilo frequentemente denominado de acting out, sob vér- tices nos quais costumamos utilizar comunicação verbal.

BION: É claro que estou familiarizado com a expressão atuação conforme os psi- canalistas ingleses a utilizam. No entanto, fico interessado em saber qual é sua compreensão desse termo.

EU MESMO: Estou usando um termo inglês, que não é o mesmo utilizado por Freud. No que se refere à intenção, supõe-se que a coisa-em-si, ou seja, a realidade que se aproxima tanto da formulação inglesa como da alemã, seja idêntica.

BION: Você diz “supõe-se”. Isso implica uma dúvida?

EU MESMO: Sem dúvida. Eu diria que dúvida é a palavra mais adequada para definir o vértice. É o vértice apropriado sob o qual operamos nesta conversa.

BION: Poderia ampliar o uso que faz da palavra sexo?

EU MESMO: No que se refere à palavra sexo, não acho que possa dizer nada além do que Freud já disse. Para mim, esse é um daqueles termos “desprovidos de significado”, já que qualquer significado, no sentido usual da palavra, é uma elaboração de frases a serem combinadas de modo constante em construções progressivamente mais elaboradas. É uma dessas palavras que expressam aquilo que James Joyce chamou de idée mère – análoga à construção matemáti- ca denominada gerador de números. Você pode ver por si mesmo que essas três expressões – sexo, idée mère e gerador de números – são, por si mesmas, sus- peitas de constituírem tautologias. Em função disso, prefiro usar um sinal sem significado algum, como O. Faço um empréstimo da disciplina religiosa: penso que a palavra divindade é útil, por ser menos abstrata que realidade última.

BION: Abstrata?

EU MESMO: Bem que eu achei que você ia checar esse ponto. Proponho beneficiar a mim mesmo com uma expressão significativa e proporcionalmente imprecisa, que apesar de tudo espero que seja útil. Um sorriso: foi tudo que restou quando o gato de Cheshire sumiu (Bion, 1975/1988).

Transdisciplinaridade

Freud faleceu 11 anos antes de Merton 4 (1948) ter cunhado a palavra transdisciplinar. Para mim sempre foi claro que Freud usou intuitivamente o método transdisciplinar durante toda a sua vida. Também vou usá-lo para investigar quais seriam as implicações e consequências psicanalíticas dos correspondentes fenomênicos na realidade ao termo das Unheimliche (Bion, 1962/2021; Kant, 1781/1974; Sandler, 2000; Spinoza, c. 1665/1994).

Objetivo explicitar o que está implícito no estudo de Freud – o mesmo objetivo que ele teve quando lidou com pacientes e que lhe possibilitou des- cobrir a psicanálise, e que todo médico e psicólogo tem ao fazer diagnósticos: ver através de. No estudo de das Unheimliche, Freud integrou a psicanálise com quatro disciplinas: teoria da ciência, estética, filologia e crítica literária. Minha explicitação de um uso prático, clínico, parece-me ainda não ter sido apresentada na literatura.

Sentidos e significados: uma diferenciação para o uso na prática psicanalítica

Em muitas línguas, significados dependem do sentido da frase e até do texto inteiro. Tentativas de traduzir significados condenam tradutores a per- petrar o mesmo engano das pessoas que psiquiatras rotulam como esquizofrê- nicos (Sandler, 2003b): tomam a parte pelo todo. Falsificam, assim, o sentido das formulações verbais. Enviam o leitor para endereços inexistentes, pois “não anexaram o nome do proprietário” (Bion, 1977/1997, p. 27). Daí sua alcunha em italiano: traduttore, traditore. A palavra sentido tem um significado vetorial, objetivando corresponder ao que ocorre no aparato sensorial: a porta de entrada do aparato psíquico (Freud, 1900/1953; Sandler, 2013). Sentimos cheiros; senti- mos calor, frio; sentimos arrepios, dores, cócegas, atração ou repulsa sexualiza- da, raiva etc. Conforme o sentido emocional, raiva resulta de amor, e atração, de ódio – que não são sentimentos, mas um complexo de emoções.

Vetor

Uso o termo segundo sua definição na física (Sandler, 2013). Vetores apontam um sentido na confluência dos vários significados expressos por símbolos verbais e visuais, como ocorre nos desenhos em tabuletas colocadas em arruamentos, para indicar a mão de direção. Definir minimamente senti- dos é necessário na descoberta científica e na comunicação dos métodos, da prática e da teoria entre os cientistas. Em contraste, atribuições de significados podem ser úteis em atividades não científicas: na hermenêutica e em outras tendências filosóficas; em ideologias, religiões e esoterismos; e em literatura são absolutamente necessárias. Em outra publicação, tento demonstrar que significados são transformações materializadas de alguma invariância imate- rial, que nos fornece o sentido (Sandler, no prelo).

Decidindo manter o termo em alemão ao me confrontar com irresol- víveis questões no traduzir das Unheimliche – fato reconhecido por Freud (1919/1955) –, fiquei livre para tentar uma apreensão do sentido desse termo, muito além da transformação literal, por excessiva concretização, feita por “invariância sob alfabetização” (Bion, 1965/2004b, p. 17).

Para tanto, vou usar um modo natural de contatarmos nosso ambiente: tratando-se de escrita e leitura, tudo começa por meio do funcionamento dos nossos órgãos sensoriais de visão e audição, os quais encontram materializa- ção no âmbito dos fenômenos através de letras e ideogramas, ou seja, signos, que nós, os usuários, precisaremos “de-sensorializar” (Sandler, 1997b), após sua apreensão sensorial. O que denomino de-sensorializar ocorre por pro- cessos ainda desconhecidos, mas que podem ser designados como imateriali- zação interna: a partir de sensações, podemos ter sentidos, afetos, emoções e experiências emocionais (Bion, 1961, 1962/2021; Freud, 1900/1953; Sandler, 2013). São exatamente estes que propiciam, a meu ver, a emergência interna de um vetor de orientação, para orientar nosso aparato de pensar, sustentado por nossa memória e pelo aprender por experiência (Bion, 1962/2021; Sandler, no prelo). Este, meu fornecedor de significados, produtos de algo que posso representar por duas analogias: combustão e digestão (Bion, 1962/2021) dos símbolos verbais. Linguistas e críticos de arte estudam-nos através da equação significante/significado (Saussure, 1916/1966), em que um símbolo material representa algo imaterializável, “que não é ele mesmo” (Gombrich, 1959/1986).

Considero que, em muitas línguas, formulações verbais caracterizam-se por multivalência: a mesma palavra expressa vários sentidos e significados. Outras línguas caracterizam-se pela univalência dos termos. Nos dois casos, tenta-se atender uma necessidade crucial, observada por Platão, Bacon, Spinoza, Hume e Kant: palavras e conceitos precisam manter algum tipo de correspondên- cia com a realidade fenomênica que tentam indicar (Sandler, 1997a). Detectável etimologicamente, como demonstram filólogos (Platão, c. 380 a.C./1994; Vico, 1744/1974). Difícil, atualmente, pelo desgaste imposto pelo tempo (Nietzsche, 1878-1880/1974). Quase impossível em traduções?

Qual seria o sentido do termo das Unheimliche, independentemente dos múltiplos significados a ele atribuíveis? Proponho um método para descobrir quais são os sentidos das formulações verbais em ciência e em psicanálise, composto de um tripé: 1) ethos do termo (Halloran, 1982); 2) função do termo na natureza humana; 3) qualificação científica do termo.

Ethos paradoxal

Em português, das Unheimliche tem outro sentido e outros significados, além dos descritos antes. O outro sentido nos é mostrado por Freud: o negativo do primeiro. Ao indicar-nos algo da realidade material e psíquica que nos parece conscientemente desconhecida, estrangeira e nada familiar, o termo simultaneamente indica algo conhecido, íntimo e familiar.

Há dois percursos para encontrarmos qual sentido está vinculado ao termo das Unheimliche: um, no curso de sua própria história; outro, na possibilidade de co- letarmos todas as propriedades nas pessoas, coisas, impressões sensoriais, expe- riências e eventos que originam em nós o sentimento de Unheimlichen e inferir a natureza desconhecida do Unheimliche comum a todos esses exemplos. … Os dois percursos levam ao mesmo resultado: o Unheimliche é aquela classe de coisa assustadora que nos conduz de volta para algo que conhecemos há muito, que nos é muito familiar. Como é possível que isso ocorra? Quais seriam as contingên- cias e circunstâncias nas quais o que é familiar torna-se nada familiar? (Freud, 1919/1955, p. 220)

A palavra percurso usada por Freud me parece uma chave: mostra que ele fez uma análise sintática, a meu ver similar às sintaxes científicas procuradas por teóricos da ciência (Carnap, 1956; Larvor, 1988) para descobrir o sentido do termo das Unheimliche. Freud retomou a “fértil mas não exaustiva” apro- ximação fenomenológica em psiquiatria de Ernst Jentsch (Freud, 1919/1955, p. 219) acerca da ficção sobre uma boneca movida por um mecanismo de relógio, Olímpia, em O homem da areia, de E. T. A. Hoffmann. Utilizando vários autores e dicionários, retira o prefixo negativo, un-. Acrescenta a essa análise sintática a crítica literária de Karl Gutzkow sobre a obra de Friedrich von Schelling, sempre sob o vértice psicanalítico, não sob o vértice da estética (teoria do belo). Freud afirma, transdisciplinarmente, que “em outros estratos da vida psíquica … há estímulos emocionais inibidos em relação ao seu obje- tivo, e dependentes de um elenco de fatores concorrentes que, de modo geral, fornecem o material de estudo para a estética”; que “remotamente” faz uma “teoria sobre qualidade das emoções”. Enfatiza, com gratidão, a oportunidade de ter uma observação privilegiada, na qual “raramente psicanalistas sentem-se impelidos” a estudar:

Nas diferentes penumbras de significado da palavra heimlich, existe uma que é idêntica ao seu oposto, unheimlich. … O que nós chamamos de unheimlich, estra- nho, inquietante, não familiar, você chama de heimlich, íntimo, sereno, familiar. … Unheimlich é o nome para tudo que estava … secreto e escondido, mas acabou aparecendo. (pp. 224-225)

Instrumentado pelo esclarecimento de Freud sobre a penumbra de sig- nificados, dei-me conta de que das Unheimliche – uma palavra isolada, por- tadora de um paradoxo – também pode ser expressa através de dois termos: uma locução gramatical sintagmática (Crystal, 1997). Comecei a pensar no termo, mas sempre sob duas formulações verbais:

  • – das Unheimliche-Heimliche.

Tendo identificado o sentido paradoxal, retornei aos significados:

  • – usual-estranho;

  • – familiar-estrangeiro;

  • – carinhoso-medonho;

  • – celestial-macabro;

  • – conhecido-desconhecido.

Ora, ora… Vejam só. Esse último termo duplo não é um sinônimo para consciente-inconsciente – Bewußt-Unbewußt, no alemão usado por Freud, como o denominou Luiz Alberto Hanns (1996)?

Desaguei, “não mais que de repente” (Moraes, 1938/2006b), na descrição teórica do aparato psíquico por Freud! Do ponto de vista clínico, dei-me conta de que estava me defrontando com as duas máximas técnicas para obtermos um insight, já conhecidas pelo leitor: tornar consciente, o inconsciente; onde havia id, haja ego.

Tomo emprestada a notação quase matemática sugerida por Bion (1963/2004a) para descrever graficamente um movimento, dentro de uma equação que ilustra o que me parece ser, essencialmente, um fato clínico no cotidiano de uma “análise real”, onde se podem fazer “interpretações corretas e apropriadas” (Bion, 1977/1996, pp. 76 e 80):5

Das Unheimliche = familiar ↔ não familiar

As duas máximas e a equação são modos taquigráficos de indicar que a experiência de insight é um ato de tornar explícito, consciente, egoico, conhe- cido, aquilo que até então era implícito, inconsciente, desconhecido. Tornar explícito, o que era implícito.

Função impressionante e expressiva na natureza humana

A contraparte na realidade indicada por das Unheimliche constitui-se como experiência sensorial estimulante, transitória, que impressiona o aparato psíquico e impõe, por força instintiva, seu funcionar, dentro do princípio de Fechner (Dennis, 1948): entram em ação os três sistemas do aparato psíquico, permeados dinamicamente pelas três instâncias (aquilo que nos ocorre inter- namente em um instante), as contrapartes na realidade interna que correspon- deriam às formulações verbais – inconsciente, pré-consciente e consciente; id, ego e superego.

Qualificação na teoria da ciência

Haverá algo na vida real que não se constitua por existências parado- xais, expressas pelo seu negativo, ou a “outra face”: idêntica no seu cerne, mas expressando-se no sentido contrário? Apresentações paradoxais – no âmbito da consciência – demandam que analistas se disciplinem na tolerância de pa- radoxos (Sandler, 1997a, 2003a, 2013), sem tentativas de resolvê-los pelo uso de racionalizações, como usualmente se tem feito (Roussillon, 1991/2006). Uma apreensão mínima do fenômeno das Unheimliche e seu uso conceitual e prático dependem dessa tolerância.

Tenho sugerido considerar que o grau de tolerância a paradoxos sob uma postura abstinente de memória, desejo e entendimento racional (Bion, 1967/2000b; 1970/2006; Winnicott, 1969) torna possível divisar contrapartes na realidade correspondentes ao que teoricamente formulamos como perti- nente ao sistema inconsciente (desconhecido). Tolerar paradoxos poderia ser juntado aos critérios clássicos (Calvino, 1991) de avaliação estabelecidos por Freud, para sabermos se uma atividade se qualifica como psicanalítica? O leitor bem os conhece: a apreensão da existência do sistema inconsciente; a utilização de associações livres e do ato de sonhar; a estruturação do complexo de Édipo naquele paciente em particular. Suportar o que não se sabe é o fundamento de um ciclo vital, científico e artístico: tornar-se, seguido de não tornar-se, seguido de tornar-se…, infinito enquanto dure. Caso não toleremos paradoxos, tanto na prática clínica quanto na elaboração teórica e na vida, seremos desviados para outras práticas, talvez úteis em suas respectivas áreas de atuação: pedago- gia, direito, política, segurança policial e outras psicoterapias.

Similar ao que acontece na atividade onírica e na atividade alucinatória, nossa atenção e interpretação à emergência do não familiar ↔ familiar me parece ser ocorrência perene, ainda que alternante, enquanto dura uma sessão (Sandler, 2017). Mas não eterna, “posto que é chama” (Moraes, 1936/2006a). Impossível, toda vez que nos falta atenção livremente flutuante (Freud, 1900/1953; 1912/1958).

Haverá alguma teoria genuína em psicanálise que não expresse, ainda que toscamente, uma situação paradoxal envolvendo das Unheimliche-Heimliche? Deixarei para outro artigo a exemplificação dessas teorias em psicanálise, já esmiuçada em forma de livros publicados anteriormente (Sandler, 2003a, 2013, 2016/2019, 2009/2020).

Não (negativo): o aparato de pensar

A manobra de Freud que explicitou o paradoxo, com a subtração do prefixo un-, permitiu-lhe obter

a palavra heimlich [íntimo, familiar], que não é unívoca: pertence a duas noções que não são contraditórias, mas são muito diferentes; de um lado, implica aquilo que é familiar e agradável, e de outro, implica aquilo que está escondido, fora de nossa visão. (Freud, 1919/1955, p. 225)

O radical Heim se mantêm. A versão clivada em português – lar – perde a meu ver o sentido emocional mais amplo e profundo fornecido pela língua alemã.

A psicanálise, ao lado de outras ciências, como a matemática, a física e a química, cuida de fatos materializáveis e imaterializados: os “habitantes” do “âmbito negativo dos Noumena” (Kant, 1781/1974; Sandler, 2000, pp. 23 e 43), das formas ideais de Platão, “invisíveis ao olho mortal” (Milton, 1667/1975; Wordsworth, citado por Smith, 1921/1960). Podem ser apreensí- veis, parcial e transitoriamente, por intuição analiticamente treinada, aquém e além das captações iniciais, obtidas pelo nosso aparato sensorial, sob senso comum (Locke, 1690/1973).

Bion (1961, 1962/2021) sugere que a realidade material e psíquica de todo e qualquer bebê nasce “equipada” com preconcepções filogeneticamente adquiridas – Heimliche (conhecidas), mas Unheimliche (desconhecidas), no seu desenrolar individual. Um processo vivo e dinâmico: um bebê é expulso do útero para ser brindado por uma experiência negativa e ainda não familiar, desconhecida, com seio ainda ausente ou “não seio” – Unheimliche.

Para sobreviver, precisará encontrar um seio real. Será empurrado ins- tintivamente por uma preconcepção, seio: Heimliche. Mas nunca aquele que se encaixe de modo total na sua preconcepção do seio. Novamente, iniciando o ciclo vital, até que a morte o interrompa, enfrentará Unheimliche, que lhe é desconhecido. Uma experiência de tal modo frustrante, que foi denominada por Klein e Joan Riviere (1937/1953, 1932/1959) de angústia de aniquilamen- to. Será a concepção mais primeva até hoje descrita, aterrorizante, de proxi- midade da morte?

Pressionado pela experiência negativa – ausência, falta – o bebê é em- purrado6 para o ato de pensar (Bion, 1961, 1962/2021). Pensar no quê? No “seio”. Trata-se de um protótipo de algo vivo que será desenvolvido, ou não, durante toda a vida.

Será essa a mais primeva experiência de das Unheimliche-Heimliche?

Vou apelar outra vez para a notação quase matemática de uma dupla seta, proposta por Bion, pela compactação que permite, se comparada com explicações verbais:

  • – seio usual (inato, da preconcepção filogenética) ↔ seio estranho (real, oferecido pela mãe ou substituta);

  • – seio familiar (inato) ↔ seio estrangeiro (real, que não corresponde ao da preconcepção em algum grau);

  • – seio carinhoso (sentido como bom, conforme observado por Klein) ↔ seio medonho (sentido como mau);

  • – seio celestial ↔ seio macabro;

  • – seio conhecido ↔ seio desconhecido.

Ser exposto repetidamente às contínuas aparições de um seio faz com que o bebê enfrente a qualidade negativa: nunca será o seio desejado – mas poderá ser aproximado, caso tolerado. Quando um bebê “ganha” um seio real, “perde” um seio desejado. Até que, algum dia, e em alguns casos, adquire um senso de realidade, no qual o objeto amado e o odiado são integrados em um mesmo objeto (Bion, 1961).

Na experiência analítica de insight, o que nos é familiar emerge naquilo que nos é não familiar, e vice-versa: são as transformações em O (Bion, 1965/2004b; Sandler, 2009/2020). Quando ocorre um insight, não vamos nos frear ao en- frentar Unheimliche, não nos manteremos estacionados no outro estágio, o do conhecimento, Heimliche, que por sua vez se constitui por transformações em K, recaindo no estreito espectro das inteligibilidades, intelectualizações e raciona- lismos. O paradoxo a ser tolerado é a coexistência dinâmica das duas transfor- mações, em O e K, em homeostase, sem prevalência de nenhuma.

O Não tipifica o sistema inconsciente, ou desconhecido – Unbewußt, em alemão –, condição para o Sim. Paradoxalmente, o Não pode ser exerci- do prevalentemente como negação (Freud, 1925/1961), um dos mecanismos de defesa do ego, forçando uma “decadência dos sentidos na vigília, que não implica decadência dos movimentos nos sentidos, mas implica o obscure- cimento dos sentidos análogo à luz do Sol que obscurece a luz das estrelas, embora elas continuem a existir à luz do dia” (Sandler, 2013, p. 13). Freud, no exercício psicanalítico sobre o diário do juiz Schreber, observou que negação, ao se conjugar com racionalização, produz psicose.

Comportamentos semoventes

Observações complexas a respeito dos mistérios do comportamento humano e tentativas de desfazê-los fascinaram cientistas, literatos e milhares de europeus. Atingiram um clímax na época do movimento romântico, em que viveram Jentsch e Freud. Na respeitosa análise crítica de Freud ao trabalho normativo típico da psiquiatria, ele ressalta a conclusão de Jentsch, para quem haveria uma “incerteza intelectual” sobre o “roubo dos próprios olhos” nas memórias do estudante Nathanael (1919/1955, pp. 220 e 228). Freud observa que essa interpretação limita-se ao sistema consciente, e de modo típico aprofunda psicanaliticamente a penetrante interpretação fenomenológica de Jentsch. Além da questão ambivalente com o pai, originada pelo complexo de Édipo, Freud enfatiza as “dúvidas de que algo inanimado possa ser realmente vivo, ou, de modo inverso, se um objeto desprovido de vida não poderia ser, de fato, animado” (p. 226). Seriam “manifestações de insanidade”?

Psiquiatras descrevem das Unheimliche como se fosse uma crise psicó- tica, manifesta por ecolalia e ecopraxia (Bleuler, 1911/1955). A ênfase permite que Freud complemente a descrição de Jentsch ao acrescentar à análise o sistema inconsciente, sugerindo que “algo inanimado possa ser realmente vivo … onde operam processos automáticos – mecânicos – subjacentes a uma atividade mental normal”, resultando em “incerteza se um personagem é animado ou autômato” (1919/1955, pp. 226-227). Bion descreve pungente- mente o mesmo estado:

Falstaff, um artefato conhecido, é mais “real”, nas formulações verbais de Shakespeare, do que incontáveis milhões de pessoas que são opacas, invisíveis, desvitalizadas, irreais, em cujo nascimento e morte – e, que pena!, até mesmo casa- mentos – somos obrigados a acreditar, já que sua existência é certificada e garanti- da pela assim chamada certidão oficial. (1975/1988, p. 8)

A vida dessas pessoas, observável mais precisamente nas análises que alcançam as profundezes do substrato psicótico, mostra que o não familiar e o familiar – Unheimliche-Heimliche – sucedem-se, em girândola alucinada, expressos fenomenicamente por estados maníacos (Klein, 1934/1950). Freud (1919/1955) cita os estudos de Otto Rank sobre o duplo, que me parecem ter inspirado Bion em “O gêmeo imaginário” (1950/1967), onde todo o processo de análise fica paradoxalmente amado e odiado, ao mesmo tempo.

Minha observação clínica demonstra que comportamentos semoventes têm sentidos paradoxais, segundo sua égide instintual. Produzem pelo menos duas situações vitais, por vezes mutantes entre si, aparecendo – clinicamente – em todo e qualquer paciente cuja apreensão, e muitas vezes visão, depende da profundidade de análise que a dupla psicanalítica possa obter (Sandler, 2017, 2009/2020).

Em um próximo estudo, aprofundarei a abordagem dessas duas situações vitais, que sugiro qualificar segundo o modo como se expressam materialmen- te, no âmbito dos fenômenos, na forma de comportamentos observáveis na vida real, e também em uma sessão de análise:

1) Automatizáveis: vinculados originalmente, na vida infantil, a um equilíbrio dinamicamente complexo, baseado na homeostase entre os dois grupos instintuais básicos e os dois princípios do funcionamento psíquico. Exemplo: o modo pelo qual crianças aprendem a deambular e, na hipótese de Bion, aprendem a falar “papai”, sob estímulo de um casal parental criativo, vinculado por amor mútuo (Bion, 1962/2021).

2) Automatizados: podem ocorrer ao longo de uma vida individual, na desarmonia entrópica entre os dois grupos instintuais básicos, que passam a funcionar de modo disfuncional, com prevalência do princípio do prazer-des- prazer, às expensas do princípio da realidade. Exemplos: o toque de Midas; o cavalo de Troia e seus vários renascimentos sob outras formas, nos mitos do período romântico: as novelas do dr. Frankenstein, da boneca Olímpia e do boneco Pinóquio – tornado humano quando parou de mentir, ou aluci- nar sob o princípio do prazer. Há um desbalanceamento (desarmonia) entre os estados Unheimliche-Heimliche, estranhos e familiares ao mesmo tempo, tornando turbulenta a homeostase entrópica que caracteriza nossa realidade material e psíquica. Considero que o fenômeno da transferência é exemplo de um comportamento semovente automatizável, à infância, seguindo-se dos processos de identificação, quando crianças se afeiçoam ou odeiam tios e outros familiares, e logo depois professores. Pode se tornar um comportamen- to semovente automático.

Uma noção mínima da existência do fenômeno UnheimlicheHeimliche parece-me necessária para nos instrumentar na comparação entre o modo pelo qual o paciente nos escutou, mas não nos ouviu, quando esse mesmo paciente inunda de significados aquilo que lhe dissemos, e nesse caso perde o sentido daquilo que tentamos lhe dizer. Para isso, é necessário diferenciar o nosso sentido desses vários significados. Na prática, os dois se superpõem no discurso do paciente. Isso me parece possível se mantivermos “amor à verdade, sem subterfúgios nem enganações” (Freud, 1937/1964, p. 248). Diminuiremos a probabilidade de nos perdermos em um mar de significados, disfarçado de acordos conscientes – conluios –, em que atacamos nossa percepção para desacordos inconscientes. O fato de que paciente e analista falam português pode nublar o fato de que o paciente sempre diz algo em outra linguagem, que o analista e o próprio paciente não conhecem – das Unheimliche. Se man- tivermos essa postura, penso que poderemos diferenciar a atividade onírica da atividade alucinatória, “tão diferentes como só dois irmãos podem ser” (Yourcenar, 1939/1982). A análise correrá menor risco de ser mais uma ativi- dade alucinatória e automática, alimentando resistências e críticas destrutivas da sociedade circundante.

1Agradeço à dra. Anette Blaya Luz, pelo convite para apresentar uma versão deste estudo em um painel oficial do congresso da Federação Brasileira de Psicanálise (2019), e à sra. Tatiana Borba, bibliotecária da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, pela pesquisa estatís- tica de bibliografia a respeito do tema.

3Bion se refere a Man’s picture of his world (Money-Kyrle, 1961).

4Robert King Merton (1910-2003), pseudônimo de Meyer R. Schkolnick, é considerado o pai da sociologia atual. Foi discípulo de Talcott Parsons, fundador da escola funcionalista, e de George Sarton, fundador da disciplina de história da ciência. Os três contribuíram de modo inaudito, depois de Durkheim, para o surgimento de uma sociologia científica, não limita- da por ideologias, que também são objeto de estudo na disciplina de sociologia da ciência, fundada por Merton. Estudou os papéis sociais desempenhados por indivíduos, incluindo cri- minosos. Os três nunca nutriram preconceitos ideológicos contra a psicanálise; ao contrário, foram gratos à inspiração da obra de Freud para suas próprias disciplinas.

5Uma revisão completa desses termos está em Sandler (2005/2022, pp. 884-935).

6Instinto, em grego: empurrão (Onians, 1951/2000).

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Recebido: 27 de Setembro de 2021; Aceito: 21 de Março de 2022

Paulo Cesar Sandler sandler@uol.com.br

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