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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.56 no.2 São Paulo  2022  Epub 19-Ago-2024

https://doi.org/10.5935/0486-641x.v56n2.18 

Resenhas

Clínica psicanalítica com crianças e adultos

Maria Aparecida A. Cabral1 

Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (sbpsp). Membro do corpo editorial da revista Ide.

1 Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (sbpsp).

Meltzer, Donald; Mélega, Marisa Pelella; Adriatte , Aparecida M.; Blini, Celia; Possato, Cristina; Cabral, Lecy; Cabral, Lecy; Gianesi, Regina; Medina, Vania. Clínica psicanalítica com crianças e adultos. Editora: Blucher, 2021. 424p.


Clínica psicanalítica com crianças e adultos reúne 12 seminários clínicos, cinco de crianças e sete de adultos, ministrados por Donald Meltzer ao longo de cinco anos.

Para compreender sua clínica, é preciso ter como referencial o modelo pós-kleiniano de mente. Influenciado pela obra de Bion, ele aplicou as suas contribuições à clínica no livro Studies in extended metapsychology. Ao longo dos anos, várias foram suas contribuições originais, publicadas em artigos e livros. Entre estes estão Dream life, The apprehension of beauty e The claustrum.

Meltzer trabalhou como analista e supervisor no mundo inteiro, o que lhe ofereceu oportunidades para, a partir de sua clínica, visualizar novas contribuições.

Os encontros registrados no livro resenhado ocorreram com o Grupo Psicanalítico de Barcelona (gpb), que funcionou como um ateliê. Esse era o modo preferido de Meltzer para trabalhar o caso clínico: com a participação espontânea dos presentes, a fim de aprender com a experiência conjunta.

Durante os seminários, Meltzer preferia não conhecer previamente o caso clínico. Além disso, ele trabalhava com a língua inglesa, de modo que um tradutor se fazia presente. Apreciava que o apresentador lesse em espanhol, para ouvir as inflexões da leitura do terapeuta, a fim de imaginar o clima emo- cional da sessão.

No prefácio do livro, reconhece o gpb como um grupo bem organizado, preparado e de bom nível. Os cinco anos com esse grupo foram profícuos. Os membros do gpb sentiram-se gratos a Meltzer pela abertura de espaço para a investigação clínica, pela transmissão de seu entusiasmo, por sua generosida- de e pelo crescimento de seus pacientes. Meltzer, em contrapartida, sentiu-se grato pela oportunidade e pelo estímulo dessa tarefa de investigação clínica, que aconteceu num clima de rigor científico e calor humano, período no qual escreveu, em conjunto com Meg Harris Williams, The apprehension of beauty e The claustrum.

A impressionante capacidade de trabalhar com o gpb favoreceu a conti- nuidade dos estudos e o projeto de publicação. No prefácio à edição brasileira, Marisa Mélega comenta que conheceu o gpb na comemoração dos 80 anos de Meltzer. O gpb promoveu um encontro internacional, ocasião em que ela entrou em contato com o livro editado pelo grupo, que reuniu os seminários clínicos de Meltzer ao longo de vários anos: Clínica psicoanalítica con niños y adultos.

Marisa Mélega havia anos coordenava grupos de estudos na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (sbpsp) a respeito de Donald Meltzer. Os estudos baseados no livro The apprehension of beauty a levaram a organizar um grupo sobre conflito estético, cujos membros se interessaram em conhecer e debater mais profundamente os conceitos do autor. Interessada na publica- ção do gpb, Mélega convidou o grupo para a tarefa de traduzir e assimilar em profundidade os conceitos de Meltzer nos seminários clínicos. A discussão e tradução dos seminários foi a abertura de um novo espaço, que culminou com a publicação da edição brasileira da referida obra.

Marisa Mélega, sempre avant-garde na experiência com crianças e na constante busca por conhecimento, conheceu Donald Meltzer e Martha Harris nos anos 1980. Sua supervisão com ele aconteceu primeiro através de cartas datilografadas e, mais tarde, presencialmente. Isso acarretou a publicação, em 1999, do livro Pós-autismo: uma narrativa psicanalítica, uma importante con- tribuição para a psicanálise.

A leitura dos seminários de Meltzer possibilitou a aproximação, passo a passo, do material clínico da dupla paciente-terapeuta, produzindo uma compreensão profunda dos movimentos transferenciais e contratransferen- ciais e do clima emocional, na busca pelos significados do comportamento do paciente diante das intervenções do terapeuta.

Nos seminários clínicos, Meltzer não fazia supervisão do terapeuta, embora conversasse a respeito. Seu objetivo era entender a estrutura do pa- ciente e as teorizações que poderiam ser feitas. Nesse tipo de investigação emergem compreensões ímpares.

Acompanhar as referências de Meltzer é um deleite. Os desdobramentos das entrelinhas que utiliza em relação ao mundo externo e ao mundo interno, aos mitos e aos sonhos, nos surpreendem e instigam nossa curiosidade.

Meltzer trabalha magnificamente com crianças pequenas e o mundo infantil do adulto. Os seminários abordam temas interessantes, que levam o leitor a uma compreensão mais ampla e profunda da clínica do autor.

Nestas breves linhas, convidamos o leitor brasileiro a conhecer mais de perto a contribuição de Donald Meltzer para a clínica psicanalítica com crian- ças e adultos.

Maria Aparecida A. Cabral cabral-lecy@uol.com.br

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