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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641Xversão On-line ISSN 2175-3601

Rev. bras. psicanál vol.57 no.2 São Paulo  2023  Epub 22-Nov-2024

https://doi.org/10.69904/0486-641x.v57n2.03 

Temáticos

Quem sou eu? De onde vim?: A construção de uma história pessoal por meio da relação analítica

¿Quién soy? ¿De dónde vengo? La construcción de una historia personal a través de la relación analítica

Who am I? Where did I come from? The construction of a personal history through the analytical relationship

Qui suis-je ? D’où viens-je? La construction d’une histoire personnelle par l’intermédiaire de la relation analytique

Gina Khafif Levinzon1 

1Psicanalista. Doutora em psicologia clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Coordenadora do Grupo de Estudos sobre Adoção e Parentalidades da sbpsp. Professora do Curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica Prof. Ryad Simon (Cepsi)


Resumo

A autora discute a importância do conhecimento da própria origem como parte do processo de formação da identidade de pessoas adotadas. A situação de descontinuidade entre o contato com os genitores e a vida no mundo adotivo pode provocar sentimentos de insegurança e estranheza, assim como buracos psíquicos no olhar para si mesmo. Saber da história mais primitiva permite criar elos entre partes essenciais do adotado. A autora considera um caso clínico em que a criança se angustiava muito por não ter nenhuma informação sobre seu passado, e isso resultava num vazio devastador dentro dela. O manejo técnico abriu espaço para ela “sonhar” sua história juntamente com a analista, construindo uma narrativa sobre sua história pessoal e sobre uma parte de si mesma, com grande alívio.

Palavras-chave identidade; adoção; narrativa pessoal; técnica psicanalítica; sonhos

Resumen

La autora analiza la importancia del conocimiento de su origen en las personas adoptadas como parte del proceso de formación de su identidad. La situación de discontinuidad entre el contacto con los padres biológicos y la vida en el mundo adoptivo puede provocar sentimientos de inseguridad y extrañeza, así como agujeros psíquicos en la mirada sobre uno mismo. Conocer su historia más primitiva permite crear vínculos entre partes esenciales del adoptado. La autora discute un caso clínico en el que la niña estaba muy angustiada por no tener ninguna información sobre su pasado, y esto provocaba un vacío devastador en su interior. El manejo clínico realizado le permitió espacio para “soñar” su historia junto con la analista y construir un relato sobre su historia personal y sobre una parte de sí misma, con gran alivio.

Palabras clave identidad; adopción; narrativa personal; técnica psicoanalítica; sueños

Abstract

The author presents the importance of the knowledge of one’s origin as a part of the identity formation process of adopted people. The situation of discontinuity between contact with one’s biologic parents and life in the adoptive world can provoke feelings of insecurity and strangeness, as well as psychic holes in the way one looks at oneself. Knowing the most primitive history allows adoptees to create links between essential parts of themselves. The author discusses a clinical case in which the child was greatly distressed by not having any information about her past, and this resulted in a devastating void within her. The clinical management carried out gave her space to “dream” her history together with the analyst and to construct a narrative about her personal history and about a part of herself, with great relief.

Keywords identity; adoption; personal narrative; psychoanalytic technique; dreams

Résumé

L’autrice traite de l’importance de la connaissance de leurs origines chez les personnes adoptées, en tant qu’élément du processus de formation de leur identité. La situation de discontinuité entre le contact avec les parentes biologiques et la vie dans le monde adoptif peut provoquer des sentiments d’insécurité et d’étrangeté, ainsi que des trous psychiques dans le regard porté sur soi. La connaissance de son histoire la plus primitive permet de créer des liens entre des parties essentielles de l’adopté. L’autrice discute un cas clinique dans lequel l’enfant était très angoissée de n’avoir aucune information sur son passé, ce qui a provoqué un vide dévastateur au-dedans d’elle. La prise en charge clinique effectuée, lui a permis de « rêver » son histoire avec l’analyste et de construire un récit sur son histoire personnelle et sur une partie d’elle-même, avec un grand soulagement.

Mots-clés identité; adoption; récit personnel; technique psychanalytique; rêves

Uma das perguntas mais importantes na constituição do ser humano é “Quem sou eu?”. A construção da identidade de uma pessoa depende de uma série de fatores, que começam na história primitiva dela e que vão sofrendo acréscimos e modificações ao longo da vida. As características pessoais, o desenvolvimento emocional, os diversos vínculos significativos, o registro consciente e inconsciente de sua história, a qualidade das relações familiares, a inclusão numa comunidade, tudo isso é uma mostra do que está implicado no sentimento de identidade pessoal. Segundo Bettelheim (1988), são necessários anos de vida e experiência antes que os primeiros indícios de uma disposição futura comecem a emergir como contornos de uma personalidade, e muitos outros passarão antes que um caráter tenha sido completa e seguramente desenvolvido.

Está presente no sentimento de identidade o que se refere ao campo do intersubjetivo, como explica Kaës (1998), no espaço e no tempo da geração, do familiar e do grupai. Uma transmissão psíquica atravessa gerações – parte consciente, parte inconsciente – e influencia o que será o sujeito, a noção e os sentimentos que ele terá acerca da própria pessoa. Em alguns casos, essa transmissão se apresenta carregada de elementos que poderíamos chamar de tóxicos ao indivíduo e aos seus relacionamentos, não só naquilo que falha e falta, mas também na ausência de inscrição e representação (Kaës, 2001). É possível dizer que muito do que se passa no campo da patologia refere-se a sentimentos e emoções que não puderam ser simbolizados ou compreendidos. Eles funcionam como conteúdos emocionais mal digeridos, os elementos beta descritos por Bion (1962/1966). São constituídos por impressões sensoriais e experiências emocionais não transformadas e simbolizadas, que são expulsas, evacuadas ou expressas concretamente através de sensações corporais. No início do desenvolvimento do bebê, a mãe o auxilia, com sua intuição e sua própria capacidade para pensar (função alfa), a transformá-las em algo que pode ser simbolizado, em sonhos, palavras e pensamentos (elementos alfa). Se há uma impossibilidade de que esse processo aconteça de forma adequada, podem resultar daí perturbações psíquicas importantes na criança. Trachtenberg (2012) ressalta que lutos e traumas mal elaborados, segredos, histórias de violência, vazios, migrações podem estar na gênese de transmissões que invadem violentamente o psiquismo, numa passagem direta de formações psíquicas de um sujeito a outro. Nesses casos, não há preservação dos espaços ou das bordas da subjetividade.

A formação da identidade no campo da adoção

A história de uma adoção começa por um trauma para a criança, de maiores ou menores proporções, dependendo das condições em que se deu a separação em relação aos genitores. Do ponto de vista da criança, aconteceu uma ruptura num elo primário sem que houvesse uma explicação que ela conseguisse absorver no momento. As marcas nela do abandono e do desamparo podem estar gravadas em seu psiquismo como uma cicatriz indelével, ou até como uma ferida narcísica com dimensões dramáticas (Levinzon, 1999, 2004). Isso vai depender do que Freud (1916-1917/1980a) descreveu como séries complementares,2 que correspondem à inter-relação entre a constituição genética da criança e a adequação de seu ambiente.

De modo geral, há um intervalo de tempo numa instituição para menores até que a adoção se complete legalmente. Esse período pode ser longo demais, expondo a criança a uma situação de anonimato quando precisaria de cuidados especiais. Ladvocat (2014) enfatiza a necessidade de considerar a biografia pré-adotiva na vida da criança adotada para compreender seu panorama afetivo. Ressalta que o afastamento da mãe é uma das experiências mais dolorosas que existem. Por outro lado, o sentimento de vazio na perda do vínculo materno e a recuperação dos traumas do abandono podem ser preenchidos por uma mãe substituta. Os pais que adotam, por sua vez, passam por um processo laborioso até que a adoção seja levada a termo. As motivações para adotar são variadas, mas na maioria das vezes envolvem questões de infertilidade de um ou de ambos os cônjuges. Vemos que nem sempre estão suficientemente preparados para receber e lidar com uma criança que lhes chega com um passado do qual não fizeram parte. Seus sentimentos e expectativas têm influência determinante na formação da personalidade do filho. A aquisição e o fortalecimento do sentimento de filiação devem se sobrepor à descontinuidade biológica. Criar uma criança que “não veio deles” implica lidar com as diferenças, muitas vezes físicas, de raça, de personalidade, sem olhá-las de modo pejorativo ou associá-las a uma “herança indesejada” deixada por seus genitores, as chamadas fantasias do mau sangue (Levinzon, 2014).

A criança adotada tem dois casais de pais como modelo de identificação: os biológicos e os adotivos.3 A indagação “Quem sou eu?” traz consigo uma investigação por vezes bastante angustiante. Wieder (1977) observa que o termo mãe real fica confuso. Quem seria a mãe real: a adotiva ou a biológica? E ela, criança adotiva, seria real? O autor sublinha que dificuldades no estabelecimento de um sentimento de identidade são comuns em crianças adotivas e emergem principalmente na adolescência. Algumas vezes, o jovem inicia a procura por seus pais biológicos na tentativa de compreender o que se passou e de resgatar uma parte obscura de si mesmo. Como aponta Figueiredo (2007), para compreender que sua vida tem um sentido e pode vir a fazer sentido, é preciso que a pessoa dê forma, sequência e inteligibilidade aos acontecimentos vividos por ela. Sorosky et al. (1975) afirmam que, em jovens adotados, são comuns comportamentos de isolamento e alienação, decorrentes de sentimentos existenciais associados à quebra na continuidade da vida através de gerações.

Para Winnicott, o adotado sempre terá de lidar com o fato de que os pais que o conceberam são desconhecidos e inatingíveis, e que “seu relacionamento real com os pais adotivos não pode atingir os níveis extremamente primitivos da sua capacidade de relacionar-se” (1953/1997b, p. 116). Por isso, algumas crianças adotadas crescem com uma necessidade extrema de pesquisar a questão de sua origem, até finalmente encontrarem um ou ambos os genitores. Lisondo (2014) ressalta que os traumas vividos pelo bebê durante a gestação e o parto, a possibilidade de conquistar um nome ou de viver sem ele, a história de segredos e mentiras, assim como a vida psíquica empobrecida nas instituições, potencializam os buracos existenciais da criança adotada.

Conhecer a própria história: de onde vim?

Ser informado sobre sua condição de adoção é direito e necessidade de todas as pessoas adotadas. Mesmo que não conscientemente, as crianças têm um registro da descontinuidade biológica, das rupturas nos elos familiares, e precisam que isso seja nomeado. Aos poucos, à medida que estão prontas para avançar nesse conhecimento, podem ter acesso a mais detalhes. Esse é um processo de elaboração que pode durar toda a vida. A cada momento, novos lados aparecerão para serem explorados.

Weber e Pereira (2014) enfatizam que conversar com a criança sobre a origem nos primeiros anos de vida contribui para diminuir os conflitos relacionados à adoção e fortalece a construção de uma boa autoestima. Levy (2014) observa que as histórias contadas por pessoas significativas na vida de uma criança são narrativas que a situam no tempo e no espaço e ajudam a construir sua identidade. Escutar histórias sobre sua origem permite se apropriar de um discurso fundador e manter um sentimento de continuidade com o passado. Para a maioria dos pais adotivos, esse é um tema perturbador, visto que envolve anunciar que, entre eles e a criança, há um mundo do qual não fazem parte. Além disso, temem provocar sofrimento nos filhos ao tocar em elementos de dor, separação, abandono, pobreza e impotência.

À pergunta “De onde vim?”, somam-se várias outras: “Por que minha mãe não ficou comigo?”, “Não fui amado?”, “Sou o causador da separação?”, “Matei minha mãe com meu nascimento?”, “Quem são meus pais?”, “O que aconteceu?”. Para o adotado, há um campo cheio de lacunas incompreensíveis. Por outro lado, essa investigação permite que ele construa um sentimento de identidade de forma sólida, com base na realidade. Quando tudo corre bem, a dor é contrabalançada pela estabilidade e harmonia do lar adotivo. Ao explorar sua história e seus sentimentos, a criança fica livre para explorar o mundo (Levinzon, 2015). Sabemos que a capacidade de buscar conhecimento, a função K descrita por Bion (1962/1966), é uma medida de saúde psíquica.4 Ela depende tanto da disposição hereditária do sujeito quanto da relação com a mãe. Se essa última for capaz de se conectar e sonhar com seu bebê (capacidade de reverie da mãe), poderá receber a projeção de suas angústias e sentimentos, filtrá-los, contê-los, discriminá-los e devolvê-los à criança de modo que ela possa utilizá-los de maneira saudável. Quando isso não acontece de forma suficiente, a angústia projetada na mãe pode ser novamente introjetada pela criança como um terror sem nome. O resultado pode ser uma dificuldade em pesquisar e ter contato com o outro e consigo mesmo. Ao discutir as ideias de Bion, Zimerman (2008) ressalta que os vínculos amor (L), ódio (H) e conhecimento (K) estão intimamente indissociados entre si e dependem tanto da disposição hereditária de cada criança como – e principalmente – da capacidade de reverie da mãe. No trecho a seguir, esse autor esclarece como se desenvolve a função K da personalidade:

Se a capacidade de reverie da mãe for adequada e suficiente, a criança terá condições de fazer uma aprendizagem com as experiências das realizações positivas e negativas impostas pelas privações e frustrações. Nesse caso, desenvolve uma função K, que possibilita enfrentar novos desafios em um círculo benéfico de aprender com as experiências, à medida que introjeta a função K da mãe. Caso contrário, se a capacidade de reverie da mãe para conter a angústia da criancinha for insuficiente, as projeções que tenta depositar na mãe são obrigadas a retornar a ela sob a forma de um “terror sem nome”, o qual gera mais angústia e ódio, que não consegue ser depositado em um continente acolhedor e, assim, retorna à própria criança, estabelecendo-se um círculo vicioso maligno que impede a introjeção de uma função K. Assim, em vez de K, forma-se um vínculo -K (a mãe é predominantemente reintrojetada pela criança como uma pessoa que a despoja invejosamente dos seus elementos valiosos e a obriga a ficar com os maus) ou um “não K” (nos casos mais extremos, em que a mãe externa não contém e não dá significado, sentido e nome às identificações projetivas do bebê). (2008, p. 158)

Zimerman esclarece ainda que

a função K não se refere à posse de um conhecimento ou saber, mas, sim, a um enfrentamento do não saber, de modo que o saber resulta da difícil tarefa de se fazer des-cobrimentos (“retirada das cobertas” que vedam as verdades previamente conhecidas) e de um aprendizado com as experiências. (2004, p. 402)

Para Lifton (1994), sem informação concreta sobre as circunstâncias de seu nascimento, o adotado sente como se não tivesse nascido. Essa autora levanta questões importantes: o bebê na barriga sabe que vai ser abandonado? Do que ele se lembra? Nem só em fatos, no entanto, apoia-se a necessidade de explorar sua origem. Ele também fantasia o que pode ter ocorrido, de onde pode ter vindo, em que condições a separação em relação aos genitores se deu. O romance familiar descrito por Freud (1909/1980c), que diz respeito à fantasia universal de ser adotado, apresenta uma configuração especial no campo da adoção. A criança pode imaginar um cenário positivo, no qual foi desejada pelos progenitores, que não queriam se separar dela. Pode ainda imaginar o contrário, um cenário em que eles eram criminosos e perigosos. As fantasias de ser roubado também podem encontrar espaço para se manifestar consciente ou inconscientemente. Schettini Filho (2014) afirma que há um aspecto sutil na dor da adoção que é a dúvida ou o desconhecimento da semelhança corporal ou psíquica com os pais de origem. O adotado se depara com uma busca semelhante à construção de um retrato falado, “com o agravante de que nada lhe é dito para que dê os primeiros traços com satisfação e segurança” (p. 385). As configurações da imagem corporal dos pais de origem, no entanto, permanecem flutuantes e indefinidas, e a fantasia pode não abarcar a busca pelo conhecimento, mesmo que imaginado. Schettini Filho observa com propriedade que a dor da indefinição é mais intensa do que a dor da definição indesejada.

Em certos indivíduos adotados há uma impossibilidade concreta de encontrar quaisquer fatos relativos à sua história de origem, e ao mesmo tempo não há espaço psíquico para a criação de fantasias, apenas um vazio desolador. A seguir, apresentarei um caso clínico em que havia essa configuração e discutirei o manejo técnico realizado.

Valentina: o vazio devastador

Valentina foi deixada recém-nascida em frente a uma instituição, sem que se tenha podido identificar qualquer traço sobre quem a deixou ou alguma possível família. Permaneceu num abrigo até os 10 meses de idade, quando foi adotada. Os pais não esperavam sua chegada. Estavam no cadastro de adoção fazia tempo, e naquele momento se deparavam com problemas financeiros graves no negócio em que trabalhavam juntos. Tiveram que resolver com muita rapidez se aceitariam aquela criança. A mãe, muito angustiada com a situação em que a família estava, ficou inicialmente em dúvida. Com o tempo, a relação entre ela e a filha foi se estreitando cada vez mais. Desde cedo a criança soube que era adotada. Havia uma diferença racial entre ela e os pais. Eles tinham origem europeia: eram loiros de olhos azuis. Valentina tinha os olhos puxados, denotando traços asiáticos. Isso a incomodava. Sentia-se diferente. Para os pais, a diferença física não era um problema, mas eles frequentavam lugares onde predominavam pessoas da mesma origem. Ser filha única também não agradava a menina. Sentia-se só.

Os pais me procuraram para atendimento quando ela tinha 10 anos. No dia anterior à nossa primeira sessão, houve um crise entre Valentina e os pais: ela chorava compulsivamente e dizia que queria saber o nome de sua genitora. Os pais não tinham essa informação (ninguém tinha) e não podiam satisfazê-la. Ela lhes disse que se sentia um et, diferente de todos. Quando nos encontramos e perguntei por que estava ali, Valentina me disse que era porque queria saber de sua origem. Não sabia nada e não tinha a mínima ideia do que havia acontecido com ela. No decorrer dos atendimentos, no entanto, negava-se a falar desse assunto. Dizia que era algo que a machucava e que era melhor não tocar nisso. Não falava sobre si, sobre seus sentimentos ou dúvidas. Conversávamos muito acerca de seus jogos de handebol, de como estava o campeonato, de seu desejo de vencer. Seu interesse se concentrava nas atividades competitivas que utilizavam o corpo. Os temas dessas brincadeiras referiam-se principalmente a uma busca de valorização por meio da vitória nas competições.

Não havia espaço para falar do tema da adoção, mas indagações me vinham à cabeça. Ela foi deixada recém-nascida na porta de uma instituição. O que teria acontecido? Certamente a mãe que a deixou queria que ela tivesse cuidados, mas não podia se expor. A história de Valentina começou com um mistério, que iria acompanhá-la por toda a vida. Era um buraco que a atormentava. Eu também pensava: Valentina foi adotada com 10 meses; como foi estar em um abrigo, viver entre muitas crianças e poucos atendentes, sem o olhar especial de pais implicados profundamente com a filha? Aqui ecoavam as palavras de Winnicott (1954/1997a), que ressalta a importância no psiquismo da criança sobre o que aconteceu antes da adoção. Outro ponto significativo era que os pais adotivos não estavam preparados para recebê-la. Sua atenção estava fixada nos graves problemas financeiros. A ambivalência inicial da mãe em recebê-la seguramente causava efeitos perturbadores. Será que ela tinha podido “sonhar” com esse bebê? Havia ainda a diferença étnica entre os pais e a filha. A discrepância na aparência denotava a descontinuidade genética, o buraco na origem. Valentina sentia-se um et. A identificação com os pais ficava dificultada com essas diferenças. E ao pensar em transmissão psíquica entre gerações, o que dizer sobre seus antecessores? Pais genéticos completamente desconhecidos, uma herança marcada pelo mistério assombrador. Do lado dos pais adotivos, havia costumes e valores com os quais Valentina se identificava, mas que não eram suficientes para dar-lhe um sentimento mais firme de pertencimento. Nas sessões, Valentina se fixava nos exercícios corporais, que eram o que conhecia bem. O corpo era um meio de expressão possível. As competições aconteciam de modo vivo, respeitoso. Ela me mostrava sua vitalidade e o apreço pela nossa ligação, e ao mesmo tempo procurava me proteger da força de sua instintividade.

Seis meses após o início de nosso trabalho, na volta das férias, perguntei a Valentina como tinha sido esse período, e ela disse que foi muito chato porque teve de ler um livro para a escola. Perguntei-lhe a história, e era de uma menina que tinha sido entregue a outras pessoas para ser cuidada, que por sua vez a deixaram com outras, e por fim ficou com um casal. Quando observei “Essa é uma história de adoção!”, ela me olhou surpresa. Não tinha se dado conta disso. Aproveitei o momento para tocar nesse assunto. Pergunteilhe o que imaginava sobre sua adoção, e ela disse que não imaginava nada. Nada vinha à sua cabeça. Comentei que sua história também “era bem chata”, porque tocava em pontos dolorosos. Ela me olhava interessada, mas havia um vazio, nada lhe ocorria sobre isso. Ao fim da sessão, propôs a brincadeira de cabra-cega, em que um põe uma venda e tem que procurar o outro. Na sua vez de me procurar, ficou bastante angustiada em não me achar. Eu lhe disse que era muito angustiante perder alguém e não o encontrar. Penso que havia também uma referência à nossa separação em função das férias, que se entrelaçava com as marcas profundas de uma história que carecia de um sentido. Dizer-lhe isso, no entanto, não encontrava ressonância, embora a brincadeira de cabra-cega já estivesse mostrando o início de uma representação da perda do objeto. A imagem que me surgia era de fios que não se ligam, de elos rompidos, do bloqueio de uma parte importante de si mesmo.

Valentina continuou brincando de cabra-cega por algum tempo, mas logo voltou às brincadeiras competitivas. Parecia que, de alguma forma, esse assunto estava esgotado pelo momento. Cerca de três meses depois, ela teve outra crise com os pais. Ao me falar sobre isso, chorava de modo compulsivo, afirmando que não gostaria mais de vir à terapia. Disse que queria pelo menos saber o nome da genitora. Só isso já seria suficiente. Ressaltou que eu não poderia dar-lhe as informações que tanto queria, e assim não adiantava nada vir à terapia. Eu soube, nessa ocasião, que em alguns meses a família se mudaria para o sul do país, onde os pais tinham parentes que poderiam ajudá-los financeiramente.

Na sessão seguinte, Valentina e eu conversamos a respeito do que ela sentia. Ela se queixou de novo. Enfatizou que eu não podia lhe dizer nada a respeito do que queria saber. Quando eu tentava explorar esse tema na sessão, ela dizia que não tinha a mínima ideia do que havia acontecido no começo de sua vida. Um sentimento de urgência marcava o seu tom. A terapia teria que ser interrompida em função de sua mudança para outro lugar, mas o que ela buscava desde o começo não havia sido alcançado no nosso trabalho. Estava claro que Valentina sentia ter um buraco dentro dela e imaginava que só o preencheria com informações sobre sua ligação com a mãe biológica. O que me parecia mais angustiante era sua impossibilidade de fazer fantasias sobre o que tinha acontecido. Certamente a interrupção de nosso atendimento com a mudança da família influenciava essa resistência às sessões, mas entendi que havia uma necessidade premente de tocar em algo que não tinha sido suficientemente elaborado. Na verdade, para ela, desde o começo da terapia era esse o objetivo a ser alcançado. Pensei muito a respeito. Coloquei-me no seu lugar. Como se sentia uma pessoa que tinha um lapso importante em sua linha de vida? O que teria acontecido? Seriam seus genitores muito pobres? Mas por que deixá-la sem nenhuma referência? Teria a mãe vergonha por não poder cuidar dela? Sentia-se culpada por isso? Ela poderia ter sido sequestrada? Seria sua genitora uma pessoa muito jovem? Talvez um caso de adultério? Considerei o quanto era terrível pensar que nunca haveria uma resposta para isso. Mas será que essa afirmação podia ser feita de fato?

Houve um período em que começamos a falar de desaparecimentos por meio da brincadeira de cabra-cega, mas isso logo cessou. Era necessário encontrar outros caminhos a partir do trabalho analítico. As palavras de Antonino Ferro vinham à minha mente: “O paciente é o melhor colega com o qual podem ser construídos percursos imprevisíveis” (1998, p. 61). Valentina precisava ser escutada. Para mim estava claro que a história que ela tanto pedia não era necessariamente a história factual de sua origem; poderia ser uma história que ela fosse capaz de imaginar, como eu própria estava fazendo. Ela procurava uma mãe com quem sonhar, uma figura materna desaparecida, faltante. Considerei que já que ela não conseguia imaginar uma história, poderíamos juntas “sonhar” histórias possíveis, com as quais ela pudesse se fazer acompanhar.

Na sessão seguinte, retomamos o assunto. Eu lhe disse que compreendia o sofrimento que ela tinha me comunicado. Acrescentei que não poderíamos dizer que nunca mais ela iria encontrar a mãe biológica ou ter notícia dela. Quem sabe? E se ela aparecesse em algum momento procurando a filha perdida? E se no futuro fossem inventados métodos inovadores de busca? Não sabíamos o que ia acontecer no futuro. Poderia haver esperança. Enfatizei que precisávamos conversar muito sobre histórias de adoção, que lhe dariam alternativas para imaginar sua história. Ofereci-lhe algumas. Poderíamos ler um livro com muitas histórias de adoção. Ela poderia conversar com alguma pessoa que também tinha sido adotada. Outra opção seria, juntas, assistir a filmes sobre o tema da adoção. Ela preferiu essa última alternativa, e então começamos a assistir ao filme Juno (Reitman, 2007) durante as sessões. Escolhi esse filme porque ele trata de uma mãe biológica, no caso uma adolescente, que resolve doar o filho e seleciona os pais adotivos. Acompanhamos toda a trajetória da jovem, desde que descobriu que estava grávida e pensou em abortar o filho. Ela desistiu, entrevistou pessoas para serem os pais da criança, e por fim continuou sua relação com o pai biológico, um namoradinho também adolescente. Assistíamos a um trecho do filme e então comentávamos a história. Em seguida passávamos a outro trecho. Valentina estava muito interessada e participante. Ao término do filme não quis mais conversar sobre o assunto. Pediu-me que jogássemos tênis de mesa. Disse que fazia tempo que não jogávamos. O fim de nossa análise estava chegando, com a mudança de sua família.

Numa das últimas sessões, eu disse a Valentina que não queria jogar handebol, que poderíamos fazer qualquer outra coisa. Ela escolheu desenhar. Fez alguns desenhos representando jogos de handebol. Em certo momento, disse: “Não sei mais o que fazer. Me dá um tema”. Nesse momento, ocorreu-me que ela pedia ajuda para buscar dentro de si um dos temas que mais a perturbavam e que tinha estado debaixo de um bloqueio profundo. Sugeri: “Adoção?”. Valentina desenhou então, rapidamente, uma moça grávida. Pedilhe que me contasse uma história sobre seu desenho.

VALENTINA: Era uma menina que teve um filho muito cedo e não tinha como cuidar dele, porque ela era muito moça e não tinha dinheiro. E aí ela teve que botar a criança para adoção. Essa criança foi adotada por pais com condição de cuidar.

ANALISTA: E o que aconteceu com ela depois?

VALENTINA: Não sei. O filho cresceu e teve bons pais.

ANALISTA: Você acha que essa história tem a ver com você?

VALENTINA: Acho que essa pode ser a minha história, igual à de Juno.

Como afirma Ogden (2010), o indivíduo que é incapaz de sonhar sua experiência emocional, ou seja, que é incapaz de elaboração psicológica inconsciente, não consegue mudar, crescer, se desenvolver. O estado psíquico decorrente da impossibilidade de sonhar é comparado por esse autor a terrores noturnos e pesadelos, como acúmulo de elementos beta não processados. Aterrorizado, o indivíduo assume um estado de imobilidade e rigidez psíquica. Nesses casos, o objetivo do processo analítico é gerar condições para a pessoa “sonhar seus sonhos não sonhados e sonhos interrompidos” (p. 18). Para isso, é necessária a presença da mente de outra pessoa, o analista, assim como o bebê necessita da mãe que lhe dá continência e capacidade de filtrar suas emoções.

Ao explorarmos histórias de adoção, pudemos abrir portas para a possibilidade de Valentina sonhar. O filme Juno se encaixou no que ela procurava naquele momento. Era a história de uma mãe biológica que doava um filho. Essa mãe tinha um rosto, um nome. Ela se preocupava em escolher bem para quem seu filho seria destinado, como um gesto de amor pela criança. Era uma mãe adolescente, uma menina, e por isso não poderia cuidar da criança. Esse era um modelo possível de ser sonhado. Ela não quis ver outros filmes, outras histórias. Naquele momento aquela lhe bastava. A mãe faltante foi encontrada na transferência, através de nossa possibilidade de sonhar juntas. Em cada trecho do filme, íamos comentando o que se passava, colocando em palavras os fatos e as emoções. Esse elo estava sendo formado no nosso contato, com a experiência de uma figura materna presente na dupla analítica, sintonizada com suas necessidades, com espaço aberto para o sonho a dois que não ocorreu no início de sua vida.

Seu último desenho me emocionou. De seu jeito, Valentina me contou que levava com ela o sonho tão esperado. Muito ainda havia a ser feito no que se referia à terapia, mas ela saía com algo precioso, que tanto tinha almejado. Agora podia pelo menos imaginar uma história, aquela que construímos juntas nas nossas sessões.

Quem sou eu? De onde vim? Fatos, vivências, fantasias

Conhecer suas origens é um fator importante na construção da identidade da pessoa adotada. Ao ter informações sobre sua família biológica, sua cultura de origem e sua história pessoal, a pessoa adotada pode se sentir mais segura e confiante em relação à própria identidade, compreendendo melhor sua história e suas raízes.

Cabe ressaltar, no entanto, que o processo de construção da identidade do adotado também é influenciado pelas suas relações familiares, pelas experiências vividas, pelas escolhas pessoais e pelos valores que ele atribui à própria história. A construção de uma narrativa pessoal sobre sua origem, como aconteceu com Valentina por meio da relação analítica, é parte da construção progressiva de seu sentimento de identidade. Segundo McAdams, Josselson e Lieblich (2006), as pessoas dão sentido à sua vida ao construir e internalizar histórias que as definam. Juno, a personagem do filme a que assistimos nas sessões, imaginariamente tornou-se não só parte da história da paciente, mas um pedaço de si mesma – o objeto perdido e reencontrado. Ela podia então se descrever como a filha de uma moça adolescente que engravidou e não pôde cuidar dela, mas que teve todo um cuidado em deixá-la para ser criada por uma família adotiva. O bebê abandonado vindo do nada não era mais a tônica primordial do olhar para si mesma. Havia agora uma criança resgatada, que tinha importância, especialmente pelo que estava sendo vivido no processo de análise.

A experiência com Valentina e com outras pessoas adotadas mostra que a construção de sua identidade é profundamente influenciada pela vivência da passagem da família biológica para a família adotiva. Essa vivência se configura como um trauma, maior ou menor dependendo de como se deu, do que aconteceu antes da adoção e de como foi o relacionamento posterior com a família adotiva. Para o adotado, pesquisar sua origem representa uma possibilidade de elaborar esse universo de emoções e de se situar melhor dentro de si e no mundo em que vive. As fantasias sobre de onde veio colorem o psiquismo da pessoa adotada e são confirmadas ou expandidas com o conhecimento que vai sendo adquirido. Fatos se entrelaçam com sensações que são nomeadas, com sonhos que são reformulados a cada momento. Eles permitem que a pessoa não seja sugada pelo trauma. Essa é a base da saúde psíquica.

O trabalho psicanalítico, espaço privilegiado de busca do conhecimento e de vivência de sintonia a dois, permite que haja um novo processo de adoção simbólica. Não são adquiridas informações factuais da história do indivíduo. Esta é construída em conjunto, como mostra Freud em “Construções em análise” (1937/1980b). Esse processo possibilita que, aos poucos, se faça uma inscrição simbólica do que foi vivido e sa é a verdadeira adoção.

2A expressão séries complementares foi utilizada por Freud para explicar a etiologia da neurose, cujo desencadeamento envolve tanto fatores exógenos quanto endógenos. Tais fatores são complementares e variam de pessoa para pessoa (Laplanche & Pontalis, 1967/1988). Segundo Freud, “quanto à sua causação, os casos de doença neurótica enquadram-se numa série, dentro da qual dois fatores – constituição sexual e experiência, ou se preferirem, fixação da libido e frustração – estão representados de tal modo que, quando um dos fatores é mais forte, o outro é menos” (1916-1917/1980a, p. 406).

3Atualmente, com a adoção por pessoas solteiras, pode também acontecer que não haja um casal adotivo.

4Na p. 116, item 12, do livro Os elementos da psicanálise (1962/1966), Bion se refere à função S (tradução de K, que vem de knowledge, conhecimento) como “função de aprender.”

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Recebido: 28 de Fevereiro de 2023; Aceito: 03 de Maio de 2023

Gina Khafif Levinzon ginalevinzon@gmail.com

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