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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.57 no.4 São Paulo  2023  Epub 04-Nov-2024

https://doi.org/10.69904/0486-641x.v57n4.04 

Temáticos

Ciências, psicanálise e evidências1

Ciencias, psicoanálisis y evidencias

Sciences, psychoanalysis and evidence

Sciences, psychanalyse et évidences

Rogerio Lerner2 

2Professor associado (livre-docente) do Instituto de Psicologia e professor subsidiário do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), São Paulo. rogerlerner@usp.br


Resumo

Por mais de 20 anos, Freud executou um rigoroso trabalho neurocientífico. Neste artigo, o autor discute algumas consequências: 1) o fornecimento de diretrizes para concepções do psiquismo que seguiram constantes na psicanálise, influenciando a psicopatologia e a terapêutica; 2) sua articulação com o que a psicanálise tem de específico, compondo um conjunto de conhecimentos central para a experiência humana, eficiente para o endereçamento de questões oriundas de campos científicos diversos; 3) a avaliação constante da pertinência de hipóteses por meio de evidências de manifestações do funcionamento dinâmico das emoções, em processos de graus variados de extensão representacional, de memória, de qualidade de transformação de experiências intrapsíquicas e intersubjetivas e de linguagem. Assim, a psicanálise faz parte das ciências, e diversos neurocientistas contemporâneos deixam clara a importância das contribuições de Freud para o que têm pesquisado, com a psicanálise ensejando formulações clínicas eficazes em ensaios clínicos randomizados controlados com cegamento e tratamento estatístico de dados.

Palavras-chave: ciências; psicanálise; evidências; epistemologia; neurociências

Resumen

Durante más de 20 años, Freud realizó un riguroso trabajo neurocientífico. En este artículo, el autor analiza algunas consecuencias: 1) la provisión de pautas para las concepciones de la psique que se mantuvieron constantes en el psicoanálisis, influyendo en la psicopatología y la terapia; 2) su articulación con lo específico del psicoanálisis, configurando un conjunto de conocimientos centrales para la experiencia humana, eficientes para abordar cuestiones que surgen de diferentes campos científicos; 3) la evaluación constante de la relevancia de las hipótesis a través de evidencia de manifestaciones del funcionamiento dinámico de las emociones, en procesos de diversos grados de extensión representacional, memoria, calidad de transformación de experiencias intrapsíquicas e intersubjetivas y lenguaje. Así, el psicoanálisis es parte de las ciencias, y varios neurocientíficos contemporáneos dejan clara la importancia de los aportes de Freud a lo que han investigado, con el psicoanálisis llevando a formulaciones clínicas efectivas en ensayos clínicos controlados aleatorizados con cegamiento y tratamiento estadístico de datos.

Palabras clave: ciencia; psicoanálisis; evidencias; epistemología; neurociencia

Abstract

For more than 20 years, Freud performed rigorous neuroscientific work. In this article, the author discusses some of its consequences: 1) provision of guidelines for conceptions of the psyche that remained constant in psychoanalysis, influencing psychopathology and therapy; 2) its articulation with what is specific to psychoanalysis, making up a set of knowledge central to human experience, efficient in addressing questions arising from different scientific fields; 3) constant assessment of the relevance of hypotheses through evidence of manifestations of the dynamic functioning of emotions, in processes of varying degrees of representational extension, memory, quality of transformation of intrapsychic and intersubjective experiences and language. Thus, psychoanalysis is part of the sciences, and several contemporary neuroscientists make clear the importance of Freud’s contributions to what they have been researching, with psychoanalysis providing effective clinical propositions in randomized controlled clinical trials with blinding method and statistical data treatment.

Keywords: science; psychoanalysis; evidence; epistemology; neuroscience

Résumé

Pendant plus de 20 ans, Freud a mené un travail neuroscientifique rigoureux. Dans cet article, l’auteur discute quelques conséquences de cela : 1) la fourniture de lignes directrices pour des conceptions de la psyché qui sont restées constantes en psychanalyse, influençant la psychopathologie et la thérapie ; 2) son articulation avec la spécificité de la psychanalyse, constituant un ensemble de connaissances centrales pour l’expérience humaine, efficaces pour aborder des questions issues de différents domaines scientifiques ; 3) l’évaluation constante de la pertinence des hypothèses à travers la mise en évidence de manifestations du fonctionnement dynamique des émotions, dans des processus de divers degrés d’extension représentationnelle, de mémoire, de qualité de transformation des expériences intrapsychiques et intersubjectives et de langage. Ainsi, la psychanalyse fait partie des sciences, et plusieurs neuroscientifiques contemporains soulignent l’importance des contributions de Freud à leurs recherches, la psychanalyse fournissant des formulations cliniques efficaces dans le cadre d’essais cliniques contrôlés randomisés en aveugle et traitement statistique des données.

Mots-clés: science; psychanalyse; évidences; épistémologie; neurosciences

Ciências e psicanálise são produções culturais que, como outras, têm consequências de profundo impacto na vida das pessoas, tanto individual quanto coletivamente. Ciências e psicanálise seguem causando transformações na cultura, na medida em que engendram, cada uma com suas contribuições específicas e empregando métodos próprios, interrogações e proposições a respeito do que nos importa. A noção de método aqui em uso pode ser enunciada como um subconjunto teórico que operacionaliza uma investigação a partir do encadeamento coerente entre três âmbitos: a construção do que se dá a conhecer, as perguntas que lhe são dirigidas e as formas de buscar respondê-las (Ahumada, 2023).

Ciências e psicanálise interrogam-se mutuamente desde sempre. Trata- -se, em profundidade, de suspender juízos, de forma a pôr constantemente em xeque e levar a limites a construção representacional, que é o máximo de que conseguimos dispor para tentar compreender o mundo, a natureza e a nós mesmos. Sempre precariamente.

O processo de interrogação tem sua dramaticidade incrementada ainda por outras razões. Uma delas é que construções representacionais da realidade, por mais limitadas e precárias que sejam, são frequentemente empunhadas como armas, arrogando-se superiores a todas as demais. Nesse caso, a interrogação dá lugar a uma luta pelo poder de pretender esgotar a realidade.

O produto é uma aplicação colonizadora de um campo sobre outro, procurando fazer do colonizado uma versão precarizada do triunfante. A precariedade inerente ao conhecimento é diferente do ataque que tenta torná-lo versão precarizada de outro. No caso da colonização, não se contém a tensão entre diferentes campos e se desencadeiam os elementos: o que se busca conhecer, as perguntas erigidas e as formas de buscar respondê-las. Em outras palavras, é uma improcedência metodológica tanto com o campo colonizador quanto com o colonizado.

A tensão entre campos precisa ser contida para que seja possível alguma articulação entre pontos na fronteira de áreas distintas do conhecimento, sem que se percam suas condições originais de estabelecimento da verdade; para ensejar uma expansão do conhecimento para além do que os campos até então permitiam e, eventualmente, a criação de campos novos sob condições que são necessárias para uma afirmação ser válida, ou seja, existir um método.

Tal processo diz respeito a interrogações feitas entre quaisquer campos ou entre diferentes correntes dentro de um campo (Lerner, 2023b).

Ciências precedem a psicanálise, que lhes é tributária. Freud e vários colaboradores, psicanalistas e não psicanalistas, construíram a psicanálise a partir de conhecimentos científicos de diferentes naturezas epistemológicas e metodológicas. O que se construiu de especificamente psicanalítico se distingue de sua fonte originária, é por ela influenciado, e a mirada retrospectiva acaba por ocluir a origem de alguns desses campos, sua importância, sua influência e algumas de suas consequências.

Estou usando a palavra ciências no plural. Diferentes sociedades em distintos momentos históricos levantam perguntas de naturezas diversas, utilizando o conhecimento que têm como forma de buscar respondê-las. Não há uma forma universal de buscar responder a questões de diferentes naturezas e oriundas de distintos panoramas representacionais. Portanto, o que há são ciências, e a psicanálise tem se prestado a contribuir com matizes epistemológicos variados, com métodos e critérios de validação próprios.

A princípio, cabe uma muito breve e necessariamente incompleta ilustração de contribuições da psicanálise para diferentes ciências e áreas do conhecimento.

João Augusto Frayze-Pereira tem desenvolvido há anos uma rica e variada discussão do fazer artístico em suas múltiplas dimensões: cinema, pintura, música, teatro e experiência estética têm sido interrogados e interrogantes do que se vive a partir de considerações psicanalíticas formuladas pelo autor. Em alguns dos seus textos, ele propõe uma original discussão crítica da psicanálise, em diálogo com a história da arte e a estética, de proposições que foram feitas por outros autores acerca, por exemplo, do trabalho de Freud sobre Leonardo da Vinci e Michelangelo.

Na teoria crítica da sociedade, notadamente com a chamada Escola de Frankfurt, encontramos a influência marcante de Freud em autores como Adorno, Horkheimer, Marcuse e Fromm. Mais recentemente, é o trabalho de Winnicott que tem influência sobre o de Axel Honneth.

A preferência de Honneth por Winnicott se dá não somente devido à ênfase nos pressupostos intersubjetivos da constituição do sujeito, mas, sobretudo, por encontrar no psicanalista inglês uma abordagem psicanalítica empiricamente sustentada - como nos seus estudos em torno do desenvolvimento da subjetividade infantil. (Campello, 2017, p. 17)

O psicanalista alemão Werner Bohleber tem feito importantes articulações entre psicanálise e ciências sociais no estudo da dimensão coletiva do Holocausto, de traumas de guerra e do terrorismo fundamentalista. Em alguns dos seus trabalhos, por exemplo, “a especificidade da dinâmica da recordação e a importância da reconstrução são mostradas não somente para o tratamento analítico, mas também para a recordação coletiva do Holocausto e seus efeitos posteriores” (Bohleber, 2007, p. 154).

John Alderdice é psiquiatra de profissão, mas como líder do Partido da Aliança, da Irlanda do Norte, desempenhou um papel significativo na negociação do Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa de 1998. Ele foi o primeiro presidente da nova Assembleia da Irlanda do Norte e depois uma figura-chave na normalização da segurança no final do conflito. Ocupou muitos cargos internacionais. Desde 1996, é membro vitalício do Partido Liberal Democrata na Câmara dos Lordes. Foi presidente de comitês e membro do Comitê Selecionado dos Lordes para enfrentamento da covid-19. É pesquisador sênior no Harris Manchester College, pesquisador visitante no St Benet’s Hall, membro honorário do Changing Character of War Centre no Pembroke College e tem afiliações de pesquisa com o Departamento de Política e Relações Internacionais e a Escola de Antropologia e Etnografia da Universidade de Oxford. A psicanálise é central tanto no trabalho acadêmico de Alderdice em ciências políticas quanto na sua atuação como político.

Eu teria muitas outras áreas a elencar e tenho certeza de que você, leitora ou leitor, também. Vou me referir a mais algumas ao longo do texto.

A primeira pergunta ampla que busco começar a responder neste texto é: o que faz com que o conhecimento e os modos de conhecer específicos da psicanálise se prestem a contribuir com ciências tão distintas entre si?

O que vou apresentar a seguir é um trabalho em construção. Em certos pontos, deriva da interlocução com autores que desenvolveram alguns dos aspectos referentes ao assunto. Algumas das ideias estão mais bem fundamentadas por fazerem parte do meu programa de pesquisa na Universidade de São Paulo há anos; outras são incipientes, mais exploratórias e recentemente incorporadas a ele. Caso vocês julguem fazer sentido, espero que a discussão decorrente deste trabalho contribua para seu desenvolvimento.

Um dos argumentos que será aqui desenvolvido é que a articulação entre conhecimentos científicos anteriores à psicanálise e os decorrentes do processo de especificação de seu método, que seguem sendo influenciados pelos primeiros, compõe um conjunto de conhecimentos e de modos de conhecer centrais para a experiência humana, e portanto eficientes para o endereçamento de questões oriundas de campos diversos dessa experiência. Como posso enunciar o conjunto de conhecimentos e de modos de conhecer da psicanálise que estou considerando central para a experiência humana? Sugiro que a psicanálise trata do funcionamento dinâmico das emoções em processos de graus variados de extensão representacional (e, portanto, linguísticos), bem como de sua influência para a qualidade de transformação de experiências intrapsíquicas e intersubjetivas, envolvendo necessidades corporais vinculares desde o começo da vida.

Diversos relatos transmitem a imagem de Freud como a de um neurocientista experimental, que foi extremamente rigoroso do ponto de vista metodológico. Ele trabalhou com Ernst von Brücke na época de intensa discussão com Von Helmholtz e de avanços que ambos, em colaboração com seus alunos e assistentes, fizeram acerca do conhecimento sobre o sistema nervoso.

Mark Solms tem feito há 20 anos uma curadoria dos escritos neurocientíficos de Freud, cujo conjunto está prestes a ser lançado junto com a revisão da edição standard da sua obra.

Durante um período de vinte e três anos, entre 1877 e 1900, Freud publicou mais de duzentos títulos neurocientíficos, incluindo quarenta artigos originais e seis monografias substanciais. No entanto, uma edição completa destas obras - muitas das quais são agora muito difíceis de obter, mesmo no original alemão - nunca foi compilada antes. Apenas dez dessas obras apareceram em tradução para o inglês, e menos ainda nas outras línguas principais. A maioria delas nem sequer está listada na bibliografia da edição standard. (Solms, 2002, p. 17).

Solms fez um trabalho de rastreamento de artigos e monografias que não foram traduzidos ao inglês, não foram listados na edição standard e não foram explorados à luz do conhecimento que se acumulou em psicanálise e em neurociências. Nos próximos parágrafos, vou me basear apenas em alguns poucos elementos, dos muitos existentes, de resultados preliminares desse trabalho.

Os experimentos de Freud estiveram entre os pioneiros na descoberta de uma migração filogenética ao longo de eras de células nervosas ancestrais, ou seja, primitivas, existentes de forma transformada em indivíduos contemporâneos numa espécie de lampreia. Nota-se como a ideia de fixação de formas primitivas em coexistência com outras evoluídas, um princípio constante na obra de Freud e a partir disso em psicanálise, pode ser rastreada até os primórdios de seu trabalho científico.

Outros experimentos de 1884 apresentaram evidências da unidade morfológica e fisiológica entre núcleo e axônio da célula que veio a ser chamada, em 1891, sete anos depois, de neurônio por Cajal e Von Waldeyer-Hartz, o mesmo que cunhou o termo cromossomo. Havia dúvidas na época se eram células distintas que funcionavam de maneira conjunta ou se havia uma unidade tanto em sua anatomia quanto em suas diferentes funções. A noção de sinapse, nomeada como tal por Charles Scott Sherrington em 1906, também esteve incipientemente insinuada em trabalhos experimentais de Freud, o que contribuiu para complementar a moderna teoria do neurônio. Isso tem sido reconhecido em trabalhos sobre a história dessas descobertas por estudiosos que não são psicanalistas.

Freud foi igualmente bem-sucedido em criar novas técnicas experimentais. Se não foi o primeiro, foi um dos primeiros a tingir tecidos nervosos para distingui-los entre si em 1884. Também descreveu uma nova técnica que lhe permitiu observar o funcionamento interno das células nervosas vivas do lagostim-do-rio, pois estava insatisfeito com a técnica padrão de observação de células mortas ao microscópio.

Em seguida, Freud mapeou meticulosamente tecidos até então não discriminados de duas partes pequenas, compactadas e extremamente intrincadas do tronco cerebral, a medula oblonga e a ponte.

Freud progrediu a partir da medula espinhal para cima, para o próprio cérebro, e também da célula nervosa individual para grupos ou constelações de células. Simultaneamente, ele passou do sistema nervoso animal para o humano. Nesses estudos, Freud demonstrou as ligações entre a coluna vertebral posterior e o cerebelo, e traçou a terminação e as conexões do nervo acústico na medula. No geral, essas foram contribuições valiosas para a neuroanatomia básica. Ele também formulou a teoria de que os núcleos dos nervos cranianos sensoriais são homólogos às raízes nervosas posteriores da medula. Assim, ele trouxe ordem simples a uma região do cérebro que antes era caótica e opaca. … Quando considerada do ponto de vista de seu trabalho posterior, a metodologia de Freud em seu trabalho sobre o tronco cerebral humano foi especialmente interessante. Em vez de tentar mapear diretamente as massas de caminhos das fibras, Freud estudou os padrões muito mais simples que podem ser mais facilmente observados no cérebro fetal e infantil. Então, metodicamente, ele traçou os desenvolvimentos posteriores em espécimes cada vez mais maduros. Também aqui o ponto de vista genético (ou de desenvolvimento) é fundamental, e a abordagem evolutiva novamente visível na conceituação de seus resultados por Freud. O último artigo de Freud sobre anatomia pura foi publicado em 1888 e intitulava-se simplesmente “O cérebro”. Foi um resumo do estado da arte na anatomia e fisiologia do cérebro do século 19. Este artigo é importante porque, além do “Projeto” de 1895, é o único lugar em que Freud publicou suas opiniões sobre a estrutura e função do cérebro humano como um todo. … Embora escrito na forma de uma obra de referência ou de um verbete de enciclopédia, Freud usou este artigo como uma oportunidade para desenvolver uma teoria inteiramente nova da anatomia do cérebro humano, substituindo a teoria anatômica estabelecida de seu estimado professor Theodor Meynert. Quase nenhum dos ensinamentos anatômicos de Meynert perdurou - eles são hoje chamados de mitologia do cérebro -, enquanto a teoria alternativa de Freud, em contraste, é amplamente compatível com as visões neuroanatômicas modernas. Freud desenvolveu ainda mais esse modelo anatômico em sua monografia de 1891 Sobre a afasia. Freud também escreveu um manuscrito sobre seu modelo anatômico do cérebro em 1886, nunca publicado. (Solms, 2002, pp. 22-23)

A ideia de que o sistema nervoso opera funcionalmente com representações, em oposição ao mecanicismo de Meynert, e seu uso como defesa psíquica são consequência do que Freud concebeu sobre o cérebro. Ele sabia que o córtex contém representações que são uma recriação no cérebro do conjunto de estímulos oriundos do corpo todo, em decorrência da multiplicidade de vias - ou seja, experiências - envolvidas:

No estudo crítico da afasia, publicado em 1891, procurei mostrar que a causa dessa importante diferença entre as paralisias periférico-medulares e cerebrais deve ser investigada na estrutura do sistema nervoso. Cada elemento da periferia corresponde a um elemento da massa cinzenta da medula, que, conforme disse Charcot, é sua terminação nervosa; a periferia, por assim dizer, é projetada sobre a massa cinzenta da medula, ponto por ponto, elemento por elemento. Propus dar à paralisia periférico-medular détaillée o nome de paralisia em projeção. Mas o mesmo não se aplica às relações entre os elementos da medula e os do córtex. O número de fibras condutoras já não seria suficiente para dar uma segunda projeção da periferia sobre o córtex. Devemos supor que as fibras que se estendem da medula até o córtex não representam mais, cada uma em separado, um elemento único da periferia, e sim um grupo de elementos periféricos, e que até mesmo, por outro lado, um elemento da periferia pode corresponder a diversas fibras condutoras medulocorticais. O fato é que há uma modificação no ordenamento das fibras no ponto de conexão entre os dois segmentos do sistema motor. Sustento, pois, que a reprodução da periferia no córtex não é mais uma reprodução fiel, ponto por ponto; que não é mais uma projeção verdadeira. É uma relação por meio do que se pode chamar de fibras representativas, e para a paralisia cerebral proponho o nome de paralisia em representação. (Freud, 1893/1977, p. 94)

Essa afirmação é uma das que permitem que se considere hoje em dia em neurociências que até a percepção é uma reconstrução.

Nesses trabalhos, Freud formula a noção de que as experiências vivenciadas pelos pacientes transformam os processos neuroanatomofisiológicos ao longo do desenvolvimento, causando marcas mnêmicas de diferentes registros com consequências para o funcionamento psíquico. Está claramente descrito, embora sem uma proposição de nomeação do conceito, o princípio da homeostase na regulação da eletrificação dos neurônios. Esse conceito só foi nomeado por Walter Cannon em 1932. Freud também lança as bases para a concepção de que, em consequência da disposição dos neurônios, afetos, memórias e representações podem se associar e dissociar de maneira fluida, dinâmica e variável, uma das conotações que empregou para a noção de transferência em 1900.

É interessante notar, nesses estudos, as primeiras auto-observações publicadas por Freud, que culminariam no catálogo de autorrevelações que ele publicou em A interpretação dos sonhos. Isto serve para nos lembrar que a introspecção e a autoexperimentação eram paradigmas científicos comuns no final do século 19. A importância deste fato para o desenvolvimento do método psicanalítico raramente é reconhecida. (Solms, 2002, p. 24).

O papel das evidências quanto às diferentes articulações entre fenômenos universais e ocorrências singulares mudou ao longo da passagem de neurocientista para clínico e em seguida para psicanalista. Muito já se publicou a respeito, mas uma retomada do assunto pode trazer alguns esclarecimentos.

Em seu trabalho neurocientífico inicial, Freud buscava evidências de funcionamentos orgânicos universais e suas expressões em animais, inicialmente, e em humanos, posteriormente. Qualquer diferença do universal, ou seja, singularidade, era considerada uma anomalia ou doença até que se articulasse, na continuidade da investigação, com o plano extenso das ocorrências universais da espécie. Um exemplo disso é o esforço de Freud para dirimir uma dúvida da ciência da época: não se sabia onde estavam os testículos da enguia, o que dificultava a compreensão acerca de sua reprodução. Dissecando mais de 400 exemplares numa região cujo tecido parecia promissor, Freud afirmou que não estava seguro do que havia encontrado. Hoje se sabe que ele foi o primeiro anatomista a prover evidências da intersexualidade dessa espécie (Solms, 2002).

Os últimos trabalhos neurocientíficos de Freud, entretanto, permitem antever que processos neurológicos universais adquirem, por meio da experiência dos indivíduos, algum grau de especificação que se manifesta como singularidades da expressão de suas funções, que seriam principalmente emoções, memória, pensamentos, comportamentos e linguagem. Trata-se de uma combinatória num conjunto complexo que manifesta os âmbitos universal e singular simultaneamente. O singular começa a ser considerado uma consequência do universal, e não mais uma anomalia ou patologia.

Ao passar a clinicar, Freud continuou a buscar evidências da expressão de fenômenos universais e de formas singulares de suas funções. Entretanto, num primeiro momento de sua clínica, prevaleceu uma visão patológica das manifestações singulares devido à condição dos pacientes. Um exemplo disso é a sexualidade infantil no bojo da teoria da sedução. Freud é claro em afirmar que considerava que histeria e neurose obsessiva decorreriam de um evento singular: a precocidade da experiência sexual em relação ao plano universal do desenvolvimento humano, que a deflagraria apenas na puberdade.

O abandono da teoria da sedução deu-se com a universalização da sexualidade infantil, dos processos de composição dos sonhos, das fantasias e dos sintomas. Sem abandonar a importância da base neurológica filogeneticamente determinada e ontogeneticamente transformada nas experiências vividas, Freud passou a buscar as evidências de como as pessoas singularizam os fenômenos universais a que estão sujeitas, discriminando da forma psicopatológica de sua ocorrência.

O rigor metodológico de Freud, aliado à hierarquia universitária à qual estava submetido, parece ter feito dele um pesquisador que, acima de tudo, valorizava a busca por evidências daquilo que hipotetizava, orientado a empregar os métodos necessários para tanto, até mesmo propondo originais, mas reticente em reivindicar autoria conceitual de seus achados em meio a outros cientistas cujos experimentos contemporâneos acabaram por levar a esse tipo de notoriedade. Isso parece ter trazido para a prática clínica de Freud algumas consequências.

A primeira consequência diz respeito à liberdade em avançar no âmbito conceitual, dado que já não se tratava de uma atividade acadêmica submetida à hierarquia universitária, permitindo-se especular sobre suas descobertas e publicar tais resultados.

A segunda consequência é o trabalho prévio sobre a célula nervosa e sobre o sistema nervoso ter fornecido um conjunto de diretrizes para a concepção do âmbito psíquico cuja operatividade seguiu constante em sua obra e influenciou a formulação de hipóteses acerca de etiologia, psicopatologia e terapêutica, haja vista a longevidade de sua noção de séries complementares (está insinuada em 1896 e explicitada pelo menos em 1905, 1912, 1926 e 1933) e as seguidas proposições tópicas, os seja, arquiteturais e funcionais, em analogia à anatomia e à fisiologia. Em muitos momentos, Freud é explícito ao apontar a importância de tais âmbitos, assim como da embriologia, e em outros essa importância pode ser detectada sem estar evidente.

Aqui, todo salto procedimental e de conhecimento de Freud em torno do tronco encefálico requer atenção especial. Essa região e suas adjacências, tão original e profundamente estudadas por Freud, ainda que com as limitações da época, são responsáveis por grande parte do gerenciamento da distribuição, no cérebro, de impulsos advindos do corpo como um todo. Exercem enorme influência sobre quais emoções serão mobilizadas, com quais respostas automatizadas e não automatizadas, e com que áreas corticais responsáveis por eventuais representações elas vão se associar. Temos aqui a ideia universal de um sistema comunicacional dinâmico que converte energia elétrica em emoção e representação, que tem uma profundidade (tronco e adjacências) com um funcionamento instintivo (equivalente ao processo primário) e uma superficialidade (córtex) que usa parte de sua energia para, no contato com o mundo ao longo do desenvolvimento, representá-lo e utilizar tais representações mnêmicas (armazenadas como memórias) para antecipar mentalmente ações (processo secundário), de maneira que no adulto os dois processos funcionam simultaneamente, afetando e sendo afetados pela linguagem.

A terceira consequência do trabalho neurocientífico de Freud para sua prática clínica é a de fundamentar suas especulações em evidências. Agora Freud já não dispunha de células, tinturas, microscópios, mas das manifestações do funcionamento dinâmico das emoções em processos de graus variados de extensão representacional, de memória, de qualidade de transformação de experiências intrapsíquicas e intersubjetivas e de linguagem. Em outras palavras, Freud tinha como evidência sonhos, emoções, lembranças e pensamentos observados nele mesmo e relatados pelos pacientes, a forma como se relacionavam com ele durante seus encontros, seus sintomas e sinais clínicos. A busca por evidências da universalidade de suas hipóteses se dava em produtos da cultura, como tragédias gregas, romances, produções artísticas em geral, lembranças encobridoras, lapsos da vida cotidiana, sonhos, bem como no estudo de outras áreas do conhecimento.

Diversas cartas a inúmeros interlocutores, além de artigos, testemunham essas considerações. Nada disso faz do trabalho clínico de Freud sobre a dinâmica psíquica e relacional mera aplicação do que aprendera na bancada de experimentos.

A atividade clínica de Freud constitui-se como uma prática baseada em evidências que dizem respeito à natureza complexa, ou seja, composta pela combinatória de fenômenos de âmbitos cuja natureza é distinta entre si e se influenciam mutuamente. Isso se tornou programático em psicanálise: consultamos as emoções presentes na sala de análise, ideias, lembranças, pensamentos, significantes, sonhos, as formas de as pessoas se relacionarem depreendidas de seus relatos e da experiência com seus analistas, o grau de vitalidade ou mortificação, a extensão da autorreferência narcisista ou da valorização das pessoas significativas da vida dos pacientes para formularmos hipóteses sobre quais são os significados emocionais, as reações preponderantes, a capacidade de pensar, os eventuais empecilhos para que se processem emoções, pensamento e linguagem. Os processos vivenciados pelo paciente são marcados pelas suas experiências atuais e remotas, como memórias de diferentes registros que servem de evidência da qualidade da dinâmica que prepondera a cada instante do trabalho. Em outras palavras, buscamos evidências de como a mente e a maneira de ser de cada pessoa decorrem e se mantêm nos processos que se engendram na dimensão transferência/contratransferência. Depois da formulação de hipóteses, acompanhamos os efeitos das intervenções decorrentes delas sobre os elementos elencados.

Temos sempre que lembrar que evidências não têm um valor absoluto em si. Elas ganham seu valor por cumprirem uma função no contexto em que obtêm significado de indicador da veracidade do conhecimento. Nesse sentido, produzir evidências num contexto de investigação do funcionamento mental para fins de comprovação de hipóteses a respeito dele não é o mesmo que aplicar tal conhecimento na clínica com o objetivo de alcançar resultados de transformação da experiência de sofrimento, pois ali a reação do paciente é a evidência da pertinência da intervenção. Quando um médico faz uma cirurgia, imuniza ou prescreve um medicamento, ele está sendo científico no sentido de aplicar o produto da ciência para o melhor interesse da pessoa ou grupo de pessoas de que cuida. É diferente de trabalhar como cientista no processo de produção de medicamentos, técnicas cirúrgicas ou vacinas.

Freud fez os dois ao mesmo tempo, e a leitura de suas publicações muitas vezes faz esvanecer os contornos de um trabalho e de outro. À medida que se leem as correspondências em que discutia suas hipóteses, levando em conta o conjunto de outras hipóteses concorrentes e de experiências clínicas suas e de colaboradores, tal distinção pode ganhar contornos mais definidos.

Ao longo da expansão e do aprofundamento da clínica e da investigação psicanalíticas (que não são a mesma coisa), Freud e colaboradores avançaram na concepção de como emoções, pensamentos, reações, memórias e linguagem haveriam de impactar as transformações do neurofisiológico em função de transformações do psíquico. Merece especial menção a diversidade de experiências potencialmente traumáticas investigadas e tratadas pela psicanálise. Tal concepção marca hoje a pauta de vários países quanto à melhora da condição de desenvolvimento da população. Há inúmeros exemplos disso, e os trabalhos de James J. Heckman e Robert Emde são apenas dois a respeito.

Desde o início de nossa formação como psicanalistas, levamos nosso material clínico, composto por relatos do que se vive na sessão, para a discussão por pares, com perspectivas que salientam diferentes aspectos psíquicos segundo a contribuição psicanalítica preponderante, com níveis diversos de experiência, o que nos conduz a um constante exercício de reflexão sobre o encadeamento entre nossa leitura clínica operacionalizadora de hipóteses, as intervenções realizadas e seus efeitos detectáveis. O conhecimento que se produz é questionado por e também questiona o que se tem acumulado de conhecimento na área, sempre tendo como prerrogativa a consideração de que os sentidos emocionais e representacionais do que vivem os pacientes são únicos no que se refere a serem sua forma de realizar o que se experimenta. Tratamos, na clínica, do limite sempre fluido entre o que é singular e o que pode ser generalizável da experiência com cada paciente. Identificação projetiva pode ser amplamente considerada com os pacientes, mas o que mobiliza tal experiência, quais aspectos do self, com qual extensão e intensidade, com quais consequências para a mente do paciente, para o processo de transferência/contratransferência, quais aspectos da mente do analista podem se engajar e como se processam as emoções na dupla é algo sempre singular e que se recria sessão a sessão. Nossa formação é dedicada a experimentarmos intensamente tal exercício de extensão da nossa capacidade psíquica de expressão daquilo que se oculta ou se insinua como impressão no encontro com o paciente.

Freud é claro em sua ideia original de como a mente se transforma ao longo do desenvolvimento: regimes iniciais de funcionamento filogeneticamente herdados na evolução da espécie, ou seja, o processo primário, dão origem a regimes ontogenéticos que são adquiridos a partir da interação de cada pessoa com quem cuida dela, os processos secundários. Ambos os regimes passam a conviver em disputa constante entre si, exigindo um esforço integrativo e conciliatório, sempre parcialmente satisfatório, da mente. O processo de transformação é marcado pelas experiências vividas pela pessoa, que as tem registradas em diversos níveis de memória, e a qualidade do funcionamento sofre profunda influência dos impactos que a pessoa vive ao longo do processo. Essa diretriz subjaz à noção kleiniana de posições esquizoparanoide e depressiva, que representa um avanço no que Freud havia proposto, sendo uma evidência de como uma diretriz oriunda das neurociências pode conservar sua contribuição e se desenvolver sem se reduzir à sua origem.

O que foi exposto até agora é coerente com o fato de diversos neurocientistas contemporâneos deixarem clara a importância das contribuições de Freud para o que têm pesquisado. Solms partiu das considerações de Freud sobre os sonhos para evidenciar suas funções quando se acreditava que não passavam de descargas elétricas aleatórias, como os movimentos rápidos dos olhos. Zeppelin e Moser propuseram um modelo experimental de geração e codificação de sonhos a partir de concepções freudianas. Richard Lane, Karl Friston, Robin Carhart-Harris e Cristina Alberini têm investigado diversas formas de processamento de memórias em humanos e animais, principalmente em torno da noção de reconsolidação, a partir de formulações de Freud.

Consequentemente, não causa espanto que a psicanálise tenha ensejado formulações clínicas que vêm se mostrando eficazes em ensaios clínicos randomizados controlados com cegamento e tratamento estatístico de dados.

Numa breve revisão recente (Lerner, 2023a), diversos autores demonstram que a qualidade da orientação metodológica dos ensaios clínicos randomizados controlados com cegamento e tratamento estatístico de dados com psicanálise e psicoterapia psicodinâmica é equivalente aos feitos com terapia cognitivo-comportamental (tcc). Muitos estudos comparam as duas técnicas quanto à sua eficácia e progressão dos efeitos após o encerramento do trabalho. Os estudos têm poucas discrepâncias em demonstrar que, para a maioria dos quadros clínicos, não há diferenças estatisticamente significativas entre ambas logo após o término do tratamento quanto à melhora de sintomas. Em alguns quadros clínicos, há estudos com resultados ligeiramente melhores em magnitude do efeito para uma ou para outra. Há estudos que demonstram que, além dos sintomas específicos do quadro clínico, o tratamento com psicanálise e psicoterapias psicodinâmicas contribui com aspectos mais amplos da vida da pessoa, e seus efeitos tendem a aumentar a longo prazo mais do que acontece com tcc.

Destaque-se que elenquei trabalhos oriundos de publicações científicas especializadas norte-americanas e europeias de renome, que não são sustentadas por instituição psicanalíticas, como Psychotherapy and Psychosomatics, American Psychologist, Cochrane Database of Systematic Reviews, Clinical Psychology Review, Lancet Psychiatry, World Psychiatry e Canadian Journal of Psychiatry, apenas para nomear alguns.

O que se depreende do discutido neste trabalho é que a psicanálise faz parte das ciências. Formulações psicanalíticas podem ser investigadas até por critérios que não existiam quando se fundou e desenvolveu, como estudos com neuroimagem e ensaios clínicos não farmacológicos randomizados, controlados e com cegamento e tratamento estatístico de dados. Caso a fundamentação da psicanálise não estivesse profunda e inalienavelmente enraizada em conhecimentos consistentes, perenes e de consequências em diversos planos da natureza humana, ela não teria como contribuir para tantas áreas.

Os casos de depressão e ansiedade aumentaram mais de 25% no mundo apenas no primeiro ano da pandemia (World Health Organization, 2022).

No Brasil, a violência doméstica tem aumentado de forma alarmante. Mais de 18 milhões de mulheres relataram um evento violento em 2022, o que equivale a mais de 50 mil casos por dia. A média global de violência física ou sexual contra mulheres acima de 16 anos é de 27%, enquanto no Brasil é de 33,4%. Não é surpresa que o Brasil tenha registrado pelo menos um caso de feminicídio por dia em 2022 e um aumento de 36% nos primeiros meses de 2023, ocupando o quinto lugar internacionalmente, de acordo com a onu (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023).

Estudos mostram que essa violência tem marcante influência na ocorrência de quadros de depressão e ansiedade em mulheres, bem como de outros transtornos, como os cardiovasculares.

No que tange à saúde mental da infância e adolescência, se antes da pandemia de covid-19 a taxa de ocorrência de problemas era de 1 pessoa a cada 6, agora é de 1 a cada 4. São mais de 10 milhões de casos, lembrando que muitos não são reportados por serem internalizantes, ou seja, a pessoa muitas vezes sofre calada. Depressão é a condição que mais incapacita na adolescência, e suicídio é a segunda maior causa de morte entre adolescentes em muitos países. Entre adultos com algum tipo de transtorno, 48,8% tiveram os primeiros sinais e sintomas na adolescência (Zuccolo et al., 2023).

Racismo, machismo, inequidade e pandemia fazem a situação ainda pior para a maior parte da população.

Dizer que psicanálise não é ciência contribui para o maior empecilho à busca de ajuda em caso de sofrimento psíquico: preconceito e medo de estigmatização. O mundo precisa de mais acesso à psicanálise para que mais gente transforme, o máximo possível, sua miséria psicopatológica em sofrimento comum e realize, tanto quanto for viável, seu potencial para trabalhar e amar.

1Trabalho apresentado no 29º Congresso Brasileiro de Psicanálise a convite dos organizadores do evento, a quem o autor agradece nas pessoas de Luiz Celso Toledo, Zelig Libermann e Ana Clara Gavião.

Referências

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Zuccolo, P. F., Casella, C. B., Fatori, D., Shephard, E., Sugaya, L., Gurgel, W., Farhat, L. C., Argeu, A., Teixeira, M., Otoch, L. & Polanczyk, G. V. (2023). Children and adolescents’ emotional problems during the covid-19 pandemic in Brazil. European Child & Adolescent Psychiatry, 32(6), 1083-1095. https://doi.org/k6gqLinks ]

Recebido: 22 de Novembro de 2023; Aceito: 29 de Novembro de 2023

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