SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.58 número2Navegar imprecisoDesafios epistemológicos para a psicanálise índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641Xversão On-line ISSN 2175-3601

Rev. bras. psicanál vol.58 no.2 São Paulo  2024  Epub 02-Dez-2024

https://doi.org/10.69904/0486-641x.v58n2.06 

Artigo

Exigências éticas da clínica ao debate público entre psicanálise e ciência1: Sobre alguns resultados de uma pesquisa em zona de interface

Exigencias éticas de la clínica al debate público entre psicoanálisis y ciencia: sobre algunos resultados de una investigación en la zona de interfaz

Ethical demands from the clinic to the public debate between psychoanalysis and science: on some results of a research in the interface zone

Exigences éthiques de la clinique au débat public entre psychanalyse et science : à propos de quelques résultats d’une recherche en zone d’interface

Rodrigo Lage Leite2 

Juliana Belo Diniz3 

2Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HCFMUSP).

3Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HCFMUSP).


Resumo

Em diferentes momentos de sua história, a psicanálise é interpelada no debate público com relação à sua cientificidade. Neste artigo, os autores apresentam, por meio da observação de alguns resultados de uma pesquisa na zona de interface entre psicanálise, psiquiatria e medicina, uma reflexão sobre o que se considerou como exigências éticas da clínica a esse debate, e sobre como a desconsideração de elementos provenientes dela (inclusão da singularidade e do descen-tramento do inconsciente) pode produzir vieses, equívocos e desvios éticos.

Palavras-chave psicanálise; ciência; subjetividade; tecnologia e sociedade; ética

Resumen

En diferentes momentos de su historia, el psicoanálisis ha sido cuestionado en el debate público sobre su cientificidad. En este artículo, los autores pre-sentan una reflexión sobre lo que consideran ser las exigencias éticas de la clínica en este debate, analizando algunos de los resultados de un estudio en la zona de interfaz entre psicoanálisis, psiquiatría y medicina, y sobre cómo la desconsideración de elementos provenientes de ella (incluyendo la singularidad y el descentramiento del inconsciente) puede producir sesgos, malentendidos y desvíos éticos.

Palabras clave psicoanálisis; ciencia; subjetividad; tecnología y sociedad; ética

Abstract

At different times in its history, psychoanalysis has been challenged in the public debate regarding its scientificity. In this article, the authors present, through the observation of some of the results of a research project in the interface zone between psychoanalysis, psychiatry and medicine, a reflection on what they considered to be the ethical demands of the clinic in this debate, and on how the disregard of elements deriving from it (the inclusion of singularity and the decentering of the unconscious) can produce biases, misunderstandings and ethical deviations.

Keywords psychoanalysis; science; subjectivity; technology and society; ethics

Résumé

A différents moments de son histoire, la psychanalyse a été mise en cause dans le débat public sur sa scientificité. Dans cet article, les auteurs présentent une réflexion sur ce qu’ils considèrent être les exigences éthiques de la clinique dans ce débat, en analysant certains résultats d’une recherche dans la zone d’interface entre la psychanalyse, la psychiatrie et la médecine, et sur la façon dont la mécon-naissance des éléments qui en découlent (notamment la singularité et le décentrement de l’inconscient) peut produire des biais, des malentendus et des déviations éthiques.

Mots-clés psychanalyse; science; subjectivité; technologie et société; éthique

Peter Gay (1988/1998), biógrafo de Freud, atribui à paciente Emmy von N a origem do “deixar falar livremente”. Ela teria ordenado a Freud que parasse de perguntar qual a origem disto ou daquilo e que a deixasse falar o que ela tinha para lhe dizer. Essa passagem evidencia o quanto a clínica foi decisiva para o desenvolvimento da psicanálise e o quanto os sujeitos em análise participam junto com os analistas de um experimento singular.

Em seu consultório, a cada sessão o analista está em um verdadeiro laboratório, lidando com duas dimensões distintas e ambas imprescindíveis: uma em que o conhecimento teórico e científico se mostra necessário e subjacente à prática em toda a sua extensão; e outra em que a experiência real com seus analisandos o conduz a desenvolver um savoir-faire atravessado por seu estilo, mas também comprometido com a marca do encontro singular que cada paciente produz, em suas diversas manifestações transferenciais, e exige como escuta e resposta analítica. (Coutinho Jorge, 2022, p. 8)

Não é novidade porém que, nas várias modalidades que constituem os chamados saberes psi, a experiência clínica e os experimentos singulares têm a sua legitimidade questionada. Um questionamento que assume como ideal um modelo de evidências técnico-científicas que não acomoda bem práticas não replicáveis de forma controlada e dependentes de quem são os sujeitos envolvidos. Nesse modelo, a subjetividade é entendida como um empecilho.

Tanto que, desde 1990, o movimento conhecido como Medicina Baseada em Evidências (MBE) gradua os níveis de evidência com base na sua confiabilidade e relega a análise de casos clínicos ao nível mais baixo. A evidência considerada mais confiável é aquela produzida por estudos controlados que avaliam muitos pacientes com a mesma doença, nos quais são aplicados métodos epidemiológicos e estatísticos (Jenicek, 1997).

No contexto da MBE, os casos clínicos e a experiência clínica (apresentados como “relatos de caso”) não deixam de ser considerados evidências, mas assumem o lugar de evidências pouco confiáveis: o que acontece com um ou com poucos sujeitos pode não prever adequadamente o que acontecerá com muitos outros em condições semelhantes.

De forma análoga, a experiência particular do clínico também é considerada de menor valor, pela impossibilidade de ser reproduzida fielmente por outros profissionais. Assim, a confiança da mbe adviria da eliminação dos vieses, entre eles, com grande destaque, aqueles decorrentes da subjetividade, tanto dos pacientes quanto dos profissionais. A objetividade estatística garantiria, assim, a confiabilidade da informação, o grau de verdade e o estatuto de cientificidade.

Há tempos, entretanto, um vultoso debate no campo da filosofia das ciências vem desvelando a dificuldade de estabelecer critérios e definições rigorosas sobre verdade e ciência (Ludwik Fleck, Thomas Kuhn, Bruno Latour, Isabelle Stengers, Ian Hacking). A partir dos inventários produzidos por epistemólogos das ciências, pode-se apreender que a divulgação de resultados científicos e as possíveis interpretações levantadas a partir deles não correspondem a uma transmissão sem deformação de uma verdade científica (Stengers, 2023). A suposição de que há uma objetividade absoluta produzida por uma “Ciência com C maiúsculo”, imune a qualquer interferência exterior, seja de ordem tecnocientífica ou político-ideológica, é em si, como lembra Bruno Latour, uma ideologia:

Essa Ciência com C maiúsculo não é uma descrição do que os cientistas fazem. Para usar um velho termo, é uma ideologia que nunca teve qualquer outro uso nas mãos do epistemólogo, senão o de oferecer um substituto para a discussão pública. Ela sempre foi uma arma política para abolir as coações da política.4 ... Ela foi confeccionada com essa finalidade única e nunca deixou, no passar dos tempos, de ser usada dessa maneira. (2017, p. 306)

Além disso, é fato que nem a epidemiologia nem a estatística garantem imunidade a vieses ideológicos, manipulações e até mesmo fraudes, e que a aplicação desses métodos requer adaptações às especificidades e vicissitudes dos diferentes campos do saber, cada qual ocupado com objetos de observação próprios, muitas vezes incomensuráveis entre si e não mensuráveis pelas réguas da matemática e da estatística.

Apesar de diretamente relacionada aos objetivos deste artigo, não avançaremos nos meandros dessa discussão. Abordaremos um ponto específico que tem chamado nossa atenção no debate público entre ciência e psicanálise: a desconsideração e, por vezes, o desdém que os aportes da experiência clínica têm recebido de alguns interlocutores. Ao negligenciar séculos de conhecimento acumulado do que constitui o campo da clínica em si, esvazia-se o lugar da escuta e do cuidado com o sofrimento psíquico humano, remetendo-o a uma fantasia de objetividade estéril e seguramente inalcançável. Sobre esse ponto, Latour questiona a monstruosidade que representaria essa objetividade absoluta, caso ela existisse:

Descartes exigia certeza absoluta por parte de um cérebro extirpado, certeza desnecessária quando o cérebro (ou a mente) está firmemente ligado ao corpo e o corpo se acha completamente envolvido com sua ecologia normal. Como no romance de Curt Siodmak Donovan’s brain [O cérebro de Donovan],5 a certeza absoluta é o tipo de fantasia neurótica que apenas uma mente cirurgicamente removida buscaria depois de ter perdido tudo o mais. Como o coração retirado de um cadáver de uma jovem recém-falecida em acidente e logo transplantado para o tórax de outra pessoa a milhares de quilômetros de distância, a mente de Descartes exige equipamentos de manutenção artificial da vida para continuar viável. Apenas uma mente colocada na estranha posição de contemplar o mundo de dentro para fora e ligada ao exterior unicamente pela tênue conexão do olhar se agitaria no medo constante de perder a realidade; apenas esse observador sem corpo ansiaria por um kit de equipamentos de sobrevivência absoluto. (p. 17)

Em defesa dessa fantasia de objetividade absoluta, a exclusão de elementos subjetivos centrais para o diagnóstico psicopatológico e para a definição e o manejo do tratamento psíquico nos parece ter produzido discursos e propostas teórico-clínicas que beiram a irresponsabilidade e o descompromisso ético na abordagem dessas modalidades de sofrimento. Esse caminho não pode ser pensado sem que se leve em conta sua origem nos desenvolvimentos históricos da medicina, assim como a influência e o impacto desses desenvolvimentos sobre os saberes psi.

Guedes et al. discutem o caminho por meio do qual, desde o

surgimento da racionalidade médica moderna, vem se consolidando o projeto de situar o saber e a prática médica no interior do modelo das ciências naturais. Com isso, a medicina faz sua opção pela naturalização de seu objeto através do processo de objetivação, ou seja, o de fazer surgir a objetividade da doença, com a exclusão da subjetividade e a construção de generalidades. (2006, p. 1095)

Calazans e Lustoza, por sua vez, ao discutir a mbe, alertam ainda para a “extensão abusiva desse modelo para o campo das psicoterapias e da psicanálise” (2012, p. 18).

É nessa questão de profunda importância ética que centraremos nosso olhar.

Uma pesquisa em zona de interface

Para exemplificar nossa argumentação, apresentaremos alguns resultados de uma pesquisa publicada recentemente, na zona de interface entre psicanálise, psiquiatria e medicina (Leite, 2023). Não pretendemos reproduzir aqui a pesquisa original, mas relacionar alguns resultados encontrados nela com algumas das dificuldades observadas no debate público entre psicanálise e ciência.

A pesquisa, realizada no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-FMUSP), entre 2019 e 2023, é baseada em metodologia qualitativa e teve como objetivo principal investigar as circunstâncias, motivações e sentidos da presença da psicanálise no âmbito da psiquiatria contemporânea. Foi favorecida pelo fato de que o IPq-FMUSP reúne uma forte tradição acadêmica, marcada pelo compromisso com o rigor científico, voltada para as áreas de epidemiologia psiquiátrica, neurociências e psicofarmacologia, com a existência de um Núcleo de Psicanálise (NP), ocupado com atividades de transmissão e prática da psicanálise, como o curso A Escuta da Subjetividade do Paciente Psiquiátrico: Exercício Psicanalítico – objeto da investigação aqui referida.

Essa configuração permitiu que, por meio de entrevistas com profissionais de saúde mental, alunos e supervisores (participantes do curso), os pesquisadores buscassem

compreender as motivações que levam os profissionais ... a elegerem o referencial psicanalítico como parte importante de seus saberes e práticas, sustentando essa escolha no âmbito da psiquiatria e da saúde mental, em um momento histórico em que esse não é um referencial preponderante, e, além disso, muitas vezes, é questionado e refutado. (p. 24)

Entre as diversas motivações encontradas para a aproximação à psicanálise, os resultados destacados por nós e que julgamos contribuir para o debate público entre psicanálise e ciência serão apresentados em dois pontos fundamentais:

  1. A intuição da potência da psicanálise a partir de percepções vivenciadas na atividade clínica com pacientes, no “front”.

  2. O reconhecimento dos efeitos da psicanálise a partir da análise pessoal do analista e do contato com o próprio psiquismo e suas formas de sofrimento, na própria carne, na própria pele.

A clínica: a intuição da potência da psicanálise no aprendizado com o outro

Os relatos a seguir referem-se às experiências de profissionais de saúde mental no “front” da prática clínica. Em sua maioria, são jovens que estão na zona de interface com a medicina e a psiquiatria contemporânea, consequentemente com seu compromisso direto com a ciência. Eles têm acesso às mais modernas tecnologias (medicações, exames e estratégias terapêuticas) e à organização sistematizada da mbe. Mas é no contato direto com o outro humano que algo escapa.

EXEMPLO 1. FRAGMENTO 36, PSIQUIATRA, ALUNA

Acho que isso ao longo da residência foi ficando mais evidente assim, que eram diagnósticos que me diziam muito pouco sobre quem era aquela pessoa assim, sabe? ... Então, por exemplo, quando eu via ... diagnóstico ... de depressão, transtorno depressivo recorrente... Nossa, caramba, né? E aí eu ia vendo que, quando você conversava com a pessoa, você ia compreendendo outras coisas que aconteceram na vida dela e que se relacionavam com essa tristeza. E o quanto você dizer que ela tinha depressão, enfim, podia ser de alguma forma muito alienante. Acho que eu vou me dando conta disso muito no segundo ano, mas assim os primeiros seis meses de residência foram muito terríveis assim, pra mim. (p. 75)

EXEMPLO 2. FRAGMENTO 37, PSIQUIATRA, SUPERVISOR

Você ia lá escutar um casal com problemas sexuais, um cara impotente, uma mulher com vaginismo etc. E a recomendação era ficar passando um manual de exercícios. ... Modelo médico, assim, anamnese e sintoma e o tratamento é esse. Ou, de repente, você vai dar um antidepressivo pra retardar a ejaculação. Só que você se sentava na sala, fechava a porta com o casal, e o casal começava a falar. Era nítido que tinha esse sintoma, mas tinha um mundo por trás daquilo, assim, que evidentemente construía o sintoma, entendeu? Então eu me sentia meio picareta, assim. . que não era o ponto. E fazendo promessas que não iam. promessas do tipo, se você seguir este roteiro, vai rolar, o sexo vai ficar bom. Óbvio que não ficava. E não ficava mesmo. E voltava e, tá, ajudou um pouco, mas não. ... A demanda mesmo, assim, era outra. (p. 76)

Esses fragmentos são relatos de psiquiatras que rememoram a frustração vivida com as propostas de escuta e manejo clínico em programas de residência médica em psiquiatria. Descrevem a perplexidade frente às tentativas de redução das problemáticas emergentes da clínica às categorias diagnósticas formais e às propostas de intervenção objetiva e desconectada da pessoa. Enfatizam o mal-estar ao se sentirem omissos em relação às demandas que chegavam a eles.

Tal estranhamento surge de propostas apoiadas nas premissas da MBE – no primeiro fragmento, o diagnóstico formal de “transtorno depressivo recorrente”, do Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM); no segundo fragmento, o uso de antidepressivos para tratamento da ejaculação precoce e de técnicas comportamentais para tratamento de disfunções sexuais –, comprometidas a atender necessidades de objetivação e quantificação, mas alheias às questões humanas centrais relacionadas. Ao negligenciá-las, o segundo entrevistado sentia-se um “picareta”, portador de promessas vazias.

Para além desses incômodos iniciais, os depoimentos da pesquisa original revelam os caminhos por meio dos quais os profissionais passam a buscar algo que os aproxime de maneira mais sofisticada do sofrimento psíquico, em resposta às interpelações dos pacientes na clínica. É assim que surge o gradual interesse pela psicanálise:

EXEMPLO 3. FRAGMENTO 29, PSIQUIATRA, SUPERVISORA

O primeiro caso que eu peguei foi um caso de uma menina que tinha vaginismo. . Ela fazia, tipo, 30 mil métodos possíveis de., sei lá, mil dildos que ela tinha que enfiar com tamanhos diferentes pra ver se alargava, se ela conseguia. ... Aí eu achava estranho. ... Não parecia que era essa a questão. Mas, no começo, quando comecei a atender ela, eu achei que era essa a questão. ... Aí, na supervisão com o X [supervisor em psicanálise], ele vinha perguntando, né? “Mas como é que ela é com você? Como é que é o jeito dela? Como é que ela é com as pessoas ao redor dela?” Ele foi, tipo, indo em direção a uma outra coisa que tinha a ver com vaginismo, mas que não era só na vagina. . E ela tinha um jeito mais fechado. . Ela era inteira uma “pessoa vagínica”. Eu acho que lembro que foi essa a nossa discussão lá, né? Ela era uma pessoa impenetrável, não só em termos sexuais, como pessoa também. Na análise comigo ela era assim, né? E aí eu fui falando, hummmm, olha só, então é outra coisa que eu tinha que começar a per... né? Fui indo pra outro caminho com ela, né? . Eu não sei como ela teve paciência comigo. . E aí na terapia, análise dela, foram aparecendo outros conteúdos que não eram só isso de “Ai, tentei transar, não consegui”. ... Começou a aparecer outras coisas na vida dela. (pp. 71-72)

EXEMPLO 4. FRAGMENTO 32, PSIQUIATRA, ALUNO

Eu lembro de um caso . uma paciente que vomitava e era difícil segurar os vômitos. E aí ela estava num atendimento, acho que no primeiro ou segundo atendimento, devia ser no ambulatório de transtorno de personalidade borderline. ... E aí ele [o supervisor] fez uma interpretação falando duas coisas que me impressionaram. Uma, que ele fez uma técnica de entrevista, de aproximar a pessoa. Então já estava muito difícil de dizer os sintomas e falar de qualquer coisa e ele, né?, aproximou. ... Depois disso, ela se soltou muito na entrevista. Então eu percebi que, dependendo de como você interage com a pessoa, ela muda demais. E teve uma outra coisa que eu percebi, muito legal, que ele falou sobre isso de vomitar, e aí ela disse que, então, o pai era religioso e o namorado ia na casa dela e não podia deixar a perna em cima da perna dela e que tinha uma coisa muito difícil. E aí ele fez essa interpretação de que ela tava, né?, querendo colocar as coisas pra fora, vomitar tudo aquilo no pai, que a religião era uma coisa opressora pra ela. E isso podia ter muito a ver com o sintoma que ela tinha, era o medo de vomitar. Não era nem um enjoo, nem uma ânsia de vômito, nem vomitava de fato: ela tinha um medo de vomitar. Esse era o sintoma dela. E achei muito legal essa interpretação. Eu falei, olha só, isso acontece. (p. 73)

Em ambos os relatos, o interesse pela psicanálise é despertado por desafios encontrados na atividade clínica, desafios esses que desembocam em construções teóricas criadas, de maneira análoga, em resposta aos impasses clínicos que desafiaram outros profissionais, ao longo da história da psicanálise.

No exemplo 3, a entrevistada demonstra como a elaboração dos fenômenos intersubjetivos relacionados ao conceito de transferência foi primordial para a aproximação a questões fundamentais da paciente. Esse exemplo ressalta a importância da presença de um supervisor psicanalista para a transmissão desse conhecimento. No exemplo 4, fenômenos clínicos relativos à resistência (evidenciados pelo manejo do supervisor ao entrevistar a paciente), às formações do inconsciente (referidas aos conflitos relacionados à sexualidade) e à expressão sintomática do psíquico no somático (a tríade pai, namorado e vômitos) apontam para a pertinência e utilidade de conceitos psicanalíticos na abordagem daquilo que se configura como objeto da psicanálise por excelência.

Roudinesco e Plon (1997/1998), no verbete transferência de seu Dicionário de psicanálise, deixam claro como os fenômenos relacionados à ideia de transferência sempre partiram e se desenvolveram de questões emergentes da clínica. Diferentes autores e escolas priorizaram aspectos específicos do conceito, desenvolvendo-o e transformando-o também a partir de novas exigências dela. Os autores recuperam a associação da noção de transferência com a fantasia inconsciente e a pulsão, em Melanie Klein. Lembram ainda as mudanças técnicas decorrentes da concepção, em Winnicott, da transferência como repetição do vínculo materno.

Também os conceitos de inconsciente, pulsão e resistência surgiram e se desenvolvem ainda hoje em resposta aos desafios do inapreensível e vago do objeto de que nos ocupamos. Os conceitos psicanalíticos não estão encerrados em si mesmos. Compõem, sim, um instrumental para a observação e a intervenção sobre aspectos abstratos, impalpáveis, não completamente cooptáveis, daquilo que constitui o humano em sua complexidade.

É assim que, ao comentar o editorial de Stanghellini e Broome (2014) para o British Journal of Psychiatry, Pereira identifica

a emergência espontânea no argumento desses autores de categorias propriamente psicanalíticas visando dar conta da especificidade do campo psicopatológico, tais como a diferenciação entre demanda e desejo, o caráter paradoxal da realização de desejo embutido no sintoma, bem como o surgimento de um gozo paradoxal, de natureza autodestrutiva, sustentando a relação transferencial com o médico. (2014, p. 1043)

Ainda segundo Pereira, todos esses fatores “são identificáveis no interior da situação clínica concreta, mas irredutíveis às abordagens objetivantes e generalizantes próprias às ciências naturais” (p. 1043). Nesse caso, é na radicalidade da clínica que se observa quando, por meio de “superobjetivações” e da exclusão da subjetividade, característica das proposições tecnocientíficas antes referidas, o bebê corre o risco de ser jogado fora com a água do banho.

Outro ponto relevante para o debate entre psicanálise e ciência pode ser observado no seguinte fragmento:

EXEMPLO 5. FRAGMENTO 30, PSIQUIATRA, ALUNO

Teve um caso de um garoto que eu atendi [no ambulatório, durante a residência médica] ... que veio angustiado, queria passar em consulta, né? ... Estava desanimado com a faculdade, ... risco de jubilar, ... muito desanimado, não acordava a tempo de ir pra aula. ... Mas por outro lado ele fazia um estágio . que ele gostava muito, ele ia muito bem, tinha amigos lá e tal, [a faculdade] ali era uma questão pra ele. E aí . tinha um aluno em psicologia, estava fazendo não lembro se era mestrado ou doutorado, mas ele estava aplicando o questionário de Beck, ... uma escala de depressão, assim. ... Enquanto a gente saía pra discutir o caso com o supervisor, ele entrava na sala e aplicava o questionário nos pacientes. Aí ele pediu, perguntou se eu podia apresentar ele ao paciente, tal. Eu fui discutir o caso, ele foi aplicar o questionário nesse garoto. Aí eu discutindo o caso com o supervisor, das minhas impressões: “Eu não acho que é uma depressão, não acho que precisa de medicação. Tem um sofrimento, tem uma angústia. Seria interessante ser trabalhado em terapia, mas não é uma depressão”. E aí, aí quando eu tô voltando, assim, pra conversar com o paciente, pra dar o retorno e tal, encontro com esse estudante de psicologia no corredor. Assim, ele falou: “Nossa! Apliquei o questionário e deu 30 e tantos pontos. É uma depressão muito grave, tal, tal”. E eu fiquei assim, né? ... Qual que é a validade? ... É uma amostra do estudo dele, que vai virar doutorado, talvez seja publicado numa revista científica. ... Qual a validade desse número que a gente tá chamando de depressão? (Leite, 2023, pp. 72-73)

No relato, além do questionamento do modo simplista como o pesquisador desconsidera sutilezas clínicas relacionadas a questões como desejo, frustração, tristeza, impotência e depressão, a própria produção científica no campo da saúde mental e alguns critérios duvidosos de que se vale são questionados.

Fica evidente o incômodo com a transformação do sofrimento em algo mensurável, em um quantificável que torna possível somar, diminuir e comparar. As escalas surgiram como resposta a uma demanda pragmática. Porém, o uso em grande escala de medidas de gravidade resultou em uma apropriação de significado (Wijsen et al., 2022). Os resultados das medidas se transformaram naquilo que deve ser tratado, nos legítimos representantes do sofrimento, naquilo que diz mais sobre o próprio sujeito do que ele mesmo é capaz de dizer sobre si.

A análise pessoal: aprender de si, em si

Outro fator determinante para a decisão de se contrapor aos discursos que excluem a psicanálise, sob o argumento de sua não cientificidade, e de incluí-la como referencial teórico-clínico passa por aquilo que os entrevistados descrevem como experiências na própria carne, na própria pele.

EXEMPLO 6. FRAGMENTO I, ANALISTA LEIGA, ALUNA

Você tem que ter vivido na sua própria carne. ... Então é menos a coisa intelectual e mais a práxis. ... Você precisa experienciar por dentro, de dentro, essa experiência de análise. E aí, assim, é lindo isso. É lindo. Eu pensei aqui numa imagem, né? A aurora boreal. Você vê as cores, mas não identifica bem onde começa uma e onde termina a outra. De repente, você tá vendo o azul, mas é um verde, e de repente é um verde, mas é um amarelo ou um meio esverdeado, porque diz que aí é a experiência emocional. Então você não. você pode falar de amor, você pode dar exemplos de amor, você pode contar dos amores mais remotos até os mais modernos, mas se você nunca passou por uma experiência de amor, o seu conto será um conto... nenhuma experiência.

EXEMPLO 7. FRAGMENTO 2, PSIQUIATRA, ALUNO

Você lê Freud e digamos que não é tão claro assim, não é? Está aí, mas você precisa ver a máquina funcionando por dentro [através da análise pessoal] para conseguir ver o que estava escrito ali. (Leite, 2023, p. 59)

Esses dois relatos tratam dos efeitos e das transformações que, segundo os entrevistados, a psicanálise pôde operar em sua vida. Confirmam a proposição de Moretto de que

não é exatamente pela essência do que é a psicanálise que ela se torna alvo de elogios ou de insultos. É, geralmente, pela força de seus efeitos, sejam eles positivos ou negativos, que ela se faz presente como tema central nos distintos contextos onde as pessoas, cada uma ao seu modo, se empenham em transmitir algo de sua experiência com a psicanálise. (2019, pp. 24-25)

No primeiro relato, a ênfase está na relevância da experiência emocional do analista (ou de qualquer outro profissional de saúde mental), vivenciada em sua análise pessoal. É por meio dela que se pode alcançar as experiências humanas impalpáveis, no limite, não completamente definíveis e cognoscíveis, não cooptáveis pelas grandezas matemáticas e pela generalização estatística. A ideia de que “é menos a coisa intelectual e mais a práxis” destaca a importância de que aqueles que escutam e cuidam do sofrimento tenham um trânsito encarnado e íntimo com o próprio psiquismo e o próprio sofrer.

Isso se confirma por dois motivos principais:

  1. O fato de que o objeto psicanalítico não se encontra naquilo que está explícito. O que subjaz ao conceito de inconsciente são os fenômenos relativos ao que é intolerável, excessivo e, consequentemente, traumático para o sujeito. A psicanálise se ocupa daquilo que, a todo tempo, é preciso ser mantido fora da consciência, “não pensado”, por motivo de dor e angústia, e que portanto, por inúmeras vezes, é inapreensível de maneira direta. Por isso mesmo, a natureza desse objeto demanda dos profissionais que dele se ocupam um caminho próprio e pessoal de reconhecimento desses fenômenos em si. Assim, o que parece óbvio para os psicanalistas, por vezes, é tragicamente negado no debate público, e talvez necessite ser insistentemente nomeado e reapresentado com todas as letras: não há possibilidade de excluir da equação que se estabelece acerca da constituição do psiquismo e de suas formas de sofrer aquilo que se apresenta de forma turva, sob efeito da dor e do trauma – a perturbação produzida pelo desejo inaceitável em contato com o superego e seus padrões ético-morais; a culpa pelo furor destrutivo, mortífero, que constitui inexoravelmente o humano; a vergonha em face do que se configura como “pouco nobre” ou inadmissível, como o ódio, a inveja, o ressentimento; a ambivalência de amor e horror diante das experiências de intrusão e abuso do outro; as aflições e percalços frente à impotência e à finitude da vida; o deserto da incomunicabilidade; as sombras da melancolia; as perdas e os lutos impossíveis. Para além disso, o vasto campo dos fenômenos relativos ao não representado, aquilo que desde a mais tenra idade marca o sujeito e se reapresenta em fenômenos de medo, terror e desamparo.

  2. Diante da complexidade dos fenômenos reunidos no parágrafo anterior, um segundo fator se acrescenta, como desafio ao debate público. No fragmento seguinte, ao retomar a importância do reconhecimento dos efeitos da psicanálise em sua própria vida, a entrevistada evidencia a dificuldade de falar deles, de contá-los no contexto do debate público e de fazer com que se reconheça a sua importância:

EXEMPLO 8. FRAGMENTO 3, PSICÓLOGA, SUPERVISORA

Responder isso sem dizer do efeito da psicanálise na minha vida é impossível. ... O desejo de analista, ele foi crescendo e ele se sustenta eu acho que nisso mesmo, nos efeitos, primeiro, que eu senti em mim e que a gente escuta todo tempo. ... Essa é uma das grandes questões da psicanálise, né? Como que a gente comunica ou transmite os efeitos dela? (Leite, 2023, p. 60)

Exigências éticas

Em A esperança de Pandora (2017), Latour constrói uma alegoria macabra para ilustrar a fantasia de uma objetividade absoluta: um cérebro desconectado de todo o resto, observando o mundo por uma fresta, desprovido de desejo ou história, imune ao contexto. Essa imagem condensa a recusa da corporeidade, do inconsciente, do resto implacável da linguagem e de qualquer elemento incomensurável com o conhecido de si mesmo.

Essa monstruosidade alegórica desenhada por Latour não é só um mito fantástico: ela põe em cena a dessubjetivação que acompanha a criação na cultura contemporânea de um “sujeito cerebral”, um sujeito desimplicado de sua própria condição.

Quando um psiquiatra de orientação biológica fala da depressão de maneira semelhante àquela que um cardiologista fala de uma doença cardíaca, produz-se um distanciamento subjetivo da doença, uma dessubjetivação. O indivíduo tem esquizofrenia, ou transtorno bipolar, em vez de ser deprimido, esquizofrênico e/ou psicótico. Assim como o indivíduo pensa que tem uma doença cardíaca e não que ele é essa doença, no caso das doenças mentais, a depressão ou a psicose aparecem escritas no corpo – e mais especificamente no cérebro. (Ortega, 2008, p. 486)

Ao descrever esse processo de dessubjetivação premente em nossa cultura, Ortega (2008) retoma os meios pelos quais vivências psíquicas, desejos e sentimentos são descritos segundo predicados corporais. No contexto apresentado por ele, é como se o medo fosse a ativação das amígdalas cerebrais; as emoções, ativações do circuito límbico; e a vontade, algo determinada pela disponibilidade de dopamina. E como se os sujeitos fossem mensurados de acordo com seu desempenho corporal – de acordo com as suas supostas conexões cerebrais, sua carga genética, sua microbiota intestinal, seu perfil inflamatório ou qualquer outro elemento do imaginário científico. Nessa ordem social, uma nova linguagem substitui concepções psicológicas e as desloca para a exterioridade, dando lugar à constituição de identidades somáticas, a que Ortega se refere com o conceito de bioidentidades.

A aplicação surda de diagnósticos, escalas de gravidade e tratamentos baseados na eliminação de sintomas aliena sujeitos e os transforma em sujeitos cerebrais portadores de bioidentidades: cérebros-pacientes, que descrevem sintomas decorrentes de desequilíbrios físico-químicos, e cérebros-terapeutas, que escolhem quais protocolos aplicar a partir desses sintomas.

É assim que somente a partir da reconexão do cérebro ao corpo, e do reconhecimento daquilo que cada ser humano dará como destino radicalmente singular à sua própria corporeidade/pulsionalidade, pensamos ser possível escapar da alegoria macabra de Latour. A primeira, e mais contundente, exigência ética que a clínica lança ao debate público entre psicanálise e ciência é a reinclusão dessa singularidade incontornável.

Nos relatos dos entrevistados, a presença de supervisores com formação em psicanálise e a exigência da retomada da subjetividade nas discussões e formulações psicopatológicas foram fundamentais para assegurar uma clínica “pessoalizada”, capaz de acomodar a implicação tanto dos pacientes quanto dos profissionais.

Por fim, chegamos a uma segunda exigência ética a ser considerada no debate público entre psicanálise e ciência. Trata-se aqui de uma provocação que alcança especificamente a psicanálise e os psicanalistas, e que diz respeito à insuficiência da argumentação de que a psicanálise consegue conversar com o modelo técnico-científico e participar da produção de resultados nos mesmos moldes de outras formas de psicoterapia. A despeito da importância das pesquisas quantitativas que têm se dedicado de maneira bem-sucedida a esses objetivos (Fonagy, 2015; Leichsenring et al., 2023; Steinert et al., 2017), defendemos que não basta dizer que a psicanálise também é capaz de melhorar sintomas, reduzir números em escalas, e ter seus métodos replicados de forma imperfeita, porém sistemática.

Entendemos que é fundamental denunciar o caráter imaginário de tais componentes, dada a ausência de resultados neurocientíficos que confirmem a identidade cerebral isolada de vivências emocionais. De certo modo, trata-se da coragem e da energia necessárias para que psicanalistas enfrentem no âmbito público o fascínio de muitos em oferecer ao sujeito “múltiplo, estigmatizado pela falta, descentrado” (Villaça, 2015, p. 9) a alternativa de um (des)sujeito desimplicado, assujeitado e biologicamente determinado.

Assim, apresentamos o que entendemos como exigências éticas do campo da clínica ao debate público da psicanálise com a ciência. Ainda que seja difícil incluir o impalpável e o imensurável, característicos do objeto da psicanálise, e falar dos seus efeitos e alcances, entendemos que não o fazer configura desvio ético grave, com repercussões e danos ao exercício da clínica e, especialmente, ao paciente que sofre.

Como afirma a filósofa Donna Haraway, “ignorar, deixar de engajar-se no processo social do fazer científico e esperar apenas usar e abusar dos resultados do trabalho científico é algo irresponsável” (2023, p. 189). Agir de forma responsável requer participar ativamente da construção do discurso científico, e não apenas numa posição defensiva de observador desimplicado.

1Parte do conteúdo deste artigo foi previamente publicado como dissertação de mestrado do autor Rodrigo Lage Leite, defendida em 8 de dezembro de 2023 na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

4Latour se refere à estratégia discursiva de afirmar que a ciência está blindada da política. Segundo essa estratégia, a política serviria só para o que não é científico, não caberia na discussão da ciência. Trata-se de um posicionamento político que se disfarça de outra coisa a fim de impedir que outras opiniões políticas também sejam relevantes para a discussão de certos resultados científicos.

5O cérebro de Donovan, de Curt Siodmak, é um romance de ficção científica de 1942. O livro é um diário de um médico e cientista que consegue, inicialmente, dominar a atividade de um cérebro retirado do corpo de um cadáver até ser totalmente dominado por ele.

Referências

Calazans, R. & Lustoza, R. Z. (2012). Sintoma psíquico e medicina baseada em evidências. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 64(1), 18-30. https://tinyurl.com/yc48stdxLinks ]

Coutinho Jorge, M. A. (2022). Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan, 4: o laboratório do analista. Zahar. [ Links ]

Fonagy, P. (2015). The effectiveness of psychodynamic psychotherapies: an update. World Psychiatry: Official Journal of the World Psychiatric Association, 14(2), 137-150. https://doi.org/f7fwgdLinks ]

Gay, P. (1998). Freud: a life for our time. W. W. Norton & Company. (Trabalho original publicado em 1988) [ Links ]

Guedes, C. R., Nogueira, M. I. & Camargo Jr., K. R. (2006). A subjetividade como anomalia: contribuições epistemológicas para a crítica do modelo biomédico. Ciência & Saúde Coletiva, 11(4), 1093-1103. [ Links ]

Haraway, D. (2023). A reinvenção da natureza: símios, ciborgues e mulheres (R. Gonçalves, Trad.) Martins Fontes. [ Links ]

Jenicek, M. (1997). Epidemiology, evidenced-based medicine, and evidence-based public health. Journal of Epidemiology, 7(4), 187-197. https://doi.org/fs5rwdLinks ]

Latour, B. (2017). A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos (G. C. C. Sousa, Trad.). Unesp. [ Links ]

Leichsenring, F., Abbass, A., Heim, N., Keefe, J. R., Kisely, S., Luyten, P., Rabung, S. & Steinert, C. (2023). The status of psychodynamic psychotherapy as an empirically supported treatment for common mental disorders: an umbrella review based on updated criteria. World Psychiatry: Official Journal of the World Psychiatric Association, 22(2), 286-304. https://doi.org/gssbgvLinks ]

Leite, R. L. (2023). Psicanálise no âmbito da psiquiatria contemporânea: estudo qualitativo sobre as circunstâncias, motivações e sentidos [Dissertação de mestrado]. Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. [ Links ]

Moretto, M. L. T. (2019). Psicanálise e hospital hoje: o lugar do psicanalista. Revista SBPH, 22(número especial), 19-27. https://tinyurl.com/3zfu255aLinks ]

Ortega, F. (2008). O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade. Mana, 14(2), 477-409. https://doi.org/dnq6t9Links ]

Pereira, M. E. C. (2014). A crise da psiquiatria centrada no diagnóstico e o futuro da clínica psiquiátrica: psicopatologia, antropologia médica e o sujeito da psicanálise. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 24(4), 1035-1052. [ Links ]

Roudinesco, E. & Plon, M. (1998). Dicionário de psicanálise (V. Ribeiro & L. Magalhães, Trads.). Zahar. (Trabalho original publicado em 1997) [ Links ]

Stanghellini, G. & Broome, M. R. (2014). Psychopathology as the basic science of psychiatry. The British Journal of Psychiatry: the Journal of Mental Science, 205(3), 169-170. https://doi.org/ghpv3mLinks ]

Steinert, C., Munder, T., Rabung, S., Hoyer, J. & Leichsenring, F. (2017). Psychodynamic therapy: as efficacious as other empirically supported treatments? A meta-analysis testing equivalence of outcomes. The American Journal of Psychiatry, 174(10), 943-953. https://doi.org/gb22jhLinks ]

Stengers, I. (2023). Uma outra ciência épossível: manifesto por uma desaceleração das ciências (F. S. Silva, Trad.). Bazar do Tempo. [ Links ]

Villaça, N. (2015). Dessubjetivação e contemporaneidade. Logos, 6(1), 8-12. https://tinyurl.com/yrnzsmxmLinks ]

Wijsen, L. D., Borsboom, D. & Alexandrova, A. (2022). Values in psychometrics. Perspectives on Psychological Science: a Journal of the Association for Psychological Science, 17(3), 788-804. https://doi.org/gnqbxvLinks ]

Recebido: 10 de Junho de 2024; Aceito: 04 de Julho de 2024

Rodrigo Lage Leite rodrigolageleiter@gmail.com

Juliana Belo Diniz juliana.diniz@hc.fm.usp.br

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.