Um tema interessante para uma edição de uma revista de psicanálise poderia ser O impacto das tecnologias digitais na psique contemporânea. Este tópico permite explorar uma variedade de questões relevantes como:
1) A influência das redes sociais: como o uso intenso de redes sociais pode afetar a identidade, a autoestima e relações interpessoais.
2) A presença virtual e a alienação: como a vida virtual pode influenciar a sensação de conexão ou desconexão com a realidade.
3) O efeito da tecnologia na criança e no adolescente: o impacto do uso precoce e extensivo de dispositivos digitais no desenvolvimento psicológico.
4) A psicanálise na era digital: o impacto da telepsicologia e das plataformas digitais no processo terapêutico e na prática clínica.
5) A tecnologia e os novos sintomas psíquicos: como a tecnologia pode estar associada a novos tipos de sintomas ou distúrbios psicológicos.
Esse tema oferece uma ampla gama de abordagens e contribuições, permitindo discussões enriquecedoras e atuais dentro do campo da psicanálise.
O texto acima foi produzido pelo Chatgpt durante a reunião de pauta da rbp que decidiu o tema do próximo número, último a ser publicado pela atual editoria. A estonteante e potencialmente assustadora invasão da tecnologia em nossa vida e sobretudo, no momento atual, do exponencial desenvolvimento da inteligência artificial (IA) destacou-se nas nossas inquietações e nas implicações que certamente terá em todas as atividades humanas. Já que esse seria o tema da publicação, resolvemos começar perguntando à ia o que ela poderia sugerir para desenvolvê-lo, nos impactando com a resposta oferecida, a despeito de haver um tanto de clichê nela – pelo menos, por enquanto.
Retorna à nossa mente o extraordinário filme de ficção científica 2001: uma odisseia no espaço (1968), de Stanley Kubrick, em que vemos um grupo de astronautas ser exterminado pelo computador de uma gigantesca nave espacial enviada a Júpiter para investigar a aparição de misteriosos monolitos, que interferem e direcionam o desenvolvimento da humanidade, e que teriam origem naquele planeta. Uma falha no computador hal 2000 leva à morte de toda a tripulação que se encontrava em estado de dormência para a longuíssima viagem através do sistema solar, com exceção de dois membros, que permaneceram acordados para tomar conta dos eventos. Quando reconhecem a falha de hal 2000 e a ameaça que sua permanência em funcionamento representa para eles, decidem desligá-lo. Porém, o computador, agora “vivo” faz a leitura labial da conversa dos humanos que sobraram, e decide eliminá-los, para que ele próprio não morra.
Outro cenário assustador é o do filme Blade Runner (1982), de Ridley Scott, em que a distinção entre seres humanos e androides vai se tornando cada vez mais difícil, até o ponto de os próprios androides não saberem que o são.
No filme Ela (2013), de Spike Jonze, com Joaquin Phoenix e Scarlett Johansson, um escritor se apaixona pela voz feminina de um sistema operacional para computador e estabelece com ele (ela) uma relação amorosa.
Atualmente já se propõem terapias “psicológicas” em que as pessoas não se tratam com pessoas, mas com programas de computador que, em teoria, poderiam substituir o contato e a subjetividade humanos.
Já há algum tempo a intromissão de aparelhos celulares e outros gadgets eletrônicos passou a ser uma constante durante as sessões analíticas nos consultórios. Telefones que tocam e são atendidos, ou pacientes que não conseguem desgrudar do aparelho e ficam constantemente checando o visor ou mesmo respondendo a mensagens, numa espécie de adição que parece responder a intensas ansiedades persecutórias, e também de expectativa de que alguma salvação messiânica possa vir de algum aplicativo de mensagens. Recentemente um colega, conversando com seu analisando, fez uma indagação a ele e levou um susto ao ouvir a Siri de seu iPhone dizer que não havia resposta para a pergunta. Situação similar aconteceu a uma colega da nossa equipe, com a manifestação expressa por seu relógio quando dialogava com um paciente. Uma das questões que se apresentam é se é possível proteger nossa privacidade, visto que todos os eletrônicos de última geração parecem capazes de nos ver e ouvir. Tempos atrás um conhecido destacou assustado que havia reparado, numa foto de Mark Zuckerberg, que no computador diante dele havia um sticker vedando a câmera.
Temos a queixa constante de pais que não conseguem tirar os filhos da frente da tela de seus telefones e tablets. Esses filhos se tornam cada vez mais incapazes de outras atividades criativas, de leitura, ou mesmo de brincar com os amiguinhos.
Espantado fui informado de que atualmente a maioria dos jovens que vai a bares e restaurantes, ainda que presentes no mesmo ambiente, não “chegam” naquele ou naquela por quem se interessam. Primeiro fazem contato por aplicativos de relacionamento, para depois marcarem um encontro em outro dia!
A contrapartida disso é o número cada vez mais frequente de jovens adultos que não parecem ter condições para lidar com situações reais fora do mundo virtual. Inúmeros selecionadores de empresas relatam ser cada vez mais frequente se depararem com jovens adultos em busca de emprego que vão às entrevistas acompanhados pelos pais. Outros que trabalham com recursos humanos também relatam estar cada vez mais difícil encontrar pessoas com capacidades de se relacionar em equipe ou interpessoalmente, a despeito de terem grandes capacitações técnicas. As últimas, contudo, resultam insuficientes ou inúteis na carência das primeiras.
Outro dado assustador são as realidades alternativas (fake news) produzidas pelas redes sociais e pela ia, com consequências muitas vezes devastadoras e mortais.
Com a pandemia, parecia que o mundo presencial tendia a ser completamente substituído pelo virtual e por relacionamentos à distância. Entretanto, neste momento, mesmo as grandes companhias tecnológicas estão exigindo que todos os seus funcionários retornem às atividades presenciais em seus escritórios, pois perceberam ser decisivo para a sua manutenção e desenvolvimento o relacionamento pessoal de seus empregados. Coisas importantíssimas e essenciais aparecem somente com a presença factual dos empregados. A própria hora do cafezinho e os encontros que ela propicia desenvolvem conexões criativas e de vinculação essenciais.
Na clínica psicanalítica cada vez mais pacientes e analistas parecem dar-se conta de que o contato presencial não mediado pelo virtual é insubstituível. Vários potenciais pacientes já ligam dizendo que só têm interesse em um eventual trabalho analítico se ele for presencial. Outros, que estão em cidades, estados ou até países distantes, lamentam-se de não poder ter a experiência da presença, e sempre que isso é possível, quando se deslocam até a cidade do analista, pedem para ter suas sessões presenciais, mesmo que sejam eventuais, e relatam a grande diferença de qualidade emocional que isso representa. A intensidade e a turbulência das emoções que só existem na presença são mitigadas pela distância e pelas telas. Essa falta de contato real de jovens que vivem mergulhados no digital os tornaria incapazes para lidar com as emoções desencadeadas na presença e seria um dos motivos de levarem os pais (possivelmente mais acostumados a lidar com o mundo real e as emoções nele mobilizadas) às entrevistas de emprego.
Alunos que fizeram sua formação durante a pandemia também se queixam de não formar uma “turma” ou de não ter conhecimento real de seus colegas e professores. Não raro, quando finalmente se encontram, não se reconhecem ou se espantam, porque a ideia que faziam da pessoa vista nos quadradinhos do Zoom não corresponde ao que veem pessoalmente.
Enfim, qual será – ou já é – o impacto desse mundo tecnológico, desse inquietante mundo novo (parafraseando Huxley e também considerando as perturbadoras perspectivas por ele antecipadas em seu romance), em nossa vida e em nossa prática profissional?













