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Salud & Sociedad: investigaciones en psicologia de la salud y psicologia social
versão On-line ISSN 0718-7475
Salud & Sociedad vol.4 no.2 Antofagasta 2013
ARTIGO
A imagem corporal e o envelhecimento na perspectiva de professores de uma universidade brasileira
Perspectives of body image and aging among professors of a brazilian university
Jacqueline De Oliveira MoreiraI; José Maurício Da SilvaII
IDoutora em Psicologia Clínica, Mestre em Filosofia, Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicología da PUC Minas.
IIDoutorando em Psicologia pela PUC Minas, Mestre em Psicologia pela PUC Minas, Assessoria Pedagógica – Col. Sto Agostinho – Contagem-MG.
RESUMO
O presente texto apresenta os resultados parciais da pesquisa intitulada "Aposentadoria e velhice bem-sucedida: estudo de caso com professores universitários da PUC Minas", financiada pelo CNPq e pelo FIP da PUC Minas e aprovada pelo comitê de ética desta instituição de ensino. O objeto de estudo deste artigo é a concepção de velhice destes professores, seus elementos negativos e positivos. A coleta de dados foi divida em dois momentos. Primeiro, entrevistaram-se seis professores com um roteiro semiestruturado que tentava desvelar os imaginários que circundam os temas velhice, trabalho e aposentadoria. A análise deste material possibilitou a construção de um questionário respondido por 40 professores na segunda fase da coleta. Este questionário possui quatro seções: identificação, imaginários sobre velhice, concepções de trabalho e visões da aposentadoria. Os dados coletados foram então divididos em subtemas e analisados estatisticamente com a utilização do programa SPSS. A pesquisa trabalhou com uma amostra de 40 professores universitários com idade entre 60 e 77 anos, dos quais 25 são homens (62,5%) e 15 são mulheres (35%). Desses 40 professores, 39 já desfrutam de uma aposentadoria. Concluiu-se que a imagem corporal e as mudanças corporais representam fatores definidores da percepção do processo de envelhecimento.
Palavras-chave: Velhice, imagem corporal, professores universitarios.
ABSTRACT
This article presents partial results of a research study currently underway. The objective of this portion of the research is to identify the perceptions of old age, both its negative and positive aspects, held by a group of Brazilian university professors. A pilot group of six professors was interviewed with a semi-structured script in an attempt to reveal the stereotypes regarding issues of old age, work and retirement. The analysis of this material allowed the development of a questionnaire used in the second phase of the process. This questionnaire was answered by 40 professors between 60 and 77 years of age, of whom 25 were men (62.5%) and 15 were women (35%). Out of these 40 professors, 39 were already retired. The questionnaire was divided into four sections: identification, stereotypes of old age, perceptions of work, and views of retirement. The collected data was then divided into subthemes and analyzed statistically through the SPSS program. The conclusion was that body image and body changes represent defining factors of the perception of the aging process.
Key words: Students, suicidal ideation, suicide.
INTRODUÇÃO
O presente texto apresenta os resutados parciais da pesquisa intitulada "Aposentadoria e velhice bem-sucedida: estudo de caso com professores universitários da PUC Minas", financiada do CNPq e pelo FIP da PUC Minas e aprovado pelo comitê de ética desta instituição de ensino. O objeto de estudo deste artigo é a concepção de velhice destes professores e quais seriam os elementos negativos e positivos que circulam em torno da ideia de velhice.
Sabemos que os estudos acerca da velhice encontravam-se em segundo plano no campo das pesquisas sobre o desenvolvimento, pois o tema do desenvolvimento infantil se configurava como principal foco deste tipo de estudo. Ainda que a proposta de Erikson sobre o Ciclo de Desenvolvimento Humano (1950) tenha apresentado as primeiras reflexões sistematizadas sobre este momento da vida humana, o aumento da população idoso no cenário mundial aponta para a urgência de se trabalhar, refletir e intervir de forma mais efetiva junto à terceira idade.
Até meados do século XIX, o envelhecimento foi considerado uma questão de mendicância, visto que os idosos não tinham condições de se manterem economicamente. Desta concepção nasce a ideia ou a associação de velho como sujeito incapaz para produzir, trabalhar ou desenvolver-se economicamente. O termo vieux, por exemplo, estava vinculado àquele que não desfrutava de status social. Somente a partir de 1920 que o envelhecimento comparece nas pautas científicas como objeto de estudo, sobretudo no que concerne a questões acerca das transformações fisiológicas e perdas significativas nesta fase. Segundo Araujo (2005), Stanley Hall é pioneira com pesquisas nesta área, uma vez que denunciava a concepção do envelhecimento associada à limitações e deficiências. Até então, o velho era objeto de estudo e cuidado da Psicologia do Excepcional, ou seja, a velhice não era considerada parte do desenvolvimento humano. Nesta mesma linha, aparece, já em 1976, no livro O indivíduo excepcional, de Telford e Sawrey, a manutenção da ideia de que essa fase do desenvolvimento é pouco produtiva.
O envelhecimento como área de conhecimento da psicologia é algo recente. As primeiras pesquisas experimentais datam de 1928 e discutiam temas como memória, aprendizagem, tempo e reação. Entretanto, segundo Baltes (1995), até 1940 praticamente nada se pesquisou sobre a questão da terceira idade, tendo esse momento se caracterizado pela consolidação da psicologia da infância e adolescência.
Destarte, a Psicologia do Desenvolvimento prescreveu um caminho para o desenvolvimento humano que o sujeito precisa percorrer ao longo da sua existência. Todavia, ao naturalizar esse processo, esqueceu-se que os mecanismos socioculturais são os responsáveis pela construção do desenvolvimento humano. Comprometida com a modernidade, segundo Castro (1998), a Psicologia do Desenvolvimento acabou racionalizando o processo de desenvolvimento como um processo ordenável, sequencial, o que supõe um caminho de aperfeiçoamento e etapas a serem vencidas rumo à maturidade.
As ciências modernas do comportamento, ao tomarem o ser humano como objeto de análise segundo os cânones da racionalidade e neutralidade acabaram por criar uma representação do sujeito humano, ou seja, um humano caracterizado "pelo racional, racional como o verdadeiro e essencialmente humano" (Castro, 1998, p. 27), isto é, uma versão hegemônica do humano. Como atesta Castro (1998):
num certo sentido, o assujeitamento do humano dentro dos padrões cientificistas de objetividade e neutralidade propiciou a colusão dos processos subjetivos como os da racionalidade instrumental, de modo que, como comenta Jean-Français Lyotard (1988), as ciências humanas se tornaram uma sucursal da física (Castro, 1988, p. 27).
Dessa maneira, as ciências modernas constroem uma concepção de sujeito humano amparada num saber científico que se legitimou por conceitos relevantes como o de adulto racional, entendendo-se adulto aqui como ser do sexo masculino. Neste sentido, faz-se necessário repensar a concepção de desenvolvimento e temporalidade, para que se possa construir um saber acerca do desenvolvimento do envelhecimento.
Hoje, segundo Neri (2007), a Psicologia do Envelhecimento tem como paradigma o lifespan, paradigma criado por Paul B. Baltes, alemão, nascido em Saarlouis em 1939 e falecido em 07 de novembro de 2006, em Berlim. O paradigma do lifespan, ao conceber desenvolvimento como algo que acontece ao longo da vida, remete-nos à plasticidade que caracteriza o ser humano independentemente do momento em que se encontra.
O paradigma do lifespan, ainda segundo Neri (2007), é de caráter pluralista, uma vez que congrega várias dimensões como temporalidade e dimensões do desenvolvimento, é transacional, dinâmico e contextualista. A partir das contribuições de pensadores como Shaie (1965), Jung (1971), Buhler (1935), Erikson (1950) e Riegek (1976), nasceu a Psicologia do Envelhecimento, que adotou como foco o lifespan, ou seja, o desenvolvimento ao longo da vida.
Assim, a temática do envelhecimento nas últimas décadas vem ganhando representatividade devido ao prolongamento da expectativa de vida da população e, consequentemente, do aumento do número de idosos. Vários estudos (Beauvoir, 1990; Chaimowicz & Greco, 1999; Rodrigues et al., 2000; Teixeira, 2002; Rosa et al., 2003) acerca do envelhecimento vêm sendo produzidos neste sentido.
No Brasil, nos últimos 30 anos, segundo Moreira (2001), a população idosa constitui um fator relevante na pirâmide etária. Calcula-se que, por volta de 2025, essa população ultrapasse os 30 milhões (Berquó, 2006).
Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – no Brasil, em 2020, a população de idosos chegará a 25 milhões de pessoas, sendo 15 milhões de mulheres de uma população total de 219,1 milhões. Isto significa que os idosos representarão 11,4% da população brasileira. Com a queda constante das taxas de fecundidade e a diminuição paulatina das taxas de mortalidade registradas nos últimos anos, estudos comprovam que o envelhecimento da população brasileira é um processo irreversível. Dessa forma, buscamos investigar junto aos professores universitários suas concepções de velhice, o pontos positivos e negativos e o maior marco definidor do envelhecimento.
METODOLOGIA
Participantes
Esta pesquisa trabalhou com uma amostra de 40 professores universitários retirados de uma população de aproximadamente 100 professores. Tentamos contemplar professores de idade diferentes, mas com o marco mínimo de 60 anos. Assim, a amostra conta com professores com idades entre de 60 e 77 anos. Sobre a formação profissional, pode-se dizer que, de um total de 40 professores, nove (22,5%) responderam que são mestres, doutores ou professores, não sendo possível localizar sua área formação, mas dos 31 restantes, 20 (50%) são das ciências humanas, oito (20%) das ciências exatas e três (7,5%) das ciências biológicas. Acredita-se que o número elevado de professores das ciências humanas se relaciona com fato de a docência ser um lócus privilegiado de trabalho para este grupo, ao contrário dos engenheiros, médicos e dentistas, que representam as outras áreas. Do total de 40, temos 25 homens (62,5%) e 15 mulheres (35%), e, no que se refere ao tema da aposentadoria, dos 40 professores da pesquisa 39 já desfrutam de uma. Acreditamos que a prevalência do sexo masculino em nossa amostra pode ser um índice que aponta para a diferença da inserção da mulher no mercado de trabalho no fim da década de 1970 e início de 1980 em comparação com a atualidade.
Procedimentos
Nossa pesquisa nasceu do interesse de entender os imaginários sobre a velhice dos professores universitários com mais de 60 anos. Para alcançar este objetivo dividimos este estudo em dois momentos. Primeiro, entrevistamos seis professores com um roteiro semiestruturado que buscava desvelar os imaginários que circundam os temas velhice, trabalho e aposentadoria. A análise deste material possibilitou a construção de um questionário que foi aplicado em 40 professores no segundo momento da coleta. Este questionário possui quatro seções: identificação, imaginários sobre velhice, concepções de trabalho e visões da aposentadoria. Os dados coletados por esse questionário foram divididos em subtemas e analisados estatisticamente com a utilização do programa SPSS. Assim, esta pesquisa se insere no modelo híbrido que alterna modelos qualitativos e quantitativos, mas pode ser definida como um estudo de caso, que, segundo Tull e Hawkins (1976), é mais adequado para pesquisas exploratórias e particularmente útil para a geração de hipóteses.
O tema do envelhecimento aparecia em quatro questões do questionário. A primeira tentava localizar o momento da percepção do envelhecimento: "Qual dos elementos abaixo melhor anuncia o envelhecimento para você?", com seis opções de resposta: imagem corporal; saúde; aniversário; chegada dos netos; aposentadoria; e outros. Em seguida, indagamos: "Para você, o envelhecimento é um acontecimento muito negativo, negativo, neutro, positivo ou muito positivo?"
Buscando os valores positivos, perguntamos: "Qual dos atributos positivos abaixo está mais presente no envelhecimento para você?" Oferecemos seis opções de resposta: sabedoria; liberdade; tranquilidade; realização de sonhos; não percebo atributos positivos no envelhecimento; e outros. E, por fim, perguntamos: "Qual dos atributos negativos abaixo está mais presente no envelhecimento para você?", com nove opções de resposta: mudanças corporais; solidão; dependência; doença; sentimento de inutilidade; medo da morte; fragilidade; não percebo atributos negativos no envelhecimento; e outros.
Os sujeitos dessas pesquisas foram selecionados aleatoriamente a partir de uma lista fornecida pela Pró-Reitoria de Recursos Humanos da PUC Minas. A primeira tentativa de contato com os professores foi por meio da internet. Enviamos, duas vezes, por e-mail, para os 100 professores da lista o questionário e o termo de consentimento livre esclarecido. Apenas nove professores responderam, o que fez com que fôssemos obrigados a buscar uma nova estratégia. Resolvemos telefonar para os professores e pedir para responder ao questionário. A maioria se mostrou disponível, mas apenas dois responderam de fato. Optamos por marcar uma hora de encontro e abordamos pessoalmente os professores nos seus espaços de trabalho. Assim, conseguimos mais 29 questionários respondidos. É digna de nota a dificuldade em conseguir os questionários respondidos. Não sabemos o significado deste alto índice de recusa, mas pensamos que este fato pode expressar uma dificuldade em lidar com o tema do envelhecimento.
RESULTADOS
A primeira pergunta – "Qual dos elementos abaixo melhor anuncia o envelhecimento para você?" – revelou que quase metade dos professores entrevistados considera que é a imagem corporal o fator que melhor anuncia o envelhecimento, seguido dos problemas de saúde, sendo importante notar que a distância entre essas duas respostas significativa: uma diferença de 20%. Foram consideradas 37 respostas, uma vez que os outros três entrevistados escolheram mais de uma opção. Parecenos interessante pensar que, numa sociedade que privilegia a aparência, a imagem corporal seja o fator mais definidor do envelhecimento (Figura 1).
Este resultado foi corroborado pela resposta à pergunta "Qual dos atributos negativos abaixo está mais presente no envelhecimento para você?", pois 42% dos professores afirmaram que as mudanças corporais são o atributo negativo mais presente no envelhecimento (Figura 2).
Por outro lado, apenas sete professores consideram o envelhecimento um acontecimento negativo (Figura 3).
Podemos pensar que este baixo índice de negatividade em relação ao envelhecimento esteja vinculado aos atributos positivos da velhice, pois 46% se sentem mais sábios e 22% mais livres (Figura 4).
DISCUSSÃO
Não podemos deixar de ressaltar que a concepção de envelhecimento está associada ao contexto histórico, aos valores e ao lugar que o idoso ocupa na escala classificatória de cada cultura, de cada sociedade, e daí advém a construção social do envelhecer e de ser velho.
É interessante constatar que metade dos entrevistados sinaliza que a imagem corporal é a primeira a falar do envelhecimento. A percepção do envelhecimento ligado a uma imagem corporal associada a mudanças corporais parece traduzir bem o momento histórico em que vivem esses entrevistados. Ou seja, aprisionados pela cultura do corpo, se deparam com padrões estéticos inalcançáveis colocados por um "ego ideal", resultando numa insatisfação crônica com o próprio corpo. Não corresponder aos padrões – sarado, siliconado, sem rugas – torna-se fonte de angústia e frustração. A busca desenfreada pelo corpo ideal, pelas belas formas, parece corresponder às necessidades de realização de fantasias primitivas de autocontrole, de garantias de autoconfiança, de obtenção de prazer, mas somos traídos, como afirma Khouri (2008, p. 73), "por aquilo que se nos escapa, essa sede pulsante de vida biológica – o corpo – com as forças contraditórias que nos fazem defrontar com sentimentos de desamparo, dor, impotência diante das demandas constantes dos mundos internos e externos".
As questões relacionadas à saúde aparecem em segundo lugar como fonte de preocupação no gráfico que denuncia o envelhecimento. Sabemos que na idade avançada o que mais preocupa não é tanto a proximidade da morte e sim a decadência orgânica, a falta de força, a perda da memória ou a contração de doença que culmine na dependência, apontado por 10% dos entrevistados como fator negativo do envelhecimento. Por outro lado, nota-se uma contradição: contrastando percepção do envelhecimento (saúde) e atributos negativos (doença - 10%), há uma distância considerável entre os índices. Se a saúde é um indicativo ou sinal do envelhecimento, o seu contrário deveria corresponder ou se aproximar do apontado. O índice de 10% de fragilidade como aspecto negativo do envelhecer parece reforçar a contradição ou o distanciamento.
O envelhecimento é considerado positivo, dado expresso com frequência acima do segundo índice, mas não distante da categoria "neutro". Talvez pudéssemos indagar se os resultados apresentados como positivos realmente o são. Se fosse tão positivo assim, o índice realização não deveria ser mais elevado como o da sabedoria ou o da liberdade? Por outro lado, apontar o envelhecimento como algo positivo parece contrastar com a cultura contemporânea em que o sujeito é quase que proibido envelhecer, sendo isso visto quase que como algo vergonhoso.
Ainda se referindo à percepção acerca do envelhecimento, a categoria "neutro" está um pouco abaixo da frequência do "positivo". Esta neutralidade em se posicionar pode estar relacionada com a violência exercida pelo discurso que exalta a juventude e a produtividade, e como afirma Goldfarb:
propõe um modelo desvalorizado com o qual o velho se identifica, anulando sua condição desejante e seus direitos de cidadania. Então, a falta de um reconhecimento social para a velhice, a falta de um lugar simbólico, o fato de não mais ser fonte de prazer, resulta numa desnarcisaçao do sujeito (Goldfard, 1998, p. 14).
A sabedoria aparece como atributo positivo para os entrevistados. Na sociedade tradicional, a figura do velho representava a sabedoria, o guardião da cultura, segundo Giddens (1997). Era ele quem detinha a memória coletiva, elemento importante na vida do jovem, que sustentava sua ancoragem no registro do simbólico; este era a lugar simbólico da velhice, o que perpetuava a experiência de gerações. Na contemporaneidade, este lugar cede espaço aos peritos, aos especialistas. Sendo nossos entrevistados conceituados professores universitários, podemos associá-los a essa posição de especialistas e, assim, compreender a introdução do tema da sabedoria.
Vivemos hoje uma transição de época, segundo alguns estudiosos, de uma sociedade tradicional, pré-moderna para uma sociedade destradicionalizada (Giddens, 1997). A contemporaneidade está marcada por mudanças de costumes, comportamentos e novas formas de relações humanas. São valores novos, como afirma Rodrigues (2006), que desenham uma nova visão de mundo, de sociedade, uma fase da história que está sendo construída globalmente. Um processo de construção caracterizado pelo uso de altas tecnologias, pela instantaneidade, pelo virtual, pelo efêmero, pelo descartável, pela promoção do culto à juventude, à beleza, à força física, ao corpo sarado, malhado, em prejuízo do envelhecimento vinculado à improdutividade e enfraquecimento. Neste espaço marcado pelo efêmero e pela impermanência (constitutivo da vida), encontram-se nossos anciãos que, em grande parte, estão à margem deste processo, desprotegidos, objetos de preconceito, culpados por serem velhos. Parece ser humilhante, como diz Khel (2004), "deixar de ser jovem e ingressar naquele período da vida em que os mais complacentes nos olham com piedade e simpatia e, para não utilizar a palavra ofensiva – velhice –, preferem o eufemismo ‘terceira idade’" (Khel, 2004, p. 44).
Segundo Lasch (1983), uma das características do mundo moderno é o horror à velhice. A cultura pós-moderna apresenta um explícito horror à velhice, o que produz nos sujeitos uma dificuldade de assumir o envelhecimento e seus signos, como, por exemplo, o envelhecimento do corpo. Nesse sentido, Moreira (2012) apresenta a relação dramática do sujeito pós-moderno com o envelhecimento de seu corpo:
As novas tecnologias biomédicas vendem a ilusão de que a decadência do corpo pode ser evitada através de intervenções cirúrgicas. O envelhecimento da imagem corporal seria uma tragédia que pode ser evitada pela força da vontade, o sujeito acredita ser livre para escolher a intervenção técnica mais eficiente contra o envelhecimento de sua imagem corporal. Parece-nos um pacto mefistofélico: venda sua alma para conseguir a imagem de juventude eterna (Moreira, 2012, no prelo).
Em "O mal-estar na civilização" (1930/1976), falando do sofrimento humano, Freud aponta a fragilidade do corpo, condenado ao declínio e ao aniquilamento, como uma das fontes do desamparo. E afirma: "Nunca dominaremos completamente a natureza, e o nosso organismo corporal, ele mesmo parte desta natureza, permanecerá sempre como uma estrutura passageira, com limitada capacidade de adaptação e realização" (Freud, 1930/1976, p. 93). Em uma sociedade performática (Debord, 1997), a aparência é tudo, e, assim, o envelhecimento é o cartão de saída do "mercado" dos afetos e relacionamentos.
CONCLUSÃO
Podemos concluir esta parte da pesquisa confirmando que o estudo do envelhecimento demanda do pesquisador uma análise das dimensões políticas, econômicas, sociais, culturais, religiosas, valores e sistemas simbólicos presentes na sociedade. O olhar para estes aspectos colocam-nos em contato com a visão que cada cultura estabelece para seus idosos.
Neste sentido, quando falamos do processo de envelhecimento, cremos que há necessidade de situarmo-nos no tempo e no espaço, pois o idoso que temos hoje, com certeza, em nada se parece com nossos avós. Há que se pensar que cada época produz a subjetividade pertinente, subjetividade esta, como alude Ceccarelli (2010), que:
é tributária dos modelos identificatórios culturalmente valorizados, e das sublimações significantes do momento em questão. Isto significa que a sociedade forma tanto a psique quanto seus inúmeros derivados dentre os quais os sintomas. Nesta perspectiva, da mesma forma que a constituição do Eu não pode ser separada da sociedade na qual ele emerge, o padecimento psíquico traz as marcas da sociedade e do momento sóciohistórico que o produz (Ceccarelli, 2010, p. 130).
Assim, no contexto atual, o horror à velhice é atravessado pelo medo do espelho, pelas marcas do tempo na nossa imagem corporal, apesar do reconhecimento de que as marcas revelam uma caminhada que tem como fruto a sabedoria.
REFERÊNCIAS
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Endereço para correspondência:
Jacqueline De Oliveira Moreira
Rua Congonhas, 161 São Pedro
BH/MG – Brasil. CEP 30330100.
E-mail: jackdrawin@yahoo.com.br
José Maurício Da Silva
Rua Bernardo Gumarães, 2700. Santo Agostinho
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E-mail: mauricio@agostinianos.org.br
Recibido: 04 de Abril del 2013
Aceptado: 03 de Junio del 2013