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Interações

Print version ISSN 1413-2907

Interações vol.8 no.16 São Paulo Dec. 2003

 

ARTIGOS

 

O estatuto da Bindung na contemporaneidade1

 

The statute of Bindung in contemporaneity

 

 

Regina HerzogI

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente ensaio propõe-se a trabalhar a noção de Bindung2 no pensamento freudiano, visando extrair dessa figura elementos para uma futura discussão acerca da dissolução do laço social na contemporaneidade. Tomando como referência o Projeto para uma psicologia científica, pretende-se indicar a vertente criativa que esta noção comporta no processo de singularização.

Palavras-chave: Psicanálise, Ligação, Nova economia psíquica, Singularização, Criatividade.


ABSTRACT

The purpose of this essay is to study the notion of Bindung in the Freudian thought, aiming to extract from this figure elements for further discussion on the dissolution of the social ties in contemporaneity. Taking as reference the Project for a Scientific Psychology, the idea is to point to the creative trend of this notion in the process of singularization.

Keywords: Psychoanalysis, Link, New psychic economy, Singularization, Creativity.


 

 

A dissolução do laço social é tema de discussão em praticamente todo o campo das ciências humanas e sociais, configurando-se senão como uma característica, certamente como uma forte tendência dos tempos pós-modernos. Da perspectiva psicanalítica essa questão torna-se crucial em função do modelo de sujeito que se depreende do pensamento freudiano: um sujeito que só pode ser pensado em sua inserção no social. Não se trata de rotular a psicanálise como uma teoria do social, mas de constatar que o processo de subjetivação en-contra-se atravessado pelo social. De um modo invertido, confirma-se a famosa asserção de Freud, em 1921, de que não é possível distinguir uma “psicologia do indivíduo” de uma “psicologia social”.

Em 1913, com seu mito de origem da sociedade, Freud concebe um modelo específico de laço social que perpassa sua obra – sendo retomado na maior parte dos textos denominados culturais –, e que ao mesmo tempo dá sustentação ao modelo de constituição e funcionamento do aparato psíquico.

Todavia, tanto a categoria de “sujeito” quanto a expressão “laço social” não são um legado de Freud. Lacan, de fato, é o responsável pelo estatuto que lhes é conferido na atualidade, inseridas em sua trama conceitual a partir de um retorno desse autor a Freud. A proposta de retorno a Freud foi uma marca no percurso de Lacan, não se configurando absolutamente como uma retomada ingênua de suas idéias, mas em fazer trabalhar os conceitos como possibilidade efetiva de criar. A esse respeito o próprio Lacan, contrapondo-se a seus seguidores que se auto-designavam lacanianos, costumava dizer que ele próprio era freudiano (1963-4). Menos que um ato de modéstia, essa afirmação convida-nos, de modo incisivo, a estabelecer uma relação semelhante com o texto freudiano. Sem desmerecer a contribuição efetiva de Lacan ao tema, mas visando extrair da construção freudiana mais elementos para uma futura discussão sobre a questão da dissolução do laço social na contemporaneidade, o presente ensaio propõe (em lugar de deter-se e problematizar essas figuras – sujeito e laço social) abordar um correlato do termo laço, ligação (Bindung), de fundamental importância na trama freudiana. E a tal ponto importante, que me aventuro a dizer que se há um ineditismo no pensamento de Freud, este diz respeito ao modo como estrutura seu arcabouço teórico-clínico a partir da idéia de ligação.

Acompanhando o próprio Lacan, por exemplo, seria possível conceber os quatro conceitos fundamentais da psicanálise – inconsciente, repetição, pulsão e transferência (1964/1985) – sem a intervenção da Bindung? Ou seja, o termo ligação e seus correlatos – desligamento, laço, vínculo, energia ligada, energia livre –, mesmo não tendo o estatuto de conceito, permeiam toda a construção da psicanálise. Sem ele os conceitos ditos fundamentais provavelmente careceriam de sentido. Como pensar a pulsão sem ter presente o processo de ligação que se efetua no trajeto que vai do impacto de uma força à sua descarga? Ou quando se fala de repetição, seja ela sintomática ou da ordem de uma compulsão? O que é a transferência, se não um modo de ligação? Em que registro é possível entender o investimento objetal senão por meio de um processo de ligação? Assim, desde o âmbito do funcionamento do aparato psíquico até sua própria instauração, a ligação aparece como o que aciona um processo complexo, que nem sempre recebeu o devido relevo.

Por estranho que possa parecer, foi justamente a partir de uma operação inversa – de desligamento –, que Freud promoveu o que designamos como ineditismo. Desligamento que remete a uma crise do pensamento, abarcando não só a razão mas a própria idéia de referente ou de realidade. Não sendo propósito da presente reflexão discutir a crise do pensamento em fins do século XIX, cabe no entanto indicar, em linhas gerais, que essa crise tem no pensamento cartesiano, senão sua origem, certamente sua problematização, com a valorização da idéia de um pensamento puro, e diz respeito à relação sujeito/objeto. Relação ordenada em uma polaridade excludente que se desdobra em tantas outras, tais como eu-outro, natural-cultural, dentro-fora, soma-psique, e que se estabelecia, seja na forma de dependência de um sobre o outro pólo, seja a partir de uma dialética entre os dois termos, ou ainda na própria irredutibilidade de ambos. Pois bem, o ineditismo freudiano refere-se à elaboração, a partir do desmantelamento ou da desconstrução desse tipo de relação, de um outro modo de se operar a Bindung entre os termos. Ou seja, o que é inédito é o fato de que a subversão promovida nos termos sujeito e objeto remete a uma outra lógica de ligação entre eles.

Tomemos dois conceitos que certamente tiveram um papel significativo na subversão efetuada pela psicanálise no par sujeito/objeto. Costuma-se dizer que o inconsciente é o objeto de investigação da psicanálise, e a pulsão seu conceito fundamental. Concebendo a psicanálise como o único método de investigação dos fenômenos inconscientes, a postulação de uma zona de desconhecimento que determina nossas ações – os pensamentos inconscientes – revira uma concepção de soberania do pensamento. A originalidade dessa postulação está remetida menos ao lugar que esses pensamentos ocupam, ao sentido que deles emana por meio dos sonhos, atos falhos etc, do que ao modo como eles se forjam, por meio de um processo de ligação. Em outras palavras, o relevo dado ao desejo como motor dessa produção inconsciente aponta para o ineditismo que comporta a noção de ligação na trama freudiana.

Com respeito ao conceito de pulsão, o que significa dizer que um conceito é fundamental? Significa que ele ocupa o lugar de fundamento, na mesma medida em que se fala dos alicerces de um edíficio. No modo como é descrito – como um conceito limite entre somático e psíquico, ou ainda, como uma exigência de trabalho feito ao psíquico pelo somático –, o conceito de pulsão visa justamente operar uma ligação entre corpo e psiquismo, sendo os dois termos concebidos segundo uma lógica completamente diversa daquela que vigorava em fins do século XIX. Ou seja, na ligação que a pulsão efetua nem o corpo é pura extensão ou biológico, nem o psiquismo comporta a idéia de puro pensamento. Opera-se assim uma subversão dos termos. Distanciando-se de um aporte metafísico e/ou científico no qual se sustentava essa discussão, a psicanálise nasce da preocupação em definir “a singularidade dos seres humanos pelo modo como eles abordam o prazer em seu excesso” (David-Ménard, 2000, p. 37). Nesta direção, o que surge como novo é o fato de não considerar esse excesso de prazer como o que se contrapõe ao “racional”, reedição da velha oposição Pathos versus Logos (Herzog, 2001). Novamente fica aí indicado o ineditismo que a noção de ligação comporta.

Nessa medida, esses dois conceitos – tomados como exemplares para apontar a subversão freudiana – permitirão trabalhar a especificidade da Bindung. Antes, porém, faz-se necessária uma pequena digressão.

Freud determina como data do nascimento da psicanálise a publicação de A interpretação dos sonhos (1900); entretanto, um texto escrito às pressas em 1895, com uma única cópia enviada a Fliess, e aparentemente “esquecido” (por Freud), reúne várias das principais idéias que compõem sua obra posterior. Dentre elas a tentativa inédita – com o caráter de fundamento – de explicitar a ligação entre somático e psíquico; ou seja, a operação de Bindung apresenta-se como condição de possibilidade da fundação de um aparato. É o que se verifica na passagem de uma Q (quantidade de energia) através dos neurônios, formando, com o investimento (Besetzung), uma rede neuronal. Trata-se, em última instância, da transformação de uma energia em representação. É este aspecto que nos interessa ressaltar na presente reflexão como subsídio para um discussão em torno da questão do laço social. Entretanto, vale a pena indicar brevemente a descrição, nesse texto, do sistema nervoso.

Freud concebe o sistema a partir de partículas materiais com uma via de entrada e duas de saída (os neurônios), nas quais circula uma energia (quantidade capaz de deslocamento e descarga). Estabelece três sistemas de neurônios (phi, psi e ômega), que se distinguem por sua permeabilidade ou impermeabilidade no cumprimento de diferentes funções (de percepção e de memória). Trata-se de indicar como o aparelho neuronal retém e descarrega a quantidade (estímulos exógenos e endógenos) que o invade. A função primária do sistema é a descarga da energia. Em outras palavras, a fuga do estímulo oriundo do exterior, que se realiza segundo o modelo do arco reflexo. Com relação aos estímulos endógenos (fome, sexualiade, respiração) – o que mais tarde, em sua obra, Freud designa como pulsão –, essa fuga é impossível, fazendo-se necessária uma ação específica para o alívio da tensão que tais estímulos provocam. A realização dessa ação específica implica que alguma quantidade de energia seja retida; ou seja, a descarga não é total em função de necessidades vitais (Not des Lebens). Nessa medida, o neurônio é investido (Besetzt) de energia proveniente tanto do sistema phi (estímulos exógenos) quanto do interior do organismo (estímulos endógenos), a partir das barreiras de contato criadas pelo sistema de neurônios (psi) impermeáveis à descarga. Por sua vez, a diferença entre neurônios permeáveis e impermeáveis permite conceber a constituição da memória pelo estabelecimento de trilhamentos (Bahnungen) entre os neurônios psi. O terceiro sistema de neurônios (ômega) vai ser o responsável pela percepção-consciência, e é excitado ao mesmo tempo que se dá a percepção pelo sistema de neurônios phi.

Tudo indica que com esse texto Freud visava um público de cientistas, daí provavelmente o título dado pelos editores ingleses: Esboço de uma psicologia científica ou Psicologia para o uso dos neurologistas. Todavia, seu conteúdo fantástico mostrava-se bem pouco convincente, ou pelo menos bem pouco positivista. Ainda assim, com relação a esse texto, publicado em 1950, cabe salientar que encontramos estudos rigorosos, procurando não só dar relevo aos conceitos que apresenta, como também contribuir para uma circunscrição mais precisa dessa obra na trama conceitual da psicanálise3.

Segundo David-Ménard (2000), o fato desse texto ter sido destacado do restante da obra conferiu uma falsa impressão da psicanálise: como se ela só se interessasse pelo que é da ordem do “psíquico”. Enfatizando no texto de 1895 a formulação energética e quantitativa no que concerne tanto ao corpo quanto ao pensamento, a autora considera essa formulação de importância fundamental, tanto no âmbito da clínica quanto conceitualmente. De acordo com suas palavras, mais do que “as quantidades nelas mesmas”, importam “as relações que esta linguagem permite formular: entre o prazer e o desprazer há algo de homogêneo que a linguagem da quantidade respeita...” (p. 91). Valorizar esse aspecto, no entanto, não significa tomar um partido acerca do viés em que a psicanálise opera. Há aqueles que vêem no Projeto para uma psicologia científica (1895[ 1950]/1977) um projeto cientificista de Freud, que teria fracassado como tal. E há aqueles que rejeitam essa linguagem quantitativista como inoperante para tratar o “psíquico”4. O debate estabelecido a partir daí repete, em última instância, a querela entre as ciências do espírito e as ciências da natureza. Dessa forma, as formulações energéticas ficam remetidas ao campo das ciências naturais, enquanto as formulações em termos de representações às ciências do espírito ou humanas. Configura-se, com isso, uma oposição entre energia e representação, como base e sustentação do que Freud designaria como um conflito incontornável. Acompanhando Monzani (1989), consideramos que se trata de um falso problema, e a pontuação desse problema no presente ensaio justifica-se pela importância que o termo Bindung tem nesse contexto.

Dando prosseguimento a nossa argumentação, não estamos desinformados do quanto, para Freud, a questão de inserir a psicanálise no campo das ciências da natureza é complexa e, para alguns, extrema-mente ambivalente. Sua herança em relação aos mestres da ciência é indicada e discutida por vários comentadores5, salientando o relevo que Freud atribuía ao pensamento científico. Todavia, ele próprio, por diversas vezes, empreende uma crítica ao método científico quando, por exemplo, ao se referir ao modelo nosográfico utilizado por Charcot, considera-o pouco apropriado para tratar de um “objeto puramente psicológico”. (Freud, 1893/1977). Objeto sobre o qual escolhe se debruçar, inaugurando sua clínica. Assim, ora apresentando a psicanálise como uma Naturwissenschaft, ora convocando sua feiticeira, a questão parece levar a um impasse, caso não se tenha presente que o que Freud recusa a priori é justamente a “polarização entre ciências da natureza e do espírito” (Assoun, 1983). A esse respeito Loureiro (2002) aponta, com relação às pulsões como “entidades limítrofes”, o equívoco em se conceber um dualismo no par pulsão/representação como reedição dessa polarização, “uma vez que a pulsão admite ser pensada como extrapsíquica e (não apenas, mas em vez disso) como propriamente psíquica” (p. 272). Utilizando-se dessa lógica – não apenas, mas em vez disso –, a autora vai mostrar ao longo da obra freudiana como a aparente ambivalência de Freud em considerar ou não a psicanálise como uma “ciência” serve, de fato, para “sublinhar e preservar as diferenças” (p. 279).

Conforme assinalado, esse tipo de consideração auxilia-nos a reforçar o papel da Bindung como subversão de uma determinada lógica. A questão para Freud é menos pensar a relação entre alma e corpo do que trabalhar a dimensão prazer/desprazer. E isso fica claro quando inicia seu trabalho ressaltando nos sintomas histéricos as “representações hiperinvestidas”, expressão que comporta tanto uma dimensão representacional quanto energética. Dimensões que pouco tem a ver com o universo da representação ou com uma preponderância quantitativista strictu sensu. Ou seja, conforme veremos a seguir, o mode-lo de aparelho apresentado por Freud visa “pensar a relação entre gozo sexual e elaboração do pensamento” (David-Ménard, 2000a, p. 10).

Passemos agora para a questão da ligação tal como se pode depreender da formulação “fantástica” de um sistema nervoso, nos termos do Projeto (1895[ 1950]/1977), embrião do que Freud posteriormente designará como “aparelho da alma”. Em uma primeira aproximação, Freud parece proceder a uma “separação” entre um fora e um dentro, ao se referir às excitações que provêm do mundo externo. Nesse mode-lo, o mecanismo do arco reflexo funciona como condição de possibilidade da descarga energética. Todavia, essa aparente “separação” não se sustenta quando remete ao afluxo de energia proveniente do interior do corpo. Ambas – excitação externa e interna – passam pelo sistema psi; mais precisamente, ambas fundam psi, sistema incapaz de discriminar o que vem de fora do que vem de dentro. Sendo mais precisos, esse “aparelho da alma” permite combinar as energias das duas fontes: por exemplo, a irritação que alguém (de fora) provoca associa-se ao malestar de uma lembrança desagradável.

Nesse contexto, mesmo o sistema ômega, que sinaliza e informa psi sobre a excitação, também não procede a uma discriminação. Isto con-firma que a dinâmica diz respeito, fundamentalmente, a uma tensão em termos de prazer/desprazer, e não à necessidade de distinguir realidade de pensamento. Não se tratando de propor uma teoria do conhecimento, o sinal da consciência (ou índice de qualidade) funciona somente como “índice de presença de algo”. Ora, tal como está circunscrito, podemos dizer até aqui que se trata de um aparelho de alucinar, pois do modo como está configurado não há como discernir alucinação de percepção. Trata-se de um aparelho pouco eficaz, reduzindo-se à função de descarregar um aumento de tensão. Missão impossível de ser cumprida, já que a excitação provinda do interior é constante, colocando-o permanentemente em estado de tensão. O índice de qualidade, consistindo em um sentimento da presença de algo, não implica sua presença efetiva (David-Ménard, 2000a). Para que esta função seja exercida de modo eficaz torna-se necessário que o sistema psi funcione de modo ativo, promovendo uma ligação e retendo, para isso, alguma quantidade de energia. Reter uma quantidade de energia significa permitir um acúmulo, operação que supõe uma ligação. Assim, liga-se um quantum de energia para que uma ligação em outro nível seja possível.

A atividade nomeada para essa dupla função é a atividade do pensar. Pensar é ligar energia de tal modo que seja possível distinguir interior e exterior. Essa função eminentemente econômica do pensamento deixa patente, de acordo com David-Ménard, que este “não é independente do prazer e do desprazer” (2000, p. 94), e ainda, que o pensamento é o que “permite mudar o regime destes últimos, pois ele próprio é uma quantidade de energia que modula o excesso das energias que afluem no sistema intermediário, dito psi” (p. 94). Descaracteriza-se, assim, a idéia de que pensar se reduz simplesmente à capacidade de conhecer.

Essa desconstrução realizada em relação ao pensar traz como resultado o caráter de inconsciência ao sistema psi. Mais tarde, quando estabelece a primeira tópica (1900), Freud distingue duas modalidades de funcionamento para o aparato psíquico: o sistema inconsciente vai operar segundo o princípio prazer/desprazer, procedendo de acordo com o processo primário, enquanto o processo secundário, diferenciação do primeiro, conduz – por meio da atenção, pensamento judicativo, linguagem e pensamento de vigília – à identidade perceptiva, pelo adiamento da descarga.

Vale a pena determo-nos um pouco mais nessa passagem, visando indicar que se a operação de ligação modula essa configuração – na medida em que o processo primário diz respeito a uma forma livre de circulação da energia, e o secundário a uma forma ligada –, a questão não é tão simples. De fato, no Projeto (1895[ 1950]/1977) a Bindung remete para a noção de eu como o que vai fixar um conjunto de neurônios com a finalidade de inibir a passagem de quantidades para evitar o desprazer que a alucinação provocaria. Segundo Garcia-Roza (1983), “sua função é impedir que o investimento da imagem mnêmica do primeiro objeto satisfatório se faça, isto é, evitar a alucinação e a conseqüente decepção” (p. 56). Daí podermos dizer que o processo secundário não estabelece uma oposição com o primário, mas é uma diferenciação deste. Todavia, depreendemos também que a energia livre circula no interior de psi, sendo sua descarga retardada na operação acima referida. Cabe ainda lembrar que a constituição da memória se dá nessa mesma operação. A esse respeito, nunca é demais lembrar a Carta 52 (6/12/1896 /1977), em que Freud descreve o aparelho psíquico como um aparelho de memória.

Mas o que dizer do processo de ligação referido ao afluxo de excitações provenientes tanto do mundo externo quanto do interior do organismo, ou seja, excitações que estão fora de psi? A energia em questão também é livre? Qual a diferença que se pode estabelecer entre esse afluxo de energia (livre) que instaura o aparato e a energia livre que circula no interior do próprio aparato? Trata-se de uma diferença de grau ou de natureza? Nesse ponto uma outra noção entra em cena, e juntamente com a Bindung, monta essa engrenagem: trata-se da idéia de investimento (Besetzung), conceito fundamental na trama freudiana. Em poucas palavras, o investimento diz respeito ao fato de uma quantidade (Q) ocupar um grupo de neurônios, instaurando um lugar (psíquico) pela operação de ligação que se dá na resistência à descarga total do afluxo de excitação. Conforme salienta Garcia-Roza (1991), o termo Besetzung é empregado pela primeira vez, formalmente, nos Estudos sobre a histeria (1893-1895/1974). Segundo as palavras de Freud: “Mostrei, a partir de exemplos da vida comum, que a catexia [ tradução de Besetzung para o português] de uma idéia cuja emoção não foi usada está sempre relacionada com uma certa quantidade de inacessibilidade associativa e de incompatibilidade com novas catexias” (1893-1895/1974, p. 135). Nesta acepção, investimento aproxima-se de afeto, e a conotação energética que lhe é conferida nesse momento, e mesmo em outros posteriores – 1915, por exemplo –, não deixa de ser lamentada pelo próprio Freud. Referindo-se a sua herança para “empregar diagnósticos locais e eletroprognose” (1893-1895/1974, p. 209), diz: “surpreende-me que os históricos de casos que escrevo pareçam contos e que, como se poderia dizer, eles se ressintam do ar de seriedade da ciência” (p. 210). Entretanto, prossegue Freud, “o fato é que o diagnóstico local e as reações elétricas não levam a parte alguma no estudo da histeria” (p. 210). Freud parece hesitar entre manter-se no registro científico e avançar no caminho aberto pelas “representações superinvestidas” trazidas pelas histéricas.

Retomando a discussão, designa-se como ligada a energia que “ocupa” (investe) um grupo de neurônios (1895[ 1950]/1974) ou representações (1893-1895/1974; 1915/1974); tal como em uma operação militar, um contingente de homens vai ocupar um território. Porém, duas perguntas se impõem. Primeiramente, não foi como energia livre que Freud indicou a quantidade de excitação que circula pelo sistema psi? Assim sendo, como dizer dessa energia que é ligada? Em seguida, a instauração do próprio aparato também não pressupõe um modo de ligação da energia? Instaurar e circular são a mesma coisa? Certamente essa distinção é difícil de ser feita se pensarmos que por “instauração” não se está indicando o estabelecimento de algo ou a construção de um aparelho que, ato contínuo à sua “instauração”, passaria a funcionar dessa ou daquela maneira. No entanto, a complexificação da trama freudiana acaba por exigir que se proceda a algum tipo de distinção.

Visando melhor circunscrever o problema, cabe uma observação: nos termos do Projeto, Freud distingue duas funções do sistema nervoso: a primária, remetendo ao princípio de inércia, que é a tendência à descarga total da quantidade, e a secundária, referida à fuga do estímulo. Estas funções não devem ser confundidas com a distinção que tem lugar entre os processos primário e secundário, que “corresponde especificamente ao sistema de neurônios psi” (Garcia-Roza, 1983, p. 58). Assim, se por um lado podemos falar que a função primária do sistema nervoso implica em uma energia livre, quanto ao processo primário devemos dizer que a energia circula livremente no interior do sistema de neurônios psi. Do mesmo modo, a aproximação do princípio de inércia com o princípio do prazer não se sustenta quando, em Além do princípio de prazer (1920/ 1981), Freud indica que um estado de tensão pode ter um caráter prazeroso, o que contraria a idéia de que o sistema deve descarregar toda tensão. Portanto, depreende-se que a função primária não mantém uma relação direta nem com o processo primário nem com o princípio do prazer.

Ainda assim, dois registros são considerados para se falar do “livre” da energia. Registros que não estabelecem necessariamente uma relação de exclusão, mesmo que não se igualem. Quando Freud utiliza o mesmo atributo – livre – para descrever o processo em jogo na instauração e funcionamento do aparelho da alma, mais do que ver aí uma certa ambivalência ou confusão, trata-se de extrair dessa sinonímia todo seu potencial. A energia que emana da fonte somática – pois é disso que se trata no âmbito pulsional – o faz de uma forma livre, tendendo à descarga. Essa atividade, por si só, não leva a nada. No processo de ligação que instaura o aparelho, o outro é peça fundamental, conforme estabelecido desde 1895 com a idéia de Nebenmensch6. Nestes termos, a Bindung só tem lugar a partir da relação com o outro – no sentido de “um recém-nascido cujo objeto de perceção é um outro ser humano – um próximo” (Garcia-Roza, 1991, p. 162) –, o que confere ao corpo um estatuto original: não mais “res extensa”, mas um corpo marcado pela presença/ausência do outro como condição de subjetivação. Todavia, essa perspectiva não implica que o corpo se reduza “a uma representação do corpo” (David-Ménard, 2000a, p. 13).

Nesse processo cria-se um espaço onde circula a energia, atendendo sempre à função de ligar prazeres e desprazeres. Segundo David-Ménard (2000), a isto a psicanálise denomina vida interior. Pensar, nesse registro, é menos representar do que transformar, inventando equivalentes simbólicos que devem permitir, por exemplo e sobretudo, ser tomado pela alegria de um encontro. Como decorrência da instauração de um aparelho da alma, pensar é um destino da pulsão em seu encontro com o outro. No dizer de Lacan (1969-70/1992), pensar é afeto. Assim, a idéia de uma energia livre que circula no psiquismo destitui o pensamento do lugar de representação stricto sensu. Nessa lógica, o próprio estabelecimento do conflito psíquico entre libido narcísica e libido objetal – sustentado por Freud ao longo de sua obra – enquadra-se na perspectiva de um processo de ligação.

Este processo não deve deixar de considerar, por sua vez, a dimensão de um excesso tanto no âmbito da instauração quanto do funcionamento do aparelho da alma. Livre porque excessiva, a energia é ligada em uma tentativa de singularização. O duplo registro da ligação de uma energia livre aponta para a coexistência de dois modos de ligar, estabelecendo limites que permitam essa singularização; e isto porque na noção de Bindung vão coexistir uma vertente destrutiva e outra estruturante, dando ao próprio processo de subjetivação um caráter pontual. Em outros termos, a aparente “estabilidade de uma ordenação simbólica”, decorrente da criação de equivalentes simbólicos, encontra-se suspensa pelo constante “risco de uma dissolução subjetiva” (David-Ménard, 2000).

Como obstáculo à descarga e como instrumento de invenção, a ligação é responsável por um modo de estar no mundo como sujeito inserido no socius. Inserção que não se limita a imposições, sejam elas de qualquer ordem. Para além de uma atualização das marcas que se ordenam e se reordenam, o processo de ligação remete para uma dimensão criativa que se evidencia na atividade fantasmática, e que nos permite dizer que está em jogo algo da ordem da invenção. Ou seja, um processo de singularização distingue-se de uma submissão ao outro justamente pela possibilidade de se inventar um outro modo de estar no mundo, aquilo que Foucault designou como “estética da existência” (1984).

O que comporta essa tentativa de singularização? Qual o efeito que promove na questão, colocada no início deste artigo, da dissolução do laço social? O que suscitou a presente discussão foi oferecer subsídios para se pensar que, a despeito do modelo de laço social em vigor na obra freudiana – modelo pautado na idéia de um conflito entre proibição e desejo como constituinte do sujeito e do social –, não devemos restringir seu legado a essa idéia. Este legado apóia-se na consideração de que no âmbito do estabelecimento das relações a ligação com o outro, traduzindo-se no investimento objetal ou a ligação narcísica, é condição de possibilidade de uma identidade, mesmo que ilusória. Nesta lógica, um modelo de sujeito é forjado segundo uma organização que, por um lado, tem no outro sua condição de possibilidade, e por outro implica uma renúncia.

A idéia de laço social comporta, nesse contexto, a questão do limite referido a um impossível. Totem e tabu (1913/1977) traz esta problematização ao mostrar a impossibilidade de uma satisfação total; ou seja, o limite imposto por uma lei que viabiliza, paradoxalmente, umacesso ao desejo. Assim, mesmo que se esteja submetido a um Édipo universal, o pacto simbólico remete a que “toda relação com um outro ou com um objeto, encontre-se ligada pela participação comum de um e de outro com respeito a essa perda fundamental que especifica o desejo humano” (Melman, 2002, p. 109). De acordo com essa ótica, a referência a uma autoridade simbólica vai permitir, em última instância, um modo de singularização. Nestes termos, ainda acompanhando Melman, “a perda é o que vai unir e desunir, aproximar e separar os dois protagonistas” (p. 109).

Da perspectiva metapsicológica, existem três condições para a instituição do laço social. Na linguagem econômica cabe pensar de que modo a energia circula – livre e/ou desligada; na tópica está em jogo o investimento que o processo de ligação promove, criando dois campos – inconsciente/pré-consciente, consciente; por fim, dinamicamente, trata-se tanto do confronto quanto da articulação entre esses dois campos. Assim, sem possuir o estatuto de conceito, a Bindung, no en-tanto, é de importância fundamental na trama freudiana, devendo mais propriamente ser pensada como um processo no devir psíquico.

Mas qual seria, na atualidade, a especificidade desta noção? É possível falar hoje de um processo de ligação diante das mudanças que vivemos na sociedade contemporânea? O processo de ligação sustenta, por meio de idéias como limite, autoridade simbólica, desejo, renúncia, entre outras, um determinado modelo de sujeito e de sociedade. Hoje falamos de um mundo sem limites, de uma crise de referências, de uma cultura que não se encontra mais pautada no recalcamento dos desejos, mas que insta à satisfação a qualquer preço; isso não implica, conforme defende Melman, em outra “economia psíquica”?

Diante da questão da dissolução do laço social vemo-nos forçados a perguntar se, concomitantemente a esse movimento, não se dissolve também o próprio sujeito. Pergunta que lança para a psicanálise questionamentos bastante complexos, pois se sujeito e social são impensáveis separadamente, e se de acordo com o próprio Freud, o maior sofrimento psíquico diz respeito à relação entre os sujeitos, o que temos a fazer diante da falência dos parâmetros que instituem o sujeito e o social?

A este respeito cabe a lembrança de que o modelo proposto por Freud é datado, ou seja, atende a uma determinada configuração espaçotemporal. Roudinesco, por exemplo, explica a reinvenção do Édipo como complexo, peça-chave deste modelo, como uma tentativa, por parte de Freud, de “restabelece(r) simbolicamente diferenças necessárias à manutenção de um modelo de família que se temia que estivesse desaparecendo na realidade” (2002, p. 65). Ou seja, a crise que ora assistimos já vinha se delineando no início do século XX.

Hoje várias propostas visando elucidar a questão da dissolução do laço social vêm tendo lugar. Um caminho, certamente válido, de abordar o problema seria tentar discernir motivos e razões para tal esfacelamento. E poderíamos encontrá-los no próprio pensamento freudiano, como se ele tivesse, diriam alguns, prenunciado nosso futuro. Nessa direção, o combate permanente entre a insistência pulsional e a proibição de satisfação plena, em nome do convívio social, funcionaria como norte; e a explicação de um peso maior em um dos dois justificaria um final desastroso, tanto para o sujeito quanto para o social. Nessa linha, os estudos empreendidos – tanto do ponto de vista sociológico, econômico, político quanto filosófico – apresentam uma discussão extremamente rica sobre o rumo que vem tomando a sociedade contemporânea. Sem pretender esgotar as referências, podemos citar Agamben (2002), Baudrillard (2000), Bauman (1998), Hardt e Negri (2001), Giddens (2002), entre os renomados teóricos que denunciam a situação atual, trazendo uma contribuição efetiva nessa área. Tal esforço não deve ser de forma alguma menosprezado pela psicanálise, posto que ela própria, como um saber e uma prática voltados para o sofrimento psíquico, em muito se beneficia quando dialoga com outros saberes.

Entre as considerações acerca dessa problemática, uma “constatação” parece ganhar o acordo da maioria dos teóricos: a de que nos dias atuais encontra-se relativamente esfacelado o modelo de laço social sustentado na autoridade simbólica. Esse modelo, como assinalado acima, tem em Freud um dos mais importantes representantes. Nessa medida, uma crítica velada à psicanálise acaba vindo à tona. Outra, conforme também apontado na presente reflexão, indica que o modelo, ao postular um equilíbrio impossível entre desejo e proibição, antecipava sua própria derrocada. O problema desse tipo de argumentação é que ou parte-se da premissa de que todo modelo tem uma existência efêmera, relativo a uma dada situação, ou que o modelo tem um estatuto universal e absoluto. Manter a discussão nesses termos parece-me pouco proveitoso, daí a tentativa de abrir uma outra via a partir da figura da Bindung.

Ao privilegiar a noção de Bindung como um processo que trabalha em dois registros – com “um excesso interno ao prazer” (David-Ménard, 2000, p. 49) e “um excesso que está para além do princípio de prazer” (p. 48) –, abre-se um novo campo de discussão. Considerar a ligação como o processo que institui o sujeito e o social, como o que delineia um lugar para a circulação da pulsão, é buscar sair do registro de um modelo, seja ele de caráter absoluto ou contingente. Nestes termos, a ligação passa a ser vista como um processo imanente, em que um modo de singularização pode ser inventado. Do ponto de vista conceitual, conforme assinalado, um outro modo de pensar o corpo e o psiquismo. Portanto, não se trata de colocar um novo modelo no lugar daquele que “caducou”. Pelo contrário, trata-se de recusar erigir novos modelos.

Cabe aqui uma última consideração acerca do atributo “novo”. Na atualidade, a clínica sugere, de acordo com Melman (2002), que uma nova economia psíquica faz-se presente. Em nosso cotidiano falamos de novos sintomas, nova economia psíquica, novas modalidades de padecimento psíquico, nova ordem mundial. O que significa esse novo? Teria o sentido de que não existia antes, ou antes não era muito comum? Para Melman (2002), não é que não existisse antes, mas antes o modo de existência era diverso. Antes o que ele chama de “nova economia psíquica” (estados compulsivos, fenômenos de pânico, anorexias, estados depressivos, toxicomanias etc) apresentava-se de forma marginal, como revolta, transgressão ou oposição ao que estava estabelecido de forma mais consistente. Tal qual uma ordem contra a qual alguém se opõe. E que tipo de economia estava estabelecida antes? Uma economia organizada basicamente pelo recalque, apoiada em uma concepção de sujeito integrado na Lei paterna por meio da castração simbólica (Freud, 1913/1977). Em contrapartida, hoje deparamo-nos com “uma economia organizada pela exibição do gozo” (Melman, 2002, p. 19).

Será possível, com estes elementos, pensar modalidades de laço social? A clínica, onde impasses, desafios e direções são sinalizados, é o espaço para tentar dar conta dessa indagação. E isso levando em conta que o mais fundamental é conceber, com Freud, que no processo de singularização – seria este um outro nome para a ligação? – o que está em jogo é a possibilidade de lidar com o prazer e seu excesso.

Deste ponto de vista, dois modos de ligação podem ser detectados no processo de singularização. Se no conflito psíquico reportamo-nos a desejos inconscientes que se deparam com o limite da castração, nos termos de um excesso para além do prazer o que está em jogo é da ordem do traumático, que obriga a um trabalho de ligação como uma tarefa prévia ao registro do princípio do prazer.

Muitos são os autores na psicanálise7 que consideram ser dessa última ordem as patologias contemporâneas. Na atualidade, justamente,deixaram de estar em jogo os prazeres e os desprazeres. É nesse jogo, de acordo com o modelo freudiano, que o desejo tem lugar. E o desejo hoje é o que não se inventa.

 

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Endereço para correspondência
Regina Herzog
Rua Frei Leandro, 32 / 602 – Lagoa
22470-210 Rio de Janeiro - RJ
Tel.: +55-21 2226-5545
E-mail: rherzog@marlin.com.br

Recebido em 06/10/03
Aprovado em 02/12/03

 

 

Notas

I Psicanalista; Professora do Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ.
1 O presente artigo faz parte da pesquisa intitulada Psicanálise e contemporaneidade: modos de subjetivação e laço social, que desenvolvo como bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq.
2 Palavra alemã que significa ligação, utilizada por Freud em vários momentos de sua obra, a começar pelo texto de 1895 (Projeto para uma psicologia científica).
3 Entre os comentadores brasileiros remeto a Gabbi Jr. (1995), que faz uma tradução comentada do Projeto, o que atesta a importância desse texto chamado de “prépsicanalítico”.
4 A descrição em termos de quantidade que Freud estabelece nesse texto é tema de discussão entre os vários comentadores da psicanálise. A questão coloca-se basicamente no modo como essa quantidade deve ser pensada: se em uma simples oposição à noção de qualidade, se em correlação com a noção de intensidade; modos que acabam tendo conseqüências teóricas diferentes. Ou seja, a questão que se coloca é de como se deve entender o processo energético no pensamento freudiano. Para um aprofundamento dessa discussão remeto, além do já citado Gabbi Jr. (1995), a Garcia-Roza (1991), Barros (1975), Monzani (1989), Assoun (1983), entre outros.
5 Esta é, de certa forma, a discussão epistemológica a que se refere a nota anterior. A esse respeito específico remeto o leitor, entre outros, a Assoun (1983) e Loureiro (2002).
6 Traduzida por “próximo”, um outro ser humano. Ainda que, como frisa Dreyfuss (s/ data), não se deva confundir Nebenmensch ao próximo como semelhante, não se pode negar que essa relação com o outro, já no Projeto, permite-nos vislumbrar a importância para Freud de pensar o processo de subjetivação em sua inserção no social.
7 Dentre eles cito David-Ménard (2000), Gondar (2001), Kristeva (2000), Melman (2002), Zaloszyc (1994), Zizek (2000).