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Estudos de Psicologia (Natal)

versão impressa ISSN 1413-294Xversão On-line ISSN 1678-4669

Estud. psicol. (Natal) vol.26 no.1 Natal jan./mar. 2021

https://doi.org/10.22491/1678-4669.20210001 

10.22491/1678-4669.20210001

EDITORIAL

 

Sobre continuidades e recomeços

 

 

O ano de 2020 foi desafiador para a humanidade. O avanço do novo coronavírus, que levou ao estado de pandemia decretado pela Organização Mundial de Saúde em 11 de março de 2020, provocou o fechamento, paralisação ou adaptação de muitos segmentos (a exemplo dos eventos de massa, do comércio e serviços considerados não essenciais, dos contextos de trabalho e educacionais). Mas um, dentre todos, teve de mostrar todo o seu vigor e agilizar seus processos: a ciência. Só esta seria capaz de ajudar a humanidade a encontrar luz em meio ao desconhecido.

2021 se inicia com esperança de se enfrentar a pandemia com armas mais eficazes, considerando o início da aplicação da tão aguardada vacina, desenvolvida em tempo recorde na história. Entretanto, o negacionismo científico, que dá a volta ao mundo e encontra lugar cativo no Brasil, demanda de cientistas mais do que seus estudos em laboratórios: requer fazer chegar este saber acadêmico para cada cidadã /o, uma vez que esta é a melhor vacina para combater a ignorância, a corrupção, o fascismo.

Em nosso contexto imediato também sopram novos ventos. Após 12 anos na gestão da revista (iniciada em 2009), a Profa. Isabel Fernandes de Oliveira junto com a Profa. Fívia Araújo Lopes (que compôs a Editoria Geral da revista desde 2012) estão seguindo novos rumos profissionais. Em todo este tempo à frente da Estudos de Psicologia (Natal), as duas não economizaram em ética, zelo pelo conhecimento científico e sua difusão e respeito aos pares acadêmicos, sejam autorias, consultorias ou público-leitor.

Para substituí-las na Editoria Geral, foi feito o convite às Editorias Associadas, das quais se disponibilizaram a Profa. Ana Ludmila Costa e a Profa. Raquel Diniz, que estavam na função desde 2018 e 2016 respectivamente, tendo a transição ocorrido a partir de novembro de 2020 e assumida integralmente a partir deste volume 26. Ambas docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, guardam relação distinta com a Revista e com o processo de publicação científica no contexto universitário, mas pactuam do mesmo compromisso e desejo de sucesso para Estudos de Psicologia (Natal).

Há 20 anos Ana Ludmila dava suas primeiras contribuições à Revista. Ainda estudante de graduação, foi selecionada pelo Prof. Oswaldo Yamamoto, então editor de Estudos de Psicologia, para atuar no apoio editorial por meio de um projeto de extensão. Era o ano de 2001 e os manuscritos ainda eram recebidos impressos pelos Correios, assim como eram enviados de forma postal os formulários para preenchimento do parecer pelas consultorias ad hoc. A escolha destas era feita por meio de um catálogo impresso de pesquisadores elaborado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tudo feito de forma manual. Por esta sua vinculação, alguns frutos logo vieram: em 2003, foi indicada e congratulada com o prêmio Editor do Futuro, concedido pela Associação Brasileira de Editores Científicos; em 2004 iniciou seus estudos de mestrado com dissertação sobre a avaliação de periódicos empreendida pela Comissão Capes/Anpepp na área de Psicologia; e no período 2006-2007 atuou como secretária da Revista, já sob a batuta do editor Prof. José Pinheiro. Neste último período, acompanhou a migração da Estudos de Psicologia (Natal) para o gerenciamento eletrônico e a publicação exclusivamente em meio digital. Nascia uma nova era.

Aproximadamente 10 anos depois, na condição de docente do curso de Psicologia da UFRN, no Campus Santa Cruz (FACISA), retorna como Editora Associada na seção "Temas em Políticas Sociais: assistência social e sistema de garantia de direitos". É neste contexto que se encontra com a Profa. Raquel Diniz na Revista, então Editora Associada da linha atualmente denominada "Aspectos Psicossociais das Interações Entre Pessoas e Diversos Contextos Socioambientais".

Num percurso distinto e mais recente, Raquel iniciou sua atuação na Estudos no ano de 2016, a convite das então editoras Isabel e Fívia, assumindo a seção anteriormente intitulada "Psicologia e atuação do psicólogo nas Políticas Sociais, Direitos Humanos e Relações Pessoa-ambiente". Sua entrada como editora associada, juntamente com a Profa. Dra. Fernanda Gurgel, ocasionou a inclusão do enfoque temático das "relações pessoa-ambiente" na extinta seção; tal proposição foi pensada em função da relevância histórica da Psicologia Ambiental no Departamento e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN, assim como pela consolidação da área no país nas últimas décadas, o que demanda novos canais de divulgação de sua produção científica. Posteriormente, em 2018, mediante atualização das seções temáticas da revista, ampliou-se o enfoque contemplando, também, temáticas relativas à Psicologia Comunitária. Assim, o aceite do convite para a editoria geral constitui uma nova etapa de contribuição para este importante veículo de divulgação da diversa e qualificada produção científica da Psicologia no país.

Este breve relato da relação das atuais editoras com o mundo da editoria científica também ilustra o quanto este segmento passou por inúmeras e profundas transformações, assim como novos e instigantes desafios se colocam para a atual gestão.

Assumir a Editoria Geral em um contexto de intensa precarização do trabalho docente aproxima a função da noção de devoção, o que leva ao risco de escamotear toda a expertise e carga horária necessárias para fazer a Revista estar no ar com qualidade e agilidade. Soma-se a isso o cenário de restrição orçamentária brasileira para as universidades públicas e para o campo da editoria científica, tornando ainda mais desafiadora a manutenção de sua proposta de gestão, publicação e acesso de artigos de forma gratuita, perspectiva sempre defendida pelas editorias anteriores e assumida como compromisso irrevogável pela atual gestão. Afinal, conceber ciência como empreendimento eminentemente coletivo, máxima da política de Open Science, torna-se ainda mais premente como estratégia de enfrentamento ao negacionismo científico que avança.

Além de encarar tais desafios, a nova Editoria de Estudos de Psicologia (Natal) pretende implantar algumas mudanças em seu processo de gestão e disponibilização de artigos com vistas a conferir ainda mais agilidade, assegurar a qualidade do material veiculado e ampliar seu alcance, conforme se pressupõe de um periódico classificado como A1 pela Comissão Capes/ANPEPP (Qualis 2016) na área da Psicologia. Tais mudanças estão sendo cuidadosamente construídas pela Equipe Editorial e serão oportunamente divulgadas .

Uma análise em retrospecto indica que esses primeiros 25 anos da Revista foram cruciais para a universidade-sede e para a ciência psicológica. Por um lado, tem contribuído para projetar a UFRN e o Nordeste brasileiro, mais especificamente um estado não reconhecido sequer nacionalmente, no cenário internacional como importante polo produtor e disseminador de conhecimento, sendo o único dos periódicos nacionais de Psicologia com classificação A1 aí localizado. Por outro lado, sua organização em quatro seções temáticas (Psicobiologia e Psicologia Cognitiva, Psicologia Social do Trabalho, Temas em políticas sociais, Interações pessoas-contextos socioambientais), afastando-se das linhas editoriais essencialmente generalistas (que publicam trabalhos sobre Psicologia e áreas afins) e daquelas excessivamente especializadas, proporciona às pesquisadoras e pesquisadores de Psicologia a oportunidade de publicar e ler materiais que abrangem quatro importantes campos temáticos da área, sem se perder na ampla diversidade que a Psicologia oferece.

Este editorial, além de resgatar brevemente a história da Estudos de Psicologia (Natal) para ilustrar sua importância e apresentar sua nova Editoria Geral, cumpre a função de agradecer a toda equipe e comunidade científica envolvida em seu fazer cotidiano: funcionária e serviços terceirizados, autorias, pareceristas ad hoc, Comissão Editorial e Conselho Científico, e certamente ao público-leitor. Firma-se aqui, o compromisso de dar continuidade às gestões anteriores, sobretudo reafirmar a postura ética e cuidadosa com o conhecimento científico iniciada por seus fundadores (representados na figura dos professores Oswaldo H. Yamamoto e José Q. Pinheiro), e a quem pretendemos honrar. Nossos sinceros agradecimentos.

Que a esperança que se renova em 2021, com as mudanças no cenário da pandemia propiciadas pelos avanços da vacinação contra a COVID-19, esteja presente no início desse novo ciclo de aprendizados, desafios, continuidades e recomeços.

As editoras.

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