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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)
On-line version ISSN 1413-6295
Cad. psicanal. vol.43 no.45 Rio de Jeneiro July/Dec. 2021
ARTIGOS
O meio maleável como fundamento da simbolização primária: apontamentos para o manejo clínico dos sofrimentos narcísico-identitários
The malleable medium as the basis for primary symbolization: notes for the clinical management of narcissistic-identity sufferings
Daniel SchorI, II*; Nelson Ernesto Coelho JúniorI, II**
IUniversidade de São Paulo - USP - Brasil
IIPontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP - Brasil
RESUMO
Buscamos, neste artigo, fundamentar a compreensão do desempenho da função de meio maleável pela clínica psicanalítica como recurso indispensável à simbolização de experiências traumáticas próprias dos sofrimentos narcísico-identitários. Com o cumprimento deste propósito, temos o objetivo de fornecer subsídios para a ampliação do alcance das intervenções demandadas no atendimento a indivíduos acometidos por falhas graves nas formas primárias de comunicação com o ambiente, trabalho em que a utilização de instrumentos de comunicação não verbais se impõe maciçamente, exigindo manejos clínicos muito diferenciados em relação aos manejos da "técnica analítica padrão".
Palavras-chave: Meio maleável, Simbolização primária, Sofrimentos narcísico-identitários.
ABSTRACT
In this article we intend to justify the understanding of the performance of malleable medium function by the psychoanalytic clinic as an indispensable resource for the symbolization of traumatic experiences inherent to narcissistic-identity sufferings. By the fulfillment of this objective, we intend to provide aids to extend the scope of the interventions required in the care of subjects affected by serious failures in the primary forms of communication with the environment, a task in which the use of non-verbal communication instruments is massively imposed, requiring very different clinical management in comparison to the "standard analytical technique".
Keywords: Malleable medium, Primary symbolization, Narcissistic-identity sufferings.
Sofrimento narcísico e comunicações pré-simbólicas
Em pesquisa recente, estivemos debruçados sobre o estudo das modalidades de traumatismo definidas pelos diferentes modos de distanciamento afetivo dos pais em relação à criança, responsável por um desamparo fundamental do sujeito ante seu transbordamento pulsional, o qual se viu, desse modo, confrontado à angústia decorrente do contato com sua absoluta impotência em meio ao contexto traumático. Frente a isso, o que buscamos foi, essencialmente, a caracterização de dimensões da experiência psíquica pós-traumática que, como tais, respondem a essa situação de transbordamento, diretamente atrelada à incapacidade do objeto de se manter vivo (animado), amoroso e sintonizado à vida emocional infantil em seu processo de desenvolvimento.
Vimo-nos, a partir daí, diante de diversos aspectos de organizações defensivas criadas contra a angústia de fragmentação e despersonalização gerada pela profunda insegurança a respeito da confiabilidade do objeto. Tal condição torna-se responsável pelo surgimento de clivagens subjetivas, criando espécies de extraterritorialidades psíquicas que atravessam as idades sem serem elaboradas (simbolizadas) pelas experiências ulteriores. A impossibilidade de entrega a uma situação de dependência, que em todos os momentos se mostrou fonte de traumas e dolorosa decepção, conduz a personalidade a um retraimento esquizoide, a partir de um desligamento radical entre o mundo interno e o externo. Dessa forma, o indivíduo buscará sustentar uma ilusão de independência suspenso por um desenraizamento de suas origens, o que irá acarretar falhas graves em suas capacidades relacionais já que, em lugar de uma integração da estrutura do Eu, ocorrem, intrapsiquicamente, múltiplas dissociações (KHAN, 1977).
Eis aí algumas das características do que vem sendo discutido por diversos analistas em termos dos chamados sofrimentos narcísico-identitários (ROUSSILLON, 2011). Segundo René Roussillon, principal referência contemporânea para a discussão dessa problemática nas conjunturas transferenciais narcísicas,
O paciente vem fazer sentir ou ver uma parte dele que não percebe diretamente, mas cujos efeitos indiretos é capaz de medir sobre os outros ou sobre si mesmo. Ele pede ao analista que seja o 'espelho do negativo de si', do que não foi sentido, visto ou ouvido de si mesmo (2011, p. 5-6, tradução nossa).
Podemos dizer que, na neurose, o sujeito percebe, estranha e questiona algo sobre si. Já nas problemáticas narcísico-identitárias, o sujeito sofre os efeitos de suas partes clivadas como se viessem de fora. O paciente faz o analista viver o que não foi vivido de sua história para que este, enfim, o ajude a experimentar o que não pôde e a ser o que está em si ainda em estado latente, não acontecido. O paradoxo de fazer o outro sentir aquilo que não se sente de si substitui, assim, o conflito subjetivamente percebido, tipicamente neurótico. Pode-se afirmar, por isso, que, numa tal condição, necessita-se do outro não apenas para compreender, mas, antes, para possuir a si próprio.
Não são recentes as questões levantadas em meio à comunidade psicanalítica acerca da dificuldade ligada ao manejo clínico de tais formas de sofrimento. Entretanto, elas seguem impondo grande desafio à psicanálise na medida em que remetem a experiências que, pela precocidade e/ou violência com que se produziram, foram vividas sem que pudessem ser organizadas na/pela linguagem simbólica e verbal, tendendo por isso a retornar de uma forma não verbal, tão arcaica quanto a própria experiência, "na linguagem da época, dos bebês e das crianças pequenas, logo, uma linguagem corporal, uma linguagem do ato" (ROUSSILLON, 2012, p. 20).
Uma das hipóteses de Roussillon acerca das problemáticas narcísico-identitárias é que estas "contam a história" de tentativas de comunicação sem êxito que, de tanto não serem reconhecidas como tais, desqualificadas ou não qualificadas pelas respostas do ambiente, vão se apresentar sob uma forma de manifestação corporal, atuada ou psicossomática.
No entanto, é fundamental que se diga, essas atuações não são, tal como a conversão histérica, por exemplo, interpretáveis como figuração direta ou simbólica de experiências vividas. Em Estudos sobre a histeria (FREUD, 1893/2017), Freud já sublinhava que, no ataque histérico a fantasia era traduzida na linguagem motora, projetada sobre a motilidade. Na conversão, o corpo da histérica mostra aquilo que de outra forma o sujeito não toleraria dizer, de que não seria capaz de tomar consciência. Ela pertence, portanto,
a um universo já marcado pelo aparelho da linguagem, por ele enquadrado, logo, um universo já estruturado pela metáfora. O corpo 'diz', põe em cena o que o sujeito não pode dizer, mas que potencialmente poderia, o corpo metaforiza a cena (ROUSSILLON, 2012, p. 19).
Ao contrário, quando dominam as angústias localizadas num plano narcísico primário, em que o sentido e a verdade de si estão em questão, o Eu está seriamente fragilizado pela desqualificação ou não qualificação das comunicações corporais e afetivas; as formas dessignificadas destas representam pontos enigmáticos para o Eu que se vivencia, por isso, como habitado por movimentos insensatos. Acerca da criança que empreende imensos e vãos esforços no intuito de revitalizar a mãe que subitamente se deprimiu, declara André Green:
Mesmo imaginando a inversão da situação pelo sujeito que se atribui, numa megalomania negativa, a responsabilidade da mutação, há uma distância impreenchível entre a falta que o sujeito se recriminaria ter cometido e a intensidade da reação materna. No máximo, ele poderia pensar que essa falta está ligada à sua maneira de ser mais do que a algum desejo interdito; de fato, lhe é interdito ser (1980/1988, p. 250, grifo nosso).
Opera aqui uma condição determinada pelo sentido inacabado, que nunca chegou a ser, estabelecendo com isso uma modalidade de comunicação muito mais precária do que a linguagem simbólica, e do que o sintoma neurótico clássico. Uma vez que seus apelos não encontram resposta, o indivíduo perde a esperança de se comunicar e, com ela, os rudimentos do sentido de si como alguém capaz de "dizer" algo em nome próprio.
É, de início, certamente a resposta do ambiente que, ao reconhecer o sentido como tal, lhe dá valor de mensagem, definindo-o como significante endereçado. "Se não for assim, o sentido 'degenera', perde seu valor proto-simbólico potencial, corre o risco de não ser mais do que uma evacuação insignificante, é anulado em seu valor expressivo e protonarrativo" (ROUSSILLON, 2012, p. 23).
A linguagem do gesto, do ato e do corpo é, assim, fundamentalmente, potencialidade mensageira, sentido ainda não cumprido (incompleto) em busca de quem o responda. Desse modo, ela não esgota jamais seu sentido apenas na expressão, dado que a resposta do objeto é imprescindível para sua integração significante.
Pode-se compreender, daí, que os sofrimentos manifestos em tais formas de comunicação carregam a memória do que não teve ligação no encontro com o objeto:
Ele gira em falso, em direção a um outro virtual e retorna a si mesmo, esquece em seu retorno para o que ele se dirigia, mas esse vazio, este esquecimento, é repleto daquilo que não ocorreu, esse vazio 'narra', potencialmente, o que não aconteceu no encontro (ROUSSILLON, 2012, p. 27, grifo nosso).
Da dificuldade em integrar tais experiências ao plano da linguagem verbal, decorrem claras limitações quanto à possibilidade de abordá-las pelo recurso à "técnica analítica padrão", isto é, ao dispositivo divã-poltrona, utilizado um número suficiente de vezes por semana, centrado essencialmente na escuta da associatividade verbal do paciente. O que escapou à capacidade de síntese do Eu (FREUD, 1937/1964) escapou, também, à captura pelo aparato da linguagem verbal e, com ela, às formas de memória "declarativas", capazes de produzir lembranças subjetivamente percebidas como tais. É principalmente em sua forma, em seus procedimentos, mais que nos conteúdos, que as experiências não simbolizadas ou clivadas do Eu se apresentam. Elas tendem a ocorrer no presente da subjetividade com as mesmas características de seu primeiro registro. Em termos da técnica analítica, supõem, assim, que a escuta da associatividade possa integrar os modos de linguagem pré e não verbais, assimilando a ela os elementos provenientes das diferentes formas primárias de expressão, apoiados no corpo e considerados como primeiras linguagens (ROUSSILLON, 2012).
A situação analisante e a elasticidade do enquadre
Segundo Figueiredo (2014), falta à linguagem dos sujeitos constituídos a partir de falhas graves dos objetos primários a função mediadora dos processos terciários (GREEN, 1995), ou seja, os recursos que lhes permitiriam transitar com relativa segurança entre os processos primário e secundário. Em outras palavras: uma experiência dos limiares. Isto é digno de nota se considerarmos a importância do pré-consciente nos processos analíticos, sede e ponto de incidência principal do que se pode falar e pensar dentro do formato clássico da técnica analítica.
No caso das formas de subjetividade que estamos discutindo, o espaço analítico constitui-se, então, com o desafio de propiciar comunicações pré ou paraverbais nas situações em que a fala do paciente não é capaz de fazer contato com a experiência emocional. Diante da ausência de uma fala em condições de realizar uma função de medicação, isto é, do solo necessário ao desenvolvimento de um processo associativo,
Emerge, para o tratamento psicanalítico dos pacientes precocemente traumatizados e em estados variados de morte psíquica, alguma tarefa de 'revitalização', bem como de testemunha do trauma (...). Na verdade, testemunhar corresponde a dar legitimidade a uma experiência até então destinada à negação e à morte (...) (COELHO JÚNIOR; FIGUEIREDO, 2018, p. 18).
Com base em tais ponderações, se poderia afirmar simplesmente a insuficiência do modelo clássico da técnica analítica, operando a partir do par associação livre/atenção flutuante, para o atendimento aos transtornos localizados no plano narcísico primário, o que não representaria qualquer novidade dentro da literatura psicanalítica. Interessa-nos, em vez disso, reconhecer algumas características fundamentais do método psicanalítico que se veem implícitas a essas observações.
Conforme aponta Figueiredo (2014), quando da criação do dispositivo psicanalítico padrão já se tinha em vista a necessidade premente de o processo deixar-se conduzir pelas resistências do analisando, acompanhando de perto os tempos e contratempos de suas associações, mantendo tanto a escuta do analista quanto a fala do paciente "à mercê" da lógica e temporalidade peculiares aos processos primários. Intimamente atrelado ao processo por meio do qual a escuta poderia se converter em interpretação, sempre esteve o trabalho de teorização,
em que muitas figuras se formam e se perdem, muitas hipóteses se formulam e se dissipam, muitas se sobrepõem e se contradizem, e todas se deixam elaborar na mente do analista; é um tempo que se vai configurando, aos trancos e barrancos, uma 'teorização sob medida', uma 'prototeoria' sobre o paciente e sobre a própria relação terapêutica em seu estado atual e em sua história (FIGUEIREDO, 2014, p. 107, grifo nosso).
Essa forma de teorização seria, assim, parte do mesmo processo de deixar-se levar pelos inconscientes do paciente e do analista, em seus encontros tateantes e pouco previsíveis.
Isso faz ressaltar a característica do método psicanalítico, tantas vezes apontada por Freud, de conjugar no dispositivo clínico os aspectos terapêutico, investigativo e de construção do conhecimento teórico. Ao reunir o eixo do conhecimento ao eixo da terapia, formando uma mescla indispensável em sua caracterização, a situação analítica lança-se a um futuro amplamente fecundo e em contínua possibilidade de mudança:
Onde esta conjugação de dimensões está ausente, a psicanálise está em crise (mesmo que observando a mais estrita ortodoxia), mas, por outro lado, esta conjugação pode estar viva em variedades muito distintas do padrão que foi criado por Freud (...) (FIGUEIREDO, 2014, p. 108).
Em vista da coexistência necessária dos vértices heurístico de pesquisa (descoberta e teorização) e terapêutico de qualquer dispositivo clínico que possa requerer para si o adjetivo "psicanalítico", admitimos a pertinência de se reconsiderar a própria forma de nos referirmos a ele, valendo-nos da noção sugerida por Donnet (2005) de "situação analisante". O que esta noção ajuda a tornar mais evidente é a dimensão dinâmica e operante do dispositivo freudiano, bem como de todas as suas variantes que, aliás, decorrem desse mesmo dinamismo. De acordo com essa leitura, as macrotransformações do enquadre se ligam às expansões do conhecimento e alterações das técnicas. O resultado dessas interações dinâmicas é fazer da situação analisante "uma espécie de entidade viva e continuamente em processo de ajuste, auto-organização e conquista" (FIGUEIREDO, 2014, p. 109).
A relação entre as configurações que a cada momento definem a situação analisante e as dinâmicas que as habitam pode ser pensada a partir da distinção entre as regras estabelecidas para que se constitua um campo de jogo e a espontaneidade criativa que se espera de seus participantes.
Em sua conhecida aproximação das questões da vida institucional às do enquadre da situação analisante, o psicanalista argentino José Bleger (1985) tratou da relação entre o imóvel dos enquadres e o processual dos movimentos psíquicos que se dão dentro dessa "moldura", considerando, de um lado, o processo analítico em sua dinâmica e, de outro, suas condições de base que, em princípio, deveriam ser estáveis. A teorização de Bleger sugere que, apesar de isto ser condição necessária para formar o campo dentro do qual os processos analíticos podem ocorrer, seria justamente nos elementos não dinâmicos do enquadre que estariam depositados os aspectos mais primitivos do psiquismo do paciente. Disso decorre que para a análise prosseguir além de certo ponto, o próprio enquadre precisa ser tomado em questão para que dali possam ser desalojados e analisados aspectos até então escondidos, mantidos em estado de latência. Ou seja: se, a cada momento do trabalho, é necessário que o enquadre mantenha-se firme - que as "regras do jogo" sejam bem estabelecidas e sustentadas e seus contornos bem definidos - é igualmente necessário que esta "moldura" seja sempre flexível, para que, no devido tempo, a análise ganhe terreno sobre o material até então imobilizado no enquadre.
Ao aproximar-me da noção de "situação analisante", desejo enfatizar a vitalidade operante desse arranjo. O dinamismo aí implicado é o que o leva a transformar-se não somente ao longo da história da psicanálise, mas também ao longo da história de um tratamento, ainda que algumas dessas transformações possam ser sutis e pouco evidentes. Creio, contudo, que é do monitoramento dessas modulações e manejo dessas transformações que depende o avanço ou a estagnação do processo.
Dessa forma, a noção de "elasticidade da técnica", lançada por Freud e largamente explorada por Ferenczi (1928/2011), deve ser estendida para se referir à elasticidade da situação analisante como um todo (suas regras e limites), para que nela caibam e possam ser elaboradas as tensões que a caracterizam em sua dialética operativa:
o que é vivo é sempre elástico e dotado de alguma espontaneidade, e não rígido. Assim, o conceito [de elasticidade da técnica] deixa de aplicar-se apenas às situações de atendimento dos 'pacientes difíceis', com as mudanças de enquadre que requerem, para se estender a todo o campo da psicanálise, abarcando todas as variantes da situação analisante, desde a mais 'desviante' até a mais de acordo com a 'técnica padrão'. (...) o que torna uma psicanálise eficaz é, em primeiro lugar e como condição necessária, a capacidade da situação analisante atrair para si vida e abrir possibilidades de vida psíquica e psicossomática para seus habitantes (FIGUEIREDO, 2014, p. 111-112, grifo nosso).
Meio maleável, coreografia primitiva e o trabalho de simbolização
Desde a formulação, por Winnicott, do conceito de transicionalidade, é fato notório que, entre as condições que estabelecem o alicerce da capacidade simbólica, está a necessidade primordial do ser humano de dotar o mundo externo com algo do self, fazendo-o, assim, suficientemente familiar e inteligível. Em outras palavras: subjaz à formação do símbolo um processo essencial de identificação entre o self e a realidade, sem o qual, no início da vida, a experiência se torna caótica.
Entendemos que a proposição de um enquadre para o trabalho de análise deve incluir, de saída, e como um de seus parâmetros fundamentais, a questão do modo como o sujeito demonstra ter ou não assegurado a partir de sua história o atendimento a esta necessidade básica. Como viemos indicando, mais do que a um diagnóstico sobre a maneira como se deram as experiências iniciais de integração do Eu e de fusão com o objeto primário, a possibilidade de ter parte de sua experiência incorporada a uma realidade coletivamente partilhada diz respeito ao quanto o ambiente inicial foi ou não receptivo às modalidades mais primordiais de comunicação do sujeito.
Em termos das condições gerais para que uma situação analisante se estabeleça e se sustente, acreditamos que, diante de certas formas de sofrimento e busca por ajuda com que temos nos deparado com grande frequência, é fundamental que nos coloquemos, o quanto possível, dispostos a respeitar as condições direta ou indiretamente postas pelo paciente para que possa experimentar o espaço de análise como situação minimamente familiar, pela aceitação de que este seja, desde o princípio, concebido também a seu modo. Temos observado que, em muitas situações, se a oferta de atendimento não evidencia tal disponibilidade desde o início, surge o risco de que seja percebida por alguns sujeitos, não como proposta de ajuda, mas, em verdade, como convite a um ato de submissão. Para os indivíduos acometidos por prejuízos e distorções graves nas formas primárias de comunicação com o ambiente, ou seja, no que concerne ao que tem sido reunido sob a chave dos chamados sofrimentos narcísico-identitários, isto está diretamente relacionado às características capazes de conferir à situação analisante seu caráter vivo, porque potencialmente subjetivante (ao invés de alienante).
Em pleno diálogo com a teorização que anos antes vinha sendo realizada por Winnicott sobre o conceito de transicionalidade, a psicanalista Marion Milner afirmava em 1952, em vista da enunciação dos "fatores que desempenham uma parte essencial no processo de se chegar a reconhecer um mundo que se situa fora da pessoa e que não seja sua criação" (MILNER, 1952/1991, p. 106), a necessidade de se prover condições nas quais fosse possível um retorno recorrente do sentimento de ser um com o ambiente. Para Milner, em conjunto com os fatos físicos das experiências repetidas de estar junto e separado do objeto amado, e com as experiências também físicas de trocas com o ambiente, através dos atos de respirar, ser alimentado, evacuar, isto seria garantido pelo provimento recorrente de um espaço e um tempo enquadrados, e de um "meio plástico tal que, em certas ocasiões, não vai ser necessário que se distinga, para finalidade de autopreservação, entre o interior e o exterior, self e não self" (MILNER, 1952/1991, p. 106).
No trabalho a que nos referimos, intitulado O papel da ilusão na formação simbólica, a autora relata casos de pacientes para os quais a cura teria dependido de uma autorização por ela concedida em tratar o espaço da análise, bem como a própria pessoa da analista, em alguma medida, como uma parte de si mesmos, a qual, pelo apagamento momentâneo dos limites entre o exterior e o interior do sujeito, teria podido funcionar como uma ponte entre esses dois universos. Segundo Milner, para certos pacientes, o contato com a realidade exterior jamais poderá se iniciar ou ter uma continuidade efetiva antes que se estabeleça seu direito a uma "amalgama recorrente dos opostos" (MILNER, 1952/1991, p. 107).
Pelo mergulho no trabalho de Milner, percebemos enorme importância em reconhecer os movimentos de retorno a essa forma originária e pré-lógica de contato com a realidade não necessariamente como uma atitude defensiva por parte do sujeito, mas como traço fundamental de esperança em seu potencial de ligação simbólica com o mundo e consigo mesmo, sem o qual todo investimento num possível restabelecimento do sentido de si e da própria existência seria inútil.
Essa possibilidade, entretanto, está relacionada ao desempenho de determinada função por parte do ambiente, definida pela autora em termos de um meio maleável (MILNER, 1952/1991) que será, simultaneamente, o solo para o trabalho de simbolização e o espelho que permite simbolizar o processo simbolizante. Isto ocorre na medida em que o meio se mostra capaz de materializar características específicas, nuances da forma como se dá o processo de simbolização, de modo a permitir que estas sejam reconhecidas e representadas em seu próprio curso.
No artigo supracitado, Milner retomava e desenvolvia um conceito que já havia sido proposto por ela em 1952, o de "meio dobrável", definido pela autora como uma substância intermediária através da qual impressões são transferidas aos sentidos (Ibidem). Na pintura, por exemplo, explicava a psicanalista, o pintor utiliza meios através dos quais é capaz de externalizar parte de sua realidade interior. A obra, produzida num estado particular de concentração - que podemos caracterizar como uma modalidade de entrega aos processos primários -, realizaria a fusão de uma parte da realidade interior com uma parte da realidade exterior. Essa fusão daria origem a um símbolo que, como dissemos, não é uma formação defensiva, mas resulta, ao contrário, de uma necessidade fundamental de organização e coerência interior.
Milner relata que, na análise de um de seus pacientes (uma criança), admitiu, por muito tempo, ser tratada como um "detrito", uma parte não separada deste. Em lugar, porém, de se revoltar contra esse fato, deixou-se considerar, nesse processo, como um meio maleável, permitindo que fosse "moldada" conforme as necessidades da criança. Ao reconhecer que não havia perigo em tratar o ambiente como uma parte dela mesma, diz a autora, o menino pôde aos poucos se libertar de uma culpabilidade e de uma angústia excessivas, começando (paradoxalmente) a discriminar melhor o limite entre as realidades interna e externa. Isso, graças à descoberta reiterada de que a terapeuta continuava a ser amistosa e não guardava rancor apesar dos ataques continuamente direcionados a ela.
Era como se somente experimentando, repetidas vezes, a ilusão de que eu era parte dele próprio, mesclada à bondade que ele podia conceber internamente, que ele se tornava capaz de tolerar uma bondade que não era sua criação própria e, assim, permitir a mim uma bondade independente (MILNER, 1952/1991, p. 108, grifo nosso).
Ora: o objeto que autoriza certo grau de identificação do sujeito consigo o torna naturalmente mais receptivo e tolerante frente aos aspectos particulares do próprio objeto, que passa, justamente pela permissão em se deixar usar e "misturar" com o sujeito, a ser percebido como menos ameaçador, na medida em que é visto como menos potencialmente portador de conteúdos nocivos à integridade deste. Uma mãe que se deixa investigar pelos usos que dela são feitos pela criança é, dessa forma, aquela com quem a separação se torna mais tolerável, na medida em que mantém o sujeito menos ansioso/paranoico com relação aos conteúdos negativos daquela e, portanto, ao risco sempre temido de retaliação frente aos movimentos autoeróticos e de separação da criança. O cuidador que se deixa misturar com o self da criança é, pois, não por acaso, o que não teme excessivamente o contato com seus próprios conteúdos reprimidos.
Em um relato clínico por eles definido como de um "caso-limite", Coelho Júnior e Getlinger nos oferecem interessante ilustração das situações em que se faz decisiva uma abertura do analista às tentativas do paciente de dissolver por um momento as fronteiras psíquicas da dupla:
Certo dia a paciente comentou que não aguentava mais as revistas muito sérias que ficavam na sala de espera do consultório (consultório em que o analista atende sozinho), e perguntou se poderia trazer algumas mais do seu gosto. O analista consentiu, mas pediu para ver as revistas antes. Eram Calvin e Batman, em inglês, e o analista concordou que as novas revistas ficassem junto com as outras na sala de espera [...]. O fato de o analista ter deixado que ela trouxesse e deixasse as revistas na sala de espera parece ter sido uma grande surpresa para ela, e teve um efeito bastante favorável. Podemos pensar aqui que, mais do que uma 'invasão' da paciente, esse fato revelou o pedido e a possibilidade da construção de novas fronteiras para ambos. A aceitação das revistas, assim, pode ter levado a paciente a sentir que agora ela 'cabia' concretamente no (consultório do) analista. De certo modo, foi preciso aumentar a 'elasticidade' do analista, de seu psiquismo e de sua sala de espera (COELHO JÚNIOR; GETLINGER, 2006).
Ao acompanhar as descrições de Milner, articuladas à sua própria experiência clínica, René Roussillon passou a se dedicar à identificação das características fundamentais que o ambiente precisa reunir para desempenhar para o sujeito a função de meio maleável. Para o autor, o meio maleável possui cinco propriedades principais, que podem ser descritas separadamente, mas cuja interdependência é essencial para que adquiram todo seu valor, isto é, seu potencial simbolizante.
A primeira e mais fundamental, que comanda de certo modo as demais, sem, no entanto, se sobrepor a elas, é a indestrutibilidade. Esta propriedade está ligada às formulações winnicottianas acerca da utilização do objeto: ele deve poder ser atingido e destruído - ele muda de forma - "sobrevivendo", porém, ao ataque. É dessa maneira que sua natureza particular - a maleabilidade como potencial indefinido de transformação - será descoberta, tornando-se utilizável para simbolizar a função simbolizante. O ar, a massa de modelar, a água, não são destrutíveis. Graças à sua maleabilidade, o meio transforma as quantidades em qualidades perceptíveis. "Um soco desferido contra uma massa de modelar achata esta sem destruí-la, modifica-lhe a forma, que se adapta à força" (ROUSSILLON, 2006, p. 163).
Se a destrutividade deve poder ser exercida sem reservas e sem destruição efetiva, isto significa que o meio maleável precisa se caracterizar, também, por extrema sensibilidade. Paradoxalmente, se não pode ser alterado em sua natureza fundamental por grandes quantidades de energia, ele demonstra, apesar disso, extrema sensibilidade às mínimas variações quantitativas, alterando-se conforme as menores modulações de intensidade.
Essas duas primeiras características, indestrutibilidade e extrema sensibilidade, se apresentam como pré-condições de uma terceira propriedade do meio maleável: a capacidade indefinida de transformação:
Se o meio maleável deve ser ao mesmo tempo indestrutível e extremamente sensível, é que ele deve poder ser indefinidamente transformável permanecendo ele mesmo: eis aí um outro paradoxo. A massa de modelar, o ar feito som são manipuláveis e transformáveis ao infinito, sem serem alterados ou destruídos em seu princípio por essa transformação (ROUSSILLON, 2006, p. 164, grifo nosso).
A experiência dessa possibilidade infinita de transformação só se pode efetuar, contudo, se o meio demonstrar, perante o sujeito, disponibilidade incondicional. Daí extraímos a quarta propriedade que o meio maleável deve possuir.
Por fim, como quinta e última propriedade, devemos mencionar o caráter vivo (literalmente) do meio. Embora sua função possa estar apoiada na utilização de substâncias que são, em si mesmas, inanimadas, tais como as que acabamos de citar (água, massa de modelar, etc.), é necessário que a criança possa, num momento ou noutro, considerá-la como um objeto vivo, animado, o que significa que, a despeito de suas propriedades intrínsecas, sua apresentação deve se fazer sempre por/como efeito de uma presença humana.
Pela reunião destas cinco propriedades, as quais definem o meio maleável, Roussillon formula sua hipótese geral a respeito da função por este desempenhada na construção simbólica afirmando que ele se constitui, em verdade, como "objeto transicional do processo de representação" (ROUSSILLON, 2006, p. 165).
A atividade representativa não depende, em si mesma, da presença de um objeto externo que funcione como meio maleável. No entanto, para que sua possibilidade seja construída e para que possa ser apropriável como tal pela criança, é imprescindível que ela forneça representantes concretos, perceptíveis de si mesma. Daí o sentido da definição do meio maleável como um objeto transicional do processo de representação, já que ele se apresenta, por tais definições, como um veículo para o alcance da capacidade representacional1.
Isto feito, o sujeito poderá, numa próxima etapa da construção simbólica, interiorizá-lo sob a forma de um "conceito-coisa", o que significa que ele irá funcionar como um intermediário entre ambos (a coisa e o conceito). Em outras palavras: por meio desse processo, o indivíduo se torna gradativamente capaz de guardar suas vivências dentro do psiquismo como traços simbólicos de experiências que aconteceram (em que pese uma aparente redundância), já que sua organização na forma conceitual é o que permite localizá-las espaço-temporalmente no quadro, agora formado, de seu aparato simbólico.
Podemos afirmar que o desempenho desta função pelo analista e pelo setting analítico é condição necessária para que o paciente acometido por angústias primárias desperte em uma espécie de consciência de ser. Por seu intermédio, este passa a reconhecer seus contornos psíquicos devido à forma que estes imprimem ao meio circundante. A existência do sujeito é sentida como real na medida em que as marcas (reações) que produz no ambiente contêm a prova perceptível desse gesto: a sensibilidade do meio às minhas excitações constitui, em última análise, a prova mais cabal de que eu existo.
No entanto, um ambiente muito frio, frágil e inconsistente introduz o sujeito no conflito entre conservar a forma produzida (prender-se a uma representação-coisa) ou preservar a maleabilidade, isto é, o processo de simbolização. Nesse caso, ele não pode "se soltar", ficando aprisionado no dilema entre conservar a representação, fixá-la - mantendo o objeto incólume -, ou conservar a capacidade de simbolizar, armazenar a própria função simbolizante - destruindo o objeto. "É preciso aceitar destruir a forma para que esta possa ser apreendida como representação-coisa, como representante da coisa, e não como a coisa ela mesma. (ROUSSILLON, 2006, p. 171)"2.
Um ambiente com tais características traz, ainda, consequências de uma outra ordem, cuja apreciação se faz tão importante quanto as de sua maleabilidade (ou a falta dela), no que diz respeito aos pré-requisitos do processo de simbolização: ele conduz o sujeito a uma paralisia subjetiva que destrói a possibilidade de haver prazer no vínculo primário entre a mãe e o bebê.
Como sabemos, ao mamar, o bebê experimenta um prazer ligado à autoconservação: ele enche sua barriga e mata sua fome. Ao mesmo tempo, há o prazer ligado à estimulação de uma zona erógena, a boca. Não obstante, além destes prazeres experimentados unicamente pelo bebê, há também uma satisfação ligada à comunicação corporal e emocional entre mãe e bebê (MINERBO, 2016), que é compartilhada por ambos.
Quando os corpos estabelecem entre si uma boa comunicação, há uma espécie de coreografia primitiva que flui satisfatoriamente. Há, porém, situações nas quais, geralmente em decorrência de questões inconscientes da mãe, surge um desencaixe, um estranhamento nesse corpo a corpo inicial. Em lugar do prazer necessário, a dupla fica enganchada em uma relação que se torna fonte de sofrimento para ambos. Isso irá prejudicar o processo de simbolização que tem início no seio da comunicação primitiva. A partir daí, no lugar de Eros, a relação traumática irá colocar Tânatos em movimento, reconhecido aqui em sua operação de desligamento, porque o aparelho psíquico passará a ter como tarefa principal defender o sujeito da experiência dolorosa em que se transformou a coreografia primitiva (MINERBO, 2016).
Na mesma esteira das experiências viabilizadas pela maleabilidade do meio que com isso se mostra vivo, a satisfação compartilhada com a mãe dá ao bebê o sentimento de que sua experiência faz sentido dentro do universo humano. Ocorre uma sintonia, uma congruência entre sua vivência de prazer e completude e as respostas do objeto, que devolve algo ao bebê a respeito desta vivência e, com isso, realiza para o psiquismo infantil um primeiro movimento de transformação. Por esse motivo, o compartilhamento primitivo da satisfação é simbolização.
Pode-se afirmar, portanto, que o caráter vivo do ambiente primário, dado pelo bom desempenho de sua função de meio maleável, bem como pela experiência de uma satisfação compartilhada entre o bebê e a mãe, é condição "sine qua non" do processo pelo qual o sujeito vem a adquirir a noção de si mesmo como um ente destacado, com características pessoais singulares e valiosas em relação ao universo que o circunda. Quando modificações no ambiente se dão em resposta a uma forma própria do sujeito, o self encontra uma possibilidade de começar ou de voltar a existir criativamente. Na medida em que isto se realiza, "o bebê se sente belo e bom, de bem com a vida, bem na própria pele; quando fracassa, ele começa a se sentir feio, mau e portador de um mal estar, de um mal em ser, em existir" (MINERBO, 2016, p. 182).
Trata-se de um modo de encontro com as necessidades do indivíduo cujo sentido vai além de um "holding". O que aí se põe em questão é, mais do que isso, o estabelecimento de um contato poético (e, nesta medida, simbólico) com o que de humano se afirma ali. Manifesta-se, com isso, uma disposição do mundo humano em receber seu novo membro e, desse modo, sua condição de pertencimento a este mundo, porquanto lhe é dada a autorização em reivindicar para si mesmo um lugar e um traço próprios dentro da comunidade humana.
Referências
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Artigo recebido em: 06/11/2020
Aprovado para publicação em: 02/04/2021
Endereço para correspondência
Daniel Schor
E-mail: danielschor@usp.br
Nelson Ernesto Coelho Júnior
E-mail: ncoelho@usp.br
*Pós doutorando do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da U niversidade de S ão Paulo (IPUSP). Membro do Laboratório Interinstitucional de Estudos da Intersubjetividade e Psicanálise Contemporânea (LIPSIC), da Universidade de S ão Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). São Paulo, SP, Brasil.
**Professor doutor do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da Universidade de S ão Paulo (IPUSP). Coordenador do Laboratório Interinstitucional de Estudos da Intersubjetividade e Psicanálise Contemporânea (LIPSIC), da Universidade de S ão Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). São Paulo, SP, Brasil.
1Dessa forma, compreendemos, com Roussillon, o que está sendo chamado de "atividade representativa" ou "processo de representação" como um aspecto parcial do processo mais amplo de "simbolização progressiva" (ROUSSILLON, 2011).
2Em sua "teoria generalizada das representações", André Green reconhece o valor da representação de coisa como elo essencial graças ao qual os representantes psíquicos encontram a possibilidade de se ligar, entrando na cadeia de simbolização. De acordo com esta concepção, a representação de coisa opera ligando, transformando, limitando e dando figuração à energia pulsional (GREEN, 1995).