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Psicologia Escolar e Educacional
versão impressa ISSN 1413-8557
Psicol. esc. educ. v.8 n.2 Campinas dez. 2004
SUGESTÕES PRÁTICAS
A elaboração de testes de sala de aula
Claudette Maria Medeiros Vendramini1; Liane Di Stefano Da Silva2; Vanessa Cassinelli Chenta2
I Universidade São Francisco
Os sistemas de avaliação referentes às disciplinas oferecidas nas instituições de ensino merecem uma atenção especial por parte dos profissionais da Educação, uma vez que as avaliações são preparadas pelos professores para uso em sala de aula. São eles os agentes mais importantes neste processo, pois não só conhecem a diversidade existente nos cursos, de acordo com a grade curricular e a instituição educacional a que pertencem, como também seus educandos. Não há um teste padronizado externo para a avaliação do processo ensinoaprendizagem, o método é escolhido pelo educador, e cabe a este identificar a melhor opção para mensurar a aprendizagem de seus alunos.
É importante primeiramente diferenciar os termos testar, medir e avaliar. Conforme Haydt (1997), testar é “verificar um desempenho através de situações previamente organizadas, chamadas testes”; medir é “descrever um fenômeno do ponto de vista quantitativo”; e avaliar é “interpretar dados quantitativos e qualitativos para obter um parecer ou julgamento de valor, tendo por base padrões ou critérios” (p.289).
Nesse sentido, o ato de avaliar deve ter um valor quantitativo e qualitativo. Quantitativo no sentido de se observar as várias formas de se avaliar, sobrepor a disciplina sob vários tipos de medição do conhecimento. Para isso o professor deve buscar não somente avaliar o conhecimento prévio de seus alunos, como também o conhecimento de interpretação de textos, tabelas, gráficos, seqüências lógicas, como alguns exemplos.
Quanto à avaliação qualitativa, o professor deve pensar na qualidade do instrumento que usará para fazer o seu diagnóstico. Lembrando que o educando recebeu ao longo do processo ensino-aprendizagem uma relação de dados que correspondem ao currículo da escola.
Assim, o professor deve avaliar o seu aluno com base neste processo, utilizando instrumentos objetivos, que tenham clareza e que estejam próximos da realidade do conhecimento construído pelo seu aluno.
Desta forma, compreende-se que a avaliação tem uma função simbólica de um “termômetro”. O educador por meio de sua avaliação pode diagnosticar vários tipos de problemas entre os seus educandos. O resultado da avaliação colocará o professor diante de uma situação de tomadas de decisões. Estas decisões poderão ser desde uma revisão no seu plano de ensino até a solução de um problema de dificuldade de aprendizagem com proporção elevada.
Uma avaliação bem estruturada seja na forma de dissertação, teste, em grupo, entre outras, deve proporcionar aos docentes condições de conhecer seus educandos, quais suas reais dificuldades na aprendizagem, determinar se os objetivos propostos pelo educador foram alcançados, bem como promover o desempenho acadêmico. A preparação das avaliações da sala de aula, todavia, pode ser melhorada por meio da aplicação de técnicas. O desenvolvimento do instrumento pode ser dividido em três etapas principais: (1) planejar o teste, (2) redigir os itens e (3) analisar os itens. (Anastasi & Urbina 2000).
A atenção deve estar concentrada na preparação dos itens, pois o teste construído sem um esquema de planejamento provavelmente ficará sobrecarregado de material relativamente transitório e menos importante. Muitas das críticas aos testes de resposta selecionada originam-se da má elaboração das alternativas, de respostas óbvias e simplistas ou mesmo da ambigüidade na linguagem e na elaboração das alternativas. Como exemplo, pode-se citar a elaboração de questões referentes ao tópico “Tratamento da Informação”, abordado nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (Secretaria da Educação Fundamental – SEF, 1997). Esse tema atualmente compõe os PCN’s em virtude da necessidade da sociedade que exige a utilização e interpretação de tabelas e gráficos estatísticos necessários para compreender as informações veiculadas pelos diversos meios de comunicação. Segundo a SEF (1997), estar alfabetizado no século XXI supõe saber ler e interpretar dados apresentados de maneira organizada, como os apresentados em tabelas e gráficos estatísticos, para que a partir da análise das informações e pela observação de acontecimentos seja possível tirar conclusões ou fazer previsões.
Como já mencionado, após o planejamento da prova ou teste que se deseja aplicar nos estudantes, os itens devem ser redigidos com muita atenção, para que não haja ambigüidade na linguagem e elaboração das alternativas. Como exemplo, podem ser considerados os dados apresentados na Tabela 1 do teste de “Leitura de dados apresentados em tabelas” (Vendramini, Chenta & Silva, 2004), elaborado com o objetivo de avaliar a leitura e compreensão de dados apresentados em tabelas estatísticas. As informações podem ser extraídas diretamente ou indiretamente destas tabelas. São consideradas informações obtidas indiretamente aquelas que necessitam de operações matemáticas ou comparações de resultados obtidos diretamente.
Para a avaliação da leitura e compreensão dos dados apresentados na Tabela 1 as seguintes questões foram formuladas: (1) Qual o terceiro personagem preferido divulgado pela mídia em 2003?; (2) Qual a porcentagem de pessoas que preferem o personagem Harry Potter?; (3) Qual a razão de votos entre o 6º e o 9º colocado?. O nível de exigência da informação matemática é diferente para cada questão. A primeira exige a leitura direta da informação referente ao terceiro personagem preferido; a segunda é também uma leitura direta, mas refere-se à informação da porcentagem de pessoas; e a terceira exige a leitura da informação referente ao número de votos do 6º e 9º colocados e o cálculo da razão entre esses valores. É importante que o professor inclua no teste questões de nível fácil, médio e difícil para permitir a avaliação do nível de conhecimento ou habilidade dos estudantes. A resposta à primeira questão pode ser dada diretamente da Tabela 1, embora exija alguma atenção do respondente. É possível que alunos menos atentos desconsiderem a coluna referente à classificação e respondam apenas pela informação contida na primeira coluna, Gollum, personagem da terceira linha da tabela, quando o correto seria o da oitava linha. Outros podem responder Nemo em vez de Neo, pela semelhança lingüística entre as duas palavras. Outros podem, ainda, responder Bob Esponja, sem considerar a informação referente à colocação do personagem (terceiro colocado), mas apenas considerando a informação que está na primeira linha.
Nesse processo de avaliação, as respostas podem ser abertas ou de múltipla escolha. No último caso, podese ou não considerar possíveis erros dos alunos, dependendo do objetivo do professor. Assim, as alternativas podem ser elaboradas, não com o intuito de induzir as respostas ao erro, mas para permitir uma avaliação que possibilite interpretações mais ricas a partir das respostas dos alunos.
As alternativas devem ser elaboradas com cuidado para que a possibilidade de anulação da questão seja a mais remota possível. Um exemplo de uma questão com alternativas mal-elaboradas ocorre quando elas incluem alternativas contraditórias ou quando se incluem respectivamente as duas alternativas seguintes na mesma questão: nenhuma das alternativas anteriores está correta; e todas as alternativas anteriores estão corretas.
Desta forma, poderiam ser consideradas como adequadas, as alternativas descritas a seguir: (a) Gollum; (b) Neo; (c) Nemo; (d) Bob Esponja; e (e) Wolverine. Ou as alternativas: (a) Gollum; (b) Neo; (c) Nemo; (d) Bob Esponja; e (e) nenhuma das alternativas anteriores está correta. É importante ressaltar que alternativas como “todas as alternativas anteriores estão corretas” e “nenhuma das alternativas anteriores está correta” podem ser utilizadas, desde que respeitem esta seqüência, a fim de que a ocorrência de uma das alternativas exclua a possibilidade de ocorrência das outras.
O tópico “Tratamento da Informação”, abordado nos PCN’s (SEF, 1997) inclui também a leitura de dados apresentados em forma de gráficos. Os dados da Tabela 1 poderiam ser apresentados em forma de gráfico estatístico (Figura 1), permitindo ao professor uma avaliação mais abrangente de como os estudantes poderiam interpretar as informações veiculadas pelos diversos meios de comunicação.
Segundo os PCN’s ao ensinar matemática no ensino fundamental deve-se despertar nos estudantes de 1ª a 4 ª séries o espírito de investigação e organização de dados buscando desenvolver habilidades de leitura e interpretação de informações já organizadas em gráficos e tabelas, de coleta e organização de informações em tabelas e gráficos e de produção de textos para a sua interpretação. Esta análise deve ser mais apurada para estudantes de 5ª a 8ª séries, levando-os a fazer previsões e estabelecer relações entre acontecimentos.
O professor pode aperfeiçoar suas avaliações pesquisando outros instrumentos criados por órgãos especializados na construção de testes e utilizar seus itens como modelo. Esses itens podem ser selecionados dos elaborados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) ou até por instituições do exterior tais como o Educational Testing Service (ETS) responsável pelo Graduate Recorde Examination (GRE) (INEP, 2004, GRE, 2004).
A avaliação, como processo envolvido para medir a aprendizagem, deve ser usada freqüentemente na rotina da sala de aula. Como diz Carvalho (1973), tais verificações podem ser informais (trabalhos, exercícios, participação nos debates, solução de problemas, aplicação de conhecimentos, etc.) ou formais (prova propriamente dita).
A criação de instrumentos utilizados em sala de aula deve propiciar uma adequada avaliação do conteúdo por meio de escolhas feitas a partir de reflexão e estudo sobre o que se pretende com essa avaliação de rendimento dos alunos. Para tanto, convida-se o profissional da educação a refletir sobre a importância de uma avaliação inteligível, que, muito mais do que um ato de promover ou reter o corpo discente, é um auxiliar que direciona o professor quanto à sua qualidade de ensino.
Referências
Anastasi, A., & Urbina, S. (2000). Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artmed.
Bonniol, J. B., & Vial, M. (2001). Modelos de Avaliação: Textos Fundamentais. São Paulo: Artmed.
Carvalho, I. M. (1973). O processo didático. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
Haydt, R. C. C. (1997). Curso de Didática Geral. (4 ed.). São Paulo: Editora Ática.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2004).Exame Nacional do ensino Médio 2004: Prova 1 - Amarela. [On line], Disponível: // www.inep.gov.br/download/enem/2004/prova/ ENEM04_amarela.pdf
Secretaria de Educação Fundamental (1997). Parâmetros curriculares nacionais : Matemática. Brasília: Ministério da Educação e Cultura/Secretaria da Educação Fundamental.
Vendramini, C. M. M, Chenta, V. C., & Silva, L. S. (2004). Leitura de dados apresentados em tabelas e gráficos estatísticos. Relatório parcial de pesquisa. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade São Francisco.
Endereço para correspondência
Claudette Maria Medeiros Vendramini
Rua Herculano Pupo Nogueira, 309 – Vila Belém
CEP: 13256-300 – Itatiba, SP
e-mail: cvendramini@uol.com.br
e-mail: claudette.vendramini@saofrancisco.edu.br
1 Doutora em Educação Matemática pela Universidade Estadual de Campinas e docente da graduação do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Psicologia da USF.
2 Estudante do Curso de Psicologia da USF e bolsista da iniciação científica PROBAIC-USF.