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Psicologia: Ciência e Profissão

versão impressa ISSN 1414-9893versão On-line ISSN 1982-3703

Psicol. cienc. prof. vol.45  Brasília  2025  Epub 24-Fev-2025

https://doi.org/10.1590/1982-3703003277970 

Artigo

No Meio da Tempestade: Percepções de Ribeirinhos do Amazonas sobre a Covid-19

Into the storm: Perceptions of Amazonian riverine people about COVID-19

En el Ojo de la Tormenta: Percepciones de los Ribereños Amazónicos sobre el Covid-19

Sara Neves Lima Zahn1 

Sara Neves Lima Zahn

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Santos – SP. Brasil.


http://orcid.org/0000-0002-3095-9613

Danielle Arisa Caranti1 

Danielle Arisa Caranti

Professora Doutora do Departamento de Biociências do Instituto Saúde e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Santos – SP. Brasil.


http://orcid.org/0000-0002-2679-2945

Claudia Ridel Juzwiak1 

Claudia Ridel Juzwiak

Professora Doutora do Departamento de Ciências do Movimento Humano do Instituto Saúde e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Santos – SP. Brasil.


http://orcid.org/0000-0003-1101-0063

Ricardo da Costa Padovani1 

Ricardo da Costa Padovani

Professor Doutor do Instituto Saúde e Sociedade do Departamento de Saúde, Educação e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Santos – SP. Brasil.


http://orcid.org/0000-0001-8537-2249

*Universidade Federal de São Paulo, Santos, SP, Brasil.


Resumo:

Com o objetivo de compreender as percepções de ribeirinhos do Amazonas sobre a covid-19, foram entrevistados 12 adultos infectados durante a primeira onda da pandemia. Trata-se de um estudo descritivo qualitativo de amostragem intencional com base no critério de saturação. Para a coleta de dados foram utilizados: questionário de perfil sociodemográfico e de saúde de populações ribeirinhas durante a pandemia, entrevista semiestruturada e a observação participante registrada em diário de campo. Na análise de conteúdo foram identificadas três categorias: “compreensões sobre a covid-19”, que diz respeito às percepções iniciais sobre o vírus, suas formas de transmissão e medidas de prevenção; “‘aconteceu em mim assim’”, na qual se evidenciaram os efeitos percebidos no corpo e na saúde emocional; e “efeitos da pandemia nos modos de vida ribeirinhos”, em que foram apontadas as transformações causadas pela pandemia sobre as práticas alimentares, atividades de subsistência e educação. As desigualdades presentes no contexto ribeirinho foram acentuadas com a chegada da pandemia. As compreensões a respeito do vírus estavam atreladas aos meios de comunicação e a conceitos culturais familiares da região amazônica, sendo a principal barreira a ausência de conectividade nas comunidades. No âmbito emocional, o medo foi a emoção mais referida pelos participantes e a política de sepultamento foi relacionada à dificuldade em vivenciar o luto. O lockdown foi associado à diminuição da renda, redução da compra de alimentos e defasagem na aprendizagem escolar. A compreensão das singularidades socioculturais e percepções desses povos possibilita a reflexão sobre suas reais necessidades e capacidades.

Palavras-chave: Covid-19; Amazônia; Populações Rurais; Populações Minoritárias; Vulneráveis e Desiguais em Saúde

Abstract:

To understand the perceptions of riverine people in Amazonas about COVID-19, 12 adults who were infected during the first wave of the pandemic were interviewed. This qualitative descriptive study used an intentional sampling based on the saturation criterion. The following were used to collect data: a questionnaire on the sociodemographic and health profile of riverine populations during the pandemic, a semi-structured interview, and participant observation recorded in a field diary. Content analysis obtained three categories: “Understandings about COVID-19,” which refers to initial perceptions about the virus, its forms of transmission, and prevention measures; “It happened to me like this,” which highlights the effects that were perceived on the body and emotional health; and “Effects of the pandemic on riverine lifestyles,” which points out the transformations due to the pandemic on eating practices, subsistence activities, and education. The pandemic worsened the inequalities in the riverine context. Understandings of the virus were linked to the media and cultural concepts familiar to the Amazon region, with the main barrier being the lack of connectivity in the communities. In the emotional sphere, fear was the emotion participants mentioned the most and the burial policy was related to the difficulty in experiencing grief. The lockdown was associated with a decrease in income, a reduction in food purchases, and a delay in school learning. Understanding the sociocultural singularities and perceptions of these people makes it possible to reflect on their real needs and capabilities.

Keywords: COVID-19; Amazon; Rural Population; Health Disparate Minority and Vulnerable Populations

Resumen:

Con el objetivo de comprender las percepciones de los ribereños del Amazonas sobre el Covid-19, fueron entrevistados 12 adultos infectados durante la primera ola de la pandemia. Se trata de un estudio cualitativo descriptivo con muestreo intencional basado en el criterio de saturación. Los datos se recogieron mediante un cuestionario sobre el perfil sociodemográfico y sanitario de las poblaciones ribereñas durante la pandemia, una entrevista semiestructurada y la observación participante registrada en un diario de campo. En el análisis de contenido se identificaron tres categorías: “Comprensiones sobre el Covid-19”, que se refiere a las percepciones iniciales sobre el virus, sus formas de transmisión y las medidas de prevención; “’Me pasó así’”, que destaca los efectos que se percibieron sobre el cuerpo y la salud emocional; y “Efectos de la pandemia en los estilos de vida ribereños”, que señala las transformaciones causadas por la pandemia en las prácticas alimentarias, las actividades de subsistencia y la educación. Las desigualdades presentes en el contexto ribereño se acentuaron con la llegada de la pandemia. La comprensión del virus se vinculó a los medios de comunicación y a conceptos culturales familiares a la región amazónica, siendo la principal barrera la falta de conectividad en las comunidades. En la esfera emocional, el miedo fue la emoción más mencionada por los participantes y la política de entierro se relacionó con la dificultad de vivir el duelo. El encierro se asoció a menores ingresos, reducción de la compra de alimentos y déficit de aprendizaje escolar. Comprender las singularidades socioculturales y las percepciones de estos pueblos permite reflexionar sobre sus necesidades y capacidades reales.

Palabras clave: Covid-19; Amazonia; Población Rural; Poblaciones Minoritarias; Vulnerables y Desiguales en Salud

Introdução

A pandemia da covid-19, doença infecciosa causada por um coronavírus da síndrome respiratória grave 2, o Sars-CoV-2, tem intensidade leve a moderada e pode produzir sintomas graves em pacientes com comorbidades (Iser et al., 2020; World Health Organization, 2021). Durante o período pandêmico, as principais estratégias adotadas a nível mundial para a contenção do vírus foram medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, higienização das mãos, distanciamento social e lockdown (Peixoto et al., 2020; Peci, Avellaneda & Suzuki, 2021). Adicionalmente, estudos também apresentaram os efeitos resultantes desse cenário, o qual ficou marcado por impactos extremos nos serviços de saúde, na educação, nos aspectos culturais e econômicos, e, sobretudo, na reinvenção da vida social (Souza, Andrade & Carvalho, 2021; Urrea-Arroyave & Cañon-Montañez, 2021).

O reflexo da pandemia sobre os países e grupos sociais não foi o mesmo (Silva & Silva, 2023). Grupos vulneráveis sentiram a acentuação das desigualdades em razão de as características socioeconômicas terem gerado mais dificuldades em cumprir as medidas de prevenção. Além disso, corriam maior risco de morte pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde e pela existência de doenças pré-existentes não tratadas (Castro-Silva, Ianni & Forte, 2021).

Nesse sentido, o Amazonas, maior estado brasileiro, caracterizado por sua biodiversidade e riqueza cultural, foi um dos que mais sofreu durante a pandemia, enfrentando o colapso do precário sistema de saúde de seus 62 municípios e a escassez de insumos e vagas hospitalares na capital Manaus, que concentra a maioria dos leitos de unidades de tratamento intensivo do estado (Salino & Ribeiro, 2023). No período entre março de 2020 e 31 de dezembro de 2021, o Amazonas teve 433.813 casos registrados, dos quais 227.431 foram notificados em municípios interioranos, e 13.835 óbitos (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas [FVS-AM], 2021).

As populações de comunidades rurais da Amazônia Legal sofreram impacto negativo de cidades médias circunvizinhas no que tange aos índices de contaminação pelo vírus, na assistência em saúde recebida e na defasagem dos aspectos socioeconômicos (Pacífico Filho, Borges, Iwamoto, & Cançado, 2021; Futemma et al., 2021). À vista disso, estudos apontam que a comercialização dos pequenos produtores rurais do Amazonas foi gravemente comprometida, e, mesmo diante de ações solidárias e coletivas, eles tiveram seus ganhos reduzidos (Futemma et al., 2021). A estrutura capitalista instalada, que promove fluxos de capital essenciais a subsistência, não é assaz para solver as disparidades sociais e promover melhoria da qualidade de vida de populações vulneráveis (Pacífico Filho et al., 2021).

Faz-se necessário enfatizar que nesse período houve uma divulgação massiva de notícias falsas que estimulavam a utilização de um tratamento da covid-19 sem comprovação científica e alegavam a ineficácia das medidas de proteção ao vírus. Desencadeou-se um movimento de oposição a instituições e pesquisadores, especialmente no Amazonas, na tentativa de deslegitimar estudo realizado em Manaus que alertava sobre o potencial toxicológico da utilização de antiparasitários, comuns à região amazônica no combate à malária, como recurso de tratamento precoce ou cura da covid-19. Tais informações foram reverberadas por figuras públicas nas redes sociais e refletidas em ações e políticas de âmbito federal (Neves & Ferreira, 2020). Além disso, as instituições públicas de ensino amazonense desempenharam um papel fundamental na atenção à saúde mental da população e profissionais da “linha de frente” no ápice da crise, por meio de ações psicossociais que evidenciaram a psicologia como parte do cuidado integral e humanização da assistência em saúde (Neves et al., 2021).

A população amazonense tem um número expressivo de povos tradicionais, definidos como “populações do campo, da floresta e das águas” e que têm seus modos de vida, produção e reprodução social relacionados predominantemente ao meio ambiente, à agropecuária e ao extrativismo (Portaria no2311/2014). Especificamente, as populações ribeirinhas vivem às margens dos rios e lagos, normalmente distantes geograficamente da zona urbana dos municípios (Silva, 2017). Esses indivíduos se distinguem por seus modos de vida e interação com a natureza. Ademais, carregam raízes indígenas fortes em seus costumes, comidas típicas e uso de plantas regionais para fins medicinais, porém, sabe-se que as populações ribeirinhas amazônicas podem ser oriundas do misto de regiões e grupos sociais - indígenas, nordestinos e migrantes de outras localidades (Mendonça, França, Oliveira, Prata, & Añes, 2007; Gama, Fernandes, Parente, & Secoli, 2018).

No que se refere às condições do ambiente em que vivem, as cheias e vazantes comuns à região amazônica geram alterações na natureza que impactam diretamente na economia e na qualidade de vida, pois sua fonte de renda primária e alimentação são provenientes da pesca e da agricultura (Silva, 2017). De modo geral, a renda familiar mensal e o nível de escolaridade dessa população são baixos e a taxa de analfabetismo é elevada (Gama et al., 2018). A infraestrutura de saneamento básico é rara em comunidades ribeirinhas e a oferta dos serviços de saúde pela prefeitura ou estado é limitada a ações eventuais, e, em alguns períodos do ano, por conta das alterações no rio, não ocorrem (Gama & Secoli, 2020).

Para além das limitações implicadas pelos elementos geopolíticos da Amazônia, os povos tradicionais ribeirinhos são produtores de saberes e modos de existência potentes que compõem e transformam as práticas de cuidado em saúde ofertadas nessa região, considerada por Martins et al. (2022) como um “território líquido”. Essa noção não traz um significado de fragilidade ou aspecto de um rápido desmanche, mas sinaliza a relevância dos encontros e caminhos possibilitados pelas águas na Amazônia, além de apontar para uma produção de ciência que troque as lentes da instrumentalização da assistência e do cuidado pela sensibilidade e reconhecimento da produção de saberes, por meio das intensidades e interações de todos seus atores (Martins et al., 2022).

Destaca-se que há uma política pública instituída para esse grupo populacional, que visa diminuir as vulnerabilidades, aprimorar a qualidade de saúde e diminuir as taxas de morbidade e mortalidade ao promover ações em saúde fundamentadas no princípio da integralidade e levando em conta aspectos relacionados aos determinantes sociais que compõem esse processo. Trata-se da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas - PNSIPCFA (Portaria no2.311/2014), que entende a população ribeirinha como parte das populações do campo, da floresta e das águas.

Considerando o impacto que a covid-19 teve sobre o estado do Amazonas, os aspectos de vulnerabilidade dos povos ribeirinhos, como a situação de moradia, condições sanitárias insalubres, distanciamento geográfico de serviços públicos e desafios enfrentados para garantir a sobrevivência nas várzeas e cheias do rio (Scherer, 2004), o objetivo deste estudo foi compreender as percepções de ribeirinhos do Amazonas sobre a covid-19 e seus efeitos no contexto em que vivem.

Método

Natureza da pesquisa e cuidados éticos

Trata-se de um estudo de campo observacional descritivo, de natureza qualitativa e amostragem intencional, realizado com populações ribeirinhas do estado do Amazonas no mês de julho de 2022, durante a quarta onda da pandemia de covid-19. Esta pesquisa é parte de um estudo mais amplo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, nº 5.315.669, CAAE: 55829222.2.0000.5505, no dia 28 de março de 2022. A participação foi formalizada pela assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A anonimização dos participantes foi realizada valorizando um traço cultural observado pela primeira autora no período em que viveu no Amazonas, em que ribeirinhos eram “batizados” com o nome do peixe que gostavam de comer ou a partir de situações vivenciadas na pesca. Dessa forma, foram atribuídos nomes de peixes regionais aos entrevistados.

As recomendações propostas pelo Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ), traduzido e validado para o português, foram contempladas no estudo. O COREQ possui 32 itens distribuídos em três domínios: equipe de pesquisa e reflexividade; desenho do estudo; e análise e resultados (Souza, Marziale, Silva, & Nascimento, 2021).

Local da pesquisa

A pesquisa foi realizada nas comunidades ribeirinhas da área rural de um município do estado do Amazonas que, localizado às margens do rio Solimões, conta com 201 comunidades (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010). Salienta-se que não há rodovias nem estradas que conectem o município ao restante do estado, portanto o acesso até o local da coleta de dados se deu por via fluvial ou aérea (Gama & Secoli, 2020).

Participantes

Participaram do estudo 12 indivíduos adultos, sendo sete do gênero feminino e cinco do gênero masculino, que habitavam em três comunidades de uma região ribeirinha do estado do Amazonas. Entre os participantes, foram incluídos três entrevistados da comunidade Ariri, quatro da comunidade Flores e cinco da comunidade Vila Nova. Todos estiveram entre os casos de covid-19 identificados pelo agente comunitário de saúde local e registrados pela prefeitura. Adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: ter sido contagiado pela covid-19 e residir no munícipio onde a pesquisa foi desenvolvida.

Para o recrutamento dos participantes, utilizou-se a técnica snowball, que se vale de uma cadeia de referência para que se alcance a composição da totalidade dos participantes envolvidos no estudo (Vinuto, 2014). A abordagem com os entrevistados foi realizada pessoalmente por meio de uma primeira indicação dos líderes comunitários, não tendo havido recusa em participar ou desistências. Na medida em que não houve novos assuntos ou elementos registrados, o ponto de saturação foi atingido e as entrevistas encerradas (Minayo, 2014).

Instrumentos

Foram utilizados três instrumentos para a coleta de dados, que possibilitaram a complementação das informações (Minayo, 2014).

Questionário de perfil sociodemográfico de saúde de populações ribeirinhas na pandemia de covid-19

Instrumento criado pelos autores deste estudo com o intuito de caracterizar o perfil sociodemográfico e de saúde dos participantes ribeirinhos na pandemia, abordando as seguintes variáveis: sexo, idade, raça/cor da pele autodeclarada, estado civil, número de filhos, escolaridade, ocupação, tipo de residência, número de cômodos, quantidade de moradores da casa e recebimento de auxílio de programas sociais nos últimos dois anos (opções de auxílios estão descritas no questionário), além de informações de saúde pregressas ao adoecimento pela covid-19 (se o indivíduo é tabagista, etilista, diabético ou se apresenta alguma outra doença crônica) e durante o período de contágio (se precisou ficar internado e se necessitou de auxílio de respiração mecânica).

Entrevista semiestruturada

O roteiro foi elaborado com o intuito de possibilitar a compreensão ampla dos fenômenos psicossociais, de maneira a realizar uma comparação das diversas concepções dos participantes e permitir a atuação adaptável e consciente do pesquisador durante a coleta de dados (Manzini, 2020). Além disso, a estrutura do roteiro possibilitou uma flexibilidade das conversas (Minayo, 2014) dando espaço para a integração de novas questões e reflexões trazidas pelo participante. Sendo assim, os relatos foram obtidos por meio de uma entrevista semiestruturada com questões abertas norteadoras e de sondagem relativas à três grandes temáticas: mudanças no contexto de vida ribeirinho na pandemia, assistência à saúde no período pandêmico e compreensão e enfrentamento da covid-19.

Observação participante e diário de campo

A observação participante possibilitou um olhar mais amplo da realidade social estudada, complementando os dados coletados nas entrevistas e agregando informações sobre as práticas, relações e outros aspectos que caracterizam o cotidiano dos participantes (Minayo, 2014). As observações foram registradas no diário de campo da pesquisa, que, por sua vez, é uma ferramenta com estrutura e linguagem de pouca formalidade, porém fundamental para fortalecer a entrevista semiestruturada, visto que os dados provenientes de seus registros se somam àqueles coletados nas entrevistas, obtendo-se informações que não estarão presentes nas falas dos entrevistados, como emoções manifestadas ou gesticulações e outros aspectos relacionados às representações sociais (Minayo, 2014).

Procedimentos

A primeira autora entrou em contato com lideranças comunitárias e solicitou carta de anuência para a realização da pesquisa. As entrevistas foram realizadas no ambiente domiciliar de cada participante, sem a presença de outras pessoas. Ao introduzir o roteiro semiestruturado, a coautora, que tem experiência no atendimento às populações ribeirinhas, manejou a entrevista por meio da escuta ativa, acolhimento dos relatos de cada vivência e utilização de linguagem compreensível e adaptada à terminologia regional, a fim de possibilitar o estabelecimento de vínculo e proporcionar ao entrevistado um espaço confortável e seguro para conversar sobre a temática em questão. O tempo de aplicação do questionário e da entrevista foi de aproximadamente 40 minutos, e a frequência de apenas um encontro.

Para a realização da análise dos dados coletados, as entrevistas foram gravadas em áudio e transcritas ipsis litteris (transcrição verbatim). Ressalta-se que o conteúdo gravado foi armazenado pela primeira coautora e excluído após a finalização das transcrições.

A análise de conteúdo temática foi escolhida pelos autores como técnica de análise dos dados, uma vez que ela amplifica o delineamento da teoria da comunicação que traz como princípio a mensagem. Essa ferramenta metodológica pressupõe fundamentalmente a concepção crítica e dinâmica da linguagem, caracterizada como uma construção real comum às sociedades e permeada pela elaboração e desenvolvimento de representações das vivências humanas (Minayo, 2010). Essa técnica estabelece três etapas (Minayo, 2014): a pré-análise; a exploração do material; e o tratamento dos resultados obtidos e sua respectiva interpretação.

A primeira etapa correspondeu à organização do material coletado (transcrições), a leitura flutuante do corpus das entrevistas, seguida da leitura exaustiva, para alcançar uma compreensão mais ampla e desprendida dos primeiros significados encontrados no material, a fim de torná-lo mais familiar ao pesquisador, ainda sem intenção de estruturá-lo (Minayo, 2014).

A exploração do material, a segunda fase, buscou relacionar os significantes e os significados repetidos nos textos, o que possibilitou a identificação e escolha das unidades de registro. As unidades de análise foram articuladas às temáticas oriundas dos objetivos da pesquisa e das perguntas norteadoras utilizadas na coleta de dados (Minayo, 2014). Esse processo, chamado codificação, foi realizado manualmente. Ressalta-se que as unidades de registro foram utilizadas sem textualização. A última etapa compreendeu as inferências e interpretações do agrupamento das unidades de análise, relacionando-as com o aporte teórico da pesquisa e possibilitando novas perspectivas teóricas com base na leitura do material (Minayo, 2014).

Para a interpretação das falas e posterior tratamento dos dados na análise, os autores se basearam na noção de “percepção”, moderada por um princípio apresentado pela terapia cognitivo-comportamental (TCC) que pressupõe que as histórias de vida e experiências anteriores moldam a maneira como os indivíduos interpretam e processam os eventos que vivenciam, de modo que essa percepção influencia na maneira como eles se sentem e se comportam. Do ponto de vista cognitivo, compreende-se que existem pensamentos presentes nos limites da consciência que surgem de modo espontâneo e automático e que estabelecem uma interpretação pessoal e imediata de qualquer experiência (Knapp & Beck, 2008).

Resultados e discussão

O Quadro 1 apresenta as características sociodemográficas dos participantes da pesquisa. Optou-se por transcrever a palavra utilizada pelo entrevistado para descrever a própria cor da pele. Segundo Moreira (2021, p. 2), “o processo de identificação étnico-racial é subjetivo, já que envolve dimensões históricas, socioculturais e políticas”.

Quadro 1 Características sociodemográficas dos participantes. 

N Participante Idade Sexo Raça/cor
autorreferida
Ocupação Escolaridade
1 Matrinxã 30 Masculino Parda Pescador/Agricultor Ensino médio
completo
2 Pirarara 48 Feminino Cor de jambo Pescadora/Agricultora Ensino fundamental
incompleto
3 Aruanã 29 Feminino Morena Pescadora/Agricultora Ensino superior
incompleto
4 Sardinha 32 Feminino Negra Professora Ensino superior
completo
5 Mapará 36 Feminino Parda Professora Ensino superior
completo
6 Pirarucu 37 Masculino Amarelo Pescador/Agricultor Ensino fundamental
incompleto
7 Tambaqui 44 Masculino Parda Pescador/Agricultor Ensino médio
incompleto
8 Dourada 29 Feminino Morena Pescadora/Agricultora Ensino fundamental incompleto
9 Piraíba 54 Feminino Morena Pescadora/Agricultora Ensino fundamental
incompleto
10 Bodó 46 Masculino Parda Agente comunitário de saúde Ensino médio
completo
11 Surubim 47 Masculino Parda Técnico em patologia Ensino médio
incompleto
12 Jaú 39 Feminino Negra Pescadora/Agricultora Ensino fundamental
incompleto

A idade mínima do grupo entrevistado foi de 29 anos, e a máxima de 54 anos. Todos os entrevistados descreveram a moradia como “casa em terra”; entretanto, ressalta-se que há uma característica comum no tipo de construção dessas habitações: elas são elevadas por troncos ou pilares a fim de evitar que no período de cheia dos rios e lagos as casas sejam inundadas. Esse tipo de habitação descrito pelos participantes é denominado de “palafita” e é comum em populações que vivem nas margens dos rios amazônicos e precisam se adaptar aos ciclos da natureza (Scherer, 2004). Sete participantes declararam-se casados; Dourada e Tambaqui descreveram o estado civil como união estável; e Matrinxã, Sardinha e Pirarucu afirmaram ser solteiros.

No que tange à escolaridade, cinco entrevistados (Pirarara, Pirarucu, Dourada, Piraíba e Jaú) não haviam concluído o ensino fundamental, dois (Matrinxã e Bodó) afirmaram ter finalizado o ensino básico e outros dois (Tambaqui e Surubim) informaram possuir ensino médio incompleto. Aruanã relatou que estava no último ano do curso de Pedagogia, e, por fim, Sardinha e Mapará mencionaram ser formadas em Letras e Pedagogia, respectivamente. Esses dados corroboram a literatura no que se refere à educação na região amazônica, que, além de enfrentar os desafios referentes à logística, também se depara com a necessidade de adaptação do calendário anual com base na mudança do nível das águas, uma vez que os processos de ensino e aprendizagem devem levar em conta as características socioculturais e geográficas que envolvem o cotidiano dos alunos (Santos, Backes, Gabriel, & Felicetti, 2021).

Oito entrevistados referiram como ocupação/trabalho a agricultura e a pesca, o que varia de acordo com a estação do ano e o nível do rio. Duas participantes (Sardinha e Mapará) atuavam como professoras do ensino básico de várias comunidades, Bodó e Surubim afirmaram que faziam parte da equipe de saúde local com as funções de agente comunitário de saúde e técnico em patologia, respectivamente. A ocupação majoritária apresentada pelos participantes remete à estrita relação do ribeirinho com a natureza e seu fluxo natural de mudanças, uma vez que o trabalho e a subsistência desses indivíduos vêm do cultivo da terra, do consumo e venda de produtos da floresta e da pesca. As alterações no nível do rio, ou seja, suas cheias e várzeas sazonais afetam diretamente as atividades a serem realizadas na comunidade (Silva, 2017).

Quanto às informações pregressas de saúde, um participante (Jaú) referiu tabagismo, Jaú e Matrinxã relataram ser etilistas, Bodó e Jaú referiram diabetes e, com relação a outras doenças, Piraíba relatou hipertensão e Pirarucu referiu asma. Dois outros participantes comunicaram que foram diagnosticados com depressão e faziam acompanhamento a cada dois meses no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) localizado na zona urbana do município. No inquérito de saúde realizado por Gama et al. (2018), com 492 indivíduos, é possível visualizar um panorama de doenças e queixas centrais da população ribeirinha no qual a maioria (77%) afirmou ter sofrido algum problema de saúde nos 30 dias antecedentes. A diabetes e a hipertensão estiveram entre as duas doenças crônicas preeminentes autorrelatadas. Entre os entrevistados pelos autores citados, 147 afirmaram fazer uso de bebida alcoólica e 164 referiram tabagismo.

Apesar do alastramento da covid-19 no estado do Amazonas e do alarmante número de óbitos notificados após a primeira contaminação com o vírus na primeira onda da pandemia, nenhum entrevistado relatou uma segunda infecção por covid-19. No entanto, todos relataram uma quantidade de familiares que também foram infectados durante a pandemia, alcançando uma média de nove familiares por participante. Apenas Bodó necessitou permanecer dois dias hospitalizado para tratamento da covid-19.

Segundo o FVS-AM (2021), o município onde o estudo foi conduzido apresentou, no final do segundo ano da pandemia, uma incidência de 11.410,51 casos/100.000 hab., ultrapassando a taxa da capital e ficando em quarto lugar de casos de covid-19 nos municípios interioranos. Quanto à mortalidade no mesmo período, o município apresentou uma taxa de 278,51 óbitos/100.000 hab. Não foram encontrados estudos que estabelecessem comparação dos riscos de contaminação e incidência entre essa população e outros grupos sociais. No que tange ao impacto da covid-19 sobre grupos sociais, Pandey et al. (2021) indicam que populações em situação de vulnerabilidade, como minorias étnicas e raciais, foram as que correram maior risco de contaminação por covid-19 nos Estados Unidos, com índices de mortalidade 1,5 maior do que a da população branca não hispânica, devido às disparidades socioeconômicas que as caracterizam, como aspectos de moradia e dificuldade de acesso a serviços de saúde.

Segundo Guimarães et al. (2020), para acessar os serviços de saúde, centralizados na zona urbana do município, os ribeirinhos enfrentam desafios como: distância geográfica das comunidades; duração da viagem; custos do deslocamento; dificuldade para acessar os serviços e exames; e baixa compreensão dos fluxos de atendimento. Os autores destacaram que o serviço hospitalar e o atendimento médico são os mais procurados por essa população, enquanto na comunidade o único profissional disponível para solucionar essas questões é o agente comunitário de saúde. Destaca-se que nenhum participante referiu ter plano de saúde ou convênio médico.

Esses resultados sugerem que, mesmo com marcos legais como a PNSIPCFA, cujos objetivos incluem a promoção da equidade, da integralidade e da transversalidade do SUS a essas populações, devido a uma série de dificuldades (extenso território, transporte, pessoal, estrutura), o acesso à saúde é marcado por fragilidades (Guerra, Sabino & Cardoso, 2023) que foram ainda mais ressaltadas durante a pandemia.

A seguir, serão apresentadas três categorias emergentes das falas dos participantes: compreensões sobre a covid-19; “aconteceu em mim assim”; e efeitos da pandemia sobre os modos de vida ribeirinhos.

Compreensões sobre a covid-19

Esta primeira categoria emerge das falas dos participantes no que diz respeito às percepções iniciais sobre a covid-19, quais eram as formas de transmissão do vírus e quais medidas de prevenção foram assimiladas e ao cotidiano ribeirinho. As principais percepções sobre a covid-19 são apresentadas no Quadro 2.

Quadro 2 Principais percepções sobre a Covid-19. 

Percepções Relatos
Como soube Quando a gente chegou era muito, muita informação vinda (da cidade), ‘nossa, acontecendo lá na China, não sei o quê’, logo no início a gente ouvia como piada que nunca ia chegar pra cá, né?” (Sardinha, mulher, 32 anos). “A gente viu na televisão. Lá em [nome da cidade], no noticiário” (Piraíba, mulher, 54 anos). “Quando eu vi, foi na viagem, foi em [nome da cidade] mesmo. Tipo assim, reportagem a respeito disso, entendeu? Na verdade, foi aí que eu entendi” (Tambaqui, homem, 44 anos).
Covid-19 Eu via muito o pessoal falar que pegava e logo morria, né?” (Jaú, mulher, 39 anos). “Que era uma doença, uma doença muito grave que matava rápido, né? Uma doença tipo a malária. Só que o covid, ele mata muito mais rápido” (Surubim, homem, 47 anos).
Transmissão do vírus Pegava de assim, se eu tivesse contaminado eu pegasse em algum lugar, né? Aquele vírus, ele ficava dependendo do local que foi contaminado, uma quantidade de tempo maior,? Para eles morrer” (Mapará, mulher, 36 anos). “É, tipo assim, as pessoas falavam assim, ó, espirrou perto, tossia, pegou, entendeu?” (Sardinha, mulher, 32 anos).
Prevenção O que a gente parou, mas lá foram os eventos sociais, assim, evento cultural. . . . As atividades esportivas que a gente fazia a gente evitou, procurou evitar” (Matrinxã, homem, 30 anos). “ . . . A máscara e o álcool gel. Quando a gente… Quando começou… a gente usava, inclusive assim, quando via alguém, né?” (Pirarara, mulher, 48 anos).

Observa-se que as informações sobre a covid-19 e a pandemia foram apresentadas aos entrevistados na zona urbana do município, por meio de notícias vinculadas na televisão e no rádio. Esse achado, corroborado por estudo realizado em comunidades rurais da Amazônia peruana (Takasaki, Coomes, & Abizaid, 2022), indica que todas haviam recebido algum tipo de informação quanto à covid-19 e às medidas de proteção ao vírus. As principais fontes de informação nas comunidades foram o rádio, a televisão e os jornais. Os entrevistados demonstraram compreender e aderir às medidas de proteção vinculadas, entretanto não houve relação linear entre a quantidade de fontes de informação e os comportamentos de adesão (Takasaki et al., 2022).

Entre as falas apresentadas, destacaram-se as de dois participantes que atrelaram a covid-19 a conceitos mais familiares construídos ao longo da vivência no ambiente ribeirinho amazônico. Segundo Pirarara: “foi no vento mesmo que a bicha veio”, ao considerar a possibilidade de que o vírus chegou na comunidade por meio de um elemento presente durante as tempestades tropicais comuns à região. Outrossim, Surubim compara a chegada do vírus a um temporal que danifica e afunda embarcações ao longo do rio e dos lagos e impõe a tomada de decisões e medidas de segurança que possibilitem a sobrevivência dos que o enfrentam: “você está vendo um temporal, você vai colocar seu barco no meio do lago? Não, é claro que não. Pois é, o covid é a mesma coisa, não tem diferença de um temporal.

Não foram encontrados estudos que abordassem diretamente as compreensões dessa população ou outros grupos vulneráveis sobre a covid-19. No entanto, a revisão integrativa realizada por Pinto, Coelho e Caputo (2022) discutiu as representações da covid-19 dos seguintes grupos: brasileiros, colombianos, enfermeiros, crianças e pacientes com câncer. A mídia e as redes sociais parecem ter cumprido um papel importante no que se refere à produção das compreensões da era do vírus e quais eram os comportamentos fundamentais para prevenção e proteção individual e familiar. Esses mesmos meios de comunicação foram relacionados a um aspecto negativo da pandemia: o da disseminação de notícias falsas, por vezes reproduzidas por figuras políticas que contrariaram as recomendações oficiais, aumentando o sentimento de insegurança e medo na população.

Para Sardinha, no início da pandemia não houve veiculação de informações corretas que alertassem a população e essa seria uma das razões para a falta de credibilidade na seriedade da situação.

Aí teve uma entrevista na rádio que é mais comum pra cá, e naquela entrevista, ela assegura que não tem ninguém infectado, e quando tinha as pessoas que eram nossos amigos, que trabalhavam no hospital, ‘ó, ela tá mentindo, tem sim, tem sete pessoas contaminadas lá, então ela tá mentindo’, entendeu? . . . então foi passado uma informação que não era verídica, aí todo mundo relaxou (Sardinha, mulher, 32 anos).

Outro exemplo de informação falsa veiculada que impactou o comportamento dos ribeirinhos é citado na fala de Mapará: “eu simplesmente não falei para ninguém. Porque falavam, né? Que os testes já vinham com tendência de dar positiva para vir dinheiro para eles, aí eu… ‘então não vou contar, né?’.

As fake news parecem não ter diminuído a adesão dos entrevistados à vacina, um dos principais alvos da desinformação na pandemia, uma vez que todos os participantes foram vacinados, cinco com a segunda dose, seis com a terceira dose e apenas um havia recebido a quarta dose. Em contraponto, um estudo realizado com ribeirinhos do Amazonas por Matos et al. (2020) apresenta um cenário oposto ao encontrado nesta pesquisa, no que diz respeito à adesão aos imunizantes da covid-19. Os autores relataram que a recusa da vacinação esteve relacionada com informações falsas vinculadas na internet e que eram propagadas nas comunidades ribeirinhas. Além disso, aspectos culturais e religiosos e a dificuldade de acesso às comunidades durante a várzea do rio e do lago foram outras barreiras encontradas para a efetividade da campanha de vacinação. As notícias sem fundamentação científica também despertaram na população da Amazônia Francesa o ceticismo quanto à vacinação, abrindo espaço para que teorias conspiratórias quanto à finalidade e à composição da vacina impactassem negativamente nos índices de imunização em algumas regiões (Epelboin et. al, 2022). É essencial considerar os aspectos culturais envolvidos nos projetos de prevenção promovidos pelas instituições de saúde e na formação dos profissionais de saúde que atuarão nesses contextos (Matos et al., 2020).

Salienta-se que a falta de acesso à cobertura de sinal telefônico, internet e meios de comunicação nas comunidades foi considerada por uma participante como barreira para a compreensão da gravidade que a covid-19 poderia acarretar, uma vez que ter acesso às notícias traria convicção de que aqueles fatos estavam ocorrendo globalmente. Segundo Aruanã: “assim, eu não me impressionei porque aqui a gente não tem televisão. A gente tava sem noção da gravidade da doença. Ao mesmo tempo, a adesão à vacinação dos participantes deste estudo pode ser decorrente da baixa exposição aos conteúdos falsos, da confiança nas vacinas factualmente estabelecida (Galhardi et al., 2020) e das construções subjetivas e sociais dos processos de saúde dessa população.

A maioria dos participantes demonstrou entender quais eram as formas de transmissão e as medidas de prevenção da covid-19, afirmando tê-las cumprido. O relato de Tambaqui aponta que houve divulgação das informações oficiais sobre as medidas de contenção do vírus: “Tipo assim, tinha todas as precauções já dada pelo governo, né? Então cabia a nós, entende? Seguir essas regras.

Outro aspecto observado foi o cuidado que os ribeirinhos tiveram com seus familiares, traço marcante nas comunidades onde a pesquisa foi realizada, caracterizando uma forte rede de apoio, sendo esse um fator positivo para a adesão às medidas preventivas. Para Jaú, a preocupação era que os filhos fossem contaminados pela covid-19: “Nós ficava assim, mais de máscara, pra evitar os nossos filhos, com medo deles pegarem”. Já Aruanã manteve o distanciamento social para proteger os pais que são idosos: “ . . . tentamos, tipo, deixar eles mais guardados da gente. Por eles, né? Por causa deles, vamos dizer”.

Os achados evidenciam o estudo de Carvalho, Silva, Felipe e Gouveia (2021), que discorrem a partir do modelo teórico de crença em saúde sobre o comportamento de adesão às medidas de prevenção à covid-19. Segundo os autores, a mudança de comportamento pode decorrer da percepção que o indivíduo tenha a respeito do risco de contaminação, gravidade da infecção, benefícios resultantes da adesão e barreiras físicas, psicológicas e financeiras. Ressalta-se que as percepções de risco são consolidadas mediante aspectos sociodemográficos e crenças sociais. No Brasil, um questionário virtual com 16.440 participantes apontou que 89% acreditavam na efetividade das medidas de prevenção e mantiveram isolamento total ou parcial (Bezerra, Silva, Soares, & Silva, 2020).

“Aconteceu em mim assim”

Os efeitos percebidos no corpo e na saúde emocional dos ribeirinhos entrevistados são apresentados nesta categoria. O Quadro 3 expõe a síntese dos relatos sobre os sintomas, as sequelas, as emoções e danos emocionais sentidos na pandemia.

Quadro 3 Síntese dos sintomas, sequelas e emoções/danos emocionais. 

Percepções Relatos
Sintomas Nós sentimos assim, a febre, a falta de ar, dor de cabeça, a dor no corpo, frio, o que a gente sentia” (Dourada, mulher, 29 anos). “Eu tava com febre, eu fiquei sem sentir gosto de comer, não queria comer, ele ficava com fartiga (fatiga)” (Jaú, mulher, 39 anos). “Eu senti igual aquela tonteira na cabeça, aquele mal-estar, aquela indisposição, aquele calafrio que ficava no corpo… aconteceu em mim assim” (Matrinxã, homem, 30 anos).
Sequelas A única coisa que ficou assim, igual com uma sequela, foi não ter o paladar, que ficou fraco” (Matrinxã, homem, 30 anos). “Foi depois do covid que eu… eu não tinha diabetes, eu não tinha um cansaço, eu jogava bola, brincava, carregava peso” (Bodó, homem, 46 anos). “Ficou assim, a sequela. Esqueço, esqueço as coisas, esqueço, esqueço” (Piraíba, mulher, 54 anos).
Emoções/danos emocionais Eu gostava de estar na rua e para mim a minha casa era algo assim que me trazia uma prisão, sabe? E psicologicamente, tudo me abalou” (Sardinha, mulher, 32 anos). “Aí não passava só aquela ansiedade de querer desmaiar” (Surubim, homem, 47 anos). “Bateu, tipo assim, o desespero, o medo” (Aruanã, mulher, 29 anos).

Os sintomas mais relatados foram a perda do olfato e do paladar, tosse, dor no corpo e febre. Além disso, a incompreensão sobre o porquê de a intensidade dos sintomas em cada organismo diferir esteve presente nas percepções verbalizadas. O agravamento dos sintomas ocorreu em três participantes (Pirarara, Bodó e Surubim), que descrevem desmaios, dispneia e sensação de morte iminente. Por outro lado, Sardinha e Pirarucu, por exemplo, afirmaram não ter sentido quaisquer sintomas causados pelo vírus. Para Matrinxã, as características do organismo poderiam influenciar a expressão do vírus em cada pessoa.

A gente não sabe dizer direito por que as pessoas sentiam sintomas diferentes, algumas bem mais forte, outras mais fracas… porque eu acho que era de acordo com o organismo da pessoa, que algumas, independente da idade, pegava bem mais forte (Matrinxã, homem, 30 anos).

Os sintomas apresentados pelos entrevistados não diferem dos achados da revisão narrativa da literatura realizada por Iser et al. (2020), que descreveram como principais sintomas e sinais da covid-19: febre, tosse, mialgia, dispneia, desordem de olfato ou sabor, fadiga, sintomas digestivos. Ressalta-se que, entre os participantes dos estudos incluídos nessa revisão, havia pacientes com comorbidades e casos graves que foram a óbito. Infectados assintomáticos, com resultados de testes falso-negativos, podem ter comprometido a efetividade da medida de isolamento social implementada (Iser et al., 2020) e aumentado os níveis de transmissibilidade sem intenção de fazê-lo (Xavier et al., 2020).

As principais sequelas relacionadas pelos ribeirinhos contaminados pela covid-19 foram: perda do paladar, alteração na pressão arterial, diminuição da força, amnésia, diabetes, alopecia e baixa imunidade. Apenas uma participante (Sardinha) referiu que a covid-19 não deixou sequelas e não afetou significativamente sua saúde após o adoecimento. Quanto ao estado de saúde posterior à infecção, Aguiar et al. (2022) selecionaram 27 estudos em que foram apontadas as principais sequelas pós-covid-19 em 13 países, incluindo o Brasil. As sequelas mais comuns foram: neurológicas, como fadiga, cefaleia e alteração na memória; sintomas psicopatológicos; alterações no humor e no sono; cardíacas; alterações no olfato e paladar; vasculares; cutâneas; respiratórias e gastrointestinais. Pacientes com covid-19 de intensidade moderada a grave representaram 88% dos indivíduos com sequelas, enquanto 11,11% eram de grupos com casos leves a moderados.

O impacto da covid-19 no âmbito emocional ocorreu, segundo os participantes, na acentuação do quadro psicológico pré-existente e no surgimento de sentimentos como insegurança, impotência e estresse relacionado ao isolamento social, sendo o medo a emoção mais referida. Além disso, a dificuldade em elaborar o luto é indicada como um dos principais efeitos sobre a saúde emocional nesse período, devido ao protocolo de sepultamento adotado para as vítimas da covid-19, que restringiu a realização dos rituais fúnebres tradicionais. Experienciar a despedida dessa forma foi descrito por Bodó e Surubim como um momento de ausência do princípio de dignidade.

O mais difícil foi não dar um enterro digno pra ele. [chora]. Esse foi o mais difícil, entendeu. Uma máquina escavadeira, só faz jogar dentro do buraco e pronto, só isso. A gente vê só o caixão sair, dois, três caixão ali, e tu não saber quem é quem (Bodó, homem, 46 anos).

Mas o que me chocou, sabe o que foi? Foi da gente não poder dar um enterro digno para ele. Não é nem como fosse um leproso, pior do que isso, cara, e aquilo me doeu muito, não esqueço daquilo (Surubim, homem, 47 anos).

Esses relatos corroboram os achados descritos pela literatura em outras populações e territórios no que tange aos efeitos da pandemia com relação à saúde emocional, em que o estresse agudo, o medo, a ansiedade e a presença de sintomas depressivos foram os mais mencionados (Faro et al., 2020; Lindert, Jakubauskiene, & Bilsen, 2021; Pandey et al., 2021). A chegada imprevisível da covid-19 e seus efeitos é apontada por Lindert et al., (2021) como um dos fatores que resultaram no surgimento de sintomas psicopatológicos em pessoas antes saudáveis e no aumento deles em indivíduos já propensos a transtornos mentais. Os autores elucidam que esses sintomas tendem a ser extremos um ano após a ocorrência de um evento catastrófico e depois se atenuam.

As implicações da pandemia sobre a elaboração do luto são abordadas na revisão narrativa realizada por Crepaldi, Schmidt, Noal, Bolze e Gabarra (2020), que objetivou reunir os relatos das vivências sobre terminalidade, morte e luto durante a pandemia em diversos países. Os estudos mencionados pelos autores consideram como aspectos que comprometem a resolução do luto: o elevado índice de mortalidade resultante de desastres e pandemias; a medida de distanciamento social; o isolamento em hospitais; e a restrição de rituais fúnebres com interação face a face. O alto índice de mortalidade e o colapso do sistema funerário no Amazonas (Barreto et al., 2021), que chegou a realizar 2.400 sepultamentos em abril de 2020 (Costa, 2020), culminou na impossibilidade de familiares e amigos realizassem cerimônias culturais e religiosas de despedida e na sensação de que o falecido ente não havia recebido as homenagens devidas, circunstância demonstrada pela literatura em outros contextos (Crepaldi et al., 2020).

Efeitos da pandemia nos modos de vida ribeirinhos

Esta última categoria aborda as mudanças causadas pela pandemia no cotidiano, como práticas alimentares, prejuízos nas atividades de subsistência e impacto na educação nas comunidades ribeirinhas. Os desdobramentos parecem intensificar as desigualdades existentes no contexto desses povos. De igual forma às categorias supracitadas, Quadro 4 aponta os relatos centrais sobre esse tema.

Quadro 4 Percepções centrais sobre os efeitos da pandemia da covid-19 nos modos de vida. 

Percepções Relatos
Atividades econômicas “[…] diminuiu o número de compradores lá, ficou um pouco mais diferente da forma de como se vendia a farinha lá, e aí tudo isso foi complicando pra gente” (Matrinxã, homem, 30 anos). “Vamos dizer, foram dois anos praticamente parados, sem muito retorno” (Aruanã, mulher, 29 anos). “[…] eu perdi tudo porque eu não conseguia trabalhar [referindo-se à perda da força]. Não consegui trabalhar mais” (Bodó, homem, 46 anos).
Práticas alimentares A gente era acostumado a comprar dois quilos de feijão, a gente até parou, porque ele chegou até 23 reais o quilo” (Pirarara, mulher, 48 anos). “[…] os essenciais pro povo do interior, né? Já quase não dava pra comprar o macarrão, quase não dava pra comprar o arroz, o feijão, ele foi quase totalmente cortado do rancho” (Matrinxã, homem, 30 anos). “Faltou [comida]. Na verdade, falta até agora, né?” (Surubim, homem, 47 anos).
Educação A educação no interior sempre é fraca. Pra te falar a verdade, ela sempre é fraca. E na pandemia ainda ficou mais difícil” (Pirarucu, homem, 37 anos). “. . . com a pandemia parou tudo, né? E as crianças foram grandes prejudicados. . . . não, aqui não teve nem uma apostila” (Surubim, homem, 47 anos).

O maior desafio relatado pelos participantes na pandemia foi o econômico, uma vez que os recursos financeiros obtidos eram majoritariamente oriundos da venda de produtos da pesca e da agricultura na zona urbana do município. O lockdown, uma das principais medidas de contenção do vírus, transformou totalmente a realidade das feiras e mercados. Além disso, o medo de ser contaminado diminuiu a quantidade de compradores que antes esperavam nas margens do rio. Jaú relata: “ficou muito difícil, as pessoas não queriam fazer, nem receber a gente, porque muito deles já tinham medo, né?”.

A economia ribeirinha amazônica é composta predominantemente pela venda de produtos in natura provenientes da agricultura familiar e da pesca. Parte de sua produção fica para a subsistência da família e a outra é negociada nas feiras municipais e às margens do rio. Esses indivíduos costumam se deslocar grandes distâncias por via fluvial a fim de angariar recursos e comprar itens disponíveis nos postos e mercados da zona urbana (Carneiro, Fraxe, Mourão & Rivas, 2007).

Em uma revisão integrativa da literatura, Nepomoceno (2021) reconhece os pequenos agricultores como os principais atingidos pela pandemia quando considerados os efeitos das medidas impostas de isolamento social e lockdown, diferentemente das grandes empresas alimentícias que, apesar de terem sofrido efeitos sobre as vendas e armazenamento, puderam se adaptar e se moldar ao novo cenário comercial. A autora enfatiza a necessidade de desenvolver novas políticas públicas que produzam um ambiente econômico inclusivo e sustentável por meio da valorização e investimento na agricultura familiar.

A redução ou corte de itens alimentícios que complementavam o prato do ribeirinho também foram citados, por conta do aumento dos preços nos produtos e pela diminuição dos ganhos. Para Pirarucu: “A única coisa que ficou mais difícil, assim, na questão do ribeirinho, foi o preço de tudo que aumentou”. O que garantiu a alimentação durante esse período foram os alimentos cultivados na própria comunidade. Segundo Pirarara: “Quando a gente deixou de ir (na cidade), a gente tentou regrar o que a gente podia, que era o açaí, era piquiá, o peixe, o tucumã, a pupunha”.

O estudo conduzido por Gama, Corona, Tavares e Secoli (2022), que faz parte de um inquérito populacional de saúde denominada “Saúde, medicamentos e automedicação em ribeirinhos do Amazonas” (SAMARA), contou com a participação de 470 ribeirinhos em 24 comunidades de uma região do Amazonas e encontrou quatro padrões alimentares diferentes nessa população: “vegetais”, “brasileiro”, “tradicional ribeirinho” e “carnes e doces”. Os achados do estudo apontam que o consumo de frutas, hortaliças e verduras (padrão “vegetais”), feijão e arroz (padrão “brasileiro”), doces e guloseimas (padrão carnes e doces) é mais comum em indivíduos em melhor situação socioeconômica, em consequência da escassez de disponibilidade desses alimentos, encontrados usualmente nos mercados da zona urbana. A alimentação desses povos, principalmente os que moram distantes da cidade, é marcada majoritariamente por itens do padrão “tradicional ribeirinho”, composto por peixe e farinha, bem como por carnes de caça (padrão “carnes e doces”).

A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), que monitora a segurança alimentar e insegurança alimentar no país, evidenciou o cenário de fome pré-existente à pandemia e acentuado por ela por meio do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II Vigisan), realizado em 12.745 domicílios (em regiões rurais e urbanas) das 27 unidades da Federação. O relatório corrobora os achados do presente estudo ao indicar que os mais afetados pelas disparidades sociais antes e durante a pandemia foram os domicílios da região Norte, correspondendo a 26% das famílias incluídas (Rede PENSSAN, 2022). Durante a pandemia, as regiões rurais foram mais afetadas do que as urbanas no que tange à segurança alimentar. Mais de 60% dos lares estudados nessas áreas foram classificados na condição de insegurança alimentar, dentre os quais 20% foram alcançados pela fome. A defasagem das políticas públicas direcionadas ao pequeno produtor rural ampliou os impactos extremos da crise econômica causada pela pandemia nessas localidades (Rede PENSSAN, 2022).

Silva et al. (2021) apresentaram determinados fatores que afetaram o acesso e a escolha de produtos alimentícios saudáveis, em especial as medidas relacionadas ao isolamento social e o consequente desabastecimento e/ou elevação de preços dos alimentos, o desemprego e o declive dos ganhos. Ainda, segundo a literatura incluída nessa revisão, populações vulneráveis teriam maior dificuldade de acesso à alimentos com valor nutricional importante, o que implicaria no enfraquecimento da resposta imunológica à covid-19.

Com o fechamento das escolas, a educação ribeirinha foi defasada, quadro agravado pela falta de conectividade nas comunidades estudadas, que impedia a realização de aulas remotas. Além disso, o método de ensino aplicado aos alunos foi considerado inadequado pelos participantes. Sardinha descreveu como as atividades funcionaram:

... só deixava lá pra criança. Porque eles (a Secretaria Municipal de Educação) elaboravam o questionário com toda a aula, eu achava impossível que alguém estudar aquilo.. . .ia pegar só no outro mês, entendeu?

A pesquisa exploratória de Santos et al. (2021), realizada em uma escola de uma comunidade ribeirinha no Amazonas, apresenta uma realidade distinta das demais escolas ribeirinhas: além de uma sala com computadores e conectividade para alunos, agregava à prática do ensino saberes comuns aos ribeirinhos. Apesar desse diferencial, a condição socioeconômica dos alunos e as características geográficas da própria região foram barreiras para a educação durante o período pandêmico. Foram relacionadas novas estratégias pedagógicas por meio do uso de ferramentas tecnológicas que otimizaram a educação na pandemia. Entretanto, nas comunidades ribeirinhas foi preciso aplicar novos métodos e atividades impressas a fim de superar a falta de conectividade. Quanto ao processo ensino-pedagógico, os autores ressaltaram a importância de se reconhecer que parte dos professores do Amazonas não tinham experiência prévia com o ensino virtual. Dessa forma, entende-se a vivência pedagógica como um constante aprendizado e integração de novas práticas.

No âmbito educacional, diversas pesquisas têm abordado o contexto da pandemia para compreender seus efeitos a longo prazo. Com o intuito de identificar os efeitos da chegada da covid-19 sobre os aspectos socioeconômicos. Nicola et al. (2020) apontam estudos que apresentam as dificuldades e desafios da aprendizagem durante esse período. Foram elucidadas as desigualdades entre famílias com maior renda, que mantiveram suas crianças aprendendo por meio de aulas online, e crianças de baixa renda e/ou em situação de vulnerabilidade, que foram impossibilitadas de estudar quando as escolas foram fechadas devido à dificuldade de acesso a aparelhos eletrônicos e conectividade. Parte desses alunos garantiam, graças à merenda escolar, sua principal refeição por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Entretanto, apenas 25,4% das famílias com crianças em idade escolar foram assistidas durante a pandemia (Rede PENSSAN, 2022).

Considerações finais

O presente estudo buscou compreender as percepções de ribeirinhos do Amazonas sobre a covid-19. A pandemia acentuou as desigualdades presentes no contexto ribeirinho. As falas apresentadas sugerem que as percepções sobre a covid-19 foram construídas com base nas informações obtidas nas viagens à zona urbana do município e propagadas nas comunidades ribeirinhas. As compreensões estiveram atreladas aos aspectos comuns da vivência no ambiente amazônico. Notícias falsas vinculadas na mídia não afetaram a adesão dos participantes do estudo à vacina. Os entrevistados demonstraram compreender e aderir às medidas de prevenção ao vírus, principalmente para proteger os familiares do grupo de risco. Os sintomas, sequelas e efeitos sobre os aspectos de saúde mental relatados pelos ribeirinhos corroboram os achados da literatura. O medo foi a principal emoção referida e a política de sepultamento afetou negativamente a elaboração do processo de luto dessa população.

O impacto da pandemia e a implementação do isolamento social e lockdown foram sentidos com extrema intensidade pelos participantes nos aspectos econômicos, por dependerem da atividade comercial de seus produtos para obtenção de recursos e manutenção da vida; no acesso e consumo dos alimentos disponíveis na cidade, devido à elevação dos preços; e na educação, comprometida por conta da ausência de conectividade e da impossibilidade de realização de aulas remotas.

Como principais limitações do estudo, ressalta-se a restrita quantidade de comunidades incluídas, em função das características geográficas do interior do Amazonas e da logística complexa para a realização da pesquisa, bem como do fato de que não foi estabelecida uma comparação das percepções desse grupo com o de moradores de comunidades ribeirinhas próximas à zona urbana municipal. Sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas com maior representação das comunidades, a fim de investigar aspectos mais amplos sobre os efeitos da pandemia e seus desdobramentos nesses povos, possibilitando uma futura implementação de políticas públicas mais justas e igualitárias.

Entende-se que, apesar das limitações, o presente estudo distingue-se por seu caráter de originalidade, haja vista a escassez de investigações sobre saúde com essa população, e por oportunizar um espaço de fala e identificar os significados atribuídos por esses indivíduos. A partir da compreensão das singularidades socioculturais e das percepções desses povos é possível ponderar sobre suas reais necessidades e capacidades.

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Como citar: Zahn, S. N. L., Caranti, D. A., Juzwiak, C. R., & Padovani, R. C. (2025). No Meio da Tempestade: Percepções de Ribeirinhos do Amazonas Sobre a Covid-19. Psicologia: Ciência e Profissão, 45, 1-18. https://doi.org/10.1590/1982-3703003277970

How to cite: Zahn, S. N. L., Caranti, D. A., Juzwiak, C. R., & Padovani, R. C. (2025). Into the Storm: Perceptions of Amazonian Riverine People about COVID-19. Psicologia: Ciência e Profissão, 45, 1-18. https://doi.org/10.1590/1982-3703003277970

Cómo citar: Zahn, S. N. L., Caranti, D. A., Juzwiak, C. R., & Padovani, R. C. (2025). En el Ojo de la Tormenta: Percepciones de los Ribereños Amazónicos sobre el Covid-19. Psicologia: Ciência e Profissão, 45, 1-18. https://doi.org/10.1590/1982-3703003277970

Recebido: 27 de Agosto de 2023; Aceito: 18 de Março de 2024

1 E-mail: sara.zahn@unifesp.br

2 E-mail: danielle.caranti@unifesp.br

3 E-mail: claudia.juzwiak@unifesp.br

4 E-mail: ricardo.padovani@unifesp.br

Endereço para envio de correspondência: Universidade Federal de São Paulo - Campus Baixada Santista. Rua Silva Jardim, 136, sala 215, Vila Mathias. CEP: 11015-020. Santos - SP. Brasil.

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