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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. v.29 n.1 São Paulo jun. 2009

 

RESENHAS

 

Arnaldo Alves da Motta1

Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica

 

 

LIMA FILHO, A.P. (2008). Alma: gênero e grau. São Paulo: Devir, 2008.

Este livro chega para elucidar e lançar luz nos obscuros e curiosos becos das relações entre homens e mulheres. O tema é tão interessante, quanto intrigante e, de alguma forma, diz respeito a cada um de nós, dando-nos assim a dimensão do alcance da obra.

Tal empreitada tem também o seu risco, e talvez seja essa a razão que faz com que Alberto Lima, seu autor, seja cauteloso no seu início. Para chegar ao texto propriamente dito, passamos por algumas páginas que ajudam, tanto a situar o leitor naquilo que ele irá encontrar adiante, como servem de anteparo a eventuais comentários que alguém mais apressado poderia fazer antes de chegar ao final do livro.

O cuidado com que se depara o leitor no seu início não é excesso de zelo, ainda que pudesse ser mais enxuto. É fruto da experiência de quem trata do tema há várias décadas. De quem sabe que a delicadeza é um elemento diferencial na criação de condições propícias para adentrar-se no terreno escorregadio das relações entre homem e mulher. Essa característica se mantém ao longo do texto e também na postura que Alberto Lima mantém com seus entrevistados e leitores, sendo um dos motes que o autor defende para que o manejo das diferenças tenha um desfecho criativo.

Podemos acreditar que todo relacionamento tem o potencial para o enriquecimento dos envolvidos. Sabemos, porém, que nem todos usufruem criativamente do convívio com seus (suas) parceiros (as). Pelo contrário, a quantidade de casais que se perdem em relacionamentos empobrecedores só vem a enfatizar a importância de Alma: gênero e grau.

Com linguagem precisa, sem ser técnica, não temos dúvidas em afirmar que esse é um livro para pessoas, homens e mulheres interessados em saber mais sobre a dinâmica de suas relações. É certo que os estudiosos encontrarão farto material de pesquisa, mas não é esse o público primário desta obra de Alberto.

Um exemplo disso aparece na diferenciação que é feita na forma de pensar do homem e da mulher: o pensamento do homem lembra uma ferrovia: costuma ser linear, focado, tecnológico. O fluxo do pensamento feminino, em contraste lembra o leito de um riacho: assemelha-se mais aos ritmos e métodos da natureza. Mais claro impossível.

Interessante perceber que o respeito e delicadeza que marcam o texto não impedem o autor de ser direto e claro, como na passagem onde responde/ explica para as mulheres que não entendem, não gostam e consideram em geral grosseiro certo comportamento do homem.

O texto de Alberto segue sem perder o ritmo trazendo informações preciosas, sempre lembrando a necessidade de se olhar o outro a partir de referências que são do outro . Alberto relembra em diversos momentos que regras femininas não servem para medir fatos masculinos; balanças masculinas não servem para pesar vivências femininas. O emprego indevido dessas ferramentas pode se aproximar da leviandade. Da parte de ambos, faz questão de esclarecer.

Sendo o autor um homem, é de se esperar que ele transite mais à vontade na tarefa de decodificar o universo masculino, o que se confirma na primeira parte do livro dedicada a esse tópico. Quando, entretanto, entra na proposta de traduzir o mundo feminino, Alberto se municia do seu saber e experiência como psicólogo e agrega, sem cerimônias, as contribuições de suas consultoras. O produto desta segunda parte é, por isso, menos íntimo e pessoal. Cumpre, mesmo assim, a tarefa de dar voz ao mundo feminino e de traduzi-lo para quem deseja se aproximar desse misterioso universo.

Note-se que Alma: gênero e grau não é um livro de auto-ajuda. Ainda que muito útil, o livro não oferece receitas de sucesso. Dispõe de informações honestas e esclarecedoras. Nem poderia ser diferente. Alberto sabe que qualidade de relações só se alcança com muito investimento de ambas as partes.

Relações saudáveis e criativas não estão dadas. São fruto de conquista, por vezes árdua e sofrida. Daí, afirma que temos de exercer a boa vontade, arregaçar as mangas, afinar os ouvidos e aprender a língua estrangeira uns dos outros, independentemente de sermos homens ou mulheres, em sinal de respeito e abertura para com as diferenças existentes entre as pessoas. Para o desafio de aprender um novo idioma, o leitor tem em Alma: gênero e grau um ótimo dicionário.

 

 

Recebido em: 02/03/2009
Aceito em: 15/04/2009

 

 

1 Psicólogo Analista, Membro da Sociedade Brasil. de Psicologia Analítica - SBPA. Mestre em Psicologia Social. Contato: R. Harmonia 302, V;Madalena, São Paulo, SP - CEP 05435-000. Tel.: (11) 3812-8042. E-mail: arnaldomotta@uol.com.br

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