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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

Print version ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.34 no.87 São Paulo Dec. 2014

 

Teorias, Pesquisas e Estudos de Casos

 

 

Avaliação da Ansiedade e outros aspectos emocionais de dependentes químicos em regime de internação

 

Assessment of Anxiety and emotional aspects of drug addicts in inpatient

 

Evaluación de la ansiedad y aspectos emocionales de adictos a las drogas hospitalizados

 

 

Daniel Bartholomeu1, I; José Maria Montiel2, I;Fernando Pessotto3, II; Priscila Pereira de Jesus4, II; Tatiane Feliciano5, II

I Centro Universitário FIEO – UniFIEO/SP

II Centro Universitário Salesiano de Americana - UniSal

 

 


RESUMO

No Brasil, mesmo com a diversidade de pesquisas e tentativas de intervenções os estudos relacionados ao abuso e/ou dependência química são escassos, bem como os recursos limitados e os processos que estruturam os tratamentos, falhos; consequentemente, as alterações causadas pela dependência química (uma doença crônica), são abordadas de maneira focalizada por profissionais da saúde e até mesmo por familiares.Esta pesquisa tem como objetivo identificar a intensidade dos sintomas de ansiedade, indicadores emocionais e fatores externos que podem levar o residente de clinicas de reabilitação de drogas a responder negativamente ao processo de reabilitação, por exemplo, por se sentir ameaçado frente a situações ainda desconhecidas, bem como contribuir com a reestruturação dos processos terapêuticos da comunidade terapêutica em pauta. Ainda é objetivo verificar a correlação entre o fenômeno Craving (desejo de repetir a experiência dos efeitos de uma dada substância) e o quadro de ansiedade apresentado pelo dependente em processo de recuperação. São participantes 25 homens, de 17 a 58 anos de idade, que encontram-se em processo de reabilitação por segundo os critérios diagnósticos do DSM-IV-TR - Dependência de Substâncias. Os resultados demonstram que os indicadores emocionais observados no Teste do Desenho De Figura Humana (DFH), identificam-se sentimentos de hostilidades em relação ao ambiente restrito, bem como aspectos de tensão e irritabilidade. Já a Escala de Fissura por drogas psicotrópicas demonstra que as situações nas quais o indivíduo se sente sozinho, podem levá-lo a ter vontade de consumir substâncias psicoativas. Sugere-se que estratégias de intervenção nesta população considere tais aspectos.

Palavras-chave: drogas; craving; afetividade; intervenção.


ABSTRACT

In Brazil, despite the diversity of research and attempts of interventions, studies related to abuse and / or addiction are scarce, as well as limited resources and processes that structure treatments, flawed; consequently, the alterations caused by addiction (a chronic disease), are addressed in a focused manner by health professionals and even by parents.This research aims to identify the intensity of anxiety symptoms, emotional indicators and external factors that can lead the resident of clinical drug rehab to respond negatively to the rehabilitation process, for example, feel threatened in unknown situations, as well as contribute to the restructuring of the therapeutic process in the therapeutic community agenda. It also aims to verify the correlation between craving (desire to repeat the experience of the effects of a given substance) and the framework of anxiety presented by the addict in recovery process. Participants were 25 men, 17-58 years old, who are in the rehabilitation process according to diagnoses of DSM-IV-TR - Substance Dependence criteria. The results demonstrated that emotional indicators observed in Test Human Figure Drawing (HFD), identified feelings of hostility toward the restricted environment, as well as aspects of tension and irritability. The Scale Craving for psychotropic drugs showed that situations in which the individual feels alone, can lead him to be willing to consume psychoactive substances. It is suggested that intervention strategies in this population consider such aspects.

Keywords: drugs, craving, affectivity; intervention.


RESUMEN

En Brasil, a pesar de la diversidad de la investigación y los intentos de los estudios de intervención relacionados con el abuso y / o adicción son escasos y limitados recursos y procesos para los tratamientos, la estructura es defectuosa; en consecuencia, los cambios causados por la adicción (una enfermedad crónica), se tratan de una manera enfocada por profesionales de la salud e incluso por familiares. Esta investigación tiene como objetivo identificar la intensidad de los síntomas de ansiedad, indicadores emocionales y los factores externos que pueden conducir los Residentes de una clínica de rehabilitación de drogas a responderen negativamente al proceso de rehabilitación, por ejemplo, se sentiren amenazados en situaciones que aún se desconoce, así como contribuir a la reestructuración del proceso terapéutico en la agenda de la comunidad terapéutica. Sin embargo, visa verificar la correlación entre el deseo (deseo de repetir la experiencia de los efectos de una sustancia determinada) y el marco de la ansiedad presentado por el adicto en recuperación fenómeno. Los participantes fueron 25 hombres, 17 a 58 años de edad, tendido en el proceso de rehabilitación de acuerdo con los criterios diagnósticos del DSM-IV-TR - dependencia de sustancias. Los resultados mostraron que los indicadores emocionales observados en la prueba del Dibujo de la Figura Humana, se identificó sentimientos de hostilidad en relación con el medio ambiente restringido, así como tensión y irritabilidad. La Escala Fisura por las drogas psicotrópicas mostró que en las situaciones en las que el individuo se siente solo pueden llegar a tener el deseo de consumir sustancias psicoactivas. Se sugiere que las estrategias de intervención en esta población consideren estos aspectos.

Palabras-clave: drogas; antojo; afectividad; intervención.


 

 

Introdução

Historicamente o álcool e as drogas fazem parte da humanidade, que se alterna entre o fascínio e a aversão por eles. Encontram-se registros de mais ou menos seis mil anos, do uso de álcool no Egito e na Babilônia onde acreditavam que este seria o elixir da vida e a cura para muitas doenças. Na comunidade Inca, os sacerdotes faziam uso da cocaína em cultos religiosos e os conquistadores espanhóis se utilizavam desta planta para aumento de rendimento do trabalho. Mais tarde, levada para a Europa, a cocaína foi purificada e seu ativo isolado, chegando a forma conhecida hoje. Nesta época seu uso era de caráter medicinal como analgésicos (Rosa & Nassif, 2003).

Ainda sobre o histórico bastante breve dos entorpecentes mais comumente utilizados, Rosa & Nassif (2003) citam que, em 1984 o uso da cocaína sofreu um aumento significativo, principalmente com a introdução do crack, nada mais do que a forma bruta da droga, em formato de pedra que possibilita ser fumada. Estimativas apontam que em 1974, 5,6 milhões de pessoas haviam utilizado a cocaína ao menos uma vez. Em 1982 ocorre um aumento para 21,6 milhões e seguindo o crescimento, em 1986 de 25 a 40 milhões de americanos possivelmente haviam experimentado a droga em quaisquer de suas formas. Esta ocorrência se deu devido a grande disponibilidade do crack no mercado.

Desta forma, em meados do século XX, o uso de drogas torna-se caso de saúde pública e seu uso acarretando diversos problemas como o aumento do índice de violência, complicações médicas, psiquiátricas e a ocorrência de mortalidade. Assim, o uso de substâncias psicoativas não é um fenômeno atual estando presente em diferentes épocas e situações sendo mediado por contextos e costumes culturais com o objetivo de ampliação de prazer ou diminuição da dor. O que se nota é que o consumo destas substâncias está cada vez mais prevalente na atualidade deixando de estar restrito a situações e ritos específicos, passando então de um fenômeno pontual à um problema de saúde pública. Neste sentido, é possível ainda notar que, os recursos para lidar com este tipo de problema parecem ficar aquém das demandas que aumentam a cada dia (Martins & Corrêa, 2004, Pratta & Santos, 2009). Em muitos casos a busca pelo prazer está associada à recompensa imeditada do mesmo, desenvolvendo-se um mecanismo patológico e retroalimentativo (Verdejo-García, Pérez-García, & Bechara, 2006; Verdejo- García & Bechara, 2009).

As estatísticas apresentadas pelo Centro Brasileiro de Drogas Psicoativas (2008) demonstram que cerca de 70% dos adultos consomem ou já consumiram algum tipo de droga na vida. No mesmo estudo sinalizou-se que 12,3% das pessoas pesquisadas, com idade entre 12 e 65 anos, preenchem os critérios para a dependência do álcool. Internacionalmente por exemplo, nos EUA, mais de 22 milhões de indivíduos (9,1% da população daquele país) cumprem os critérios formais para o diagnóstico de transtorno dependente de substâncias (Vinha, 2011) que, de acordo com o Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), pode afetar qualquer pessoa, independente das classes sociais, culturais ou étnicas. Em outro estudo, Guizzo (2010) destaca que as principais causas de mortalidade e incapacidade evitável no mundo é o consumo de drogas ilícitas (não autorizadas pela lei) como a maconha, seguida das anfetaminas, cocaína e opióides (drogas, naturais e sintéticas, com propriedades semelhantes à morfina), bem como o tabaco e o álcool, que são drogas autorizadas pela lei e, portanto, lícitas.

Silva (2000) relata que as substâncias psicoativas afetam órgãos importantes como fígado, coração e sistema nervoso central e as consequências causadas podem ser irreversíveis, ocasionando aspectos negativos no funcionamento geral do indivíduo modificando consideravelmente seus comportamentos. O uso contínuo, cada vez mais frequente e com maiores quantidades das substâncias na busca incessante pelo prazer momentâneo acabam por causar efeitos como paranoia, hipervigilância, insônia, medo, alterações da percepção de realidade, agressividade e comportamento violento. As substancias psicoestimulantes podem ainda ser consideradas problemas de saúde pública responsáveis, mesmo que de forma indireta, pelo aumento de doenças como AIDS, gravidez inesperada e hepatite. Esta busca do prazer momentâneo faz com que o usuário se torne um dependente.

Em geral, é possível o observar que o início do uso destas substâncias ocorre na adolescência, em que o indivíduo vivencia situações inerentes à idade de forma intensa, sendo menos provável em ambientes com laços afetivos significativamente positivos (Pons, 1998; Huesca, Cruz, Encinas & Pantoja, 2002; Chaturvedi, Phukan & Mahanta, 2003; Kessler & cols., 2003; Pentz, 2003; Sanchez, Oliveira & Nappo, 2004). Rebolledo, Ortege e Pillon (2004) complementam que uma estrutura familiar deficitária e transtornos mentais podem ser agravantes no desencadeamento da dependência. Toda droga psicoativa causa a dependência e quando isso ocorre o efeito já não é mais o mesmo, e o objetivo passa a ser a busca pelo efeito inicial. Com o tempo de uso contínuo ocorre o chamado de balt-life sendo este o tempo que o organismo leva para eliminar metade da ação da droga, portanto, sua ação diminui, mas não cessa e o usuário começa a utilizar a droga e consumi-la em quantidades cada vez maiores para conseguir retornar ao efeito inicial, assim, conclui-se que, o que faz o dependente químico é o withdrawal, ou seja, a sua retirada da droga e a ausência do efeito inicial (Silva, 2000).

O panorama anteriormente apresentado indica a necessidade de esclarecimentos condizentes ao cenário atual da saúde pública. Para isso, definiram-se alguns conceitos facilitadores concernentes ao transtorno dependente, tais como o termo droga, caracterizado como sendo substâncias capazes de alterar tanto as funções fisiológicas, quanto os comportamentos de seres vivos (Secretária Nacional Antidrogas - SENAD). Este conceito sugere que o consumo de substâncias naturais ou sintéticas pode ser causador tanto da dependência física, em que o indivíduo busca a substância para não sofrer com os sintomas da síndrome da abstinência, quanto da dependência psíquica, na qual ele se sente forçado a usar a droga, apesar das consequências. O que determinará tais condições são os fatores ativos de cada substância (Marques & Ribeiro, 2010).

As drogas psicotrópicas e substâncias psicoativas são drogas que se conectam aos receptores do sistema nervoso central e alteram as funções neurológicas, causando assim, mudanças nos aspectos cognitivos e comportamentais; portanto, o dependente químico pode apresentar alterações de humor, consciência, sistema sensitivo e sensorial, alterações no estado vigília entre outros. Estes tipos de substâncias se dividem em três grupos; formados por drogas depressoras do Sistema Nervoso Central, ou seja, agem na lentificação ou diminuem as funções cerebrais, bem como acentuam o quadro de sonolência, desatenção e desconcentração por parte dos indivíduos que estiverem sob os efeitos de substâncias como o álcool, barbitúrico (soníferos), benzodiazepínico (tranquilizantes), inalante e opiáceos (Costa & Valério, 2008). O segundo grupo é constituído por drogas Estimulantes do SNC, descrito por Carlini-Cotrim e outros (2000) como substâncias capazes de acelerar as atividades cerebrais em algumas áreas neurais; cita-se o estado vigília em alerta; agitações motoras por parte do usuário e nervosismo; nos casos de consumo exagerado é comum o surgimento de delírios e alucinações como estado alterado da consciência. Os estimulantes comuns são cocaína, anfetaminas, nicotina e a cafeína. O último grupo concerne às drogas perturbadoras do SNC, aquelas relacionadas à produção de quadros de alucinações ou ilusões, comumente relatadas como alterações visuais. O indivíduo, ao consumir drogas desse grupo, tem suas funções cerebrais alteradas, pois o cérebro passa a trabalhar em um nível incomum. Para Guizzo (2010), isso pode ser um dos motivos de alucinações relatadas por indivíduos sob o efeito da substância perturbadora.

Segundo Carlini-Cotrim e outros (2000), dentre os alucinógenos mais consumidos estão a maconha, LSD, êxtase e anticolinérgicos, que produzem distorções qualitativas no funcionamento do sistema nervoso central e alteram significantemente o estado consciente do indivíduo, no entanto o estudo apresentado pelo Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert - NEAD (2009) aponta que essas alterações não influenciam na formação de conceitos, portanto não há perda da capacidade de distinção entre o real e a alucinação, uma vez que o sujeito consegue relacionar o consumo da droga com os efeitos causados por ela. Este fato já havia sito exemplificado por Paim (1993) como um processo que conduz ao estabelecimento de dois ou mais conceitos e que recebe o nome de juízo.

Para Costa e Valério (2008) o consumo social da droga pode evoluir para um quadro patológico, mas isso não significa que todos estão propensos a reagirem da mesma forma ao se tornarem dependentes, pois as substâncias ativas da droga agem de forma específica no organismo de cada pessoa. Os mesmos autores afirmam ainda que, existem diversos fatores que antecedem o uso compulsivo recorrente da droga, dentre estes estão os fatores biopsicossociais, que se diferem em seus aspectos dependendo do sujeito, consequentemente as alterações causadas pelas drogas podem ou não se tornarem proeminentes.

Quanto aos fatores biopsíquicos relacionados ao consumo repetitivo, tanto da droga ilícita quanto da lícita, normalmente estão relacionados à genética, ansiedade, tédio, raiva, frustração, solidão e inexistência de repertório, já quanto aos fatores sociais, o estudo de Costa e Valério (2008) aponta para as experiências iniciais de vida, o modelo familiar, os conflitos vivenciados sem experiências de sucesso, entre outros. Pratta e Santos (2009) complementam esta ideia indicando o uso chamado “funcional”, (com um objetivo específio não indicando uma funcionabildiade real) destas substâncias no contexto laborativo, em que o indivíduo se vale de alguma substância afim de obter uma sensação de euforia, mesmo que mantida internamente, caracterizando-se como um suporte externo para as situações adversas no contexto do trabalho. Tanto os fatores internos quanto os externos, ao serem atrelados ao consumo excessivo de substâncias, podem contribuir para o surgimento dos transtornos comórbidos, tanto de ordem emocional quanto fisiológica (Lima e outros 2008).

Neste sentido, segundo Silva (2000), o uso abusivo pode ser associado a certas vulnerabilidades genéticas, que são hereditárias. Isto ajudaria a explicar o comportamento de um filho de pais usuários que também desenvolve a dependência. Outra hipótese levantada no é a possibilidade da dependência iniciar com a automedicação, por exemplo, usa-se uma substância como a popular maconha por seu efeito calmante, por vezes concomitante a duas ou mais substâncias, que é chamada de polivalência e assim, seu uso sem prescrição, pode causar mudanças drásticas de humor, diferentemente dos antidepressivos que afetam o humor de forma mais vagarosa apesar de agir nos mesmos neurotransmissores cerebrais.

Marques e Ribeiro (2010) apontam que mais de 55% dos pacientes psiquiátricos apresentam problemas com o consumo de substâncias psicoativas. Entre os casos encaminhados para os órgãos judiciais, cerca de 90% dos indivíduos apresentam comorbidades.

Este quadro dificulta o diagnóstico e consequente delineamento na intervenção específica a ser realizada fazendo-se necessária uma avaliação ampla de possíveis comorbidades visto que cada tipo de substância acaba por ter atuação diferenciada no organismo do sujeito estando ainda atrelado aos diferentes padrões de consumo da mesma. Estas informações se tornam imprescindíveis visto que este ciclo criado deverá ser rompido e as situações negativas vivenciadas anteriormente, tenderão a se intensificar (Peuker, Lopes, Menezes, Cunha & Bizarro, 2013).

Conforme salientam Marques e Ribeiro (2010), existem diversos modelos de manifestações e diferentes modelos etiológicos concernentes aos transtornos mentais comórbidos, que podem se manifestar de forma primária ou secundária ao consumo de substâncias psicoativas, ou seja, tanto o consumo esporádico quanto o consumo exacerbado da droga, podem desencadear transtornos psiquiátricos, bem como os transtornos já existentes possibilitam uso indevido de substâncias, que por sua vez leva aos aparecimentos de outros transtornos. Quanto aos modelos etiológicos, os mesmos autores apontam para a hipótese de automedicação, cujos sintomas psiquiátricos predispõem o uso de substâncias, bem como a toxicidade relacionada ao uso que leva a comorbidades, assim como ambos os modelos tem causa comum, a hipótese genética.

Os prognósticos de comorbidades aumentam a refratariedade dos indivíduos que estão em processo de reabilitação, haja vista que tal quadro piora significantemente sua integridade física e psíquica. Deste modo, Marques e Ribeiro (2010) dizem que o paciente com comorbidade demanda mais atenção profissional, bem como está mais propenso ao fracasso terapêutico do que o paciente não comórbido. Dentre os transtornos comórbidos com maior recorrência em dependentes químicos, cita-se a depressão maior e a ansiedade, sendo que segundo o Ministério da Saúde (2005) a depressão está entre as quatro doenças que mais incapacita e gera risco de vida, pois o índice de suicídio é de 15%, uma porcentagem demasiadamente alta. A prevalência de tal transtorno varia de 3% a 11% dentre a população geral e entre usuários de crack 80% possuíam algum grau de depressão e 55% preenchem os critérios para o diagnóstico de depressão maior.

Considerando os fatores comórbidos e relacionados ao uso de substancia psicoativas, conforme apontados anteriormente Beck (2007) postula que a depressão é o resultado de uma debilitação do comportamento, sucedida por uma baixa sequência de reforços positivos aos comportamentos emitidos em dado ambiente social. Completando esta formulação, Caballo (2003) afirmou que a depressão é uma resposta as preocupações exacerbadas impostas pelo contexto social; ele sugeriu também, que tal transtorno se mantém por manifestações de respostas negativas concernentes aos comportamentos do indivíduo deprimido e advindo de pessoas significantes na vida do mesmo. Já a Ansiedade é um estado de humor vivenciado por muitas pessoas, mas que pode ser facilmente associada a outros estados de ânimo, ou estados emocionais. Ela é um sinal que parte de um pressuposto biológico, relacionado ao estado de funcionamento cerebral, ligado às percepções de contextos ambientais potencialmente ameaçadores, ou seja, possibilita a identificação do perigo potencial, ou iminente, além de eliciar comportamentos específicos de enfrentamento (Caballo, 2003). Se por um lado as alterações funcionais provocadas pela ansiedade potencializam as chances de sucesso ou de sobrevivência, por outro ela pode levar uma pessoa a um quadro de extremo desconforto, o que foge da normalidade e passa a ser considerado um quadro patológico, cabível a uma intervenção terapêutica e medicamentosa dependendo do nível. A ansiedade é considerada patológica quando ela sai do seu nível de normalidade e leva o indivíduo a um sofrimento excessivo ou intenso, ou seja, deixa de ser um mecanismo de alerta funcional. É comum que nos casos clínicos, as pessoas com o transtorno ansioso se mostrem constantemente alteradas, mesmo em situações sem qualquer risco em potencial (Patutti, 2004).

Em síntese pode ser mencionado que os dados e informações apontados em estudos sobre o tema são pouco concisos quando vistos separadamente, no entanto ancoram os possíveis conceitos provenientes dos desencadeantes ou possíveis desencadeadores do uso de substancia psicoativas, tais como a ansiedade, como a depressão, pois ambos os transtornos acometem muitos dos dependentes químicos e podem estar relacionados ao fenômeno craving, um termo popularmente utilizado no Brasil como “fissura”, e que recebeu da Organização Mundial de Saúde (OMS) o conceito de “desejo de repetir a experiência dos efeitos de uma dada substância” (Castro e outros 2008). As drogas aumentam os circuitos de recompensa em resposta às substâncias ativas da mesma, e isso significa que o indivíduo com o quadro patológico (dependente de substâncias) sentirá um intenso desejo de consumir a droga (Paurosi e outros 2012). Este desejo é acompanhado por reações fisiológicas, que para Almeida (2009) deveriam ser os aspectos prioritários durante o tratamento da dependência química, pois o craving está associado às expectativas de resposta à falta de prazer e com a tentativa de intensificá–lo em determinadas atividades, pode induzi-lo a um maior grau de ansiedade, levandoo a uma recaída.

No Brasil, mesmo com a diversidade de pesquisas e tentativas de intervenções os estudos relacionados ao abuso e/ou dependência química são escassos, bem como os recursos limitados e os processos que estruturam os tratamentos, falhos; consequentemente, as alterações causadas pela dependência química (uma doença crônica), são abordadas de maneira focalizada por profissionais da saúde e até mesmo por familiares. As negligências ao analisar os aspectos emocionais, afetivos, socioculturais, bem como, os aspectos biopsíquicos, fazem com que todos envolvidos no processo reabilitação adotem condutas pouco efetivas, por vezes equivocadas e que comprometem a evolução dos casos. Tradicionalmente os usuários de substâncias psicoativas são rotulados e comumente relacionados a ações criminosas e consequentemente são excluídos do convívio social por “representarem” um grupo de ameaça (Laranjeira & Ribeiro, 2010).

Seguindo os apontamentos anteriormente descritos este estudo tem como objetivo identificar a intensidade dos sintomas de ansiedade, indicadores emocionais e fatores externos que podem levar o residente de clinicas de reabilitação de drogas a responder negativamente ao processo de reabilitação, por exemplo, por se sentir ameaçado frente a situações ainda desconhecidas, bem como contribuir com a reestruturação dos processos terapêuticos da comunidade terapêutica em pauta. Ainda foi objetivo verificar a correlação entre o fenômeno Craving (desejo de repetir a experiência dos efeitos de uma dada substância) e o quadro de ansiedade apresentado pelo dependente em processo de recuperação.

 

Método

Participantes

Foram participantes deste estudo 25 pessoas do sexo masculino com idades que variam de 17 a 58 anos. Todos se encontram em processo de reabilitação em uma comunidade terapêutica por corresponderem aos critérios do DSM-VI-TR/ Dependência de Substâncias. Os participantes fazem parte de um programa terapêutico estruturado em três fases distintas: a 1ª fase é o Acolhimento e Desintoxicação; 2ª Restauração e a 3ª fase é o Amadurecimento, como foi citado em linhas anteriores.

Instrumentos Escala de fissura por drogas psicotrópicas

A Escala é adaptada do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (2001). Essa tem por finalidade avaliar a “fissura” por drogas psicotrópicas dentro do contexto terapêutico. Constitui-se de sete itens, sendo que os cinco primeiros pontuam valores para o processo de Craving. As questões avaliam respectivamente a intensidade da fissura nas duas semanas zero (nenhuma) a dez (máxima); frequência quantas vezes por dia o dependente sente vontade de consumir algum tipo de droga; duração quanto tempo em média dura o processo de fissura; desejo aumentou, Não houve mudanças ou diminuiu; sentimento concernente à fissura por drogas nas duas últimas semanas reduziu muito, reduziu pouco, sem alteração; aumentou pouco e aumentou muito. Os itens seis e sete avaliam sequentemente os fatores externos três momentos em que surgiu a vontade de consumir drogas e os fatores internos tidos nesta escala como sentimentos que antecedem o Craving ansioso, sozinho, entediado, agitado e preocupado. É importante ressaltar que esta escala não foi validada como um instrumento seguro, mas que está liberada para pesquisas.

Teste do Desenho da Figura Humana (DFH)

O Teste do Desenho é uma técnica projetiva utilizada para identificar conflitos inconscientes e traços de personalidade, bem como avaliar os aspectos da maturação cognitiva. Sugere-se que o teste seja aplicado individualmente, já que permite ao avaliador observar a conduta da criança na execução do desenho bem como fazer perguntas a respeito do mesmo. No entanto, a aplicação coletiva e em adultos pode se realizada para fins de pesquisa. A análise se dá por 2 tipos: os itens relacionados à idade e nível de maturação, chamados de itens evolutivos; e os itens relacionados a atitudes e preocupações, chamados de indicadores emocionais.

Nos desenhos será observado o conjunto de 93 itens, cujos critérios propostos por Bartholomeu e outros (2013) fornecem os indicadores emocionais da população inferida, sendo eles, chapéu; gravata; bolsos; mais de 4 peças de roupas e ênfase nas roupas; desenho sem roupa; vestimentas; sapato elaborado; sapato; dedos dos pés; pernas unidas; presença de pernas; garras; punhos cerrados; posição do polegar; número de dedos; dedos; mãos omitidas; forma dos ombros; presença de ombros; omissão de braços; união de braços ao ombro; posição inconsistente dos braços; braços horizontais; braços longos; braços junto ao tronco; braços estendidos; presença de braços; seios/peitoral definido; presença de cintura; tronco em duas dimensões; presença de tronco (corpo); fossas nasais; presença de nariz; pescoço em duas dimensões; presença de pescoço; presença de orelhas; nariz e lábios em duas dimensões; lábios maquiados; boca; sobrancelhas; presença de olhos; face expressando emoções negativas; face expressando emoções positivas; ênfase na face; omissão de cabelo; cabelo; indicações anatômicas; genitais; figura nua; figura de costas; perfil; símbolos agressivos; desenho de objetos; desenho de figuras múltiplas; despersonalização; figura histriônica (estereótipo) (para desenhos de meninas); perspectiva; movimento; estereotipia; valor atribuído às partes do desenho; correções e retoques; predominância de linhas retas; curvas; consistência do traçado; localização na folha; tamanho em relação à folha; traços fragmentados; sol e lua; nuvens; linha de base; pasto; figura interrompida pela borda da folha; mãos ocultas; olhada lateral; olhos vazios; cabeça grande; omissão de pescoço; omissão de pés; omissão de pernas; omissão do corpo; omissão da boca; omissão do nariz; omissão de olhos; desenho espontâneo de 3 ou mais figuras humanas; figura monstruosa ou grotesca; mãos seccionadas; mãos grandes; braços largos; braços curtos; dentes; olhos vesgos; cabeça pequena; transparências; figura grande; figura pequena; inclinação da figura em 15º ou mais (usar o crivo); assimetria das extremidades; sombreados (rosto, corpo e/ou extremidades, mãos e/ou pescoço) e finalmente a integração pobre das partes.

Inventário de Ansiedade Beck (BAI) (Cunha, 2001)

O BAI é uma escala autoaplicável de auto relato, que mede a intensidade de sintomas de ansiedade. Constitui-se de 21 itens, que são afirmações descritivas de sintomas de ansiedade, que devem ser avaliados pelo sujeito com referência a si mesmo, numa escala de quatro pontos que refletem níveis de gravidade crescente de cada sintoma: 1) Absolutamente não; 2) Levemente: Não me incomodou muito; 3) Moderadamente: Foi muito desagradável, mas pude suportar; 4) Gravemente: Dificilmente pude suportar. O escore total é o resultado da soma dos itens individuais e podem chegar ao escore máximo de 63 pontos.

Procedimentos

Após aprovação do estudo pelo comitê de Ética em Pesquisa da Anhanguera Educacional sob o numero 1240/2011 e autorização dos participantes e da Instituição iniciou a coleta dos dados. Este estudo foi organizado em três coletas com intervalos de 90 dias, nos quais os instrumentos foram subdivididos por datas. Tendo em vista que a pesquisa será realizada em um campo cuja permanência dos participantes é instável os indicadores emocionais obtidos por meio do Desenho De Figura Humana (DFH) e fatores externos identificados após a análise dos itens seis e sete da Escala de fissura por drogas psicotrópicas, poderão contribuir com a elaboração de um plano terapêutico para a população abordada, assim foram considerados significativos como marcadores de conjunção.

Todas as coletas foram estruturadas, no primeiro momento realizou se um rapport com os participantes, a fim de esclarecer a proposta e os fatos concernentes à pesquisa, logo após, as pessoas que aceitaram participar foram convidadas a responder a Escala de fissura por drogas psicotrópicas, sugerida como um instrumento auxiliar na identificação de fatores externos, possíveis contribuintes do quadro de Craving. A escala de fissura foi semi dirigida e com base no questionário; o participante respondeu as perguntas a próprio punho. Em seguida, foi aplicado o desenho da figura humana sendo solicitado o máximo de detalhes possíveis. Após duas semanas da primeira coleta o Inventário de Ansiedade Beck (BAI) foi aplicado em tais participantes.

 

Resultados e Discussão

Este estudo teve como objetivo identificar a intensidade dos sintomas de ansiedade, indicadores emocionais e os fatores externos, que poderiam levar o dependente químico a responder negativamente ao processo de reabilitação, isso por se sentir ameaçado frente a situações desconhecidas. Para isso utilizouse o Teste t de Student que comparou as médias das três etapas do tratamento. Como pode ser observado na Tabela 1, o número (N) de participantes foi baixo, mas por se tratar de um dado longitudinal, os dados têm alta validade interna, a saber, que a partir deles foi possível observar quantos participantes, em média, passaram por todas as fases do tratamento, já que adicionalmente, é conhecida a dificuldade de se manter uma amostra para o público aqui estudado, uma vez que a aderência ao tratamento é baixa, e por vezes, terminam em abandono por parte do dependente químico. Tendo em vista que a média das populações submetidas ao inventário de ansiedade foram respectivamente, 32,71 (DP=8.75), 28,71 (DP=5,28) e 28 (DP= 4,08) entende se, que os indicadores do Teste t Student, não estabeleceu diferenças significativas entre as médias do BAI nos diferentes estágios do tratamento, ou seja, a ansiedade não diminuiu e tão pouco aumentou de maneira significante.

 

 

Por meio de Estatísticas Descritivas do BAI, a Tabela 2 sugere que, em geral os participantes apresentam níveis de ansiedade de moderado a grave, isso por terem cumprido com os critérios de classificação do manual do Inventário de Ansiedade Beck (BAI), no qual destaca a pontuação de 20 à 30 como uma ansiedade moderada e os escores de 31 à 63 como graves. Considera - se ainda, que mesmo que os indicadores ansiosos apontem uma similaridade entre as médias no segundo 29 (DP=4,95) e no terceiro 30,08 (DP=4,88) momento, ao comparar esses escores com a média da primeira aplicação 32,22 (DP= 8,51), entende - se que nos três momentos não houve mudança significativa na média e ela se manteve alta isso sugere que a ansiedade, para a amostra estudada, não se trata de um estado, mas sim um traço de personalidade que independe do ambiente.

 

 

Em resposta a um dos objetivos, cuja proposta era identificar se a ansiedade antecederia o processo de craving, pode se verificar que os níveis de ansiedade da população avaliada, confirmam os estudos de Marques e Ribeiro (2010), haja vista que as classificações de moderado e grave apresentadas nos três momentos da pesquisa indicam transtornos comórbidos, manifestos de forma primária ou secundária ao consumo de substâncias psicoativas. Segundo Patutti (2004) a ansiedade patológica leva o indivíduo a um sofrimento excessivo ou intenso, sendo comuns as pessoas com o transtorno ansioso se mostrar constantemente alteradas, mesmo em situações sem qualquer risco em potencial. Para Caballo (2003), ao partir de um de pressuposto biológico, o sujeito pode ter comportamentos de enfrentamentos eliciados por percepções contextuais, potencialmente ameaçadoras ou de risco iminente, sendo assim ao utilizar tais referências em relação à população estudada, entende se que, se o dependente químico não souber lidar com as alterações causadas pela ansiedade, o mesmo poderá responder negativamente ao processo de tratamento, ou por vez desistir de se tratar.

Segundo Ballone (2007), o transtorno de ansiedade está dentre as comorbidades mais destacadas. Portanto este estudo vem contribuir com dados recentes, referente à dependência química, cuja população é pouco favorecida por estudos quantitativos, até mesmo pelo grau de dificuldade imposta por dispositivos terapêuticos, algum com estruturas tenazes que fazem com que todos envolvidos no processo de reabilitação, adotem condutas pouco efetivas, por vezes equivocadas e que comprometem a evolução dos casos (Laranjeira & Ribeiro, 2010). Ainda de acordo com o descrito, torna-se importante e necessárias adaptações no modelo terapêutico a fim de educar os dependentes químicos sobre suas características de personalidade, como por exemplo, dependente, como ansiosa, as quais podem comprometer os procedimentos de intervenção. Outro fator relevante, foi que durante o período do estudo, além dos dados coletados, pôde-se observar o quanto os residentes se colocam em situações de dependências, tanto de pessoas quanto de substâncias, religião ou qualquer outra coisa que ancore ou mascare seu sofrimento. Tais traços devem ser trabalhados durante o tratamento a fim de garantir o senso de acolhimento e segurança do residente, propiciando um bom vínculo entre a instituição terapêutica e o paciente interno em recuperação, bem como o plano de tratamento não deve apenas se preocupar com os sintomas imediatos causados por crises de ansiedade ou dependência, mas também com o bem-estar futuro do individuo em processo de recuperação (Ballone, 2007).

Para isso os dados da Tabela 3, contribuíram com informações sobre os fatores externos que levam o sujeito a sentir vontade de consumir substâncias psicoativas, mesmo estando em tratamento. Os números mediados pelo Teste t Student, identificaram uma significância (p > 0,02) no momento em que os dependentes químicos relataram sentir fissura frente a situações em que estavam sozinhos. A solidão foi referenciada por Costa e Valério (2008), como um dos fatores que pode levar o indivíduo ao uso abusivo de drogas lícitas ou ilícitas, o que não faz deste estudo, uma grande descoberta, mas sim, um dado importante na construção de novos saberes concernentes a esse público tão discutido em nossa sociedade, mas com tantos rótulos e incoerências ao que se refere às estruturas psíquicas dos mesmos. Vimos até aqui, que a ansiedade dentro do estudo longitudinal, pode ser considerada um traço de personalidade, bem como que a solidão é um dos fatores com maior significância dentre os dados obtidos durante as fases do tratamento.

 

 

Para Lima e outros, (2008) ter conhecimento sobre os fatores externos é tão importante quanto saber sobre os fatores internos, e esta pesquisa vem mostrar que o olhar biopsicossocial para ambos os aspectos é indispensável. Entender a existência de uma situação externa que leva o dependente químico, a sentir mais vontade de consumir drogas, pode levar os dispositivos terapêuticos a uma maior organização dos processos de tratamento, pois faz se necessário à criação de estratégias que estimulem o convívio social, bem como os vínculos afetivos e grupais.

Por meio dos dados da Tabela 4, verifica-se o que dentre os 92 itens sugeridos no teste Desenho da Figura Humana, a única média, identificada pelo Teste t Student que é considerada estatisticamente significante (p>0,03), concerne aos aspectos expansivos do desenho (tamanho do desenho em relação à folha). A significância dada à expansividade sugere sentimentos de hostilidades em relação ao ambiente restrito, bem como indicam aspectos de tensão e irritabilidade relacionadas a sentimentos de imobilidade desamparada, ou seja, o sujeito pode estar se sentindo impotente em relação a sua vida após o término do tratamento, e isso o faz criar mecanismos de defesa. Essas instabilidades emocionais refletem a falta de recursos para lidar com situações de riscos em potencial ou iminente, sendo assim, se faz necessário um trabalho de prevenção à recaída (Buck, 2003). Paralelo a esses aspectos, o fato do desenho ter aumentado durante o período de tratamento, indica que o sujeito está caminhando para uma empolgação, o que poder ser uma defesa para enfrentar o cotidiano, ou um recurso que beira a uma defesa maníaca. Esses dados mostram que o modelo atual não tem favorecido os aspectos significantes concernentes às questões emocionais, que corroborados com o traço de personalidade ansiosa, fazem com que o dependente químico se preocupe com sua volta ao convívio social.

 

 

Seguindo os resultados da tabela 4, esses dados demonstram a complexidade em lidar com questões relacionadas ao uso abusivo de substâncias psicoativas, tendo em vista que trabalhar com recuperação do dependente químico é lidar com a falta de padronização terapêutica e principalmente com a falta de profissionais qualificados, o que é reflexo do baixo investimento financeiro por parte das autoridades governamentais. Levantar dados que comprovem e contribuam com a padronização dos processos, pode-se tornar uma forma de comprovar o quanto é necessários investimentos nesta parte, excluída da população, pois existem entre eles pessoas tão capazes quanto qualquer outro ser humano.

 

Considerações Finais

Os resultados discutidos neste estudo podem vir a contribuir substancialmente com futuros projetos terapêuticos na comunidade terapêutica em questão, além de viabilizar novos estudos alusivos aos temas que visam à recuperação e prevenção a recaídas de crianças, jovens e adultos. O desmembramento dos aspectos ansiosos, emocionais e fatores externos ao dependente químico fizeram-se necessário para obtenção de uma maior compreensão sobre os possíveis contribuintes para o início, recaída ou manutenção do consumo de substâncias psicoativas. A saber, que muito pode ser feito para trabalhar os aspectos emocionais de hostilidade, tensão e irritabilidade causados pela ausência de recurso para lidar com as questões de convívio social após o período de tratamento.

Os aspectos emocionais podem potencializar a recaída do sujeito em recuperação, nos casos em que o vínculo social estiver pouco estabelecido, não for favorável ou for inexistente, pois os resultados considerados sobre os fatores externos mostram que o fato do dependente químico estar sozinho, faz com que ele entre em processo de Craving com mais facilidade e isso não está diretamente ligado com a ansiedade, como foi hipotetizado no início deste estudo. Para a população aqui estudada a ansiedade demonstrou tratar-se de traços de personalidade, cujas perspectivas de melhoria são baixas, o que não impede de que os participantes criem e desenvolvam seus próprios recursos para lidar com os sintomas, porém sugere-se que para isso devem passar por processos de psicoeducação, tanto sobre a dependência química, quanto sobre o traço de personalidade ansiosa, bem como peculiaridades pessoais de cada um. Novos estudos devem serem realizados com um numero maior de participantes bem como identificando outras características que possam influenciar tanto no uso de substancias como que possam a comprometer as intervenções terapêuticas, como alterações de humor, outras características de personalidade, tais como impulsividade, além de possíveis comprometimentos de ordem social e familiar.

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Recebido: 09/06/2014 / Corrigido: 19/08/2014 / Aceito: 30/08/2014.

 

 

 

1 Doutor em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco – USF, Atualmente é Professor do Centro Universitário FIEO – UNIFIEO/SP - Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Psicologia Educacional - Núcleo de Pesquisa em Saúde e Desempenho Humano - Contato: Avenida Franz Voegeli, 300 Vila Yara – Osasco/SP – Brasil –Tel. (11) 98385-4762. Email: d_bartholomeu@yahoo.com.br
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. Doutor em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco – USF. Contato: José Maria Montiel, atualmente é Professor do Centro Universitário FIEO – UNIFIEO/SP - Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Psicologia Educacional – Núcleo de Pesquisa em Saúde e Desempenho Humano - Avenida Franz Voegeli, 300 Vila Yara – Osasco/SP – Brasil – Tel. (11) 99251-2640. E-mail: montieljm@hotmail.com

³ Doutorando em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco – USF, Atualmente é Professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Brasil e Co-Coordenador do Laboratório de Psicodiagnóstico e Neurociências Cognitivas - LAPENC - UNISAL. Contato: Avenida Franz Voegeli, 300 Vila Yara – Osasco/SP – Brasil – Tel. (11) 2606-4026. E-mail: fpessotto@yahoo.com.
4 Psicóloga formada pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, câmpus Americana e integrante do Laboratório de Psicodiagnóstico e Neurociências Cognitivas - UNISAL. E-mail: priscila.sol.j@gmail.c
5 Graduanda em Pedagogia no Centro Universitário Salesiano de São Paulo câmpus Americana e integrante do Laboratório de Psicodiagnóstico e Neurociências Cognitivas - UNISAL. E-mail: tatisociais@yahoo.com.br

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