1. Introdução
Presente no decorrer do desenvolvimento humano, o envelhecimento é um fenômeno natural e produto da integração multidimensional do indivíduo, que acarreta diversas modificações de cunho psicológico, fisiológico e social. Por isso e diante da perspectiva global de aumento da população idosa, surge a necessidade da realização de mais estudos em torno dessa temática a fim de proporcionar um envelhecimento saudável (Deponti, & Acosta, 2010). O conceito de envelhecimento saudável inclui a capacidade intrínseca e a capacidade funcional. Respectivamente, a primeira refere-se as habilidades mentais e físicas disponíveis para a pessoa. Enquanto a segunda, é compreendida como atributos e características na relação indivíduo-meio ambiente em conjunto a capacidade intrínseca (OMS, 2015). Logo, promover o desenvolvimento e a manutenção desses fatores significa aumentar o nível de bem-estar ao longo da vida, como também nos idosos. O construto de bem-estar é dividido em duas perspectivas (Ryan, & Deci, 2001). O Bem-Estar Psicológico (BEP) que se relaciona com o desenvolvimento humano, aos desafios do cotidiano e abrange tópicos da percepção pessoal e interpessoal. O BEP é dividido em um conjunto de seis tópicos que são possíveis de serem observados em todos os estágios da vida, a especificar: autoaceitação, relacionamento positivo com outra pessoa, autonomia, domínio do ambiente, propósitos de vida e crescimento pessoal (Ryff, 1989; Ryff, & Keyes, 1995). O Bem-Estar Subjetivo (BES) refere-se aos aspectos emocionais e busca compreender as reflexões que os indivíduos fazem dos acontecimentos cotidianos. Os fatores investigados incluem a frequência com que os indivíduos experienciam afetos positivos e negativos, ou seja, emoções e sentimentos (Gurera, & Isaacowitz, 2018). Cabe ressaltar que o BES não objetiva identificar psicopatologias, como por exemplo quadros depressivos ou de ansiedade, mas realizar um rastreio por meio da autoavaliação de emoções e sentimentos advindos da reflexão e genuínos da existência individual (Siqueira, & Padovam, 2008). Entretanto, ao analisar os hábitos comportamentais que permeiam a sociedade, o estilo moderno tende a fazer uma baixa estimulação na realização de autoavaliações dos momentos vividos. Reflexões estas que fazem com que seja possível perceber os padrões estabelecidos e os almejados pelo indivíduo, além de relacionar-se com a qualidade e satisfação com a vida (Siqueira et al., 2019). Devido ao fato de haver evidências de que pessoas das quais vivenciam afetos positivos na maior parte do tempo tendem a ter um maior BES, independente de outras possíveis variáveis neste contexto (Diener, Scollon, & Lucas, 2003), a percepção de afetos pode provocar alterações no nível de bem-estar no decorrer dos estágios da vida e na velhice. No decorrer do envelhecimento, as pessoas tendem a maximizar os afetos positivos e a minimizar os negativos mediante a seleção de pessoas e situações, consequentemente, idosos tendem a apresentar um maior bem-estar do que adultos. Mesmo com o declínio do funcionamento de domínios cognitivos e outras estruturas sistêmicas do organismo, há uma melhora nesse aspecto na velhice (Carstensen, & Mikels, 2005; Otta, & Fiquer, 2004; Gurera, & Isaacowitz, 2018). Essa hipótese é discutida como um paradoxo da emoção no envelhecimento por Mather (2012), o que sugerem que as vivências emocionais de idosos são muito mais complexas e que não seguem a trajetória comumente de declínio como outras capacidades da pessoa. Além da percepção afetiva, a prática de atividade física é apontada em estudos como os de Siqueira et al. (2019) e Brito, Tavares, Polo e Kanitz (2019), como uma influência na variação do nível de bem-estar em idosos. Ainda é abordado que a prática de atividade física é associada à promoção de um maior bem-estar, sendo um fator protetivo e adiando processos degenerativos ou modificações negativas advindo do envelhecimento, bem como sugerem uma influência positiva na percepção e avaliação do idoso frente à sua vida. Mediante as informações apresentadas, surge a necessidade de obter mais descrições no que tange a percepção de afetos aliada ou não a variável idade e o nível de atividade física a fim de ampliar os conhecimentos dessa temática no envelhecimento. Além de analisar os resultados em consonância com o arcabouço teórico, chama-se atenção para também indicar quais são as consequências da presença de mais afetos positivos ou negativos para o indivíduo aliada ao nível de atividade física e como esses fatores influenciam o bem-estar. Por isso, este estudo buscou realizar avaliações individuais das emoções e sentimentos e à prática de atividade física associadas ao nível de bem-estar. Sabe-se, atualmente, da importância de se discutir aspectos relacionados ao envelhecimento a fim de promover um envelhecimento saudável, bem como garantir ao indivíduo aspectos correlatos ao bem-estar, uma vez que as identificações desses fatores podem permitir aos sujeitos se desenvolverem tanto para si, como para a comunidade.
2. Objetivos
Analisar se a prática de atividade física e a auto-percepção de afetos influenciam no nível de bem-estar em adultos e idosos, apontando as características da percepção de afetos e bem-estar diante do nível da prática de atividade física da pessoa.
3. Método
Trata-se de um estudo transversal de caráter correlacional com análise de dados quantitativos e os instrumentos foram aplicados nos participantes de forma online, via formulário da plataforma Google Forms.
3.1. Participantes
Participaram da pesquisa 77 indivíduos, de ambos os sexos, com idades entre 58 e 85 anos (média = 67, DP = 5,37). Em sua maioria, as pessoas eram do sexo masculino (57%) e com escolaridade até ensino médio completo (46,8%). Quanto ao estado de saúde, a maioria (50%) apresenta boa saúde. Em relação a qualidade do sono, a maioria dos participantes apresentaram sono de poucas horas e má qualidade (62%). Já o que diz respeito as relações com os familiares, a maior parte dos participantes (35%) considera boa ou muito boa (29,9%).
3.2. Instrumentos
3.2.1. Escala de Afetos Positivos e Afetos Negativos
A Escala de Afetos Positivos e Afetos Negativos é constituída por vinte sentenças e visa identificar, por meio do autorrelato, a frequência de distintas emoções e sentimentos. O instrumento é composto por dez itens que se referem aos afetos positivos, ou seja, emoções e sentimentos positivos experienciados nos momentos em que o indivíduo se encontra em estado de alerta ou de entusiasmo e dez itens que se referem aos afetos negativos que, ao contrário dos positivos, representam o baixo engajamento em tarefas cotidianas e que podem provocar sofrimento no indivíduo. Neste estudo foi considerado a vivência emocional do último mês e a escala segue o modelo Likert de cinco pontos com extremidades representadas por “Nem um pouco” e “Extremamente” (Watson, Clark, & Tellegen, 1988; Zanon, Bastianello, Pacico, & Hutz, 2013).
3.2.2. Escala de Bem-Estar Psicológico (EBEP)
A Escala de Bem-Estar Psicológico (EBEP) versão reduzida, é estruturada em dezoito afirmações e objetiva investigar o funcionamento mental do indivíduo a partir do reconhecimento de recursos psicológicos efetivos e de dimensões relacionados ao Bem-Estar Subjetivo. O instrumento avalia seis domínios distintos relacionados ao construto do bem-estar, a citar: autoaceitação, relacionamento positivo com outras pessoas e presença de sentimentos de empatia, autonomia, domínio do ambiente, propósito de vida e crescimento pessoal (Ryff, & Keyes, 1995; Novo, Duarte-Silva, & Peralta, 1997).
3.2.3. Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ)
O Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) versão curta, é utilizado na caracterização do nível de atividade física a partir da estimativa do tempo semanal em que o indivíduo pratica atividade física. O instrumento é composto por oito e é considerado a atividade física em diferentes contextos, a citar: trabalho, transporte, atividades de lazer, esportes e tarefas domésticas, além do tempo em que o indivíduo permanece sentado. Para fins de classificação, é considerado o tempo e quantos dias da semana houve a prática de alguma atividade física e é dividida em: muito ativo; ativo; irregularmente ativo A; irregularmente ativo B e sedentário (Siqueira et al., 2019).
3.3. Procedimentos de coleta de dados
Mediante a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob número do parecer 4.747.590, todos os participantes foram contatados via aplicativo WhatsApp para que fosse explicado o objetivo do estudo e, assim, verificar o interesse pela participação no estudo. Para os casos elegíveis, foi enviado o link do formulário via aplicativo Google Forms. Aqueles que preencheram todos os critérios de inclusão seguiram para as próximas avaliações. Vale ressaltar que todos os indivíduos somente participaram das avaliações após apreciação e consentimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e a seguir, todos os idosos responderam os demais instrumentos de avaliação.
3.4. Análise estatística
Os dados obtidos por meio da plataforma Google Forms foram relacionados em uma planilha do Microsoft Excel 365®. Posteriormente, foram realizadas estatísticas descritivas e inferenciais dos resultados obtidos por meio dos instrumentos de avaliação Escala de Afetos Positivos e Afetos Negativos, Escala de Bem-Estar Psicológico (EBEP) e Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). A primeira teve como objetivo verificar a frequência das respostas na Escala de Afetos e a pontuação total da EBEP, bem como do IPAQ. As análises inferenciais tenderam a identificar possíveis relações entre os instrumentos citados anteriormente. Todas as análises foram conduzidas por meio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).
4. Resultados e discussão
Os resultados apresentam indicativos que as variáveis, prática de atividade física e autopercepção de afetos, podem influenciar o nível de bem-estar. Nas estatísticas descritivas da EBEP por níveis de classificação do IPAQ identifica-se elevada dispersão das medidas, mas tendências à normalidade. Seguiu-se a análise MANOVA tendo como variável dependente a EBEP e independente a classificação do IPAQ, incluindo-se os afetos positivos e negativos como covariantes. O Eta ajustado foi 0,71, indicando boa associação entre as medidas. De fato, esta análise revela que o controle dos afetos positivos e negativos reduz o efeito do nível de atividade física sobre o bem-estar.
Tabela 1 Análise MANOVA como variável dependente a EBEP.
SQ Tipo III | df | QM | F | Sig. | Eta-QP | |
---|---|---|---|---|---|---|
Modelo corrigido | 6953,352a | 6 | 1158,892 | 23,167 | ,000 | ,751 |
Interceptação | 2313,594 | 1 | 2313,594 | 46,250 | ,000 | ,501 |
Afetos Negativos | 1091,227 | 1 | 1091,227 | 21,814 | ,000 | ,322 |
Afetos Positivos | 2305,886 | 1 | 2305,886 | 46,096 | ,000 | ,501 |
Classificação IPAQ | 250,491 | 4 | 62,623 | 1,252 | ,303 | ,098 |
Erros | 2301,101 | 46 | 50,024 | |||
Total | 386590,000 | 53 | ||||
Total corrigido | 9254,453 | 52 |
aR Squared = ,751 (Ajustado R Squared = ,719)
Legenda: SQ Tipo III = Soma dos quadrados Tipo III; QM = Quadrado Médio; Eta-QP = Eta-Quadrado Parcial.
O controle de afetos positivos e negativos, quando satisfatório, tende a auxiliar no aumento do nível de bem-estar em idosos. Este associado à um comportamento ativo, ou seja, com a adoção da prática regular de atividade física, pode ocasionar melhorias em ambas as variáveis citadas. Consequentemente, com isso a pessoa idosa tende a apresentar também uma melhor qualidade de vida e faz com que seja possível a manutenção de determinados sistemas ou habilidades, como as funções cognitivas (Andrade, Duarte, Cruz, Albuquerque, & Chaves, 2019). Devido aos indicativos de uma boa associação entre medidas no presente estudo, é possível indagar acerca dos fatores de proteção interligados à sintomatologia de patologias, como por exemplo a depressão. Há estudos que indicam uma correlação significativa entre os domínios relativos ao bem-estar e a quadro depressivo. Conforme discutido por Oliveira et al. (2020) e a partir da avaliação de 64 idosos saudáveis, os autores observaram indicativos de correlação significativa entre os sintomas referentes ao quadro depressivo e quatro domínios do construto bem-estar, a citar: autonomia, controle ambiental, relações interpessoais positivas e crescimento pessoal. Observou-se ainda que o grupo pertencente à classificação sedentário apresenta os piores resultados de bem-estar, enquanto os melhores estão entre os ativos e os irregularmente ativos que apresentam intensidade mais elevada nos treinos quando realizam. Esses resultados podem influenciar a qualidade de vida do idoso, seja a promovendo de forma positiva ou negativa mediante aos seus hábitos cotidianos e o quanto essa pessoa idosa apresenta um estilo de vida saudável. Resultado semelhante foi encontrado por Ramalho et al. (2021). A partir da avaliação de idosos entre 65 e 73 anos, os autores identificaram dimensões do comportamento sedentário, a citar: a ação em si, o rompimento do sedentarismo, frequência e tempo sentado, exercem influência no bem-estar de idosos. De fato, o sedentarismo pode ocasionar limitações no cotidiano da pessoa idosa, tornando-as mais dependentes de outras pessoas para a realização de diferentes atividades, bem como consequências emocionais negativas. Além disso, o indivíduo sedentário encontra-se mais propenso ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, devido a uma maior vulnerabilidade no funcionamento do organismo de forma geral que também prejudica o bem-estar e a qualidade de vida. O ambiente em que o indivíduo se encontra inserido, de acordo com estudos, também pode influenciar o bem-estar e qualidade de vida. Um estudo que analisou estes aspectos diante à prática de atividade física em idosos moradores no meio rural e urbano, demonstrou que os idosos residentes no meio rural apresentaram uma melhor percepção da qualidade de vida e são mais ativos fisicamente do que os idosos residentes do meio urbano. Resultado este que demonstra a interligação da atividade física tanto com a qualidade de vida, como os afetos e bem-estar (Ribeiro, Ferretti, & de Sá, 2017). Os dados do presente estudo ainda revelam que atividades físicas muito intensas, tanto a ausência dela, tendem a estarem associadas a pior sensação de bem-estar e emoções negativas. É interessante observar que há a necessidade de teste de modelos causais para se saber a direção exata destas relações, pois as pessoas podem sentir emoções ou sentimentos negativos e por isso não se exercitarem. Apesar disso, pessoas que se exercitam em níveis adequados e desafiadores apresentam melhor bem-estar e bons sentimentos, o que parece ser um achado importante para melhor qualidade de vida dos idosos. No que tange as vivências agradáveis, chama-se atenção aos estudos de Martinelli e Rueda (2020). Os seus achados demonstram que os afetos positivos influenciaram a o nível de qualidade de vida, bem-estar e a percepção positiva dos idosos diante da variável participação social, exceto os tópicos relacionados a morte e ao morrer. Nesse sentido, nota-se que os afetos positivos tendem a associar-se com a saúde e longevidade dos idosos, com possibilidade de haver uma maior consciência da finitude da vida. Em contrapartida, os afetos negativos influenciaram negativamente o bem-estar e a qualidade de vida do indivíduo. Ao correlacionar afetos positivos e negativos com o bem-estar por grupo separado em razão da quantidade de atividade física. É interessante analisar que no grupo muito ativo, o afeto negativo foi correlacionado negativamente com o bem-estar, mas o positivo não. O mesmo ocorreu no grupo irregularmente ativo tipo A, que apresenta uma intensidade menor nos treinos. Já no grupo de atividade física ativo, o bem-estar esteve associado negativamente a afetos negativos e positivamente com afetos positivos com coeficientes mais fortes. No grupo irregularmente ativo tipo B (de maior intensidade apesar de irregular) o afeto negativo não se associou ao bem-estar, mas o positivo sim.
Tabela 2 Correlações - Níveis de Classificação IPAQ Muito Ativo e IPAQ Ativo.
Afetos Negativos | Afetos Positivos | EBEP | Afetos Negativos | Afetos Positivos | EBEP | |||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
IPAQ 1 | IPAQ 2 | |||||||
Spearman’s rho | Afeto Negativo | Coeficiente de correlação | 1,000 | ,169 | −,578* | 1,000 | −,463* | −,525* |
Sig. (2-tailed) | ,517 | ,015 | ,046 | ,021 | ||||
N | 17 | 17 | 17 | 19 | 19 | 19 | ||
Afeto Positivo | Coeficiente de correlação | ,169 | 1,000 | ,255 | −,463* | 1,000 | ,765** | |
Sig. (2-tailed) | ,517 | ,323 | 046 | ,000 | ||||
N | 17 | 17 | 17 | 19 | 19 | 19 | ||
EBEP | Coeficiente de correlação | −,578* | ,255 | 1,000 | −,525* | ,765** | 1,000 | |
Sig. (2-tailed) | ,015 | ,323 | ,021 | ,000 | ||||
N | 17 | 17 | 17 | 19 | 19 | 19 |
*. Correlação é significativa em nível 0.05 (2-tailed).
**. Correlação é significativa em nível 0.01 (2-tailed).
Legenda: IPAQ 1 = Classificação Muito Ativo; IPAQ 2 = Classificação Ativo.
Tabela 3 Correlações - Níveis de Classificação IPAQ Irregularmente Ativo A e IPAQ Irregularmente Ativo B.
Afetos Negativos | Afetos Positivos | EBEP | Afetos Negativos | Afetos Positivos | EBEP | |||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
IPAQ 3 | IPAQ 4 | |||||||
Spearman’s rho | Afeto Negativo | Coeficiente de correlação | 1,000 | −,080 | −,761* | 1,000 | −,429 | −,393 |
Sig. (2-tailed) | ,851 | ,028 | ,337 | ,383 | ||||
N | s | 8 | 8 | 7 | 7 | 7 | ||
Afeto Positivo | Coeficiente de correlação | −,080 | 1,000 | ,130 | −,429 | 1,000 | ,893** | |
Sig. (2-tailed) | ,851 | . | ,760 | ,337 | ,007 | |||
N | 8 | 8 | 8 | 7 | 7 | 7 | ||
EBEP | Coeficiente de correlação | −,761* | ,130 | 1,000 | −,393 | ,893** | 1,000 | |
Sig. (2-tailed) | ,028 | ,760 | . | ,383 | ,007 | . | ||
N | 8 | 8 | 8 | 7 | 7 | 7 |
*. Correlação é significativa em nível 0.05 (2-tailed).
**. Correlação é significativa em nível 0.01 (2-tailed).
Legenda: IPAQ 3 = Classificação Irregularmente Ativo A; IPAQ 4 = Classificação Irregularmente Ativo B.
Tabela 4 Correlações - Nível de Classificação IPAQ Sedentário.
Afetos Negativos | Afetos Positivos | EBEP | |||
---|---|---|---|---|---|
IPAQ 3 | |||||
Spearman’s rho | Afetos Negativos | Coeficiente de correlação | 1,000 | −1,000 | −1,000 |
Sig. (2-tailed) | . | . | . | ||
N | 2 | 2 | 2 | ||
Afetos Positivos | Coeficiente de correlação Sig. (2-tailed) | −1,000** | 1,000 | 1,000 | |
N | 2 | 2 | 2 | ||
EBEP | Coeficiente de correlação Sig. (2-tailed) | −1,000** | 1,000** | 1,000 | |
N | 2 | 2 | 2 |
**. Correlação é significativa em nível 0.01 (2-tailed).
Legenda: IPAQ 5 = Classificação Sedentário.
Resultados estes que estão em consonância com os achados de Silva, Pereira, Lopes, Coelho e dos Santos (2018), no qual teve objetivo de investigar a influência da prática da atividade física no cotidiano de idosos e na percepção de seu bem-estar. Sendo que este estudo ainda acrescenta que foi possível relacionar os resultados com os princípios da otimização seletiva com compensação (SOC), pois o exercício físico tornou-se um meio de compensação e otimização que foi responsável por um melhor desempenho dos idosos nas atividades propostas. Os dados do presente estudo ainda reiteraram que a intensidade da atividade física é um fator importante no bem-estar já que quando muito intenso não se provoca bem-estar. Novos estudos com efeito de mediação dos afetos nesta relação entre atividade física e bem-estar em idosos devem ser feitos. Esses dados chamam a atenção pois, de fato, o grupo muito ativo, apesar de apresentar menos afetos negativos, não necessariamente apresentam afetos positivos ligados ao bem-estar, sugerindo que os melhores padrões de atividade física que se associam a melhores afetos e ao bem-estar são os irregularmente ativos, mas com boa intensidade e o ativo. Aparentemente, o excesso de atividade física também não apresenta o melhor padrão, apesar de estar associado a bom bem-estar, pois tende a provocar sentimentos negativos e, o exercício físico, deixa de ser uma atividade agradável. As atividades prazerosas são favoráveis ao indivíduo no que tange o nível de bem-estar, sobretudo ao considerar o bem-estar subjetivo, do que quando a tarefa é realizada sob o viés de necessidade. O estudo de Casemiro e Ferreira (2020) denotam essa relação. A partir da investigação da prática de atividades prazerosas, bem-estar subjetivo, sintomas depressivos e solidão em 59 idosos, notaram que a participação em dinâmicas consideradas positivas pelos idosos favorece a promoção da saúde mental devido ao alto engajamento e com a experiência de afetos positivos. Logo, é possível observar que os programas interventivos de atividade física devem estar em consonância com as expectativas e interesses dos idosos. Além disso, a prática de atividade física em grupo favorece positivamente o nível de bem-estar, pois como discutido por Oliveira e Silva (2019), locais propícios à convivência relaciona-se com a melhora da autoestima e das relações interpessoais, aumento de vivências agradáveis e aumento de afetos positivos, como também a promoção da autonomia dos idosos.
5. Considerações Finais
A prática de atividade física e os afetos positivos tendem a proporcionar melhores níveis de bem-estar em idosos, havendo atenuação dos afetos negativos. Ainda se torna necessário mais estudos acerca da temática e a criação de programa de intervenção eficazes à população idosa e direcionados à prática de atividade física. Embora estes programas tendem a apresentar diversos benefícios, considerar as demandas e expectativas dos idosos é fundamental para o seu êxito para ocasionar engajamento na atividade. Além disso, podem ser considerados oportunos locais de convivência que sejam satisfatórios e que favoreçam a socialização, pois podem proporcionar aumento na autonomia, e com isso promoção da saúde mental e física nos diferentes contextos do indivíduo. Em pesquisas futuras, sugere-se que abordem a temática também considerando os relatos dos idosos durante a prática de atividade física associada com as variáveis apresentadas neste estudo, como também diferentes ambientes. Dessa forma, tornando possível focalizar ainda mais nas necessidades dos idosos, contribuindo tanto para novos conhecimentos e possíveis relações entre resultados obtidos, o que pode indicar possibilidades de intervenções mais efetivas e eficazes tanto na percepção de bem-estar, quanto da própria autonomia e independência da pessoa. Destaca-se que investigações nesta tônica tenderão a propiciar elucidação das reais demandas de pessoas idosas.