Ao se considerar a totalidade social como determinante da constituição da cultura, da política e dos indivíduos, assim como das instituições que fazem a mediação entre essas instâncias, tal como o fazem Max Horkheimer e Theodor Wiesengrund Adorno (1947/1985), o objetivo deste ensaio é indicar pontos de relação entre formas políticas distintas – totalitarismo, fascismo e democracia formal – a redução da cultura à pseudocultura e os obstáculos que apresentam para a constituição de indivíduos, que se tiverem posse de modos civilizados de expor seus desejos, medos, pensamentos, poderiam evitar a violência, presente na destruição de pessoas e de instituições. A base da reflexão sobre essa relação será composta por conceitos desenvolvidos por Sigmund Freud, Max Horkheimer, Theodor Adorno e Hannah Arendt, à qual são acrescidos estudos sobre a violência escolar realizados por este autor e outros pesquisadores sobre esse tema (Crochik, 2015, 2017, 2021) e (Crochick, 2019)
O texto está dividido em quatro partes. Na primeira, é apresentada a diferenciação entre formas de regimes políticos; na segunda, é exposta a redução da cultura à pseudocultura; na terceira, são analisadas formas distintas de violência individual e sua relação com tipos de personalidades regredidas psiquicamente; na quarta parte, nas considerações finais, essas formas de violência e os tipos de personalidade aos quais são vinculadas são relacionados aos regimes políticos analisados e que indicam dificuldades de se estabelecer relações adequadas com o mundo e com as pessoas.
De início, é importante ressaltar que se a totalidade social é contraditória, se a violência é determinada por diversos fatores, não cabe entender as relações que são analisadas neste trabalho como lineares e plenas; são tendências que não atuam independentemente umas das outras. Mesmo os regimes totalitários possibilitam resistências individuais, de forma que nem todas as pessoas que envolvem são seus/ suas adeptos/as ou o são por completo; a pseudocultura, por sua vez, não consegue iludir totalmente a percepção de que a realidade não é tal como transmite.
FORMAS DE REGIMES POLÍTICOS: TOTALITARISMO, FASCISMO E DEMOCRACIA FORMAL
Nos três referenciais teóricos indicados neste texto – obras de Freud, da Teoria Crítica da Sociedade e de Hannah Arendt -, a relação com o mundo, com a cultura, é fundamental para a vida individual e para a preservação e consequente alteração do que foi constituído como cultura; a alienação dessa cultura, desse mundo, com o interesse voltado para a sobrevivência dos indivíduos, contribui para que a sociedade que os deserda se perpetue.
Sigmund Freud (1930/2011) faz críticas ao capitalismo, defendendo que uma reforma da propriedade – presente no ideário comunista – pode fazer mais pela justiça do que qualquer mandamento ético, mas delimita seu alcance, devido às pulsões de destruição; mesmo essas, no entanto, podem ser transformadas em respeito aos/às outros/as. Critica também (Freud, 1908/1943) as injustiças da cultura para quem têm desejos sexuais diferentes, que se pretende homogeneizar. Apesar disso, se todos/as que puderem conviver participarem da constituição das leis, das renúncias que tiverem de fazer, pode-se chegar a um bom termo civilizatório. Para ele, as pulsões da morte, são os principais entraves a uma vida pacificada. Esse autor indica que repressões a desejos são importantes para a vida civilizada, assinalando seu caráter autoritário, mas não deixa de tornar plausível a necessidade de tal repressão e propor formas de poder manifestar e realizar desejos de formas aceitáveis socialmente.
Defende Freud (2011) que a luta pela liberdade pode ser contra a repressão social ou para que modificações sociais permitam mais justiça social. Dessa forma, argumenta que a relação cultura e indivíduo não é estática e que a primeira pode ser alterada segundo as necessidades humanas de maior justiça social. Em suas análises, não aparecem críticas diretas a regimes sociais autoritários, ainda que ao defender a formação de indivíduos pelas gerações passadas, critique a igualdade formal que possa dela prescindir e dificultar a formação de um ideal de eu e de uma consciência moral.
Horkheimer e Adorno (1985) descrevem a existência da tendência do fascismo ao longo da história da civilização ocidental; esse fascismo se expressa na propensão à dominação presente na natureza não dominada que impede a existência de uma sociedade livre. Além de tendências fascistas presentes nas diversas formas do Esclarecimento, indicam que esse fascismo torna-se necessário para preservar a riqueza de poucos/as; ressaltam que esses/as, tanto como os/as trabalhadores/as, são alienados/as da possibilidade da liberdade, ainda que de formas distintas. Embora utilizem os termos fascismo e totalitarismo, não os distinguem.
Mesmo nas democracias sociais, segundo Theodor Adorno (1971/1995), o fascismo se perpetua. Essa contradição pode ser expressa pela eleição de Hitler na Alemanha, na década de 1930, assim como, nos dias de hoje, pela eleição por meio do voto da população de vários/as governantes que são contrários/ as à democracia. Horkheimer e Adorno (1985) indicam que nossa sociedade caminha para ser uma sociedade administrada, mesmo em regimes democráticos, mas uma democracia que não expressa a vontade de cidadãos emancipados. Para eles, o fascismo não se expressou somente na Alemanha nazista ou na União Soviética de Stalin, mas também nos países ditos democráticos. Utilizam as expressões regimes ou sociedades totalitárias, mas, como ressaltado antes, sem distinguir de regimes fascistas. Como ilustração, segue uma das muitas citações em que empregam aquela expressão ou similares:
Pouco importa como são os judeus realmente; sua imagem, na medida em que é a imagem do que já foi superado, exibe os traços aos quais a dominação totalitária só pode ser hostil: os traços da felicidade sem poder, da remuneração sem trabalho, da pátria sem fronteira, da religião sem mito. (Horkheimer & Adorno,1985, p. 185)
Em outra citação, o fascismo é considerado como totalitário: “O fascismo também é totalitário na medida em que se esforça por colocar diretamente a serviço da dominação a própria rebelião da natureza reprimida contra essa dominação” (Horkheimer & Adorno, 1985, p. 172).
Para Hannah Arendt (1951/2012), a distinção entre regimes fascista e totalitário é nítida; no período da Segunda Guerra Mundial, ela compreende que a Itália, dirigida por Mussolini, era fascista, e a Alemanha de Hitler, totalitária:
Depois da Primeira Guerra Mundial, uma onda antidemocrática e pró-ditatorial de movimentos totalitários e semitotalitários varreu a Europa: da Itália disseminaram-se movimentos fascistas para quase todos os países da Europa central e oriental. . . , contudo, nem mesmo Mussolini, embora useiro da expressão “Estado totalitário”, tentou estabelecer um regime inteiramente totalitário, contentando-se com a ditadura unipartidária. . . Os nazistas, cujo instinto era infalível para discernir essas diferenças, costumavam comentar com desprezo as falhas dos seus aliados fascistas, ao passo que a genuína admiração que nutriam pelo regime bolchevista da Rússia. . . só era igualada e refreada por seu desprezo em relação às raças da Europa oriental. (pp. 436-437)
Deve-se sublinhar que Arendt (2012) julga o regime de Stalin, assim como o de Hitler, como totalitários. Se Horkheimer e Adorno não discriminam as duas expressões, para Arendt essa distinção entre fascismo e totalitarismo é fundamental. Nessa distinção, ela faz uma crítica aos estudiosos da personalidade autoritária, sem que seus autores sejam nomeados:
O princípio do líder não estabelece nenhuma hierarquia no Estado totalitário, como não o faz no movimento totalitário; a autoridade não se filtra de cima para baixo através de todas as camadas intermediárias até a base da estrutura política, como no caso dos regimes autoritários. A razão correta é que não há hierarquia sem autoridade e, a despeito dos muitos erros de interpretação cometidos em relação à personalidade autoritária, o princípio da autoridade é, para todos os efeitos, diametralmente oposto ao princípio do domínio totalitário. (Arendt, 1951/2012, p. 543)
Arendt (2012) mostra que a autoridade se associa com a tradição e essa não deixa de ser importante para a educação (Arendt, 2016), mas não para a esfera política, na qual seres humanos livres e iguais devem contribuir por meio de sua singularidade com o mundo que transcende suas vidas individuais. No totalitarismo, segundo a autora (Arendt, 1951/2012), não há hierarquia, há o desejo do/a líder, que deve servir de orientação para os outros: seus aliados mais próximos, os militantes, os simpatizantes e os outros que são visados com ameaças o tempo todo.
Freud (1930/2011) julga que, na melhor das hipóteses, as pulsões da destruição sejam contidas pelas pulsões da vida – Eros – e que a relação com a cultura e com objetos específicos de amor fortaleçam a cultura e a vontade de viver; Horkheimer e Adorno (1947/1985) entendem que o desejo de dominação, que provém da natureza seja superado para que possa haver uma vida digna de ser vivida; e Arendt (1954/2016), ao defender a esfera da política como a da liberdade, defende a incorporação da cultura pelas novas gerações para que os membros singulares dessas possam continuamente alterar o mundo, conforme suas necessidades e desejos. Para as três referências, a cultura é fundamental, mas de modos distintos.
PSEUDOCULTURA E A AUSÊNCIA DA FORMAÇÃO INDIVIDUAL
O conceito de pseudocultura não se opõe ao de cultura, é sua negação. A indústria cultural, como a delimitam Horkheimer e Adorno (1947/1985), ou o entretenimento de massas, na análise de Arendt (1954/2016), indicam que os produtos culturais são produzidos para serem rapidamente consumidos e substituídos por outros, não deixando marcas; mas se a cultura é fundamental para a formação individual, possibilitada por sua incorporação (Adorno, 1959/2004; Arendt, 1954/2016), a pseudocultura como negação da cultura forma a negação do que seria o indivíduo.
Se a cultura, como a descreve Arendt (1954/2016), provém do cuidado com a terra, a ‘cultura animi’ significa humanizar a natureza para se tornar um habitat humano; a natureza do indivíduo também deve ser cultivada pela cultura para se tornar humanizada. E essa transformação da natureza em formação do indivíduo ocorre quando esse pode expressar os seus impulsos, desejos, expectativas e medos, preservando a cultura, seus membros, suas obras.
Quanto mais rica for a cultura em suas possibilidades de expressão, mais o indivíduo pode se diferençar, tornando-se mais objetivo no que pode se referir à sua participação no convívio social. Cada palavra é um conceito, que, por sua vez, delimita um objeto da experiência. E se seus objetos se alteram historicamente, o conceito não é estático: a história do conceito deve conter a história de seu objeto, mesmo quando se altera a forma de nomeá-lo, assim, o conceito é mais do que nome, mas um nome em mutação; se, por vezes, o objeto pouco se modifica perante a nova nomeação, essa, ao menos, indica a necessidade de sua modificação.
A análise que Horkheimer e Adorno (1947/1985) fazem da indústria cultural indica um sistema, no qual os meios de comunicação transmitem a mesma mensagem empobrecida, com a justificativa que todos(as) devem entendê-la, e que, se não fosse dessa forma, a ‘democratização’ da cultura não seria possível. Também por isso, a cultura é empobrecida e se torna uma pseudocultura. Esses autores criam esse conceito para opô-lo à expressão ‘cultura das massas’, como se essa fosse produzida pela massa, quando não o é, pois, a indústria cultural vende produtos para diversão, e essa é uma forma de se desviar do sofrimento real; como tal, tece um véu sobre a realidade, para que essa não seja claramente percebida; essa realidade, no entanto, não pode ser totalmente negada, pois, isso não é possível, uma vez que não há identidade entre representação e o que é representado, Se a negação plena não é possível, a ideologia transmitida pela indústria cultural procura fortalecer o hiper-realismo, que força a rejeição de se pensar em qualquer outro tipo de sociedade, que não a existente: resta se adaptar.
A possibilidade de transformação da sociedade não é a que meramente nega a existente para o surgimento de uma nova, mas uma transformação da já existente, por meio da negação determinada, conceito fundamental utilizado pelos frankfurtianos (Horkheimer & Adorno, 1947/1985; Marcuse, 1941/1978), com base no pensamento hegeliano. A formação voltada à adaptação, contudo, dificulta a percepção do que nega a sociedade existente. Como Adorno (1971/1995) acentua, a adaptação é importante para a sobrevivência individual e para o convívio social, mas não desenvolve a crítica; crítica compreendida como indicação dos limites do que existe.
Os clichês, os estereótipos, difundidos pela indústria cultural, substituem o pensamento; de um lado, porque não há contato espontâneo com o objeto, mas incorporação passiva do que se mostra. A lógica que associa as diversas imagens é a que Horkheimer e Adorno (1947/1985) nomeiam de ‘mentalidade do ticket’; uma pauta que associa logicamente diversos adjetivos sem relação com os objetos que enuncia. Dessa forma, a riqueza da percepção que é possível por meio de diversas imagens dos objetos se perde. Arendt (1951/2012) defende que essa lógica é própria à ideologia dos sistemas totalitários: parte de uma premissa falsa e deriva diversas sentenças dessa; a lógica é coerente, a relação com a realidade, não.
Para Arendt (1954/2016), como assinalado antes, não é uma cultura de massas que corresponde a uma sociedade de massas, mas o entretenimento de massas. O entretenimento, conforme analisa, pertence à esfera da reprodução imediata, tal como a comida, por exemplo, e, nesse sentido, é necessário. Uma vez, no entanto, que a quantidade de horas dedicadas ao trabalho diminuiu e as pessoas têm mais tempo livre para o entretenimento, é gerada a necessidade de uma produção cada vez maior de produtos para serem rapidamente consumidos. Como não há conteúdo para tanto, seus produtores utilizam adaptação de obras, sobretudo da literatura, para, com novos formatos mais propícios de serem consumidos, respondem à demanda; essa transformação é criticada pela autora.
Ainda que Arendt (1954/2016) não critique o entretenimento, como o fazem Horkheimer e Adorno (1947/1985), indica que é uma formação adequada que possibilita o julgamento estético. Se para os frankfurtianos política, estética e conhecimento são associados, de forma distinta, Arendt (1954/2016) mostra que é necessário um pensamento alargado para o julgamento estético e para as decisões políticas; tal pensamento alargado, diferentemente da razão que busca a verdade, procura pelo consenso; importa compreender o que é significativo para um conjunto de pessoas que pode julgar; e esse ‘pode julgar’ envolve um senso comum – dado pelos cinco sentidos em sua relação com os objetos percebidos por todos; para isso, a formação é necessária e não se reduz ao entretenimento.
A análise da redução da cultura à sua utilidade ou a objetos de administração é importante para essa discussão. Freud (1930/2011) indica que atividades úteis, mas também as que existem além de sua utilidade – beleza, higiene e ordem – caracterizam a cultura, que ele não distingue de civilização. O que caracteriza a cultura, que ultrapassa sua utilidade, não é dispensável; a beleza notada no corpo associada ao desejo sexual, em geral, é desviada dos órgãos sexuais, que não são considerados belos, para outras partes do corpo; a ordem, que aprendemos da observação da natureza, pode se contrapor ao nosso desejo de tudo destruir; a higiene, igualmente, pode ser defesa contra os desejos de lidar com sujeira; cada uma dessas atividades, assim, possui algo que nega desejar; a civilização, por isso, funda-se na repressão de desejos, que, no entanto, continuam a existir, emitindo sinais. A Psicanálise tenta, por seus métodos, dar expressão a esses desejos, o que fortalece o que antes se mencionou da necessidade de possibilidades de expressão possibilitada pela cultura. Nessa definição de cultura de atividades úteis e atividades que transcendem a utilidade, cabe pensar no que Freud defendeu ao longo de sua obra: a sexualidade vai muito além da procriação, é base da felicidade, é fim em si mesmo.
Horkheimer e Adorno (1947/1985), seguindo Freud, também não separam cultura e civilização; indicam que civilização é conceito que se opõe à barbárie, que, se civilização está mais associada com a produção de bens materiais e a cultura com obras espirituais, ambas são fundamentais. Na análise que fazem da sociedade administrada, mostram e criticam que tudo deve ter sua utilidade, mas, por isso mesmo, o que não tem, está condenado a ficar à margem ou a ser segregado ou morto. Se nossa cultura se reduziu à administração política e da vida dos indivíduos, deixa de ser cultura, pois a humanidade não é sujeito dessa administração, e, sim, seu objeto.
Para Arendt (1954/2016), o filisteísmo se define por reduzir tudo à utilidade. A obra de arte, no entanto, se destina a tornar atemporais as ações e os discursos, que se continuassem marcados pelo tempo, não teriam utilidade para a necessária continuidade do mundo, reduzindo-se à reprodução da vida. Essa distinção entre vida e mundo é fundamental em sua obra; a primeira tende a se reduzir à autoconservação, o último a se considerar o que existiu antes dos indivíduos nascentes e o que continuará a existir após sua morte; mundo esse que se infere aqui poder ser também nomeado de cultura; é a consideração da existência de algo que perdura e que traz a importância da tradição ser transmitida de geração à geração, para que possa ser constantemente modificada. A redução das obras de arte ao entretenimento, como enfatizado, não possibilita algo que perdure e, por isso, não é propícia à formação para o mundo.
No fascismo, para Adorno (1951/1991), essa relação entre a cultura e o indivíduo é rompida; a resistência se transfere para o indivíduo, não está mais na cultura; contrapondo-se à máxima de Hegel, defende: “o todo é falso”. Tal indicação prossegue em seus textos sobre educação (Adorno, 1971/1995), nos quais, na impossibilidade de se alterar as condições objetivas, que geram a violência, deve-se fortalecer os indivíduos para renunciarem a ela e para dela se defenderem. No fascismo, exige-se o sacrifício dos indivíduos em nome de uma coletividade que favorece a poucos grupos que concentram a maior parte do capital, o que exige uma administração rígida do comportamento individual. Apesar disso, Adorno (1971/1995) não deixa de indicar a contradição social existente, para cuja percepção devem se formar os indivíduos.
A pseudocultura – a negação da que já poderia existir -, por meio da indústria cultural e dos entretenimentos para a massa, forma o pseudoindivíduo. A educação contribui com essa pseudoformação quando se restringe a se voltar para a adaptação individual ou se volta para transmitir a cultura como um fim em si mesmo (Adorno, 1959/2004). No primeiro caso, nega-se a transcendência da cultura, no segundo, sua relação com a sociedade. Partir da realidade estabelecida, incorporando-a e devolvendo a reflexão sobre o seu movimento é importante para um pensamento que pretenda a negação determinada: refletir o que impede a sociedade superar suas contradições e sair da pré-história (Adorno, 1959/2004).
Arendt (1954/2016) critica a formação dada pela escola restringida ao saber fazer e ao lúdico; considera que a ausência ou o declínio da autoridade do professor reduz a educação ao imediato, ao ensino, à aprendizagem, mas perde a relação com o mundo. Para ela, a autoridade do professor não é avaliada apenas pelo conhecimento que pode ter sobre determinado assunto, mas pelo amor que tenha pelo mundo, que pode ser expresso pela transmissão da tradição; cada estudante na vida adulta deve, por sua singularidade, alterar o mundo, mas a partir do que incorporou e do apreço que desenvolveu nessa relação com o mundo.
A crítica à pseudoformação, à indústria cultural, ao entretenimento de massas é fundamental para uma formação, que pode ocorrer pelo que já foi desenvolvido socialmente, transmitido de geração a geração, para que a sociedade possa se transformar, considerando os desejos humanos; uma educação para a realidade, não para o hiper-realismo ou com ênfase somente na adaptação.
Para Horkheimer e Adorno (1947/1985) e para Adorno (1975/2019), como nossa sociedade é contraditória, tem tendências autoritárias e tendências democráticas, dependendo de algumas variáveis – como a educação familiar, a educação escolar e a indústria cultural -, o indivíduo pode ser mais autoritário ou mais democrático. Assim, foi possível Adorno (1975/2019) localizar na democracia dos Estados Unidos da América, na década de 1940, tipos autoritários e tipos não autoritários. Como esses autores entendem haver uma dialética do movimento social ao longo da história (Horkheimer & Adorno, 1985), é esperado, como ressaltado antes, haver uma tendência autoritária mesmo em regimes democráticos.
Para Adorno (1971/1995), ao declínio da autoridade no início do século passado, não correspondeu a queda da necessidade da autoridade nos indivíduos, e, por isso, líderes fascistas que representavam a força, que pareciam ter certezas para os caminhos a serem seguidos, por meio de ideologias irracionais, puderam ocupar o lugar das autoridades que antes poderiam representar a civilização em seus avanços. Freud (1921/1993 e 1930/2011) também descreve a fragilidade individual na ausência da formação de uma consciência moral, que o deixa vulnerável a líderes idealizados e ao pânico decorrente da desilusão que esses líderes possam provocar; tal consciência moral se forma com a introjeção do que pode-se perceber da autoridade: primeiro os pais, depois os/as professores/as e outras autoridades sociais.
O amor ao mundo, defendido por Arendt, pode ser compreendido também na obra de Freud (1930/2011), quando a libido pode ser utilizada para a constituição da cultura, isso fortalece Eros em seu objetivo de criar e fortalecer vidas e instituições. Na relação com o conhecimento, com a filosofia, Adorno (1971/1995) também se refere a essa relação com a cultura; não por coincidência, esse autor sugere que quem não gosta de ensinar, procure outra profissão, e Arendt (1954/2016) que quem não ame o mundo deixe de ser professor. A cultura oferece objetos e objetivos que possibilitam a diferenciação individual; a pseudocultura e o entretenimento de massas alienam as pessoas de uns e de outros, restando-lhes expressar seus anseios por meio da violência e/ou a serem alvos delas sem que possam compreender o porquê.
VIOLÊNCIA INDIVIDUAL E DIFICULDADES DE RELAÇÕES SOCIAIS
Da análise do texto de Adorno sobre o estudo da personalidade autoritária (1975/2019), evidenciam-se duas formas de nomear a personalidade que estava sendo estudada, propícia a aderir ao fascismo e a desenvolver preconceitos contra minorias sociais; uma delas dá nome ao livro – personalidade autoritária -, que, no capítulo “Tipos e Síndromes”, é caracterizada por não suportar a ambivalência de sentimentos – amor e ódio – frente à autoridade, o que leva o indivíduo a cindir esses afetos em relação a ela: respeita conscientemente a autoridade e deseja destruí-la, em nível inconsciente. Como não pode enfrentar a autoridade, dirige essa agressão, sob a forma de preconceito, a minorias socialmente delimitadas, que imaginariamente representariam o que a autoridade reprime. Neste sentido, o preconceito seria conservador por fortalecer a autoridade e os valores que defende, ainda que, inconscientemente, deseje a destruição dessa autoridade.
O conceito de personalidade antidemocrática, por sua vez, é a outra forma com que nomeiam a personalidade estudada; explicitamente traz a destruição em seu nome, uma vez que a pesquisa foi realizada na década de 1940, nos Estados Unidos da América, uma democracia bem estabelecida; a tendência antidemocrática, por isso, é claramente contra a autoridade social estabelecida, deve se referir, portanto, a outras formas de personalidade, distintas da autoritária, ainda que o autor não faça essa distinção. Essa diferença, no entanto, é cabível, considerando as análises de Adorno (1975/2019) das diferentes formas de estruturação dos tipos de sujeitos com escores altos na escala sobre o etnocentrismo; se o tipo autoritário, tal como foi descrito, tem como elemento principal a ambivalência frente à autoridade, o tipo psicopata, também descrito pelo autor, tem atitude clara e conscientemente contrária à autoridade, o tipo manipulador traz nítido caráter narcisista, e o alucinado se aproxima do psicótico.
Por mais que o autor dessa tipologia defenda que são variações de um mesmo tipo, as distinções feitas trazem dinâmicas psíquicas muito diferentes, o que dificulta a concordância com ele. Também no capítulo sobre a construção da ‘Escala F’, ele e os demais autores da pesquisa (Adorno, 1975/2019), explicitam que ela avalia diversas formas de fragilidade da constituição do Eu:
Embora o convencionalismo e o autoritarismo pudessem, desse modo, ser considerados sinais de fraqueza do eu, pareceu valer a pena buscar outros meios mais diretos para estimar essa tendência na personalidade e correlaciona-la com outras. Ao que parece, a fraqueza do eu seria expressa de maneira bastante direta em fenômenos como a oposição à introspecção, a superstição e esteriotipia, além da ênfase exagerada no eu e em sua suposta força. (pp. 146-147)
A tendência que examinaram até o momento dessa citação é a de pessoas que têm dificuldades de desenvolver uma consciência moral, tal como o tipo autoritário, pois deve deslocar sua vontade de agressão ao grupo que pertence, projetando-a sobre outros grupos, o que os autores também associam a tendências sadomasoquistas; as outras tendências que buscam na expressão da fragilidade do eu não se associam, necessariamente, com a agressão voltada a minorias, o que indica relações diferentes entre seus conflitos psíquicos e os alvos da agressão; esses outros tipos, que não desenvolvem uma consciência moral, não precisam defender nenhuma autoridade e seus valores e, por isso, qualquer alvo serve para satisfazer seus desejos de dominação e de destruição. Se o preconceito pode se definir pela sua relação com pessoas por pertencerem a minorias, e assim, ser próprio à personalidade autoritária, uma forma de agressão menos desenvolvida, que poderia ser associada à que atualmente nomeamos de bullying – que prescinde da especificidade de objetos para satisfazer seus desejos – pode se voltar contra qualquer um que não reaja o suficientemente (Crochík, 2015). E, assim, personalidades autoritárias tenderiam a desenvolver mais o preconceito do que uma forma de violência mais primitiva – o bullying – e as personalidades antidemocráticas mais essa última do que o preconceito.
Na sétima e última parte de os “Elementos do Antissemitismo”, publicado em 1947, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, Horkheimer e Adorno (1947/1985) alegam que já não havia mais antissemitas, mas pessoas avessas a qualquer tipo de experiência e que se guiam por estereótipos, por celebridades, por ordenações externas e pela mentalidade do ticket, tal como delimitada anteriormente; os últimos antissemitas, segundo esses autores, seriam os do final do século XIX. Arendt (1951/2012), em sua análise do totalitarismo, indica que se os judeus foram o primeiro alvo dos nazistas – o inimigo interno -, depois de sua eliminação, viriam os eslavos e depois os próprios alemães. Enquanto o movimento totalitário, conforme essa autora, não eliminou toda a oposição, persegue as minorias, como forma de agregar os demais para apoiar esse movimento; quando consegue eliminar a oposição, que não consegue mais reagir ou foi extinta, todos os indivíduos que não estão ao redor do poder devem ser ameaçados. E, de tempos em tempos, parcela da população deve ser exterminada para fortalecer o movimento.
Dessa forma, quer para Horkheimer e Adorno, quer para Arendt, o que existiu no período nazista foi um regime que se altera da eliminação de minorias para a eliminação de todos os indivíduos que não foram capazes de reagir; assim, o preconceito, existente no antissemitismo e em todos os demais preconceitos étnicos, seria substituído por uma forma mais direta de violência, que pode-se pressupor ser o bullying.
Cabe pressupor que a personalidade antidemocrática é mais regredida psiquicamente do que a autoritária. Se essa última divide seus afetos – admira conscientemente a autoridade e por isso defende o que ela representa, e inconscientemente gostaria de destruí-la e aos valores que ela representa, o psicopata, por exemplo, não tem esse conflito: o seu desejo de destruição é explícito. Se o autoritário representa o sadomasoquista, o psicopata tem um eu menos desenvolvido; e como visto, se o autoritário tem um objeto delimitado para destruir – aquele sobre o qual pode projetar, no sentido psicanalítico, o ódio à autoridade -; o psicopata, com seu desejo de destruição constante, não precisaria de um objeto específico para projetar sua vontade de destruição: pode ser qualquer um.
Freud (1930/2011) desenvolve análise que também possibilita a diferenciação entre a personalidade autoritária e a antidemocrática e entre preconceito e bullying, mesmo sem os nomear dessa maneira. A formação de um grupo, segundo esse autor, ocorre quando há outro grupo que pode receber a violência antes destinada aos seus membros; isso explicaria porque povos vizinhos têm hostilidades recíprocas, assim como explicaria a perseguição aos judeus. Neste sentido, o preconceito seria necessário para a formação e para a manutenção de grupos; essa hostilidade seria eliminada, caso os grupos em conflito se unam contra outro alvo em comum. O que tal como indicado antes define o preconceito como conservador do estabelecido, no caso, do próprio grupo. Esse caráter conservador é confirmado em relação ao preconceito, conforme mostra o estudo de Vittorio Lingiardi et al. (2016), na Itália. Empregaram a bateria de personalidade de Cattel, e constataram que pessoas mais conservadoras do ponto de vista religioso e político, caracterizadas por uma personalidade mais conformista, moralista e heterônoma, são mais propícias à homofobia, o que corrobora a definição de Adorno (1950/2019) do tipo autoritário.
Essa mesma tendência à destruição, contudo, também se apresenta, segundo Freud (1930/2011), na hostilidade contra a civilização como um todo, e quanto mais há progresso, mais essa tendência se fortalece; essa tendência mais difusa parece-nos se relacionar ao que hoje chamamos de bullying. Dessa maneira, segundo essas considerações de Freud (1930/2011), o preconceito seria necessário para unir e preservar um grupo e o bullying seria um risco continuo à civilização que preceitos religiosos, entre outros recursos sociais, tentam controlar.
Segundo Freud (1930/2011), o desenvolvimento psíquico ocorre pela experiência com os/as adultos/ as, mediada pelas sensações de prazer e desprazer; de início, o bebê não distingue a si do meio; por meio de sensações prazerosas e não prazerosas, aprende o que vem de si – em geral, a dor, a sujeira, a febre – e o/a adulto/a que pode ajudar a superar o desprazer. Em outro texto, Freud (1921/1993) defende que o Eu se constitui na identificação crescente com outras pessoas e com grupos de pessoas. Dessa forma, a percepção da existência dos outros e da necessidade de conviver com eles implica a diferenciação entre os desejos e medo próprios e os alheios. Assim, mesmo o autoritário, ainda que psiquicamente expresse desejos sadomasoquistas, é, como ressaltado antes, mais desenvolvido do que o psicopata, pois possui objetos, mesmo que imaginários, sobre os quais pode projetar seus desejos e receios, o que não é próprio ao psicopata.
Algo similar diferencia preconceito de bullying. Conforme Crochík (2017) defende, o preconceito se dirige a um alvo delimitado; já o bullying pode se voltar a qualquer um que não consiga resistir. Os dados obtidos em pesquisa desenvolvida por Crochík (2021) fortalece a hipótese da relação entre tipo de personalidade e tipo de violência: o sadomasoquismo tem mais relação com o preconceito do que com o bullying e os demais tipos de personalidade mais com o bullying do que com o preconceito.
A distinção entre os dois tipos de personalidade nomeados – autoritário e antidemocrático -, no entanto, não pode ser concebida sem sua relação: se o autoritário deseja inconscientemente a destruição do que está estabelecido, ele também, em parte, pode ser considerado como antidemocrático; os outros tipos, porém, podem ser antidemocráticos, mas não autoritários: não expressam a defesa do que está estabelecido e não se voltam contra membros de minorias destacadas, devido ao fato de que essas são designadas culturalmente para serem hostilizadas; a destruição de seus alvos corresponde a seu desejo imediato de agressão. Como as hostilidades presentes no bullying podem também ser dirigidas aos alvos do preconceito, o tipo autoritário pode direcioná-las contra os membros de minorias socialmente designadas, mas por pertencerem a essas minorias, enquanto os demais tipos antidemocráticos podem ser autores de agressões independentemente de seus alvos pertencerem ou não a minorias. Considerando as distinções feitas até o momento e que há citações nas obras – “Elementos do Antissemitismo” (Horkheimer & Adorno, 1947/1985) e “Estudos sobre a personalidade autoritária” (Adorno, 1975/2019) – que delimitam claramente o preconceito e outras formas de violência que podem se aproximar do conceito de formas mais primitivas (Crochick, 2019), pode-se pensar num continuo de desenvolvimento da violência individual, da forma mais simples para a mais complexa; da ausência de objetos externos para se relacionar até objetos bem delimitados, que nesse caso, não implicaria nenhuma forma de violência:
um tipo de personalidade pouco desenvolvido, que quase não teria uma distinção entre si e o mundo; agrediria para dar vazão a um impulso de destruição, sem que nenhum estímulo externo o provoque, e que estaria associado ao conceito de Freud (1930/2011) de pulsão da morte; no caso, dirigido para fora do indivíduo; seria um tipo de personalidade antidemocrática; na tipologia de Adorno (1975/2019) poderia ser considerado como psicopata ou alucinado (psicótico);
um tipo um pouco mais desenvolvido, que manifesta o bullying como reação a alguma frustração gerada externamente; não há nenhum objeto externo configurado para ser agredido, e a confusão intelectual contribui para esta não configuração; também seria um tipo de personalidade antidemocrática, nomeada por Adorno (1975/2019) como ressentido superficial;
um tipo de indivíduo que desenvolve preconceito contra alguém que pertença a uma minoria socialmente designada, com uma justificativa difusa, agressão que ocorre mais para fortalecer a pertença ao grupo com o qual se identifica e que, imaginariamente, opõe-se o outro; corresponderia ao tipo nomeado por Adorno (1975/2019) de convencional e seria considerado como personalidade autoritária;
o tipo de personalidade autoritária descrito por Adorno (1975/2019), como delimitado anteriormente, que tem o preconceito dirigido a um alvo bem definido, com uma justificativa precisa, mas imaginária: projeção do ódio que tem à autoridade nos que pertencem a minorias que devem ser atacadas; e
o indivíduo formado com distinção entre si mesmo e o mundo, que consegue perceber o que realmente determina seu sofrimento e assim resistir adequadamente a ele, não seria autor do bullying, nem preconceituoso.
Dessa forma, o desenvolvimento do indivíduo depende do estabelecimento de relações com pessoas, com instituições, possibilitadas pela incorporação da cultura; quanto mais essas relações diferenciam objetos imaginários de objetos reais, mais o indivíduo pode se constituir sem exercer a violência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: POLÍTICA, CULTURA, INDIVÍDUO
A sociedade abriga diversas formas de organizações políticas e culturais, que geram distintas configurações psíquicas, mas não excludentes: um mesmo indivíduo pode expressar tendências democráticas e antidemocráticas.
Freud (1930/2011) indica que o mal-estar aumenta com o progresso social, que exige mais renúncias individuais, o que gera mais sentimento de culpa, quando a consciência moral se desenvolve; nesse caso, a agressividade se volta contra o próprio indivíduo; quando essa consciência não se desenvolve, a violência recai sobre outras pessoas, grupos e instituições. Apesar do conflito, segundo esse pensador, é possível chegar a equilíbrios entre os desejos individuais – expressos nas pulsões de vida e de morte – e entre o indivíduo e a cultura. Como defende que toda psicologia é também psicologia social (Freud,1921/1993), os outros como modelos, como referências são importantes para a constituição do Eu, e o trabalho livremente escolhido, a sublimação, presente nas produções culturais, fortalecem o indivíduo e a cultura. Quando a satisfação de desejos individuais adiados não ocorre, no entanto, tornam-se infelizes e agressivos.
O progresso da organização social pela administração de tudo e de todos/as, em favor dos/das que possuem poder político e econômico, segundo Horkheimer e Adorno (1947/1985), é concomitante com uma formação para a alienação da vida e formação de indivíduos autoritários e antidemocráticos. Se o fascismo é a tendência política adequada para administrar os bens do capitalismo dos monopólios, cuja concentração de renda expõe a maioria da população a condições subalternas, esses tipos psicológicos são sua base. A superação da dominação, segundo esses autores, possibilitaria uma vida igualitária e livre.
Para Arendt (1951/2012), o fenômeno do totalitarismo é recente e é concomitante ao declínio da autoridade e da tradição, pela qual os indivíduos podem se formar. O objetivo da educação é transmitir a cultura de modo que esta seja considerada um bem de todos a ser possuído e transformado; sem isso, não há formação para a política, na qual pessoas livres possam discutir e propor ações em conjunto por meio de um pensamento alargado, que permite a identificação entre muitos, quanto ao que pensam. O totalitarismo significou, conforme essa autora, a ausência da autoridade e da transmissão da cultura e, por mudanças sociais – transformação da sociedade de classes em sociedade de massas – deixou de formar os indivíduos para que pudessem de posse da cultura, modifica-la; sem perspectivas, podem se unir a movimentos sociais, que devem ser postos acima das necessidades individuais, entre elas, a da autoconservação.
A cultura, como mediadora entre a sociedade e os indivíduos, é a que permite a formação individual por sua incorporação que permite expressar seus desejos, medos e pensamentos; se ela se torna pseudocultura ou se reduz ao entretenimento, aquela formação não é suficiente para que as pessoas sejam base de movimentos democráticos que possam tornar a sociedade justa e possibilitar a liberdade individual.
A identificação com pessoas e com a cultura oferece aos indivíduos saírem de sua vida imaginária e torná-la o mais real possível, dando contornos ao que gera sofrimento e também ao que permite superá-lo. Se mesmo a democracia pode conter mecanismos fascistas e totalitários, também contém o que permite conhecê-los e superá-los, mas para isso a pseudocultura deve tomar consciência de si mesma para tentar superar seus limites.