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versão impressa ISSN 1519-9479
Cogito v.7 Salvador 2006
PSICANÁLISE E LITERATURA
Um suicídio altruísta ou um homicídio egoísta?
Marli Piva Monteiro *
Círculo Psicanalítico da Bahia
Endereço para correspondência
RESUMO
O intrigante homicídio de Hélène, cometido por seu esposo, Louis Althusser não pôde ser publicamente discutido, uma vez que condenado ao silêncio, Althusser foi confinado em um hospital psiquiátrico, onde escreveu sobre os fatos, no livro intitulado "O futuro dura muito tempo". Este trabalho visa levantar algumas questões sobre o que no livro, Althusser denominou de "suicídio altruísta".
Palavras-chave: Suicídio altruísta, Homicídio egoísta, Melancolia, Perversão.
ABSTRACT
The intrigue homicide of Hélene, Althusser’s wife by himself had no chance to be publicly discussed, since Luois Althusser was condemned to the silence and could not write or publish till the end of his day. This paper aims to rise some questions about what Althusser named " an altruist suicide "on his book "L’avenir dure longtemps".
Keywords: Altruist suicide, Selfish murder, Melancholia, Perversion.
Louis Althusser, filósofo marxista, filho de franceses, nasceu na Argélia em 1918. Foi prisioneiro durante a II Guerra Mundial, na Alemanha. Após o período da Guerra, entrou para a Escola Superior de Paris onde lecionou Filosofia por 30 anos e exerceu a função de secretário da mesma Instituição. Publicou alguns livros sobre o pensamento marxista: Por Marx, Ler "O capital" em 1965, Lênin e a filosofia em 1968, Resposta a John Lewis em 1972, Elementos de Autocrítica em 1973, Posições em 1976.
Criticou duramente o Partido Comunista Francês do qual fazia parte desde 1948, no livro, O que não pode mais durar no PCF (1978). Em 1968 foi ativista na revolução em Paris.
É deste homem, com esta história de vida e esta bagagem cultural que vamos relatar experiências drásticas e conflituosas que culminaram com uma morte por ele praticada, a da sua esposa Helène que se chamava Rytmam e tinha o cognome de Sabine e depois de Legotien e com quem viveu por mais de 30 anos.
O caso Althusser, como o caso Schreber envolveu também uma escritura com propósito em causa própria. O juiz Schreber visava livrar-se do Asilo de Sonnenstein, Althusser, por sua vez, pretendia dar uma resposta com seu livro O futuro dura muito tempo. Como foi sancionado por impronúncia, seu objetivo é, como diz ele, "afastar a pedra sepulcral" sobre a sua fala, para expor-se aos outros e recuperar o julgamento suspenso, adquirindo o domínio sobre algo que não conseguia controlar. Vera Pollo (2002) num capítulo do livro organizado por Quinet "Extravios do desejo" chama a atenção de que Louis Althusser vale-se das palavras das Confissões de Rousseau "direi com todas as letras: eis o que fiz, o que pensei, o que fui, (acrescentando), o que compreendi ou acreditei compreender, isso que não domino mais totalmente, mas isso que me tornei" (1999: 34).
Por esta atitude de desmascaramento, Quinet propõe que o livro seja visto como ‘O Outro do tribunal".
O crime de Althussser foi o assassinato por estrangulamento da sua companheira o que não lhe tendo custado processo, devido à impronúncia, custou-lhe a interdição para publicar. A impronúncia, como castigo, tira-lhe o direito de defesa e de pronunciar-se abertamente. A impronúncia de Althusser tem duas vias - uma que a ele se dirige a partir da justiça e outra que a partir dele se dirige ao mundo ao seu redor. Em vista disso desapareceu do cenário político e literário. Foi morto-vivo porque não podia falar. Sua saída foi escrever. Escrevendo pôde pronunciar-se e negar a sua própria morte.
Aliás, a relação de Louis Althusser com a morte é uma constante. Nas palavras de Althusser: "Relações singulares deviam imperar entre minha mãe e eu, minha mãe e a morte, meu pai e a morte, eu e a morte" (1993:50). Os nomes da morte perpassam sua vida a partir do seu próprio nome LOUIS - nome do seu tio ex-noivo de sua mãe por quem ela fora apaixonada. A guerra roubou-lhe o noivo e deixou-lhe de herança um cunhado que lhe propôs casamento. Os comentários de Louis sobre este nome é que ele é muito curto e a pronúncia se confunde com LUI = ele, o tio. O final do nome OUIS, pronunciado, confunde-se com OUI = sim, que parece lembrar a afirmativa do desejo da mãe. Além disso, o sobrenome, ALTHUSSER ao ser escandido resulta em ALT que quer dizer velho e HUSSER = häuser = casas - velhas casas.
O desejo de Louis era chamar-se Jacques, nome que teria algo que o identificasse com o pai - faltava-lhe o Nome do Pai. Queria ter um nome forte começando com J que lhe lembrava o jato do esperma e um "a" como o de Charles, do pai e QUES = queue = cauda, rabo, órgão sexual masculino, Finalmente Jacques o lembrava de "jacquerie", a revolução camponesa, de que com tanto orgulho lhe falava o avô.
A relação com a mãe sempre foi sentida como simbiótica e castradora e por ela se manteve casto até os 29 anos. Ele vivia o conflito de atender o desejo da mãe ou apropriar-se do seu próprio corpo "para começar a sair das regras da família" (1993:74). A forma como se identificava com os professores era de imitação dos seus gestos, gostos, opiniões e mesmo inflexões de voz. Isso, no entanto o fazia sentir-se uma impostura - um ser que não tinha existência própria - era apenas um habilidoso na arte de manipular e seduzir os outros para sentir-se amado. Com isso esperava o reconhecimento da sua existência. Não sem motivo, Althussser sentiu-se bem e protegido na prisão alemã onde cultivava a fantasia de "desaparecer" para fazer crer que fugira. Suas relações com seus amigos tinham fortes tinturas homossexuais, mas continuava casto até conhecer Helène, quando então teve a primeira relação sexual. Ao conhecê-la teve o impulso do amor impossível e no dia seguinte telefonou desesperado com a sensação de abismo que o invadia, para dizer-lhe que nunca mais iria fazer amor com ela.
Helène tinha pavor de ser uma megera como sua mãe. Tinha crises de "fúria" que quase a impediam de viver, com medo de repetir a estória da mãe e sentindo-se incapaz para o amor, embora Louis a considerasse uma pessoa que sabia amar como ninguém.
Mas Helène também foi marcada pela morte de forma atroz. Com a separação dos pais, coube-lhe aos 11 anos de idade, o cuidado do pai doente de câncer. Contava apenas com a ajuda do médico que depois tentou seduzi-la causando-lhe profundo desapontamento. Foi a ela que o Dr. Dileron encarregou de aplicar a última injeção de morfina no pai, já no leito de morte.Um ano depois, a estória se repetiu com a morte da mãe. Aos 13 anos, portanto, Helène "matara" o pai e a mãe.
O primeiro sentimento de Louis em relação a Helène foi de repulsa ao "cheiro da pele". Apesar de ter tentado afastar-se, Louis continuou a encontrar-se com Helène, mas antes de terem dormido juntos, fez questão de apresentar-lhe uma moça que cortejava, Angelina, só para provocá-la, como ele mesmo diz. Ele descreve a sensação do primeiro intercurso como "surpreendente, exaltante e violento" mas quando ela saiu, ficou "um abismo de angústia". Helène parecia dizer-lhe "dê-me o direito de existir", assim ele o sentia. Será que o deu, matando-a?
Ele se divertia muito, forçando-a a cenas terríveis que pareciam comprovar sua forma de comportar-se como uma mulher má. No entanto, Helène tinha uma grande capacidade de escuta que lhe rendeu até um comentário de Lacan que na época vivia com Sylvia - "você teria dado uma extraordinária analista".
Louis sentia-se sem existência real - vivia das imposturas. Quando seu analista interpretou a depressão como a sua onipotência, vibrou e passou a sentir-se potente. De 1947 a 1980 refere ter tido umas 15 crises. Seus medos se resumiam em ser abandonado, ser exposto a uma demanda de amor e que tivessem idéias a seu respeito.
Para Freud, o afeto do luto é provocado pela perda de libido e a conexão com a identificação narcísica é inequívoca. Freud assinala ainda a diferença entre a melancolia e as neuroses atuais, pois naquela "o buraco é na esfera psíquica".
Por isso, a característica da melancolia é o retorno da libido do objeto que se direciona ao eu, mas ao contrário da megalomania onde há um inchaço, na melancolia há um esgotamento, perda de interesse, desânimo, desinteresse pelo mundo, diminuição da auto-estima, inibição, auto-acusações, invectivas e, além disso, uma espera delirante de punição. Os conceitos freudianos da melancolia arrebataram Abraham a um debate, pois apesar de admitir os elementos violentos e criminosos dos pensamentos depressivos, considerava que o melancólico perdera algo que não sabe o que é e que se sente na obrigação de fazer publicamente o que é vedado a qualquer um em circunstâncias normais. Contudo, para Abraham é inaceitável que as auto acusações sejam oriundas de hetero acusações. Numa tentativa de resumir esta etapa do pensamento freudiano, Lacan afirma que "a melancolia é o triunfo do objeto" e para compreendê-lo, é preciso distinguir a suspensão do desejo neurótico direcionado à imagem especular, o ideal do eu e o objeto mais primitivo - Das Ding, o objeto a, ou a Coisa, como queiram. Na verdade é nada mais, nada menos que o que restou do Real do corpo, ou da carne, que não se deixou aprisionar pelo significante.
O melancólico, de modo diferente do neurótico não se deixa capturar em sua imagem de objeto narcísico, mas vai situar-se próximo ao puro desejo de morte.
O mecanismo dominante na perversão é a Verleugnung, ou seja, a recusa. O falo é substituído pelo objeto fetiche, a castração desmentida e o sujeito pode escolher uma mulher como objeto sexual por ela possuir supostamente, o falo. A partir do fetichismo estabelece-se a clivagem do eu - o fetiche presentifica no nível intrapsíquico, dois componentes inconciliáveis, a saber, o reconhecimento da ausência do pênis na mulher e a recusa da realidade desse reconhecimento. Esses dois componentes co-existem o tempo todo sem jamais se influenciarem reciprocamente, mas em sua relação com a dialética do desejo, a situação se põe assim, percebendo o pai como concorrente fálico, a criança percebe duas ordens de realidade para interrogar o curso do seu desejo. Por um lado, percebe que não é objeto exclusivo do desejo da mãe e por outro, percebe que a mãe é faltante. É em função disso, que o pai vai inscrever-se no registro da rivalidade imaginária o que contribuirá para determinar dois traços marcantes da estrutura, o desafio e a transgressão. A figura paterna representa o perigo, o proibido, e sugere um estranho gozo do qual a criança é excluída. Numa etapa posterior favorável, a falta seria simbolizada e a castração da mãe assegurada, neste caso, a simbolização da falta não ocorre e permite a negação da castração da mãe. Baseada na negação do desejo da mãe pelo pai, no que se refere à diferença dos sexos, o perverso acaba por condenar-se a viver a insuportável aflição do terror à castração. A única saída do perverso é desafiar a lei, transgredindo-a.
A relação do perverso com as mulheres é, segundo Joel D’Or, (1991:108), "sintomaticamente estereotipada".
Seria Louis Althusser um perverso?
Louis amava Helène "como se ama um homem", segundo ele próprio. De maneira estereotipada? Ele também, como Helène dizia-se incapaz de amar e insensível ao amor impessoal que despertava nos outros, homens ou mulheres. Ele o atribuía ao amor impessoal que lhe dedicava sua mãe, "traspassando-o" para atingir um outro (lui/ Louis), um morto. A situação era vivida por ele como a própria castração, que em muitas circunstâncias se atualiza, como quando a mãe instiga o pai para que puxe o prepúcio do menino para corrigir uma fimose que o atormentava.
Porém, Louis achava a vida de sua mãe muito sofrida e costumava auxilia-la nos serviços domésticos para aliviá-la, tornando-se, no seu dizer, um verdadeiro "homenzinho do lar". A vida de Louis era a tentativa frustrada de realizar os desejos da mãe e não conseguia dar a Helène, a quem confessa amar sem reservas, algo que expressava como "tudo" o que ela lhe pedia como o que lhe permitisse sair da angústia de ser só e de ser uma megera, de ser, enfim, capaz de despertar o amor de alguém. A relação conflituosa e conturbada que se instalou entre Louis e Helène era entremeada das tentativas de seduzi-la e provocar-lhe o medo para evitar o perigo de "soçobrar em suas mãos". Por isso insistia em apresentar-lhe sempre, as mulheres que estava empenhado em conquistar, para receber sua aprovação - a aprovação de uma boa mãe (provavelmente a sua). Mas isso era um tormento para Helène que nunca tivera uma boa mãe. Ela bem que tentava e chegou até a aceitar que ele tivesse casos, contando que não a fizesse saber. Isso, contudo, era o que ele não dispensava, esse olhar terceiro que assegura o gozo perverso. O testemunho de Helène era indispensável ao gozo que daí advinha, inclusive com as crises de raiva que lhe costumava provocar e que produziam insuportável sentimento de culpa por confirmar a megera que tanto lutava para negar. Não satisfeito com essas provocações, passou a intimida-la criando situações em que inventava que iria assaltar uma loja ou um banco e ensaiava algumas tentativas, o que a deixava desesperada. "...eu a fazia viver na insegurança e no terror mais absoluto"...(1993:140), afirma ele. E adiante acrescenta, "não se pode tratar um ser humano desta maneira", quando percebe o medo que passa a sentir de ser capaz de matá-la com as suas provocações que qualifica de "dementes". Essas práticas provocativas e chantagistas eram usadas ainda com o seu analista que acabou, segundo ele, atendendo também Helène, o que motivou por parte de seus amigos, por ocasião do crime, de comentar que a análise deles era "um círculo infernal", "um impasse total" ou um "ménage a trois". Louis gaba-se de pressionar o Dr. Etienne, seu analista e chantagea-lo com uma "insistência suicida". Ele demonstra ter muita consciência de sua capacidade de fazer com que os outros fossem seduzidos, para provoca-los e reduzi-los à sua mercê.
Quanto ao analista, que como Lacan atendia pessoas com íntimas relações e até familiares, ao mesmo tempo, ele considerava Louis e Hélène como "casos atípicos" e suas relações também "relações atípicas", por que a análise deles não poderia ser atípica?
Louis Althusser descreve detalhadamente como se comprazia ao ver no rosto de Hélène o desespero e a morte. "era aterrador e deslumbrante", diz ele, "ver a alternância do seu rosto, às vezes aberto, grave macio como um homem"... "subitamente fechado, surdo e mudo para sempre". É curioso observar que o rosto aberto, macio lhe lembrasse um rosto de homem.
O próprio Althusser relata que criava para seus amigos uma Hélène terrível para depois desculpar-se e desculpá-la. As pessoas que a conheciam tornavam-se amigas por elas mesmas e os amigos dele que se aventuravam a uma aproximação, percebiam uma mulher "inteligente, intuitiva, corajosa e generosa" (1993: 148).
Desse jogo com Hélène ele testava seu receio de não ser homem capaz de amar uma mulher.
Foi com os escritos de Sacha Nacht que descobriu suas imposturas profissionais, sua capacidade para escrever sobre um autor ou livro que desconhecia e a sensibilidade para a conjuntura devido às situações de constantes conflitos aos quais vivia sujeito. No entanto, nunca conseguiu fazer com os textos de Freud o que fez com os de Sacha Nacht.
A respeito de Lacan, Althsusser comenta que teve vários encontros com ele e por vezes sentiu-se fazendo com ele o papel de "pai do pai", como fazia com seus amigos, principalmente quando Lacan passou maus momentos e jantaram juntos, "...ele me contava o diabo a quatro sobre alguns de seus analisandos e sobretudo sobre suas mulheres, que também analisava, ao mesmo tempo que analisava os maridos"(1993: 166). Foi inclusive Althusser quem ofereceu a Lacan a École Normal para fazer seus seminários das 4as. Feiras ao meio dia, quando Lacan foi expulso de Saint-Anne. Lacan acabaria perdendo este espaço porque seus ouvintes inundavam de fumaça o ambiente da sala e inclusive a biblioteca.
Althusser refere um episódio com Lacan que o procurou em seus aposentos na École, numa manhã muito cedo. Estava desesperado devido ao suicídio de Sebag, um cliente que teria deixado a análise por iniciativa do próprio Lacan porque Sebag se apaixonara por Judith, filha do seu analista que considerou o impasse intransponível. Interrompeu a análise, mas continuou vendo diariamente o cliente e se colocando à sua disposição a qualquer hora. Depois do suicídio, Lacan vagou por toda Paria para "justificar-se" perante os amigos e colegas.
Nos dias que antecederam à morte de Hélène, Louis considera terrível a situação vivida pelos dois. Ele tinha vindo de novo internamento e ela não conseguia mais suportar as depressões do marido e sua solidão durante o tempo em que ele permanecia internado. Incomodava-a que os muitos amigos que ligavam para saber notícias dele nem se incomodavam de perguntar com ela estava.
Saindo deste penúltimo internamento, o último antes dos episódios cruciais trágicos, voltaram à França por 8 a 10 dias e de lá retornaram para viver o que ele qualificou de um "inferno sem trégua". Louis declara não saber que regime impôs à companheira para que ela transtornada, decidisse abandoná-lo porque não conseguia mais viver com um "monstro". Hélène não lhe dirigia a palavra, levantava-se cedo e partia em busca de algum lugar para ficar, batendo a porta e só voltando para dormir. Isso o alucinava. Após alguns dias ela falou em suicídio. Ele não acreditou e achou que poderia resolver a situação deixando o tempo passar. Um dia, finalmente, ela pede para que ele a mate. Nesse ponto, estavam os dois isolados e negavam-se a atender até o telefone. Amigos do casal culparam o analista por não ter interferido, mas não é verdade. O analista insistiu na hospitalização de Louis, mas Hélène pediu mais três dias. O analista acatou, embora depois se arrependesse e tentasse comunicar-se mandando uma correspondência que o correio atrasou, pedindo que ela lhe telefonasse.
Num domingo à 09h, após "uma noite impenetrável" de acordo com Louis, ele faz a seguinte descrição: ..."estava aos pés da cama de Hélène, de roupão, Hélène deitada à minha frente e eu continuando a lhe massagear o pescoço com a sensação de que meus antebraços estavam muito doloridos. Compreendi depois pela imobilidade dos olhos e daquela pobre pontinha de língua entre os dentes e os lábios que ela estava morta..."(1993:224).
E continua: "Estrangulei minha mulher, que era tudo para mim, durante uma crise intensa e imprevisível de confusão mental, em novembro de 1980, ela que me amava a ponto de querer apenas morrer, na falta de poder viver, e talvez eu tenha, em minha confusão, e em minha inconsciência, "prestado esse serviço", do qual ela não se defendeu mas do qual morreu"(1993: 11).
O desejo de Althusser de sair do anonimato após o crime, o faz escrever, não como se "afastasse a pedra sepulcral da impronúncia", mas para dar conhecimento público de tudo que sobre esse ato se pudesse saber e para ter a certeza de que nada mais lhe perguntariam e obter a glória de dizer que foi ele mesmo quem escreveu e não permitir brechas para mais nada que se pudesse acrescentar.
BIBLIOGRAFIA
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Endereço para correspondência
Av. ACM, 1034 s/121C. CEP - 41825- 000. Pituba - Salvador/ Bahia.
E-mail:traduzir@compos.com.br
* Psicanalista. Sócia Efetiva do Círculo Psicanalítico da Bahia.