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Cógito
Print version ISSN 1519-9479
Cogito vol.14 Salvador Nov. 2013
EDITORIAL
Muito cedo, descobri o prazer de dar asas à imaginação através da música e da escrita. Mal podia, naqueles tempos, imaginar que esse prazer viesse do fato de que, enquanto “falasser”, sujeito de linguagem, esse fosse o caminho natural da própria vida. Explorei também outros caminhos nas veredas da criação, como desenhar, pintar, compor e me “apropriar” da criação de outros através do olhar, tornando um pouco minhas suas formas de expressão, por identificação e admiração, usando suas obras como objeto para meu próprio gozo. Com Freud e a Psicanálise, descubro nesse prazer infantil a finalidade da criação, seja ela sob a forma da imagem ou da escrita.
O cinema, invenção diabólica e genial do homem, reúne todas essas artes. Para além do texto, a imagem – visual e sonora – nos transporta, nos revela e nos confronta com nossos desejos e gozos; realiza a ideia de que o eu é o outro, e o outro é o eu, quando nos coloca na pele dos personagens.
Talvez por isso, o cinema tenha evoluído e ocupado um espaço cada vez maior na vida das pessoas, suscitando, inclusive, a emergência de novos discursos. Além de permitir ver, rever, imaginar, sentir, sofrer, gozar, enfim, viver o que nunca viveríamos, os filmes tornaram-se fonte e instrumento de entendimento e conhecimento da própria subjetividade em seus desejos e gozos, possíveis e impossíveis.
A psicanálise, sempre pronta a lançar mão da sabedoria dos artistas, poetas, mentes criativas, não poderia deixar de explorar esse veio precioso que nos revela nuances que só os artistas podem alcançar.
Este número da Cógito pretende privilegiar essa articulação tão sutil entre o saber captado e transmitido nas telas do cinema e o saber elaborado a partir da formulação psicanalítica do inconsciente: dois saberes sobre o ser falante que, a partir de sua inventividade, sempre encontra novas formas de cunhar prazeres, satisfazer sua busca de respostas e transmitir seu modo de escrever aquilo que ainda não foi escrito.
Vocês verão, ao ler os artigos, a possibilidade de diferentes leituras de um mesmo filme, de diferentes abordagens. Isidoro Vegh nos diz que um texto vale pelos textos que ele deflagra, provoca. Teremos a oportunidade nesta Cógito de verificar que um filme, como texto, pode gerar outros textos. Alguns, mais esquemáticos, produzidos a título de comentários orais que não se propunham à publicação acadêmica, foram colocados ao lado de outros muito bem elaborados e mais adequados às normas das publicações científicas. Consideramos todos interessantes, válidos e importantes enquanto fonte de reflexão e também do prazer de ler.
Por isso, agradecemos aos autores que, a partir dos textos cinematográficos, tratam em seus textos da arte e do saber sobre a alma humana. Que o prazer em brincar ou trabalhar – o que dá no mesmo – com textos, que sempre me ocupou, possa contagiar o leitor a produzir seus textos particulares. É o desejo que me move.
Cibele Prado Barbieri