Em um mundo de tantos desafios, onde não se consegue realizar todas as necessidades e desejos, pode-se dizer que todas as pessoas sofrem de frustração. Das situações que se iniciam na infância, nos primeiros momentos de vida, a frustração acompanhará os indivíduos em suas diferentes fases do desenvolvimento (Jeronimus & Laceulle, 2017). Isso quer dizer que crianças e adolescentes que são mais facilmente frustrados, também acabam por fazer uma leitura mais estressante de suas vivências, de maior hostilidade e rejeição (Laceulle et al., 2015), com impacto em sua vida adulta. Nesse sentido, a capacidade de se lidar com a frustração passa a ser uma competência que precisa ser desenvolvida, já que a frustração pode trazer consequências em diferentes campos da vida do indivíduo (Jahan & Khan, 2018; Jeronimus & Laceulle, 2017).
Em uma perspectiva funcional da frustração, esta acaba por influenciar a forma como os indivíduos interagem no mundo e sua tomada de decisão (Jeronimus & Laceulle, 2017). A frustração gera diferentes reações, exigindo do indivíduo que seus interesses sejam ajustados, assim como suas interações, levando a respostas comportamentais que podem ser de defesa ou ataque. Para alcançar um objetivo ou se realizar um desejo, a frustração faz com que o indivíduo se mova, que busque por resolver o que o impede de se realizar.
Ocorre que a causa dessa frustração pode se dar por fatores externos (fatores ambientais, que afetam o indivíduo externamente) ou internos (fatores pessoais do próprio indivíduo que causam a frustração). Tripathy (2019) considera que os internos se vinculam a desejos e objetivos conflitantes, moralidade individual, falta de persistência e sinceridade nos esforços. Nesse sentido, diferentes são as reações possíveis para se lidar com os obstáculos, que dependerão da natureza do indivíduo e de suas diferentes experiências ao longo de sua vida.
As pessoas são equipadas com um potencial de tolerância aos obstáculos (Salazar, 2004), que podem, inclusive, aparecer no decorrer da vida, o que representaria uma característica adaptativa. Segundo Lykken (1999), a espécie humana é extraordinariamente adaptável, podendo acostumar-se as novas situações e circunstâncias rapidamente, mesmo com a facilidade ou não de adaptação ao sucesso e ao fracasso advindo das diferenças individuais de origem genética, e este potencial seria a característica adaptativa.
Nesse sentido, compreender esses processos passa a ter um papel relevante, tanto para se identificar os diferentes tipos de reações à frustração, quanto para se compreender as vivências de sucesso e fracassos dos indivíduos (Rosenzweig, 1945). Até porque aqueles que vivenciam problemas psicológicos da frustração, apresentam diferentes possibilidades de responder a ela (Sears, 1941). Ao mesmo tempo que alguns terão tolerância a ponto de não causarem danos a si ou à sociedade (reações simples), outros se tornam violentos e agressivos (Tripathy, 2019) com consequências individuais e sociais em suas diferentes relações.
Diferentes teorias foram elaboradas e pesquisas empíricas foram desenvolvidas para tentar explicar e compreender os comportamentos de frustração e agressão que vão desde a visão psicanalítica à comportamental, sendo, atualmente, a visão das ciências sociais a mais proeminente. A relação frustração-agressão de fato é reconhecida, embora a agressão seja apenas uma das possíveis reações que o indivíduo pode apresentar quando frustrado (Berkowitz, 1962; 1989; 1990; 1993; 1998; 2001), com uma visão cognitivista do processo. Ademais, diferentes relações da frustração têm sido estabelecidas com outras variáveis, como sua relação com o desenvolvimento de psicopatologias (Caspi et al., 2016; Jeronimus et al., 2016; Kapur, 2021), ao comportamento raivoso e abuso de substâncias em adolescentes (Jeronimus et al., 2017) e o efeito na saúde mental (Alekseev & Shchelkova, 2023; Satija, 2016), os traços patológicos, problemas com o sono, problemas atencionais, ao Transtorno do Espectro Autista e diferentes outras desordens comportamentais (Jeronimus & Laceulle, 2017; Tomcheva & Arabadzhiev, 2021), no contexto das organizações (Keenan & Newton,1984), no contexto escolar (Bera, 2018; Kharmalki & Sungoh, 2019), entre outros. Contudo, a despeito da importância de se estudar esse fenômeno (Faiad et al., 2016), um dos desafios continua sendo a sua medida.
Medidas de frustração
A medida desse construto ganhou maior evidência a partir da proposta de Rosenzweig (1945) ao apresentar o teste Picture Frustration Test – PFT. O instrumento foi considerado um gold standard no psicodiagnóstico e foi utilizado por décadas em diferentes países (Kuznetsova et al., 2023). A partir de 24 figuras, espera-se que o indivíduo escreva a resposta que melhor se aproxima à sua reação. Rosenzweig (1945) considera que pelo método de associação de palavras o PFT é um teste projetivo, dado o tipo de estímulo pictórico que é oferecido ao sujeito testado, bem como a identificação com uma figura humana com a qual o indivíduo é encorajado a identificar-se, denominando-se o método como método de associação de figuras. Contudo, alguns autores o consideram um teste semiprojetivo (Nick, n.d.; Rosenzweig, 1945). A partir das respostas verbais de cada indivíduo, o teste é categorizado baseando-se nas categorias de Bloqueio do Ego e do Superego, emergindo doze possíveis codificações (Rosenzweig, 1945).
Entre as propostas de inovação de categorização do PFT, Kuznetsova et al. (2023) buscaram automatizar as categorias propostas por Rosenzweig, a partir de um algoritmo criado para classificar automaticamente as reações à frustração encontradas em postagens e comentários em redes sociais da Rússia (Pikabu.ru). Para isso, aplicou um método e inteligência artificial com treinamento prévio nas diferentes categorias, a partir de um corpus de textual extraído. Os resultados experimentais demonstram que as reações E, E' e M propostas por Rosenzweig podem ser detectadas de forma confiável, com razoável precisão nas redes. Na análise de 1943 postagens e comentários, foram identificadas 3.490 respostas a frustração, indicando 1.579 respostas E; 200 e; 390 E'; 64 I; 129 i; 79 I'; 147 M; 41 m e 201 M' 201. Contudo, a linguagem usada para expressar uma reação específica à frustração não está relacionada ao conteúdo da situação. Os autores indicam que existe um mecanismo universal de expressões ou padrões de discurso nas figuras, assim, espera-se que o indivíduo escreva a resposta que melhor se aproxima à sua reação. Rosenzweig (1945) considera que pelo método de associação de palavras o PFT é um teste projetivo, dado o tipo de estímulo pictórico que é oferecido ao sujeito testado, bem como a identificação com uma figura humana com a qual o indivíduo é encorajado a identificar-se, denominando-se o método como método de associação de figuras. Contudo, alguns autores o consideram um teste semiprojetivo tornando possível essa identificação das reações.
Criado por um grupo de pesquisadores liderados pelo Dr Carlo Vetere e Dr Filippo Aschierie, um novo método de pontuação colaborativa intitulado COSMO propõe a redefinição do sistema de codificação do Picture Frustration Test de Rosenzweig. Essa proposta analisa o padrão de resposta mais comum entre as reações das 24 situações, baseando-se em uma análise sobre a habilidade do indivíduo em resolver o problema e a forma como essa raiva é gerenciada. O código categórico se estabelece por meio de quatro quadrantes (Q1, Q2, Q3 e Q4) e o código dimensional descrevem o nível de funcionamento da personalidade (LPF). Essa proposta, ainda não publicada, até o momento foi apresentada por uma primeira formação oferecida pelo Therapeutic Assessment Institute.
Tais pesquisas mostram que, apesar do teste PFT não se mostrar favorável para uso em avaliações psicológicas no Brasil e apresentar diversas limitações para cultura brasileira (Moura & Pasquali, 2006; Moura, 2004), o teste ainda tem sido utilizado em diferentes países. Ainda na busca por se ampliar outras medidas projetivas/expressivas que se proponham a medir a frustração, outros instrumentos foram analisados, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 Testes projetivos que se propõem a medir a frustração
| Testes | Análise da frustração |
|---|---|
| House-Tree-Person HTP (Buck, 2003) | Não avalia diretamente a frustração, mas no conjunto do desenho, pode apresentar dados que, combinados, podem avaliá-la. Tem-se como exemplo desenhos com bloqueios afetivos, desenhos relacionados à dificuldade de administrar conflitos, ceticismo, elementos persecutórios, dentre outros. |
| Ômega TPO (Villas-Boas Filho, n.d.) | A partir da análise formal e de conteúdo (O Herói, Ambiente, Interação e desfecho, Síntese da Interpretação), a frustração pode ser avaliada pela relação entre herói, obstáculo e objeto. |
| Palográfico (Alves & Esteves, 2004) | Não há indicativo direto, embora possa ser avaliado por baixa energia (força); palos muito pequenos (tamanho); qualidade da produção; indícios de depressão, além de fatores intrapunitivos e extrapunitivos. |
| PMK (Mira, 2002) | Junção de dois fatores (tônus baixo e heteroagressividade), podendo ser avaliado também no item agressividade (heteroagressividade) com intratensão. |
| Rorschach (Vaz, 2006) | Não há indicativo direto, embora possa ser verificado por dois aspectos: SC <CS + S; conteúdos disfóricos (acromático e sombreado), aliados ao tipo de controle do indivíduo (interno ou externo) e disforia. |
| PFT Rosenzweig (Nick, n.d.) | Avalia a resistência à frustração, por meio do tipo e direção da agressão, consequentes deste processo. |
| SZONDI (Mélon, 2007) | intolerância à frustração com propensão à raiva (e-). |
| TAT (Murray, 1995) | Não há indicativo direto, mas pode apresentar esta análise no item cinco, dominância (Média total 37, Pontos 16-60), constrangimento, autoagressão (estados interiores e emoções) e abatimento. |
| Wartegg (Kfouri, 1999) | Avaliação da frustração pelo campo cinco do teste, relacionado à energia vital e transposição de obstáculo. Propõe-se a avaliação pelo campo seis do teste, como forma de avaliar como o indivíduo utiliza seu potencial de superação de problemas. |
| Zulliger (Vaz, 1998) | Respostas com KF + K > FK, protocolo com Anatomia > 14%, protocolo com apenas k, ausência de detalhes oligofrênicos (DO). Não especifica se há composição de todas essas análises para definição do construto frustração. |
Com referência a essas técnicas, observa-se que dentre os questionamentos sobre a avaliação da frustração encontra-se, primeiramente, o fato de que quatro dos dez testes apresentados, não são aceitos na listagem do CFP (Ômega, Wartegg, SZONDI e Rosenzweig), segundo atualização em 2023. Há de se questionar, contudo, até que ponto os instrumentos referenciados não avaliam necessariamente a frustração, mas, sim, fatores como a dinâmica da personalidade, a resistência à fadiga, o tônus vital (energia, elação, depressão) e, não, a frustração. Assim, o único que avalia reação à frustração projetivo é o Picture Frustration Test (PFT).
Quanto a propostas de medidas psicométricas para avaliação da frustração, Dixit e Srivastava (2004) construíram a Reactions to Frustratio Scale (RFS), que se baseia em quatro reações: agressão, ressignificação, fixação e regressão. A escala é composta por 40 itens. A RFS foi utilizada em diferentes contextos de pesquisa, como na área de saúde para avaliação de stress e reação à frustração de adolescentes (Kenchappanavar, 2012), de pessoas idosas (Gaur, 2009), em pacientes com câncer de mama (Sachdeva, 2016), em estudantes do ensino médio em comparação a seus desempenhos (Tripathy, 2019), em professores (Varghese & John, 2020), no esporte, na medida do nível de reação à frustração (Sningh & Poonia, 2020).
Para um uso clínico específico, Harrington (2005) propôs o instrumento Frustration Discomfort Scale (FDS), baseado na concepção de que a crença de intolerância à frustração está centrada na Terapia Comportamental Racional-Emotiva (REBT). A intolerância à frustração é compreendida como a recusa em se aceitar a diferença entre o desejo e a realidade de não se ter o que espera (Tripaldi et al., 2018). A escala propõe quatro dimensões: intolerância emocional, entitlement, envolvendo a intolerância à injustiça, intolerância ao desconforto causado por dificuldades e aborrecimentos e intolerância aos objetivos de realização frustrados. O instrumento foi construído com base na literatura sobre intolerância à frustração da REBT. O instrumento é composto por 74 itens, avaliados com base em uma escala de cinco pontos e uma versão reduzida de 28 itens. A escala apresentou boas evidências de validade no contexto clínico, apesar da proposta teórica não ter sido totalmente replicada. Contudo, os estudos indicaram a distinção entre intolerância à frustração e crenças de autoestima (Harrington, 2006) como contribuição para eficácia terapêutica.
No Brasil, Faiad (Moura, 2004) propôs, em sua dissertação de mestrado, uma versão objetiva do TRF de Rosenzweig denominado de Teste Objetivo de Reação à Frustração – TORF. Ao invés do indivíduo trazer à tona possibilidades de respostas verbais constitutivas de seu modo de agir, o instrumento apresentou frases que possibilitassem a escolha mais próxima a essas reações. Em 2008 propôs a construção de duas versões de um Teste Brasileiro de Reação a Frustração – uma projetiva e uma objetiva. Embora com situações adaptadas para o Brasil e com estudos iniciais de evidência de validade para a versão objetiva (Faiad et al., 2016), a identificação da essência das possíveis reações do indivíduo, retomariam a necessidade de se reafirmar a estrutura proposta nos testes projetivos.
Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo apresentar a construção do Teste Brasileiro de Resistência à Frustração Projetivo – TBRF-P. A construção desse instrumento tem como base os estímulos de desenhos propostos no teste TRF de Rosenzweig, ou seja, estímulos de apercepção temática, além de uma proposta de codificação.
Defnição construtiva
Não há, na literatura, um conceito único de frustração, embora essa seja usualmente definida como um fenômeno que ocorre quando um indivíduo é impedido de satisfazer uma necessidade ou um desejo, dado a existência de algum tipo de obstáculo ou problema, e que ocasiona algum tipo de reação afetiva, sendo denominada de reação à frustração ou resistência à frustração – uma reação afetiva negativa.
Definição operacional
A reação afetiva à frustração se dará por onze diferentes reações comportamentais que refletem a busca por uma solução do problema que é apresentado ao indivíduo.
Processo de construção dos itens
O procedimento inicial para elaboração do teste constou de um brainstorming, realizado com profissionais e estudantes da área de Psicologia, para levantamento de possíveis acontecimentos do dia a dia, considerados frustrantes. Participaram desta fase dois doutores, cinco estudantes de mestrado e doutorado e dois estudantes de graduação em Psicologia. Além deste procedimento foi analisado o conteúdo do teste PFT.
Os dados levantados contaram com a elaboração de uma listagem de 60 sessenta situações consideradas frustrantes que, após analisadas por um especialista no teste PFT, resultaram em 31 situações para composição do instrumento. Os critérios previamente definidos para escolha dessas situações foram: (a) situações que retratassem a realidade do dia-a-dia de um brasileiro; (b) situações que atualizassem as propostas de Rosenzweig no teste PFT; (c) situações que possibilitassem diferentes tipos de reações de um indivíduo, quando frustrado; (d) situações que descrevessem um diálogo entre duas ou mais pessoas, sendo que uma delas estaria verbalizando algo e a outra deveria, necessariamente, reagir a esta verbalização.
Definidas as 31 situações, foram descritos cenários a serem desenhados, bem como atribuídas frases a um dos personagens envolvido na situação considerada frustrante, como forma de representar, o mais próximo da realidade, cada uma das situações escolhidas. Os desenhos foram definidos como a base de estímulo do teste. A definição de desenhos seguiu a orientação de Rosenzweig (1945) de que os estímulos deveriam variar quanto ao sexo, idade e outras características para permitir diferentes reações, das sugestões propostas por Moura e Pasquali (2006) e da agenda de pesquisa elaborada por Moura (2004). Definidas as situações e frases, as mesmas foram repassadas a um desenhista, para que o mesmo pudesse representá-las, com a orientação de não atribuir feições ou expressões aos personagens das situações propostas. As situações definidas para o instrumento são descritas na Tabela 2 e foram definidas para comporem o TRFP.
Tabela 2 Identificação das 31 situações do TRFP
| Situação | Cenário da situação | Descrição |
|---|---|---|
| 1 | Uma festa | Um homem bêbado derrama sua bebida no vestido de uma mulher. |
| 2 | Porta da garagem de uma casa | O carro de um homem quebra na porta da garagem de um outro homem e o mesmo precisa sair com o carro. |
| 3 | Lugar qualquer | Um homem devolve um CD emprestado que foi todo arranhado por seu filho. |
| 4 | Supermercado | Um funcionário do supermercado está arrumando as garrafas na prateleira e um consumidor, ao pegar uma delas, derruba várias outras. |
| 5 | Lugar qualquer | Uma mulher fala mal de uma senhora para sua amiga e descobre que está falando mal da mãe dela. |
| 6 | Fila de caixa | Um rapaz fura a fila sem pedir permissão. |
| 7 | Rua | Uma mulher joga a água suja de um balde fora, na calçada, e acerta um rapaz. |
| 8 | Lugar qualquer | Uma mulher flagra um casal falando mal dela. |
| 9 | Lugar qualquer | Um homem está de saída para o aeroporto e, quando chega no carro que vai levá-lo ao aeroporto, o pneu está furado. |
| 10 | Consultório médico | Uma mulher aguarda seu médico há uma hora e ele liga dizendo que surgiu uma emergência e não irá atendê-la. |
| 11 | Banco | O caixa eletrônico sai do ar, após meia hora na fila de espera. |
| 12 | Pista | Em uma pista com velocidade permitida de 80 Km/h, um carro se depara com um carro que está andando a 40Km/h. |
| 13 | Escritório | O chefe surpreende seu subordinado tirando um cochilo e com os pés em cima da mesa. |
| 14 | Lugar qualquer | Um homem conta a seu amigo que a namorada recebeu flores de outro. |
| 15 | Sofá da sala | A mulher está com seu marido, conversando, e ele a chama pelo nome da secretaria. |
| 16 | Fila do cinema | No momento de comprar o ingresso, o casal descobre que estão esgotados. |
| 17 | Restaurante | Após solicitar quatro diferentes pedidos de um cardápio, o cliente descobre que estão todos em falta. |
| 18 | Apartamento | Uma festa ocorre no andar de cima de um apartamento, com um som bem alto. |
| 19 | Trânsito | Uma mulher é flagrada por um guarda de trânsito, usando o celular, enquanto dirige. |
| 20 | Sala com computador | Uma pessoa tropeça no fio do computador e desliga a máquina, sem que a pessoa que está digitando tenha salvado o documento. |
| 21 | Loja de telefonia | Uma pessoa leva o celular, pela quarta vez ao conserto, e o mesmo continua estragado. |
| 22 | Sala de aula | Os alunos criticam o professor por ser muito exigente com a turma. |
| 23 | Em casa, ao telefone | Ao tentar utilizar o cartão de crédito, sem êxito, a mulher liga para Central de Atendimento e descobre que foi um erro da operadora. |
| 24 | Blitz | Um guarda avisa ao motorista que o multará com a penalidade máxima, apesar da tentativa de explicação do motorista. |
| 25 | Calçada | Em um dia de chuva, uma mulher é toda molhada quando um carro passa em uma poça d’água. |
| 26 | Cinema | O homem perde o ingresso do cinema na porta de entrada. |
| 27 | Lugar qualquer | Um amigo leva o celular do outro trocado. |
| 28 | Xerox (Copiadora) | Um rapaz chega apressado, para buscar uma xerox que ele solicitou, mas elas não estão prontas. |
| 29 | Lugar qualquer | Uma menina avisa a sua amiga que o namorado dela convidou-a para sair, quando ela estava viajando. |
| 30 | Lugar qualquer | O namorado abraça a ex-namorada e apresenta-a para a atual namorada. |
| 31 | Conferência | O palestrante, após finalizar sua exposição, é considerado preconceituoso por um dos ouvintes que o critica em voz alta. |
A ameaça direta caracteriza situações em que o indivíduo está diretamente envolvido na situação frustrante e a indireta tem como foco a situação frustrante, e não, o indivíduo. A proposta de solução do problema será indicada ao próprio indivíduo, a outros ou ao meio externo. Conforme indicado por Faiad et al. (2016), enquanto Rosenzweig se propôs a avaliar para onde a agressão é direcionada, no instrumento proposto, tenta-se identificar como se dá a solução do problema. O foco do instrumento estará na forma com que o indivíduo reage à situação, tendo-se como base sua história de vida, suas experiências, a intensidade com que a situação atinge o indivíduo. Para isso, partiu-se para a construção de um teste projetivo que permita que o indivíduo se expresse.
Instrumento inicial
Na identificação de que as figuras pictóricas do PFT não se adequavam à realidade brasileira (Faiad et al., 2016), o instrumento utilizou como base o mesmo formato pictórico, embora com situações construídas a partir do cotidiano. A versão inicial do instrumento, intitulado de Teste Brasileiro de Reação à Frustração Projetivo – TBRFP, constitui-se por 31 desenhos. Cada desenho apresenta o desenho de um ambiente ou de uma situação onde há dois ou mais pessoas que se encontram em situações consideradas frustrantes.
Para cada uma das 31 situações propostas, um personagem se dirige a outro, verbalizando o que está ocorrendo na situação. A descrição sempre será feita pelo personagem da esquerda, conforme exemplo da Figura 1. A proposta do instrumento é que o respondente se coloque no lugar daquele que precisa responder àquela situação e escreva como reagiria, que resposta daria naquele caso. Essa resposta é anotada pelo respondente no quadrinho em branco apresentado em cada situação (versão lápis-papel) ou digitada na versão online. A aplicação em pessoas analfabetas permite que o aplicador escreva a reação da pessoa avaliada.
Análise teórica dos itens
Os desenhos e frases definidos para cada uma das 31 situações passaram por duas análises: uma análise de juízes e uma análise semântica. Para análise de juízes, com o objetivo de avaliar a pertinência da proposta de cada uma das situações, os desenhos passaram por uma avaliação crítica de 7 especialistas, conhecedores da proposta de Rosenzweig, e que trabalham na área de avaliação psicológica, sendo 2 doutores, 4 mestres e 1 graduando em Psicologia. Os critérios de avaliação foram: (a) adequação do desenho à situação proposta; (b) qualidade dos traços; (c) avaliação dos personagens da situação quanto à vestimenta, não expressão de sentimentos e traços da população brasileira; (d) adequação das frases na situação proposta.
A análise semântica das frases teve como objetivo avaliar se as frases propostas nas situações eram compreensíveis e adequadas às situações propostas para cada uma das situações. Esta análise foi realizada com 10 participantes, todos leigos da área, apresentando desde o nível fundamental incompleto ao nível superior completo. Houve também a análise das frases por um especialista em Língua Portuguesa.
Resultados e Discussão
Após a análise de juízes, observou-se a necessidade de quatro modificações: (a) a troca da terminologia personagens por pessoas, no momento da descrição do teste; (b) a padronização de que todo o início de diálogo deveria ser feito pelo personagem à esquerda do desenho, o que resultou na modificação de 4 das 31 situações apresentadas (itens 4, 6, 8 e 9), ou seja, esses itens foram redesenhados, invertendo o personagem que verbalizava para o canto esquerdo do desenho; (c) houve adequação de dois personagens, tendo sido redesenhados para atenderem ao critério de representatividade da população brasileira; isso ocorreu nas situações 19 (foi modificada a vestimenta do guarda para um uniforme similar à polícia brasileira) e 12 (os carros foram modificados para carros similares aos nacionais brasileiros) e (d) todos os personagens do sexo feminino foram redesenhados, retirando traços físicos volumosos (por exemplo, seios), para que o foco estivesse na situação, e não no personagem.
A análise semântica demandou a modificação de 2 itens, após análise da concordância da frase. Não houve modificações por parte da análise de pertinência das frases com as situações propostas.
Instrumento final
O instrumento final constou com a seguinte descrição: Em cada uma das situações propostas, independente se está na esquerda ou direita, um personagem pronuncia algo para a(s) próxima(s) descrevendo o que está ocorrendo na situação. Espera-se que o respondente do teste coloque-se no lugar da pessoa que deve responder à primeira, utilizando um espaço em branco, ou seja, ao colocar-se no lugar da pessoa que responde à situação, o sujeito se apresenta ao responder ou reagir às situações como estas, definindo sua tendência de reação às situações de frustração.
Além das 31 situações, foram incluídas, no instrumento final, instruções iniciais sobre como o teste deve ser preenchido, bem como um campo para preenchimento dos dados sociodemográficos (sexo, idade, estado civil, escolaridade, se trabalha, profissão, tempo de serviço, em anos e cidade) e uma última questão que solicita ao sujeito respondente que o mesmo avalie, em uma escala de 1 a 7, a seguinte situação: “Diante de situações frustrantes em sua vida, geralmente você expressa ou controla sua reação?”
Para codificação do instrumento, as categorias foram renomeadas, redefinidas e complementadas (significado), com base na definição do construto e na literatura revisada. Sendo assim, a partir das respostas emitidas pelo respondente, a análise do teste tem como proposta a seguinte codificação (nome e símbolo correspondentes) das possíveis reações frente à frustração (Categorias do TRF ou Reações à Frustração) identificadas na Tabela 3.
Tabela 3 Identificação e descrição das onze reações a frustração propostas no TRFP
| Tipo de reação à frustração | Descrição da reação |
|---|---|
| (1) Extraceptivo com ênfase no obstáculo – EXT’ | O indivíduo age de forma agressiva, embora enfatize, em sua resposta, que a situação é de fato frustrante. O sujeito se irrita com o objeto ou situação frustrante, não sabe o que fazer. Na resposta, o sujeito indica que fica irritado com o acontecimento e não com a pessoa. Utiliza-se de exclamação, dentre outros artifícios na resposta. É nesta categoria que se encontra referência a palavrões ou sarcasmo na resposta |
| (2) Extraceptivo contra um foco – EXT: | O indivíduo agride uma pessoa ou algo que tenha causado a frustração. Caracteriza-se como a agressão clássica, hostilidade, ou seja, pessoa reage de forma agressiva e deixa isso explícito em sua resposta, seja com ataque verbal contra outro ou algo ou indicando como resposta um comportamento agressivo |
| (3) Extraceptivo com desculpa – EXT | O indivíduo agride o outro quando frustrado, mas tenta se desculpar por estar sendo agressivo, como forma de defender-se de sua agressividade. Ele sabe que está sendo agressivo, desculpa-se por isso para justificar a sua agressividade descrevendo um motivo qualquer |
| (4) Extraceptivo para resolução – ext | O indivíduo busca a solução do problema, contudo, ele exige que alguém tome alguma providência sobre a situação frustrante ou que dê alguma solução à mesma. Ou seja, o objetivo é fazer com que haja uma solução para o problema, mas essa solução será dada por um terceiro |
| (5) Intraceptivo com ênfase no obstáculo – INT’ | O indivíduo se sente responsável pelo ocorrido, enfatizando em sua resposta que ele de fato provocou uma situação frustrante, isto é, o sujeito se irrita consigo por ter provocado a situação. Neste caso há uma autocrítica e o sujeito costuma fazer uso de exclamação, dentre outros artifícios na resposta. É nesta categoria que se encontram referências a palavrões ou sarcasmo na resposta, embora referenciados à própria pessoa; |
| (6) Intraceptivo contra um foco – INT | O indivíduo assume a responsabilidade pela situação frustrante, se desculpa e lamenta pelo ocorrido. A agressão é voltada para ele mesmo (autoagressão clássica), reconhecendo ser ele a causa da situação frustrante |
| (7) Intraceptivo com desculpa – INT | O indivíduo se culpa pelo ocorrido, isto é, reconhece sua responsabilidade e tenta desculpar-se ou explicar-se pelo fato como forma de se defender. Diferencia-se do INT, pois além de desculpar-se a pessoa descreve o motivo que levou a assumir a culpa; |
| (8) Intraceptivo para resolução – int | O indivíduo se propõe a corrigir a situação e ele se compromete a resolver o problema. Ele toma a iniciativa para auxiliar alguém ou a si mesmo e o intuito deve ser a solução; há um comportamento de ser prestativo |
| (9) Impunitivo com ênfase no obstáculo – NAT’ | O indivíduo tenta minimizar a situação frustrante, evitando a agressão. O indivíduo procura ver a situação frustrante como um evento favorável, positivo e providencial |
| (10) Impunitivo contra um foco – NAT | O indivíduo exime o outro, o ambiente ou ele mesmo de qualquer culpa sobre a situação frustrante, evitando a ocorrência de agressão. Ele simplesmente alega que nada aconteceu ou que não há problema, com uma ideia de fuga ou evitação do problema |
| (11) Impunitivo para resolução – nat | O indivíduo afirma não haver frustração e que, de qualquer modo, a situação se resolverá por si mesma. O indivíduo indica que tudo se resolverá com o passar do tempo |
Para cada uma das 31 reações do instrumento, deve-se identificação qual a melhor reação que descreve a resposta do avaliado, como ele resolve a situação. Esse processo se identifica como a codificação do TBRFP. Ao final, o instrumento produz um escore final e uma predominância de reação. Quando foi apresentada sua construção inicial, os estudos de evidência de validade focaram-se na versão objetiva do instrumento (Faiad et al., 2016). Espera-se, assim, que com os avanços das propostas da inteligência artificial e das análises lexicais, se possa propor evidências de validade das reações do TBRFP para que em breve se mostre um instrumento possível de uso em avaliações psicológicas.














