O desenvolvimento humano é um fenômeno que, de acordo com o teórico Urie Bronfenbrenner (1996), estende-se ao longo de toda a vida, ultrapassando gerações. É um processo em que as propriedades do indivíduo e dos ambientes com os quais a pessoa estabelece relações, produzem continuidades e mudanças no decorrer do tempo. Sob essa ótica bioecológica, então, há uma interdependência do indivíduo com o contexto e uma relação direta desse processo com o tempo (Brofenbrenner, 1996). Nessa relação complexa, mudanças qualitativas nos pensamentos e no planejamento do adolescente são observadas, especialmente aquelas que se referem às expectativas futuras (Iovu et al., 2018).
O tempo é parte importante no curso da vida, visto que o desenvolvimento humano se dá em períodos ou fases temporais onde mudanças de diversas ordens acontecem. Entre essas fases está a adolescência, que começa com a puberdade e vai até o momento em que o indivíduo se torna autônomo, embora compreenda-se que essa fase não seja algo acabado (WHO, 2020).
Comum a todas as sociedades e épocas, uma construção cultural, esse período do desenvolvimento envolve aspectos cronológicos ou biológicos e recebe influência das condições sociais, culturais, históricas e psicológicas do indivíduo. Assim é marcado por aspectos biopsicológicos e sociais, que envolvem riscos e vulnerabilidades (Dourado et al., 2020).
Sob a influência dessa complexidade, mudanças qualitativas nos pensamentos e no planejamento do adolescente são observadas, especialmente aquelas que se referem às expectativas futuras (Iovu et al., 2018). As expectativas de futuro dos adolescentes estão relacionadas diretamente ao desenvolvimento positivo e/ou negativo do indivíduo. Atributos psicológicos, tais como autoconfiança e otimismo, estão intimamente relacionados com expectativas de futuro positivas. Os adolescentes com imagem forte sobre si mesmo têm maior propensão na construção de expectativas de futuro mais positivas (McWhirter & McWhirter, 2008).
As expectativas futuras se referem a forma como a pessoa espera que um acontecimento ocorra, são como mapas mentais que cobrem opiniões, preocupações e interesses do indivíduo em relação ao futuro (Şen & Dilmac 2017). É importante ressaltar que a capacidade de orientação para o futuro, adquire maior importância na adolescência, pois é nessa fase da vida que a tarefa evolutiva para a orientação futura ou expectativas para o futuro atinge sua maior relevância (Iovu et al., 2018).
Preocupações com a tomada de decisões sobre o futuro cresce durante a adolescência (Iovu, 2015). Essenciais na construção de um futuro significativo no processo de desenvolvimento, crenças positivas por exemplo, estão associadas a planos de longo prazo, como cursar o ensino superior, ter um trabalho, constituir família (Morais et al., 2021). Adolescentes mais conectados com a família e escola apresentam percepções mais positivas de orientação futura (Sharp et al., 2020). Por outro lado, adolescentes que antecipam de modo negativo o futuro são mais propensos a apresentar comportamento de risco e envolvimento com drogas (Iovu, 2015; Sen, & Dilmac, 2017).
É indiscutível a importância do conhecimento acerca das expectativas de futuro dos adolescentes, uma vez que este pode contribuir com a prática de profissionais que atuam junto a esse público. No entanto, o acesso a essas expectativas requer o domínio de ferramentas sólidas capazes de revelar como estas se apresentam entre os adolescentes. Sánchez-Sandoval e Verdugo (2016) destacam a carência de instrumentos que investiguem além desses domínios, outras categorias de representação mental do sujeito, tais como aspectos individuais, relação e reciprocidade, construtos e valores.
Em se tratando de instrumentos, há classificações diferentes através do tempo na literatura, todavia uma forma ainda bastante difundida na comunidade acadêmica é a classificação sustentada na noção de estilo proposta por Cronbach et al. (1996). Nessa perspectiva, os instrumentos podem ser categorizados em dois estilos, a saber: (a) psicométrico: (nomotético), refere-se a instrumentos cujas interpretações têm foco na aplicação de regras rígidas e gerais em casos individuais e são derivados de estudos de validade, envolvem um estudo analítico que faz a prática da semelhança entre as variáveis. Também tem ênfase no instrumento e na padronização dos estímulos com respostas de caráter fechado; (b) impressionistas (ideográficos): tem interpretações focadas na combinação impressionista sobre dados individuais, aplicados em estudos de caráter holístico, faz a sua semelhança entre pessoas e não sobre variáveis. Sua principal ênfase está no profissional e na liberdade de respostas do sujeito da pesquisa com o objetivo de maximizar a abrangência das respostas individuais.
Segundo a American Education Research Society (AERA), American Psychological Association (APA) e National Council on Measurement in Education (NMCE) (2014), a validade psicométrica de um instrumento diz respeito ao quanto as evidências obtidas com o instrumento corroboram com a interpretação pretendida dos escores de dado teste. A validade pode ser acessada por meio das seguintes evidências: 1. baseadas no conteúdo: avalia a relação entre o conteúdo do teste e o construto de interesse, referindo-se a redação, formato, tarefas, perguntas do instrumento; 2. baseadas no processo de resposta: analisa teórica e empiricamente a maneira como os participantes respondem uma escala e pontuam os processos envolvidos; 3. baseadas na estrutura interna: refere-se a avaliação da estrutura interna de uma escala e se, empiricamente, ela reflete a estrutura teórica do construto. A análise fatorial é a técnica mais comum para avaliar a estrutura interna, pois gera agrupamentos; 4. baseadas nas relações com outras variáveis: refere-se à medida em que os escores de um teste podem estar associados teoricamente com medidas externas. Pode ser subdividida em convergente (ex.: positivo e negativo), discriminante (correlações próximas a zero ou não significativas), critério (atesta a validade da medida por meio de critérios externos). A validade de critério pode ser classificada como concorrente (uma variável, duas medidas distintas) e preditiva, que prediz comportamento futuro; 5. baseada nas consequências da testagem (consequencial): avalia a consequência dos testes e dos procedimentos de aplicação (AERA et al., 2014).
A partir desses pressupostos e considerando o aumento de interesse sobre as expectativas de futuro na adolescência, novas pesquisas têm buscado formas de mensurá-las por meio de instrumentos. Em função da importância do tema e da população, entende-se que um estudo de revisão sistemática de literatura (RSL) pode ser útil na medida em que apresentará um panorama atual sobre as pesquisas relacionadas ao tema, apontando tendências, instrumentos e lacunas que precisam ser preenchidas pela comunidade acadêmica (Gomes & Caminha, 2014). Assim, o objetivo deste estudo foi descrever, por meio de uma Revisão Sistemática de Literatura, os instrumentos utilizados em pesquisas sobre expectativas de futuro de 2008 a 2019, apresentando um panorama geral sobre os instrumentos em relação à variável, em populações de adolescentes.
Método
O presente estudo é uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL) sobre instrumentos de avaliação das expectativas de futuro na adolescência. Para alcançar os objetivos estabelecidos para o estudo, foram seguidos passos técnicos, a saber: (1) elaboração da pergunta de pesquisa; (2) busca na literatura; (3) seleção dos artigos; (4) extração dos dados; (5) avaliação da qualidade metodológica; (6) análise e apresentação dos dados; (7) aprimoramento e atualização da revisão; (8) redação e publicação dos resultados (Gomes & Caminha, 2014).
Fontes de Informação e Estratégia de Busca
Elaboração da Pergunta de Pesquisa
A pergunta-problema investigada nesta RSL, foi elaborada a partir de uma adaptação da técnica PICO, chamado método PVO, utilizado em revisões sistemáticas da área de saúde que não envolvem intervenção e nem controle. PVO corresponde a suas iniciais da seguinte forma: (a) P – problema da pesquisa; (b) V – variáveis do estudo; e (c) O – Resultados alcançados. De acordo com esse método, os seguintes norteadores da pesquisa foram delimitados, a saber: P (pergunta): Que instrumentos estão sendo utilizados para medir as expectativas de futuro de adolescentes?; V (Variáveis): Instrumentos de expectativas de futuro; O (Resultados alcançados): Identificar e descrever os instrumentos de expectativas de futuro em adolescentes.
Busca da Literatura
Foram usados os descritores em português (singular e plural), a saber: (1) expectativa de futuro e (2) adolescente; e em inglês (singular e plural), a saber: (3) Future expectation; (4) Adolescent; (5) Teenager; e (6) Teen. Como critério de busca nas bases de dados para a RSL, foi feito uso do operador booleano (and), sobre os descritores Future expectation (singular e plural) e expectativa de futuro (singular e plural) que deveriam constar obrigatoriamente no título ou palavras-chave, associado (and) aos descritores adolescente, adolescent, teenager, e teen (no singular e plural) e que poderiam estar presentes no título, resumo, palavras-chave ou no corpo do texto. Os descritores foram definidos a partir da consulta a lista de termos e seus sinônimos no DeCs (Descritores em Ciências da Saúde).
Critérios de Elegibilidade
Para refinamento da busca dos artigos, foram considerados os critérios de inclusão, a saber: (a) estudos empíricos revisados por pares; (b) utilizarem instrumentos específicos para investigar as expectativas de futuro; (c) ser realizado com população adolescente; (d) trazerem o termo “expectativa de futuro” no título e/ou palavras-chaves; e) situarem sua publicação entre os anos de 2008 e 2019[1].
Todos os artigos encontrados que não atenderam essas exigências foram excluídos, portanto os critérios de inclusão e exclusão foram sobrepostos. As buscas foram realizadas no Portal de Periódicos da CAPES (uma das maiores bibliotecas virtuais de origem brasileira), nas bases de dados Scopus, Medline/Pubmed, Web of Science, One File e Sociological Abstracts; no Portal AdolecBrasil (biblioteca especializada em publicações com público adolescente), nas bases de dados Medline, Lilacs e Index Psi; e SciElo (portal de acesso aberto e comunicação científica).
Seleção de Estudos e Extração de Dados
Seleção de Artigos
A partir da busca avançada nas bases de dados dos portais, foram selecionados os estudos que apresentassem inicialmente o termo expectativa de futuro/future expectation (no título), associado à palavra adolescente/adolescent/teenager e que estivessem dentro dos critérios de inclusão. Após essa primeira localização, os artigos selecionados foram analisados a partir de seus resumos.
Avaliação da Qualidade Metodológica
Os artigos selecionados passaram por testes de qualidade metodológica, com a participação de um juiz no primeiro teste de relevância, e dois juízes independentes no segundo teste de relevância, que seguiram rigorosamente os critérios pré-estabelecidos. O primeiro teste, realizado pela primeira autora, consistiu em identificar se os estudos traziam os descritores no título, resumo ou corpo do texto, e se a pesquisa se tratava de um estudo aplicado a populações de adolescentes. O material aprovado no primeiro teste foi submetido a uma segunda avaliação pelos dois juízes independentes que verificaram, a partir do resumo e do método descrito no artigo, se: (a) o objetivo do estudo é apresentado claramente; (b) utiliza instrumento para medir as expectativas de futuro; (c) os instrumentos utilizados para coleta de dados de expectativas de futuro estão identificados e descritos; (d) o estudo foi aplicado em população de adolescentes; (e) o procedimento de análise dos dados está descrito adequadamente.
Para atenuar o risco de viés, a avaliação dos dois juízes foi submetida ao teste de concordância, de modo que estes deveriam apresentar 66% de acordo em sua avaliação final. Todos os artigos selecionados atingiram os padrões estabelecidos pelo PRISMA (2020). A figura 1 apresenta detalhadamente o processo de seleção desde a busca inicial no banco de dados até o registro final dos artigos identificados para essa revisão sistemática.
Extração, Análise e Apresentação dos Dados
Procedeu-se a extração dos dados das variáveis investigadas dos artigos selecionados. Todos os arquivos foram analisados a fim de descrever e analisar os instrumentos para avaliação das expectativas de futuro.
As análises foram realizadas a partir dos procedimentos, a saber: 1. Mineração: informação sobre a amostra em sua totalidade, ou em média com os dados lançados no software Excel 2015; 2. Descrição: Análise dos instrumentos investigados sobre expectativas de futuro, a fim de organizar e visualizar os dados em tabelas.
Com a organização e análise dos dados, passou-se à interpretação destes, utilizando-se de conceitos e pesquisas sobre expectativas de futuro. Adicionalmente, os resultados foram analisados com base nas referências levantadas, com destaque para aspectos relativos à avaliação dos instrumentos (AERA et al., 2014; Pasquali, 2009).
Resultados
Considerando os critérios estabelecidos para validação dos artigos, a primeira seleção nas bases de dados separou 468 registros. Inicialmente foram removidos um total de 174 por duplicação, restando para a triagem inicial um total de 294 estudos, dos quais 222 foram excluídos porque não eram revisados por pares, não correspondiam a artigos empíricos, ou eram artigos que não se encaixavam em algum dos critérios estabelecidos.
As análises iniciais indicaram que 72 estudos estavam aptos para serem avaliados pelos juízes na etapa de elegibilidade, dos quais 31 (43,05%) foram incluídos no banco de dados final atendendo aos critérios e objetivos da revisão sistemática proposta. Os artigos excluídos pelos dois testes de relevância apresentavam falhas na descrição do objeto da pesquisa, na ausência de população adolescente, tipo de pesquisa (não empírica) e ausência do instrumento de avaliação da expectativa de futuro.
Caracterização dos Artigos da RSL
Os estudos analisados adotaram um caráter quantitativo, qualitativo ou ambos, sendo 25 (80,64%) quantitativos, 4 (12,90%) qualitativos e 2 (6,46%) quantitativos/qualitativos. Dos 31 estudos revisados, 6 (19,3%) foram publicados em língua portuguesa, 2 (6,4%) em espanhol, os demais foram publicados em inglês (74,3%). Em relação à nacionalidade do estudo, 14 (45,2%) foram realizados nos Estados Unidos da América; 6 (19,4%) no Brasil; 2 (6,5%) na Turquia; 2 (6,5%) na Romênia; 2 (6,5%) não descreveram o local onde foi realizada a pesquisa; 1 (3,2%) na Islândia; 1 (3,2%) em Israel; 1 (3,2%) na Espanha; 1 (3,2%) no Chile e 1 (3,2%) na Rússia.
Quanto ao período de publicação, foi observado que entre 2008 e 2012 foram encontrados 33,2% (n=10) dos estudos publicados nesse período, e 67,8% (n=21) foram publicados entre 2013 e 2019. Em se tratando do caráter das pesquisas, 67,8% (n=21) eram estudos transversais que não consideraram o tempo como variável importante na aplicação dos instrumentos e 33,2% (n=10) foram estudos longitudinais.
Instrumentos de Avaliação das Expectativas de Futuro
Foram identificadas, no total, 24 medidas usadas para avaliação das expectativas de futuro em adolescentes, conforme pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 1 Demonstrativo dos Instrumentos Avaliativos das Expectativas de Futuro
Instrumento | Autor/Ano | Descrição do instrumento | Tipo de Escala de resposta/Nº itens | **Evidência de validade | Aspectos que avalia | População Alvo/Idade das amostras | Estudos com instrumento |
---|---|---|---|---|---|---|---|
1. Questionário Semiestruturado | NLSY 97 – National Longitudinal Study of Youth (U.S. Bureau of Labor Statistics, 2009) | Instrumento não psicológico | Questões abertas percentuais 8 questões | Não validado | Eventos de vida para o ano seguinte referentes a escola, trabalho, gravidez, bebida, crimes e mortes. | Estudo 1: 3.205 adolescentes (1518 anos) Estudo 2: 3.261 adolescentes (15-18 anos) | 2 |
2. Relatórios Anuais | Beal, Crockett, & Peugh (2016) | Protocolos de observação | Questões subjetivas 8 questões | Não validado | Expectativas de futuro quanto a trabalho, casamento e primeiro filho. | 626 adolescentes e jovens entre 16 e 26 anos (longitudinal) | 1 |
3. Entrevistas em díades* | Thompson e Zuroff (2010) | Entrevista | Questões autoadministradas por computador (A-CASI) 4 questões | Não validado | Expectativas de futuro referentes a vida adulta. | 115 meninas, (12-18 anos) | 1 |
4. Questionário semiestruturado | Brumley, Jaffee, & Brumley (2017) | Instrumento não psicológico | Escala Likert de 5 pontos 2 questões | Não validado | Expectativas quanto ao ingresso na faculdade e morte na idade adulta. | 14.800 adolescentes (11 e 17 anos) | 1 |
5. Future Expectations Scale | Bush, Mandel, & Giardino (1998) | Teste psicológico | Escala Likert de 5 pontos 13 questões | Validada | Expectativas de vida futura. | 68 adolescentes e jovens (12 e 24 anos) | 1 |
6. Expectations for future – Waves I e II | Baseada em Fischhoff et al. (2000) e Marski (2004) | Teste psicológico | Escala Likert de 4 pontos 2 questões | Validada | Percepção das chances de vida e futuro acadêmico. | 15.197 estudantes a partir da 7ª série | 1 |
7. Script of Questions for the Focus Group | Florêncio, Ramos e Silva, 2017 | Entrevista | Questões abertas 2 questões | Não validada | Expectativas de futuro. | 295 estudantes (estudo quantitativo) e 17 (estudo qualitativo) | 1 |
8. My Future Questionaire | Ziera & Dekel (2005) | Teste psicológico | Escala Likert de 4 pontos 26 questões | Validada | Expectativas quanto ao próprio futuro. | 277 adolescentes (17 e 22 anos) | 1 |
9. Future Events Questionnaire (FEQ) | Runyan, Curtis, & Hunter (1998) Knight, Smith, Martin, Lewis, (2008) | Protocolo de observação |
Escala Likert de 5 pontos Escala Likert de 5 pontos 4 questões |
Validada |
Expectativas sobre a vida adulta. Adaptada da primeira versão para 12 itens. |
Estudo 1: Crianças (0 – 14 anos e seus cuidadores. Estudo 2: 558 adolescentes (14 anos) |
2 |
10. Questionário Pesquisa Juventude na Islândia |
Centro de Pesquisa e Análise Social (ICSRA) (2010) | Instrumento não psicológico | Escala Likert de 3 a 5 pontos 8 questões | Não validada | Atitudes pessoais quanto ao futuro. | Adolescentes (14-16 anos) | 1 |
11. Future Expectation | Iovu (2015) | Teste psicológico | Escala Likertd e 4 pontos 12 questões | Validada | Crença sobre o próprio futuro. | Adolescentes de 15 anos | 1 |
12. Hopeful Future Expectation | Iovu, Hãrãgus, & Roth (2018) | Teste psicológico | Escala Likert de 5 pontos 12 questões | Validada | Opinião sobre eventos positivos e negativos da vida. | Estudantes de Ensino Médio | 1 |
13. The Satisfaction With Life Scale | Diener, Emmons, Larsen, & Griffin (1985), adaptado por Atienza et al. (2000) | Teste psicológico | Escala Likert de 4 pontos 5 questões | Validada | Mede satisfação e expectativas de vida para o futuro. | 200 adolescentes entre 11 a 18 anos | 1 |
14. Adolescent Future Expectation Scale (AFES) | Sánchez-Sandoval & Verdugo (2016) | Teste psicológico | Escala Likert de 5 pontos 14 questões | Validada | Avaliação das expectativas de futuro sobre fatores sociais e familiares. |
Estudo 1: 1.125 adolescentes, entre 11 a 15 anos Estudo 2: 660 (12 a 16 anos) adolescentes e seus pais |
2 |
15. Entrevista Semiestruturada | O autor | Entrevista | Questões abertas | Não validada | Sonhos e expectativas de futuro. | 8 mães adolescentes, entre 15 e 19 anos | 1 |
16. Questionário da Pesquisa Nacional da Juventude Brasileira (questão 76) | Dell’Áglio, Koller, Cerqueira-Santos e Colaço (2011) | Instrumento não psicológico | Escala Likert de 5 pontos 9 questões | Não validada | Expectativas quanto a conclusão do ensino médio, casa própria, constituição de nova família etc. |
Estudo 1: 610 jovens (13 e 24 anos) Estudo 2: 143 adolescentes (14 - 20 anos) Estudo 3: 945 adolescentes (14 a 19 anos) |
3 |
17. Questionário da Pesquisa Nacional da Juventude Brasileira | Dell’Áglio, Koller, Cerqueira-Santos e Colaço (2011) | Instrumento não psicológico | Escala Likert de 5 pontos 7 questões | Não validada | Expectativas quanto a reprovação, expulsão e a escala de Relações com a Escola. | 610 jovens (13 e 24 anos) | 1 |
18. Questionário semiestruturado | Aguiar & Conceição (2009) | Instrumento não psicológico | Questões abertas 3 questões | Não validada | Expectativas quanto a ida para o ensino médio e escolha da profissão. | 40 alunos (14 -15 anos) | 1 |
19. Expectation about the future scale | Ruchkin et al. (2004) | Teste psicológico | Escala Likert de 5 pontos 7 questões | Não validada | Expectativas sobre o futuro. | 537 adolescentes (12 – 17 anos) | 1 |
20. Future Expectations Questionnaire | Baseado na Escala de Expectativas futuras, de Wyman et al. (1991) | Teste psicológico | Não apresentado 7 questões | Validada | Expectativas de futuro pelo modelo multidimensional para expectativas. | 338 adolescentes negros e latinos (12 – 19 anos) | 1 |
21. Expectations for the Future | Daigle, e Hoffman (2018) | Instrumento não psicológico | Escala Likert de 5 pontos 6 questões | Validada | Previsão de sucesso na adultez. | 1.354 jovens, (M=16 anos) | 1 |
22. Questões sobre aspirações e expectativas | Knight, Ellis, Roark, Henry, Huizinga (2017) | Instrumento não psicológico | Escala Likert de 4 pontos 6 questões | Não validada | Mede as aspirações, expectativas futuras, e moderação dessas variáveis por gênero. |
1.436 adolescentes (11 e 17 anos) 2ª etapa (Longitudinal,14 anos depois) |
1 |
23. Future expectations scale for adolescentes (FESA) | McWhirter & McWhirter (2008) | Teste psicológico | Escala Likert de 7 pontos 25 questões | Validada | Avaliar em que grau o indivíduo acredita em uma série de declarações sobre seu próprio futuro. |
- Estudo 1: 389 estudantes chilenos - Estudo 2: 688 estudantes do 6th a 12th série - Estudo 3: 547 participantes, (18-29 anos) - Estudo 4: 277 adolescentes, (17 e 22 anos) |
4 |
24. Adolescent future expectation Scale (adaptada) | Adaptação da Adolescent Future Expectations Questionnaire, para o Turco por Tuncer (2011) | Teste psicológico | Não há registro 25 questões | Validada | Avalia as expectativas futuras sobre negócios, educação, casamento e família, religião e sociedade, saúde e vida. | 175 estudantes secundários | 1 |
*Entrevista em díades: entrevista em dupla, entrevistador-entrevistado.**Validado: Identificou-se registro de evidência de validação no texto; Não validado: não foi identificado registro de evidência de validação no estudo
A análise dos estudos revelou que as duas medidas com maior índice de ocorrência foram a Future Expectations Scale for adolescents (FESA) (McWhirter & McWhirter, 2008), que corresponde a 16,6% (n = 4), e o Questionário da Pesquisa Nacional da Juventude Brasileira – questão 76 (Dell’Áglio et al., 2011), aparecendo em 12,6% dos estudos (n=3). Em relação aos demais instrumentos, dois deles registraram duas ocorrências, sendo estes as escalas AFES (Sánchez-Sandoval & Verdugo, 2016) e FEQ (Runyan, Curtis, & Hunter, 1998; Knight, Smith, Martin, Lewis, 2008) obtendo 8,3% (n=2), cada. Os outros instrumentos (n = 15) obtiveram apenas 4,2% (n=1) de ocorrência. Com respeito ao ano de elaboração dos instrumentos, 66,7% (n=16) dos estudos foram elaborados nos últimos 10 anos.
No que se refere a descrição ou tipologia do instrumento, de acordo com a Resolução do CFP nº 31/2022, podem ser tecnicamente classificados como testes psicológicos, entrevistas psicológicas e anamneses, protocolos ou registro de observação, ademais dependendo do contexto podem ser utilizadas fontes complementares, tais como relatórios e protocolos de equipes multipro-fissionais e documentos técnicos. Entre os instrumentos identificados nesta RSL, observou-se quatro dessas categorias, a saber 45,9% (n=12) foram classificados como testes psicológicos, 33,3% (n=8) eram instrumentos não psicológicos, 12,5% (n=3) foram entrevistas, e 8,3% (n=2) eram protocolos ou registros de observação.
Quanto ao tipo de escala de respostas, 66,7% (n=16) dos instrumentos utiliza escalas tipo Likert, já 8,3% (n=2) não registraram que tipo de método usou para obter as respostas às questões. Os demais 20,8% (n=5) dos instrumentos utilizou entrevistas e questionários com questões abertas. E 4,2% (n=1) utilizou entrevista em díades (em duplas – entrevistador/entrevistado) com questões autoadministradas pelo computador (A-CASI). Identificou-se também, quanto ao número de itens por escala, 62,5% (n=15) dos instrumentos utilizaram até nove itens; 24% (n=8), mais de 10 itens por instrumento e 4,2% (n=1) não apresentou na descrição do instrumento o número definido de questões.
Caracterização dos Instrumentos
Dos instrumentos identificados nos estudos analisados, 50% (n=12) são escalas com evidência de validação e 50% (nn = 12) são instrumentos sem evidência. Todos foram aplicados em populações adolescentes e jovens, cujos participantes variavam em idades entre 11 e 26 anos. Importante ressaltar que foram mantidos todos os estudos que apresentaram populações adolescentes, mesmo que também contemplassem jovens adultos ou crianças.
A análise dos 12 instrumentos com evidência de validação revelou que todos fizeram uso do sistema Likert de resposta, com um quantitativo de até 26 itens na escala, com questões diretas. Desses instrumentos, cinco avaliaram diretamente as expectativas de futuro na adolescência, e os sete restantes avaliaram a previsão de futuro percebido, a crença diante das declarações quanto ao futuro e a satisfação com as próprias expectativas de futuro, declaradas pelos adolescentes.
Instrumentos com Evidência de Validação
Dos 12 instrumentos com evidência de validação, seis foram aplicados e validados para uso nos Estados Unidos da América (EUA), um foi adaptado para o castelhano e aplicado na Espanha, dois instrumentos foram aplicados e validados em estudos na Romênia, um foi adaptado para pesquisas na Turquia, um foi adaptado para pesquisas no Chile e uma escala foi adaptada da versão espanhol para ser aplicada em populações adolescentes no Brasil. Não foi encontrado nenhum instrumento construído especificamente para ser aplicado no Brasil, cuja evidência de validade tenha sido verificada.
Considerando o processo de avaliação, observa-se que os 12 instrumentos que apresentaram nos estudos evidências de validação adotaram um estilo psicométri-co, que enfatizam a padronização de respostas fechadas e objetivas (Pasquali, 2009). A tabela 2 apresenta as evidências de validação dos instrumentos identificados nos estudos, sendo possível encontrar informações referentes às evidências de validade e de fidedignidade (consistência interna e correlação) (AERA et al., 2014).
Tabela 2 Evidência de Validação dos Instrumentos
Evidências de Validade | ||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Instrumentos | C | PR | EI | Relações com outras variáveis | CT | Fidedignidade | ||||
Cv | Cr | D | P | Consistência Interna | Correlação | |||||
Future Expectations Scale | - | - | - | S | - | S | - | - | alfa de Cronbach = 0,86 | |
Expectations for the Future Waves I, II | - | - | - | - | - | S | - | - |
¼ = 0,37 R ¼ = 0,56 |
|
My Future Questionnaire | - | - | - | - | - | S | - | - | alfa de Cronbach = 0,87 | |
The Satisfaction with Life Scale | - | - | - | - | - | S | - | - | alfa de Cronbach = 0,84 | |
Adolescent future expectation scale (AFES) | - | - | - | S | S | - | - | - | alfa de Cronbach = 0,85 | |
Hopeful Future Expectations | - | - | - | S | - | S | - | - |
alfa de Cronbach = 0,72 (resultados positivos) 0,78 (resultados negativos) |
|
Future Expectations | - | - | - | S | - | S | - | - |
Confiabilidade = 0,83 Consistência = 0,75 |
|
Expectation for the Future Scale | - | - | - | - | S | - | - | alfa de Cronbach = 0,83 | ||
Future expectation Questionaire | S | - | - | - | S | - | - | Consistência interna = 0,73 | ||
Future Events Questionnaire (FEQ) | S | - | S | S | S | - | - | - | alfa de Cronbach = 0,88 | |
Adolescent Future Expectation Questionaire (adaptada) | S | - | - | - | - | S | - | - | alfa de Cronbach = 0,92 | |
Future Expectations Scale for Adolescentes (FESA) | S | - | S | - | - | - | - | - | alfa de Cronbach = 0,87 |
Nota. S=Evidências positivas; “-”=Informação não disponível nos estudos revisados Legenda. C=conteúdo; PR=Processo de resposta; EI=Estrutura interna; RV=Relações com outras variáveis, sendo Cv=convergente, Cr=critério, D=discriminante, P=preditiva; CT=Consequência de testagem
Dos 12 (doze) instrumentos com evidência de validade, 75% (n=9) apresentaram valores de consistência interna positivos e/ou negativos pelo alfa de Cronbach para fidedignidade, a saber: 1. Future Expectations Scale, 2. Future Expectations Scale for Adolescents (FESA), 3. My Future Questionnaire, 4. The Satisfaction with Life Scale, 5. Adolescent Future Expectations Scale (AFES), 6. Hopeful Future Expectations, 7. Expectations about Future Expectations Scale, 8. Future Expectations for Adolescents, 9. Future Events Questionnaire (FEQ). Apenas 25% (n=3) demonstraram valores de fidedignidade por meio de análise de correlação, sendo estas: 1. Expectations for the Future, 2. Future Expectations e 3. Future Expectations Questionaire.
A evidência para validação de conteúdo (C), que avalia em que medida o teste representa bem o objeto da investigação por meio de um processo de julgamento do instrumento (AERA et al., 2014), foi verificada em 18,2% (n=2) das escalas. Com o objetivo de apresentar o desenvolvimento e validação de uma medida para expectativas de futuro em adolescentes, McWhirter e McWhirter (2008) apresentaram evidências de validade de conteúdo da FESA (Future Expectations Scale for Adolescents).
Esse instrumento é constituído por 25 itens distribuídos nas seguintes dimensões: trabalho, educação, família, saúde e participação na igreja/comunidade. Os dados revelaram correlação entre as subescalas e destas com as expectativas e aspirações educacionais, autoeficácia, esperança, uso de álcool, idade e parentalidade. Esses achados ofereceram suporte à validação do instrumento.
No que se refere à evidência verificada pela estrutura interna (EI), que expressa a validade do construto e se os fatores corroboram com a estrutura do teste (AERA et al., 2014), observou-se que 18,2% (n=2) revelaram essa evidência. A escala Future Expectation foi aplicada por Iovu (2015) que, com o objetivo de examinar as realizações e preocupações futuras dos adolescentes da Romênia, confirmou por meio de análise fatorial e exploratória, a hipótese que as variáveis pessoais dos adolescentes estavam associadas às suas expectativas futuras e suas preocupações com a transição para a idade adulta.
Adicionalmente, Iovu (2015) avaliou as relações com outras variáveis, aplicou o critério discriminante (D), o que permitiu ao seu estudo confirmar a hipótese apresentando diferenças de sexo, sendo as expectativas de futuro das meninas mais positivas enquanto os meninos apresentaram mais preocupações com o futuro. A evidência discriminante, pôde ser verificada em 72,7% (n=8) dos estudos da RSL (tabela 2). Esse critério se refere a discriminação de grupos, com objetivo de compará-los (AERA et al., 2014).
O critério convergente (Cv), que analisa em que medida construtos relacionados se associam (AERA et al., 2014), foi utilizado em 41,6% (n=5) dos instrumentos. Esse tipo de critério foi adotado no estudo longitudinal de Brumley et al. (2017) que aplicaram a Future Expectations Scale em 14.800 adolescentes americanos, objetivando medir os efeitos da infância adversa no comportamento do adolescente e em suas expectativas para o futuro projetadas na adultez. Os dados organizados em expectativas positivas e negativas revelaram que adolescentes que apresentaram expectativas mais fatalistas na infância se envolveram com comportamento de risco na juventude
Dentro das evidências relacionadas com outras variáveis, a validação por meio de critério, que pode ser dividida entre preditiva e concorrente (mesma variável avaliada por duas medidas) (AERA et al., 2014), observou-se que 18,2% (n=2) dos estudos adotaram o critério concorrente. Sanchéz-Sandoval e Verdugo (2016) usou a Adolescent Future Expectation Scale (AFES) para descrever e obter evidências de validade a partir dos dados alcançados com 1.125 adolescentes da província espanhola de Cádiz. Esses dados foram comparados com resultados obtidos com instrumentos semelhantes aplicados em outros estudos como o Self Esteem Scale – SER (Rosenberg, 1965) e Escala de Satisfacción com la Vida – SLSS (Pavot & Diener, 1993).
Não foi encontrado nenhum instrumento que tenha sido verificada sua evidência por meio dos critérios de processo de resposta (PR), dentro do critério relações com outras variáveis, a relação preditiva (P) e por consequência de testagem (CT).
Instrumentos Não Validados
Entre os instrumentos não validados, pôde-se encontrar escalas, questionários estruturados ou semiestruturados, relatórios de observação, entrevistas semiestru-turadas e roteiro de grupo focal. Dos treze instrumentos não validados, 38,5% (n=5) foram utilizados em estudos longitudinais e foram usados com o objetivo de levantar dados qualitativos. Adicionalmente 7,7% (n=1) estudo apresentou um roteiro de grupo focal. Embora não fossem escalas com evidências de validação, 53,8% ( n=7) eram instrumentos que buscavam levantar dados quantitativos.
Referindo-se ao estilo de avaliação das medidas consideradas sem evidência, a saber: psicométricos ou impressionista, 43,2% (n=6) foram medidas com liberdade de respostas em geral e construídas pelo pesquisador para maximizar a abrangência e riqueza nas expressões individuais por meio de questões abertas, portanto podem ser caracterizadas dentro do estilo impressionista. Já 53,8% (n=7) foram medidas que assumiram estilo psicométrico, com questões fechadas ou mistas (fechadas e abertas).
Nesta revisão, dos estudos realizados em contexto brasileiro, as medidas utilizadas foram um roteiro para grupo focal (medida qualitativa) e as questões 16, 17, 18 e 76 do Questionário da Juventude Brasileira (Dell’Áglio et al., 2011). Para as questões avulsas do Questionário da Juventude Brasileira, foram criados índices para quantificar as respostas dos itens selecionados a partir de médias e valores de desvio padrão. Foram aplicados testes para o levantamento dos dados, tais como Teste de Tukey HSD.
Discussão
Esta revisão sistemática da literatura teve como objetivo apresentar um panorama descritivo sobre os instrumentos utilizados para medir ou qualificar as expectativas de futuro em populações de adolescentes a partir da produção científica investigada nas bases de dados dos portais da CAPES, SciELO, e AdolecBrasil, no período de 2008 a 2019. De forma genérica, foi possível verificar que, a partir do início do século XXI, houve um aumento potencial na elaboração de novas medidas, especialmente na última década, o que está de acordo com o que Pasquali (2009) e Bueno e Peixoto (2018) atestam sobre um aumento em publicações, elaboração e validação de instrumentos nos últimos anos na área da psicologia. Todavia, esse crescimento não caminhou no campo de pesquisas brasileiro em relação às expectativas de futuro. O site do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) não registra nenhum instrumento com avaliação favorável disponível para testes psicológicos com fins de análise do construto expectativas de futuro (CFP, SATEPSI, 2023), o que ficou evidenciado na revisão.
Pôde-se observar que, a partir de 2013, houve um crescimento em publicações com estudos que utilizaram instrumentos para avaliar as expectativas de futuro em populações adolescentes, o que pode indicar um interesse maior da academia por pesquisas sobre a temática com essa faixa etária. As expectativas de futuro, por estarem relacionadas de alguma forma com o tempo, poderiam influenciar os estudos no sentido de assumirem um caráter longitudinal, já que o tempo se configura como uma variável importante para o desenvolvimento (Broffenbrenner, 1996). Este estudo revelou que aproximadamente um terço dos estudos assumiu o caráter longitudinal para aplicação dos instrumentos. A lacuna pode ser uma indicação de que seja necessário, ao pensar medidas de avaliação das expectativas de futuro, elaborá-las considerando a possibilidade de que sejam utilizadas ao longo de um tempo maior que o imediato.
No que se refere a análise dos instrumentos avaliativos para as expectativas de futuro, esta revisão mostrou que não há uma padronização geral de instrumentos que privilegiem medidas de coleta relacionadas as expectativas de futuro. A maior parte dos instrumentos (54,2%) foram elaborados para atender os objetivos do pesquisador que os usou, ou seja, não são instrumentos com objetivo de evidenciar alguma validade quanto ao teste, haja vista que somente quatro artigos apresentaram estudo específico sobre o instrumento, seu conteúdo e sua estrutura interna. Mesmo com 50% dos instrumentos com evidência de validade, há uma clara lacuna demonstrando insuficiência a respeito de testes que analisem as expectativas de futuro na adolescência, especialmente no contexto brasileiro (Sánchez-Sandoval & Verdugo, 2016).
Em se tratando de instrumentos voltados para o contexto brasileiro, esta revisão mostrou apenas um instrumento em que foi feito teste para validação com populações adolescentes brasileiras. Dutra-Thomé et al. (2015) testaram a Future Expectations Scale of Adolescents (FESA), de McWhirter e McWhirter (2008), em adolescentes e jovens. A escala não se adequou inicialmente à amostra brasileira (n = 547) e sofreu adaptação, deixando evidente a necessidade da comunidade científica de investir no estudo de instrumentos que encontrem evidências de validação sensíveis às expectativas de futuro de adolescentes que vivem no Brasil.
O instrumento mais utilizado no campo de estudo brasileiro foi o Questionário da Pesquisa Nacional da Juventude Brasileira (Dell’Áglio et al., 2011), questão 76 (n=3). Essa questão é uma versão reduzida da Escala de Expectativas quanto ao Futuro, adaptada por Günther e Günther (1998), que avalia nove expectativas de futuro em questões diretas, com escala likert de 5 pontos, relacionadas às expectativas acadêmicas, familiares, sociais e de satisfação com a vida. Mas, nos estudos selecionados para a RSL, não houve registro de evidências de validação desse instrumento.
Em síntese, os resultados revelam que pesquisas no Brasil e no exterior fazem uso de instrumentos psicológicos, com evidências de validade psicométrica, e não psicológicos, sem evidência de validação, para analisar as expectativas de futuro em populações adolescentes. Todavia, ressalta-se a presença de diversos instrumentos construídos sem características explícitas de validade, conteúdo e precisão que visam acessar esse construto.
Para esta revisão, foi realizada a busca por artigos em portais e bases de dados da área de Psicologia. Porém, as expectativas de futuro, especialmente em comunidades adolescentes, estão intimamente relacionadas às áreas de educação e sociologia, por exemplo. Essa pode ser uma limitação da busca, cuja consulta poderia ser ampliada e estudada de forma interdisciplinar.
A validação de novas medidas é uma lacuna encontrada neste estudo. Sugere-se a construção e validação de mais instrumentos para o contexto brasileiro, uma vez que a RS apontou poucos instrumentos voltados ao público adolescente. Entende-se que a identificação e mensuração desse construto pode auxiliar os adolescentes em suas escolhas futuras, assim como contribuir com o bem-estar da população adolescente brasileira.