Esta publicação trata-se de uma resenha do livro “Avaliação Psicológica de idosos”, cuja eixo central está ancorado no propósito da Avaliação Psicológica (AP) no processo de envelhecimento humano. O conteúdo desta obra foi elaborado por 36 profissionais da Psicologia — envolvidos tanto no campo da pesquisa científica quando na área da docência em programas brasileiros de pós-graduação — responsáveis pela produção de 14 capítulos, os quais foram organizados em três seções temáticas específicas, que discorrem sobre os aspectos psicológicos da pessoa idosa, a utilidade da AP de idosos em determinados contextos e a aplicabilidade de diferentes técnicas para avaliação. O panorama teórico-prático desenvolvido pelos autores tem como principal contribuição o refinamento da aprendizagem de profissionais da Psicologia e alunos em formação sobre as especificidades da AP nesta etapa do ciclo vital.
A primeira seção do livro agrupa os sete primeiros capítulos, cujo tema norteador refere-se à avaliação dos aspectos psicológicos da pessoa idosa. A partir desta proposição, o primeiro capítulo “Ciclo vital e o desenvolvimento da velhice” introduz os conceitos relevantes sobre o processo de envelhecimento, destacando sobre a adaptabilidade e funcionalidade do idoso. Na sequência, são os capítulos dois a sete que destacam especificamente quais os recursos psicológicos que devem ser considerados alvo do processo de AP nesta população. O capítulo dois “Avaliação cognitiva do idoso”, discute sobre a investigação cuidadosa da cognição do idoso com vistas à diferenciação das perdas cognitivas consideradas normais para esta etapa do desenvolvimento daquelas consideradas patológicas. Por conseguinte, no capítulo “Avaliação da Personalidade”, argumenta-se sobre a estabilidade dos traços da personalidade na última fase do desenvolvimento — independentemente da presença ou ausência de sofrimento psicológico —, e releva algumas limitações nas amostras normativas dos instrumentos de avaliação devido a baixa representatividade de pessoas idosas. No tocante à experimentação de sofrimento psicológico, em “Avaliação de aspectos de humor e suicídio em idosos” os autores sinalizam para os fatores de risco e proteção para o desenvolvimento de transtornos depressivos e ideação suicida em idosos, sendo imprescindível uma avaliação criteriosa com foco no diagnóstico diferencial.
Prosseguindo com os últimos capítulos desta seção, o capítulo cinco “Avaliação de aspectos psicológicos da sexualidade em pessoas idosas” desmistifica estereótipos sobre a sexualidade da pessoa idosa, destaca os dilemas na intimidade de pessoas com demências e releva uma quantidade restrita de instrumentos quantitativos para avaliação da sexualidade neste público, recomendando o uso de uma abordagem qualitativa no processo de AP. O capítulo seguinte aborda a “Avaliação sobre luto e percepção da finitude em pessoas idosas”, enfatizando o aspecto protetor da resiliência para o enfrentamento das perdas inevitáveis da vida – sejam estas simbólicas ou reais – e a importância da ressignificação da finitude como indicador de qualidade de vida. Nesta perspectiva, o último capítulo desta seção, “As contribuições da psicologia positiva para avaliação psicológica de idosos”, elenca diversos atributos positivos da personalidade que atuam como um fator de proteção para o envelhecimento saudável, reduzindo à experimentação do estresse e do sofrimento psicológico, para além da resiliência mencionada no capítulo anterior.
A segunda seção da obra amplia o debate sobre a AP de pessoas idosas ao abarcar os variados contextos da prática profissional que requerem avaliação desta faixa etária. O oitavo capítulo alude sobre a “Avaliação psicológica do idoso na clínica particular e instituições de longa permanência”, descrevendo as principais queixas de saúde mental que demanda avaliação, salientando, ainda, o foco do diagnóstico diferencial destes dois contextos. Por sua vez, o capítulo nove, “Avaliação psicológica do idoso no contexto jurídico”, exemplifica singularidades da perícia psicológica forense e da atuação como assistente técnico, cujas questões pontuais são endereçadas à AP visando auxiliar a tomada de decisão dentro de um processo judicial. A seguir, em “Atitudes, planejamento, decisão e bem-estar na aposentadoria: pesquisas, medidas e intervenções”, os autores detalham sobre as etapas da transição de carreira para a aposentadoria, abordando o processo de tomada de decisão e indicando os preditores para a satisfação e bem-estar. No último capítulo da segunda seção sobre “O cuidar na perspectiva dos cuidados paliativos para idosos”, são apresentadas as estratégias na gestão do sofrimento psicológico de pessoas que enfrentam condições de saúde desafiadoras com vistas à promoção da dignidade, respeito e qualidade de vida.
A última seção do livro destina-se à discussão de múltiplas técnicas para coleta e levantamento de informações na AP de idosos. Em “Avaliação psicológica de idosos: entrevista inicial” são apresentados os principais aspectos que devem ser considerados durante a anamnese, os quais serão norteadores para o processo de AP. Seguidamente, o capítulo 13 aborda o tema do “Instrumentos psicológicos: testes e escalas”, listando as principais ferramentas de avaliação a serem utilizadas com pessoas desta população, além de discutir sobre limitações específicas em cada instrumento. Por fim, o último capítulo do livro, “O uso de fontes complementares de informação na avaliação psicológica com pessoas idosas”, promove a triangulação de informações oriundas de outros meios informativos que não foram decorrentes da coleta de informações no processo de AP.
Diante do exposto, o livro “Avaliação Psicológica de Idosos” pode ser considerado um guia norteador para profissionais e estudantes da Psicologia com foco no desenvolvimento de competências para condução de Avaliações psicológicas da pessoa idosa, possibilitando, portanto, uma compreensão ampliada desta etapa do clico vital, bem como na orientação para a proposição de intervenções individualizadas que promovam a qualidade de vida durante o processo de envelhecimento.