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Revista da SPAGESP

Print version ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.20 no.1 Ribeirão Preto Jan./June 2019

 

ARTIGOS

 

Projetos de vida de adolescentes de nível socioeconômico baixo quanto aos relacionamentos afetivos

 

Purposes about affetive relationships among low-SES adolescents

 

Proyectos de vida de los adolescentes de nivel socioeconómico bajo sobre las relaciones afectivas

 

 

Helena da Silveira Riter1, I; Letícia Lovato Dellazzana-Zanon2, II; Lia Beatriz de Lucca Freitas3, I

IUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil
II
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas-SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo investiga a existência de projetos de vida sobre relacionamentos afetivos (PVRA) em adolescentes de nível socioeconômico baixo e examina o conteúdo desses projetos. Seis adolescentes de 14 a 16 anos participaram de um estudo de caso coletivo. Os instrumentos utilizados foram: (a) ficha de dados biossociodemográficos e (b) entrevista semiestruturada sobre projetos de vida. Os resultados sugerem que os adolescentes possuem PVRAs, embora priorizem projetos ligados a trabalho e estudo. O casamento tradicional aparece como modelo de relacionamento afetivo futuro. Os adolescentes demonstraram dificuldades para refletir sobre PVRAs. Em função disso, sugere-se que se delineiem intervenções que incluam a reflexão dos jovens sobre seus relacionamentos afetivos, pois elaborar projetos de vida possui aspectos protetivos contra condutas de risco.

Palavras-chave: Adolescência; Relacionamento afetivo; Projeto de vida.


ABSTRACT

This work investigates the existence of life projects about affective relationships in low socioeconomic status adolescents and examines the content of these projects. Six adolescents from 14 to 16 years-old participated in a multiple-case study. The instruments used were: (a) bio-sociodemographic data sheet and (b) semi-structured interview on life projects. The results suggest that adolescents have life projects about affective relationships, although they prioritize projects related to work and study. Traditional marriage appears as a model of future affective relationship. Adolescents showed difficulties in reflecting their life projects about affective relationships. Because of this, it is suggested that interventions should be designed that include reflections of young adolescents on their own affective relations, because elaborating life projects have factors that protect against risky behavior.

Keywords: Adolescence; Affective relationships; Life project.


RESUMEN

Este estudio investiga la existencia de proyectos de vida sobre relaciones afectivas (PVRA) en adolescentes de nivel socioeconómico bajo y examina el contenido de esos proyectos. Seis adolescentes de 14 a 16 años participaron en un estudio de caso colectivo. Los instrumentos utilizados fueron: (a) ficha de datos biosociodemográficos y (b) entrevista semiestructurada sobre proyectos de vida. Los resultados sugieren que los adolescentes poseen PVRAs, aunque prioricen proyectos relacionados com el trabajo y el estudio. El matrimonio tradicional aparece como un modelo de relaciones afectivas futuras. Los adolescentes demostraron dificultades para reflexionar sobre PVRAs. Así, se sugiere que se delineen intervenciones que incluyan la reflexión de los jóvenes sobre sus relaciones afectivas, pues elaborar proyectos de vida posee aspectos protectores contra conductas de riesgo.

Palabras clave: Adolescencia; Relaciones afectivas; Proyecto de vida.


 

 

A adolescência caracteriza-se pela inserção do jovem no mundo adulto e por diversas transformações biopsicossociais. Devido à separação progressiva dos pais, ao amplo convívio social com pares e às transformações corporais advindas da puberdade, os relacionamentos afetivos ganham importância nesse momento. Segundo Erikson (1968/1976), a busca de identidade característica desse período inclui a construção da identidade sexual e emocional. As relações íntimas estabelecidas com pares possibilitam essa construção, visto que a partir das experiências proporcionadas por elas cria-se a possibilidade de configuração da identidade e do lugar ocupado pelo outro.

É importante considerar também que a sociedade ocidental vem passando por inúmeras mudanças quanto ao estabelecimento de relacionamentos amorosos, e os adolescentes são aqueles que estão mais suscetíveis a essas mudanças e mais as expressam em seus comportamentos. Isso deve-se à vulnerabilidade dessa fase e à necessidade de abrir espaço para o novo e de romper com o estabelecido (Stengel & Tozo, 2010; Stengel, Moreira, & Lima, 2015).Esses novos formatos de relacionamento afetivo caracterizam-se pela inexistência de compromisso, responsabilidade ou fidelidade. Trata-se de relacionamentos em que a busca pelo prazer é central, assim como o desejo de experimentar diferentes práticas afetivo-sexuais e parceiros (Chaves, 2016; Minayo, 2011; Sousa, Nunes, & Machado, 2012; Stengel & Tozo, 2010; Stengel et al., 2015).

Embora os adolescentes relatem que essas formas de se relacionar são muito comuns entre eles, ao serem questionados sobre seus projetos de relacionamento para o futuro, eles enunciam projetos de casar e de ter filhos, relegando os relacionamentos mais superficiais e efêmeros à conduta adolescente e não como algo que pretendam manter na vida adulta (Sousa, et al., 2012; Stengel & Tozo, 2010).

Assim como estabelecer relacionamentos afetivos, elaborar projetos de vida é também uma tarefa da adolescência que se relaciona à construção da identidade (Erikson, 1968/1976; Piaget, 1964/2007), pois se refere àquilo que o indivíduo quer realizar durante a vida. Entende-se por projeto de vida "uma intenção estável e generalizada de alcançar algo que é ao mesmo tempo significativo para o eu e que gera consequências para o mundo além do eu" (Damon, 2009, p. 53).

Há pelo menos três aspectos da adolescência que propiciam a elaboração de projetos de vida. O primeiro desses aspectos é o desenvolvimento cognitivo: é graças à formação das estruturas formais de pensamento que o adolescente se torna capaz de raciocinar sobre hipóteses, de pensar sobre outros mundos possíveis e de projetar seu futuro (Piaget & Inhelder, 1955/1976; Prestes, Castro, Tudge, & Freitas, 2014).

O segundo, diz respeito à demanda social relacionada ao ingresso do adolescente no mundo adulto e no mercado de trabalho. Atualmente, esse é o momento do ciclo vital em que se espera que o jovem faça escolhas importantes para sua vida (Pereira & Stengel, 2015), tais como, por exemplo, a escolha profissional. Conforme salientam Piaget e Inhelder (1955/1976), a inserção no mundo do trabalho possibilita que os projetos de vida dos adolescentes os aproximem da realidade.

Por fim, o terceiro aspecto refere-se à possibilidade de hierarquizar valores, ou seja, à construção de uma escala pessoal de valores (e.g, Piaget, 1964/2007, Prestes et al., 2014). Elaborar um projeto de vida significa ter a intenção de realizar algo e, para isso, é necessário priorizar alguns valores em detrimento de outros (Palhares & Freitas, 2017).

Embora a construção de um projeto de vida seja um processo singular, ele sofre influência do contexto sociocultural no qual o adolescente vive (Nascimento, 2013). Famílias brasileiras de nível socioeconômico baixo possuem características específicas, as quais interferem na forma como os jovens vivenciam o período da adolescência (Dellazzana & Freitas, 2010; Kudlowiez & Kafrouni, 2014).

Diversas pesquisas foram realizadas acerca de projetos de vida de adolescentes de nível socioeconômico baixo no Brasil (Dellazzana-Zanon, 2014; Felckilcker & Trevisol, 2016; Klein & Arantes, 2016; Marcelino, Catão, & Lima, 2009; Miranda, 2007; Nascimento, 2013; Valore & Viaro, 2007). De forma geral, os resultados indicam que esses adolescentes elaboram projetos de vida, sendo três as áreas de interesse mais frequentes: (a) trabalho, (b) estudo e (c) família.

Em todos os estudos mencionados, o exercício de uma atividade profissional parece ter um papel central nos projetos de vida dos participantes, estando relacionado à sobrevivência, à ascensão social, à independência e à estabilidade financeira. Essa atividade aparece como um aspecto organizador, visto que os adolescentes atribuem à realização dos projetos relacionados ao trabalho a possibilidade de concretizar outros projetos. Assim como o trabalho, o estudo foi bastante mencionado pelos adolescentes (Dellazzana-Zanon, 2014; Felckilcker & Trevisol, 2016; Klein & Arantes, 2016; Marcelino et al., 2009; Nascimento, 2013; Valore & Viaro, 2007), principalmente relacionado à conquista de bons empregos e de qualificação para a entrada no mercado de trabalho. Os projetos relacionados à família estão presentes na maioria das pesquisas (Dellazzana-Zanon, 2014; Felckilcker & Trevisol, 2016; Marcelino et al., 2009; Miranda, 2007; Valore & Viaro, 2007) e aparecem condicionados à aquisição de estabilidade financeira, proveniente dos projetos ligados ao estudo e ao trabalho.

Há uma lacuna na literatura sobre projetos de vida quanto a relacionamentos afetivos de adolescentes de nível socioeconômico baixo, visto que os estudos sobre relacionamentos afetivos são mais comuns com outras camadas da população. Soma-se a isso o fato de que os estudos relativos a adolescentes de nível socioeconômico baixo, em geral, ficam restritos a comportamentos sexuais de risco e a outros aspectos associados à vulnerabilidade social (Dias, Jager, Patias, & Oliveira, 2013). Por fim, a temática dos projetos de vida tem importância, uma vez que possui aspectos protetivos contra comportamentos autodestrutivos (Damon, 2009) e contra a gravidez não planejada (Dias et al., 2013; Kudlowiez & Kafrouni, 2014).Assim, considerando-se que o estabelecimento de relacionamentos afetivos (RA) e a elaboração de projetos de vida (PV) constituem aspectos importantes da construção da identidade na adolescência, realizou-se um estudo com os seguintes objetivos: (a) investigar a existência de projetos de vida quanto a relacionamentos afetivos (PVRA) em adolescentes de nível socioeconômico baixo e (b) examinar o conteúdo desses projetos.

 

MÉTODO

Neste estudo, participaram seis adolescentes de nível socioeconômico baixo, sendo quatro do sexo feminino e dois do sexo masculino. Os critérios de inclusão dos participantes da amostra foram: (a) ter entre 14 e 16 anos e (b) ser aluno da rede municipal de ensino. Os critérios de exclusão foram: (a) ter filhos e (b) impossibilidade de compreender as questões da entrevista. Optou-se por escolas municipais, visto que elas atendem a maior número de adolescentes oriundos de famílias de nível socioeconômico baixo. A participação dos adolescentes foi voluntária e a amostra foi de conveniência.

Utilizaram-se dois instrumentos: (a) ficha de dados biossociodemográficos, cujo objetivo foi a caracterização da amostra e (b) entrevista semiestruturada sobre projetos de vida (ESPV) (Miranda, 2007), que tem por objetivo identificar a existência de projetos de vida e investigar o conteúdo desses projetos. A fase A da entrevista consiste nas seguintes questões: (a) "Quem é você no futuro do jeito que você gostaria que fosse?", (b) "Qual, entre todos os projetos que você elaborou é o mais importante?" e (c) "Qual é o menos importante?". A partir das respostas dos participantes, foram feitas outras perguntas a fim de investigar mais a fundo os projetos de vida e suas justificativas. Na fase B, caso o adolescente não tivesse mencionado projetos sobre relacionamentos afetivos, perguntava-se: "Tu tens algum projeto de relacionamento afetivo?" Neste estudo, enfocam-se especialmente as respostas dos participantes a essa última questão.

Utilizou-se um delineamento de estudo de caso coletivo, o qual possibilita aprofundar aspectos da subjetividade dos participantes (Stake, 1994). Cada projeto de vida é único e esse delineamento permite dar visibilidade à singularidade de cada um. Além disso, por meio de um estudo de caso coletivo é possível investigar os projetos de vida dentro de seu contexto e não se exige o controle de variáveis (Yin, 2001). A coleta dos dados foi realizada em duas etapas: (a) os participantes responderam por escrito a ficha de dados biossociodemográficos, e (b) os adolescentes foram entrevistados individualmente, pela mesma pesquisadora, em suas respectivas escolas.

Analisaram-se qualitativamente as respostas à fase A da ESPV, a partir de uma estrutura de categorias elaborada previamente. Essa estrutura é composta de cinco categorias de projetos: (a) carreira – abarca trabalho e estudo; (b) família – de origem e constituição de nova família; (c) bens materiais – aquisição de bens materiais e independência e/ou estabilidade financeiras; (d) felicidade – própria ou da família; (e) generosidade – ajuda à família. Aqueles projetos que não puderam ser classificados em nenhuma dessas categorias foram denominados "outros". Em relação à fase B da ESPV, analisaram-se os resultados quanto a: (a) presença de PVRA; (b) conteúdo e justificativa desses projetos; (c) grau de importância atribuído aos projetos; e (d) características desejadas e não desejadas quanto aos futuros parceiros, conforme proposto por Miranda (2007).

O projeto de pesquisa foi previamente avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Protocolo número 20849). A direção de cada escola assinou um documento de autorização da instituição. Além disso, todos os adolescentes e seus responsáveis legais leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, descreve-se cada caso com base nas respostas aos instrumentos, enfocando especialmente as respostas da Fase B da ESPV, tendo em vista o objetivo do estudo. Os nomes dos adolescentes sofreram alteração a fim de preservar o sigilo quanto às suas identidades. Após, realiza-se um cruzamento geral dos casos, o qual é apresentado juntamente com a discussão dos resultados.

CASO 1

Cecília, no momento da entrevista, estava com 14 anos e residia com seus pais e quatro irmãos, sendo a segunda filha do casal. Ela mencionou dois projetos de forma espontânea: (a) trabalhar como psicóloga (carreira) e (b) ajudar sua família de origem (generosidade). Dentre esses, o trabalho ocupa o primeiro lugar: "Porque eu acho que daí vai ser bem melhor pra mim. Eu vou ter um emprego [...] não vou precisar depender de ninguém pra nada, eu vou ter alcançado meus objetivos". Não considera, porém, que ajudar a família seja menos importante: "Não menos importante, mas em segundo lugar... Se eu não conseguir ser psicóloga... Não vou dizer que não vai ter como eu ajudar [a família], mas vai ser um pouco mais difícil".

Quando questionada sobre PVRA, Cecília afirmou querer casar e ter filhos, mas não conseguiu explicar o porquê desses projetos, dizendo: "é uma coisa que todo mundo tem, é uma coisa normal. Uma coisa que faz parte"; "Por quê, por quê... Acho que não tem um porquê pra isso". Além disso, deixa claro que esses dois projetos são secundários e dependem da concretização dos outros projetos: "Em casar, em ter filhos, mas bem mais... Bem mais além. Quando eu conseguir alcançar os objetivos anteriores". Para a realização dos projetos de casar e de ter filhos, Cecília acredita que é necessário encontrar alguém que possibilite isso: "Primeiro tem que conhecer uma pessoa que eu gosto, que eu tenha certeza que é com ela que vai acontecer". Em relação às características que gostaria que essa pessoa tivesse, ela respondeu: "[Gostaria] Que fosse uma pessoa muito sincera, legal e companheira". Para ela, ser companheiro "é me apoiar e tá comigo sempre, tipo, acompanhar as minhas decisões, sendo elas erradas ou não".

CASO 2

Natália tinha 14 anos e residia com seus avós, seus pais e seus três irmãos. Ela é a filha mais velha. Natália mencionou quatro projetos de vida: (a) três referem-se à carreira: ter um emprego bom, estudar e fazer faculdade; e (b) um a bens materiais: ter uma casa. A adolescente diferencia projetos de estudar e de fazer faculdade, sendo o primeiro relacionado à conclusão do Ensino Médio. Dentre os projetos mencionados, Natália considera o estudo mais importante: "Acho que o estudo com certeza é o mais importante entre tudo, porque é o estudo que vai avançar pra tu ter trabalho, pra faculdade". Segundo ela, o trabalho seria o projeto menos importante: "a faculdade é mais importante que o trabalho, porque se tufizer a faculdade tu vai tá garantido que tu vai ter um emprego".

Apenas quando questionada, relatou ter PVRA com o atual namorado, com quem pretende formar uma família: "Imagino assim ó, a gente tendo uma casa boa pra morar, sabe, tendo condições. Eu trabalhando, ele trabalhando, depois a gente pensa em ter filho". Para concretizar esses projetos, Natália entende que é importante o casal se manter unido: "Nenhum fazendo nada de errado pro outro, pra gente ficar junto, porque eu amo ele e eu sei que ele me ama. Então é tipo a gente ficar junto, trabalhar, se esforçar, pro futuro tá garantido" Quanto às características importantes em um parceiro, ela falou daquilo que gosta em seu namorado: "Ele é carinhoso, é um bom namorado, se tu precisa dele, ele sempre te ajuda. Ele tá sempre contigo. [...] Se é pra namorar sério tu tem que ajudar a pessoa e a pessoa te ajudar. Um tem que auxiliar o outro".

CASO 3

Nina tinha 14 anos e residia com a mãe e seus dois irmãos mais novos. A adolescente mencionou de forma espontânea três projetos de vida: (a) ter uma profissão (carreira); (b) ter uma casa boa (bens materiais); e (c) saúde para si e para a família (outros). Nina escolheu o projeto relativo à saúde como o mais importante: "Porque pra poder trabalhar, pra poder ter uma casa boa, tu tem que ter saúde. Senão, não tem nenhum dos dois". Quanto ao projeto menos importante, Nina elencou ter uma casa boa e explicou: "É, é alguma coisa que a gente pode, sei lá, conseguir depois, mas a saúde e o trabalho a gente precisa fazer, ter primeiro pra poder atingir a casa boa".

Ao ser questionada, Nina manifestou a vontade de casar e de ter filhos: "Quero ter filhos, quero ter marido, quero ter casa cheia, família grande". A participante justificou esses projetos relacionando-os à felicidade: "Porque ninguém é feliz sozinho, porque tem que ter pessoas do nosso lado pra gente poder ser feliz". Em relação à maneira de atingir esses objetivos, ela disse: "Tem que achar uma pessoa, uma pessoa que goste de mim, tem que ser uma pessoa boa". Além disso, Nina atrelou a maternidade ao término dos estudos e à conquista de trabalho: "Filhos, daqui a muito, muito, muito tempo, muito, muito, muito. Primeiro quero trabalhar, estudar pra depois pensar nisso".

CASO 4

Clara estava com 15 anos e residia com a mãe, o padrasto e cinco irmãos. Ela é a terceira filha. Clara mencionou quatro projetos: (a) trabalhar e fazer faculdade (ambos relativos à carreira); (b) ter uma vida econômica melhor (bens materiais) e (c) ajudar a mãe (generosidade). A adolescente considera que ajudar a mãe é o seu projeto mais importante: "Não sei, mas eu quero, é uma coisa que eu quero muito, ajudar ela.Eu acho que, se eu ajudar ela, ela vai ter mais condição de ajudar meus irmãos menores". Para ela, nenhum de seus projetos é menos importante, pois entende que eles estão relacionados: "Nenhum deles é pouco importante, assim. Eu não tenho um que não seja importante pra mim. [...] Porque um se interliga no outro. Se eu trabalhar, eu vou poder ter uma vida econômica melhor, fazer faculdade e ajudar minha mãe".

Na fase B da entrevista, Clara mencionou o projeto de ter um namorado. Ao final da entrevista, a participante disse que também tem o projeto de casar e de ter filhos. Quanto a ter um namorado, Clara teve bastante dificuldade em explicar o porquê desse projeto: "Não sei, isso é uma pergunta que eu não sei responder" Depois de ser mais interrogada, a participante elaborou uma justificativa relacionada a ter o apoio de alguém de fora da família: "Sempre é bom ter uma pessoa do teu lado pra te apoiar, além da família. Pra andar junto contigo quando tu precisa". Clara pretende ter apenas um filho, porque: "Eu gosto de criança, só que é difícil criar muitos filhos. Experiência da minha mãe. Então eu pretendia ter um filho só". Quanto ao casamento, Clara afirmou que seu futuro namorado poderia tornar-se marido, o que independe da sua vontade, visto que para essa adolescente: "A gente não visa muito isso na hora. A gente não escolhe de quem a gente gosta".

CASO 5

Cássio tinha 15 anos e residia com a mãe, o padrasto e um irmão mais novo. Na fase A da ESVP, ele mencionou dois projetos: (a) ser advogado (carreira) e (b) ajudar mãe e irmãos (generosidade). Cássio definiu o projeto de ajudar a família como mais importante, "porque eles sempre me ajudaram em tudo e eu gostaria de retribuir". O projeto de ser advogado foi considerado como menos importante, mas ele não soube explicar por quê.

Apenas quando questionado na fase B da entrevista, Cássio disse que gostaria de casar e de ter filhos, mas teve dificuldades pera justificar esses projetos: "É que todo mundo... Quase a maioria tem, né, mas é que tem que ver com quem... Depende, às vezes, tu casa ou não casa... Ter filho é normal, a gente vai ter". Quando solicitado a apresentar justificativas mais pessoais, Cássio mencionou a importância de ter alguém para dividir momentos felizes: "A gente daí, por exemplo, se a gente vai morar sozinho, não vive sozinho, sempre tem alguém pra... Sorrir, brincar, feliz". Ao falar sobre como pretende realizar esses projetos, disse que pretende ter filhos antes de casar: "Filhos, eu gostaria de ter primeiro antes de casar, daí depois a gente vai ver; se dá pra casar, a gente casa. Sei lá, a gente não sabe dizer se vai continuar junto". Quanto às características que gostaria que sua parceira tivesse, o participante falou da importância do apoio mútuo: "Legal, assim, um ajudar o outro, se tornar uma família muito boa. Não ter nada de ruim, assim, pra acontecer, sempre dar o melhor que puder. Porque isso aí não fica ruim nem pra um nem pra outro".

CASO 6

Nicolas tinha 16 anos e morava com os pais e seus quatro irmãos, sendo o segundo mais velho. Ele citou cinco projetos: (a) trabalhar e fazer faculdade de psicologia (ambos relacionados à carreira), (b) ter uma casa (bens materiais) e (c) ser responsável e ter uma banda (ambos classificados como outros). Para ele, "o mais importante é a responsabilidade porque se eu não tiver isso [...] então eu vou ter nada". O projeto de ter uma banda foi considerado menos importante por Nicolas, "porque uma hora tu tá com vontade, outra hora não. [...] Quando tu tá naquela coisa de descobrir, quando tu tá naquela fase que quer descobrir coisas novas, fazer coisas novas".

Quanto à constituição de família, Nicolas mencionou o tema na fase A da entrevista, mas não como algo que compõe um projeto de vida. Enquanto citava seus projetos, disse: "Uma família, eu não sei. Isso agora não vem ao caso, até porque eu sou novo". Quando questionado sobre isso na fase B, Nicolas disse não querer ter uma companheira ou filhos. Sobre casamento, Nicolas respondeu: "Eu olho várias famílias. Do nada assim, o marido tá trabalhando, tudo bem, trazendo dinheiro pra dentro de casa, e a mulher só encrenca, e só pede mais, e só isso, e só aquilo e só briga. E mesmo assim, ele é obrigado a continuar lá, porque se sair de casa tem que pagar pensão. Como eu já sou meio estressado assim, aí já é 90% de chance que vai acontecer isso".

Quanto a ter filhos, o participante disse: "Porque em casa assim, eu olho pra minha mãe e pro meu pai... É difícil pra eles. Às vezes eles não expressam, não falam, mas às vezes dá pra ver assim, eles expressam no rosto como tá sendo difícil alimentar todo mundo, dar coisas pra todo mundo, conversar com eles... Então eu já penso, eu não quero passar por isso". Além disso, Nicolas acredita que esses projetos não condizem com a sua maneira de viver e com o seu temperamento, visto que já teve relacionamentos e não gostou da experiência: "Eu até já tive muitas namoradas já, mas foi a parte que mais me deu problema. [...] eu não consigo manter uma relação por muito tempo, é questão de um mês e... Desanda tudo depois, começamos a brigar e... Nunca dá certo". Ainda que não queira ter uma companheira, Nicolas elencou algumas características que gostaria que uma futura parceira tivesse: uma pessoa que não brigasse, que o entendesse e que respeitasse o seu espaço.

Considerando os seis casos apresentados, quanto ao primeiro objetivo deste estudo – investigar a existência de PVRA – chama atenção o fato de que nenhum dos adolescentes se referiu espontaneamente a esse tipo de projeto. Esse resultado difere daquele encontrado por Miranda (2007), em cujo estudo 22% dos projetos citados na fase A da ESPV pertenciam à categoria relacionamentos afetivos. Quando questionados sobre a existência desses projetos, porém, cinco participantes (Clara, Cássio, Cecília, Natália e Nina) responderam positivamente. Assim, se a maioria desses adolescentes tem PVRA, resta buscar entender por que não os mencionaram de maneira espontânea.

Um achado que parece estar associado a isso é a dificuldade que alguns participantes enfrentaram para pensar sobre PVRA. Clara, por exemplo, ao ser questionada sobre por que ter um namorado, respondeu: "Não sei, isso é uma pergunta que eu não sei responder". Também foi difícil responder por que acha que conseguirá ter um namorado no futuro: "Ai, eu não consigo (risos)... Eu não consigo explicar. Não sei, só acho que deve ser mais fácil. Eu não sei. Nunca tive um pra saber".

Cecília, por sua vez, assinalou uma possível explicação para essas dificuldades: ela não costuma pensar sobre esse tema. A adolescente, ao tentar responder por que gostaria de casar e de ter filhos, disse: "Sei lá, porque é uma coisa que todo mundo tem, é uma coisa normal. Uma coisa que faz parte. [...] Não sei, não penso ainda". Nina também parece não pensar muito sobre o assunto, pois disse não saber explicar por que acha que irá casar e ter filhos: "Por quê? Porque sim... (risos) Não sei". Por fim, Cássio parece ter dificuldade em pensar em justificativas pessoais para seus projetos, justificando por meio de observações da sociedade em geral. Diz sobre ter filhos: "É que todo mundo... Quase a maioria tem, né. [...] Ter filho é normal, a gente vai ter". Cássio explica porque acredita que conseguirá casar e ter filhos: "Isso aí é normal, isso aí é fácil de conseguir". A ausência de citações espontâneas quanto a PVRA associada às dificuldades enunciadas pelos participantes coloca a seguinte questão: por que, para esses adolescentes, é difícil pensar sobre os relacionamentos afetivos futuros?

Uma possível explicação refere-se a expectativas sociais. O trabalho está no centro da demanda social relacionada à adolescência, encarada como o período em que o indivíduo deve fazer escolhas profissionais e ingressar no mercado de trabalho. Nesse sentido, são interessantes os resultados encontrados por Stengel e Tozo (2010) em um estudo sobre os projetos que os pais de adolescentes têm para os seus filhos: eles priorizaram projetos relativos ao estudo e ao trabalho. Além disso, consideraram que o estabelecimento de relacionamentos sérios e a parentalidade são projetos que não dizem respeito à adolescência, entendendo que seus filhos devem pensar sobre essas questões em um momento mais tardio do ciclo vital.

Ainda, Venturini e Piccinini (2014), ao investigarem a percepção de adolescentes não-pais sobre os projetos de vida e sobre a paternidade adolescente, verificaram que, para esses participantes, a paternidade adolescente foi percebida como algo negativo, uma vez que atrapalharia a realização de outros projetos de vida. No entanto, a maioria dos participantes deseja ter filhos e casar, embora entenda que isso deva ocorrer após a adolescência.

Desta forma, pode-se pensar que há uma demanda social para que adolescentes priorizem estudo e trabalho e releguem os PVRA para depois. Atualmente, o casamento e a constituição de família representam experiências socialmente atribuídas à adultez, inclusive com caráter de processo natural do desenvolvimento psicológico e social (Dias et al., 2013).

A priorização de projetos relativos ao trabalho e ao estudo por parte de adolescentes de diferentes camadas sociais tem sido evidenciada em diversos estudos e parece ilustrar essa demanda social. Esses projetos são percebidos como necessários para que a realização de outros. O estudo, por sua vez, também é uma área de interesse, visto como necessário para o ingresso no mercado de trabalho e para a realização de projetos de carreira (Dellazzana-Zanon, 2014; Felckilcker & Trevisol, 2016; Klein & Arantes, 2016; Marcelino et al., 2009; Nascimento, 2013; Valore & Viaro, 2007).

No entanto, o estudo de Valore e Viaro (2007), realizado com estudantes de escolas públicas e privadas, verificou diferenças entre os grupos. Os estudantes de ensino particular mostraram-se mais preocupados com a escolha profissional, enquanto aqueles de escolas públicas manifestaram a necessidade de entrar no mercado de trabalho, a fim de buscar a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida. Em outras palavras, há uma preocupação com o trabalho em ambos os grupos, mas existem especificidades que precisam ser consideradas.

Devido às dificuldades econômicas enfrentadas pelos adolescentes de nível socioeconômico baixo, pode-se pensar que a estabilidade financeira tenha caráter de urgência na elaboração de seus projetos de vida, o que possivelmente contribui para a maneira e as especificidades com que o trabalho e o estudo ganham importância. Assim, a constituição de família e o estabelecimento de relacionamentos afetivos como dependentes da concretização de projetos relativos à carreira parece ser um fenômeno da adolescência nas diversas camadas sociais, ainda que existam diferenças quanto à elaboração dos projetos com relação ao trabalho e ao estudo, conforme os resultados encontrados por Valore e Viaro (2007).

As respostas dos participantes deste estudo também sugerem a priorização do trabalho e do estudo. As quatro participantes do sexo feminino mencionaram essa questão de maneira explícita. Clara e Cecília, ao serem questionadas sobre a existência de PVRA, responderam: "Não sei, depois de tudo isso aí, se sobrar tempo, sim" (Clara); "Em casar, em ter filhos, mas... Bem mais além. Quando eu conseguir alcançar os objetivos anteriores" (Cecília). Natália e Nina, por sua vez, entendem que o projeto de ter filhos depende da conquista de estabilidade financeira e de casa própria. Pode-se pensar, portanto, que devido à urgência de realizar os projetos relativos ao trabalho e ao estudo, os projetos ligados ao casamento e a ter filhos sejam colocados em segundo plano, não aparecendo de maneira espontânea.

Há ainda outro aspecto que pode estar relacionado com esses resultados: as experiências vivenciadas até então por esses adolescentes. Alguns estudos verificaram que as experiências pessoais vividas ou observadas representam um aspecto relevante nas escolhas amorosas e no desenvolvimento da concepção de amor (Alves, Alencar, & Ortega, 2014; Alves, Alencar, Ortega, Galvão, & Fonseca; 2015). Os dados encontrados neste estudo apontam nessa mesma direção. Nicolas, que já teve namoradas e relatou ter observado outros casais, e Natália, a única participante que estava em um relacionamento no momento da entrevista, foram os adolescentes que apresentaram respostas mais elaboradas quando questionados sobre PVRA.

A experiência vivida como um elemento importante para a construção de PVRA também pode ser observada nas respostas de Clara. Embora a adolescente manifeste, em diversos momentos da entrevista, não saber ou não pensar sobre seu projeto de ter um namorado, algo que ela ainda não vivenciou, quando questionada sobre o projeto de ter filhos, a participante mostra-se mais decidida e afirma que pretende ter apenas um filho. A experiência de acompanhar o dia a dia da mãe com seus irmãos parece influenciar na maneira com que a participante elabora o seu projeto de maternidade.

Quanto aos resultados que dizem respeito ao segundo objetivo deste estudo, ou seja, examinar o conteúdo dos PVRA, observa-se que dentre os seis participantes, cinco mencionaram os projetos de casar e de ter filhos. Nicolas, embora tenha afirmado não ter PVRA, parece basear suas respostas em apenas uma possibilidade de elaboração desse tipo de projeto: casar e ter filhos; parece que esse adolescente não vislumbra outros tipos de relacionamento afetivo e refere-se durante toda a entrevista ao casamento como algo que ele não quer para si, mas não menciona outras possibilidades. Em síntese, pode-se pensar que relacionamento afetivo futuro, para esses adolescentes, é sinônimo de casamento.

Nesse sentindo, é importante ressaltar que relacionamentos que não envolvam fidelidade e compromisso, embora sejam uma forma representativa de relacionamento entre adolescentes (Sousa et al., 2012) e também entre jovens adultos (Chaves, 2016), não foram citados como projetos para o futuro.Na pesquisa de Stengel e Tozo (2010), encontrou-se um resultado semelhante: para alguns jovens,relacionar-se sem compromisso e namorar não condizem com a vida adulta.

O casamento em seu formato tradicional, isto é, associado à coabitação e à criação de filhos, parece ser o modelo que os adolescentes deste e de outros estudos (Marcelino et al., 2009; Miranda, 2007; Stengel & Tozo, 2010; Valore & Viaro, 2007; Venturini & Piccinini, 2014) têm utilizado para pensar sobre seus relacionamentos afetivos futuros. A pesquisa de Wagner, Tronco, Gonçalves, Demarchi e Levandowski (2012), ao investigar os projetos de vida que casais elaboram para os filhos, sugere que os progenitores desvinculam os projetos de que os filhos constituam famílias felizes e unidas do cenário atual de aumento das separações. Percebe-se que esses casais utilizaram instrumentos próprios de gerações anteriores para elaborar os projetos. Assim, pode-se pensar que isso esteja relacionado ao fato de os adolescentes atuais também partirem desses modelos.

Quanto ao conteúdo dos projetos, há mais um aspecto importante: a maneira de concretizá-los. Os adolescentes deste estudo parecem associar o encontro da "pessoa certa" com a possibilidade de realização dos projetos de casar e de ter filhos: "Primeiro tem que conhecer uma pessoa que eu gosto, que eu tenha certeza que é com ela que vai acontecer" (Cecília); "Tem que achar uma pessoa, uma pessoa que goste de mim, tem que ser uma pessoa boa" (Nina); "Daí tem que achar uma pessoa certa, né, não é qualquer uma" (Cássio). Assim, é possível considerar que esses adolescentes encaram o casamento como algo que ocorre naturalmente, sem que eles precisem se implicar na concretização desse projeto. Eles colocam essa responsabilidade no outro e nas qualidades desse outro, que descrevem como disponível e compreensivo, trazendo felicidade e companhia.

Além disso, percebem-se em uma posição passiva e de espera da "pessoa certa", como se não dependesse deles a realização do projeto de casar. Em outras palavras, os jovens parecem não se questionar sobre como podem buscar ter um bom relacionamento ou como podem construir possibilidades de casar e de ter filhos no futuro. Zordan e Wagner (2009) encontraram resultados similares em um estudo com jovens solteiros de 20 a 31 anos. Os achados dessa pesquisa sugeriram que o casamento segue sendo desejado pelos jovens, embora não seja algo em que eles invistam, saindo do lugar de projeto de vida para o lugar de acontecimento vital, de algo que faz parte da vida.

Talvez, por ser compreendido como algo natural e que compõe o ciclo vital, exigindo apenas a estabilidade financeira para se realizar, os adolescentes não consigam pensar sobre o PVRA como algo que também exige investimento e planejamento. Chama atenção ainda o quanto os projetos de casar e de ter filhos aparecem como pouco autênticos. Isso pode ser percebido na dificuldade dos participantes de justificar esses projetos. Este estudo evidencia a crença desses adolescentes de que os RAs dependem apenas do encontro de uma pessoal ideal, a qual será responsável pela concretização do projeto e também por fazer com o que casamento seja feliz. Desse modo, pode-se pensar que a postura passiva e pouco protagonista dos adolescentes frente a seus RAs futuros denuncia a ausência de um projeto de vida viável e ligado à realidade, uma vez que faltam estratégias claras para alcançá-lo (Kudlowiez & Kafrouni, 2014).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo investigou a existência de PVRAs de adolescentes de nível socioeconômico baixo e examinou o conteúdo desses projetos. Uma de suas limitações é o fato de que a entrevista utilizada não tinha como foco exclusivamente a temática dos RAs. Desta forma, não foi possível explorar o que os adolescentes esperam do casamento e dos RAs em geral. Ainda, utilizou-se apenas um instrumento para acessar os PVRAs, o que pode ter restringido o acesso a essas informações.

Apesar disso, esta pesquisa traz contribuições sobre a elaboração de projetos de vida na atualidade. Primeiramente, buscou-se contribuir para o preenchimento de uma lacuna importante entre os estudos acerca da adolescência. Embora seja o momento em que o indivíduo estabelece RAs com pares e elabora projetos de vida, há relativamente poucos estudos que se dediquem a investigar o que os adolescentes pensam sobre esse tema, seja no momento presente seja no futuro.

Ainda, os resultados deste estudo indicam que os adolescentes desta amostra dedicam pouca reflexão sobre PVRAs, o que parece estar ligado à ausência de um projeto autêntico e viável quanto a essa temática. Nesse sentido, considerando que refletir sobre projetos de vida possui aspectos protetivos, entender o que os adolescentes pensam sobre essas questões e auxiliá-los a projetar-se no futuro pode ser uma forma interessante de contribuir para a promoção de sua saúde e bem-estar.

Assim, sugere-se o desenvolvimento de projetos de intervenção que promovam espaços de discussão e de reflexão em grupo, a fim de auxiliar os adolescentes a construírem projetos mais autênticos, a partir de uma visão crítica da realidade e do seu contexto de vida. Intervenções com esse intuito podem significar maiores possibilidades de fazer escolhas para além do senso comum e de concretizar seus objetivos, uma vez que um projeto autêntico pode auxiliar o adolescente a guiar suas ações no mundo.

 

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Endereço para correspondência
Helena da Silveira Riter
E-mail: helenariter@hotmail.com

Submetido: 12/05/2018
1ª reformulação: 20/10/2018
Aprovado: 21/11/2018

 

 

1 Helena da Silveira Riter é psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
2 Letícia Lovato Dellazzana-Zanon é docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
3 Lia Beatriz de Lucca Freitas é Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da mesma instituição.

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