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Psicologia Hospitalar
versión On-line ISSN 2175-3547
Psicol. hosp. (São Paulo) vol.17 no.1 São Paulo ene. 2019
ARTIGOS ORIGINAIS
Contos de fada: espelhos da psique refletidos na intervenção psicológica com crianças hospitalizadas
Fairy tales: mirrors of the psyche reflected in the psychological intervention with hospitalized children
Keila Zampirom1; Maribel Pelaez Dóro2
Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) - Brasil.
RESUMO
Este artigo investigou os efeitos do recurso psicoterapêutico dos contos de fada na intervenção psicológica com crianças submetidas ao transplante de células hematopoiéticas, entre o período de fevereiro a outubro de 2016. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de paradigma junguiano, com a modalidade de pesquisa em Psicologia Clínica. Os instrumentos utilizados foram: entrevista semiestruturada com os cuidadores primários; dez livros de diferentes contos de fadas e o desenho livre. A análise do material coletado foi através do método do processamento simbólico arquetípico. Participaram da pesquisa vinte crianças e seus respectivos cuidadores primários. Os resultados indicaram seis categorias de análise. Optou-se em discutir a categoria do arquétipo da “Grande Mãe”, a partir de dois contos de fada que ilustram com maior profundidade os conteúdos simbólicos em torno dessa temática. Conclui-se que o recurso dos contos de fada contribui para aprimorar e qualificar as intervenções psicológicas com crianças hospitalizadas.
Palavras-chave: Contos de Fadas, Intervenção Psicológica, Psicologia Analítica, Criança Hospitalizada, Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas.
ABSTRACT
This article investigated the effects of the psychotherapeutic resource of fairy tales in psychological intervention with children submitted to hematopoietic stem cell transplantation, between February and October 2016. It is a qualitative research in Clinical Psychology based on the Jungian paradigm. The instruments of the study were: semi-structured interview with the child’s primary caregiver; ten books of different fairy tales and free-hand drawing. The collected material was analyzed through the archetypal symbolic processing method. Twenty children and their respective primary caregivers have been recruited. After analyzing the results, six categories were found. The one entitled “Great Mother Archetype” was chosen to be discussed, which has appeared in two fairy tales that illustrated symbolic contents and allowed a profound study about this subject. It was concluded that the use of fairy tales contributes to improve and qualify psychological interventions with hospitalized children.
Keywords: Fairy Tales, Psychological Intervention, Analytical Psychology, Hospitalized Child, Hematopoietic Stem Cell Transplantation.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa que fez uso de contos de fadas e do desenho, como um recurso psicoterapêutico à criança hospitalizada. Desse modo, seu objetivo principal foi introduzir estes recursos simbólicos no atendimento psicológico às crianças submetidas ao Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas (TCTH).
No hospital, coexistem experiências que podem se configurar com morbidades de alto risco, enquanto que outras evoluem com sucesso na recuperação da saúde. Especialmente, no Serviço de Transplante de Medula Óssea (STMO), que é percebido pelos pais e suas crianças como um espaço com representações ambivalentes, no âmbito real e simbólico, uma vez que as possibilidades da cura e da morte andam juntas, durante o tempo deste tratamento.
Setubal (2018) menciona a importância de ofertar esclarecimentos ao paciente e seus familiares em relação ao TCTH e saber do real desejo destes. Assim, a decisão pode ser tomada em dados realistas, mas também, respeitando e considerando a opinião do paciente e do familiar.
Para dar início ao tratamento, é indispensável um período de hospitalização da criança. Para tanto, é necessária a presença de um acompanhante em tempo integral, geralmente assumido pela mãe.
Diante dessas questões e ocorrências adversas, se faz necessário o acompanhamento psicológico à criança e ao familiar-cuidador (a), possibilitar um espaço de escuta dentro do hospital. Além de favorecer reflexões e o enfrentamento, amenizando o sofrimento presente nas vivências de maior impacto emocional. Agudo, Zampirom e Dóro (2018) corroboram este posicionamento, pontuam que no ambiente hospitalar a criança vivencia questões que lhe deixam insegura e ameaçada.
Os contos de fadas têm despertado o interesse de psicólogos, como recurso terapêutico a ser utilizado na clínica psicológica para crianças e adolescentes, em diferentes correntes teóricas e contextos, inclusive o hospital, busca nesse instrumento inspiração e criatividade para sustentar a clínica e auxiliar na resolução dos conflitos trazidos pelo público infanto-juvenil (Schneider & Torossian, 2009).
Porém, em um cenário tão peculiar, como o STMO, existe uma carência de trabalhos sobre aplicabilidade e análise do significado dos contos de fadas na intervenção psicológica. Diante disso, surge a necessidade de realizar pesquisas nesse campo para corroborar novos saberes e qualificar o atendimento clínico à criança. Como a iniciativa de relato de experiência desenvolvido Agudo, Zampirom e Dóro (2018), o referido estudo, apresenta resultados favoráveis em relação à experiência de narrativas dos contos de fadas com a produção gráfica, como importante dispositivo na intervenção clínica psicológica infantil.
No contexto hospitalar pediátrico, o psicólogo tem utilizado técnicas e recursos da Arteterapia, possibilitando a criança atividades diversificadas como, modelagem com argila e massinha, atividades gráficas, pintura e colagem, construção com sucatas, máscaras, entre outros (Vasconcellos, 2004).
São recursos que, provenientes da imaginação e da arte, possibilitam que o psicólogo explore o mundo interno e amplie as conexões para a imaginação da criança, contribuindo na preservação da saúde mental (Zampirom & Dóro, 2018). Segundo Kast (2016), a força da imaginação humana tem efeito placebo e pode desencadear mudanças biológicas no corpo e alterações no cérebro. E ainda a arte produz abundância de possibilidades imaginativas humanas, possibilita reflexões sobre temas e emoções e ajuda as crianças na resolução de problemas aparentemente sem soluções.
No entanto, no STMO os pacientes pediátricos permanecem por um período neutropênicos, assim existem restrições e precauções para o uso de alguns recursos com a finalidade de evitar contaminações e a disseminação de infecções por microrganismos oportunistas. Diante disso, trabalhar com os livros dos contos de fadas é um recurso viável neste cenário.
Para o embasamento teórico e interpretativo dos casos do estudo vigente, as autoras consideraram a perspectiva da Psicologia Analítica, idealizada por Jung. Para o autor, a psique humana é sistema herdado comum a toda humanidade, não é uma mera formulação passageira (Jung, 1984, § 717, p. 386). A este sistema herdado repousa a camada mais profunda, que Jung chamou de inconsciente coletivo, nele nascem e vivem as histórias herdadas pelo coletivo e de natureza universal, habitadas por conteúdos idênticos e compartilhados por toda espécie humana. Para Von Franz (2016, p. 09), os contos de fadas são a expressão mais pura e mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo.
Roth (2012) clarifica esses conceitos ao imaginar o inconsciente coletivo com dois polos. Na camada mais profunda, oriunda da evolução e do reino animal, estão solidificados os instintos, que (...) “são modelos herdados para determinados modos de reação e comportamento que podem ser acionados por propulsores específicos” (Roth, 2012, p. 100). O outro polo, que Roth (2012, p.101) considera como espiritual-anímico, é composto pelos arquétipos, que (...) “estão como elementos primitivos de certas experiências de vida e que produzem para essas experiências imagens, símbolos e ações correspondentes”. É importante enfatizar que entre os dois polos não existe qualquer limite separador.
No repertório arquetípico da “Grande Mãe”, por exemplo, os comportamentos e os processos devem ser considerados em um plano espiritual-anímico. Dessa maneira, “o aspecto de cuidado, de segurança proteção e estímulo no sentido mais amplo faz parte das qualidades positivas dessa constelação arquetípica” (Roth, 2012, p.102). A maneira como cada pessoa vivencia esses arquétipos depende da história de vida pessoal, atuando assim de forma positiva ou negativa.
Por estruturar o psiquismo humano dessa maneira, Carl Gustav Jung (2000, § 159, p. 93) atribui um significado mais restrito para a mãe pessoal, para ele a psique infantil provém de influências da imagem da mãe coletiva. As dificuldades psíquicas da criança não são apenas por consequências das qualidades e atitudes da mãe pessoal, mas também dos atributos e características que são projeções arquetípicas por parte da criança.
Para Carl Gustav Jung (2000, § 159, p.93), os efeitos traumáticos da mãe devem ser divididos em dois grupos (...) “primeiro, os que correspondem à qualidade característica ou atitudes realmente existentes na mãe pessoal. Segundo, os que só aparentemente possuem tais características, uma vez que se trata de projeções de tipo fantasioso (quer dizer, arquetípico) por parte da criança.”
Diante disso, para Carl Gustav Jung (2000, § 159, p. 93) não seria apenas a mãe pessoal que proveria as influências na psique infantil, mas seria, predominantemente, o arquétipo projetado na mãe que concederia a ela um caráter mitológico e com isso lhe confere autoridade e até mesmo numinosidade.
MÉTODO
Este estudo foi estruturado a partir da pesquisa qualitativa, em que se caracteriza uma “abordagem interpretativa e compreensiva dos fenômenos, buscando seus significados e finalidades” (Penna, 2014, p.74). Para o processo da pesquisa adotou-se o paradigma junguiano conduzido pelo método de investigação dos fenômenos psíquicos, denominado processamento simbólico arquetípico.
O contexto da pesquisa vigente foi na enfermaria pediátrica de um hospital de grande porte, localizado na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná. Definiu-se como critério de inclusão dos participantes: crianças com idade entre 4 a 12 anos; submetidas ao TCTH, entre o período de fevereiro a outubro de 2016; assinatura do responsável legal e da criança do termo de consentimento e assentimento livre e esclarecido, sob o protocolo de aprovação nº 1.432.459 da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição hospitalar. Foram estabelecidos os seguintes critérios de exclusão: ter mais de 12 anos de idade, não realizar o TCTH, cuidador e criança apresentar comprometimento intelectual, impeditivo para a obtenção das respostas do protocolo de pesquisa. Além disso, para preservar a identidade das crianças utilizaram-se nomes fictícios na discussão dos casos.
Estabeleceu-se a frequência das intervenções psicológicas, com as crianças, de duas a três vezes por semana, durante todo o período de hospitalização para o tratamento, totalizando uma média de quinze atendimentos.
Para a melhor apreensão do material simbólico, foram utilizados os seguintes instrumentos e recursos para a coleta de dados: a) entrevista semiestruturada com pais/responsáveis legais da criança; b) dez livros de contos de fadas; c) desenho livre do conto de fada escolhido.
O roteiro da entrevista foi elaborado pelas próprias pesquisadoras, sendo um guia para o contato inicial com os pais/e responsáveis da criança. Foram investigados dados demográficos e clínicos para a caracterização da amostra, também questões específicas, tais como: a história dos progenitores e da família (namoro/casamento), gestação, sentido simbólico do adoecimento, dentre outras informações pertinentes da história e contexto de vida da criança e da família. Ainda, nessa entrevista, o familiar-cuidador (a) declarou qual narrativa de contos de fada esperava que o seu filho (a) escolhesse.
Em relação ao recurso psicoterapêutico dos contos de fada, adotou-se o critério de selecionar previamente as histórias, a partir das formulações de Corso e Corso (2006), em que descrevem possíveis temáticas a serem suscitadas na leitura específica de cada conto. Na escolha consideraram-se os seguintes fatores: núcleos simbólicos relacionados à hospitalização, idade cronológica da criança e contos clássicos. Diante disso, resultou a seleção dos seguintes contos: Cinderela, Branca de Neve, Bela e a Fera, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, João e Pé de Feijão, Mágico de Oz, Os Três Porquinhos, Patinho Feio e Peter Pan. Todos os livros selecionados foram da coleção Contos Clássicos Recortado da editora Ciranda Cultural (2010), uma versão que mantém a especificidade das versões consagradas dos contos de fada. Esta escolha se deve à necessidade de não delongar os atendimentos além das condições físicas do paciente e das intervenções clínicas inadiáveis.
Com a narrativa do conto, associou-se o recurso do desenho. Entende-se que a comunicação simbólica expressa no desenho sobre a projeção do conto de fada escolhido pela criança enriquece e amplia a compreensão da expressão subjetiva viabilizada por esta intervenção.
O estabelecimento do vínculo terapêutico foi fundamental para dar início ao trabalho com recursos dos contos de fadas e do desenho, que foram organizados em quatro momentos: a) foram apresentados para a criança participante dez livros de contos de fadas para a seleção de uma história para ser trabalhada; b) a narração do conto pela pesquisadora e/ou juntamente com a criança; c) convite para realizar um desenho sobre o conto narrado; e c) sugeriu-se para o participante contar uma história como desejasse, sobre o desenho e/ou do conto escolhido, também foi realizado um inquérito sobre o desenho e a história.
Penna (2014) sistematiza o processamento do material de acordo com as três etapas seguintes: a) organização e preparação do material; b) análise e c) síntese compreensiva (Penna, 2014). Para a primeira etapa, foi confeccionado um arquivo para cada participante com o registro dos dados clínico-demográficos, transcrição das entrevistas dos pais e dos relatos das crianças participantes. Através de leituras e releituras do material, num movimento de circum-ambulação, estabeleceu categorias de análise dos conteúdos emergentes que subjazem a seleção de categorias temáticas, facilitando e aprofundando à leitura simbólica.
Na análise do material, que constituiu a segunda etapa, utilizou-se da amplificação simbólica para estabelecer uma rede de conexões, associações e interpretações do material coletado com a revisão de literatura. De acordo com Penna (2014), a amplificação é um método de investigação psicológica desenvolvido por Carl Gustav Jung, que estabelece múltiplas associações em torno do tema nuclear do fenômeno, com o objetivo de amplificar seus significados em vários níveis de interpretação. A amplificação simbólica permitiu abrir um leque de possibilidades de tradução dos símbolos presentes nos contos de fada e nos desenhos em correlação com os conteúdos pessoais das crianças.
Por fim, a última etapa consistiu na síntese compreensiva, quando foi produzido um relato de pesquisa como produção final do processamento simbólico do material, apresentado na discussão do vigente trabalho.
RESULTADOS
A pesquisa foi composta por 20 crianças, com média de oito anos de idade, sendo que a menor criança com cinco anos e a maior 12 anos, 9 crianças do sexo feminino e 11 do masculino. A partir dos dados procedentes do roteiro de entrevista semiestruturada com o responsável legal da criança, foi possível identificar algumas características clínicas e demográficas.
No que tange ao diagnóstico, os dados apontam que 60% das crianças participantes são acometidas de doenças consideradas raras e algumas de caráter genético e/ou hereditário, como Anemia de Fanconi, Imunodeficiência Comum Variável Like, dentre outras, além das neoplasias malignas, que incluem as leucemias agudas. Verificou-se que três crianças convivem com a doença há mais de cinco anos e dezessete delas convivem há menos de cinco anos. É importante considerar que a média de idade das crianças foi de oito anos, assim, para muitas, o adoecimento está presente desde os primeiros anos de vida. Esse fator teve influência na escolarização, pois mesmo encontrando-se na faixa etária escolar, oito crianças ainda não haviam participado de tal experiência.
Conforme o pronunciamento das mães-cuidadoras no contexto hospitalar, a ausência de desejo e de planejamento da gravidez do filho-paciente compôs 70% do total da amostra. A mãe foi a principal personagem que se envolveu nos cuidados do filho, exceto no caso de um participante, cuja mãe é falecida.
No contexto da pesquisa, cinco crianças participantes têm irmãos que são acometidos com o mesmo diagnóstico, sendo que quatro desses faleceram. Por serem doenças de base hereditária e/ou genética e alguns casos com histórico de casamento consanguíneo.
Infelizmente, no período de vigência do estudo, três crianças tiveram complicações graves, como infecção e falha primária de pega do enxerto e outras condições clínicas, em que mesmo diante de cuidados intensivos, foram a óbito.
Em relação à escolha dos contos de fada no momento do estudo, as que mais despertaram interesse das crianças foram: Cinderela, escolhida por quatro crianças, O Mágico de Oz e Os Três Porquinhos, tiveram três escolhas cada. Nos contos da Bela e a Fera, Pinóquio, Patinho Feio, Chapeuzinho Vermelho duas crianças selecionaram. Os contos João e Maria e Peter Pan foram escolhidos uma vez cada. Já os enredos da Branca de Neve, João e o Pé de Feijão não foram selecionados. Entretanto, de maneira alguma isso significa que em outros momentos de vida ou mesmo no curso da vigente pesquisa, os interesses não poderiam intercambiar.
Ao comparar com a opinião dos cuidadores primários sobre a seleção da história pelo seu filho(a), verificou-se que apenas duas crianças tiveram a mesma escolha inferida pelas suas cuidadoras.
Na análise do material coletado, que se deu através do processamento simbólico, resultou em seis categorias que são um guia para apreensão da experiência da criança: 1) Vínculo Inseguro/Rejeição, 2) Experiência com Perdas Significativas, 3) Experiências Geradoras de Impacto Emocional, 4) Resiliência, 5) Arquétipo do Herói e 6) Arquétipo da Grande Mãe.
Em relação a estas categorias, analisou-se que a temática Vínculo Inseguro/Rejeição se fez presente nos relatos das crianças e das suas respectivas mães, em que as crianças sentiam muito medo em situação de separação da mãe e os pais relatam que rejeitaram seus filhos ao nascimento, com os mais diversos motivos, como depressão pós-parto, o bebê não era do sexo desejado e o luto pelo filho idealizado. A categoria Experiência com Perdas Significativas está intimamente relacionada à perda real de irmãos dos participantes da pesquisa, e também as perdas simbólicas, por exemplo, da saúde e da rotina. Já as Experiências Geradoras de Impacto Emocional são as situações adversas que as crianças participantes enfrentaram e podem ter sido eventos traumáticos, como abuso sexual, abandono e negligência.
Diante destas categorias, o Arquétipo da Grande Mãe envolve a temática dos abandonos reais e simbólicos, a dificuldade de separação da mãe, a capacidade de auxiliar e superar. Nesse sentido, a criança encontra-se indissoluvelmente ligada à imagem da mãe, sob a atmosfera psíquica desta que envolve as características da grande mãe, bruxa, devoradora, amorosa e protetora.
Mediante este contexto, é inviável discutir todos os casos com suas categorias de análise do presente trabalho, pois excederia o limite do espaço e impossibilitaria uma discussão mais consistente. Verificou-se que a maior frequência e intensidade dos conteúdos estão envoltas e circunscritas em imagens e narrativas simbólicas da figura da Grande Mãe. Desse modo, optou-se em discutir no presente trabalho a categoria do arquétipo da Grande Mãe a partir de dois contos: O Mágico de Oz e O Patinho Feio, que ilustram com maior profundidade os conteúdos simbólicos em torno dessa temática.
No Mundo de Oz: a Busca de um Acolhimento Materno
Dorothy, uma heroína órfã que vê o seu mundo às avessas quando o vórtice de um tornado a leva para a Terra de Oz e lá vive aventuras junto com o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Eduardo, Pedro e Luan embarcaram nessa aventura.
Eduardo (11 anos), institucionalizado há quatro anos, a mãe biológica falecida, foi exposto em situações de vulnerabilidade social e emocional na convivência com o pai e madrasta. A troca de cuidadora principal foi sucessiva durante a hospitalização. Com a avaliação da psiquiatria, Eduardo foi medicado com antidepressivo e recebeu o diagnóstico de transtorno pós-traumático. O nome de Eduardo foi registrado na certidão de nascimento de forma equivocada, assim ele preferia que lhe chamassem pelo nome atribuído pelos pais. Nas primeiras semanas de atendimento, Eduardo relata o seguinte sonho: “estava no quarto (da enfermaria) com uma mulher loira. Eu estava na janela vendo as pessoas correndo do furacão. Eu corri bastante para escapar do furacão e, senti muita dor nas pernas. Escondi-me em um buraco embaixo da terra.”
Para Jung (2011, p.105) o sonho “é uma reação do inconsciente em relação à situação consciente. Por isso, precisamos sempre considerar o contexto simbólico apresentado pelo inconsciente, como também a situação psicológica do sonhador.” Os sonhos na infância podem expressar tantos conteúdos pessoais quanto impessoais, mas por terem uma consciência ainda frágil, os sonhos tendem a apresentar-se com maior fluidez do inconsciente coletivo.
O estudo de Fillus e Janowski (2013) observou no universo onírico dos meninos os seguintes temas: heróis e batalha, animais, figuras fantásticas, pais e família. Todas as crianças pesquisadas por Fillus e Janowski (2013) apresentaram algum tipo de luta ou enfrentamento de criaturas desconhecidas. Os animais, monstros e outras criaturas similares são imagens personificadas que representam perigos ao desenvolvimento, sendo necessário ser superada, é uma batalha que possibilita o fortalecimento egoico. E antes mesmo das histórias serem adaptadas ao mundo infantil, as figuras dos animais acompanhavam o herói e a heroína, com boas e más intenções (Bachmann, 2016).
Eduardo no sonho necessitou tomar a atitude de correr diante do perigo do furacão, na busca de proteção, mesmo sem condições físicas para correr. Eduardo narra que sente medo de furacão, vento, trovão, tornado e raio. Desenha uma casa pequena, suspensa no meio da folha A4 e ao lado um furacão, prefere não colorir o desenho. A história narrada por ele é de destruição: “um vento forte derrubou a casa da menina.”
O medo dos aspectos destrutivos da mãe natureza (raio, trovão e chuva) associa-se com um tumulto e um caos interno que gera pressão e tensão psíquica no Eduardo, podendo produzir devastação ou purificação (Chevalier & Gheerbrant, 1992). Para Bachmann (2016), no tempo antigo, as tempestades com raios e trovões significavam um atentado contra a sua vida, e ao encontrar um abrigo, como caverna, era como uma proteção que envolvia a maternagem.
O desenvolvimento negativo da relação primal, influenciado pela Grande Mãe arquetípica e por fatores externos, como perda da mãe por morte ou doença, nem sempre é falha ou culpa da mãe pessoal (Jung, 2000). As experiências de Eduardo com a mãe pessoal são de ameaça, desconfiança e perdas sucessivas, insuficientes para a reconstrução de vínculos e para a compensação da Mãe Boa que poderia ser feito por meio de um elemento arquetípico da natureza que lhe proporcionasse algum tipo de amparo.
O vento forte que desabriga Dorothy é uma imagem do conto que pode ter propiciado ao Eduardo a extração expressiva da dor advinda das vivências ameaçadoras da destruição da morada, expondo-o ao frio, ao calor e a chuva. Sente saudade da figura materna que protege, aquece e alimenta. Como Dorothy enfatiza na história: “não há lugar como nossa casa” (Baum, 2003).
Durante o percurso do conto, a heroína resgata o Homem de Lata. Ele é todo enferrujado, suporta as dores das mutilações do seu corpo, mas a maior perda que sofreu é não conseguir mais amar por falta de um coração. Pedro (11 anos) identifica-se com o personagem do Homem de Lata, ao desenhá-lo com um quadrado no tórax, como se fosse um lugar de guardar o coração, porém dentro está vazio.
O discurso e o comportamento ansioso recorrente da mãe de Pedro relacionava-se com a conduta de superalimentação do seu filho, como se estivesse vivendo sob a influência do lado terrível da mãe arquetípica, representado pela bruxa que enche as crianças com guloseimas, mas tem a intenção de devorar. Ainda, é um conto que tem como tema principal a alimentação e João também apresenta uma rebeldia ao tentar enganar a bruxa, entregando um ossinho ao invés do seu dedo, que pode ser interpretada de acordo com Aguiar, Silva, Lima, Ferronatto e Pedone (2014), como a desobediência da criança ao fechar a boca e discordar das escolhas da mãe.
É importante ressaltar a história clínica de Pedro que, além do diagnóstico da neoplasia, tem diabetes. É uma doença considerada psicossomática e tem uma relação intrínseca com a alimentação, em que o comer se torna simbolicamente um doce amargo (Marcelino & Carvalho, 2005).
O estudo de Okido et al. (2017) identificou que as mães de crianças com diabetes mellitos tipo 1 estabelecem uma relação de doação total ao filho doente, que pode comprometer a saúde física e emocional delas, ao viverem esta rotina desgastante. Suas próprias necessidades são procrastinadas, para dedicar-se integralmente ao bem-estar do filho. Nessa relação de cuidado permeia o sentimento de impotência, medo da perda e a ameaça do fim de uma relação de amor e carinho estabelecida entre mãe e filho.
É possível considerar que as queixas e pedidos de Pedro são interpretados dentro da condição emocional da mãe, pela via literal e indiferenciada de saciar a fome, seja do que for, sempre com comida. Demonstra dificuldade para diferenciar, discernir e proporcionar outras respostas com fontes nutricionais, também no sentido simbólico.
Na perspectiva analítica e em leitura que vise à interpretação compreensiva é possível relacionar estas atitudes como pedidos de atributos da “Mãe Boa”, como o colinho, o aconchego seguro, o afeto, amor, acolhimento e o limite na boa medida. São atributos que têm conexão com o símbolo do coração, um órgão identificado como um local que acolhe os sentimentos, sejam positivos ou negativos (Martin, 2012).
O coração é órgão cujos batimentos causam a circulação do sangue pelo corpo todo. As frequências dos batimentos cardíacos foram lentamente diminuindo e a parada do coração retirou a vida do corpo todo de Pedro. Mesmo com todas as articulações lubrificadas, para Pedro tornou-se insuportável viver sem um coração...
Na peregrinação a Cidade Esmeralda, Dorothy se depara com um Leão medroso e impotente, que pede ao grande Oz, coragem: “de forma que possa me tornar de fato o Rei dos Animais, como todos me chamam.” (Baum, 2003, p.42). A mãe se refere a Luan (9 anos), como “uma criança frágil”, pois explica que o superprotegia.
O recorte do conto que Luan escolhe para desenhar foi o leão. Desenha repetidas partes do corpo do animal como: boca, dentes, pernas, patas e rabo de maneira fragmentada. Contradizendo com a simbologia associada ao felino, de soberano, poderoso e sábio, tornando-o disfuncional, um leão não capacitado para a função da sua natureza.
Continuando a viagem ao grande Mágico de Oz, o Leão mostra a sua valentia ao derrotar uma monstruosa aranha gigantesca, do tamanho de um elefante, com uma enorme boca cheia de dentes, conseguindo reconquistar o seu reino. O leão já tinha a coragem necessária, que ele tanto queria. Ele provou que era mais corajoso do que imaginava. A conduta do trabalho psicoterapêutico com Luan atuou na perspectiva de encontrar nele, a capacidade e autonomia, diluir a insegurança, desenvolver motivações para realizar algumas atividades que não sabia ser capaz, como executar um simples desenho e jogar cartas de uma forma lúdica e espontânea.
O nascimento de um filho implica o nascimento de uma “mãe” para este filho, exige-se um salto para responder esse novo chamado para esta condição. Em que a mãe é confrontada com suas imagens arquetípicas maternas predominantes, e dependendo dessas experiências evoca um determinado tipo de ação e percepção (Freitas, Scarabel & Duque, 2012). Com o seguinte relato da mãe de Luan: “morria de medo em cuidar de um bebezinho”. É observável uma desconfiança na condição de ser mãe, ambivalência no desejo materno e ansiedade no cuidado do pequeno.
Eduardo, Pedro e Luan mergulharam no conto do Mágico de Oz, de forma simbólica com a identificação nos personagens e momentos, buscaram na fantasia auxílio do Poderoso Oz para obter atributos que acreditavam necessitar. São crianças que idealizavam uma mãe com as diferentes facetas. É preciso que a mulher possa maturar, assumir a maternidade e se atualizar com o desenvolvimento do filho para que possa aceitar e permitir que o mesmo se separe, sem prejuízos para o vínculo afetivo.
Os conteúdos da consciência não surgiram apenas por influências do ambiente individual, mas também pelo inconsciente coletivo. Dessa maneira, a imagem da mãe individual é impressiva e particular, mas está intimamente associada à disposição do inconsciente coletivo, assim, “onde falta a figura individual sob este ou aquele aspecto, verifica-se uma perda ou uma exigência à imagem coletiva da mãe de se realizar.” (Jung, 1984, § 720, p. 319). Existem dominâncias do inconsciente coletivo, que impõem exigências da ordem do impossível na realização, como observado nos breves relatos e recortes das narrativas de Eduardo, Pedro e Luan.
Considerando os aspectos comportamentais, emocionais e afetivos das crianças que escolheram o conto, O Mágico de Oz, observou-se uma tendência que envolve humor triste, medo, desânimo, insegurança e passividade. Baum (2003) retrata a melancolia do ambiente que a menina órfã vivia com os seus tios. O autor descreve que era um ambiente sem vegetação, sem cores em que as pessoas perdiam o rubor e o brilho, com uma cinzenta paisagem ameaçada por tornados. Um lugar que existia a falta de cuidado e amor dos tios para com Dorothy. É um cenário que tende a ser propício para dificuldades emocionais e afetivas, caso a menina Dorothy continuasse a viver nesse ambiente sem tonalidade afetiva. Numa imagem analógica é como se a seara do hospital, as circunstâncias adversas, as perdas, sejam do âmbito real ou simbólico, associadas à experiência emocional negativa em relação à imagem internalizada da mãe pessoal sob os auspícios das influências destrutivas da Grande mãe, desvitalizasse a vontade e o sentido da própria existência dessas crianças que se encontram à mercê de forças maiores.
Na Jornada do Patinho Horroroso: um encontro possível com o materno
Era muito agradável a natureza do campo com suas plantas, trigo e flores. Em volta havia uma fazenda antiga às margens um rio de água fresca. Foi nesse recanto confortável que uma pata chocou uma nova ninhada. Tudo estava como deveria, as cascas dos ovos começaram a rachar e sair novos filhotes (Andersen, 2008).
De acordo com Estes (1994), é um dos poucos enredos que defende a criança negligenciada e apoia a procura do seu próprio grupo. Trata-se de narrativas que expõem outras maneiras de superação dos personagens, pelas quais o importante não é vencer bruxas/madrastas, dragões e conquistar a princesa ou príncipe, é uma jornada interior e uma luta contra o desamparo e a desesperança (Corso & Corso, 2006).
Letícia (9 anos), residente da região nordeste do país, uma menina cativante e com humor alegre. Nos primeiros atendimentos para estabelecer um vínculo terapêutico, foi utilizado o livro de cartas: A Fábrica de Histórias para Crianças, um recurso que possibilitou a participante dar continuidade à história com diversos temas e fatos inusitados, como, por exemplo: História: “O carro começou a falar comigo.” Letícia continua a história: “Nunca mais solte pum no banco do meu carro” (risos).
Durante o tratamento, foi no período da alopecia, em que Letícia sentiu-se com um humor mais triste e com dificuldade em aceitar que o cabelo fosse raspado. Letícia decidiu permanecer o período de uma semana com o seu cabelo caindo espontaneamente. Após a alopecia, Letícia passou a usar com frequência gorros, afirmando que sentia muito frio.
A escolha do conto, Patinho Feio, foi uma decisão rápida para Letícia, no momento em que ela olhou para o livro sorriu e imediatamente começou a folhear. Letícia narra uma verdadeira jornada, ao insistir perante as situações adversas, luta para continuar, apesar de tudo: “O patinho Horroroso: O patinho estava indo para caçar a mãe dele, por que a outra mãe não queria ele. Ele se escondeu em um negócio gelado. Daí, deu o inverno e um homem chamou para ir à casa dele. Ele foi, quando chegou lá os meninos quiseram matar o patinho feio. Aí, ele andou e andou até procurar sua casa. Ele passou por um lago que tinha jacarés e ele pisou em cada jacaré e o jacaré tirou uma peninha dele. Ele andou, andou e chegou em uma fazenda e lá na fazenda tinha galinha que beliscou o patinho e o patinho foi embora. Andou, andou até chegar na sua mãezinha que era muito longe. Ele ficou morando com a patinha horrorosa”
O papel da Grande Mãe circula entre as relações, dependendo das necessidades do momento e dos vínculos interpessoais manifestos que melhor possam atendê-la. Na narrativa de Letícia transita o anseio para o encontro de um lugar aconchegante em que fosse bem-vinda. Interpreta-se que é uma busca pelas forças construtivas do arquétipo maternal, por meio de ações e elementos (...) “necessários à existência, como nutrir, alimentar, aquecer, proteger, oferecer segurança e proteção” (Neumann, 1996, p. 67). O patinho herói luta contra diversas provações, mas resiste e encontra a sua mãe, com características semelhantes a ele, fazendo-lhe sentido ser e pertencer nesse lugar.
São representações que amplificam para além das características positivas do maternal, pois existe uma variedade incalculável de aspectos que indicam traços essenciais do arquétipo materno (Jung, 2000). A minuciosa investigação de Neumann (1996), sobre o arquétipo maternal, mostrou um vasto círculo de imagens simbólicas que referem uma pluralidade de figuras de Grandes Mães. Essa variedade de símbolos envolve imagens ainda não estruturadas e amorfas, especificamente, aquelas ligadas aos reinos da natureza, seja uma árvore, um lago, flor, rochedo ou um animal.
Com isso, é compreensível que o pato, bem como outros animais, seja associado à figura da Grande Mãe (Chevalier & Gheerbrant, 1992). Também, na mitologia os animais selvagens, predadores e aves dos pântanos (pato e ganso) são os súditos das Grandes Deusas, como Isis e Hathor, sendo comuns ritos de veneração e adoração (Neumann, 1996).
Assim, na narração de Letícia, o patinho arriscou a sua vida, sentiu-se congelado, acuado e perseguido, mas insistiu bravamente em seguir os seus conteúdos fantasiosos, estimulando temas arquetípicos dos contos de fada em atribuir à mãe, seja ela arquetípica ou pessoal, aspectos construtivos, como de proteção, que propiciaram condições para caminhar ao encontro da sua mãe.
Diante das análises dos casos e na práxis clínica com as crianças, as intervenções psicológicas com o uso dos contos de fada e o desenho mostraram-se profícuas no sentido de enriquecer o atendimento com material associativo e analógico, através do método construtivo e de amplificação das imagens simbólicas suscitadas mediante a experiência vivida no processo de desenvolvimento da análise e síntese ocorridas durante os atendimentos intermediados por contos de fada e pela elaboração singular daquele que traça paralelos com os contos, narra a própria história e se torna protagonista do desfecho que lhe cabe no cenário do transplante de células-tronco hematopoiético e no semear da própria vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há quem diga que os contos de fada sejam apenas alegorias narradas aos pequenos para o acalanto do sono ou uma forma de distração, mesmo sem muitos desconhecerem a profundeza dos conteúdos psíquicos e simbólicos que os mesmos possuem. O uso dos contos de fadas é um recurso psicoterapêutico que possibilita para as crianças um entendimento de que elas não estão sozinhas nas dificuldades, e que estas podem ganhar um sentido transformador.
Os Contos de Fadas contribuem para aprimorar e qualificar as intervenções psicológicas, ampliando a compreensão da condição emocional e afetiva da criança que se submete ao transplante de células-tronco hematopoiéticas. Além disso, os contos de fadas são apresentados através dos livros impressos que podem ser de fácil limpeza e acesso. Isto é relevante, já que existem algumas restrições e precauções para o uso de recursos lúdicos com a finalidade de evitar contaminações e proliferação das infecções advindas de vírus, bactérias e micro-organismos. Não se evidenciou contraindicação para o uso das narrativas dos contos de fadas, desde que haja cuidado com as transferências e interpretações analíticas. A utilização dos contos de fadas e o manejo clínico com a criança deve ser feito com respeito, sensibilidade empática, compromisso ético, amorosidade, vínculo terapêutico e conhecimento teórico para sustentar a jornada que se inicia com a apresentação dos contos de fada.
Entretanto, o potencial dos recursos dos contos de fadas na clínica psicológica é um trabalho artesanal que demanda de quem trabalha exigências não apenas pelo processo racional e formação teórico/clínica, mas também envolve recursos da personalidade, caráter e equação pessoal em que não se pode desconsiderar determinados fatores, tais como: sentimentos, amorosidade na ação laboral com as crianças e com a própria Psicologia, uma atitude de entrega para percorrer junto às aventuras com a criança no mundo mágico, mas também saber o caminho de retorno.
O psicólogo e/ou pesquisador precisa se colocar por inteiro, na arte de compreender e interpretar a projeção de conteúdos do inconsciente provenientes do estímulo das narrativas dos contos de fadas e seguir a mesma recomendação que Jung faz, em relação ao conteúdo onírico (1993, § 320, p.147): “olhe-o de todos os lados, tome-o em suas mãos, leve-o com você, deixe que a sua imaginação brinque com ele.”
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Endereço para correspondência
E-mail: keilaz@unochapeco.edu.br
1Psicóloga Especialista em Atenção Hospitalar na área de Concentração Hematologia e Oncologia pelo Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar (PRIMAH) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR), Brasil.
2Preceptora e Tutora de Psicologia na área de Onco-Hematologia do PRIMAH; Coordenadora do Programa de Psicologia no Serviço de Transplante de Medula Óssea e Quimioterapia de Alto Risco Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR), Brasil.