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Psicologia USP
versão On-line ISSN 1678-5177
Psicol. USP v.4 n.1-2 São Paulo 1993
EDITORIAL
O que é a memória? De que elementos faz uso? Como compõe e recompõe a matéria de que são feitas as lembranças? Este número da revista Psicologia USP procura respostas, num amplo espectro de pesquisas, para estas e outras questões tomadas como um desafio. Os artigos exploram problemas de grande alcance, dos quais um dos maiores é, certamente, a terrível ambigüidade da natureza da memória humana, ao mesmo tempo biológica e histórica. A complexidade dos problemas só vem apontar sua importância, e o cruzamento necessário da psicologia com outras disciplinas, como a fisiologia, a neurologia, a história e a antropologia. Uma das maiores aventuras do espírito humano é a possibilidade de reencontrar-se com seus semelhantes, que viveram ontem ou há milhares de anos. Também, recuando mais no tempo, encontrar dessemelhantes, recompor a história de sua trajetória na terra e, eventualmente, de seu desaparecimento. Sabemos que um caco de cerâmica é parte de um jarro, que algum dia portou o vinho festivo, ou que um pequeno fragmento de osso pode permitir a reconstrução de um crânio. Pegadas de animais que nos antecederam foram resguardadas pela memória da matéria bruta, e a brutalidade da matéria que, subitamente, se torna viva, manteve, intactos, até mesmo os alimentos dos habitantes de Pompéia e de Herculano, surpreendidos pela morte, mas conservados pela mesma violência que os abateu. Assim como incontáveis outros, são reservatórios para a memória. O mesmo pode-se dizer de cada homem, de cada ser vivo, de cada célula. Também a revista, algum dia, será parte do grande caudal da memória do conhecimento, fazendo uso de uma matéria mais dúctil, a palavra, mas não menos poderosa na guarda e na transmissão do conhecimento.