30 anos da Associação Brasileira de Orientação Profissional de Carreira: o papel da RBOP nesta celebração
O primeiro número de 2023 da Revista Brasileira de Orientação Profissional vem a público no contexto da preparação para o XVI Congresso Brasileiro de Orientação Profissional e de Carreira que será realizado no período de 31 de agosto e 02 de setembro de 2023, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Neste ano, o congresso celebra os 30 anos de criação da Associação Brasileira de Orientação Profissional e de Carreira (ABRAOPC), mantenedora da RBOP, a partir do tema “30 anos: Tradição e inovação”. Após três décadas da ABRAOPC como principal entidade profissional e científica da área no Brasil, é chegado o momento de refletir sobre o seu papel frente aos desafios do mundo do trabalho na contemporaneidade, convidando estudantes e profissionais a analisar criticamente o desenvolvimento histórico da área e a planejar o futuro da Orientação Profissional e de Carreira de maneira solidária e próxima das reais demandas da população brasileira.
O XVI Congresso Brasileiro de Orientação Profissional e de Carreira constitui-se, portanto, como um espaço de celebração da história da ABRAOPC, mas vai além disso. É local de reafirmação do compromisso com a ciência, com as práticas baseadas em evidências, com a qualificação teórica e técnica dos profissionais, dos instrumentos, das técnicas e das práticas do campo. Neste sentido, o presente número da RBOP soma-se a esta celebração e corrobora o compromisso com a formação e desenvolvimento científico da área. Assim, nesta edição são disponibilizados oito artigos, oriundos de investigações de autores e autoras brasileiros e estrangeiros com temáticas que versam sobre as demandas de estudantes universitários, de trabalhadores, além da apresentação de evidências de validade para instrumentos com potenciais contribuições para a pesquisa e prática em orientação de carreira.
A evasão é um fenômeno recorrente no Ensino Superior e teve um aumento significativo durante e após a pandemia de COVID-19, impactando a rotina das universidades e os projetos de vida dos estudantes que evadem. Assim, abrindo o número, encontra-se do artigo “Motivos da evasão universitária e serviços de apoio ao estudante” de autoria de Ana Carolina da Costa Araujo (UFC), Marcleide Maria Macêdo Pederneira (UFP), Marina Cardoso de Oliveira (UFMG) e Silvia Pereira de Castro Casa Nova (USP). A pesquisa identificou que motivos de ordem pessoal foram os que mais impactaram na concretização da evasão do Ensino Superior, sendo que esta pode vir acompanhada de sentimentos positivos e negativos para os estudantes. As autoras recomendam ações de serviços de apoio ao estudante para contribuição na permanência na graduação.
Ainda sobre a temática da evasão, Camila Alves Fior (Unicamp) e Leandro S. Almeida (Universidade do Minho – Portugal) assinam o artigo “Evasão nos cursos de Licenciatura: influência de variáveis pessoais e acadêmicas”. Os autores destacam que o Brasil teve um aumento no número de matrículas no Ensino Superior nos últimos anos, porém, este crescimento não é observado nos cursos de Licenciatura, nos quais houve redução no número de interessados sem ser docentes da educação básica. A pesquisa revela que entre os estudantes de licenciatura, os homens são aqueles que mais evadem ou tem dificuldades de concluir as disciplinas ao longo do curso. Potenciais estratégias para manutenção dos alunos foram identificadas, tais como recebimento de suporte financeiro, apoio psicopedagógico e estratégias adequadas de ensino. De tal modo, a evasão nos cursos de licenciatura também revela a baixa atratividade da carreira docente na rede básica e a importância da valorização da carreira docente para que o direito a educação seja de fato alcançado por todos.
A adaptação, permanência e integração ao ambiente acadêmico demanda o desenvolvimento de diversas competências e habilidades. Esta temática é abordada no terceiro artigo deste número: “Definições de competências transversais e transferíveis em estudantes universitários: revisão de escopo”. O trabalho é resultado de uma revisão de escopo que busca analisar definições conceituais das competências transversais e transferíveis de estudantes universitários. O estudo é fruto da parceria entre Raquel Atique Ferras (USP), Lucy Leal Melo-Silva (USP), Vinicius Coscioni (Universidade de Coimbra) e Jéssica Pierazzo de Oilveira Rodrigues (USP). A partir dos quatro pilares da Educação da UNESCO, da Economia Social e do Projeto Tuning da América Latina, os autores organizam as competências em quatro dimensões: cognitivas, profissionais e ocupacionais, interpessoais e atributos pessoais. A síntese das definições contribui para a ampliação da conceitualização das competências e para implementação de estratégias educativas e interventivas que possibilitem a construção de projetos de vida que valorizem a autonomia e a consciência crítica.
A carreira, hoje entendida como um meio de construção da própria vida, reúne as vivências educacionais, formativas e laborais. Neste sentido, o quarto e o quinto artigo deste número focam na experiência de trabalhadores. O trabalho “Fatores psicossociais no trabalho de servidores públicos realocados de função” de autoria de Marina Greghi Sticca (USP), Tamy Yuki Damasceno (USP), Flávia Helen Moreira da Silva (USP) e Viviane Mishima dos Santos (USP) analisou os indicadores de saúde e fatores de riscos psicossociais do trabalho antes e após a realocação de função. Os achados indicaram que a transferência dos trabalhadores de serviços operacionais para funções administrativas reduziu os fatores de riscos, mas que sem um treinamento adequado para a nova função, a adaptação pode ser difícil. Por sua vez, no artigo “Maternidade e trabalho de mulheres primíparas: da gestação ao retorno ao trabalho”, Lília Bittencourt Silva (Centro Universitário Social da Bahia), Sônia Maria Guedes Gondim (UFBA), Yuri Sá Oliveira Sousa (UFBA) e Ana Célia Araújo Simões (UFBA), analisaram as mudanças nas expectativas profissionais e a relação trabalho-família de trabalhadoras que se tornaram mães pela primeira vez. O estudo conclui que as expectativas profissionais mudam durante a gestação, acompanhada pelo medo de perder o trabalho. Além disso, o conflito trabalho-família tende a estar mais presentes quando as trabalhadoras retornam ao trabalho.
Por fim, os últimos três artigos deste número apresentam evidências de validade para instrumentos de medida desenvolvidos para o contexto brasileiro e internacional. O sexto artigo intitulado “Desenvolvimento de um questionário de preferência de campo de carreira para estudantes de psicologia” é de autoria de pesquisadores da Universidad de La Sabana (Mariana Varela-Jaramillo, Santiago Ramírez Casteñeda, Andrea Santacruz e Fernando Riveros Munevar). Os autores elaboraram itens para representar nove áreas de atuação em Psicologia na Colômbia. Os resultados sugerem adequadas evidências de validade com base no conteúdo e na estrutura interna do teste. O sétimo artigo, “Construção e evidências iniciais de validade de conteúdo da Escala da Narrabilidade”, é de autoria de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (João Paulo Koltermann e Maiana Farias Oliveira Nunes). Os autores basearam-se nos processos narrativos do paradigma Life-Design para desenvolver o instrumento. Os resultados apresentam os estudos de evidências de validade com base no conteúdo do teste a partir das contribuições da literatura cientifica internacional, de profissionais do campo da Orientação Profissional e de Carreira, da avaliação teórica por juízes e avaliação semântica por parte da população-alvo.
Por fim, o oitavo artigo deste número é referente ao processo de “Adaptação do Teste Reduzido de Inteligência Pessoal para o contexto brasileiro”, trabalho de autoria de Tiago Febel, Wagner de Lara Machado, Rodrigo Soares Assis, Manoela Ziebell de Oliveira e Thaline da Cunha Moreira, ambos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O instrumento passou pelas etapas de tradução e adaptação e depois foi respondido por trabalhadores. Os resultados de sugerem adequadas evidências de validade com base na estrutura interna a partir da Teoria de Resposta ao Item. O instrumento pode contribuir para favorecer o autoconhecimento de pessoas em processos de orientação de carreira.
A diversidade retratada neste número da RBOP evidencia as potencialidades do campo da Orientação Profissional e de Carreira para a construção de práticas éticas e capazes de auxiliar profissionais e clientes em seus processos de desenvolvimento profissional. Desejo uma boa leitura para todas e todos e que seguimos juntos na solidificação da nossa área no país!