A avaliação psicológica (AP) desempenha um papel fundamental em diversas áreas da psicologia, incluindo a orientação profissional e de carreira (OPC). Embora a OPC não seja exclusivamente uma área de atuação do psicólogo, é responsabilidade exclusiva deste profissional conduzir o processo de AP nesse contexto (Melo-Silva, 2003). No entanto, por muito tempo, a OPC foi associada apenas aos testes vocacionais, uma vez que seu surgimento estava centrado nos resultados desses testes para orientar as escolhas profissionais e trajetórias das pessoas. Com a chegada da globalização, a OPC passou a se concentrar no processo, destacando a importância da avaliação psicológica como uma ferramenta para auxiliar na tomada de decisão (Sparta, Bardagi, & Teixeira, 2006).
Nesse cenário, destaca-se o livro “Avaliação em Orientação Profissional e de Carreira: fundamentos, planejamento e aplicações”, organizado por Rodolfo Augusto Matteo Ambiel, Thaline da Cunha Moreira e Leonardo de Oliveira Barros (2023). A obra, composta por onze capítulos, visa discutir a evolução da avaliação no contexto da OPC, abordando os fundamentos teóricos e técnicos essenciais para embasar a sua realização. Além disso, busca informar os psicólogos/orientadores profissionais sobre a importância e o papel da avaliação psicológica nesse contexto.
O capítulo introdutório relata o desenvolvimento da OPC, que passou por mudanças ao longo do tempo, com influências sociais e culturais, e da psicologia. Os autores ressaltam como, na contemporaneidade, a carreira é vivenciada como sendo um projeto de vida que inclui a necessidade de autoconhecimento como base no desenvolvimento do processo de escolha. No segundo capítulo é retratada a abrangência da avaliação em OPC, visto que envolve uma variedade de construtos. As características pessoais mais frequentemente avaliadas nesta área (interesses, autoeficácia, adaptabilidade e personalidade), bem como os princípios técnicos fundamentais dos instrumentos utilizados nesse contexto são explicitadas neste capítulo.
No terceiro capítulo, os autores apresentam uma revisão da literatura que teve como intuito levantar os construtos mais avaliados nos processos de OPC por meio de instrumentos padronizados em contexto brasileiro. Baseada nas diretrizes do PRISMA, os autores chegaram em 76 artigos para análise. Os autores verificaram que 65 construtos diferentes foram analisados nestes estudos, sendo que os interesses profissionais e a autoeficácia foram os mais avaliados. Quanto aos instrumentos mais utilizados, destacam-se os de autorrelato e que mensuram os interesses profissionais e a maturidade para a escolha profissional (BBT, EMEP, SDS e EAP).
O quarto capítulo, tem o propósito de refletir sobre o processo de avaliação em intervenções de orientação profissional e de carreira em diferentes contextos: clínico, escolar, universitário e organizacional. As autoras distinguem as práticas de avaliação psicológica em OPC nos diferentes âmbitos em que a transição de carreira e o planejamento se inserem, seja ele da escola para a faculdade e desta para o mercado de trabalho. Destaca-se, ainda, as diferentes perspectivas que embasam as intervenções e avaliações, como a educação para a carreira e a Teoria da Construção de Carreira.
No quinto capítulo, os autores tratam sobre a necessidade de ampliação do processo de OPC e da prática avaliativa para além da clínica. As transformações no século XXI ressaltam a importância de se olhar para a carreira de todas as pessoas, incluindo as crianças, adolescentes em conflito com a lei, pessoas com deficiência ou em situação de internação. Os autores apresentam diferentes estudos e práticas que demonstram como este trabalho com populações distintas pode ser uma importante ferramenta na busca de justiça social.
No sexto capítulo, é argumentado sobre qual teste, técnica ou ferramenta pode ser utilizada nos processos de OPC. Os autores ressaltam a importância de conhecer o cliente, levando em conta suas experiências e individualidades, sendo necessário ter claro os procedimentos éticos que envolvem a escolha dessas ferramentas, já que os testes psicológicos são de uso exclusivo do psicólogo. Também são apresentadas diferentes técnicas e testes que podem ser úteis para trabalhar questões de carreira relativas ao presente, passado e futuro do cliente.
O sétimo capítulo aborda o contexto da adaptação/ integração acadêmica, apresentando os principais instrumentos psicométricos e demais aspectos avaliados que colaboram para o planejamento de carreira do universitário, atingindo, consequentemente, sua adaptação/integração acadêmica. Além disso, as autoras discutem sobre a importância da avaliação desta variável considerando todos os avanços e mudanças no cenário universitário.
O capítulo oito apresenta os pontos principais que devem ser considerados no momento de planejar a avaliação em OPC. Assim como todo processo de avaliação psicológica, na OPC os orientadores/psicólogos também precisam planejar este procedimento, levando em conta a demanda a ser verificada, a seleção de instrumentos e como proceder com os resultados.
Além de pensar as avaliações em processos de OPC, também se faz relevante a avaliações dos processos de OPC. No nono capítulo, as autoras portuguesas e brasileira discutem as especificidades das avaliações das intervenções de carreira, destacando os principais construtos que são utilizados na avaliação do sucesso e eficácia desses processos, além de abordar como Portugal e Brasil realizam e tratam desta temática.
Nota-se que a avaliação em OPC passa por diferentes etapas, desde o seu planejamento, a aplicação e a comunicação dos resultados. Especificamente nesta última parte é que se enquadra o capítulo dez, que apresenta as possibilidades de comunicação dos resultados decorrentes da avaliação em OPC. Os autores discutem pontos como a preparação do profissional incluindo aspectos éticos e técnicos necessários para a condução desse momento de devolutiva. Ademais, tratam das características que devem ser consideradas na elaboração dos documentos que comunicam esses dados. Fechando o livro, o décimo primeiro capítulo tem como propósito a apresentação da técnica “Escores Transformados em Histórias” (ETH) (Ambiel, 2021), que se trata de um procedimento semiestruturado para debater os resultados da avaliação dos interesses em processos de OPC.
De modo geral, nota-se que o livro traz ao leitor as diferentes nuances e procedimentos envolvidos na realização da avaliação em processos de OPC. Todos esses capítulos se complementam em uma sequência esclarecedora ao leitor, possibilitando a compreensão de questões específicas, como a ampliação da OPC e da avaliação em diferentes públicos e contextos, até questões amplas como o planejamento das avaliações, a escolha de técnicas, testes e ferramentas e, a comunicação dos resultados. Por fim, mesmo que abordando pontos técnicos que norteiam a prática do orientador profissional, o livro também trata de aspectos teóricos importantes, que possibilitam a ampliação do conhecimento e aprimoramento desse profissional.