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Mental

versão impressa ISSN 1679-4427versão On-line ISSN 1984-980X

Mental v.2 n.3 Barbacena nov. 2004

 

RESENHAS

 

 

Fabiane Lima Silva Floriano I,*

I Universidade Presidente Antönio Carlos

 

 

MAPURANGA, Juçara Rocha Soares. TPM: tensão, paixão e mal-estar - a subjetividade de uma mulher em tensão pré-menstrual. Fortaleza: Escuta, 2004. 200p.

Juçara Rocha Soares Mapuranga elaborou o presente trabalho com o objetivo inicial de obter o título de Mestre em Psicologia na Universidade de Fortaleza.

TPM: tensão, paixão e mal-estar - a subjetividade de uma mulher em tensão pré-menstrual oferece ao público um trabalho original, fruto de longa escuta clínica e estudos das articulações teóricas de Freud e Lacan sobre tema pouco abordado pelos psicanalistas. A autora liga-se à corrente analítica que considera a TPM como uma das novas formas clínicas de expressão do sofrimento psíquico do sujeito contemporâneo (mulher), atingindo-o na problemática do feminino e de um corpo em processo de constituição subjetiva. Ao longo dos cinco capítulos do livro, Mapuranga constrói, sob pilares psicanalíticos, a forma pela qual o corpo feminino reage aos sintomas, destacando o modo como a TPM causa e acarreta a subjetivação da mulher, o que marca uma singularidade (e não uma universalidade).

A autora introduz, no primeiro capítulo de seu livro, o discurso freudiano sobre a mulher, e retoma conceitos básicos da teoria psicanalítica, como castração, Complexo de Édipo, feminino e feminilidade, falo, significantes, Real, Simbólico, Imaginário, aos quais acrescenta breves noções acerca dos ensaios lacanianos.

O segundo capítulo descreve a TPM e a menstruação por meio de incursão na literatura médica sobre a sintomalogia, a etiologia, o diagnóstico e o tratamento. Aborda o tratamento dado pela mídia ao assunto e seus sintomas para a psicanálise. TPM é o nome que se dá ao conjunto de sintomas que algumas mulheres apresentam dias antes da menstruação. Alterações físicas e psíquicas, como inchaço pela retenção de líquido, dores nas mamas, insônia, aumento de apetite, raiva, agressividade, ansiedade, crises de choro e depressão são sintomas típicos da TPM, que prejudicam o desempenho pessoal, social ou profissional.

"A menstruação é uma hemorragia uterina provocada pela expulsão do revestimento interno do útero, o endométrio, pela ação contrátil da musculatura uterina, o miométrio, sempre que uma ovulação não resulta em gravidez. O aumento da atividade contrátil do útero, assim como a desorganização estrutural do endométrio, que precede, provoca e mantém a menstruação, resulta da queda dos níveis dos hormônios ovarianos que inibem a atividade contrátil da musculatura e sustentam a organização estrutural e funcional do endométrio. O fenômeno é reconhecido pelo seu caráter hemorrágico de duração autolimitada a cerca de cinco dias e se repete de maneira periódica a intervalos de 28 dias, enquanto houver insucesso reprodutivo após cada ovulação bem-sucedida. (Coutinho, 1996, p.83).

O ciclo menstrual é acionado pelos hormônios produzidos no hipotálamo, que se localiza no centro do cérebro, de onde recebe e envia sinais nervosos para outras zonas cerebrais, regulando diversas funções: fome, sede, padrões de sono e todas as funções endócrinas, incluindo a menstruação.

Na seqüência, Mapuranga escreve sobre tensão, pulsão e mal-estar. Demonstra como a tensão é pulsional, constante e impossível de cessar plenamente, daí o mal-estar diante dessa impossibilidade de satisfação. "A pulsão é o conceito situado na fronteira entre o mental e o somático; tem sua fonte no corpo e seu objeto no registro psíquico. Há um corpo biológico e um corpo simbólico." (Freud, 1915, p.171)

Em TPM: tensão, paixão de uma mulher, quarto capítulo, a autora analisa a paixão como um estado de sofrimento, de padecimento e de mobilização, que dá sentido e orientação aos atos humanos.

O útero é um lugar de excesso, de uma paixão desmedida, e a TPM, tomada pelo excesso de um útero túrgido de sangue, lança a mulher num desamparo que exige a construção de sentidos para tentar dominar satisfatoriamente os excessos pulsionais ou da paixão. Tais sentidos são escritos pelas dores, pelo sentimento de perda diante do fluxo menstrual, que leva as mulheres à subjetivação, por meio dessa experiência.

No quinto e último capítulo, Juçara Mapuranga descreve detalhadamente sua pesquisa, o estudo de caso de "N., mulher de 38 anos, solteira, profissional liberal". N. chega à análise descontente com seu jeito de ser: "Sou uma pessoa tensa, ansiosa. Estou mal. Não vejo sentido na vida, não estou traçando objetivos, tenho vontade de morrer." N. relata como sintomas principais que a acometem mal-estar muito forte, tristeza, angústia e um medo difuso. Queixa-se também de insônia e desânimo, além de irritação constante e de grande impaciência. E de uma enxaqueca que se acentua no período pré-menstrual. A seguir, a autora relaciona os métodos de investigação e tratamento adotados, o mapeamento das categorias teóricas, cruzadas com categorias analíticas.

Conclusões terapêuticas destaca as observações da autora ao longo dos cinco anos de tratamento de N. No início da terapia, a dor de cabeça, sintoma da TPM, a dominava de tal maneira que a impedia de se adaptar a determinado tipo de trabalho. Pela diferenciação entre sujeito e objeto, deu lugar ao sintoma, construindo sentido para a recusa de emprego, responsabilizando, agora, seu desejo pela sua decisão.

A TPM e seus sintomas seriam a forma pela qual N. lidaria com a posição subjetiva ocupada por ela diante do horror da castração, que seria a menstruação. A menstruação revela a imperfeição e a finitude humanas, pois representa a morte e a putrefação corpórea. O destino biológico é a fecundação do óvulo; a menstruação acusa um fracasso; o sintoma seria o choro do óvulo não fecundado. Sabemos que, diante da constatação da castração, a mulher freudiana pode seguir três caminhos: a inibição sexual, a virilização e a maternidade. A feminilidade surge da maternidade.

O livro, de fácil entendimento, contém estudo cronológico das descobertas científicas em Tensão Pré-Menstrual. Traz conceitos psicanalíticos sob a subjetividade feminina, e ajuda a compreender os processos biológicos e subjetivos de uma mulher.

 

 

* Aluna do 4o ano do curso de Psicologia da UNIPAC-Ubá.

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