Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Estudos e Pesquisas em Psicologia
versão On-line ISSN 1808-4281
Estud. pesqui. psicol. v.8 n.2 Rio de Janeiro ago. 2008
COMUNICAÇÃO DE PESQUISA
Winnicott & Maturana: um diálogo possível?1
Winnicott and Maturana: is it a possible dialogue?
Wladimir Ferreira de Souza
Psicólogo e doutorando do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ - Rio de Janeiro, Brasil
RESUMO
Este trabalho procura demonstrar algumas consonâncias entre dois autores, D. W. Winnicott e Humberto R. Maturana, baseado na hipótese de que a “interlocução”, o “diálogo” entre esses dois autores pode contribuir para uma melhor compreensão do fazer humano em sua complexidade, compreendido aqui também o que se refere às relações entre a atividade de trabalho, a criatividade, a saúde e os cuidados entre os seres humanos.
Palavras-chave: Ergologia2;, Dispositivo dinâmico a três p ólos, Saúde, Winnicott, Maturana.
ABSTRACT
This paper looks for to demonstrate some accories between two authors, D.W. Winnicott and Humberto R. Maturana, based on the hypothesis of that the “interlocution”, the “dialogue” enters these two authors can contribute to understand making human being in its complexity, including here also what concerns the relations between the human activity, the creativity, the health and the cares between the human beings.
Keywords: Ergology, Dynamic device the three polar regions, Health, Winnicott, Maturana.
I. Winnicott e o viver criativo
D. W. Winicott, médico pediatra e psicanalista inglês, oferece uma peculiar contribuição para compreendermos melhor a atividade humana, a vida, em sentido lato, e sobre o que desenvolve nossa capacidade de viver criativamente e de encontrar “vitalidade” na vida em seus diversos momentos e movimentos.
Para Júlio de Mello Filho, um dos expoentes da Medicina Psicossomática brasileira e introdutor, há cerca de 40 anos, do pensamento de Winnicott no Brasil, a obra desse autor transcende a Psicanálise e se insere nos campos da educação, assistência social, pediatria, saúde mental, delinqüência, adolescência, para tentar responder, segundo ele mesmo, a pergunta essencial: “De que trata a vida”? (MELLO FILHO, 2001, p.33).
Embora seu treinamento analítico tenha sido baseado num esquema kleiniano, Winnicott foi aos poucos elaborando sua própria teoria e propondo seus próprios conceitos, tais como: “mãe suficientemente boa”, “ambiente facilitador”, “objetos e fenômenos transicionais”, “holding”, realidade compartilhada”, “espaço potencial” (WINNICOTT, 1975; 1978; 1982). O desenvolvimento desses conceitos, para citar apenas alguns, em muito contribuiu para a compreensão do desenvolvimento emocional humano.
Winnicott acreditava que o amor é a emoção humana fundamental, a partir do amor mais genuíno que ele tanto estudou, da mãe pelo filho. Para ele, a mãe sustenta a criança algumas vezes fisicamente e todo o tempo figurativamente. O holding inclui a comunicação silenciosa entre a mãe e seu bebê e é a raiz de todas as outras comunicações entre os seres humanos. É através do holding materno que a criança se sente integrada em si mesma e começa a experimentar uma sensação de diferenciação do mundo em que vive. Em seu entender, somos o produto de uma integração constante e permanente com o meio, resultado do encontro dos processos de maturação com um ambiente facilitador, que possibilita o desenvolvimento destas potencialidades e do impulso criativo.
O tema da criatividade, bastante presente na obra de Winnicott, está relacionado a uma das suas mais importantes descobertas: a dos objetos e fenômenos transicionais, aos quais a criança se liga para substituir, transitoriamente, a figura materna, da qual precisa se individualizar. Winnicott introduz esses termos para designar a área intermediária de experimentação (entre o subjetivo e aquilo que é objetivamente percebido), para a qual contribuem tanto a realidade interna quanto a vida externa, onde está compreendida a passagem do erotismo oral para a verdadeira relação de objeto e da onipotência para o reconhecimento da dependência (física e afetiva) do outro. “O lactente começa a saber em sua mente que a mãe é necessária” (WINNICOTT, 1982, p. 84).
Pois, no começo, a mãe propicia ao bebê, quando lhe oferece o seio (entendido aqui como todos os cuidados de maternagem), a ilusão de que o seio (cuidado) dela faz parte dele, como algo de que pode dispor, de forma onipotente, como e quando ele quiser. A adaptação da mãe às necessidades do bebê, quando suficientemente boa, dá a este a ilusão de que existe uma realidade externa correspondente à sua própria capacidade de criar. Após propiciar a oportunidade para a ilusão, gradativamente a mãe precisa assumir a tarefa de desiludir, preparando o palco para as frustrações.
O objeto transicional representa a transição do bebê de um estado em que está fundido com a mãe para um estado em que está em relação com ela, como algo separado. Ele não é um ‘objeto interno’ (que é um conceito mental, desenvolvido por Melanie Klein), tampouco é (para o bebê) um objeto externo. Ele é uma possessão, a primeira possessão original reconhecidamente ‘não-eu’, ‘diferente-de-mim’. Está relacionado ao desenvolvimento da capacidade do bebê de criar, imaginar, inventar, originar, produzir um objeto, assim como aponta para o início de um tipo afetuoso de relação de objeto. À medida que o bebê cresce, o objeto transicional (o polegar, o ursinho, o lençol, etc.) vai sendo gradativamente descatexizado (ou desinvestido), perde o significado, devido ao fato de que “os fenômenos transicionais se tornaram difusos, se espalharam por todo o território intermediário entre a realidade psíquica interna e o mundo externo” (WINNICOTT, 1975, p. 19).
É o objeto transicional que abre o caminho em direção ao desenvolvimento da capacidade para relações objetais. O lactente muda de um relacionamento com um objeto subjetivamente concebido para uma relação com um objeto objetivamente percebido, muda da fusão com a mãe para ser separado dela, relacionando-se com ela como separada dele, como ‘não-eu’. À medida que o bebê cresce, os objetos transicionais vão sendo substituídos por fenômenos mais abstratos (canções de ninar, sons emitidos pelo bebê, ritmos corporais, etc.).
Há uma evolução direta dos fenômenos transicionais para o brincar, do brincar para o brincar compartilhado, e deste para as experiências culturais.
Ao defender a importância do brincar como uma atividade natural e necessária ao desenvolvimento humano, Winnicott postulou a existência de um espaço potencial entre a mãe e o bebê, um espaço que pode variar bastante, segundo as experiências de vida do bebê em relação à mãe ou figura materna, com o mundo interno (psicossomático) e com a realidade concreta ou externa. Essa área intermediária da experiência constitui a parte maior da experiência do bebê e, através da vida, é conservada na experimentação intensa que diz respeito às artes, à religião, ao viver imaginativo e criativo. Então, o impulso criativo seria algo que se faz presente quando qualquer pessoa se inclina de maneira saudável para algo ou realiza deliberadamente alguma coisa.
Para Winnicott, o brincar é universal, uma forma básica de viver, e é somente no brincar que o indivíduo pode ser criativo. “Viver criativamente constitui um estado saudável, e a submissão é uma base doentia para a vida” (WINNICOTT, 1975, p. 95).
A criatividade é entendida por Winnicott como uma proposição universal, relacionada com os modos de o indivíduo abordar a realidade externa. Sob essa ótica, Winnicott afirmou a necessidade de se considerar a impossibilidade de uma destruição completa da capacidade de um indivíduo humano para o viver criativo.
Até aqui foram expostos alguns pontos da teoria winnicottiana que podem se aproximar do pensamento de Humberto Maturana. Apresentaremos então, a partir daqui, as idéias desse autor, dando ênfase aos aspectos que mais se aproximam do pensamento de Winnicott.
II. Humberto Maturana e a “biologia do amar”
Humberto Maturana, biólogo chileno, através do seu conjunto de idéias, que vem sendo designado como “Biologia do Conhecimento”, “Biologia do Amor”, ou do “Amar” (recentemente vem sendo usada esta denominação, fazendo-se uso do verbo de forma substantivada), procura demonstrar que o chamado “humano” se constitui no entrelaçamento do racional com o emocional.
Os trabalhos de Maturana, que tomam como ponto de partida a Biologia, podem ser estendidos a diversas outras áreas como, por exemplo, a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia e, como tentaremos demonstrar adiante, também a uma certa Psicanálise, notadamente a winnicottiana.
Entendendo as emoções como disposições corporais que especificam domínios de ação, Maturana considera que a condição biológica básica dos humanos é a de sermos dependentes do amor e que o socius estaria fundado nessa emoção em particular, o amor, e na conseqüente convivência e integração com os outros indivíduos e com o meio. Para ele é o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção que constitui nosso viver humano, já que todo sistema racional teria um fundamento emocional. O peculiar do humano estaria na linguagem e no seu entrelaçamento com o emocionar (MATURANA, 1998).
Não somos animais amorosos porque isto foi uma vantagem evolutiva. O ser humano não se conservará em qualquer cultura, apenas naquelas que conservarem a biologia do amor e da intimidade como aspectos centrais do modo de vida que as define.
Para Maturana e Zöller os humanos pertencem a uma linhagem neotênica, isto é, “uma linhagem definida pela conservação da progressiva expansão das características da infância na vida adulta” (MATURANA; REZEPKA, 2000, p. 70). Assim, os seres humanos modernos seriam, no seu entender, animais dependentes do amor em todas as idades e a sensualidade e a ternura, características da relação materno-infantil, seriam expandidas para o âmbito adulto. Este processo de neotênia não implicou apenas a conservação de traços anatômicos e fisiológicos, mas também a conservação, na vida adulta, das dinâmicas relacionais próprias da relação materno-infantil. Por essa razão, seríamos nós, os seres humanos modernos, animais dependentes do amor em todas as idades e adoecemos em qualquer idade quando há interferência com o nosso viver no amor. “A maior parte das enfermidades humanas, somáticas e psíquicas, pertencem ao âmbito de interferências com o amor” (MATURANA, 1993, p. 159).
Os autores asseguram ainda que “foi no espaço relacional da intimidade, na aceitação da proximidade corporal e da cooperação, que a linguagem pôde surgir e surgiu” (MATURANA; REZEPKA, 2000, p. 72). A transformação de nossos ancestrais em nós, como animais de linguagem, falantes, deve ser o resultado de uma direcionalidade evolutiva definida pela conservação de uma maneira de viver em conversações, através da produção de sons num fundamento de intimidade constituído desde a biologia do amor.
Avançando em suas reflexões, os autores justificam que somos animais de linguagem e amorosos porque “o amor é nossa base, a proximidade é nosso fundamento, e se os perdermos, procuramos sempre de novo recuperar o amor e a proximidade, porque sem eles desaparecemos como seres humanos [...]”, pois “a saúde psíquica e fisiológica depende do amor” ( MATURANA; REZEPKA, 2000, p. 75). Se a relação primária mãe-filho não é perturbada, o humano conserva-se como maneira de viver na vida adulta, a criança torna-se um ser singular ao viver num espaço relacional com outros seres.
Embora vivamos em um mundo onde o ódio, sob as suas diversas formas, a violência, a manipulação e a instrumentalização das relações humanas estejam presentes, o fundamento emotivo em que ocorre a vida da comunidade humana é a cooperação e a emoção que constitui a relação social é o amor, a aceitação do outro como um legítimo outro em coexistência com alguém. Nenhum sistema social pode se basear na agressão porque a agressão leva à separação ou à destruição.
Para compreendermos o humano é absolutamente essencial considerarmos que o amor é uma característica fundamental do viver humano. Em nosso processo de desenvolvimento individual como seres humanos o amor é um elemento fundamental desde o útero até a nossa morte.
III. Winnicott e Maturana: um diálogo possível?
Reproduzirei alguns trechos que considero de grande importância para a proposta de apresentar proximidades entre o pensamento de Maturana e de Winnicott:
Os aspectos importantes da dinâmica sistêmica que nos fazem e conservam como seres humanos são a intimidade do amor e o jogo na relação materno-infantil e uma infância vivida de maneira que a pessoa em crescimento conserve o respeito por si mesmo e pelo outro [...]. A relação primária entre mãe e filho ou filha é uma relação de total confiança e mútua aceitação corporal na qual, na dinâmica do jogo com a mãe, o filho aprende a sua corporalidade e a corporalidade dos outros, desenvolvendo sua consciência de si e sua consciência social no auto-respeito e respeito pelos outros, ao mesmo tempo em que cria o mundo em que vive como uma expansão de sua dinâmica racional e corporal. Se esta relação primária mãe-filho não é perturbada, o humano conserva-se como maneira de viver na vida adulta (MATURANA; REZEPKA, 2000, p. 77).
Em outras palavras, Winnicott (1975, p. 25) diria:
Não há possibilidade alguma de um bebê progredir do princípio de prazer para o princípio de realidade ou no sentido, e para além dela, da identificação primária (ver Freud, 1923), a menos que exista uma mãe suficientemente boa. A ‘mãe’ suficientemente boa (não necessariamente a própria mãe do bebê) é aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que diminui gradativamente, segundo a crescente capacidade deste em aquilatar o fracasso da adaptação e em tolerar os resultados da frustração.
Constatando em sua época a ausência de um enunciado útil sobre o tema da brincadeira na literatura psicanalítica, Winnicott enfatizava que o brincar trata-se de um tema que precisa ser estudado em si mesmo, posto que pode ser verificado tanto no caso de análise de adultos quanto no de crianças, manifestando-se no primeiro caso, por exemplo, na escolha das palavras, nas inflexões de voz e no senso de humor.
Em seu entender a brincadeira é algo universal, própria da saúde, o brincar facilita o crescimento e, portanto a saúde, conduzindo aos relacionamentos grupais, enfim, é uma “coisa natural e universal” (WINNICOTT, 1975, p. 63). Para ele o brincar representaria sempre uma experiência criativa na continuidade espaço-tempo, uma forma básica de viver, estando estreitamente relacionado ao que chamou de espaço potencial, o qual se desenvolve inicialmente entre a mãe e o bebê e, posteriormente, entre a criança e a família, entre o indivíduo e a sociedade ou o mundo. Da magnitude desse espaço potencial dependerá a experiência que conduz à confiança em si próprio e nos outros.
Para Winnicott, “não existe saúde para o ser humano que não tenha sido iniciado suficientemente bem pela mãe” (WINNICOTT, 1975, p. 26).
Não é necessário que a mãe suficientemente boa seja necessariamente a mãe do bebê, sendo mais importante que seja alguém que oferece uma provisão ambiental suficientemente boa. O espaço potencial acontece apenas em relação a um sentimento de confiança por parte do bebê, confiança relacionada à fidedignidade da figura materna ou dos elementos ambientais.
Em Maturana essa idéia também parece estar presente, já que ele afirma que o que entende por mãe em sua teoria é a relação de cuidado em uma relação íntima de aceitação e confiança, que pode ser realizada tanto por um homem como por uma mulher.
Em “Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano” (MATURANA, 2004), encontramos desde o título diversos pontos de proximidade entre a chamada Biologia do Amor e aquilo que vimos a respeito da Psicanálise Winnicottiana.
Nesse livro o autor acentua que a existência humana acontece no espaço relacional do conversar e, aproxima-se ainda mais de Winnicott ao concordar com Zöller, quando esta afirma que a criança cria seu espaço psíquico como seu espaço relacional, ao viver na intimidade e em contato corporal com sua mãe: “Nesse processo, a criança aprende o emocionar e a dinâmica relacional fundamentais, que constituirão o espaço relacional que ela gerará em sua vida” (MATURANA, 2004, p. 12).
Sobre o brincar, Maturana diz mais adiante: “a relação materno-infantil tem de ser vivida no brincar, numa intimidade corporal baseada na total confiança e aceitação mútuas, e não no controle e na exigência” (MATURANA, 2004, p. 16).
Não obstante, vivemos em uma cultura que nega o lúdico e o prazer de brincar como fundamentos da saúde psíquica. Para ele é preciso respeitar a biologia da relação materno-infantil, isto é, meninos e meninas devem crescer na biologia do amor (onde o brincar - com suas dimensões de proximidade corporal, cooperação, ternura e sensualidade - tem um papel fundamental). Pois como animais dependentes do amor, adoecemos ao sermos privados dele em qualquer idade.
Para ele é preciso que sejamos capazes de gerar um espaço psíquico neomatrístico, onde matrístico conota uma situação cultural na qual a mulher tem uma presença mística3;, que implica a coerência sistêmica acolhedora e liberadora do maternal fora do autoritário e do hierárquico. Uma cultura matrística significa algo diferente de dois outros modos de viver as relações humanas: o patriarcal e o matriarcal, domínios dos quais pretende se distanciar.
Maturana (1993, 2000), afirma que a linhagem dos seres humanos surgiu definida através da conservação da relação materno-infantil de aceitação mútua na confiança e na proximidade corporal. Em seu entendimento, pertencemos a uma linhagem que se desenvolveu no interior de uma cultura matricial de cuidados e atenção mútuos, baseada no amor, na afetividade e na intimidade, com características neotênicas, de expansão e conservação da infância na vida adulta. Tal pensamento parece estar em consonância com o que preconizava Winnicott (1975; 1982), quando ele nos indicou que todos os viventes humanos necessitam, nas primeiras fases de sua vida & e, diríamos, também nas posteriores - de holding (WINNICOTT, 1975; 1982), isto é, suporte fisiológico, cognitivo e afetivo para o seu desenvolvimento, o qual se inicia por intermédio da relação mãe-bebê.
Referências Bibliográficas
MATURANA, H. R. Lenguaje y realidad: el origem de lo humano. In: Desde la Biología a la Psicologia.Viña Del Mar: Eds. Fund. Synthesis, 1993. [ Links ]
_____. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. [ Links ]
_____. Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano. São Paulo: Palas Athena, 2004. [ Links ]
MATURANA, H. R.; REZEPKA, S. N. Formação humana e capacitação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. [ Links ]
MELLO FILHO, J. O ser e o viver: uma visão da obra de Winnicott. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. [ Links ]
SCHWARTZ, Y. A Comunidade científica ampliada e o regime de produção de saberes. Trabalho e Educação, Revista do Nete, Pampulha, n. 7, p. 38-46, jul./dez. 2000a. [ Links ]
_____. Le paradigme ergologique ou un métier de Philosophe. Toulouse: Octarès, 2000b. [ Links ]
WINNICOT, D. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. [ Links ]
_____. Textos selecionados: da Pediatria à Psicanálise. Rio de janeiro: Francisco Alves, 1978. [ Links ]
_____. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. [ Links ]
Endereço para correspondência
Wladimir Ferreira de Souza
E-mail: souzalandi@uol.com.br
Recebido em: 09/11/2007
Aceito para publicação em: 06/05/2008
Acompanhamento do processo editorial: Ariane P. Ewald
Notas
1 Os dois autores citados são importantes referências na pesquisa que venho atualmente desenvolvendo, a qual tem como campo empírico uma unidade de saúde pública no Estado do Rio de Janeiro (Brasil) e busca refletir sobre as contribuições que o referencial da Ergologia, que atribui ao conceito de atividade humana um lugar central, pode oferecer para pensar as formas de gestão do trabalho no campo da saúde e desenvolver o que tem sido denominado (pelos franceses) como ergomanagement. No Brasil vem sendo utilizada a expressão ergogestão.
2 Schwartz (2000a; 2000b), desenhando uma perspectiva que denomina “ergológica”, propõe um regime de produção de saberes operado por um “dispositivo dinâmico de três pólos”, imprescindível quando se trata de abordar a atividade humana e, em especial, a atividade de trabalho. O primeiro pólo é o dos conceitos, dos saberes gerais organizados e disponíveis, formalizados nas diversas disciplinas científicas. O outro é o pólo da experiência, dos saberes gerados e investidos na atividade. Visando o encontro sinérgico, o diálogo entre os dois pólos, precisamos de um terceiro, o das exigências éticas e epistemológicas, que pressupõe uma maneira de olhar o outro em sua legitimidade e diferença. Este pólo gera uma situação de “desconforto intelectual” e impõe “humildade epistemológica” para reconhecer que essas modalidades de saber (conhecimento e experiência) são frágeis e não explicam totalmente a realidade, devendo por isso serem considerados em um debate sinérgico, compreensivo e crítico, e não em concorrência, mutuamente excludentes. Estes três pólos estariam em relação dialética (não-hegeliana), não havendo anterioridade de um sobre os outros. Para Schwartz, é o próprio conceito de atividade que justifica e exige que se opere com um dispositivo de três pólos.
3 Essa exaltação dos atributos e do caráter místico do “feminino” pode ser verificada também em escritos de J. P. Vernant e C. Dejours, quando discorrem sobre a deusa grega Métis.