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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas
Print version ISSN 1808-5687On-line version ISSN 1982-3746
Rev. bras.ter. cogn. vol.2 no.1 Rio de Janeiro June 2006
ARTIGOS
Depressão, rendimento escolar e estratégias de coping em adolescentes
Depression, anxiety and substance use in adolescents
Gina Tomé I; Margarida Gaspar de Matos II
I Psicóloga. Mestre em Terapias Comportamentais e Cognitivas. Pesquisadora do projeto Aventura Social. FMH/UTL e CMDT/IHMT/UNL
II Psicóloga. Professora Associada com Agregação. Faculdade de Motricidade Humana, UTL;Centro de Malária e Outras Doenças Tropicais/IHMT/UNL
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo verificar se os adolescentes com baixo rendimento escolar possuem maior incidência de sintomas de depressão e utilizam menos estratégias de coping do que aqueles com rendimento escolar mais elevado. A amostra foi constituída por 242 indivíduos, com idades compreendidas entre os 10 e os 16 anos, de quatro escolas do 2º e 3 º Ciclos do Concelho de Odivelas - Portugal. Para operacionalizar as variáveis, duas medidas de avaliação foram utilizadas – o Children‘s Depression Inventory - CDI (Kovacs, 1992) e o coping Responses Inventory - Youth Form – CRI - Y (Moos, 1993). Os resultados obtidos permitiram confirmar que os adolescentes com baixo rendimento escolar demonstram mais sintomas de depressão. Não se confirmou, no entanto, que esses adolescentes utilizam menos estratégias de coping do que aqueles com melhor rendimento escolar.
Palavras Chave: Depressão, Rendimento escolar, Estratégias de coping.
ABSTRACT
The present study’s main objective is to verify if low school success adolescents possess greater incidence of depression symptoms and use less coping strategies than higher school success adolescents. Two hundred and forty two adolescents from four Odivelas schools, ages between 10 and 16 years old, constituted the sample. To operacionalizate variables two measures of evaluation were used, the Children‘s Depression Inventory - CDI (Kovacs, 1992) and coping Responses Inventory - Youth Form – CRI- Y (Moos, 1993). The final results confirmed that low success adolescents had more depression symptoms, however it did not confirm that these adolescents used fewer coping strategies than higher school success adolescents.
Keywords: Depression, School success, Coping strategies.
Depressão, Rendimento Escolar e Estratégias de Coping em Adolescentes
O baixo rendimento poderá interferir no desenvolvimento da criança, aumentando os sentimentos de angústia e preocupação (Ballone, 2003), no entanto, nem todas as crianças reagem da mesma forma a situações geradoras de estresse. Isso explica o motivo de algumas não apresentarem determinadas perturbações emocionais diante dessas situações, uma vez que recorrem a estratégias de coping eficazes (Lazarus, 2000). A relação entre depressão, rendimento escolar e estratégias de coping, em crianças e adolescentes, foi, ainda, pouco explorada, justificando o interesse pelos conceitos já referidos em adolescentes que freqüentam o 5º e o 6º ano de escolaridade.
Atienza, Cuesta e Galán (2002) consideram que a depressão pode atingir todas as áreas de funcionamento do indivíduo, e, no caso das crianças e dos adolescentes, é de especial interesse a sua relação com o rendimento escolar. Uma criança deprimida poderá apresentar desinteresse escolar, dificuldades de atenção e de concentração, que podem, por sua vez, influenciar o rendimento escolar. Sommerhalder e Stela (2001, citado por Cruvinel & Boruchovitch, 2003) afirmam que a depressão influencia negativamente a aprendizagem das crianças, que passam a demonstrar desinteresse pelas tarefas escolares, uma vez que a depressão interfere em suas funções cognitivas, como a atenção, a concentração, a memória e o raciocínio, atuando no rendimento escolar. Cruvinel e Boruchovitch (2004), num estudo com 169 crianças de 8 a 15 anos de idade, verificaram uma relação significativa entre os sintomas de depressão e o baixo rendimento na disciplina de matemática, e, ainda, que os indivíduos que já haviam sido reprovados apresentavam médias superiores no CDI, apesar de os resultados não serem significativos.
Quando se fala em insucesso escolar, refere-se não só às situações em que o aluno é reprovado no ano escolar, mas também àquelas em que suas notas não atendem às expectativas, ou seja, quando o rendimento escolar é inferior ao desejado (Fleming, Figueiredo, Maia & Sousa, 1987).
Através das investigações é possível inferir que o insucesso escolar acarreta várias conseqüências sociais, como o condicionamento do status social dentro do grupo, determinando expectativas acadêmicas e sociais, o que pode influenciar o desenvolvimento pessoal ou o progresso individual dos indivíduos (Fernández, 1998). Para Manrique (1999), os sintomas mais freqüentes em crianças e adolescentes são o autoconceito empobrecido, a consideração negativa do mundo, o pessimismo, a deformação de experiências e a generalização de situações. São ainda referenciadas implicações psicológicas, como perturbações ansiosas ou depressão, através de uma relação circular, ou seja, uma situação poderá agir como risco para a outra, o insucesso escolar poderá levar à depressão, ou os sintomas depressivos poderão comprometer o funcionamento cognitivo (Maugban, Rowe, Loeber & Loeber, 2003).
Huntington e Bender (1993, citado por Maugban et al., 2003) observaram que os adolescentes com dificuldades de aprendizagem possuíam níveis de ansiedade mais elevados, maior risco de depressão e uma tendência maior ao comportamento suicida do que os colegas sem dificuldades de aprendizagem. Marujo (1994), num estudo longitudinal com 2069 adolescentes que freqüentavam entre o 3º e o 9º ano de escolaridade de duas escolas privadas da região da Grande Lisboa, observou que as variáveis relacionadas à atividade escolar eram mais consistentes na discriminação dos indivíduos deprimidos e não deprimidos do que as variáveis familiares. Atienza et al (2002), num estudo exploratório e transversal com 264 adolescentes de escolas públicas e privadas de Granada, com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos, analisaram a relação entre o rendimento acadêmico, os sintomas depressivos, a idade e os gêneros, e observaram a presença de sintomas depressivos associados ao baixo rendimento escolar. Weinberg et al (1989, citados por Cruvinel & Boruchovitch, 2003) encontraram resultados semelhantes ao investigarem a relação entre dificuldades escolares e depressão, verificando que 35% das crianças e dos adolescentes de 6 a 15 anos de idade e com dificuldades de aprendizagem apresentaram elevada incidência de sintomas de depressão. Já com o objetivo de analisar o nível intelectual de indivíduos com e sem depressão, Brumback et al, (1980, citado por Cruvinel & Boruchovitch, 2003) e ainda Mokros et al (1989, citado por Cruvinel & Boruchovitch, 2003) constataram não haver diferenças significativas nos resultados dos subtestes da WISC, sugerindo que o baixo rendimento é resultado da depressão, e não de déficit intelectual. Ou seja, as dificuldades de aprendizagem atuariam como possível sinal de depressão, associada à falta de interesse e à desvalorização pessoal.
Crianças e adolescentes diferem entre si ao considerarem as situações estressoras e nas estratégias de coping que utilizam ao lidar com as mesmas, ou seja, os efeitos e a resposta à situação geradora de estresse dependem das características e das competências individuais para lidar com a situação problemática (Wenger, Sharrer & Wynd, 2000). Lazarus (1991, citado por Frydenberg, 1997) define o coping como um esforço cognitivo e comportamental para controlar exigências específicas, externas ou internas, ou o conflito entre ambas, que são avaliadas como excedentes dos recursos pessoais. Desta forma, coping é um processo no qual é fundamental a realização de uma avaliação cognitiva do indivíduo. Tal avaliação pode ser primária, em que é avaliada a natureza da situação – positiva ou negativa, estressante ou irrelevante –, ou secundária, em que se irá determinar a resposta adequada (Leandro, 2004). Em 2004, Leandro realizou um estudo com 285 indivíduos com idades que variavam de 15 a 70 anos, tendo como objetivo verificar se aqueles, cujos níveis de ansiedade eram elevados, utilizavam estratégias de coping diferenciadas daqueles com níveis mais baixos, e ainda se as estratégias estavam relacionadas ao gênero. O autor observou que, geralmente, os indivíduos do sexo feminino buscavam apoio como estratégia eleita, enquanto os do sexo masculino preferiam a planificação e o distanciamento. Verificou, ainda, que os indivíduos mais ansiosos utilizavam estratégias de coping centradas na emoção – evitação, reavaliação positiva – e os menos ansiosos, estratégias mais centradas no problema – planificação, confrontação e distanciamento.
Mantizicopoulos (1990, citado por Rijavec & Brdar, 2002) menciona que as crianças que utilizam estratégias de coping orientadas para a ação poderão ter uma realização acadêmica e sentimentos de autovalor mais elevados do que aquelas que utilizam estratégias de negação. Num estudo realizado com 168 estudantes, Frydenberg e Lewis (2002, citados por Frydenberg, 2004) observaram que os adolescentes permanecem incapazes de utilizar estratégias de coping entre os 12 e os 14 anos, sendo que os rapazes mantêm essa estabilidade por mais dois anos, ou seja, em média até os 16 anos. Isso leva à concluir que a idade ideal para ajudar os adolescentes a desenvolver estratégias eficazes é a partir dos 16 anos. Nessa perspectiva, Zanini e Forns (2004) realizaram um estudo, com o objetivo de comparar a utilização das estratégias de coping entre os gêneros. Para tal, recorreram a uma amostra constituída por 1362 adolescentes com idades entre 12 e 16 anos, concluindo que as adolescentes do sexo feminino utilizavam significativamente mais estratégias de coping para lidar com os problemas cotidianos do que os do sexo masculino.
O aumento da depressão, inclusive em crianças e adolescentes, poderá estar relacionado à forma como lidam com as situações conflituosas, orientando os estudos atuais para a investigação de uma forma positiva de enfrentar os problemas. Desta forma, promover a capacidade pessoal de lidar com problemas de forma positiva, inclusive em crianças e adolescentes, poderá evitar disfunções, como a depressão (Frydenberg, 2004).
Assim, podemos inferir que, se pudermos identificar as situações geradoras de estresse no ambiente escolar – ou a forma como as crianças e adolescentes lidam com essas situações –, poderemos adotar estratégias preventivas para as implicações negativas, como o caso das perturbações psicológicas, geralmente associadas ao baixo rendimento escolar, como a depressão, tornando o estudo da relação entre depressão, rendimento escolar e estratégias de coping pertinente.
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo verificar se os jovens com baixo rendimento escolar possuem maior incidência de sintomas de depressão e se utilizam menos estratégias de coping do que os seus colegas com rendimento escolar mais elevado. Para operacionalizar esse objetivo, serão apresentadas as seguintes questões de investigação: os jovens com baixo rendimento escolar possuem maior incidência de sintomas de depressão do que os seus pares com maior rendimento escolar? Os jovens reprovados possuem maior incidência de sintomas de depressão do que aqueles que não possuem reprovações? Existem diferenças entre os gêneros para a depressão? Os indivíduos mais velhos possuem maior incidência de sintomas de depressão do que os mais novos? Os jovens com baixo rendimento escolar utilizam menos estratégias de coping do que os seus pares com melhor rendimento escolar? Os jovens que já sofreram reprovações utilizam menos estratégias de coping do que aqueles que não sofreram? Existem diferenças entre os gêneros para as estratégias de coping?
Finalmente, as hipóteses propostas são: os alunos do 5º e do 6º ano de escolaridade com baixo rendimento escolar possuem maior incidência de sintomas de depressão do que os seus pares com rendimento escolar mais elevado; os alunos do 5º e do 6º ano de escolaridade com baixo rendimento escolar utilizam menos estratégias de coping do que os seus pares com rendimento escolar mais elevado. Tem-se, como variável independente, o rendimento escolar e, como variáveis dependentes, os sintomas de depressão e as estratégias de coping.
Método
O presente estudo é correlacional de caráter transversal, e nele se utilizou duas escalas de avaliação administradas a uma amostra de estudantes de 5º e 6º anos de escolaridade de quatro escolas do Concelho de Odivelas – Portugal.
Amostra
A amostra é aleatória, constituída por 242 indivíduos, dentre os quais 96,7% vivem no Concelho de Odivelas e 3,3%, noutra zona urbana limítrofe. Suas idades variam de 10 a 16 anos, e eles freqüentam o 5º e o 6º ano de escolaridade de quatro escolas públicas do Concelho de Odivelas.
Instrumentos
Para a coleta dos dados foram utilizadas duas medidas de avaliação: o Children‘s Depression Inventory – CDI (Kovacs, 1992) e o coping Responses Inventory – Youth Form – CRI-Y (Moos, 1993), além de um questionário demográfico.
Questionário demográfico
O questionário demográfico é constituído por questões associadas aos dados pessoais dos indivíduos, tais como idade, gênero, ano de escolaridade, características dos progenitores, entre outros.
Children‘s Depression Inventory – CDI (Kovacs, 1992)
Utilizou-se o CDI para avaliar os sintomas de depressão, apesar desta não ser uma escala validada para a população portuguesa. Ela foi criada com o objetivo de avaliar os sintomas depressivos de crianças e adolescentes com idades entre 7 e 17 anos, e é composta por 27 itens, cada um com três hipóteses de resposta – 0, 1 ou 2 –, de acordo com a intensidade dos sintomas. O score total varia de 0 a 54, permitindo a discriminação clínica entre jovens deprimidos e não deprimidos (Kovacs, 1992). O CDI revelou um coeficiente alpha de Cronbach de .86 para os 27 itens, indicando boa consistência interna. A autora realizou uma análise fatorial, em que foram encontrados cinco fatores: humor negativo, problemas interpessoais, ineficácia, anedonia e auto-estima negativa, com coeficientes alpha de Cronbach que variaram de .59 a .68 (Kovacs, 1992).
Coping Responses Inventory – Youth Form - CRI- Y (Moos, 1993)
Utilizou-se o CRI-Y para avaliar as estratégias de coping, que, à semelhança do CDI, não é uma escala validada para a população portuguesa. O CRI-Y pode ser administrado, em grupo ou individualmente, a crianças de 12 a 18 anos ou a crianças mais novas saudáveis (Moos, 1993). É constituído por duas partes. A primeira parte pede ao indivíduo que descreva um problema recente e responda a 10 questões com base nesse problema. Os acontecimentos estressantes são posteriormente classificados em saúde física, casa/dinheiro, progenitores, irmãos, família alargada, escola, amigos e namorado/a (Moos, 1993). Neste estudo, os acontecimentos estressantes foram recodificados em cinco grupos: saúde física, família (casa/dinheiro, progenitores, família alargada e irmãos), escola, amigos (amigos, namorado/a) e outros (aqueles que não eram incluídos em nenhum outro grupo).
A parte 2 da escala é constituída por 48 itens, cada um com cinco opções de resposta que variam de “não/nunca” a “freqüentemente”, ou ainda, “não aplicável”, em que o indivíduo continua a responder com base no problema referido na parte 1. Os 48 itens estão divididos em oito escalas, que correspondem a estratégias de coping: análise lógica; reavaliação positiva; procura de suporte e orientação; resolução de problemas; evitamento cognitivo; aceitação ou resignação; recompensas alternativas e descarga emocional. As características psicométricas da escala revelaram valores do coeficiente alpha de Cronbach de .55 a .79 para as oito subescalas.
Procedimentos
Inicialmente, foi pedido aos encarregados de educação das escolas selecionadas o consentimento informado por escrito, redigido de acordo com as normas éticas da APA. A definição do nível de rendimento escolar, utilizada no presente estudo, baseou-se nas notas do primeiro período de todos os indivíduos que participaram no estudo. As notas de cada um desses indivíduos foram somadas e as freqüências foram analisadas posteriormente, o que permitiu criar três grupos: bom (M = 3,82), médio (M = 3,12) e fraco (M = 2,45).
Resultados
Com a finalidade de analisar as características demográficas da amostra, recorreu-se à estatística e observou-se que 46,3% dos indivíduos pertencem ao sexo masculino e 53,7%, ao sexo feminino. A média de idades foi de 11,2 anos, dentre os quais 53,7% freqüentam o 5º ano e 46,3%, o 6º ano de escolaridade; 32,6% já sofreram reprovações e 67,4% nunca ficaram reprovados.
Através da análise dos coeficientes de fidelidade, verificou-se que os 27 itens que constituem a escala de depressão (CDI) indicaram boa consistência interna, com o valor do coeficiente alpha de Cronbach de .82. No entanto, os valores encontrados para as cinco subescalas – humor negativo, problemas interpessoais, ineficácia, anedonia e auto-estima negativa – revelaram-se muito baixos, com valores que variam de .30 a .60. Os 27 itens do CDI foram submetidos a uma análise fatorial com o objetivo de criar fatores com valores de consistência interna mais elevados, demonstrando uma solução de nove fatores, que, embora explicassem 57% da variância, não foi possível identificar em termos conceituais, optando-se por utilizar somente o total da escala (alpha de Cronbach = .82).
Ao se analisar as freqüências dos grupos de acontecimentos estressantes – saúde física, família, escola, amigos e outros –, pôde-se verificar que as percentagens variam entre 8% e 51%. Já os 48 itens da parte 2 do CRI-Y revelaram uma boa consistência interna, calculada através do coeficiente alpha de Cronbach, com valor de .87. Os resultados encontrados para as suas oito subescalas – análise lógica, reavaliação positiva, procura de suporte e orientação, resolução de problemas, evitação cognitiva, aceitação ou resignação, recompensas alternativas e descarga emocional – não revelaram índices tão elevados como o total da escala, apresentando valores que variaram entre .50 e .68. Novamente, com a finalidade de aumentar esses valores, efetuou-se uma análise fatorial com rotação oblíqua ao total da escala, que apresentou uma solução de 16 fatores, o que explicou 63% da variância. No entanto, após análise dos resultados, esses fatores revelaram-se não identificáveis para a nossa população, tendo-se optado pela utilização dos fatores originais, sugeridos pelo autor.
Com o intuito de verificar as associações entre a depressão e as estratégias de coping, recorreu-se à análise de correlações bivariadas entre o total do CDI e o total do CRI-Y. Os resultados demonstraram que a correlação entre o total de ambas as escalas é negativa, mas não é estatisticamente significativa (r = -.07; p = .32).
Para analisar as diferenças entre os grupos das notas de depressão (CDI), coping (total) e suas oito subescalas, utilizou-se o teste ANOVA. Os resultados revelaram diferenças entre os grupos das notas para a depressão (F(2; 233) = 14,867; p = .000). As comparações post hoc pelo teste Tukey HSD indicaram que o grupo fraco apresenta maior nível de sintomas de depressão (M = 41,03; DP = 6,09), quando comparado aos restantes grupos. No que se refere às diferenças entre os grupos das notas e o total do CRI-Y parte 2, não foram obtidas diferenças significativas (F(2; 196) = .735; p = .481), nem entre os grupos e as suas oito subescalas .
Tabela 1 - Diferenças entre os grupos das notas para a depressão
** p £ .01; *** p £ .001
Investigou-se, também através do teste ANOVA, as diferenças entre os gêneros para a depressão (total CDI), o coping (total CRI-Y - parte 2) e as subescalas do CRI-Y. Não foram obtidas diferenças entre os sexos para a depressão (F(1; 234) = .027; p = .871), nem para coping (F(1; 197) = 1,302; p = .255). Quando as diferenças entre os sexos e as subescalas do CRI-Y foram analisadas, verificou-se resultados idênticos aos anteriores.
Passou-se, então, à análise das diferenças entre idade, depressão (total CDI) e coping (total), recorrendo novamente ao teste ANOVA, e observou-se que não existem diferenças entre a idade e a depressão (F(5; 230) = 1,982; p = .082), nem entre a idade para o coping (F(5; 193) = 1,334; p = .251). Optou-se, assim, por dividir a idade em dois grupos – o grupo dos pré-adolescentes (10-11 anos) e o grupo dos adolescentes (12-16 anos) –, de forma a verificar se existem diferenças de depressão e coping para a idade. Com essa divisão, observaram-se diferenças dos grupos de idades para a depressão (F(1; 234) = 4,860; p = .028), mas não para o coping (F(1;197) = .039; p = .844).
Tabela 2 - Diferenças entre grupos de idades para a depressão
* p £ .05
Examinou-se, ainda, a existência de diferenças entre o grupo que sofreu e o que não sofreu reprovações em relação à depressão (total CDI) e ao coping (total), tendo sido encontradas diferenças significativas entre os grupos para a depressão (F(1; 234) = 19,106; p = .000), em que o grupo que sofreu reprovações revelou maiores níveis de depressão (M = 40,61; DP = 7,01). Em relação aos resultados para o CRI-Y, não foram estatisticamente significativos (F(1; 197) = .012; p = .912).
Tabela 3 - Diferenças entre os grupos reprovações para a depressão
* p £ .05; ** p £ .01; *** p £ .001
Procedeu-se ao estudo das diferenças entre os grupos da variável “com quem vive” – pai e mãe, pai, mãe, outro – e a depressão (total CDI), tendo-se verificado que existem diferenças entre os grupos para a depressão (F(3; 232) = 3,220; p = .023). A análise comparativa post hoc pelo teste Tukey HSD indicou que o grupo que vive com outros familiares revelou maior nível de depressão (M = 41,70; DP = 7,47), quando comparado aos que vivem com o pai e a mãe (M = 37,24; DP = 5,96), somente com o pai (M = 40,00; DP = 7,55) ou somente com a mãe (M = 38,82; DP = 6,91).
Foi, ainda, efetuada uma análise de regressão múltipla pelo método stepwise, com o objetivo de avaliar os fatores preditores da depressão e do coping. Os resultados obtidos para a depressão revelaram a existência de duas variáveis preditoras: o grupo de notas, que explica cerca de 12% do modelo, seguida da variável “com quem vive”, que explicou cerca de 4%, totalizando cerca de 16% do modelo. Para o CRI-Y não foram obtidas variáveis preditoras.
Tabela 4 - Fatores preditores da depressão
*** p < .001
Discussão
No presente estudo, tentou-se verificar se os adolescentes do 5º e do 6º ano de escolaridade com baixo rendimento escolar possuíam mais sintomas de depressão e utilizavam menos estratégias de coping do que aqueles com melhores rendimentos. Os resultados permitiram confirmar somente a primeira hipótese, uma vez que o grupo com notas mais baixas demonstrou mais sintomas de depressão (M = 41,03; DP = 6,09) que o grupo com notas médias ou boas. Entretanto, a hipótese de que esse grupo utilizaria menos estratégias de coping não foi confirmada, já que os resultados não foram estatisticamente significativos nem para o coping total (F(2; 196 = .735; p = .481), nem para nenhuma das suas oito subescalas.
No que diz respeito à questão dos adolescentes que sofreram reprovações possuírem mais sintomas de depressão e utilizarem menos estratégias de coping do que os que nunca sofreram reprovações, verificou-se o mesmo efeito, ou seja, os que sofreram reprovações indicaram maior incidência de sintomas depressivos (M=40,61; DP=7,01), mas não indicaram que utilizem menos estratégias de coping, (F(1; 197) = .012; p = .912). No que se refere à depressão, ao analisar a literatura apresentada, os resultados vão ao encontro dos presentes, em especial com estudos como o de Atienza et al (2002) e de Marujo (1994). O primeiro demonstra que o baixo rendimento escolar está relacionado a mais sintomas de depressão. O segundo observou que as variáveis relacionadas à escola indicam mais eficazmente os indivíduos deprimidos e não deprimidos.
Para o coping, no entanto, os resultados revelam que não existiram diferenças significativas entre os grupos das notas, segundo a amostra utilizada. Os resultados encontrados no presente estudo poderão estar associados à idade dos indivíduos que compõem a amostra, já que 71% têm entre 10 e 11 anos de idade e, de acordo com Frydenberg e Lewis (2002, citados por Frydenberg, 2004), a idade em que os adolescentes estabilizam a escolha das estratégias de coping é aos 16 anos, aproximadamente. Os resultados obtidos para o coping poderão, ainda, ser justificados pelas porcentagens dos acontecimentos estressantes, uma vez que 11,6% dos indivíduos se referem à escola como fator estressante, enquanto a família é o acontecimento com maior porcentagem –50,8%–, ou seja, o fato de os indivíduos não considerarem a escola como principal causador de estresse, também poderá ter influenciado os resultados encontrados.
Resultados distintos dos encontrados na literatura especializada foram obtidos para as diferenças entre os gêneros e a depressão. Neles se observa que não existem diferenças entre os gêneros e a depressão (F(1; 234) = .027; p = .871) nem entre os gêneros e o coping (F(1; 197) = 1,302; p = .255). Atienza et al (2002) relatam que os indivíduos do sexo feminino demonstraram maior nível de sintomas depressivos, já Byrne (2000) encontra diferenças em relação aos gêneros para a ansiedade e para as estratégias de coping.
Ao serem analisadas as diferenças entre idade e depressão, novamente se encontrou resultados não significativos, que demonstram não existirem diferenças entre as idades e a depressão (F(5; 230) = 1,982; p = .082). Entretanto, quando se divide a idade em dois grupos, essas diferenças surgem (F(1; 234) = 4,860; p = .028). Deste modo, verificou-se que os resultados eram semelhantes aos encontrados por Atienza et al (2002), que observaram que os indivíduos mais velhos apresentavam maiores níveis de depressão. No que se refere ao coping, os resultados continuaram não significativos para a idade, mesmo quando esta foi dividida em dois grupos (F(1; 197) = .039; p = .844). Neste caso, devemos ter em conta, de acordo com Wenger et al (2000), que os jovens encontram-se em desenvolvimento, começando a ampliar as suas estratégias para lidar com o estresse e que esse fato poderá ter influenciado, também, os resultados obtidos para as diferenças em relação aos gêneros para a depressão e para o coping.
Verificou-se, ainda, que os indivíduos que vivem com familiares, sem a presença de nenhum dos progenitores, revelam mais sintomas depressivos (M = 41,70; DP = 7,47) do que aqueles que vivem apenas com um progenitor, ou com ambos.
No que diz respeito à análise das correlações entre depressão e coping, os resultados indicam tendência a uma relação negativa, porém não significativa (r = -.07; p = .32).
Finalmente, através da análise de regressão múltipla, observou-se que as variáveis preditoras da depressão para a amostra utilizada são o conjunto de notas e a variável “com quem vive”. Em relação ao coping, não se encontrou nenhuma variável preditora.
Com o decorrer da investigação, foi possível determinar algumas limitações que poderão ter influenciado os resultados obtidos. A idade dos indivíduos foi uma delas, dificultando a compreensão da literatura utilizada nas escalas. O fato do estudo não ser longitudinal ou da amostra não ser representativa da população, também se revelou uma limitação, impedindo a generalização dos resultados e o estabelecimento de direção nas variáveis preditoras da depressão.
Num próximo estudo, sugere-se a investigação mais aprofundada da variável “com quem vive”, que surge neste estudo associada a níveis mais elevados de depressão quando os adolescentes vivem com outros familiares, na ausência dos progenitores.
Por fim, através dos resultados obtidos, verificamos a existência de uma relação entre o baixo rendimento escolar e os sintomas depressivos, apesar dos resultados associados às estratégias de coping não se revelarem significativos. A relação negativa entre depressão e utilização das estratégias de coping, apesar de não significativa, sugere a relevância de uma intervenção precoce em pré-adolescentes, na tentativa de encontrar alternativas para prevenir o insucesso escolar ou, pelo menos, para que enfrentem o baixo rendimento escolar sem implicações como a depressão. Uma das pistas que se define aqui é a promoção de estratégias de coping.
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Endereço para correspondência
Projecto Aventura Social, Estrada da Costa, Cruz Quebrada, 1499 - Lisboa - Portugal.
E-mail: aventurasocial@fmh.utl.pt.
Recebido em: 12/05/2006
Aceito em: 15/06/2003