A EDIÇÃO ESPECIAL: PRÊMIO BERNARD RANGÉ
Por Carmem Beatriz Neufeld e Angela Donato Oliva
Em 2023 se comemora dez anos da criação do Prêmio Monográfico Bernard Rangé (PBR), um prêmio de suma importância para a Federação Brasileira de Terapias Brasileiras (FBTC) e para a área de Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCCs) do Brasil. Visando dar visibilidade a esta data comemorativa, a Revista Brasileira de Terapias Cognitivas (RBTC) lançou um edital para receber submissão de artigos advindos dos trabalhos premiados desde 2015, primeira edição do PBR, até 2023 para uma Edição Especial Prêmio Bernard Rangé. Durante esse período, ocorreram seis edições dessa premiação: em 2015, 2017, 2019, 2021, 2022 e 2023, acompanhando a periodicidade do Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas (que se tornou anual a partir de 2021).
Os artigos elegíveis para esse número precisavam ter sido premiados em uma dessas seis edições, o que totalizava 34 trabalhos monográficos. A Edição Especial Prêmio Bernard Rangé, sob editoria de Carmem Beatriz Neufeld e Angela Donato Oliva, conta em seu formato final com 17 artigos aprovados por avaliação cega dos revisores e advindos dessas edições e das cinco categorias de premiação, conforme Tabela 1 a seguir.
Ano da premiação | Categoria Iniciação Científica |
Categoria Graduação | Categoria Especialização | Categoria Mestrado | Categoria Doutorado | Total de artigos aprovados |
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2015 | 1 | 1 | 1 | 3 | ||
2017 | 1 | 1 | ||||
2019 | 1 | 1 | ||||
2021 | 1 | 2 | 3 | |||
2022 | 1 | 1 | 2 | 4 | ||
2023 | 1 | 1 | 1 | 2 | 5 |
Dos 17 artigos que compõem este número especial, dois são provenientes de trabalhos premiados na categoria iniciação científica, um da categoria de monografia de graduação, um da categoria monografia de especialização, quatro da categoria dissertação de mestrado e nove advindos de teses de doutorado.
Os artigos que compõem esta edição especial são desdobramentos de trabalhos realizados em sua maioria (76,4%) em Instituições de Ensino Superior (IES) (13) localizadas na região sudeste do Brasil, sendo que os 24,6% (04) restantes são de IES da região sul do país. As mulheres representam 82,3% (14) das primeiras autorias dos artigos desta edição especial. Os estudos apresentados neste número especial foram em sua maioria financiados por agências nacionais de fomento, contanto com 64,7% (11) dos autores com bolsa para realização do trabalho. A presente edição especial é composta por nove artigos de pesquisa empírica (52,9%), seis revisões sistematizadas (sistemáticas, de escopo e integrativas, 35,3%) e dois artigos de revisão narrativa (11,7%).
Embora seja um número pequeno, os percentuais sugerem que a Premiação e a Revista Brasileira de Terapias Cognitivas (RBTC) acompanham, de certa forma, o padrão de qualidade exigido por Instituições de Ensino Superior e por órgãos de fomento. Pode-se inferir também, a partir desses resultados, que as ações da FBTC precisam reverberar com mais intensidade nas regiões nordeste, norte e centro-oeste. As mulheres parecem encontrar um espaço de produção nessa área que tem ganhado visibilidade com pesquisas qualificadas.
A qualidade dos trabalhos selecionados para essa edição especial, traduzida em um percentual grande de pesquisas empíricas e revisões sistematizadas, exibem o direcionamento editorial que a RBTC tem buscado imprimir nos últimos anos. Além disso, a diversidade de temas abordados e a qualidade dos artigos que compõem este número são evidências do avanço das pesquisas e da prática das Terapias Cognitivo Comportamentais (TCCs) no Brasil nos últimos anos não apenas em termos quantitativos, de artigos, inovações e pesquisadores formados, mas também das diferentes áreas em que estas vem sendo aplicadas no contexto brasileiro.
Breve histórico do Prêmio Bernard rangé
Por Carmem Beatriz Neufeld, Aline Sardinha, Carolina Lisboa, Suely Santana, Vanessa Dordron de Pinho e Angela Donato Oliva
Em 2013, a diretoria da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC), na gestão de Carmem Beatriz Neufeld, criou o Prêmio Monográfico Bernard Rangé, ou simplesmente Prêmio Bernard Rangé (PBR). O prêmio foi idealizado para imprimir destaque a dois aspectos que a então presidente da FBTC vislumbrou como importantes no cenário daquele momento no Brasil. O primeiro foi homenagear um dos maiores autores e responsáveis pela difusão das Terapias Cognitivo-comportamentais (TCCs) no Brasil, de maneira pioneira. O segundo, inspirando-se na trajetória desse notável pesquisador, que empresta seu nome ao prêmio, visou dar destaque a trabalhos monográficos nas categorias de iniciação científica, monografia de graduação, monografia de especialização, dissertação de mestrado e tese de doutorado. Esse passo dado pela FBTC conferiu um tom claro de comprometimento com pesquisa científica de qualidade, e traduziu isso nessa premiação que valoriza o conhecimento. Desde sua criação, a tônica do prêmio foi incentivar jovens pesquisadores em diferentes níveis a difundir suas pesquisas e dar visibilidade para a ciência produzida no Brasil.
A primeira premiação ocorreu em 2015, tendo sido realizadas até o presente momento seis edições do PBR. Nesse período, 34 trabalhos monográficos foram selecionados, sendo 26 premiações principais e oito menções honrosas. Dentre as modalidades que a premiação contempla, defendidos até o ano de 2022 e premiados em 2023, tivemos no cômputo das seis edições dois trabalhos de iniciação científica, seis de monografia de graduação, cinco de monografias de especialização, seis de dissertação de mestrado e sete de teses de doutorado. No que se refere às menções honrosas, foram atribuídas a uma monografia de graduação, três monografias de especialização, uma dissertação de mestrado e a três teses de doutorado. Chama a atenção o baixo volume de premiações atribuídas à categoria de iniciação científica, sendo justamente essa a categoria que representa o primeiro degrau da formação como pesquisador. Talvez, essa diferença de submissão à premiação para a categoria seja devida ao fato de que as regras do PBR exigem que sejam apresentados, ou uma monografia ou um artigo, produtos imediatos menos comuns em trabalhos de iniciação científica.
Os trabalhos premiados foram advindos, em sua maioria, da região sudeste do Brasil com 61,7% (21). Trabalhos defendidos em instituições da região sul representam 26,47% (09) e 8,8% (03) da região nordeste do Brasil. Em sua primeira edição, o PBR contou também com um trabalho desenvolvido em uma instituição de Portugal (2,9%). Cabe mencionar ainda, que 44,1% (15) dos trabalhos contaram com financiamento por bolsa de estudos e 58,8% (20) dos trabalhos foram produzidos em instituições públicas. As mulheres são sem dúvida as grandes vencedoras do PBR, sendo que 70,5% (24) das primeiras autoras dos trabalhos premiados são mulheres, perfil que se repete em 61,7% (21) das orientadoras principais dos trabalhos premiados. Na tabela 2, a seguir, podem ser visualizados os dados de todos os trabalhos premiados nas seis edições do prêmio de maneira mais completa.
2015 | AUTOR(A)/ ORIENTADOR(A) | IES | BOLSA | TÍTULO | CATEGORIA |
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1 | Márcia Akemi Fujie Lúcia C. de A. Williams Paolla Magioni Santini |
UFSCAR | FAPESP | Avaliação de crenças sobre violência em crianças vítimas e não vítimas de maus-tratos | Iniciação Científica |
2 | Cirlei Gurgel Ruy Bueno |
UNIAMÉRICA | Sem bolsa | Instrumentos e estratégias terapêuticas aplicadas em crianças e adolescentes na Terapia Cognitivo - Comportamental disponíveis no idioma português | Graduação |
3 | André Moreno Ricardo Wainer | IWP | Sem bolsa | Da Gnosiologia à Epistemologia: um caminho científico para uma terapia baseada em evidências | Especialização |
4 | Mariana Verdolim Froeseler Maycoln Leoni Teodoro |
UFMG | CNPq | Construção e avaliação de propriedades psicométricas iniciais do Inventário de Pensamentos Automáticos Negativos e Positivos para Adolescentes (IPANPA) |
Mestrado |
5 | Ana Claudia Ornelas Maia Antonio Egidio Nardi |
UFRJ | Sem bolsa | Aspectos psiquiátricos e Terapia Cognitivo Comportamental para pacientes transdiagnósticos |
Doutorado |
1MH | Stephanie Krieger Eliane M. de O. Falcone |
UERJ | Sem bolsa | Altruísmo: seu impacto social e motivações subjacentes através de uma revisão sistemática | MENÇÃO HONROSA Graduação |
2MH | Cinthia de Almeida | A Terapia Cognitivo- Comportamental em grupo no tratamento da ansiedade social em adultos | MENÇÃO HONROSA Especialização |
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3MH | Beatriz Santanna Edela Nicoletti | CTC VEDA | Sem bolsa | Como se tornar um terapeuta proficiente em TCC? Um relato de uma experiência e uma proposta de modelização | MENÇÃO HONROSA Especialização |
4MH | Graziella Lima Adriana G. Rodrigues Duboviski |
PUC DIVINÓPOLIS | Sem bolsa | A visão analítica de casais heterossexuais sobre a prática de posições sexuais | MENÇÃO HONROSA Especialização |
5MH | Marcella Cassiano Carmem Beatriz Neufeld |
USP - FFCLRP | CAPES | Investigação de um programa cognitivo- comportamental de orientação de pais no contexto de promoção de saúde |
MENÇÃO HONROSA Mestrado |
6MH | Rodrigo da Cunha Teixeira Lopes Miguel Gonçalves Paulo P. P. Machado |
UMINHO | FCT | Treatment of depression: empirical evidence from a clinical trial comparing narrative therapy with Cognitive-Behavioral Therapy | MENÇÃO HONROSA Doutorado |
2017 | AUTOR(A)/ ORIENTADOR(A) | IES | BOLSA | TÍTULO | CATEGORIA |
6 | Giulia T. Tkaczyk Pavoski Caroline Guisantes de Salvo Toni |
UNICENTRO | Sem bolsa | Prevenção universal e promoção de saúde em grupo de crianças a partir do método Friends | Graduação |
7 | Job dos Reis Marisa Fortes | INESP | Sem bolsa | TCC com casais homoafetivos: Uma revisão | Especialização |
8 | Gerson Siegmund Gustavo Gauer | UFRGS | CAPES | desenvolvimento e usabilidade de uma intervenção computadorizada de psicoeducação sobre TOC | Mestrado |
9 | Raquel Ayres de Almeida Lucia Novaes Malagris |
UFRJ | CNPq | Adesão ao tratamento de hipertensão e diabetes: Elaboração de um inventário de adesão e de um de protocolo de intervenção cognitivocomportamental | Doutorado |
2019 | AUTOR(A)/ ORIENTADOR(A) | IES | BOLSA | TÍTULO | CATEGORIA |
10 | Gabriel Talask Moura Marcele Regine de Carvalho |
UFRJ | Sem bolsa | Intervenções em Terapias cognitivocomportamentais para o tratamento da procrastinação: uma revisão sistemática | Graduação |
11 | Gisele Maria da Silva Tatiana de Cássia Nakano |
UNIFIA | Sem bolsa | Contribuições da Terapia Cognitivo- Comportamental no acompanhamento de atletas lesionados |
Especialização |
12 | Lina Sue Matsumoto Videira Francisco Lotufo Neto |
USP - IPq | Sem bolsa | Eficácia da Terapia focada na compaixão em grupo no transtorno de estresse pós-traumatico | Mestrado |
13 | Kátia A. de Souza Caetano Carmem Beatriz Neufeld |
USP - FFCLRP | FAPESP | Eficácia da Terapia Cognitiva Processual no tratamento do Transtorno de Ansiedade Social: avaliação de um ensaio clínico randomizado |
Doutorado |
2021 | AUTOR(A)/ ORIENTADOR(A) | IES | BOLSA | TÍTULO | CATEGORIA |
14 | Amanda P. B. de Oliveira Luiz Evandro Lima |
UNICAP | Sem bolsa | Comportamento suicida na adolescência: manejo clínico a partir da terapia cognitivocomportamental | Graduação |
15 | Bruno Parisotto Guimaraes Juan Pablo Rubino Maysa Fonseca Alves |
FELUMA | Sem bolsa | Estratégias interventivas para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático: uma revisão sistemática | Especialização |
16 | Sandileia Pfeiffer Carolina S. de Macedo Lisboa |
PUCRS | CAPES | Medos da compaixão e engajamento nas medidas de distanciamento social no enfrentamento à covid-19 | Mestrado |
17 | Milton Jose Cazassa Margareth da Silva Oliveria |
PUCRS | CAPES | Mapeamento de estressores e da severidade do estresse em adultos brasileiros por intermédio do Stress and adversity Inventory (STRAIN) | Doutorado |
18 | Bernardo Carramão Gomes Beny Lafer |
USP - IPq | Sem bolsa | Intervenção combinada de terapia cognitivo comportamental e reabilitação neuropsicológica para portadores de transtorno do humor bipolar | Doutorado |
2022 | AUTOR(A)/ ORIENTADOR(A) | IES | BOLSA | TÍTULO | CATEGORIA |
19 | Alice Calori Filisetti da Silva Carmem Beatriz Neufeld Isabela Maria Freitas Ferreira |
USP - FFCLRP | FAPESP | Relação entre autoeficácia e autocompaixão: Uma revisão integrativa da literatura | Graduação |
20 | Luisa Braga Pereira Angela Donato Oliva | UERJ | Sem bolsa | Os efeitos do sexo como preditor das relações entre a empatia, o cuidado e a superproteção parental | Mestrado |
21 | Bruno Luiz Avelino Cardoso Zilda Del Prette Sheila Giardini Murta |
UFSCAR | FAPESP | CONECTE: Atualização de medida psicométrica e construção/avaliação de um programa de treinamento de habilidades sociais conjugais para casais de diferentes orientações sexuais | Doutorado |
7MH | Débora Cristina Fava Melo Angela Helena Marin |
UNISINOS | Sem bolsa | Avaliação do processo e dos resultados do programa facilitando o convívio com alunos - FAVA: Capacitação para professores | MENÇÃO HONROSA Doutorado |
2023 | AUTOR(A)/ ORIENTADOR(A) | IES | BOLSA | TÍTULO | CATEGORIA |
22 | Mariana de Oliveira Risso Carmem Beatriz Neufeld Isabela Pizzarro Rebessi |
USP - FFCLRP | FAPESP | Relação professor-aluno e desempenho escolar na adolescência: Uma revisão integrativa de literatura | Iniciação Científica |
23 | Bernardo Paim De Mattos Thiago Wendt Viola |
PUCRS | CNPq | The consequences of childhood maltreatment on conduct disorder and aggressive behavior: A systematic review | Graduação |
24 | Jamille Novaes Pantoja Fernanda Sentone | INST COGNITIVO | Sem bolsa | Inventário de modos esquemáticos em casos de comportamento agressivo: Revisão sistemática da literatura | Especialização |
Myrian Machado de | WEBPARENTS: An experience of an online parent | ||||
25 | Paula Silveira Vitor Haase Carmem Beatriz Neufeld |
UFMG | CAPES | orientation program focusing on parental involvement in homework during the COVID-19 pandemic |
Mestrado |
26 | Nazaré De Oliveira Almeida Carmem Beatriz Neufeld Marcelo Demarzo |
USP-FFCLRP | CAPES | Terapia Focada na Compaixão para pessoas com obesidade | Doutorado |
8MH | Isabela Maria Freitas Ferreira Carmem Beatriz Neufeld Marcela Mansur-Alves |
USP-FFCLRP | CAPES | Construção e validação de um instrumento de avaliação de autoconhecimento em crianças e adolescentes de 8 a 14 anos | MENÇÃO HONROSA Doutorado |
Cada edição do PBR contou com uma coordenação e comissão avaliadora independentes, formadas por membros do Grupo dos Doutores da FBTC. Os trabalhos foram recebidos pela secretaria da FBTC e as autorias foram retiradas antes de serem enviados para um dos avaliadores da comissão. Cada trabalho foi avaliado por pelo menos dois avaliadores independentes. Apenas os coordenadores das comissões de cada edição do prêmio tiveram acesso aos dados dos autores dos trabalhos, sempre visando a avaliação cega e a lisura do processo. Os critérios de avaliação foram construídos conjuntamente pelo Grupos de Doutores da FBTC, e lançaram as bases para uma ficha de avaliação que foi usada em todas as edições do PBR. Dentre os critérios avaliados nos trabalhos estão: o delineamento metodológico, a coerência teórico-metodológica, a relevância e inovação para a área das TCCs, além de aspectos éticos, formais, de clareza e de escrita científica.
Em 2015, primeira edição do PBR, a coordenação ficou a cargo de Aline Sardinha. O prêmio foi considerado um sucesso desde a sua primeira edição, já que foram recebidos um total de 29 trabalhos já na sua primeira edição. Ao final da avaliação foram premiados cinco trabalhos e seis trabalhos receberam menção honrosa. A cerimônia de premiação ocorreu no X Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas (CBTC) em Porto de Galinhas, sendo os certificados entregues pelo próprio homenageado, Bernard Rangé.
Na edição de 2017, a coordenação do PBR foi conduzida por Carolina Lisboa, e uma subcomissão composta por Aline Sardinha, Leopoldo Barbosa e Tamara Melnik ofereceu apoio na avaliação dos trabalhos. A cerimônia de premiação ocorreu no XI CBTC em Foz do Iguaçu, para quatro trabalhos selecionados.
Em 2019, Aline Sardinha voltou à coordenação do PBR. Nesse ano, quatro trabalhos receberam o PBR em cerimônia específica no XII CBTC em Fortaleza.
A partir de 2021 o PBR, acompanhando a mudança do CBTC que passou a ser anual, contemplou os trabalhos defendidos no ano anterior (2020) e, desde então, o prêmio abre inscrição a cada doze meses. Com as restrições sanitárias impostas durante o período de pandemia pela COVID-19, a cerimônia de premiação ocorreu de forma virtual nos anos de 2021 e 2022, assim como o XIII CBTC e o XIV CBTC. Nessas duas edições a coordenação ficou à cargo de Suely Santana. A edição de 2021 do PBR teve cinco trabalhos premiados, e a edição de 2022 premiou três trabalhos e atribuiu uma menção honrosa.
A edição de 2023 marcou o retorno aos congressos presenciais, e a cerimônia de premiação dessa edição ocorreu no XV CBTC, que teve lugar na ensolarada cidade de Salvador. A coordenação dos trabalhos foi conduzida por Vanessa Dordron de Pinho. Essa última edição premiou cinco trabalhos e atribuiu uma menção honrosa.
As seis edições do PBR, ao longo desses dez anos, somam-se a um conjunto notório de evidências que apontam para a qualidade e para o desenvolvimento da produção do conhecimento científico no nosso país na área das TCCs. A mensagem que a FBTC e a RBTC deixam, por intermédio do PBR, é que a busca do conhecimento e a dedicação à pesquisa têm valor inestimável. O PBR representa um estímulo para que mais pesquisadores possam candidatar-se a um evento de grande magnitude, uma vez que não há prêmios similares na área em nosso país. As TCCs são intervenções baseadas em evidências e como tais, demandam de seus praticantes estudo e investigação constantes. O PBR cumpre um importante papel de valorizar e oferecer visibilidade aos estudos em TCC produzidos no nosso país.
Breve currículo do homenageado
Por Bernard Pimentel Rangé (texto retirado do currículo lattes com autorização do autor)
Possui graduação em Psicologia (PUC-Rio) (1971), Mestrado em Psicologia Teórico Experimental pela PUC-Rio (1975) e Doutorado em Psicologia pela UFRJ (2001). Foi professor da Pontifícia Universidade Católica de 1972 a 1993, tendo dado aulas de Terapia Comportamental, História da Psicologia, Psicologia Geral e Experimental (Aprendizagem) e Psicologia Geral e Experimental (Motivação e Emoção) além de ter sido coordenador do curso de graduação e coordenador do Serviço de Psicologia Aplicada e depois Diretor do Departamento de Psicologia em dois mandatos. Foi aprovado em concurso docente para professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1993. Em 1994 começou a dar aulas sobre Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e supervisão nessa área. Deu o primeiro curso de Terapia Cognitiva no Brasil, em 1991, em Maceió. É especialista em Terapia Cognitiva pelo Beck Institute, da Philadelphia, EUA. Foi Presidente-Fundador da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (ABPMC), Vice-Presidente-fundador da Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas, posteriormente denominada Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC), da qual é membro nato do conselho consultivo. Foi também membro fundador da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas, posteriormente denominada Federação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais (ALAPCCO), tendo sido Presidente dela em duas oportunidades, e atualmente ocupa o cargo de membro nato do conselho consultivo. Mais recentemente tem se dedicado ao estudo de mindfulness (atenção plena) não só nos atendimentos como em apresentações em congressos e cursos. Em 2013, a Federação Brasileira de Terapias Cognitivas criou um prêmio com seu nome para dar visibilidade aos melhores trabalhos de iniciação científica, de monografias de conclusão de curso, de monografias de cursos de especialização, de dissertações de mestrado e de teses de doutorado.
Bernard, o Protagonista
Por Eliane Mary de Oliveira Falcone e Helene de Oliveira Shinohara (texto publicado no site da FBTC e reproduzido com autorização das autoras)
Nos últimos 20 anos, pode-se observar um importante crescimento terapia cognitivo-comportamental (TCC) no Brasil. Este crescimento ocorreu, em parte, pela profusão de pesquisas em todo o mundo atestando a eficácia dessa abordagem, o que a levou ao status de tratamento de referência pela Organização Mundial de Saúde (Dobson & Dobson, 2010).
Outra razão para isto acontecer se deveu ao empenho de muitos profissionais brasileiros dedicados a divulgar a teoria e a prática da TCC através de ensino em universidades, publicações, organização de eventos e de cursos de extensão ou de especialização. Dentre esses, destaca-se Bernard Pimentel Rangé como o protagonista do movimento cognitivo-comportamental do Brasil.
Filho de mãe baiana e pai parisiense, Bernard nasceu em São Paulo, no ano de 1945, mudando-se com a família para o Rio de Janeiro aos cinco anos de idade. Em 1971, graduou-se em Psicologia na PUC-Rio. Seu interesse pela terapia comportamental surgiu por influência de um professor, Otávio Soares Leite, que o levou a conhecer os trabalhos de Joseph Wolpe sobre dessensibilização sistemática (Falcone e Rangé, 2014).
Com a entrada de Myriam Vallias na PUC-Rio, recém-chegada da Pensilvânia, Bernard teve a oportunidade de praticar as técnicas comportamentais e verificar a sua eficácia em seus clientes. Ainda nesta época, Bernard participou da II Reunião da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), ocorrida em Ribeirão Preto, em outubro de 1971, onde conheceu figuras ilustres da análise do comportamento, como João Cláudio Todorov e Thereza Mettel, sendo esta última sua orientadora no mestrado concluído em 1975. Durante os anos 1990, junto com um grupo de terapeutas do Rio de Janeiro, começou a aprofundar os estudos sobre terapia cognitiva no tratamento da depressão, da ansiedade e da personalidade (Rangé, Falcone & Sardinha, 2007). Em 2001 concluiu o doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (Falcone & Rangé, 2014).
Bernard iniciou a sua carreira docente na PUC em 1972, onde foi Coordenador da Graduação do Serviço de Psicologia Aplicada e Diretor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio no período de 1981 a 1985. Ingressou por concurso como professor da UFRJ e posteriormente como docente do PPG desta mesma universidade (Shinohara, entrevista em 2003). Sua experiência como professor, pesquisador e orientador de pesquisas de mestrado e doutorado foi fundamental na formação de muitos profissionais, mestres e doutores (Falcone & Rangé, 2014).
Em parceria com Harald Lettner, Bernard foi o primeiro a organizar um livro intitulado Manual de Psicoterapia Comportamental, editado no Brasil em 1989 pela Manole, o qual recebeu a contribuição de vários autores brasileiros e do exterior. Posteriormente, em 1995, ele organizou dois volumes intitulados Psicoterapia Comportamental e Cognitiva, editados pela Editorial Psy e posteriormente pela Artmed. Em 2001, organizou uma obra intitulada Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais. Um diálogo com a Psiquiatria (Artmed). O sucesso foi tão grande que uma segunda edição ocorreu em 2011, com novos temas. Outro livro de autoria de Bernard de grande projeção foi Vencendo o Pânico (Rangé e Borba, 2008), publicado pela Editora Cognitiva, em uma versão para o terapeuta e outra para o paciente. Uma quantidade de artigos publicados em periódicos científicos constituiu também importante contribuição para a comunidade científica brasileira.
Sempre na busca de divulgar e fortalecer a terapia cognitivo-comportamental no Brasil, Bernard liderou a fundação, em 1991, da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (ABPMC), que proporcionou o início de uma grande interlocução entre profissionais de várias cidades do Brasil. Com a contribuição de alguns colegas do Rio de Janeiro, organizou o I Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, ocorrido em 1992 na UERJ (Rangé e Guilhardi, 1995). Foi também membro fundador da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC), em 1998. Sua habilidade em estabelecer contatos profissionais o levou para além dos encontros brasileiros. Assim é que, em 2003, tornou-se presidente da Associação Latino-Americana de Terapias Cognitivas (ALAPCO), repetindo o seu mandato em 2011. Dentre os vários congressos organizados por Bernard e seus colegas, os mais expressivos ocorridos no Rio de Janeiro foram o V Latini Dies (1999) e o congresso da ALAPCO (2012).
A contribuição de Bernard para o fortalecimento da TCC no Brasil e para a produção de conhecimento na área encontra-se além do conteúdo desse texto. Sua popularidade e carisma não resultam apenas desse currículo incomparável. Virtudes como “empreendedor”, “generoso”, “amigo” etc., atribuídos carinhosamente a ele por colegas, contribuem para que este seja unanimidade entre profissionais renomados, tanto no Brasil quanto no exterior.
Bernard foi merecidamente homenageado em 2001 no congresso da ABPMC e em 2013, no congresso da FBTC. Além disso, mesmo com todos esses méritos constantemente reconhecidos, ele tem a grandeza de se deslumbrar com os trabalhos de colegas, tal como um jovem estudante que está começando a se familiarizar com os novos conceitos da TCC. Uma frase muito peculiar de Bernard é: “Você precisa conhecer o trabalho de fulano. Ele é sen-sa-cio-nal!” Essa grandeza, aliada a uma energia impressionante de quem está sempre disposto a aprender é que o torna único.
Essas são as razões pelas quais o consideramos como o protagonista da história da TCC no Brasil. E todos nós que o conhecemos somos unânimes em dizer que ele é sen-sa-cio-nal!
REFERÊNCIAS
Dobson, D. & Dobson, K.S. (2010). A terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências. Porto Alegre: Artmed.
Falcone, E.M.F. & Rangé, B.P. (2014). O desenvolvimento da terapia cognitivo-comportamental no Rio de Janeiro. Disponível emwww.atc-rio.com.br.
Rangé, B.P., Falcone, E. M. O. & Sardinha, A. (2007). História e panorama atual das terapias cognitivas no Brasil. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 3, 53-68.
Rangé, B. & Guilhardi, H. (1995). História da psicoterapia comportamental e cognitiva no Brasil. Em: B. Rangé (Org.). Psicoterapia comportamental e cognitiva. Pesquisa, prática, aplicações e problemas (pp.55-69). Vol. 2. Campinas: Editorial Psy.
Shinohara, H. (2003). Conversando com Bernard Rangé. Paralelo Digital Produções audio-visuais.
Com a Palavra, o homenageado
Por Bernard Pimentel Rangé
Na cerimônia de abertura do Congresso da FBTC em 2013, organizado por Carmem Beatriz Neufeld, em Ribeirão Preto, tive uma das experiências mais emocionantes da minha vida! Fui surpreendido pela instituição, naquele momento, com o Prêmio Bernard Rangé! Fiquei tão emocionado que quase comecei a chorar e, rapidamente, terminei o meu agradecimento, porque, senão, eu iria cair em prantos.
Tive muita sorte na minha vida. Nasci branco, filho de um pai francês e de uma mãe baiana de classe média. Meu pai, em 1937, poderia ter ido estudar na Alemanha de Hitler ou na Inglaterra e, para minha sorte, ele escolheu ir para a Inglaterra, onde aprendeu inglês e, mais do isso, aprendeu a pensar como os britânicos, como Sherlock Holmes: conhecimento baseado em evidências. Ele não só me ensinou a gostar de ler, como também me ensinou buscar conhecimento baseado em evidências.
Fui um adolescente problemático. Não consegui concluir o colegial e não me apresentei ao exército no momento certo e, quando o fiz, fui obrigado a servir. Ali aprendi reconhecer a importância da hierarquia, e a ser mais responsável e disciplinado.
Como tive dispensa em novembro, pedi ao meus pais para ir aprender a falar francês em Paris, onde morava o meu padrinho, irmão do meu pai, com a família dele e minha avó francesa. Ao lado da Aliança Francesa de Paris tinha o Institute Catholique, onde me inscrevi num curso de introdução à psicologia em que assisti apenas à primeira aula. Um mês depois, meu padrinho recebeu uma carta da Aliança Francesa querendo saber de mim: eu não tinha ido assistir nenhuma aula de francês. Meu padrinho me perguntou se eu queria ficar morando com eles estudando francês ou se eu preferia morar em outro lugar. Preferi a segunda alternativa. Ele me ofereceu um trabalho em banco ou numa agência de decoração e de exposições. Preferi esta. Fui aprendendo francês desse jeito, evitando contato com qualquer brasileiro. Fui aprendendo também a montar estandes de exposição, pintar letras e colar fotografias, além de trabalhar como entregador. Comecei ganhando dez por cento do salário-mínimo francês e, depois de seis meses já estava ganhando quase um salário-mínimo francês, o que não era pouca coisa. Foi então que pensei: “Será que vou querer ficar fazendo isso para o resto da minha vida?” Como eu não tinha terminado o colegial decidi voltar e fazer um supletivo para depois voltar para a França para estudar cinema ou psicologia.
Tive outra sorte de entrar num curso supletivo espetacular de um professor chamado Agostinho que era professar do colégio Santo Agostinho, um dos melhores do Rio de Janeiro. Ali aprendi a gostar de estudar e acabei sendo muito bem aprovado no supletivo. Este curso se tornou um curso pré-vestibular e daí fui aprovado no vestibular da PUC-Rio, onde entrei em 1967.
Fui me sentindo atraído pelo behaviorismo e tive duas novas sortes: a primeira foi ter conhecido Octávio Soares Leite que deu um curso de aprendizagem que tinha uma parte prática condicionamento com um rato em que eu pude ensinar ao meu rato a aumentar a frequência de respostas de pressionar alavanca, a discriminar estímulos etc. o que me fez acreditar que era possível mudar comportamentos. Ele deu no semestre seguinte um curso de Aprendizagem Humana, no qual ele falou de Joseph Wolpe. Eu fiquei encantado e comecei a participar de um grupo de estudos de terapia comportamental.
A segunda sorte foi que Miriam Vallias Oliveira Lima começou a dar aulas na PUC. Ela tinha acabado de estudar com Wolpe, na Temple University, na Pennsilvania. Começou a ensinar tudo que ela tinha aprendido com ele. E ela nos levou para o segundo Congresso da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto, onde pude conhecer João Claudio Todorov e Thereza Mettel e o trabalho espetacular que eles faziam lá. Na volta, ela sugeriu ao Aroldo Rodrigues, Diretor do Departamento de Psicologia na época, que convidasse os dois para um curso de férias em janeiro de 1972. O curso dos dois foi espetacular e aprendi muito sobre B.F.Skinner e outros behavioristas.
O marido de Miriam foi encaminhado para trabalhar em São Paulo e eu fui convidado para substituí-la. O jeito disciplinado que eu aprendi no exército já estava dando resultados. Tive sorte também de ser convidado para ser o coordenador da graduação e da Thereza Mettel ter sido contratada para ser professora da PUC. Ela acabou sendo a minha orientadora de mestrado, tendo sido eleita para ser a primeira Presidente do Conselho Federal de Psicologia.
Tive sorte também de Silvia Duncan ter sido contratada para ser professora da PUC. Ela tinha feito mestrado em Cambridge na abordagem comportamental, tendo aprendido a tratar quadros de ansiedade. Demos supervisão juntos para estagiários interessados em terapia comportamental durante os dois anos que ela ficou no Brasil.
Em 1982, comprei o livro Terapia Cognitiva da Depressão, de Beck e colaboradores. Naquele momento, me foi encaminhada uma paciente com um quadro grave de depressão. Tratei-a usando tudo aquilo que estava escrito no livro e o tratamento foi um sucesso. Aos poucos fui me tornando cada vez mais cognitivo-comportamental.
Mais tarde, fui eleito Diretor do Departamento de Psicologia da PUC e tive a sorte de Harald Lettner, psicólogo austríaco com doutorado na Alemanha, ter aprendido a tratar TOC com Vic Meyer, no Middlesex Hospital, em Londres, o terapeuta britânico que descobriu como tratar esse quadro. Obviamente eu o contratei. E, com ele, publicamos em 1988 um livro chamado Manual de Terapia Comportamental. E ele convidou Vic Meyer para vir ao Brasil e ensinar formulação de casos e o tratamento de TOC.
Não tive apenas sorte. Com a ajuda de um psicanalista argentino famoso, na época, Alberto Goldin, numa mesa em que eu estava de mediador e ele, à minha direita falou sobre psicanálise, e Eliane Falcone, à minha esquerda, falou das dificuldades de ser terapeuta comportamental no Brasil, no que eu concordei, e ele disse: “Vocês precisam se organizar!”. E ele tinha toda a razão! Ao acabar a mesa, fui conversar com a Eliane Falcone sobre isso e começamos a nos encontrar aos sábados, numa das salas do segundo andar da PUC, com Helene Shinohara, Monica Duchesne, Maria Alice Castro e muitos outros terapeutas comportamentais cariocas, para ler e trocar livros sobre terapia cognitiva.
Em 1989, depois de uma mesa redonda num Congresso de Terapias Breves organizado pela minha grande amiga Vera Lemgruber, psicóloga e depois psiquiatra, no qual fiz uma apresentação sobre tratamento de transtorno de pânico, fui convidado para dar o primeiro curso de Terapia Cognitiva no Brasil no Congresso de Psiquiatria, em 1991, em Maceió. O curso foi um sucesso e, no ano seguinte, publiquei no Jornal Brasileiro de Psiquiatria, três artigos sobre terapia cognitiva: Fundamentos, Transtorno de Humor e Transtornos de Ansiedade. Estes artigos tiveram grande sucesso e passei a ser convidado para dar cursos por todo o Brasil.
No mesmo ano de 1991, fiz viagens para São Paulo, Campinas, Curitiba e Londrina visando fazer contato terapeutas comportamentais como Rachel Kerbauy, Edviges Silvares, Regina Cristina Wielenska, Sonia Beatriz Meyer, Liliana Seger Jacob, Hélio Guilhardi, Marilda Lipp, Maria Zilah Brandão, e cognitivos, como Cristiano Nabuco de Abreu. O objetivo dessas viagens foi o de organizar um grupo para fundar uma Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental, o que acabou acontecendo depois de um Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia, em Ribeirão Preto, no qual, foi sugerido que nós, cariocas, já mais organizados, a fundassem. E isso foi feito de dezembro de 1991, com a presença de cerca de 40 pessoas, em que eu fui eleito Presidente e Geraldo Lanna, Vice-Presidente. Estavam também presentes Eliane Falcone, Helene Shinohara, Monica Duchesne, Maria Alice Castro, Katia Moritz e outras quarenta pessoas.
Desde esta época, continuei a dar cursos de terapia cognitiva pelo Brasil: Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Gramado, São José do Rio Preto, São Paulo, Juiz de Fora, Campos dos Goitacazes, Florianópolis, João Pessoa, Manaus, Teresina, Recife, Maceió...até a pandemia em 2020.
Em 1993 passei num concurso para ser Professor de Terapia Comportamental do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além de ser professor, eu deveria ser supervisor, fazer pesquisa e trabalhar em extensão. O melhor era que o Instituto de Psiquiatria da UFRJ, chamado IPUB (Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil) estava ao lado e eu conhecia muitos psiquiatras de lá.
Nesse mesmo ano, houve um Congresso Mundial de Psiquiatria, no Rio de Janeiro e, como eu era muito amigo da Dra. Vera Lemgruber, que estava ajudando o psiquiatra Jorge Alberto Costa e Silva na sua organização, ela me permitiu que eu examinasse as fichas de inscrição no Congresso. Para mim não foi surpresa encontrar pesquisadores luminares dos Estados Unidos, como Joseph Wolpe, David Barlow, Jack Maser, diretor do setor de transtornos de ansiedade do National Institute of Mental Health (NIMH), Samuel Taylor, Matig Mavissakalian, Rafael Navarro, atual Presidente da ALAMOC, os espanhóis Vicente Caballo e Gualberto Buela-Casal, os argentinos, Hector Fernandez Alvarez, recém falecido e Herbert Chappa. Em vista disso, nós cariocas, Eliane, Helene, Monica, eu e muitos outros decidimos organizar o I Congresso Internacional de Terapias Cognitivas, no Rio de Janeiro, nos dois dias subsequentes do Congresso Mundial. E foi um sucesso!!
A primeira turma de estagiários em 1994 era constituída de alunos da psicologia que estavam desistindo de fazer psicologia porque o currículo era cheio de matérias de psicanálise. Comecei a treiná-los em entrevistas de avaliação de casos porque vários deles eram alunos das minhas aulas de terapia (cognitivo) comportamental no IP. E começamos a fazer atendimentos em casos de transtornos de ansiedade e transtornos do humor. Eventualmente poderíamos atender outros tipos quadros clínicos.
Em 1994, casei-me de novo e estou casado com ela até e devo completar 30 anos de casado no próximo ano. Mas, nesse mesmo ano, fui com ela para um Congresso da Associación Latinoamericana de Analisis y Modificación de Comportamiento (ALAMOC), em La Paz, Bolívia, em que reencontrei Joseph Wolpe. Ele já havia se apresentado no Rio de Janeiro nos anos 1980 e eu até o levei para assistir um jogo de futebol no Maracanã. E nesse mesmo ano fui com ela para um congresso da Association of Behavior and Cognitive Therapy (ABCT), em San Diego, California. Neste evento reencontrei Katia Moritz e Paulo Knapp, que já havíamos conversado antes do Congresso Internacional no Rio, e pude conhecer a argentina Claudia Bregman, que trabalhava no Clínica Aiglé, dirigida por Hector Fernandez Alvarez.
No Congresso da ABPMC de Campinas, em 1995, lancei dois livros com uma grande maioria de autores brasileiros: Psicoterapia Comportamental e Cognitiva: Pesquisa, Prática, Aplicações e Problemas e Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquiátricos. Aqueles alunos eram tão bons que vários deles se tornaram autores de capítulos dos livros que lancei em 1995.
Em 1996, Cristiano Nabuco, Paulo Knapp e eu fomos convidados para o primeiro Congresso de Terapias Cognitivas em Buenos Aires, organizado pelo Hector Fernandez Alvarez, Claudia Bregman e outros da Fundación Aiglé. Este Congresso foi tão bom que foi organizado outro, dois anos depois, em Gramado, onde acabou sendo fundada a Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas, com o Paulo Knapp como Presidente e eu como Vice-Presidente, em decorrência de um gesto nobre de Cristiano Nabuco que abriu mão de seu grupo paulista para criar esta entidade brasileira.
Neste mesmo Congresso de 1996, iniciou-se um grupo de trabalho para fundar a Associación Latinoamericana de Psicoterapias Cognitivas, hoje Federación Latinoamericana de Psicoterapias Cognitivas y Conductuales (ALAPCCO). Este grupo de trabalho foi formado por argentinos, brasileiros, chilenos e uruguaios, e acabou sendo formalizada no Congresso Latini Dies, no Rio de Janeiro, em 1999. A primeira Presidente da ALAPCCO foi a psiquiatra uruguaia Raquel Zamora.
Em 2001 terminei meu doutorado e publiquei pela Artmed o livro Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais, um Diálogo com a Psiquiatria, que se tornou um sucesso. Dez anos depois, foi publicada uma segunda edição, que também se tornou um sucesso. Em 2002 comecei a fazer parte do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, do Instituto de Psicologia, da UFRJ.
Em 2004 estive envolvido na organização do Congresso Latino-Americano de Psicoterapias Cognitivas em Porto Alegre, juntamente com Renato Caminha e Margareth de Oliveira. Nesta oportunidade fui apresentado pelo Renato à Carmem Beatriz Neufeld, uma jovem professora e coordenadora de um Curso de Psicologia em uma Faculdade em Cascavel no Paraná. Este encontro ainda iria render muitos frutos.
Em 2011, graças ao sucesso do meu livro pela Artmed, fui convidado para fazer uma reedição comemorativa de 10 anos do mesmo. Na época fui informado de que este era o livro mais vendido na área de TCC da editora há vários anos. A nova edição do livro foi igualmente muito bem recebida e é até hoje frequentemente citado, sendo ainda publicado até os dias atuais.
Como mencionei anteriormente, em 2013 fui homenageado pela presidente da FBTC com um Prêmio Monográfico com o meu nome. Eu pensei: “Eu não mereço isso! Tem tantas outras pessoas que merecem isso!!!” Pensei no Paulo Knapp, que foi estudar no Beck Institute e atendeu na sala do próprio Beck. Mas eu o ouvi dizendo: “Merecido!!” Foi uma grande emoção! Desde então, tive a alegria de assistir todas as sessões nos Congressos Brasileiros onde os trabalhamos premiados foram apresentados e tive a oportunidade de entregar o certificado pessoalmente a todos os agraciados com o Prêmio Bernard Rangé.
Me mantive credenciado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia, do Instituto de Psicologia, da UFRJ por 15 anos, até 2017. Neste período orientei 14 mestrados e 11 doutorados, além de 24 trabalhos de conclusão da graduação e cinco iniciações científicas. Dentre meus orientandos posso citar Ana Claudia de Azevedo Peixoto, Adriana Cardoso, André Luiz dos Santos Pereira, Maria Amélia Penido, Ângela Alfano Campos, Isabela Dias Soares Fontenelle, Raphael Fisher Peçanha, Ingrid Amorosino, Angélica Borba, Nívea Maria Machado de Melo, Heitor Hirata, Fernanda Coutinho e Priscilla Lourenço Leite, destacados profissionais nas terapias cognitivas brasileiras.
Ao final de 2015 Carmem Beatriz Neufeld me propôs que eu supervisionasse seu pós-doutorado. Esta proposta me encheu de orgulho e imediatamente aceitei. Lembro-me de dizer a ela que seria o meu encerramento como orientador de Pós-Graduação e que seria uma forma de finalizar em grande estilo. Ela fez o seu pós-doutorado comigo de agosto de 2016 à julho de 2017 no Programa de Pós-Graduação em Psicologia, do Instituto de Psicologia da UFRJ. Desta parceria surgiram algumas publicações e também a organização conjunta do primeiro livro brasileiro de Terapia Cognitivo-Comportamental em Grupos para o público adulto, pela editora Artmed, em 2017.
Logo após, saí do Programa para tentar uma nova aventura: fui convidado pela Eliane Falcone para conceber um Projeto de Mestrado Profissional da UNIVERSO. Cada um de nós chamou quatro doutores orientados por cada um de nós para elaborar esse projeto. Depois de muito trabalho, comecei a refletir, fiz uma análise de vantagens x desvantagens de ir para a UNIVERSO, e tomei a decisão de desistir. Pouco tempo depois, a Eliane tomou a mesma decisão e, depois de algum tempo, a UNIVERSO desistiu do projeto.
A partir de então, tenho me dedicado ao atendimento de clientes em meu consultório, viajado para dar cursos pelo Brasil, e à distância durante a pandemia, além de jogado tênis, beach tennis, apreciado a vida...
Agradeço de coração ter tido a honra de ter um prêmio com o meu nome!!
Muito obrigado, Bia!
E parabéns para todos os premiados! Rio de Janeiro, dezembro de 2023.