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Revista Brasileira de Psicologia do Esporte

On-line version ISSN 1981-9145

Rev. bras. psicol. esporte vol.1 no.1 São Paulo Dec. 2007

 

 

A psicologia do esporte no contexto do sistema de conselhos

 

Sports Psychology in the "conuncils" context

 

La psicología del deporte en el contexto del sistema consejos

 

 

Mônica d'Fátima Freires da Silva

Instituto Sedes Sapientiae - SP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é discutir como se organizou a Psicologia do Esporte, como está e como se estrutura a especialidade no presente momento, no Brasil. O presente artigo é uma síntese do trabalho desenvolvido para a conclusão do curso de especialização em Psicologia do Esporte, em 2005. Como monografia a metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica sobre a administração esportiva, bem como documentos do Conselho Regional de Psicologia (CRP-SP) e um levantamento de publicação de trabalhos científicos dos psicólogos atuantes na área do esporte através dos congressos: V Congresso Nacional de Psicologia; I Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão; I Congresso Latino Americano de Psicologia; 30º Congresso interamericano de Psicologia. O ponto de partida foi pensar em um trabalho que pudesse ser reflexivo. O que se observa após análise desse material é que ainda é pequeno o número de profissionais que se identifica com a área, gerado, talvez, pela brevidade da formação, e as dificuldades de se inserir no mercado de trabalho. Por outro lado, constata-se que vem havendo um aumento gradativo de participações em congressos e publicações sobre a Psicologia do Esporte.

Palavras-chave: Psicologia do esporte no Brasil, Exercício profissional, Especialização em psicologia do esporte.


ABSTRACT

The aim is to show how sports psychology is organized and structured in Brazil, and to propose an institutional psychology of sport. This article is a synthesis of a study developed for the conclusion of the specialization course in Sports Psychology in 2005. The methodology used was a bibliographical review of administrative arrangements for sports, including documents from the São Paulo Regional Council of Psychology (local acronym CRP-SP) and a survey of work by psychologists active in this field published for the 5th National Congress of Psychology, the 1st Brazilian Congress of Psychology: Science and Profession, the 1st Latin American Congress of Psychology, and the 30th Inter-American Congress of Psychology. The point of departure was to conceive a study with the ability to be reflexive. Analysis of this material shows that there are as yet few professionals identified with the field, perhaps because courses are short and the labor market is hard to enter. On the other hand, there is a gradual rise in involvement in terms of sports psychology conferences and publications.

Keywords: Sports psychology in Brazil, Professional practice, Specialization in psychology of sport.


RESUMEN

El objetivo de este artículo es discutir cómo se organizó la Psicología del Deporte, cómo se encuentra y cómo se estructura la especialidad en el presente momento en Brasil. Este estudio es una síntesis del trabajo desarrollado para la conclusión del curso de especialización en Psicología del Deporte, en 2005. La metodología utilizada fue una revisión bibliográfica sobre la administración esportiva, así como documentos del Consejo Regional de Psicología (CRO-SP) y un levantamiento de publicación de trabajos científicos de psicólogos actuantes en el área del deporte a través de congresos: V Congreso Nacional de Psicología; I Congreso Brasileño de Psicología. El punto de largada fue pensar en un trabajo que pudiese ser reflexivo. Después de una análisis de ese material lo que se observa es que aun es reducido el número de profesionales que se identifican con el área, debido, tal vez, a la brevedad de la formación y a las dificultades de se inserir en el mercado de trabajo. Sin embargo, se comprueba el aumento gradual de participaciones en congresos y publicaciones sobre la Psicología del Deporte.

Palabras clave: Psicología del deporte en Brasil, Ejercicio profesional, Especialización en psicología del Deporte.


 

 

Introdução

Esse artigo consiste em uma pesquisa de fontes e teve sua origem na necessidade de produção da monografia de conclusão do curso de especialização em Psicologia do Esporte, em 2005. Tem como objetivo discutir como era a Psicologia do Esporte, como está e como se estrutura a especialidade no presente momento, no Brasil. Além disso, buscou-se identificar se a atuação do psicólogo do esporte é reconhecida no meio esportivo, observando a necessidade de sistematização das práticas dos profissionais da área de psicologia para a construção das bases de sustentação da atuação do psicólogo do esporte no Brasil. Esse esforço levou também a uma reflexão sobre os caminhos adotados pelo psicólogo do esporte no exercício profissional hoje.

A Psicologia do Esporte tem suas raízes basicamente na psicologia experimental psicofisiologia. Iniciou seus estudos e organização com o esporte, na União Soviética desde 1920 e no Brasil desde a década de 1950, com João Carvalhaes, considerado o pioneiro da Psicologia do Esporte pelas suas grandes contribuições antes mesmo da Psicologia ser considerada uma ciência, reconhecimento esse que se deu no ano de 1962.

Observa-se que os cursos de Psicologia, bem como suas bibliotecas parecem estar ainda longe dessa realidade. Quase nenhuma literatura sobre a Psicologia do Esporte é encontrada na biblioteca das faculdades de Psicologia. As referências estão em sua quase totalidade nas bibliotecas das faculdades de Educação Física, isso porque a disciplina Psicologia do Esporte faz parte dos currículos programáticos desses cursos já há quase 3 décadas. Essa constatação já foi revelada por outros profissionais, como por exemplo em Rubio (2000).

Na biblioteca da Escola de Educação Física da USP, que possui um acervo privilegiado, encontram-se muitos livros sobre as técnicas utilizadas por profissionais no esporte, sejam eles psicólogos ou educadores físicos; literatura sobre a psicologia institucional; sobre administração esportiva, bem como sobre a Psicologia do Esporte. No entanto, não são encontrados livros ou textos que retrate a prática do psicólogo do esporte propriamente dita, ou seja, que caminhos percorre para alcançar o objetivo proposto na sua prática.

Muitos profissionais atuam há anos na área, desenvolvendo técnicas, implementando e implantando trabalhos significativos, com atletas, técnicos, dirigentes, juízes e instituições, sejam privadas ou assistenciais. Entretanto, a maioria dos dirigentes e técnicos do esporte tem a idéia de que o trabalho da Psicologia do Esporte se restringe e é essencial para os atletas, pois estes apresentam "problemas", quase sempre relacionados à motivação ou ao controle do stress, e por isso precisam de "palestras" para um bom rendimento.

Em razão disso, nesse trabalho discute-se o papel que o psicólogo do esporte desempenha relacionado não apenas com a saúde, mas também como uma função social, isso porque está em constante interatividade com instituições de ensino, esportiva, filantrópica e outras.

A metodologia utilizada foi a pesquisa sistemática de documentos que apontassem a trajetória da área, fossem eles profissionais ou acadêmicos. Para tanto consultou-se o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP) em busca dos registros de especialistas em Psicologia do Esporte, bem como o número de processos éticos abertos contra os profissionais que atuam na área esportiva; anais e demais registros dos últimos congressos de Psicologia de abrangência nacional e latinoamericana, a fim de buscar as produções científicas que pudessem demonstrar a construção do trabalho do psicólogo do esporte e a reflexão teórica desse movimento.

 

Como era a Psicologia do Esporte

A Psicologia do Esporte, no Brasil, assenta-se em variadas áreas onde se dá a atividade física e esportiva: no esporte de alto rendimento, atendendo atletas que competem nas mais variadas modalidades esportivas; na reabilitação, com a prevenção da saúde física de atletas e de pessoas propensas aos problemas de saúde como distúrbios coronários e alimentares, bem como, programas psicológicos aplicados a pessoas portadoras de deficiências físicas, mentais e sociais; em projetos sociais, permeados e norteados pela educação através do esporte; no esporte escolar, que por um lado facilita o processo de ensino e aprendizagem e por outro, estimula os processos de educação e socialização; nas práticas de tempo livre e nas manifestações do esporte de massa, bem como nos programas de qualidade de vida (Rubio, 2003).

Ela surge para estudar cientificamente os efeitos psíquicos e o comportamento das pessoas nas diversas atividades físicas e esportivas, analisando os processos cognitivos, emocionais e psicológicos, com o objetivo de construir métodos para sua aplicação.

No Brasil, João Carvalhaes é considerado pioneiro da Psicologia do Esporte, trabalhou com a psicologia aplicada ao esporte e com psicometria desde o início da década de 1950. Apresentou inúmeros artigos em jornais, revistas e congressos:

"Dois artigos de jornal, por meio da Psicotécnica, João Carvalhaes selecionou candidatos no curso de jurados (Folha da Noite, 13/04 de 1955) e a série de artigos Psicologia no Ringue (Equipe, 14/03 a 25/04 de 1957), sugerem o início de um novo período profissional, a fase da psicologia aplicada ao esporte. Na Federação Paulista de Futebol, trabalhou na seleção psicotécnica de candidatos à Escola de Árbitros e na preparação psicológica dos mesmos (1954-1959). Na Federação Paulista de Pugilismo, contribuiu para a seleção de candidatos ao Curso de Jurados e Juízes através de processos científicos, com base na psicologia aplicada, entre 1957 e 1961. Conselheiro do São Paulo Futebol Clube, foi chamado pelo técnico para trabalhar com os atletas do clube e certamente todas as experiências com a psicologia aplicada ao esporte contribuiu para que, em 1958, ele fosse convocado para o Campeonato Mundial de Futebol na Suécia". (Walny e Azevedo, www.crpsp.org.br/acervo/pioneiros, 2003)

Apresentou, em 1959, o trabalho Experimentações Psicológicas no Esporte, este no VI Congresso Interamericano de Psicologia no Rio de Janeiro (Rubio, 2000).

Em 1960 foi fundada a Sociedade Internacional da Psicologia do Esporte que agregou os psicólogos que trabalhavam com o esporte, organizando assim a Psicologia do Esporte, dando início à produção científica que se expandiu para a década de 1970. Profissionais como Athayde Ribeiro, Emílio Mira e João Carvalhaes, representaram o Brasil com contribuições científicas significativas, ampliando o campo de trabalho psicológico no esporte.

No ano de 1970, foi constituída uma equipe de psicólogos no Clube Pinheiros, cujo objetivo era dar suporte aos atletas participantes de todas as modalidades esportivas. Para tanto as profissionais da área criaram programas de treinamento mental (fatores cognitivos, motivacionais e afetivos), para melhorar a atuação dos atletas de competição (Rubio, 1999).

A partir de 1971, outros profissionais como João Serapião, Paulo Gaudêncio e Flávio Gikovate ampliaram a participação da psicologia aplicada ao esporte atuando em clubes e times de futebol (Moretti, 2004).

O crescimento da psicologia aplicada ao esporte continuou não só no futebol, estendendo-se para outras modalidades esportivas e em várias regiões como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Foram fundadas em 1979 associações como a SOBRAPE (Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte) filiada à Internacional Society of Sport Psychology (ISSP) e a SPAESP (Sociedade de Psicologia Aplicada ao Esporte, Atividades Físicas e Recreação de São Paulo) com o intuito de divulgar e expandir os conhecimentos das práticas dos psicólogos no esporte.

No ano de 1981 realizou-se o I Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte em Porto Alegre - RS, momento em que se deu o encontro de diversos profissionais do esporte da América Latina. A partir deste marco, houve um incremento no número de encontros de profissionais, multiplicando os conhecimentos na área (Becker, 2000).

Com esse movimento a psicologia aplicada ao esporte buscava difusão no Brasil e no final da década de 1980, uma grande transformação aumentou o interesse dos profissionais da área esportiva, resultando em uma busca pela produção científica em Psicologia do Esporte. Isso porque, diante da falta de formação específica no Brasil, o recurso utilizado foi a procura por curso e material produzido em outros países.

É importante ressaltar que a formação dos psicólogos que atuam na área esportiva até aquele momento pautava-se basicamente na psicologia clínica, social e organizacional com suas várias formas de intervenção e análises sobre os comportamentos e atitudes dos atletas no contexto esportivo.

Segundo Abdo (2000) a primeira iniciativa de formação específica aconteceu na Faculdade de Educação Física da FMU - Faculdades Metropolitanas Unidas, que promoveu em 1994, uma especialização "lato sensu" em Psicologia do Esporte.

Segundo Becker (2000), em 1995, na PUC/RS, foi criado o primeiro curso de pós-graduação em Psicologia do Exercício & Esporte, da América do Sul. O curso foi freqüentado por cinco psicólogos e trinta professores de Educação Física. Posteriormente, mais cinco psicólogos se interessaram pelo curso quando este passou, em 1997, a ser realizado na Escola de Educação Física. Mais cinco no ano de 1998 e mais cinco no ano de 1999.

Esse quadro sofreu transformações quando foi iniciado o curso de especialização profissional em Psicologia do Esporte, no Instituto "Sedes Sapientiae", em São Paulo, no ano de 2002. Este foi o primeiro curso no Brasil a ser reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia por atender as normas da resolução CPF 014/00, que instituiu a criação das especialidades em Psicologia. A primeira turma de especialistas formou-se no ano de 2003, cumprindo durante dois anos as exigências de um curso com uma carga de formação que compreende 360 horas de atividades teóricas e 150 horas de atividades práticas em estágios regulamentados pela instituição nas diversas áreas de atuação do psicólogo do esporte.

No final do ano de 2003 foi fundada a ABRAPESP - Associação Brasileira de Psicologia do Esporte que tem por finalidade zelar e incentivar o crescimento da Psicologia do Esporte, como um meio de promover o bem-estar e o desenvolvimento humano por meio do esporte e da atividade física (Abrapesp, 2003).

 

Como está a Psicologia do Esporte no Brasil

Segundo dados do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP, 2007) até abril de 2004, foram registrados doze (12) especialistas em Psicologia do Esporte e até fevereiro de 2007 outros quatro (4). O número de registros de processos éticos contra os especialistas em Psicologia do Esporte foi zero (0). No Conselho Federal de Psicologia foram registrados cinco (5) especialistas até o mês de julho de 2004 e um (1) até fevereiro de 2007. Totalizando vinte e dois (22) psicólogos especialistas reconhecidos e registrados no CRP-SP e CFP até o mês de fevereiro de 2007 (www.pol.org.br, 2007).

Outra forma de registro do crescimento da Psicologia do Esporte como área de conhecimento é a participação em congressos de relevância nacional e internacional. Por exemplo, no V Congresso Nacional da Psicologia, em junho de 2004, não houve nenhum trabalho apresentado em Psicologia do Esporte (www.bvs.psi.org.br , 2007).

No I Congresso Nacional Brasileiro Psicologia: Ciência e Profissão, em setembro de 2004, três (3) trabalhos foram apresentados sob o prisma da Psicologia do Esporte. Já no I Congresso Latino-Americano de Psicologia, em abril de 2005, (www.ulapsi.org)a Psicologia do Esporte surge no programa como área específica, com a apresentação de vinte e um (21) trabalhos, sendo que quatorze (14) estavam relacionados à psicologia aplicada ao esporte. E no 30º Congresso Interamericano de Psicologia, em junho de 2005, foram dezesseis (16) os trabalhos relacionados à psicologia aplicada ao esporte (www.bvs.psi.org.br, 2005).

Nos quatro congressos realizados entre 2004 e 2005 foram apresentados 40 (quarenta) trabalhos sobre a sistematização das práticas dos psicólogos do esporte, superando o número de registros de especialistas existentes até 2005. Dos trabalhos apresentados sobre a sistematização da prática do psicólogo do esporte, cinco (5) apresentam inovações na área da Psicologia do Esporte ou relatam intervenções, ou seja, explicitam como direcionaram e aplicaram suas práticas. O restante dos trabalhos valoriza as teorias e técnicas já existentes dentro da psicologia.

Outro dado relevante refere-se à realização do concurso de provas e títulos. O Conselho Federal de Psicologia tem realizado provas para a concessão do registro de especialista para aqueles psicólogos com mais de dois anos de formação e que já atuam na área. O II Concurso de Provas e Títulos foi realizado em 18 de abril de 2004 e aprovou cinco (5) psicólogos; no III Concurso ocorrido em 10 de setembro de 2006, foi aprovado apenas um (1) candidato (www.pol.org.br).

Esses dados apontam que a consolidação da aprendizagem requer estudos aprofundados da área específica, organização sistematizada das experiências vividas e não apenas o exercício profissional. Neste sentido, cabe retomar o Código de Ética Profissional que aponta a necessidade da atualização profissional e o contato com a produção de conhecimento na área no sentido de promover o aprimoramento das práticas para a prestação de serviço adequada.

Sobre a conduta ética do profissional, segundo levantamento junto ao CRP- SP, não houve registro de processos éticos contra os especialistas em Psicologia do Esporte até fevereiro de 2007 no estado de São Paulo. Este resultado descarta a negligência das ações e suas conseqüências no exercício profissional do psicólogo do esporte e assegura o fortalecimento e reconhecimento social da categoria.

Vale ressaltar que o sistema adotado pelo CRP-SP apresenta problemas em sua sistematização. Isso porque o procedimento para a identificação e organização dos processos éticos no Conselho Regional de Psicologia de São Paulo se faz por temas das denúncias apresentadas, segundo o Jornal de Psicologia (junho/setembro 2005) e não por áreas já reconhecidas na Psicologia como Psicologia do Esporte, Psicologia Hospitalar, Psicologia Clínica, Psicologia Escolar, etc.

Com relação à produção acadêmica apresentada nos eventos científicos o levantamento realizado demonstra que a área da Psicologia do Esporte é vista ainda como área emergente, mas em franca expansão. Vários trabalhos apresentados em congressos apontam que a ausência de disciplina específica e a falta de contato com a área ainda na graduação dificultam e atrasam o contato com o exercício profissional. Segundo um dos trabalhos apresentados Percepção dos alunos do 5º ano de psicologia quanto ao psicólogo do esporte - no I Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão os alunos de 5º ano do curso de Psicologia tiveram pouco ou nenhum contato com a área da Psicologia do Esporte durante sua formação.

Pouco ou nada se sabe, a partir da graduação, sobre a ciência do esporte ou a educação física, e sua interface com a Psicologia do Esporte, condição fundamental e imprescindível para a atuação na área e a construção de conhecimento.

O trabalho do psicólogo do esporte além de abrangente e multifacetado é bastante específico, exigindo uma atitude de constante busca pela formação e informação. Isso porque além do conhecimento necessário para a intervenção junto ao atleta ou equipe esportiva, faz-se necessário o domínio da literatura sobre análise institucional, uma vez que não se pode, na atualidade, compreender as atitudes do atleta descoladas do contexto onde elas são produzidas.

 

Como se estrutura a especialidade no presente momento

Para uma organização das práticas exercidas pelos profissionais da Psicologia do Esporte, se faz necessário o conhecimento das normas que regulamenta a criação das especialidades em Psicologia, conforme resolução CFP nº 014/00.

Segundo o Código de Ética Profissional do Psicólogo (Conselho Federal de Psicologia, 2005), resolução CFP nº 010/05, toda profissão define-se a partir de um corpo de práticas que busca atender demandas sociais e é norteada por elevados padrões técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a adequada relação de cada profissional com seus pares e com a sociedade como um todo. Os avanços legais significam crescimento e desenvolvimento científico da profissão, crescimento dos espaços de atuação, fortalecimento social da profissão, bem como, proteção aos profissionais com e nas suas atuações. Ainda, segundo a resolução CFP nº 010/05, o Código de Ética Profissional, ao estabelecer padrões esperados quanto às práticas referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procura fomentar a auto-reflexão exigida de cada indivíduo acerca da sua práxis. Ele é reflexo da necessidade sentida pela categoria e suas entidades representativas.

Segue abaixo de maneira breve, as normas e resoluções que regulamentam a condição de Especialista em Psicologia.

 

Título profissional de especialista em Psicologia

Segundo o CFP, o título profissional de Especialista em Psicologia é restrito ao campo do exercício profissional do psicólogo. A Resolução CFP nº 014/2000 atualizada pela Resolução CFP nº 002/2001, regulamentou algumas especialidades que se configuraram junto aos psicólogos como mais definidas e consensuais. As definições das especialidades foram baseadas no CBO (Catálogo Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho) e apresentadas às entidades nacionais que representam os profissionais da área, para revisão e reformulação (CRP's). São consideradas especialidades a Psicologia Escolar/Educacional, Psicologia Organizacional e do Trabalho, Psicologia do Trânsito, Psicologia Jurídica, Psicologia do Esporte, Psicologia Clínica, Psicologia Hospitalar, Psicopedagogia, Psicomotricidade, Psicologia Social, Neuropsicologia.

Para obtenção do registro de especialista, o profissional interessado deve reunir e organizar os documentos exigidos e solicitar junto ao Conselho Regional onde está registrado o título profissional mediante a apresentação da documentação necessária. A aprovação da concessão do título profissional de especialista é de responsabilidade das plenárias dos Conselhos Regionais.

 

Procedimentos adotados na Resolução CFP nº 014/2000

Quando aprovada a resolução foram definidos alguns critérios para a obtenção do título de especialista. Naquele momento foram classificadas como situações, descritas a seguir.

Situação 1 - Psicólogo com mais de cinco anos de experiência profissional comprovada por documentos acumulada em uma área de especialidade.

Situação 2 - Psicólogo aprovado em concurso de provas e títulos. Os concursos de provas (exames teóricos e práticos) e títulos (comprovando prática profissional na área por mais de dois anos) realizados pelo CFP, de que tratam o inciso III, do § 1o, do art. 2o e o inciso III do art. 5o da Resolução CFP nº 014/2000, somente foram realizados a partir do ano de 2002.

Situação 3 - Psicólogo que realizou curso de especialização na área.

Segundo os procedimentos adotados na Resolução CFP nº 014/2000 alterada pela Resolução 002/01,no momento presente não há nenhuma especialidade que pode ser obtida através da "Situação 1". A obtenção do título pode se dar pelo concurso de provas e títulos ou pela realização do curso reconhecido de especialização.

Vale ressaltar que o primeiro curso de Especialização em Psicologia do Esporte no Brasil, credenciado pelo CFP por atender as normas exigidas, vem se realizando no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Teve inicio em março de 2002 e já formou até o presente momento 26 alunos. Para que o psicólogo possa obter o título de especialista, após a realização do curso, é preciso entrar com um processo junto ao CRP que analisará o processo e deliberará sobre a concessão.

Este curso está pautado na compreensão do esporte como um fenômeno social, de grande importância para o mundo contemporâneo. Por isso o curso foi criado e desenvolvido para "proporcionar aos psicólogos, educadores físicos e profissionais de áreas afins o conhecimento da Psicologia do Esporte; capacitar os profissionais da área para o desenvolvimento de programas de Psicologia do Esporte junto a instituições esportivas, projetos sociais, instituições de saúde e escolas, a partir de uma perspectiva da Psicologia do Esporte; e, formar um conjunto profissional capaz de produzir conhecimentos e metodologia de pesquisa e intervenção em Psicologia do Esporte, a partir de suas especificidades, observando as interfaces com as áreas envolvidas" - cap. I do art 1º, incisos I, II e III do Regimento do Curso de Especialização em Psicologia do Esporte (Instituto Sedes Sapientiae, 2001).

Conforme apontado anteriormente, são muitos os psicólogos que atuam há anos na área esportiva e esse número tende a crescer ainda mais. No regimento do curso acima apresentado, o papel que o psicólogo deve desempenhar no seu exercício profissional e o compromisso ético envolvido nessa escolha têm se constituído como grandes desafios para a construção e o fortalecimento de uma área que vem se estruturando, principalmente, em nível de pós-graduação.

 

Caracterização da especialidade em Psicologia do Esporte

Conforme a Orientação e resolução da regulamentação da profissão de especialização em Psicologia do Esporte (www.pol.org.br) a atuação do psicólogo do esporte está voltada tanto para o esporte de alto rendimento, ajudando atletas, técnicos e comissões técnicas a fazerem uso de princípios psicológicos para alcançar um nível ótimo de saúde mental, maximizar rendimento e otimizar a performance, quanto para a identificação de princípios e padrões de comportamentos de adultos e crianças participantes de atividades físicas. Estuda, identifica e compreende teorias e técnicas psicológicas que podem ser aplicadas ao contexto do esporte e do exercício físico, tanto em nível individual o atleta ou indivíduo praticante como grupal equipes esportivas ou de praticantes de atividade física. Sua atuação é tanto diagnóstica, desenvolvendo e aplicando instrumentos para determinação de perfil individual e coletivo, capacidade motora e cognitiva voltada para a prática esportiva, quanto interventiva atuando diretamente na transformação de padrões de comportamento que interferem na prática da atividade física regular e/ou competitiva. Realiza estudos e pesquisas individualmente ou em equipe multidisciplinar, observando o contexto da atividade esportiva, competitiva e não competitiva a fim de conhecer elementos do comportamento do atleta, comissão técnica, dirigentes e torcidas; realiza atendimentos individuais ou em grupo, empregando técnicas psicoterápicas adequadas à situação, com o intuito de preparar o desempenho da atividade do ponto de vista psicológico; elabora e participa de programas e estudos de atividades esportivas educacionais, de lazer e de reabilitação, orientando a efetivação do esporte não competitivo de caráter profilático e recreacional, para conseguir o bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos; desenvolve ações para a melhoria planejada e sistemática das capacidades psíquicas individuais voltadas para otimizar o rendimento de atletas de alto rendimento bem como de comissões técnicas e dirigentes; participa, em equipe multidisciplinar, da preparação de estratégias de trabalho com finalidade do aperfeiçoamento e ajustamento do praticante aos objetivos propostos, procedendo ao exame de suas características psicológicas; participa, juntamente com a equipe multidisciplinar, da observação e acompanhamento de atletas e equipes esportivas, visando o estudo das variáveis psicológicas que interferem no desempenho de suas atividades específicas como treinos e competições. Orienta pais ou responsáveis nas questões que se referem a escolha da modalidade esportiva e a conseqüente participação em treinos e competições, bem como o desenvolvimento de uma carreira profissional, e as implicações dessa escolha no ciclo de desenvolvimento da criança. Colabora para a compreensão e transformação das relações de educadores e técnicos com os alunos e atletas no processo de ensino e aprendizagem, e nas relações inter e intrapessoais que ocorrem nos meios esportivos. Colabora para a adesão e participação aos programas de atividades físicas da população em geral ou portadora de necessidades especiais.

 

Considerações finais

Este trabalho levantou alguns dados para uma reflexão sobre as práticas psicológicas junto ao campo esportivo, seguindo um modelo introduzido na década de 1950 que serviu até os dias atuais como base para uma área definida como Psicologia do Esporte.

O esporte no Brasil apresenta um franco e constante crescimento, tanto como prática competitiva, como atividade física e de lazer. No campo competitivo, muito embora os atletas superem cada vez mais seus limites e alcancem patamares elogiáveis no cenário internacional, nem sempre eles contam com a estrutura institucional eficaz o suficiente para um desenvolvimento ainda maior. Nas atividades físicas e de lazer o desejo de superação dos próprios limites e de novas formas de excitação levam a população a buscar a compreensão dessa busca ilimitada. Esse estado de coisas leva a uma ampliação da demanda do serviço do psicólogo do esporte. Neste processo de crescimento a psicologia está sendo reconhecida cada vez mais como responsável, ativa e comprometida com o bem estar e a saúde mental de todos aqueles que compõe de uma maneira ou outra o meio esportivo.

A exigência por profissionais cada vez mais qualificados é grande e necessária, entretanto, a formação de novos profissionais tem demandado esforço e não tem alcançado, ainda os patamares necessários. Por outro lado, aqueles psicólogos que já estão atuando no mercado de trabalho têm exercido um importante papel, na medida que têm cada vez mais organizado e sistematizado sua prática, tornando-a pública, passível de avaliação e crítica, o que tem gerado o incremento da produção acadêmica em Psicologia do Esporte.

Após essa pesquisa foi possível encontrar um número ainda pequeno de profissionais comprometidos a dizerem exatamente o que fazem, como fazem e por que escolheram esse caminho. Por outro lado, verifica-se um aumento gradativo de publicações sobre a Psicologia do Esporte.

Os profissionais da psicologia, que atuam no esporte sem a qualificação necessária seguem ainda o caminho da psicologia aplicada ao esporte, assim como foi o trabalho do pioneiro João Carvalhaes.

A condição de especialista em Psicologia do Esporte foi possível a partir do ano de 2000 e o título de especialista é uma referência sobre a maior dedicação e qualificação do profissional, não sendo condição obrigatória para o exercício profissional do psicólogo.

É dentro da própria história da Psicologia do Esporte que se encontram os caminhos para a compreensão desse complexo processo que envolve não apenas o reconhecimento da profissão, mas também sua estrutura de organização e a construção de um escopo teórico que fundamenta o exercício profissional.

 

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Endereço para correspondência
E-mail: monicafreires@terra.com.br

 

 

Sobre a autora

Psicóloga, especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae" São Paulo.

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