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Psicologia em Pesquisa

On-line version ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. vol.4 no.2 Juiz de Fora Dec. 2010

 

ARTIGOS

 

Produção Científica na Área Educacional: Realização Acadêmica na Adolescência

 

Scientific Production on Educational Area: Academic Realization in Adolescence

 

 

Geraldina Porto WitterI; Giovana Ardoino PaschoalII

I Unicastelo
II Universidade de Mogi das Cruzes

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente trabalho apresenta considerações sobre pesquisas educacionais em seus vários aspectos. Como exemplo, apresenta alguns resultados sobre a realização acadêmica na adolescência, decorrentes de levantamento de dados em quatro bases: CAPES, ERIC, PsycINFO e SciELO. Referente às teses e dissertações, a base PsycINFO apresentou maior número com 38 trabalhos. Quanto aos suportes veiculadores, predominaram os artigos de periódicos, sendo que destes, 48,94% no ERIC eram teóricos e na SciELO e no PsycINFO predominaram os relatos de pesquisas, respectivamente, 92,59% e 67,50%. Foram localizadas 204 referências no PsycINFO, 19 no ERIC e nenhuma ocorrência na SciELO. Conclui-se haver carência de pesquisas na área e são feitas sugestões para pesquisa.

Palavras-chaves: Pesquisa educacional; desempenho acadêmico; Psicologia Educacional.


ABSTRACT

This paper presents considerations on educational research in its various aspects. As an example, the study presents some results on the academic achievement in adolescence, which were derived from data collection at four bases: CAPES, ERIC, PsycINFO and SciELO. Regarding theses and dissertations, the base PsycINFO showed the largest number with 38 works. As for the media backers, journal articles predominated, and of these, 48.94% were theoretical; in ERIC and PsycINFO in SciELO, research reports were predominant, respectively, 92.59% and 67.50%. We found 204 references on adolescents'academic performance in PsycINFO; in ERIC 19, and no occurrence in SciELO. We came to the conclusion that there was a lack of research in the area. Suggestions for research are presented.

Keywords: Educational research; academic performance; Educational Psychology.


 

 

Quer por seu custo financeiro e em recursos humanos, quer pelo impacto que tem na sociedade, quer ainda pelas próprias características do saber científico e pela ética científica, é imprescindível a avaliação da produção científica. Ocasionalmente, esta preocupação está presente em trabalhos esparsos, mas é só nos anos sessenta do século XX que ela se sistematiza, se avoluma, se estrutura, se desenvolve metodologicamente. Partindo das revisões assistemáticas ou dos estudos de estado da arte, carentes de cuidados metodológicos rigorosos, chegou-se à estruturação de uma nova área do conhecimento. Trata-se da cientometria ou cienciometria, como usam alguns, embora no português, obedecendo às regras da etimologia e da incorporação de vocábulos novos, seja preferível cientometria (Stumf, Caregnato, Vanti, Vanz, Corrêa, Crespo, Galdino & Gomes, 2006).

Hoje, a avaliação da produção científica é empregada nas várias áreas do conhecimento e tem condições de subsidiar a tomada de decisão sobre o que pesquisar, a definição de prioridades e políticas científicas, o desenvolvimento científico e tecnológico; bem como servir de base para comparação de países, estados, regiões, áreas do conhecimento, periódicos científicos e mesmo produtores (Mugnaini, Carvalho & Campanatti-Ostiz, 2006). Vale lembrar que tanto as revistas científicas como as de divulgação científica precisam ser avaliadas em estudos de metaciência. As primeiras, para verificar aspectos técnico-científicos e se realmente estão veiculando evidências confiáveis, e as segundas porque são as que mais chegam e cujas informações mais facilmente são assimiladas pelos professores, já que, em muitos países, inclusive no Brasil, a formação em metodologia científica é precária. Além disso, é comum confundir os dois tipos de revista e há leitura acrítica de ambas, especialmente por falta de uma adequada formação em ciência e em estratégias para ler criticamente (Afflerbach, 2007; Fink & Samuels, 2007; Ellery, 2009; Athans & Devine, 2010).

A produção científica compreende uma ampla série de categorias e sub-categorias envolvendo materiais, procedimentos e textos, mas o principal meio de divulgação são os últimos, direcionados ao público consumidor geral ou aos próprios cientistas. Estes são os que mais frequentemente são focados nos trabalhos de metaciência possivelmente por constituírem o principal meio na comunicação entre cientistas, e entre eles e a sociedade. Ao focarem a produção, os trabalhos de cientometria privilegiam a análise da produção textual, seja pela razão acima citada, seja pela facilidade de avaliação, de uso de juízes diversos e pela maioria ter caráter público.

Há vários tipos de produção textual e estão disponíveis na forma impressa, online ou concomitantemente nas duas formas. Muitas revistas científicas e mesmo livros estão sendo disponibilizados aos leitores impressos em papel e via Internet. Certamente isto facilitou não apenas a consulta, mas também a realização de pesquisas. Bases bibliográficas como Education Resources Information Center (ERIC), do governo dos Estados Unidos, e a PsycNET e PsycINFO, da American Psychological Association, são fontes internacionais imprescindíveis para se acompanhar o desenvolvimento da pesquisa educacional, e inclui-se também uma base nacional mais jovem que é a SCIELO, com apoio de agências governamentais brasileiras. Vale lembrar que associações que enfocam várias áreas específicas da educação também oferecem bases bibliográficas de grande utilidade para pesquisadores e educadores. São exemplos: o National Council of Teachers of Mathematics, a National Science Teachers Association e a International Reading Association. Função similar é desempenhada pelos bancos de teses impressos em papel (International Dissertation Abstracts) ou online (Banco de Teses da CAPES).

A análise da produção veiculada por um periódico permite avaliar múltiplos aspectos, checar o seu nível de desenvolvimento como meio de difusão científica e até mesmo fazer comparações entre periódicos. Instrumentos para facilitar análises mais detalhadas já estão disponíveis na literatura (Buriti, 1999; Lima, 1999; Oliveira, 1999; Oliveira, Cantalice, Joly & Santos, 2006; Witter, 2006; Borenstein, Hedges, Higgins & Rothstein, 2009).

A análise cientométrica tem privilegiado os estudos dos periódicos e das bases bibliográficas, independentemente da área de conhecimento. Isto se justifica pelo relevante papel que ocupam na estruturação da ciência e da sua divulgação. O mesmo tende a ocorrer na área da Educação. A maior ocorrência do uso de revistas científicas para veicular informação foi também encontrada por Camilo e Witter (2007), ao analisarem a produção veiculada no PsycINFO (2003 a 2006) sobre o brincar na pré-escola, tendo obtido 883 referências sendo 78,03% relativas a artigos em periódicos.

Em todas as áreas, independente do patamar de desenvolvimento já alcançado, a maior preocupação é com a avaliação das pesquisas, já que são a essência do conhecimento e de onde emergem evidências que comprovam, validam, rejeitam ou colocam em dúvida proposições teóricas que, usadas generalizadamente, sem o devido respaldo em dados científicos, podem ser consideradas de risco e mesmo antiéticas, podendo resultar em grande prejuízo para a formação e desenvolvimento de alunos, professores e sistemas educacionais. Isto posto, pode-se passar a considerar mais especificamente a preocupação com a pesquisa educacional (Buriti, Witter & Witter, 2007; Witter, 2010).

Entre os avanços na área da metaciência estão os decorrentes de várias opções novas para procedimentos de seleção de material e tratamento dos dados que, espera-se, sejam progressivamente incorporados pelos pesquisadores que se dedicam à avaliação da ciência (Bonett, 2009; Cooper & Patall, 2009; Hofer & Piccinin, 2009).

A meta-análise de produção textual pode associar a coleta de dados com a adequação de sua análise estatística e de outras análises de textos publicados. Um exemplo é o trabalho de DeCoster, Iselin e Gallucci (2009), que enfocaram o uso de dicotomização nos procedimentos estatísticos de variáveis que originalmente são contínuas, passando a ser variáveis categóricas. Ex: usar teste de medida contínua (aprendizagem de Física) e estabelecer ponto de corte ou comparar apenas os extremos da curva, o que introduz viés. Todavia, a despeito das críticas metodológicas, é ainda uma prática comum. Os autores relacionaram dados de entrevistas com 66 pesquisadores que usam a dicotomização com a opinião de outros 53 autores para identificar nos textos quando era adequado ou não fazer a dicotomização. Os que usaram o procedimento consideraram que assim obtem resultados mais discriminativos. Os que avaliaram a produção apresentaram outra perspectiva, embora as justificativas sempre levem em consideração a simulação Monte Carlo. A análise mantendo o contínuo, quando a variável é realmente contínua, é superior na maioria das vezes, mas se for uma variável que latentemente é de fato categórica é melhor a dicotomização. Todavia, para a análise da produção com dicotomização, há procedimentos alternativos. Trata-se de uma metaciência em que enfocaram um problema específico da análise de dados usados pelos diversos autores e que pedem reconsideração da questão em vários níveis: do planejamento à avaliação da produção e seu uso.

 

Pesquisa Educacional

Pesquisa educacional é a que traz informações sobre a realidade educacional ou com potencial para a introdução de mudanças para reduzir problemas e ineficiências, que promovem avanços e melhorias. Sua amplitude vai da pesquisa de laboratório, com poucos participantes, até a inclusão de sistemas educacionais. Écampo de atividade para várias áreas do conhecimento, por exemplo Pedagogia, Linguística, Sociologia, Antropologia, Psicologia, que buscam hoje maior interação.

Elas podem ser classificadas, como em qualquer área do conhecimento, no que concerne a controle, profundidade, generalização e aplicabilidade com segurança. Assim, podem ser aglutinadas em dois grupos: Descritivas e Inferenciais.

As pesquisas Descritivas apresentam o aspecto estudado em sua exterioridade sendo divididas em dois subgrupos: pesquisas de levantamento ou caracterização e pesquisas correlacionais, quando já é viável estabelecer algumas relações mais simples entre as variáveis que podem estar presentes na realidade e nela ter uma potencial influência, mas sem maior segurança quanto às relações de causa-efeito de uma variável determinar o valor de outra.

As pesquisas Inferenciais são mais complexas, requerem mais capacitação do pesquisador, mas garantem maior controle, conhecimento, generalização e uso dentro de uma dada margem de segurança. Podem ser divididas em dois subgrupos: quase-experimentais e experimentais. Nas experimentais, o pesquisador manipula variáveis ao longo do processo de coleta para medir o efeito das mesmas. Na quase-experimental, o pesquisador colhe os dados como estão ocorrendo na realidade educacional, os organiza de acordo com variáveis já presentes na situação e faz comparações estatísticas ou matemáticas entre grupos em que elas estão e não estão presentes (Drew & Hardman, 1985; Siegel & Castellan Jr, 1988; Campos, 2004; Pozzebon, 2004; Bianchetti & Mekesenas, 2008).

Além do já explicitado, as pesquisas educacionais são feitas com objetivos diversos e que se espera tenham impacto no sistema educacional formal e nas salas de aula. Entretanto, em decorrência de diversas variáveis, nem sempre isto ocorre. Entre estas variáveis, algumas são atribuíveis à demora cultural de assimilação do novo no contexto cultural, outras do próprio professor (formação, atualização, motivação etc), do próprio sistema, que nem sempre tem a flexibilidade, com que a atualização científica deveria ser usada nas tomadas de decisões mais amplas, como para as políticas educacionais e uso em realidades distintas.

Mas há também atrasos e erros, até mesmo éticos, decorrentes de uso de resultados de pesquisa que não são evidências científicas de variáveis relevantes e que são considerados como "verdades" e, precipitadamente, ou por força política, impostas como único caminho, ignorando-se as diferenças individuais e mesmo regionais. Faz-se o uso das "verdades", às vezes por décadas, prejudicando alunos, professores e o sistema como um todo sem sequer se ter tomado conhecimento da margem de erro em suas aplicações ou realizado pesquisas experimentais de avaliação. Aliás, em muitos trabalhos apresentados como pesquisa que trazem "verdades", não há qualquer preocupação com este aspecto ético do discurso científico e, muitas vezes, atua-se como se todos os alunos fossem iguais e aprendessem de acordo com o previsto em uma única teoria, sem dados para sustentação (Baines & Kunkel, 2010).

Face à relevância e o papel que a pesquisa educacional deve ter na formação da pessoa e do cidadão, seria de se esperar que ela contasse com mais verbas, fosse uma tradição na realidade de cada classe, escola e sistema. Mais ainda, que se privilegiassem as pesquisas que apresentam evidências, ou seja, as experimentais e quase experimentais, pois viabilizam generalização e segurança no uso dos resultados com margem de erro conhecida, e se possível, dentro de um novo contexto de pesquisa. Entretanto, não é o que parece ocorrer na grande maioria dos países em que a ciência não alcançou na pesquisa educacional este nível de exigência nas agências governamentais e de fomento. Certamente, neste contexto, torna-se imprescindível a avaliação da produção decorrente das pesquisas educacionais.

 

Metaciência e Pesquisas Educacionais

Os estudos de metaciência a respeito de pesquisas educacionais podem focalizar vários aspectos, tais como: tipo de trabalho, enfoque teórico, autoria, tipologia da pesquisa, tipo de análise de dados, análise das evidências (só quando se trata de estudo experimentais ou quase experimentais), bibliografia, título, resumo, estrutura discursiva, normas, instrumentos e materiais usados na coleta, distorções e erros de análise etc.

Sem pretensão de fazer um relato de pesquisa, segue um exemplo mais específico de tema de grande preocupação na área educacional, que é a realização acadêmica, ou seja, do que, do como e em que nível os alunos conseguem assimilar e usar o que se espera que adquiram de conhecimento em um dado ponto do ciclo acadêmico, no geral ou em uma matéria específica. Para estreitar mais a busca, estabeleceu-se como foco que os participantes fossem adolescentes.

No contexto da presente análise, entendeu-se por realização educacional o nível de desenvolvimento e desempenho alcançado pelo aluno, o grau de proficiência demonstrado no trabalho escolar em geral ou específico, alcançado de um modo geral ou em uma habilidade específica como leitura/escrita, ciências, matemática, arte etc., sendo usada a expressão desempenho acadêmico, ou seja, com que eficiência executa as atividades acadêmicas, como equivalente (Houaiss, Villar & Franco, 2001; VandenBos, 2006).

No APA Dictionary of Psychology (VandenBos, 2006, p. 21) a adolescência é definida como o:

período do desenvolvimento humano que começa com a puberdade (10-12 anos de idade) e finda com a maturidade psicofisiológica (aproximadamente aos 19 anos de idade), embora a amplitude exata varie entre os indivíduos. Durante este período as maiores mudanças ocorrem, em ritmos variados, nas características sexuais, imagem corporal, interesses sexuais, papéis sociais, desenvolvimento intelectual e autoconceito.

O presente levantamento foi feito pelas autoras tendo por objetivo conhecer o tipo de suporte das publicações e variáveis que estão sendo enfocadas em realização acadêmica envolvendo os adolescentes.

 

Método

A despeito da relevância do desempenho acadêmico, a produção científica sobre a matéria, não é muito frequente. Em busca feita, tendo por vocábulos realização acadêmica e adolescência em associação, na base SciELO (4/5/2010) não foi localizada nenhuma referência específica da relação enfocada. A mesma busca realizada no PsycINFO (4/5/2010) resultou em 204 referências, mas só 15 textos com acesso livre. A mesma busca feita na principal base de educação - ERIC (3/5/2010) resultou em 19 indicações bibliográficas, mas só cinco de livre acesso. Vale lembrar um problema com que muitos pesquisadores e cientometristas frequentemente se deparam nas buscas feitas: uso inadequado de palavras-chave e não consulta a Thesaurus para decisão.

 

Resultados

Primeiramente, levantou-se a produção sobre pesquisas educacionais em nível de dissertações e teses em três bases: CAPES, ERIC e PsycINFO. Como na CAPES só estavam disponíveis as produções até o ano de 2009, optou-se por focar este ano, embora nas outras bases 2010 já estivesse em curso. A Tabela 1 mostra que na CAPES foram localizados 17 trabalhos (dissertação e tese), um na base ERIC e 38 no PsycINFO. Comparando as duas bases internacionais, verificou-se que a produção constante na área de cunho psicológico foi muito maior que na de Educação propriamente dita.

 

Tabela 1 - Dissertações/Teses em Pesquisa Educacional em Bases Bibliográficas

 

Os resultados expressos na Tabela 2 mostram o tipo de suporte dos textos, sendo que nas três bases predominam os artigos de periódicos, o que é esperado já que os mesmos são considerados o principal meio de comunicação científica. Vale lembrar que a SciELO, diferentemente das outras bases, se restringe a textos de revistas. Em seguida, aparecem Outros, que inclui uma ampla variedade de materiais (descrição de materiais, resenhas, relatórios técnicos). Como era de se esperar, já que está totalmente voltada para a Educação, em ERIC ocorreu o maior número de trabalhos, vindo a seguir a base de Psicologia, onde a pesquisa educacional é apenas um segmento entre os mais de 250 ramos do conhecimento psicológico. A presença de livros foi baixa, possivelmente porque poucas editoras remetem a produção para as bases que os veiculam também.

Analisando mais detalhadamente as publicações em periódicos, constatou-se predomínio de trabalhos teóricos, de reflexão, no ERIC (48,94%), enquanto que na SciELO e no PsycINFO foram prevalecentes os artigos relatando pesquisas, com maior potencial de contribuição para o conhecimento da realidade e os avanços educacionais que se fazem necessários, sendo, respectivamente, de 92,59% e 67,50%. Vale lembrar que a SciELO inclui todas as áreas de conhecimento, algumas voltadas para a Educação. A base PsycINFO é mais amigável e permite rápido levantamento quanto ao tipo de pesquisa, sendo de se destacar o predomínio de estudos quantitativos (77,80%) e apenas um de avaliação de produção (3,70%). Estes dados permitem uma perspectiva geral da posição da pesquisa na produção sobre Educação. Evidentemente, exceto para análise específica do apresentado em cada base, para se manter atualizado e saber sobre educação é imprescindível consultar mais de uma base, sendo mais provável encontrar evidências em algumas do que em outras. Vale lembrar que são consideradas como pesquisas, que podem realmente trazer evidências e relações causais, as quase-experimentais e experimentais com análise quantitativa. Quando se compara estes dados com os de Ferrara e Witter (2007), que estudaram os trabalhos sobre formação e atuação do psicólogo que apareceram na Psicologia Ciência e Profissão (2000-2004), consta-se uma situação com tendência melhor nos dados aqui relatados, já que as referidas autoras encontraram 64% (N=55) de trabalhos teóricos e entre as pesquisas predominaram as descritivas (levantamento) com 22% da produção e as inferenciais ficaram com apenas 11%.

Quanto mais avançada é a área, maior a ocorrência de trabalhos de pesquisa, especialmente se forem quase-experimentais e experimentais. Ao analisarem os dados da CAPES sobre produção científica concernente à memória, Christofi e Witter (2007) constataram, entre 2000 e 2004, quadro bem mais favorável ao aqui relatado: em 142 trabalhos só 4,22% eram teóricos, os demais eram pesquisas, sendo predominante a experimental (74,65%). As áreas que mais apareceram foram: Biológicas (18,3%), Psicologia (16,9%), Psicobiologia e Farmacologia, ambas com 11,3%. Educação incluiu apenas 2 trabalhos na base. Isto parece refletir características e nível de desenvolvimento diferenciados nas áreas.

 

Tabela 2 - Pesquisa Educacional nas Bases Bibliográficas

 

De fato, isto se relaciona com a contingência de que entre os aspectos considerados em metaciência estão as citações ou referências que diferem entre as várias áreas científicas, não apenas no formato, tipo de suporte e temporalidade, o que dificulta a comparação respeitando as características de área. Fórmulas novas estão sendo propostas para comparações (Liang & Rousseau, 2010) de periódicos. Assim, na área de humanas, citação de periódicos se faz com menor ocorrência do que nas áreas da saúde e biossociais. As diferenças entre as áreas podem também se tornar evidentes entre bases mais voltadas para ciências como a Psicologia, ou seja, PsycINFO e as ciências sociais (ERIC). Isto sugere a necessidade de estudos comparativos entre bases da mesma área e bases gerais como SciELO, Web of Science, entre outras possibilidades, conforme Norris e Oppenhein (2007) sugeriram e testaram em alguns aspectos. As bases podem estar refletindo o habitual nas áreas.

É apresentada aqui como ilustração uma breve análise temática do encontrado nas bases: PsycINFO e ERIC. Os dados são um indicativo de que variáveis que possivelmente afetam a realização acadêmica do adolescente estão sendo focadas pelos pesquisadores. Vale lembrar que frequentemente são destacadas duas ou mais variáveis em cada trabalho. Assim, a média de variáveis enfocadas pelos trabalhos arrolados na base ERIC foi 1,7 e na PsycINFO foi 2,0, conforme é apresentado na Tabela 3.

 

Tabela 3 - Variáveis estudadas por possível efeito na Realização Acadêmica

 

Verificou-se que as variáveis do próprio adolescente, entre estas gênero, problemas biopsicológicos, problemas psicossociais, características biopsicossociais, características relativas à escola e autoavaliação, foram as mais trabalhadas nos estudos das duas bases, sendo de 84,2% no ERIC e 80,9% na outra base, com destaque para as características biopsicossociais, respectivamente 36,8% e 31,4%. Entretanto, o total de problemas também parece ser o foco de muitos pesquisadores. Estes dados podem ser indício de uma perspectiva demasiado clínica e patologizante, sem considerar ou ter o quadro completo e real da adolescência. Também é indício de focar os problemas no aluno, sem a devida consideração por demais variáveis, inclusive da própria instituição educacional (Santrock, 2006; Savage, 2009).

Na base ERIC, em segundo lugar ficaram as pessoas que influem no desempenho acadêmico dos jovens (63,1% dos estudos), sendo os pais os mais enfocados (21,0%), vindo a seguir os amigos, colegas e professores com igual percentual (15,8%) e, por último, a família de um modo genérico (10,0%). Isto pode ser um reflexo da crescente ocorrência de evidências da importância da ação dos pais no desempenho acadêmico da pré-escola até a universidade, principalmente, em termos de obter resultados positivos mesmo com alunos com dificuldades de aprendizagem (Del Prette & Del Prette, 2003; Gourley, 2009). No PsycINFO esta categoria ficou em 4º lugar, com 24,50%.

Na base que privilegia a educação (ERIC), em terceiro lugar ficaram os trabalhos enfocando variáveis acadêmicas (10,0%), entre as quais estão meios de ensino, clima/ambiente acadêmico, intervenções, estratégias de ensino, currículo e disciplinas acadêmicas, sendo que uma ocorrência para meios de ensino e outra para currículo. Na base de cunho psicológico (PsycINFO), que inclui Psicologia Escolar e Educacional, esta categoria ficou também em terceiro lugar (41,7%), destacando-se principalmente os estudos que enfocam o que influi na realização nas disciplinas acadêmicas (leitura, escrita, matemática) com 16,7% como apoio e estímulo dos pais e família, influência de colegas e mesmo Clima/Ambiente Acadêmico (9,3%) que pode ser estressante ou distressante para o aluno e, assim por diante, mostrando mais preocupação com a sala de aula.

No Contexto Geral, que engloba classe/contexto social, suporte social, étnico-culturais, cultura (uso), modelos culturais, trabalho/emprego, violência/agressão e religião, foi registrado um trabalho na base ERIC (5,3%) e na PsycINFO ficou em segundo (47,0%), destacando-se a categoria étnico-cultural (19,1%), que gera aspectos peculiares, especialmente, em salas multiculturais que requerem atenção diversificada por parte dos professores, bem como uso de estratégias e materiais de ensino que respeitem as diversidades dos alunos, caso contrário se tem sérios prejuízos para os mesmos no processo de ensino-aprendizagem, no clima educacional, na geração de estresse, na desmotivação e na socialização. Seguem os estudos da classe como um contexto social (6,9%) e os de violência/agressão (6,4%), problema que vem crescendo no âmbito das escolas e que podem, em parte, estar refletindo a violência fora da escola (família, sociedade, meios de comunicação) ou da própria escola (métodos e materiais inadequados) ou, ainda, estresse, injustiça tanto fora como na escola.

Alguns estudos emergiram nas bases, mas não diziam respeito a adolescentes, eram trabalhos com crianças em que eram feitas considerações, sem dados, dos possíveis efeitos no futuro delas quando alcançassem a adolescência (5,3% na ERIC e 3,4% na PsycINFO).

Feita a correlação entre a posição relativa das categorias nas duas bases obteve-se rs=0,40 para rc=1,00 (gl=4, p<0,05), ou seja, pode-se concluir que nas duas bases não houve correlação quanto aos temas inseridos (Siegel & Castellan Jr, 1988, Moren, 1995). A inclusão em PsycINFO foi mais abrangente e variada no que diz respeito à relação adolescência e realização acadêmica, apresentando uma perspectiva mais ampla do que está sendo pesquisado. Isto pode decorrer, em parte, do tipo e origem dos periódicos indexados nas bases e do nível das revistas. Também, vale lembrar o problema de uso, sem consultar aos Thesaurus, de palavras-chave, que pode resultar em dificuldades de acesso via base, por problemas de inclusão dos textos, como já se mencionou.

 

Considerações Finais

Dada a importância da pesquisa na área educacional, da avaliação da produção científica e dos estudos de metaciência para se ter um quadro geral do que, como e quanto se tem pesquisado de determinado assunto, sobretudo na área da educação, observa-se haver uma carência de profissionais dedicados a este aspecto da ciência, o que atesta o baixo número de estudos encontrados nos levantamentos nas bases pesquisadas no presente trabalho.

Este tipo de estudo, que pode ser realizado nas mais diversas áreas do conhecimento, produz dados científicos confiáveis e generalizáveis, entretanto parece ser pouco valorizado e até mesmo pouco divulgado e incentivado. Ainda em relação aos trabalhos que se encontram na área, é preciso considerar se atendem aos aspectos éticos e de rigor científico adequada e suficientemente, o que pede uma análise específica que fica aqui como sugestão (Witter, 2010).

Em relação ao levantamento de trabalhos sobre realização acadêmica de adolescentes, na base nacional não se obteve nenhum resultado na busca com os termos específicos, o que remete a algumas questões importantes. Que importância o pesquisador brasileiro tem dado a esta parcela da população? A realização acadêmica, que é frequentemente cobrada dos alunos, tem sido adequadamente cuidada e avaliada pelos profissionais da educação? Ou estará havendo problema nas pistas de indexação fornecidas nos títulos e palavras-chave?

Visto que grande parte da vida acadêmica se desenvolve concomitante com a adolescência, e que esta tem sido pouco pesquisada, conclui-se a necessidade do pesquisador brasileiro se dedicar mais a este aspecto da educação e a esta faixa etária, resultando em benefícios não só para os sujeitos, mas também para a educação no país de forma geral.

Certamente, como governos de vários países e sociedades científicas internacionais estão fazendo, é necessário produzir mais pesquisas educacionais que tragam evidências e capacitar pesquisadores e docentes para esta atuação, caso contrário produzem-se alterações com base em opinião e até bom senso, mas sem suporte científico que lhe garanta validade e segurança.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência:
Geraldina Porto Witter
Av. Pedroso de Morais, 144/302 - Pinheiros
CEP 05420-000 - São Paulo/SP
E-mail: gwitter@uol.com.br

Recebido em Junho de 2010
Revisto em Setembro de 2010
Aceito em Outubro de 2010

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