SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.15 número3Grupos reflexivos sobre a conduta no trânsito no âmbito das alternativas penais índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

Compartir


Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versión On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.15 no.3 Belo Horizonte  2022  Epub 20-Ene-2025

https://doi.org/10.36298/gerais202215e18231 

Artigo

Tríade sombria e forças de caráter: Relações e diferenças em função de variáveis sociodemográficas

Dark Triad and Character Strengths: Relationships and Differences According to Sociodemographic Variables

Bruno Bonfá-Araujo1 
http://orcid.org/0000-0003-0702-9992

Leonardo de Oliveira Barros2 
http://orcid.org/0000-0002-8406-0515

Ana Paula Porto Noronha3 
http://orcid.org/0000-0002-0396-7693

1University of Western Ontario, London Canadá. E-mail: brunobonffa@outlook.com

2Universidade Federal da Bahia, Salvador Brasil. E-mail: leonardobarros_lob@hotmail.com

3Universidade São Francisco, Itatiba Brasil. E-mail: ana.noronha8@gmail.com


Resumo

O objetivo desta pesquisa de cunho exploratório foi verificar as relações entre a Tríade Sombria da personalidade e forças de caráter, bem como diferenças em função de variáveis sociodemográficas. Participaram 237 adultos brasileiros, com idade média de 27,83 anos, sendo 69,2% do sexo feminino que responderam à Short Dark Triad e à Escala de Forças de Caráter. Os resultados indicaram correlações negativas estatisticamente significativas entre maquiavelismo com perseverança e perdão, psicopatia com perdão e modéstia e, positivamente, entre narcisismo e inteligência social, todas com magnitude fraca. Além disso, notou-se maior desenvolvimento das forças de caráter em pessoas com maior escolaridade e maiores níveis de tríade sombria em homens e pessoas com menor escolaridade. As relações encontradas entre a Tríade Sombria e as forças de caráter indicam que os construtos não são antagônicos, mas que possuem relações fracas. Desse modo, intervir apenas para o desenvolvimento das forças não se mostra como uma estratégia adequada para diminuir comportamentos indesejáveis.

Palavras-chave Maquiavelismo; Narcisismo; Personalidade; Psicopatia

Abstract

This exploratory research aimed to verify the relationship between the Dark Triad of personality and character strengths, as well as differences in sociodemographic variables. The study sample was composed of 237 Brazilian adults with a mean age of 27.83 years, 69.2% of whom were female, who answered the Short Dark Triad and Character Strength Scale. The results indicated statistically significant negative correlations of Machiavellianism with perseverance and forgiveness and of psychopathy with forgiveness and modesty, and a positive correlation of narcissism with social intelligence, all with a weak magnitude. In addition, there was a greater development of character strengths in people with higher education, and higher levels of Dark Triad were observed in men and people with less schooling. The relationships found between the Dark Triad and character strengths indicate that the constructs are not antagonistic, but have weak associations. Thus, intervening only for the development of strengths is not an appropriate strategy to reduce undesirable behaviors.

Keywords Machiavellianism; Narcissism; Personality; Psychopathy

A personalidade tem sido compreendida como um construto dimensional, caracterizada por traços, dos quais aqueles extremos são considerados socialmente aversivos (Paulhus & Williams, 2002). É nesse ensejo que se insere a Tríade Sombria da Personalidade (Dark Triad of Personality), assim nomeada por Paulhus e Williams (2002), como um dos modelos teóricos mais proeminentes, cujas dimensões que a compõe são maquiavelismo, narcisismo e psicopatia (Koehn, Okan, & Jonason, 2018). Os três compartilham características comuns, como a frieza emocional, a manipulação e o autointeresse (Marcus, Preszler, & Zeigler-Hill, 2018; Muris, Merckelbach, Otgaar, & Meijer, 2017).

Em que pese o fato de que determinadas características são comuns, cada construto apresenta suas especificidades. Maquiavelismo está associado a comportamentos manipulativos, atitudes estratégicas em benefício próprio e baixa preocupação com conceitos de moralidade. Narcisismo, ou narcisismo subclínico, refere-se a comportamentos como senso de grandiosidade, autointeresse e egoísmo. Psicopatia, por sua vez, compreende comportamentos como falta de remorso, atitudes antissociais, baixa empatia e impulsividade (Koehn et al., 2018; Muris et al., 2017). Esses atributos, coletivamente, podem ser entendidos como disposições mal-adaptativas de indivíduos ao se comportarem em sociedade.

Usualmente, as dimensões da Tríade Sombria são pesquisadas por meio da relação com construtos socialmente indesejáveis, como destacado por Koehn et al. (2018). Tais características são buscadas em indivíduos que apresentam altos níveis de agressividade (Jonason & Webster, 2010), cyberbullying (March, Grieve, Marrington, & Jonason, 2017), autoritarismo (Hodson & Dhont, 2015), entre outras variáveis. Nessa mesma linha de compreensão da personalidade, a tríade é mais bem explicada como a baixa apresentação de honestidade-humildade, quando mensurado pela HEXACO (Ashton & Lee, 2007), e baixa presença de amabilidade e conscienciosidade pelo modelo dos cinco grandes fatores (Costa, McCrae, & Dye, 1991), e a presença de desonestidade e falta de modéstia (Furnham, Richards, & Paulhus, 2013; Koehn et al., 2018). Por conseguinte, altos escores na Tríade Sombria tendem a ser mais associados à liderança tóxica e chefes ruins no ambiente de trabalho; estudantes que trapaceiam e fazem plágio no ambiente escolar; engajamento em relacionamentos casuais e sexuais evasivos; e maior nível de preconceito, cinismo e periculosidade nas relações interpessoais (Furnham et al., 2013).

Em contrapartida, uma associação pouco investigada, é aquela na qual características positivas contrastem com a rede nomológica da Tríade Sombria, o que afirma a relevância do presente estudo (Kaufman, Yaden, Hyde, & Tsukayama, 2019). Nesse particular, a pesquisa de Jonason e Tome (2018) objetivou compreender relações entre esses traços sombrios e atributos positivos. Expectativa de felicidade (i.e., quais características representam felicidade para o indivíduo, como assuntos familiares, novas amizades, status/poder, entre outros), por exemplo, gerou coeficientes de correlações de magnitude moderada com os três traços, sendo merecimento de status/poder com maquiavelismo (r = 0,32; p < 0,001), com narcisismo (r = 0,33; p < 0,001), indicando que pessoas com características de maquiavelismo e narcisismo tendem a compreender felicidade como status e poder; e preocupações familiares com psicopatia (r = −0,35; p < 0,001), indicando que pessoas com maiores níveis de psicopatia tendem a preocupar-se menos com o bem-estar de seus familiares.

No entanto, há de se ressaltar que não há consenso na literatura sobre quais forças de caráter estão presentes em indivíduos com altos escores na Tríade Sombria da Personalidade. Sob essa mesma perspectiva, no estudo de Kaufman et al. (2019), a Tríade Sombria foi negativamente correlacionada com satisfação de vida, conscienciosidade, amabilidade, compaixão, empatia e crença na bondade. Maquiavelismo e psicopatia apresentaram coeficientes moderados com os elementos da Tríade Luminosa da Personalidade, que são características de personalidade socialmente desejáveis, compreendidas a partir de três fatores: Kantianismo (i.e., tratar as pessoas como um fim em si mesmas – sem esperar algo em troca); humanismo (i.e., compreender indivíduos a partir de seus valores e dignidades); e fé na humanidade (i.e., crenças na bondade da espécie humana).

Forças de caráter são características positivas que promovem o bem-estar e desenvolvimento pleno dos indivíduos (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000). As características são consideradas traços individuais, que se manifestam por meio de pensamentos, sentimentos e ações (Noronha & Campos, 2018; Seibel, DeSousa, & Koller, 2015). Peterson e Park (2009) defenderam que as forças se constituem como um conjunto de traços de personalidade desejáveis e presente em pessoas que são admiradas por suas características benevolentes. Sob o ponto de vista desenvolvimentista, as forças teriam seu início com as primeiras experiências infantis e vão sendo refinadas ao longo de toda a vida, sendo que pessoas mais velhas tendem a apresentar os traços de uma forma otimizada (Peterson & Seligman, 2004).

Peterson e Seligman (2004) publicaram a Values in Action (VIA), que consiste na classificação de 24 forças de caráter, distribuídas em seis virtudes, fruto de uma extensa pesquisa que recebeu contribuições de mais de 50 profissionais acadêmicos e clínicos, além de revisão de livros religiosos e textos históricos. As forças e respectivas virtudes são: Criatividade, Pensamento crítico, Amor ao aprendizado, Sensatez e Curiosidade (Sabedoria e Conhecimento); Autenticidade, Bravura, Perseverança, Vitalidade (Coragem); Amor, Bondade, Inteligência social (Humanidade); Cidadania, Liderança, Imparcialidade (Justiça); Autorregulação, Modéstia, Perdão, Prudência (Temperança); e Apreciação ao belo, Gratidão, Humor, Espiritualidade e Esperança (Transcendência).

Peterson e Seligman (2004) defendem que as forças de caráter geram ações positivas para si e para a sociedade, de modo que não podem inferiorizar outras pessoas ao redor. Além disso, na perspectiva de Lopez, Pedrotti e Snyder (2018), existem casos particulares de pessoas que não possuem determinadas forças desenvolvidas. Assim, é possível inferir que, de modo geral, as forças implicam ações desejáveis socialmente, podendo se caracterizar como polo oposto aos traços mal-adaptativos, como aqueles que compõem a Tríade Sombria da Personalidade, o que geraria relações negativas (Kaufman et al., 2019).

As forças, porém, podem estar presentes de modo excessivo, ou ainda podem estar subdesenvolvidas (Freidlin, Littman-Ovadia, & Niemiec, 2017; Niemiec, 2019). Para Niemiec (2019), as forças não devem estar excessivamente presentes ou, em outra medida, subdesenvolvidas. A esse respeito, como exemplo, Murberg (2012) afirmou que o otimismo e outras características positivas têm sido estudados à luz dos desfechos de saúde, e os resultados têm gerado correlações moderadas. No entanto, para o autor, é necessário investigar desfechos socialmente indesejáveis. No tocante às forças de caráter, muito se tem estudado sobre a presença otimizada delas, sendo encontradas pesquisas relacionando o construto com outros elementos positivos, como bem-estar subjetivo, satisfação de vida, resiliência, felicidade, autoeficácia, dentre outros. Em contrapartida, novas pesquisas devem mensurar os aspectos sombrios relacionados a esses construtos, com intuito de analisar a viabilidade de treinamentos ou programas de mudanças comportamentais que visem ao desenvolvimento do bom caráter (Freidlin et al., 2017, Park & Peterson, 2009).

Em vista disso, o objetivo desta pesquisa, de cunho exploratório, foi identificar a relação entre a Tríade Sombria da Personalidade e as forças de caráter, bem como diferenças nos construtos em função de variáveis sociodemográficas (idade, sexo, escolaridade e renda). De acordo com os aspectos até aqui apresentados, este estudo tem como hipóteses: H1 – homens apresentarão maior média para as variáveis da Tríade Sombria da Personalidade, como previamente apontado por Koehn et al. (2018); H2 – mulheres apresentarão maior média, em geral, para as variáveis das forças de caráter, como previamente apontado por Peterson e Seligman (2004); H3 – as variáveis da Tríade e forças apresentarão correlações entre pequenas e média magnitude, como indicado por estudos que analisaram variáveis específicas destas (Jonason & Tome, 2018; Kaufman et al., 2019); H4 – a idade estará correlacionada positivamente com as forças, uma vez que quanto maior a idade, melhor o desenvolvimento das forças (Peterson & Seligman, 2004).

Método

Participantes

Participaram do estudo 237 adultos, com idades entre 18 e 65 anos (M = 27,83; DP= 9,08), dos quais 164 do sexo feminino (69,2%), solteiros (77,6%), com renda mensal de um a três salários mínimos (50,2%). Ao que se refere à escolaridade, 123 possuíam o Ensino Superior completo (51,9%) e 170 sujeitos da amostra eram provenientes da região Sudeste do país (71,7%). Tratou-se de uma amostra por conveniência.

Instrumentos

Questionário Sociodemográfico: foi elaborado um questionário com o objetivo de obter informações relativas à idade, sexo, estado civil, renda mensal, nível de formação e estado.

Short Dark Triad (SDT) (Jones & Paulhus, 2014): adaptado para o português brasileiro por Simões (2016), trata-se de uma escala de autorrelato que mensura a Tríade Sombria da Personalidade, possui 27 itens em escala Likert (1 = Discordo totalmente até 5 = Concordo totalmente). As dimensões que compõem a Tríade Sombria são o Maquiavelismo, com nove itens (α = 0,78); o Narcisismo, com nove itens (α = 0,77); e a Psicopatia, com nove itens (α = 0,78); sendo o coeficiente de consistência interna para a escala total (α = 0,83). Todos os coeficientes são oriundos da adaptação de Simões (2016). São exemplos de itens (1) “Não é esperto contar seus segredos” – Maquiavelismo; (10) “As pessoas me veem como um verdadeiro líder” – Narcisismo; e (19) “Eu gosto de me vingar das pessoas com autoridade” – Psicopatia.

Escala de Forças de Caráter (EFC): elaborado por Noronha e Barbosa (2016), a partir do modelo de Peterson e Seligman (2004), trata-se de uma escala de autorrelato que mensura as Forças de Caráter, possui 71 itens em escala Likert (0 = Nada a ver comigo até 4 = Tudo a ver comigo). As dimensões que compõem as forças de caráter são Criatividade, Pensamento Crítico, Amor ao aprendizado, Sensatez, Curiosidade, Autenticidade, Bravura, Perseverança, Vitalidade, Amor, Bondade, Inteligência social, Cidadania, Liderança, Imparcialidade, Autorregulação, Modéstia, Perdão, Prudência, Apreciação ao belo, Gratidão, Humor, Espiritualidade e Esperança. Apenas a dimensão Apreciação ao belo é formada por dois itens na escala, sendo que todas as demais são representadas por três itens em cada. Em relação ao coeficiente de consistência interna (alfa de Cronbach) para a escala total, o valor foi de 0,94 na versão de Noronha e Barbosa (2013). São exemplos de itens (1) “Sei o que fazer para que as pessoas se sintam bem” – Inteligência Social; (15) “Coisas boas me aguardam no futuro” – Esperança; e (50) “Acho que é importante ajudar os outros” – Bondade.

Procedimentos

Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 20410713.3.0000.5514), os instrumentos foram elaborados na plataforma Google Forms e divulgados em redes sociais on-line (e.g., página do grupo de pesquisa e perfis pessoais dos autores). A coleta de dados ocorreu no mês de outubro de 2018. Para inclusão na pesquisa, os participantes deveriam, em primeiro lugar, concordar com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e declarar possuir idade a partir de 18 anos, posteriormente tinham acesso aos instrumentos na seguinte ordem: Questionário Sociodemográfico, Short Dark Triad e Escala de Forças de Caráter.

Análise de dados

Os dados foram analisados no software Statistic Package for Social Sciences (SPSS), versão 23. Foram utilizadas estatísticas descritivas para caracterização da amostra; estatísticas inferenciais por meio do teste t de Student e d de Cohen para comparação e tamanho de efeito, em função das variáveis sexo e escolaridade; e Análise de Variância (ANOVA) com prova post hoc de Tukey para a comparação de médias na variável renda mensal. A magnitude dos tamanhos de efeito foi interpretada a partir de Cohen (1988). Além disso, para analisar o efeito principal das diferenças, foi realizada a análise de Modelo Linear Geral Multivariáveis, tendo os fatores gerais da EFC e da SDT como variáveis dependentes. Por fim, foi realizada a análise do coeficiente de correlação produto-momento de Pearson entre os fatores específicos (24 forças e componentes da tríade), fatores gerais de forças de caráter e Tríade Sombria (soma de todas as pontuações) e a variável idade.

Resultados

Inicialmente buscou-se analisar as diferenças de médias em função das variáveis sociodemográficas. Para a comparação em função do nível de escolaridade, foram formados dois grupos, um com participantes do ensino fundamental incompleto com até o ensino médio completo (n = 114) e o segundo grupo formado por pessoas que declararam ensino superior completo (n = 123). A Tabela 1 apresenta os resultados da comparação das pontuações médias em função do sexo e escolaridade dos participantes, sendo apresentadas apenas as diferenças estatisticamente significativas. Nota-se que para ao menos um fator da tríade sombria e para as forças de caráter houve diferenciação entre os grupos comparados.

Tabela 1 Comparações de médias em função das variáveis sexo e escolaridade 

Variável de comparação Fator Grupos M DP t d
Sexo Maquiavelismo F 22,71 5,47 -2,592** 0,37
M 24,95 7,37
Sexo Psicopatia F 19,32 4,32 -4,318** 0,62
M 22,25 5,01
Sexo Fator geral SDT F 68,94 10,92 -3,119** 0,45
M 74,62 13,74
Sexo Criatividade F 7,34 2,23 -3,328** 0,22
M 8,40 2,28
Sexo Autenticidade F 9,35 1,96 1,994* 0,27
M 8,81 1,90
Sexo Bravura F 7,38 2,49 -2,174* 0,14
M 8,12 2,40
Sexo Gratidão F 9,98 2,47 2,550* 0,36
M 9,05 2,60
Sexo Humor F 8,24 2,69 -2,635** 0,35
M 9,11 2,18
Sexo Espiritualidade F 8,85 3,35 2,722** 0,38
M 7,52 3,53
Escolaridade Narcisismo EM 27,64 4,60 1,932* 0,25
ES 26,53 4,22
Escolaridade Criatividade EM 7,25 2,18 -2,733** 0,35
ES 8,05 2,33
Escolaridade Amor pelo aprendizado EM 8,96 2,45 -4,951** 0,58
ES 10,28 2,02
Escolaridade Autenticidade EM 8,88 2,13 -2,308* 0,29
ES 9,46 1,73
Escolaridade Perseverança EM 8,55 2,53 -4,690** 0,61
ES 9,98 2,09
Escolaridade Entusiasmo EM 7,62 3,10 -2,625** 0,34
ES 8,63 2,74
Escolaridade Justiça EM 9,64 1,91 -3,436** 0,45
ES 10,41 1,47
Escolaridade Liderança EM 7,46 2,53 -1,931* 0,24
ES 8,08 2,44
Escolaridade Trabalho em equipe EM 8,76 2,19 -2,291** 0,30
ES 9,37 1,82
Escolaridade Autorregulação EM 6,92 2,70 -2,982** 0,39
ES 7,93 2,46
Escolaridade Esperança EM 8,90 3,03 -3,169** 0,41
ES 10,00 2,19
Escolaridade Espiritualidade EM 7,62 3,71 -3,574** 0,46
ES 9,20 3,02
Escolaridade Fator geral EFC EM 201,46 34,42 -3,438** 0,44
ES 216,24 31,75
Escolaridade Fator geral SDT EM 72,27 12,22 1,949* 0,25
ES 69,22 11,88

Nota: F = feminino; M = masculino; EM = até o ensino médio completo; ES = ensino superior completo *p<0.05; **p<0.001.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Na comparação em função do sexo, os homens obtiveram as maiores pontuações em maquiavelismo e psicopatia, assim como nas forças de caráter criatividade, bravura e humor. Já as mulheres diferenciaram-se dos participantes do sexo masculino com maiores pontuações nas forças de caráter autenticidade, gratidão e espiritualidade. Ao analisar as comparações em função da escolaridade, nota-se que os participantes com até ensino médio completo apresentaram as maiores pontuações apenas em narcisismo, enquanto aqueles com ensino superior completo obtiveram maiores médias em todas as forças de caráter, sem pontuações altas nos fatores da tríade sombria. Em relação aos tamanhos de efeito, as diferenças observadas em psicopatia, amor pelo aprendizado e perseverança foram médias, enquanto as demais foram pequenas. Na sequência, considerando as diferenças encontradas entre sexo e nível de escolaridade, buscou-se analisar se a diferença nos fatores gerais de forças de caráter e tríade sombria se mantém para essas variáveis em interação, sendo os resultados apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 Modelo Linear Geral das pontuações em forças de caráter e tríade sombria em relação ao sexo e escolaridade 

Testes de efeitos entre sujeitos
Origem Variável dependente Soma dos Quadrados gl Quadrado Médio F p
Modelo corrigido Fator geral EFC 13352,441 3 4450,814 4,044 0,008
Fator geral SDT 2056,489 3 685,469 4,899 0,003
Ordenada na origem Fator geral EFC 8772232,476 1 8772232,476 7,970,100 0,000
Fator geral SDT 1035456,053 1 1035456,053 7400,560 0,000
Sexo Fator geral EFC 0,059 1 0,059 0,000 0,994
Fator geral SDT 1501,417 1 1501,417 10,731 0,001
Escolaridade Fator geral EFC 12686,319 1 12686,319 11,526 0,001
Fator geral SDT 381,219 1 381,219 2,725 0,100
Sexo × Escolaridade Fator geral EFC 428,222 1 428,222 0,389 0,533
Fator geral SDT 1,300 1 1,300 0,009 0,923

Fonte: Elaborada pelos autores.

Observa-se que não há efeito de interação entre o sexo e a escolaridade nas diferenças encontradas nos fatores gerais de forças de caráter e Tríade Sombria da Personalidade. Em contrapartida, ao analisar as variáveis isoladamente, o efeito principal do sexo é significativo em relação às diferenças encontradas na Tríade Sombria, enquanto o efeito principal de escolaridade é significativo nas diferenças encontradas nas forças de caráter. Posteriormente, buscou-se verificar diferenças nas pontuações em função da renda mensal dos participantes. Foram organizados quatro grupos, sendo: Grupo 1 (G1), reuniu pessoas que informaram receber menos de um salário mínimo; Grupo 2 (G2), incluiu participantes com renda entre um e três salários; Grupo 3 (G3), aqueles com renda entre três e cinco salários; e Grupo 4 (G4), os que têm renda a partir de cinco salários. Os resultados significativos estatisticamente são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 Análise de variância e prova post hoc de Tukey das pontuações nos fatores dos instrumentos em função da renda 

Variável de comparação gl F N Renda Subconjunto
1
Maquiavelismo 3 2,543* 38 > 5 salários 20,95
33 3 a 5 salários 23,36
119 1 a 3 salários 23,87
47 < 1 salário 24,23
Narcisismo 3 2,698* 38 > 5 salários 25,55
33 3 a 5 salários 26,21
119 1 a 3 salários 27,52
47 < 1 salário 27,72
Amor pelo aprendizado 3 0,107* 47 < 1 salário 9,38
119 1 a 3 salários 9,39
33 3 a 5 salários 10,00
38 > 5 salários 10,47

Nota: *p<0.05.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Os resultados diferenciaram os participantes em maquiavelismo e narcisismo, sendo que pessoas com menor renda apresentaram maiores pontuações, quando comparados com os demais. Em relação aos elementos positivos, apenas na força amor pelo aprendizado houve diferenças significativas, sendo que participantes com maior renda endossaram mais essa categoria, quando comparados aos demais. Ressalta-se que apesar das diferenças não houve formação de subconjuntos, tanto para os componentes da Tríade Sombria como para as forças de caráter. Por fim, foram realizadas correlações de Pearson entre os fatores da Tríade Sombria e as 24 forças de caráter, sendo os resultados apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 Correlações entre a tríade sombria e forças de caráter 

Maquiavelismo Narcisismo Psicopatia Fator geral SDT Fator geral EFC Idade
Criatividade -0,07 0,19** 0,01 0,03 0,55** 0,15**
Curiosidade -0,07 0,17** -0,01 0,01 0,54** 0,10
Pensamento crítico 0,07 0,10 0,06 0,09 0,54** 0,13**
Amor pelo aprendizado -0,17** 0,05 -0,16* -0,13* 0,63** 0,34**
Perspectiva 0,03 0,21** 0,03 0,11 0,58** 0,11
Autenticidade -0,19** 0,09 -0,07 -0,09 0,53** 0,28**
Bravura -0,03 0,16* 0,05 0,06 0,46** 0,15**
Perseverança -0,25** 0,04 -0,22** -0,20** 0,63** 0,28**
Entusiasmo -0,09 -0,03 -0,17** -0,12 0,71** 0,30**
Bondade -0,19** 0,11 -0,19** -0,13** 0,61** 0,13**
Amor -0,09 0,09 -0,11 -0,06 0,62** 0,18**
Inteligência social 0,08 0,30** 0,06 0,17** 0,52** 0,14**
Justiça 0,09 0,09 -0,11 -0,05 0,58** 0,26**
Liderança -0,06 0,19** -0,13* -0,01 0,63** 0,17**
Trabalho em equipe -0,09 0,16* -0,18** -0,05 0,75** 0,29**
Perdão -0,26** -0,00 -0,29** -0,25** 0,55** 0,18**
Modéstia -0,20** 0,04 -0,21** -0,17** 0,46** 0,15**
Prudência -0,03 0,10 -0,17** -0,04 0,53** 0,13**
Autorregulação -0,01 -0,02 -0,13* -0,07 0,56** 0,22**
Apreciação ao belo 0,08 0,19** 0,09 0,15* 0,54** 0,10
Gratidão 0,12 0,06 -0,18** -0,11 0,74** 0,29**
Esperança -0,06 0,07 -0,15* -0,06 0,70** 0,25**
Humor 0,03 0,12 0,02 0,07 0,64** 0,12*
Espiritualidade -0,07 0,06 -0,21** -0,09 0,61** 0,29**
Maquiavelismo 1 0,35** 0,60** 0,87** -0,13** -0,14*
Narcisismo 0,35** 1 0,28** 0,65** 0,17** -0,17**
Psicopatia 0,60** 0,28** 1 0,80** -0,18** -0,17**
Fator geral SDT 0,87** 0,65** 0,80** 1 -0,07 -0,20**
Fator Geral EFC -0,11 0,12 -0,20** -0,07 1 0,32**

Nota: *p<0.05; **p<0.001.

Fonte: Elaborada pelos autores.

A maior parte das correlações foi estatisticamente significativa. Todos os fatores da Tríade Sombria correlacionaram-se significativamente com algumas forças de caráter, sendo que tais correlações foram de baixa magnitude e em sua maioria em sentido negativo. O maquiavelismo obteve correlações estatisticamente significativas com seis forças, sendo as maiores magnitudes com perseverança e perdão. Todas as oito correlações significativas entre narcisismo e forças de caráter foram em sentido positivo, com as maiores magnitudes entre narcisismo com inteligência social e perspectiva. O fator psicopatia foi o que mais obteve correlações significativas com forças de caráter, em sentido negativo, e as maiores magnitudes foram para os coeficientes de psicopatia com perdão, perseverança e modéstia.

Discussão

O presente estudo teve como objetivo identificar a relação entre a Forças de Caráter e Tríade Sombria da Personalidade, além de verificar diferenças em função de variáveis sociodemográficas. Ao analisar os resultados de variância relacionada aos componentes da Tríade Sombria em função das variáveis sociodemográficas, verificou-se que os homens endossaram mais maquiavelismo e psicopatia, conforme indicado pela literatura (Koehn et al., 2018), e que pessoas com menor renda alcançaram maiores médias em maquiavelismo e narcisismo. Além disso, ao analisar as pontuações no fator geral de Tríade Sombria, observou-se que homens apresentaram maiores médias quando comparados com mulheres, confirmando a H1 do presente estudo.

No tocante às forças de caráter, evidencia-se que apenas seis delas apresentaram diferenças significativas em função do sexo, sendo criatividade, bravura e humor maiores em homens, e autenticidade, gratidão e espiritualidade maiores em mulheres. Tal resultado não corrobora outros achados – nos quais mulheres apresentaram maiores médias do que os homens nas forças de caráter (Linley et al., 2007; Noronha & Martins 2016) – e nem a H2 levantada para este estudo (Peterson & Seligman, 2004). Cabe ressaltar que há também no contexto brasileiro estudo que não encontrou variância em função do sexo dos participantes (Oliveira, Nunes, Legal, & Noronha, 2016), evidenciando a necessidade de maior investimento em pesquisas que consigam trazer consenso sobre a temática.

No que se refere à escolaridade, foi possível observar que os participantes com ensino superior apresentaram as maiores médias em 11 forças de caráter, bem como no fator geral de EFC, enquanto pessoas com escolaridade até o ensino médio obtiveram maiores médias em narcisismo e no fator geral da SDT. Apesar das diferenças encontradas, não houve interação entre sexo e escolaridade, de modo que as diferenças encontradas para sexo têm maior efeito para a Tríade Sombria, enquanto da escolaridade para as forças de caráter. Já os participantes com maior renda endossaram mais a força amor pelo aprendizado, o que é plausível, considerando que eles tendem a ter melhores oportunidades de escolarização e são mais expostos a estímulos que favorecem o desenvolvimento de tal força (Snyder & Lopez, 2009).

No que se refere às forças de caráter, os resultados relativos à escolaridade e renda reforçam a importância da oportunidade de escolarização para o desenvolvimento integral do ser humano. No Brasil, apesar dos avanços das últimas décadas, o acesso a níveis mais altos de escolarização é ainda desigual, sendo mais difícil para as camadas mais pobres da sociedade (Campello, Gentili, Rodrigues, & Hoewell, 2018). Ao considerar os achados deste estudo, evidencia-se que para além de avanços econômicos, o acesso a níveis de formação mais altos e a melhor renda tendem a favorecer o desenvolvimento das forças de caráter, contribuindo para que os indivíduos encontrem formas positivas de atuarem perante a sociedade.

No que concerne à Tríade Sombria, exposições a condições ambientais específicas, tais como baixa renda e escolaridade, são fatores que podem acentuar a manifestação de comportamentos mal-adaptativos. Uma vez que os traços sombrios podem ser respostas fenotípicas, predeterminadas e próprias do processo evolutivo, os altos escores podem ter como função a proteção egoica ou servirem de estratégias para os indivíduos obtenham melhores resultados para enfrentar os desafios da vida. Nesse sentido, os resultados sugerem que pessoas com baixa renda e baixa escolaridade podem assumir comportamentos grandiosos e estratégicos como meio de alcançar sucesso e ou de superação das vulnerabilidades sociais.

Em relação à análise de correlação, evidenciou-se que a dimensão maquiavelismo apresentou correlações negativas com as características Amor pelo aprendizado, Autenticidade, Bondade, Perseverança, Perdão e Modéstia, sendo as maiores com as três últimas forças. Pessoas com traços mais altos de maquiavelismo consideram-se pouco autênticas, o que está de acordo com a literatura, uma vez que o maquiavelismo envolve comportamentos manipulativos em benefício próprio, que inclui mentir e enganar (Koehn et al., 2018). Além disso, podem mais frequentemente aceitar a visão de mundo que lhes é imposta; são mais indiferentes e pouco empáticos com outros indivíduos, desconsiderando sua responsabilidade social. Por fim, podem ser cruéis e pouco capazes de perdoar erros, o que está em direção diferente da força perdão, definida como uma forma de compaixão e piedade, na medida em que, ao perdoar, as motivações básicas em relação ao transgressor tornam-se mais positivas (Girard & Mullet, 2012).

Adicionalmente, indivíduos com traços de maquiavelismo são pouco modestos, incapazes de reconhecerem suas limitações e capazes de distorcer informações em benefício próprio (Freidlin et al., 2017). Especialmente quanto à perseverança, ela diz respeito à continuação de uma ação voluntária em direção a uma meta, superando obstáculos e adversidades. No entanto, ela não implica insistir initerruptamente, pois, do contrário, pode ser entendida como mal-adaptativa (Peterson & Seligman, 2004).

O fator narcisismo apresentou correlações positivas com as forças Criatividade, Curiosidade, Perspectiva, Bravura, Inteligência social, Liderança, Trabalho em equipe e Apreciação ao belo, sendo que o maior coeficiente se deu com inteligência social. Essas relações indicam que podem ser indivíduos excêntricos e pouco interessados em assuntos alheios, de modo que suas necessidades são compreendidas como primárias e essenciais. Além de imprudentes, excessivamente analíticos, arbitrários, dependentes e perfeccionistas (Freidlin et al., 2017). Esses aspectos tendem a reforçar a compreensão de que sujeitos com altos índices de narcisismo acreditam de maneira exacerbada em seus merecimentos e têm um senso de direito superior a outros indivíduos (Jones & Paulhus, 2014).

Por fim, a dimensão psicopatia correlacionou-se negativamente com as características Amor pelo aprendizado, Perseverança, Entusiasmo, Bondade, Liderança, Trabalho em equipe, Perdão, Modéstia, Prudência, Autorregulação, Gratidão, Esperança e Espiritualidade. Quando subutilizadas indicam indivíduos que são complacentes, frágeis, sedentários, indiferentes, egoístas, cruéis, pouco modestos, imprudentes, autoindulgentes, individualistas, negativos e pouco tradicionais (Freidlin et al., 2017). Os traços de psicopatia podem ser compreendidos por dois elementos fundamentais, o baixo autocontrole e a falta de sensibilidade (Skeem, Polaschek, Patrick, & Lilienfeld, 2011). Portanto, essas características podem fornecer vantagens para os objetivos individuais serem alcançados, pouco se importando com as consequências e métodos utilizados para alcançá-los.

No tocante à idade, foram encontradas correlações positivas com 21 forças de caráter, confirmando a H4. As maiores correlação foram entre a idade com as forças Entusiasmo, Trabalho em equipe e Espiritualidade, porém, ainda com magnitude fraca. A esse respeito, convém destacar que compreender como as forças do caráter se comportam em diferentes momentos do ciclo vital é relevante, tal como destacado por Martínez-Martí e Ruch (2014), uma vez que pode servir de subsídio para a determinação de tarefas de desenvolvimento próprias de cada fase. Nesse sentido, os resultados confirmam o sugerido por Peterson e Seligman (2004) sobre um progressivo desenvolvimento das forças ao longo do ciclo vital, aspecto que pode ser útil para a elaboração de intervenções adequadas a públicos etários diferentes e que pode ser feita desde a primeira infância até a velhice.

Este estudo de cunho exploratório possibilitou analisar as relações entre os componentes da Tríade Sombria da Personalidade e as forças de caráter. A partir dos achados, duas conclusões podem ser realizadas. A primeira refere-se ao fato de que apesar da ideia de que as forças de caráter e a Tríade Sombria possam ser opostas, os resultados deste estudo indicaram que se trata de variáveis sem associações, posto que as correlações encontradas foram todas fracas. Nesse sentido, pode-se inferir que intervir isoladamente para o desenvolvimento de forças de caráter pode não alterar os fatores da Tríade Sombria, bem como auxiliar uma pessoa a ser menos manipuladora, menos autocentrada e mais empática pode não significar o aumento das forças de caráter. Assim, as intervenções que visem ao desenvolvimento do bom caráter precisam contemplar tanto a redução dos traços sombrios como o desenvolvimento das virtudes humanas de modo concomitante.

Uma segunda conclusão que pode ser feita, é de que em determinados casos, além da ausência do surgimento do bom caráter por meio do desenvolvimento das forças (Park & Peterson, 2009), as intervenções isoladas podem subsidiar os indivíduos para maior manipulação e controle emocional de outras pessoas, como em pessoas com altos traços sombrios. Compreendendo que na proposta teórica das forças de caráter Peterson e Seligman (2004) indicam fatores que inibem o desenvolvimento destas, pode-se pensar que os traços mal-adaptativos façam parte desses elementos, haja vista as correlações negativas obtidas neste estudo.

Desse modo, tornam-se importantes pesquisas que verifiquem a eficácia de intervenções ou programas positivos em pessoas com altos índices de traços mal-adaptativos, a fim de contribuir para o entendimento clínico da questão e para a construção de práticas baseadas em evidências, aspecto valorizado na cientificidade da Psicologia Positiva (Peterson e Seligman, 2004). Nesse sentido, os achados desta pesquisa não significam que as pessoas com predominância de componentes da Tríade Sombria não possam ser beneficiadas com as intervenções, mas alertam para que os benefícios do desenvolvimento das forças sejam ponderados previamente, no intuito de que não haja investimento desnecessário.

Por se tratar de um estudo exploratório, os resultados desta pesquisa não devem ser generalizados, uma vez que há limitações na composição da amostra. Sugere-se a realização de estudos com uma população mais ampla a fim de verificar se os resultados se mantêm, bem como que sejam testados modelos para melhor compreensão sobre como os construtos interagem. Outras limitações também devem ser consideradas, como a coleta de dados por meio de instrumentos de autorrelato, que podem ser passíveis de vieses de resposta que alteram a compreensão dos resultados finais. Sugere-se, também, a investigação de outros construtos da Psicologia Positiva e suas relações com os traços mal-adaptativos.

Ressalta-se que estudos desse tipo não significam romper com a ideia inicial da Psicologia Positiva de ter um direcionamento para os aspectos saudáveis do ser humano (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000), mas sim entender como desenvolver positivamente cada uma das forças de caráter de acordo com o contexto no qual elas serão inseridas. Por meio de investigações sistemáticas é que será possível ajudar os indivíduos a desenvolverem o bom caráter e florescerem plenamente em todas as instâncias da vida.

References

Ashton, M. C., & Lee, K. (2007). Empirical, Theoretical, and Practical Advantages of the HEXACO Model of Personality Structure. Personality and Social Psychology Review, 11(2), 150–166. DOI: 10.1177/1088868306294907. [ Links ]

Campello, T., Gentili, P., Rodrigues, M., & Hoewell, G. R. (2018). Faces da desigualdade no Brasil: um olhar sobre os que ficam para trás. Saúde em Debate, 42, 54-66. DOI: 10.1590/0103-11042018S305. [ Links ]

Cohen, J. (1992). A Power Primer. Psychologial Bulletin, 112(1), 155-159. Retrieved from https://psycnet.apa.org/buy/1992-37683-001.Links ]

Costa, P. T., McCrae, R. R., & Dye, D. A. (1991). Facet Scales for Agreeableness and Conscientiousness: A Revision of the NEO Personality Inventory. Personality and Individual Differences, 12(9), 887–898. DOI:10.1016/0191-8869(91)90177-d. [ Links ]

Freidlin, P., Littman-Ovadia, H., & Niemiec, R. M. (2017). Positive Psychology: Social Anxiety Via Character Strengths Underuse and Overuse. Personality and Individual Differences, 108(1), 50-54. DOI: 10.1016/j.paid.2016.12.003. [ Links ]

Furnham, A., Richards, S. C., & Paulhus, D. L. (2013). The Dark Triad of Personality: A 10 Year Review. Social and Personality Psychology Compass, 7(3), 199–216. DOI: 10.1111/spc3.12018. [ Links ]

Girard, M., & Mullet, E. (2012). Development of the Forgiveness Schema in Adolescence. Universitas Psychologica, 11(4), 1235-1244. [ Links ]

Kaufman, S. B., Yaden, D. B., Hyde, E., & Tsukayama, E. (2019). The Light vs. Dark Triad of Personality: Contrasting Two Very Different Profiles of Human Nature. Frontiers in Psychology, 19(10), 1-26. DOI: 10.3389/fpsyg.2019.00467. [ Links ]

Hodson, G., & Dhont, K. (2015). The Person-Based Nature of Prejudice: Individual Differences Predictors of Intergroup Negativity. European Review of Social Psychology, 26, 1-41. DOI: 10.1080/10463283.2015.1070018. [ Links ]

Jonason, P. K., Icho, A., & Ireland, K. (2016). Resources, Harshness, and Unpredictability: The Socioeconomic Conditions Associated with the Dark Triad Traits. Evolutionary Psychology, 14(1). DOI: 10.1177/1474704915623699. [ Links ]

Jonason, P. K., & Tome, J. (2018). How Happiness Expectations Relate to the Dark Triad Traits. The Journal of Social Psychology, 11, 1-12. DOI: 10.1080/00224545.2018.1529652. [ Links ]

Jonason, P. K., & Webster, G. D. (2010). The Dirty Dozen: A Concise Measure of the Dark Triad. Psychological Assessment, 22, 420-432. DOI: 10.1037/a001926. [ Links ]

Jones, D. N., & Paulhus, D. L. (2014). Introducing the Short Dark Triad (SD3): A Brief Measure of Dark Personality Traits. Assessment, 21(1), 28-41. DOI: 10.1177/1073191113514105. [ Links ]

Koehn, M. A., Okan, C., & Jonason, P. K. (2018). A Primer on the Dark Triad Traits. Australian Psychological Society, 1-12. DOI: 10.1111/ajpy.12198. [ Links ]

Linley, P. A., P., Maltby, J., Wood, A. M., Joseph, S. Harrington, S., Peterson, C., ... Seligman, M. E. P. (2007). Character Strengths in the United Kingdom: The VIA Inventory of Strengths. Personality and Individual Differences, 43(2), 341-351. DOI: 10.1016/j.paid.2006.12.004. [ Links ]

March, E., Grieve, R., Marrington, J., & Jonason, P. K. (2017). Trolling on Tinderâ (and other Dating Apps): Examining the Role of the Dark Tetrad and Impulsivity. Personality and Individual Differences, 110, 139-143. DOI: 10.1016/j.paid.2017.01.025. [ Links ]

Marcus, D. K., Preszler, J., & Zeigler-Hill, V. (2018). A Network of Dark Personality Traits: What Lies at the Heart of Darkness?. Journal of Research in Personality, 73, 56–62. DOI: 10.1016/j.jrp.2017.11.003. [ Links ]

Martínez-Martí, M. L., & Ruch, W. (2014). Character Strengths and Well-Being Across the Life Span: Data from a Representative Sample of German-Speaking Adults Living in Switzerland. Frontiers in Psychology, 5(1253), 1-10. 20. DOI: 10.3389/fpsyg.2014.01253. [ Links ]

Muris, P., Merckelbach, H., Otgaar, H., & Meijer, E. (2017). The Malevolent Side of Human Nature: A Meta-Analysis and Critical Review of the Literature on the Dark Triad (Narcissism, Machiavellianism, and Psychopathy). Perspectives on Psychological Science, 12(2), 183-204. DOI: 10.1177/1745691616666070. [ Links ]

Niemiec, R. M. (2019). Finding the Golden Mean: The Overuse, Underuse, and Optimal Use of Character Strengths. Counselling Psychology Quarterly, 1–19. DOI: 10.1080/09515070.2019.1617674. [ Links ]

Noronha, A. P. P., & Campos, R. R. F. (2018). Relationship between Character Strengths and Personality Traits. Estudos de Psicologia, 35(1), 29-37. DOI: 10.1590/1982-02752018000100004. [ Links ]

Noronha, A. P. P., & Barbosa, A. J. C. (2016). Escala de forças de caráter. In C. S. Hutz (Org.). Avaliação em Psicologia Positiva (pp. 21-43). São Paulo: Hogrefe. [ Links ]

Noronha, A. P. P., & Barbosa, A. J. C. (2018). O estudo das forças de caráter em brasileiros: análise de grupos etários. In T. C. Nakano (Org.). Psicologia Positiva Aplicada à Educação. São Paulo: Vetor. [ Links ]

Noronha, A. P. P., & Martins, D. F. (2016). Associações entre forças de caráter e satisfação com a vida: estudo com universitários. Acta Colombiana de Psicología, 19(2), 97-103. DOI: 10.14718/ACP.2016.19.2.5. [ Links ]

Oliveira, C. D., Nunes, M. F. O., Legal, E. J., & Noronha, A. P. P. (2016). Bem-estar subjetivo: estudo de correlação com as Forças de Caráter. Avaliação Psicológica, 15(2), 177-185. DOI: 10.15689/ap.2016.1502.06. [ Links ]

Park, N., & Peterson, C. (2009). Character strengths: Research and practice. Journal of College and Character, 10(4), 1-10. DOI: 10.2202/1940-1639.1042. [ Links ]

Paulhus, D. L., & Williams, K. M. (2002). The Dark Triad of Personality: Narcissism, Machiavellianism, and Psychopathy. Journal of Research in Personality, 36(6), 556-563. DOI: 10.1016/S0092-6566(02)00505-6. [ Links ]

Peterson, C., & Park, N. (2009). Classifying and Measuring Strengths of Character. In S. J. Lopez & C. R. Snyder (Eds.). Oxford handbook of positive psychology, 2nd edition (pp. 25-33). New York: Oxford University Press. [ Links ]

Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character Strengths and Virtues. A handbook and classification. Washington: American Psychological Association. [ Links ]

Seibel, B. L., DeSousa, D., & Koller, S. H. (2015). Adaptação brasileira e estrutura fatorial da escala 240-item VIA Inventory of Strengths. Psico-USF, 20(3), 371-383. DOI: 10.1590/1413-82712015200301. [ Links ]

Seligman, M. E. P., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive Psychology: An Introduction. American Psychology, 55(1), 5-14. DOI: 10.1037/0003-066X.55.1.5. [ Links ]

Simões, N. C. (2016). Evidências de validade de um índice de psicopatia a partir do big five inventory. Dissertação de Mestrado, Universidade São Francisco, Itatiba, São Paulo. [ Links ]

Skeem, J. L., Polaschek, D. L. L., Patrick, C. J., & Lilienfeld, S. C. (2011). Psychopathic Personality: Bridging the Gap between Scientific Evidence and Public Policy. Psychological Science in the Public Interest, 12(3), 95-162. DOI: 10.1177/1529100611426706. [ Links ]

Snyder, C. R., & Lopez, S. L. (2009) Psicologia Positiva: uma abordagem científica e prática das qualidades humanas (R. C. Costa, Trad.). Porto Alegre: Artmed. [ Links ]

Recebido: 15 de Maio de 2019; Aceito: 23 de Dezembro de 2019

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.