Na atualidade, o ambiente escolar é considerado um dos espaços mais vulneráveis à incidência de casos de bullying (Silva, 2018). Devido às consequências que causam aos envolvidos na ação (Ramos, 2019), no Brasil é possível observar casos que ganharam destaque na mídia – como o massacre de 2011 ocorrido em Realengo, Rio de Janeiro, que foi atribuído a um ato de vingança em decorrência do bullying, onde um ex-aluno atirou e matou 12 crianças, cometendo suicídio em seguida (Pigozi & Machado, 2015). Em um caso recente, dois jovens entraram em uma escola em Suzano, São Paulo, e atiraram contra alunos e colaboradores da instituição. Pelo menos oito pessoas morreram, 11 ficaram feridas e os dois jovens cometeram suicídio após a ação. Evidências indicam que a vingança por bullying foi um dos motivos que os levaram a praticar tal ato (Barone, 2019).
Há diferentes consequências para o bullying, entre elas destacam-se o estresse, a diminuição da autoestima, a ansiedade e depressão, o baixo rendimento escolar e até mesmo, em casos mais severos, o suicídio (Marcén, Gallardo, Bezerra, Calvo, & Tavares, 2019). Considerando que o comportamento violento em suas diferentes formas ainda é presente no cotidiano escolar e que os adolescentes apresentam atitudes favoráveis ou não – podendo ser considerados populares, fortes, além de se sentirem bem agredindo (Vasconcelos, Santana, Borges, Couto, & Fonsêca, 2017), especificamente considerando a depressão –, a vitimização do bullying tem se mostrado um fator de risco para essa sintomatologia, principalmente na adolescência (Cavalcanti, Coutinho, Pinto, Silva, & Bú, 2018). Fonseca (2011) ressalta que jovens com depressão tendem a enfrentar queda no desempenho escolar à proporção que os sintomas da doença aumentam, sendo que fatores como alterações do sono, a baixa autoestima e autoavaliação negativa são os que comumente acompanham a depressão, prejudicando assim o desempenho escolar.
Dado o exposto, levantam-se as questões: qual a relação entre a vitimização de bullying e sintomatologia de depressão? Há diferenças entre sexos e categoria de escola nas pontuações de depressão? Visando responder a essas perguntas, a presente pesquisa objetivou verificar o poder preditivo da vitimização de bullying na depressão, controlando o efeito do sexo e tipo de escola dos adolescentes. Especificamente, conhecer a relação entre as dimensões da vitimização de bullying e a depressão, além de verificar se há diferenças nos níveis de depressão quanto ao sexo e categoria da escola dos adolescentes. Antes de demonstrar os achados, faz-se necessário descrever a seguir sobre os construtos abordados.
Bullying
Embora o bullying seja considerado uma prática antiga, foi a partir de 1970 que tiveram inícios as primeiras pesquisas sobre a temática (Santos, 2015). Principalmente por meio dos estudos realizados pelo professor Dan Olweus, da Universidade de Bergan, na Noruega, que o fenômeno passou a ser compreendido de maneira mais clara (Rocha et al., 2019), possibilitando ter a percepção dos primeiros fatores para identificação do bullying no contexto escolar.
Quanto à definição do bullying, Olweus (1994) considera que um estudante está sendo intimidado ou vitimado quando é exposto, repetidamente por um longo período, a ações negativas por parte de um ou mais colegas. Ramos (2019), reúne diferentes conceitos e os englobam, sendo definido de várias maneiras na literatura; entretanto, há um consenso entre os pesquisadores de que o bullying refere-se a comportamentos repetitivos que prejudicam outra pessoa, com intenção de causar dano, havendo desequilíbrio de poder. Assim, no processo do bullying, caracterizam-se três elementos cruciais: repetição, prejuízo e desigualdade de poder (Berger, 2007; Olweus, 2003). Em suma, o bullying pode ser considerado como uma agressão contínua intencional que envolve uma assimetria de forças, tendo um impacto negativo significativo para a vítima (Jungert, Karataş, Iotti, & Perrin, 2021). Essas características diferenciam esse tipo de agressão de outros que ocorrem no contexto escolar.
O Bullying pode ser classificado em diferentes tipos, que incluem o físico, verbal e relacional (Olweus, 2011). Além do cyberbullying, que ocorre quando os ataques são realizados por vias eletrônicas (Chocarro & Garaigordobil, 2019; Hymel & Swearer, 2015), sendo utilizados computadores, internet, redes sociais ou aplicativos de mensagens instantâneas, com o intuito de propagar informações que visam à difamação da vítima (Campbell, 2005).
De acordo com Olweus (2003), no cenário do bullying, identificam-se quatro tipos de atores sociais: a) os agressores, também conhecidos como bullies, são os indivíduos que praticam os comportamentos de bullying; b) as vítimas, tipicamente os que são alvos do comportamento de bullying; c) agressores/vítimas, participam tanto como vítimas como agressores; e d) testemunhas, que são os espectadores que presenciam o ato de agressão, mas que não se pronunciam por medo de ser a próxima vítima.
Diante disso, a prática de bullying gera consequências nos envolvidos. Nos agressores, que comumente tendem a se envolver no futuro em ações violentas e criminosas (Bender & Lösel, 2011). e nas vítimas, as quais podem se tornar adultos inseguros, com baixa autoestima e com tendência maior para sintomatologia depressiva. Ademais, mesmo a frequência considerada aqui de agressões seja na escola, as consequências ultrapassam os muros da instituição, refletindo no ambiente familiar, com o fenômeno do grupo agressores/vítimas, os quais mostram-se mais propensos a atitudes agressivas, provocativas e futuras alterações psicológicas (Machimbarrena, Gonzáliez-Cabrera, & Garaigordobil, 2019).
Haja vista as variadas consequências do bullying, ressalta-se que na presente pesquisa serão consideradas aquelas causadas à vítima, pois é o grupo que mais sofre em decorrência do bullying, sendo os personagens mais suscetíveis ao desenvolvimento de quadros depressivos (Chocarro & Garaigordobil, 2019; Ramos, 2019). Dados concretos quanto à manifestação da doença foram encontrados no estudo de Kumpulainen et al. (1998) realizado com 5.813 estudantes do ensino fundamental finlandês, indicando que vítimas de bullying ficaram psicologicamente afetadas e tiveram mais encaminhamentos do que os estudantes que não foram vítimas.
Quanto a essa temática associada ao bullying no Brasil, em uma recente pesquisa, os dados causam preocupação, devido ao alto índice de casos registrados (Patu, 2017). De acordo com a pesquisa da BBC Brasil, os índices mostram que entre 1980 e 2014 a taxa de suicídio aumentou 28%. Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país campeão mundial do transtorno de ansiedade e o quinto colocado em pessoas com depressão. Sendo assim, com tais dados, estima-se que 11,5 milhões de estudantes brasileiros sofrem de depressão (Patu, 2017); justificando, assim, os esforços para a realização de uma pesquisa como esta e a breve apresentação, a seguir, da temática.
Depressão
A depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente, sendo um problema complexo cujas principais características envolvem um estado de ânimo irritável, falta de motivação e diminuição do comportamento instrumental adaptativo (Rufino et al., 2018). Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico De Transtornos Mentais (DSM-V, 2014), o transtorno depressivo tem como características a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo, para designar um estado de desânimo ou perda de interesse. Do ponto de vista psicopatológico, a depressão tem como elementos mais salientes o humor triste e, na esfera volitiva, o desânimo, mais ou menos marcantes.
A Organização Mundial de Saúde, na Classificação Internacional de Doenças (OMS CID 10, 1996), descreve que cada episódio típico envolve três graus de depressão (leve, moderado ou grave), no qual o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga, mesmo após um esforço mínimo. Para além disso, observam-se, em geral, problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre diminuição da autoestima e da autoconfiança e frequentemente ideias de culpabilidade e/ou de indignidade, mesmo nas formas leves.
Segundo Bortolini, Kirchner, Hildebrandt, Leite e Costa (2016), estima-se que em 2020 a depressão será a segunda doença de maior incidência, entre a população em geral; podendo ocorrer em pessoas de qualquer fase da vida – inclusive na infância, apresentando basicamente os mesmos sintomas de uma pessoa adulta (Santos, Maio, Barbosa, Souza, & Simões, 2016).
De acordo com Santos et al. (2016), é no ambiente escolar que a criança está mais vulnerável a desenvolver a depressão, na medida em que é neste que ela passa a maior parte da infância. Posto isso, os sintomas da doença podem se manifestar de diferentes formas (Guerra, Almeida, & Afonso, 2018); para Freitas e Marback (2016), as crianças que apresentam sintomas depressivos, geralmente, costumam ter sentimentos de solidão, rejeição e desânimo, bem como tendência de se esquivar, de fazer amigos, apresentam mudanças no nível de atividade, entre outros.
Diante disso, os autores Guerra et al. (2018) ressaltam a importância de os educadores aprenderem a lidar, reconhecer e identificar sintomas depressivos em seus alunos, para assim ajudá-los a reduzir as consequências negativas na assimilação de conhecimentos. Em um estudo realizado por Ruiz, Oteiza-Nascimento, Toldos, Serrano-Marugán e Martín-Babarro (2019), sobre o efeito do bullying escolar nos níveis de depressão das vítimas que tinham ou não apoio social, constata-se que as que não tinham apresentaram maior nível de depressão na turma, quando comparados com os que tiveram apoio.
Assim sendo, o apoio social proporcionado pela família e pela escola tem papel muito importante na intervenção com essas vítimas. No contexto escolar em especial, o professor capacitado pode auxiliar a identificar sintomatologias da doença, colaborando no reconhecimento dos sintomas, atuando com os responsáveis da criança ou do adolescente na tomada de decisão mais saudável (Borges & Bittar, 2016). Logo, dada a problemática das temáticas e a importância para diferentes atores sociais, o caminho, os resultados e a discussão da investigação são apresentados a seguir.
Método
Participantes
Contou-se com uma amostra de conveniência (não probabilística) que teve como critério de inclusão adolescentes com idade entre 12 e 17 anos. Justifica-se teoricamente essa faixa etária pela possibilidade da valorização da violência; ademais, em relação aos adolescentes, a vitimização se torna fator de risco para problemas em diferentes áreas da vida, incluindo sintomatologia de depressão (Cavalcanti et al., 2018; Fonseca, 2011; Vasconcelos et al., 2017). No total, 426 adolescentes participaram da pesquisa – ressalta-se que esse número é coerente e suficiente para as análises executadas de acordo com os objetivos (Field, 2005). Os participantes foram estudantes do município de Parnaíba, Piauí, sendo a maioria do sexo feminino (51,3%) e escola pública (52,3%), com idade média de 14,53 anos (DP = 2,10, variando entre 12 e 17 anos).
Instrumentos
Aos participantes foi solicitado que respondessem um livreto com os seguintes instrumentos:
Escala de Vitimização de Bullying (EVB): desenvolvida por Gomes (2020), tem como objetivo identificar os comportamentos de vitimização de bullying. A EVB é formada por quatro fatores (tipos de bullying: físico, verbal, psicológico e cyberbullying), composta por 16 itens distribuídos aleatoriamente, respondidos em uma escala do tipo Likert de cinco pontos, com os seguintes extremos: 0 = nenhuma vez a 4 = quatro vezes por semana. Na enunciação da escala, é solicitado ao aluno que indique com que frequência sofre ou é vítima de bullying em relação às afirmativas no último mês. Destacam-se os resultados que sugerem evidências aceitáveis de validade e precisão [CFI = 0,98, TLI = 0,98, RMSEA (IC90%) = 0,032 (0,015 – 0,045), com alfa de Cronbach de 0,92].
Inventário de Depressão Infantil (IDI; Sá, 2017): construído e validado como um instrumento com 62 itens de rastreio que discrimina sintomas da depressão a partir da literatura especializada, é respondido em uma escala tipo Likert com quatro pontos que representam desde a ausência do sintoma (ponto 0) até a forte presença (ponto 4), demonstrando no estudo original precisão excelente, com alfa de Cronbach de 0,93. Para este estudo, foram selecionados os 21 itens que melhor discriminam o construto, os quais reunidos apresentaram um alfa de Cronbach de 0,90.
Questionário Sociodemográfico: desenvolvido com a finalidade de caracterizar a amostra, sendo composto pelas variáveis idade, sexo, tipo de escola (pública ou particular), além de considerar o modelo de regressão.
Procedimento
As normas éticas para pesquisas com seres humanos exigidas pela Resolução n. 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde foram respeitadas e todas as autorizações com os responsáveis pelas escolas participantes foram asseguradas. Após a aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa de uma instituição de ensino superior do interior do Piauí (Nºdo parecer: 3397129; CAAE: 13312719000005214), os pais ou responsáveis dos adolescentes receberam o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, que devolveram assinado, atestando a participação dos adolescentes. A pesquisa foi realizada no âmbito escolar, com a aplicação dos questionários para os participantes da pesquisa. Depois da confirmação, foram explicitados os objetivos pertinentes ao estudo e solicitada a participação voluntária dos estudantes. Foi informado ainda sobre o caráter sigiloso da pesquisa e que não havia respostas certas ou erradas, e que os tais alunos poderiam desistir da pesquisa a qualquer momento sem nenhum prejuízo. O tempo necessário para a conclusão foi de aproximadamente 15 minutos.
Resultados
A fim de conhecer a relação entre os tipos de bullying e a sintomatologia de depressão dos adolescentes na amostra levantada, foram realizadas correlações r de Pearson, considerando o nível de significância um p < 0,05. Em um primeiro momento, destacam-se as médias e desvios padrões das dimensões do bullying, as quais apontam que a prevalência é o verbal (M = 4,17; DP = 4,42), seguido do relacional (M = 1,79; DP = 2,83), físico (M = 1,75; DP = 2,67) e cyberbullying (M = 0,52; DP = 1,51).
Na sequência, as correlações indicaram relações positivas entre os tipos de bullying que os adolescentes são vítimas e a sintomatologia de depressão, sugerindo que quanto mais os estudantes sofrem bullying relacional (r = 0,38; p < 0,001), bullying físico (r = 0,20; p < 0,001), bullying verbal (r = 0,55; p < 0,001) e de maneira geral o bullying total, cálculo pela somatória de todos os índices (r = 0,45; p < 0,001), mais sintomatologias de depressão eles apontam. A única relação não encontrada foi com o cyberbullying (p > 0,05).
No segundo momento, para atingir o objetivo geral da pesquisa e completar o conhecimento da relação, buscou-se verificar o fator preditivo da vitimização dos tipos de bullying, com correlações significativas, controlando o efeito das variáveis demográficas (sexo e categoria da instituição), sendo realizada uma regressão múltipla hierárquica. A seguir, na Tabela 1, são apresentados os resultados.
Tabela 1 Análise de regressão hierárquica dos preditores da depressão dos adolescentes
Variáveis | B | DP | β | Modelo |
---|---|---|---|---|
Passo 1 |
F(2;424) = 19,95** R2 = 0,08 |
|||
Sexoa | 3,12 | 0,50 | 0,29** | |
Escolab | -0,67 | 0,50 | -0,06 | |
Passo 2 |
F(5;421) = 71,33** R2 = 0,33 Δ R2 = 0,25 |
|||
Sexoa | 2,41 | 0,43 | 0,23** | |
Escolab | -0,64 | 0,43 | -0,06 | |
Bullying verbal | 2,70 | 0,21 | 0,50** | |
Bullying físico | -0,31 | 0,39 | -0,04 | |
Bullying relacional | 0,47 | 0,42 | 0,06 |
*p < 0,001; *p >0,05; DP = desvio padrão; aMasculino = 1, Feminino = 2; bPública = 1, Privada = 2.
Fonte: Elaboração própria.
Dessa forma, foi possível observar nos resultados, descritos na Tabela 1, que no primeiro passo, as variáveis sexo e categoria da instituição estando no modelo, apresentou valor de R2 igual a 0,08. No segundo passo, a introdução das dimensões da vitimização do bullying incrementou os valores de R2 em 25%, com essas variáveis colaborando para a explicação da variância da depressão.
Portanto, no modelo final, após a entrada de todas as variáveis na equação, observou-se explicação de 33% na variância total da sintomatologia de depressão nos adolescentes, tendo em conta que o sexo apresentou poder preditivo estatisticamente significativo (β = 0,23; p < 0,001), indicando que as meninas pontuaram mais na escala de depressão. Ademais, a dimensão bullying verbal (β = 0,50; p < 0,001) apresentou relação direta, sugerindo que os adolescentes vítimas de bullying verbal nas escolas experienciam mais sintomatologias de depressão.
Discussão
O ambiente escolar é um dos principais campos responsáveis para o início das interações humanas, visto que é nesse contexto que diversos fenômenos ocorrem, passando a influenciar de maneira significativa o processo de ensino-aprendizagem. Em relação aos problemas comportamentais e emocionais, alguns fatores identificados vêm sendo estudados e ampliados a cada dia, como a referente relação entre o bullying e a sintomatologia depressiva abordados neste artigo.
De maneira especial, este estudo atingiu o objetivo geral, diversificar a explicação da vitimização do bullying, controlando o efeito de sexo e categoria da instituição escolar, na sintomatologia de depressão. No que se refere aos tipos de bullying na amostra, o verbal foi o mais prevalente, seguido do bullying relacional, físico e do cyberbullying – sendo esse resultado semelhante aos encontrados em estudos prévios (Continente, Giménez, & Adell, 2010; Santos, Cabral-Xavier, Paiva, & Leite-Cavalcanti, 2014).
Com o avanço nos estudos propagando nas mídias, programas escolares e atenção dos envolvidos, além da conscientização da gravidade da situação, as formas de violência na escola se modificam. Nesse cenário, e indo ao encontro desses achados, existem evidências que sugerem que com o aumento da idade as formas indiretas do bullying (verbal e relacional) se tornam utilizadas, pois condutas como bater e empurrar não são vistas como socialmente desejáveis (Berger, 2007; Rolim, 2008). Em contrapartida, o comportamento violento, em suas diferentes formas, ainda é presente no cotidiano escolar, e todos os adolescentes apresentam atitudes em relação a essa conduta, ou seja, podem ou não valorizá-las, considerarem-se populares, fortes, além de se sentirem bem agredindo (Vasconcelos et al., 2017).
No passo seguinte, os resultados mostram que as correlações indicaram relações positivas entre os tipos de bullying (físico, verbal e relacional) que os adolescentes são vítimas e a sintomatologia de depressão. Esses achados são coerentes com outras pesquisas já realizadas (Binsfeld & Lisboa, 2010; Forlim, Stelko-Pereira, & Williams, 2014; Garbin, Gatto, & Garbin, 2016; Vieira, Torales, Vargas, & Oliveira., 2016), as quais ressaltam que as vítimas que lidam com qualquer desses tipos de bullying (relacional, físico, verbal e cyber) apresentam mais chances de terem sintomas depressivos do que outros estudantes.
A prevalência do bullying verbal, único com poder preditivo (Santos & Kienen, 2014), corrobora o que Mcvean (2017) indicou: vítimas de bullying relataram maior nível de depressão, principalmente quando o adolescente é vitimizado de maneira verbal, a exemplo de xingamentos ou comentários vexatórios. É mister atentar-se para essa forma de violência infligida aos adolescentes, pois, à medida que a idade avança, os comportamentos de contato físico vão perdendo espaço para os indiretos, sobretudo o verbal (Raskauskas, 2009; Torres, D’Alessio, & Stolzenberg, 2019).
Não obstante, no que concerne ao cyberbullying, na pesquisa não foi encontrada relação, o fato de os alunos não terem tanta liberdade, referente ao tempo para o uso de meios tecnológicos no âmbito escolar, pode explicar a sua não predominância na pesquisa. Todavia, essa nova forma de violência vem crescendo e merece atenção para pesquisas futuras, uma vez que as redes sociais estão permeando cada vez mais as relações entre os jovens, fato que engloba a execução de comportamento violento (Borges, Lopes, & Lopes, 2018).
No que diz respeito à variável sexo, o resultado deste estudo apontou maior prevalência da sintomatologia de depressão nas meninas. Esse achado corrobora os estudos de demais autores (Aragão, Coutinho, Araújo, & Castanha, 2009; Avanci, Assis, & Oliveira, 2008; Braga & Dell’Aglio, 2013; Coutinho, Pinto, Cavalcanti, Araújo, & Coutinho, 2016; Lima, Mio, Santos, & Campos, 2018; Silva, 2018) que apontam que essa relação pode ser explicada pelo fato de as adolescentes, ainda na infância, passarem por problemas psicológicos e sociais, uma vez que há preocupação com sua imagem e sofrem com os padrões que a sociedade exige. Além de questões biológicas, as meninas enfrentam processos hormonais de forma mais intensa, em relação aos meninos.
Em relação à variável tipo de escola, as instituições educacionais públicas e privadas obtiveram resultados equivalentes quanto à sintomatologia depressiva nos adolescentes estudantis, tornando assim a discussão mais ampla quanto aos processos de proteção nas escolas – não diferindo os tipos, ratifica a prevalência nessa etapa marcada por transformações, o que exige trabalhos mais eficazes de rastreio a fim de identificar sintomatologias (Grolli, Wagner, & Dalbosco, 2017).
Considerações finais
As temáticas deste artigo, e a importância atribuída a elas, são vistas como demandas de saúde pública que necessitam de mais atenção para ser trabalhada e evitada, utilizando para isso ações ativas que envolvam pais, alunos e comunidade escolar. Assim, a relevância de programas de saúde mental nas escolas com a presença de um profissional da Psicologia na instituição é reforçada. Nessa tarefa, evidências como as apresentadas neste e discutidas sob a luz da literatura especializada merecem destaque e devem ser usadas como base para intervenções.
Contudo, a presente investigação não é isenta de limitações. Pode-se apontar o viés amostral acidental e o caráter não experimental da pesquisa, fatos que impedem a generalização dos dados para além do contexto considerado, tenha-se em conta que esse não foi um dos objetivos da pesquisa. Sugere-se, então, que em pesquisas futuras amostras maiores e heterogêneas sejam consideradas e que outras variáveis possam ser incluídas no modelo de explicação da depressão, tais quais personalidade, atitude em relação à escola, apoio social, estilos parentais.
Importante encorajar a execução, também, de programas e projetos interventivos, com base em fenômenos que são encarados como fatores de proteção da saúde mental na escola. Baseando-se nas evidências empíricas, as habilidades sociais podem ser trabalhadas e o repertório diversificado pode minimizar sintomatologias de depressão (Santana, Fukuda, & Carvalho, 2017). Ademais, a incidência frequente de bullying demonstra a premência de intervenções que possibilitem o respeito entre os pares – nessa tarefa os valores humanos são importantes variáveis, uma vez que se apresentam úteis em contexto educacional, sobretudo os sociais na atenuação de depressão (Couto et al., no prelo), principalmente em vítimas de bullying (Monteiro, Medeiros, Pimentel, & Gouveia, 2020).
Desse modo, apresentam-se aqui contribuições para execuções de pesquisas futuras e execuções com a participação de equipe multiprofissional, responsáveis e interessados na promoção de saúde no âmbito escolar, responsabilizando-se com a formação ética e competente da educação, a fim de fomentar conhecimentos, formar cidadãos e conduzir da melhor forma possível os adolescentes para uma vida adulta mais saudável.