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Revista Psicologia Organizações e Trabalho

versão On-line ISSN 1984-6657

Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.23 no.4 Brasília  2023  Epub 29-Nov-2024

https://doi.org/10.5935/rpot/2023.4.24659 

Artigo

Vivências dos Jovens Aprendizes Durante a Pandemia do COVID-19

Experiences of Young Apprentices During the COVID-19 Pandemic

Experiencias de Jóvenes Aprendices durante la Pandemia de COVID-19

Amanda Dias Dourado1 
http://orcid.org/0000-0003-2709-6367

Paulo César Zambroni-de-Souza2 
http://orcid.org/0000-0002-7353-4420

Alexia Carolina Gonçalves da Silva3 
http://orcid.org/0000-0001-8482-4135

1https://orcid.org/0000-0003-2709-6367 / Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil

2https://orcid.org/0000-0002-7353-4420 / Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil

3https://orcid.org/0000-0001-8482-4135 / Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil


Resumo

A precarização social do trabalho para adolescentes em meio a uma pandemia anunciou novas modulações sociais e desafios para as práticas de conciliação do trabalho e do curso profissionalizante. Nesse sentido, nessa pesquisa se buscou compreender as vivências dos jovens aprendizes no processo de adaptação ao estudo e ao trabalho no cenário pandêmico iniciado em 2020. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com 15 jovens aprendizes, realizada através de entrevistas individuais que aconteceram de forma remota e que foram analisadas por meio da Psicodinâmica do Trabalho. A análise dos resultados indica que as principais dificuldades encontradas no processo de adaptação incluem: ausência de suporte para o manuseio das plataformas digitais, imprevisibilidade de rotina, sobrecarga, insegurança e medo. Esses desafios podem ser atenuados quando existe uma relação pautada em proximidade, compreensão e flexibilidade com os superiores; associada às boas convivências entre os pares de trabalho. Nesse estudo se fornece um diagnóstico situacional que revela o poder das relações na experiência laboral para superar os momentos de dificuldade.

Palavras-chave educação profissionalizante; jovens; pandemia; trabalho

Abstract

The social precariousness of work for adolescents in the midst of a pandemic heralded new social modulations and challenges for the practices of reconciling work and professional study. That said, this study sought to understand the experiences of young apprentices in the process of facing study and work in the pandemic scenario that started in 2020. It is a qualitative study with the participation of 15 young apprentices. Individual interviews were used as an instrument, which took place remotely and were analyzed with the theoretical help of Psychodynamics at Work. The results show that the main difficulties encountered in the adaptation process include lack of support for handling digital platforms, routine unpredictability, overload, insecurity, and fear. These challenges can be mitigated when there is a relationship of closeness, understanding, and flexibility between the leadership linked to good coexistence between work peers. The study provides a situational diagnosis that reveals the power of relationships in the work experience to overcome moments of difficulty.

Keywords vocational education; young people; pandemic; job

Resumen

La precariedad social del trabajo de los adolescentes en plena pandemia anunció nuevas modulaciones sociales y desafíos para las prácticas de conciliación del binomio trabajo-estudio. Teniendo en cuenta lo anterior, en este estudio se buscó comprender las experiencias de jóvenes aprendices en el proceso de enfrentar el estudio y trabajo en el contexto de pandemia que se inició en 2020. Se trata de un estudio cualitativo con la participación de 15 jóvenes aprendices. Se utilizó como instrumento la entrevista individual, que se realizó de forma remota y se analizó con la ayuda teórica de la Psicodinámica en El Trabajo. El análisis de resultados muestra que las principales dificultades encontradas en el proceso de adaptación incluyen: la falta de apoyo para el manejo de las plataformas digitales, la imprevisibilidad de la rutina, la sobrecarga, la inseguridad y el miedo. Estos desafíos pueden ser mitigados cuando existe una relación de cercanía, entendimiento y flexibilidad entre el liderazgo asociada a una buena convivencia entre compañeros de trabajo. En ese estudio se proporciona un diagnóstico situacional que revela el poder de las relaciones en la experiencia laboral para superar momentos de dificultad.

Palabras clave educación profesional; gente joven; pandemia; trabajo

A doença infecciosa SARS-CoV-2, conhecida como Coronavirus (COVID-19), apresentou um espectro clínico variável desde condições assintomáticas até a ocorrência de uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). Por isso, medidas extremas foram introduzidas no objetivo de conter a disseminação do vírus. Tais procedimentos afetaram a vida de bilhões de pessoas, intensificando a situação de pobreza, dívidas e desemprego (Caduff, 2021; Wang et al., 2020; Werneck, 2021). A implementação do distanciamento social gerou profundas mudanças na sociedade, em especial no trabalho e na educação. No trabalho, houve alterações em vários níveis (Caduff, 2021; Musse et al., 2022) enquanto que no segundo houve uma transição imediata do ensino presencial para o remoto. Essas implicações ressoaram no cotidiano dos jovens que trabalham e estudam.

No Programa da Lei da Aprendizagem (Lei n° 10.027, de 2000) é regulamentado o trabalho de adolescentes com idade de 14 até 24 anos (para pessoas com deficiência, a idade máxima não se limita a 24 anos) e são estipuladas medidas jurídicas para inclusão da prestação de serviços dessas pessoas por meio de um contrato de aprendizagem subordinado aos dispositivos da Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT (Decreto-lei N° 5.452, 1943). Nessa lei, que é fruto de lutas e resistências mobilizadas para estimular o trabalho e a formação de jovens cidadãos por meio de políticas sociais (Máximo, 2012), também é prevista a existência de um curso de ensino para formação técnica profissional em paralelo ao desenvolvimento de atividades nas organizações que sejam compatíveis com o nível de desenvolvimento do adolescente. Entretanto, com o cenário pandêmico, houve dificuldades para as empresas cumprirem as cotas estabelecidas em lei, assim como para conciliar o binômio estudo-trabalho; o que tornou-se um desafio maior para os jovens que acessaram o programa.

Os dilemas entre o estudo e o trabalho representam uma realidade multifacetada na juventude brasileira. Quanto mais tempo os jovens permanecem sem estudar e sem trabalhar, maiores as chances de precarização social e doenças mentais (Rocha et al., 2020). Se, por um lado, a profissionalização influencia no desenvolvimento e transição da infância para uma vida adulta responsável (Dornelles et al., 2016, Pessoa, 2017), por outro, há uma maior vulnerabilidade à pressão, ao estresse e também maior dificuldade na inserção ocupacional pelos jovens (Bresciani et al., 2023; Souza et al., 2019). Esse público representa a maior taxa de rotatividade nas empresas (Rocha et al, 2020), sendo também o que está mais sujeito a trabalhos informais e a condições laborais precárias (Paiva, 2014).

No estudo de Abílio (2020) é mostrada a iniciativa de jovens na função de entregadores uberizados com paralisações mediante suas situações precárias no cenário pandêmico. Corrochano et al. (2017) também debatem sobre a construção de políticas públicas para a juventude no mundo do trabalho a partir das ações de: (a) ampliação da escolaridade e qualificação profissional, (b) enfrentamento das taxas elevadas de desemprego juvenil e (c) relações entre a inserção ocupacional, o estudo e a vida familiar.

Dito isso, esse artigo tem como aporte teórico a Psicodinâmica do Trabalho (PdT) que é herdeira da psicopatologia do trabalho francesa e tem suas origens no final da primeira metade do século XX (Duarte & Dejours, 2019; Zambroni-de-Souza, & Moraes, 2018). Trata-se de uma abordagem científica que surge do encontro entre a ergonomia e a psicanálise e tem como foco de análise a experiência laboral, considerada fundamental na produção da subjetividade e na busca pela saúde (Gernet, 2021).

A PdT tem em Christophe Dejours seu fundador e principal referência. Esse médico explica que o trabalho pode ser fonte de sofrimento patógeno, mas também pode promover prazer e desenvolvimento humano (Duarte & Dejours, 2019; Gernet, 2021). Para tanto, essa abordagem defende uma escuta ativa, favorecendo um processo de reflexão do trabalhador sobre a sua realidade laboral.

No objetivo de compreender aspectos psíquicos e subjetivos provocados pela organização de trabalho, Dejours teorizou sobre temas como mobilização subjetiva, inteligência prática, mecanismos de defesa contra o sofrimento, reconhecimento no trabalho e cooperação. Nos estudos que utilizam essa teoria, são evidenciadas as relações da dinâmica da experiência laboral com a saúde mental (Gama et al., 2019) e se preconiza que no processo de mobilização subjetiva dos trabalhadores existem tentativas de encontrar estratégias por meio do resgate do sentido do trabalho para enfrentar o sofrimento que pode potencialmente adoecer (Amaral et al., 2017).

De acordo com Mendes e Duarte (2013), a PdT trata da interface entre o que acontece no real e no prescrito e o que é mobilizado pela perspectiva da contribuição e da retribuição simbólica. Nessa abordagem, o trabalho atua como um mediador para a saúde ou para a doença, a depender da organização do trabalho e das possibilidades de cooperação e do que é mobilizado ao se realizar a atividade. Considerando a partir da importância do trabalho para a identidade e a saúde, nesse estudo se teve como objetivo compreender as vivências dos jovens aprendizes no processo de adaptação ao estudo e ao trabalho no cenário pandêmico iniciado em 2020.

Método

Trata-se de um estudo qualitativo-exploratório baseado nos pressupostos de Minayo (2017), que valoriza as falas dos participantes situadas em seu contexto social. Gama et al. (2019, p.115) esclarecem que "a reconstituição da história do sujeito pela fala permite a construção de um discurso revelador do engate da subjetividade pelas exigências do mundo do trabalho".

Participantes

Participaram deste estudo 15 adolescentes que foram selecionados pela técnica não probabilística por conveniência. O contato com os participantes aconteceu a partir da indicação do coordenador de um centro de integração empresa-escola que forneceu os números de telefone de 20 jovens aprendizes. Após a tentativa de contato por ligações telefônicas para convite na pesquisa, 15 aceitaram participar.

Os critérios de inclusão foram: (I) jovens trabalhadores estudantes, independente do gênero; (II) com idades entre 18 e 24 anos; (III) matriculados no Programa Jovem Aprendiz durante a pandemia do SARS-COV-2; (IV) atuantes há, no mínimo, seis meses; e (V) cadastrados no Centro de Integração Empresa-Escola localizado na região metropolitana de uma cidade do Nordeste do Brasil. Os critérios de exclusão consistiu emjovens aprendizes que não sofreram alteração no seu modelo de trabalho e estudo durante a pandemia.

Instrumentos

Utilizou-se um questionário sociodemográfico juntamente com a técnica de entrevista semiestruturada guiada pelos objetivos do estudo a partir dos seguintes eixos temáticos: (I) vivências no ensino remoto; (II) vivências no trabalho durante a pandemia. Diante do cenário brasileiro da pandemia que teve início em 2020 e levou ao distanciamento social, a pesquisa foi realizada por via eletrônica, com o suporte do telefone celular e computador para realizar ligações e o envio de mensagens com o uso do aplicativo multiplataforma WhatsApp e o correio eletrônico (e-mail). Esse método permitiu compor, enviar e receber mensagens e arquivos digitais de modo assíncrono. Vale mencionar que o gerenciamento de pesquisas on line pode variar a partir das características de cada plataforma, todavia o fato de acontecer por via eletrônica exigiu o maior controle das condições para a realização do estudo.

Procedimentos de Coleta de Dados e Cuidados Éticos

Após a liberação do centro de integração empresa-escola, foi criado um banco de dados com o nome e números de telefone dos possíveis participantes que vieram a ser contatados em três momentos. O primeiro contato foi planejado de modo a explicar os objetivos do estudo e informar sobre os benefícios e riscos da pesquisa, tendo acontecido por ligação telefônica e/ou mensagem pré-elaborada no aplicativo WhatsApp. Esse momento possibilitou investigar a correspondência de características dos critérios na inclusão do estudo e também a disponibilidade dos jovens para participarem da pesquisa.

Logo após, em um segundo contato, era enviado para aqueles que demonstravam interesse e disponibilidade, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por e-mail. Em conjunto, era também fornecido o agendamento do dia e horário que daria sequência ao procedimento do estudo com a realização da entrevista semiestruturada via ligação WhatsApp. A caracterização do cenário da reunião online exigiu do entrevistado e entrevistador locais reservados, livres de barulhos e interrupções, o que, dada a realidade de cada um dos entrevistados, nem sempre foi possível.

As entrevistas foram apenas por ligações, sem chamadas de vídeos, no modo viva-voz. As respostas foram registradas através de um gravador de áudio e posteriormente transcritas na íntegra pelos autores deste artigo. Houve o cuidado de substituir os nomes de pessoas e lugares citados por nomes fictícios a fim de assegurar a confidencialidade do estudo. O tempo das ligações, que aconteceram na segunda semana de agosto de 2020, variou de 38 a 57 minutos cada. Houve eventualidades que impediram o encerramento de algumas entrevistas em apenas uma ligação (o celular do participante tinha descarregado ou precisava atender ao chamado de outras pessoas).

Como anteriormente mencionado, os participantes foram informados sobre os riscos e benefícios do estudo. Ainda, foi comunicado que, caso necessário, o participante seria encaminhado para um plantão terapêutico de escuta on-line com direito a três sessões pagas pelos pesquisadores. A postura dos pesquisadores no presente estudo foi ancorada nas normas preconizadas pela resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que foi estudada e revista durante toda a realização da pesquisa. O projeto que originou esse manuscrito foi submetido à Plataforma Brasil e obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

Procedimentos de Análise de Dados

Após a coleta, os áudios foram transcritos na íntegra para análise das falas compartilhadas no momento da entrevista. Para Minayo (2017), essa forma de estruturação produz saberes que caracterizam uma realidade social, por verificar as ocorrências de opiniões com significados semelhantes de modo a compor uma categoria e subcategorias representativas do grupo. O aporte teórico utilizado para análise das respostas foi a PdT.

Resultado e Discussão

Conforme exposto na Tabela 1, os participantes eram todos solteiros, com renda entre um e dois salários mínimos e idades variando entre 18 a 23 anos. Dentre eles, nove identificaram-se como do gênero feminino e sete como do gênero masculino. Nos resultados, demonstra-se que o perfil dos jovens aprendizes corresponde ao apresentado por diversos pesquisasdores na área do trabalho: uma maioria sem ou com pouca experiência profissional e famílias de baixa renda (Máximo, 2012).

Tabela 1 Perfil sociodemográfico dos participantes 

Variáveis Frequência
Gênero
Feminino 9
Masculino 7
Faixa etária
Entre 18 e 20 anos 10
Entre 21 e 23 anos 6
Escolaridade
Ensino Médio Completo 9
Ensino Superior Cursando 7
Função
Assistente Administrativo 9
Recepcionista 3
Auxiliar de Produção 2
Estoquista 1
Auxiliar de Cozinha 1

Nota. Desenvolvida pelos autores.

Todos os jovens entrevistados tiveram o curso de aprendizagem alterado para a modalidade de ensino remoto1, enquanto o trabalho foi interrompido por cerca de três a oito meses; sendo que, antes da pandemia, esse curso era realizado de forma presencial. Posteriormente, o curso retornou à modalidade presencial com adaptações para atender às exigências de medidas protetivas e preventivas. Conforme Oliveira e Godoy (2015) os estudos com jovens aprendizes precisam ser analisados a partir de especificidades locais da realidade social de cada um. Conforme mostra a Tabela 2, o resultado da análise de conteúdo sobre a adaptação dos jovens aprendizes na rotina de estudo e trabalho durante a pandemia gerou um conhecimento baseado nas seguintes categorias de análises (baseadas em dois tipos de dificuldades vivenciadas), a saber: (1) as ligadas ao ensino remoto e (2) ao retorno ao trabalho presencial.

Tabela 2 Vivências de adaptação ao estudo-trabalho na pandemia 

Categoria Subcategoria
Dificuldades no processo de ensino aprendizagem remoto

1.1. Ausência de suporte da empresa para usar as plataformas digitais

1.2. Dificuldade de concentração e motivação 1.4. Sensação de solidão

Dificuldades no retorno ao trabalho presencial

2.1. Aumento da demanda de atividades e da carga psíquica

2.2. Mecanismo de defesa de negação da realidade e cooperação entre os pares

2.3. Relação de distanciamento social e relacional com os superiores

Nota. Desenvolvida pelos autores.

Dificuldades na Adaptação do Ensino Remoto

Ao ser questionada sobre a sua vivência no ensino remoto, a participante 1 expôs: "Tive um pouco de dificuldade com relação a me acostumar mesmo às plataformas digitais e tal... assistir vídeo aulas e a empresa não me ajudou com muita coisa não, sabe? Eu me virei por minha conta mesmo". É possível evidenciar que, diante de um cenário com necessidade de rápidas mudanças, os gestores podem não priorizar as repercussões humanas e sociais das transformações do trabalho (Gaulejac, 2017), gerando a sensação de desamparo que afeta negativamente a satisfação do trabalhador. Podemos pontuar nesses resultados que as necessidades de adequações originadas na pandemia surgiram sem tempo de fazer treinamentos e capacitação para o preparo adequado dos alunos e professores.

Conforme foi mostrado no estudo de Carneiro Junior e Cardoso (2023), a modalidade de aula a partir de uma interação com uma câmera se relaciona com a ocorrência de fenômenos psicossociais negativos para a dinâmica de ensin- aprendizagem para a juventude. Para Dejours (1992), as dificuldades do ser humano na adaptação ergonômica pode levar a sofrimentos somáticos atingindo o aparelho mental.

A nova adaptação também impactou a rotina com imprevisibilidade, demandando uma maior gestão de responsabilidades, como a participante 12 diz: "Eu acho que acabou ficando bem cansativo e aí eu não consigo arrumar tipo... organizar mesmo uma rotina... Mas eu faço direito as coisas na medida do possível e é trabalho, né?!". A fala dessa participante mostra sua compreensão sobre a mobilização que ela fez diante de condições adversas. E o encerrar com "e é trabalho, né?!" mostra uma compreensão de obrigatoriedade no curso de aprendizagem, pois o salário do jovem aprendiz também depende do seu desempenho nas aulas. Percebe-se a pressão enfrentada pelos jovens que gravitam entre atividades de estudos, da escolha, da formação e do exercício profissional, o que demanda uma necessidade de orientação para elaboração de um projeto de vida que facilite a sua formação como sujeito ativo e uma saudável inserção no mercado de trabalho (Leal & Alberto, 2021).

Apesar dos jovens mencionarem dificuldades iniciais nas aulas remotas como consequência da falta de suporte recebido pelas empresas, ao longo do tempo houve um processo de adaptação, como menciona a participante 3: "Tive dificuldade no processo de ensino remoto no começo da pandemia pois nunca tive aulas remotamente, mas logo me acostumei e a empresa não contribuiu para essa adaptação". Percebe-se aqui o processo de mobilização subjetiva na adequação às demandas do trabalho. As principais características da inteligência prática estão fundamentalmente enraizadas no corpo que resiste ao que é prescrito, ao se mobilizar e utilizar sua capacidade inventiva em situações imprevistas. Por isso, envolve a astúcia para criação do novo (Vasconcelos, 2013). À vista disso, Ferdon e Herts (2007) defendem que, diante de um mercado de trabalho informal, a juventude das últimas duas décadas cresceu em um contexto de inúmeros avanços tecnológicos. Assim, ao experimentar suas primeiras experiências profissionais, sua adaptação tende a ser facilitada. Contudo, isso não exime as empresas da responsabilidade de assistir seus funcionários em situações adversas. Pelo contrário, a facilidade de ajustarse às novas realidades deve ser oferecida e aperfeiçoadas em conjunto com o trabalhador a fim de não torná-la uma fonte de sobrecarga e estresse.

Dificuldades pela Sensação de Solidão no Ensino Remoto

A fala do participante 7 representa uma sensação de solidão no processo de adaptação exigido: "Eu tive um pouco de dificuldade no começo por ser mais uma coisa mais isolada, mais sozinho assim, ficar um pouco desmotivado pra fazer as atividades. Depois, aos poucos eu fui andando...". As mídias sociais fazem parte da comunicação entre os adolescentes de forma atrativa e ultrapassam as fronteiras das realidades geográficas e sociais, culturais, profissionais e afetivas (Fim & Pezzi, 2019). Apesar disso, quando se trata do processo de ensino-aprendizagem, os adolescentes desse estudo consideram mais importante ter aulas presenciais, pois valorizam o contato próximo. Os estudos de Lane (1984) mostram que a presença grupal ajuda a definir papéis e, por consequência, garante maior produtividade e rendimento aos indivíduos, especialmente com a manutenção de harmonia nas relações sociais. Nesse aspecto, é importante que prevaleça a preocupação sobre as particularidades de como o processo de aprendizagem acontece sobre a influência das relações grupais.

Seguindo Anjos e Mendes (2015), entendemos que através da cooperação no trabalho o desempenho do coletivo alcança resultados superiores em função da sinergia produzida. Mendes e Duarte (2013) explicam que as estratégias de mobilização coletiva dizem respeito à forma como os trabalhadores se organizam conjuntamente para alcançar um objetivo comum de superar ou anular o aspecto negativo que a situação do trabalho impõe. Essa reflexão pode ser tratada no âmbito da aprendizagem através da forma que os alunos são exigidos para desenvolver uma atividade em grupo na modalidade remota.

Dificuldades Vivenciadas no Ensino Remoto

A participante 3 diz sobre demandas psicológicas na adaptação no ensino remoto:

Não é difícil por causa da tecnologia, de ter que me adaptar. Mas... questões psicológicas mesmo, porque às vezes não tinha ânimo pra conseguir realizar as tarefas e... sabe quando você fica fazendo o negócio só por obrigação mesmo? Não é pelo prazer diário de tá lá estudando e aprendendo, era mais só pra cumprir tarefa.

É mostrado em estudos que o aumento do uso da internet no cotidiano pode contribuir para a promoção da sociabilidade (Assunção & Matos, 2014) ou da alienação social (Kraut et al., 1998). No presente estudo, foram constatados relatos de desmotivação e de cansaço psicológico para aprender. O participante 8 descreve como a turma cansada interferiu negativamente no ensino:

O estudo por EaD foi um pouco difícil de concentrar na aula e... tá motivado pra aprender. É bem complicado esse processo, a didática é muito ruim, os professores... E falta força de vontade por parte dos alunos também. Isso desanima.

É importante frisar que os jovens são mais vulneráveis às influências grupais. Além disso, no Brasil, esse público está mais fragilizado no aspecto de reconhecimento social, o que significa dizer que suas construções identitárias estão fortemente ligadas à perspectiva de carreira a partir das narrativas de vida que acontecem nas relações sociais; influenciando a atribuição de sentido sobre si mesmo, sobre os outros e sobre as perspectivas e sonhos futuros. Nesse aspecto, Boyd (2017) ressalta que as redes sociais possuem muita força na construção da identidade dos adolescentes, de modo que usar o meio digital para alcançar a cooperação, conforme proposto pela PdT, envolve relações de solidariedade, confiança e união entre os colegas. Essas práticas contribuem na formulação de estratégias coletivas de defesa que são fundamentais para o enfrentamento das condições de sofrimento nas exigências ligadas ao trabalho (Dejours, 2018). Nesse aspecto, a PdT enfatiza como o espaço de discussão pode ser compreendido como um tipo de estratégia de desabafo construído pelos trabalhadores aprendizes em que as falas, crenças, medos e desejos podem ser formulados para a eliminação do sofrimento (Mendes & Duarte, 2013).

Na análise de Silva et al. (2023) sobre o Novo Ensino Médio se mostrou que a formação para o trabalho apresenta cursos de curta duração desarticulados entre si, perdendo mais ainda sua potencialidade quando é oferecido na modalidade remota como uma formação profissional precarizada e aligeirada. Esse quadro aponta para a importância do aperfeiçoamento presencial e prático para acompanhamento dos jovens nas demandas da experiência laboral. Conforme Tommasi e Corrochano (2020), a necessidade de investir em estratégias para a inserção ocupacional representa a juventude brasileira.

Outra situação relacionada ao ensino remoto e o maior tempo das crianças e jovens em casa é que muitos buscam no trabalho e no estudo a fuga de um contexto de violência doméstica. Estima-se que anualmente metade das crianças são vítimas de algum tipo de violência perpetrada pelos próprios familiares, de maneira que entender a dinâmica e a influência da família nas escolhas profissionais torna-se essencial (Jampersa at al., 2023). Segundo Gracioli (2016), o nível de escolaridade e conduta profissional dos pais gera uma ressonância no planejamento e perspectivas de carreira dos filhos.

Dificuldade no Retorno ao Trabalho Presencial

A participante 5 exclama: "A demanda aumentou muito no retorno do trabalho e isso gerava muito estresse". Apontando para uma possível agravamento do estado geral de saúde das pessoas no período pós-pandêmico, o participante 12 disse: "(...) acontece de às vezes a gente ficar com uma função ou outra, né? Porque aconteceu assim de alguém adoecer e... Nesse caso alguém cobre". A pandemia enfatiza o que Dejours (2018) teorizou sobre o aumento das patologias originadas na sobrecarga do trabalho. Nas linhas de montagem, os trabalhadores seguem frenéticos para sustentar os altos níveis de produção do que foi perdido pela crise econômica e, muitas vezes, o dilema é aderir ou ser excluído.

Apesar do programa jovem aprendiz teoricamente proteger esse público de altas exigências para as condições de trabalho, percebe-se relatos de sobrecarga atrelados a um contexto de tentativa de adaptação às transformações exigidas no trabalho. Conforme a International Labour Organization (ILO, 2020), jovens de baixa renda estão mais vulneráveis a condições laborais precárias e tendem a relacionar o ato do trabalho exclusivamente com o de ganhar dinheiro. Sendo assim, acabam por normalizar situações de exploração e se tentar adaptar sem oferecer grandes resistências em condições desafiadoras, temendo, por exemplo, perder o emprego ou a oportunidade de um curso profissionalizante.

O resultado do presente estudo corrobora os achados de Oliveira e Godoy (2015) sobre a realidade de desafios do trabalho do jovem aprendiz apresentar o cotidiano corrido na conciliação com as demandas do estudo. A investigação de Corseuil e Franca (2015) revela a dificuldade dos jovens se manterem no emprego por longa jornada. Abílio (2020) retrata uma realidade de trabalhos informais para a juventude com a perda de uma identidade profissional e estável. Conforme Beal & Crockett (2010), apesar dos jovens identificarem a importância do estudo para a conquista de melhores oportunidades profissionais, não acreditam que irão além do Ensino Médio, associando isso a uma baixa expectativa de sucesso profissional.

Apesar de mencionarem a presença do medo, o retorno ao trabalho não gerou grandes dificuldades na adaptação dos jovens. O participante 11 fala:

É a mesma rotina de sempre, né? Ficou um pouco mais complicado às vezes por causa disso de pandemia, mas acredito que é pior pra quem tem que ficar próximo diretamente de cliente, mas eu vejo mais só gente do trabalho porque eu fiquei em estoque.

Essa fala mostra que o jovem percebe a sua situação com maior segurança do que os que trabalham diretamente com o cliente. Essa compreensão pode ser considerada um mecanismo de defesa de negação contra o medo, pois o fato de ele estar em contato com todos os profissionais de serviço, o coloca à mercê de alto nível de contaminação. Conforme Dejours et al. (1994) a negação se refere a uma operação mental inconsciente, em que os trabalhadores não revelam tudo aquilo que os faz sofrer. A negação da percepção do risco se torna uma estratégia para conseguir trabalhar diante da iminência de perigo (Medeiros et al., 2017). Essa negação concorre para que o indivíduo continue desenvolvendo a sua atividade (Demaegdt, 2020).

Nesse cenário, é importante refletir sobre os processos psicossociais de demandas internas e externas que estão envoltos nas atividades laborais e podem influenciar na proteção ou comprometimento da saúde mental (Dejours, 2019).

Vivências de Relacionamento com os Superiores

As falas dos jovens demonstram relações de frieza dos seus superiores durante a pandemia: "Sobre os chefes, eu achei eles bem despreocupados com a empresa e não ligavam muito para os problemas e dúvidas dos trabalhadores". O participante 4 fala desse distanciamento e pouco contato com comentários vagos: "Eu não tenho nada pra falar dela, ela cumpre o seu papel, é bem responsável". Percebe-se que nesse cenário pandêmico as relações não sofreram um distanciamento apenas físico, mas também relacional. À medida que a interação social diminuiu, os laços de referência foram perdidos. O participante 12 diz que "são sempre rígidos, mas é trabalho, né?! Aí trabalho é assim. Não tenho problemas com eles e o chefe é aquele que me dá ordens e a gente só obedece, então acho uma relação normal de chefe e empregado".

Podemos notar que o cenário pandêmico acentuou a visão do ser humano como facilmente substituível e instrumentalizado (Min et al., 2019). Segundo Gaulejac (2017), nos negócios, o ser humano é um recurso que deve estar sempre à serviço da empresa. Essa intenção de objetificar o trabalhador contribui para o impedimento de laços afetivos nas relações de trabalho. Tal lógica negligencia o lugar de apoio e acolhimento que os superiores podem representar para os jovens aprendizes, já que estão dando os primeiros passos profissionais, de modo que essas experiências iniciais podem influenciar na naturalização de condições de trabalho adoecedoras. Nessa linha, o participante 3 diz: "A gente é jovem aprendiz, fica lá embaixo na hierarquia, então é uma relação de dependência, entre aspas. Precisamos ser ensinados e eles só mandam". Percebe-se nesses jovens a sensação de desvalorização dessa função em comparação com os outros funcionários e um desejo de maior reconhecimento sobre o que exercem. Uma das demandas do trabalho é que este será exposto ao olhar do outro, de modo que, para muitos, reconhecer um momento de fracasso se torna humilhante e compromete as suas vidas com a sensação de insucesso (Dejours, 2019). Nesse ponto, evidenciou-se que mesmo durante a pandemia e com algumas atividades home office os jovens aprendizes estavam em constante vigília para satisfazer as altas cobranças impostas. Ao ser perguntada sobre quem avaliava o seu trabalho, a participante 7 respondeu: "Boa pergunta (risos), eu acho que eu não sei quem avalia o meu trabalho. Acho que todo mundo tá sempre avaliando e criticando o jovem aprendiz".

Nessa mesma perspectiva, nos estudos de Freitas e Oliveira (2012) e Bock (2002) é sinalizado como as relações entre mundo do trabalho, profissionalização e educação se manifestam nas dimensões relativas à construção da identidade, o que apresenta a sensação de utilidade, pertencimento e necessidade e reconhecimento no meio social. Segundo Dejours (2008), os funcionários podem tentar atrair elogios ao seu trabalho visível e mesmo assim serem frustrados, pois muitas vezes o resultado não depende somente da sua performance. Na mobilização subjetiva existe a inteligência prática que estimula o potencial criativo do trabalhador na resolução de problemas, gerando a diminuição do desgaste físico e mental. No entanto, isso somente será possível se possuir uma interconexão com o reconhecimento, elemento que tem o poder de estimular essa inteligência prática (Dejours et al., 1994). Todavia, esse reconhecimento almejado não aconteceu no trabalho desses jovens durante a pandemia. A participante 2 traz uma experiência em que aconteciam constantes mudanças de gerência e isso dificultava a formação de vínculo: "Há uma questão estrutural e de falta de articulação. Desde que eu entrei na empresa foram trocadas quatro vezes a coordenação em menos de um ano, sabe?!". A pandemia influenciou na substituição de profissionais por motivos de doenças ou morte, o que acrescenta uma nova demanda da adaptação ativa ao trabalho e aos profissionais. A participante 2 também comenta: "Muitos colaboradores olham esse diretor com um olhar de desconfiança, que inclusive me influenciou na forma como eu o vejo". Nessa fala é transparecido como a percepção do grupo sobre o líder influencia na percepção individual dos novos trabalhadores; especialmente quando se trata de jovem aprendiz, que é um público que carrega uma necessidade de pertencimento com maior vulnerabilidade a aderir às crenças e valores do grupo.

Oliveira e Godoy (2015), nas suas investigações comjovens aprendizes, identificaram a importância da auto autoestima somada à convivência de figuras fraternas positivas para ajudar a enfrentar os desafios do trabalho. Nesse sentido, a dinâmica das relações os leva a buscar a construção de seu futuro profissional com esperança. Apesar de Oliveira e Godoy (2015) destacarem o uso de estratégias de coping para o investimento em relacionamentos próximos de família e amigos para manejar o estresse do cotidiano, não identificaram a importância das relações no trabalho para os jovens aprendizes.

Vivências de Relacionamentos com os Pares

No tocante às relações com os pares, a participante 2 fala sobre a importância da boa convivência no ambiente de trabalho:

Minha relação com eles é ótima, maravilhosa e eu acredito que se não fosse por essa relação, por ser um hospital de urgência e na recepção e por haver muitas confusões, muito tumulto ali, eu acredito que se não fossem essas conversas com meus amigos no trabalho, o ambiente seria quase insuportável de trabalhar.

Aqui percebemos a importância do coletivo na proteção da saúde mental. A mobilização subjetiva promove prazer no trabalho, resgata o seu sentido e ajuda no enfrentamento de sofrimentos patógenos através de um processo intersubjetivo que necessita do espaço público de discussões sobre o trabalho (Duarte & Dejours, 2019), pois, como afirma Dejours (2008, p. 97), "trabalhar é também viver junto". Evidencia-se ali a importância de boas relações de convivência. Evidencia-se que os participantes atribuem maior valor aos superiores e aos pares quando possuem mais contato e percebem o envolvimento deste na empresa e na preocupação com o desenvolvimento dos jovens, como fala o participante 4: "Minha colega de trabalho é bem participativa com a gente, pergunta se tá tendo dificuldade, sempre elogia... mostra quem e o que errou e tal... fica falando não no sentido de humilhação, mas de ajudar a melhorar e ajudar".Dejours (2019) distingue o reconhecimento que pode ser emitido pelos superiores (julgamento de utilidade) ou pelos pares (julgamento de beleza). São esses reconhecimentos, em especial o segundo, que contribuem para a longevidade da mobilização subjetiva (Anjos & Mendes, 2015). A participante 2 fala: "Quando as atividades foram interrompidas, foi difícil ficar tanto tempo sem ver a equipe que eu era acostumada, praticamente entrei em depressão, dói lembrar, mas que bom que tudo voltou ao normal e posso ver todo mundo" . Apesar de ser constatado em estudos científicos que a internet pode contribuir no fortalecimento dos vínculos afetivos (Anhas, 2021); na experiência laboral, o distanciamento do trabalho que levou ao distanciamento da equipe laboral foi motivo de sofrimento para os jovens dessa pesquisa.

Diante do poder que é atribuído às relações para proteger ou comprometer a saúde mental, é importante refletir sobre como a PdT pode contribuir nas demandas dos jovens aprendizes para propiciar espaços de discussão para o protagonismo e fortalecimento dos trabalhadores na criação e transformação do seu trabalho (Dejours, 2008). Trabalhar demanda muitas manobras psíquicas para a juventude que se encontrará vulnerável nos primeiros passos profissionais.

Considerações Finais

Por meio da análise dos resultados desse estudo, demonstrase que no processo de adaptação dos jovens aprendizes ao binômio estudo e trabalho no cenário pandêmico emergiram as categorias dificuldades no processo de ensino aprendizagem remoto com demandas tecnológicas em que não houve suporte das empresas. No entanto, apesar do cansaço psicológico e desmotivação, conseguiram se adaptar ao longo do tempo. As dificuldades apontadas no retorno ao trabalho presencial foram relacionadas à sobrecarga de trabalho, à necessidade de substituir pessoas que adoeceram, à sensação de insegurança e ao despreparo de orientação e de medidas preventivas em um contexto de muita imprevisibilidade; o que levou a quadros psíquicos de desgaste, ansiedade e insegurança.

O processo de adequação, na maioria dos casos, envolveu as relações sociais distantes produzindo maior distanciamento entre os superiores dos jovens aprendizes e marcando uma relação menos fraternal e de maior frieza. Em comparação aos estudos anteriores, nos resultados apresentados se demonstra a contribuição das relações com os pares para o estabelecimento de uma fonte poderosa de influência positiva. Por um lado, a desmotivação percebida no grupo leva à desmotivação individual. Por outro, o desenvolvimento de apoio e de boas relações trouxe uma união que favoreceu o enfrentamento das dificuldades. Esse estudo é inédito e tem uma função de diagnóstico situacional ao propor a caracterização de um público específico e seus desafios enfrentados no cenário pandêmico. Apesar de não possibilitar a generalização de resultados, lança luz sobre um mosaico de vivências que representam a heterogeneidade de realidades de jovens brasileiros, que buscam alcançar melhorias de vida através do estudo e do trabalho durante a pandemia.

Os resultados alcançados podem embasar o desenvolvimento de políticas e estudos para melhores perspectivas profissionais dos jovens brasileiros. Além disso, a adequação dos jovens ao cenário pandêmico revela a urgência da ampliação de debates por parte do Estado sobre as políticas de formação profissional.

Sugerem-se pesquisas que utilizem análises ergonômicas da atividade em conjunto com a Psicodinâmica do Trabalho para proporcionar melhoras na saúde e desenvolvimento do jovem aprendiz na sua perspectiva de carreira durante a sua experiência laboral e pedagógica.

1A utilização do termo se dá pela compreensão de que — diferente das modalidades de ensino a distância (EAD) e outras formas de educação online — o ensino remoto é mediado pela tecnologia, mas se ancora nos princípios da educação presencial, tendo sido uma alternativa a impossibilidade de contato social direto durante a pandemia.

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Recebido: 28 de Janeiro de 2023; Revisado: 22 de Dezembro de 2023; Aceito: 30 de Dezembro de 2023

Amanda Dias Dourado (autora correspondente) E-mail: amandadouradorh@gmail.com

Paulo César Zambroni-de-Souza E-mail: paulozamsouza@yahoo.com.br

Alexia Carolina Gonçalves da Silva E-mail: alexiacarolina13@gmail.com

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