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Revista de Psicología Universidad de Antioquia
versão On-line ISSN 2145-4892
rev. psicol. univ. antioquia vol.4 no.2 Medelin dez. 2012
ARTÍCULOS DE INVESTIGACIÓN
Consistência interna e verificação da estrutura fatorial em estudantes portugueses/as do ensino superior1
Internal Consistency and Verification of Factorial Structure in Higher Education Portuguese Students
Carla Serrão2 y Nilton S. Formiga3
2 Doutora em Psicologia e Professora Adjunta da Unidade Técnico-científica de Psicologia, Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, Portugal. carlaserrao@ese.ipp.pt
3 Doutor em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba. Atualmente é professor do curso de Psicologia na Faculdade Mauricio de Nassau – JP. Endereço para correspondência: Avenida Guarabira, 133. Bairro de Manaíra. CEP.: 58038-140. João Pessoa - PB. Brasil. E-mail: nsformiga@yahoo.com
Recibido: 13-Noviembre- 2012 • Revisado: 22-Noviembre- 2012 •Aprobado: 10-Diciembre-2012
Para citar este artículo:
Serrão, C y Formiga, N. (2012). Consistência interna e verificação da estrutura fatorial em estudantes portugueses/as do ensino superior. Revista de Psicología Universidad de Antioquia, 4 (2), 7-20.
Resumen
Na investigação empreendida junto de uma amostra de 408 estudantes do Ensino Superior recorreu-se à Escala de Estratégias de Conciliação da Vida Familiar e Profissional de para avaliar as variáveis Conciliação através da Concessão e Conciliação através da Negociação. Observou-se que os/as participantes do estudo tendem a concordar com a negociação como estratégia para a conciliação, contudo verificam-se diferenças estatisticamente significativas no que diz respeito às variáveis sexo e orientação política. Neste sentido, são os homens e as pessoas com orientação política de direita/centro direita que tendem a discordar menos da concessão como estratégia de conciliação entre vida profissional e familiar.
Palabras Clave Autores: Conciliação da vida profissional e familiar; Antecipação da conciliação; Estudantes.
Palabras Clave Descriptores: Familia, Estrategias, Análisis Factorial.
Abstract
In the research undertaken with a sample of 408 higher education students we resorted to the Scale of Strategies for the Reconciliation of Professional and Family Life to assess the variables Reconciliation through Concession'' and ''Reconciliation through Negotiation''. It was observed that the study participants tend to agree with negotiation as the strategy for reconciliation; however there are statistically significant differences with regard to gender and political orientation. In this sense, men and people with right wing or centre-right wing political orientation tend to disagree less with concession as a strategy for reconciling professional and family life.
Key Words Authors: Reconciliation of professional and family life; Anticipation of reconciliation; Students.
Key Words Plus: Family, Strategies, Factor Analysis, Statistical.
Introdução
Nas sociedades modernas, as exigências associadas ao mercado de trabalho e à vida familiar obrigam os indivíduos a recorrer a estratégias que tanto podem ser eficazes e terem repercussães positivas, como ineficazes e terem consequências negativas (Matias, Fontaine, Simão, Oliveira, & Mendonça, 2010). Estas estratégias são definidas como ''processos emergentes e fluidos que variam ao longo do ciclo de vida e também com o género'' (Moen & Yu, 2000, cit. Matias et al., 2010, p. 965).
De facto, e apesar da existência de medidas de carácter sócio-politico que regulam as atividades laborais e que defendem o apoio à família, verifica-se, no caso Português, que estas medidas estruturais ocorrem somente em períodos específicos e reduzidos da vida familiar, como é o caso das licenças de maternidade e paternidade, ou das licenças para acompanhar os/as filhos/as em caso de doença, etc. Outras medidas previstas na legislação laboral, nomeadamente, a passagem a horário de trabalho a tempo parcial ou o recurso à flexibilidade desse mesmo horário (ex. tele-trabalho), constituem-se também como recursos de extrema importância nos processos de conciliação de papéis profissionais e familiares.
Outras soluçães são encontradas pelas famílias, nomeadamente pelas que têm filhos/as pequenos/as, para facilitar a conciliação, como o recurso a equipamentos sociais de apoio à família (ex. creches, jardins de infância, centros de atividades de tempos livres) (eg., Guerreiro & Pereira, 2006; Risman & Ferree, 1995) ou o recurso a familiares (e.g., Ikkink, Tiburg, & Knipscheer, 1999; Riley & Glass, 2002).
A partir das conclusães obtidas por Matias e colegas (2010), é possível perceber que as estratégias mais utilizadas para a conciliação entre papéis são as instrumentais (recurso a apoio institucional) e as relacionais (promoção do bem-estar, do diálogo entre os cônjuges e da harmonia familiar e recurso às características dos próprios).
Apesar do parco número de estudos que pretendem analisar o modo como as famílias efetuam os processos de conciliação da vida familiar e profissional, nomeadamente em contexto português, existe um conjunto de indicadores que permitem inferir o modo como a conciliação se efetua em Portugal. Assim, e de acordo com o que acontece noutros países europeus, a progressiva entrada das mulheres no mercado de trabalho produziu importantes mudanças sociais, onde progressivamente o modelo ideal da mulher dedicada à casa e aos/às filhos/as perde a sua expressão, enquanto único papel social feminino (Torres, 2004; Wall, 1995). Apesar de, na atualidade, ''predominarem os casais de duplo emprego, alguns dados apontam-nos para uma maior sobrecarga das mulheres na acumulação de tarefas. Frequentemente, as mulheres que estão inseridas no meio laboral, tendem a fazer mais trabalho doméstico do que os homens na mesma situação'' (Fontaine, Andrade, Matias, Gato, & Mendonça, 2007, cit. Matias et al., 2010, p. 263).
Isto é, ''os padrães tradicionalistas, em especial no que diz respeito à divisão do trabalho doméstico e ao cuidado com os filhos, parecem permanecer inalterados'' (Andrade, 2006, p. 117).
De uma maneira geral, os estudos levados a cabo em Portugal, que analisam as práticas familiares, indicam que estas estão longe de serem igualitárias. A título exemplificativo, o estudo realizado por Perista (2002) dá conta de que o trabalho doméstico e os cuidados com os/as filhos/as permanecem altamente feminizados.
''... as estratégias mais utilizadas para a conciliação entre papéis são as instrumentais (recurso a apoio institucional) e as relacionais (promoção do bem-estar, do diálogo entre os cônjuges e da harmonia familiar e recurso às características dos próprios)''
Outro exemplo ilustrativo desta distribuição assimétrica pode ser analisado a partir da investigação levada a cabo por Torres (2004), em que a autora conclui que a mulher, comparativamente com o homem, continua a estar mais envolvida nas tarefas domésticas e na prestação de cuidados familiares.
Se a temática da conciliação é, como anteriormente referimos, um objeto de estudo ainda pouco indagado pelos/as investigadores/as, no mesmo sentido o são os estudos relativos à antecipação da conciliação de papéis familiares e profissionais. Isto é, são poucos os estudos que se debruçam sobre a análise de como os sujeitos antecipam os seus processos de conciliação futura entre o trabalho e a família.
Vários/as investigadores/as têm destacado os benefícios da antecipação dos processos de conciliação, ora como fator de êxito no equilíbrio futuro de papéis e satisfação global com a vida (Steffy & Jones, 1988), ora como fonte de influência positiva no sucesso da futura integração de múltiplos papéis (e.g., Granrose, 1985; Weitzman, 1994). Andrade (2006) sublinha que ''a análise das atitudes em relação aos domínios profissionais, familiares, de papéis de género, bem como em relação ao conflito potencial entre papéis profissionais e familiares, permitirá antever em que medida a valorização maior ou menor destes domínios se relaciona com as estratégias antecipadas para a futura conciliação de papéis'' (p. 131).
Contudo, os estudos invulgarmente clarificam o modo como as possíveis estratégias no âmbito da antecipação da conciliação entre papéis familiares e profissionais se podem materializar e nem sempre identificam as atitudes face a estas estratégias.
A investigação levada a cabo por Crisholm e Hurrelmann (1995), em cinco países da Europa, que pretendeu analisar a forma como jovens entre os 18 e os 30 anos antecipavam a futura conciliação dos papéis familiares e profissionais, concluiu que os sujeitos valorizam tanto a dimensão profissional, como a dimensão pessoal e a dimensão familiar. Apesar dessa valorização, o trabalho é considerado como prioritário, seguido da dimensão conjugal e à posteriori a dimensão familiar.
Guerreiro e Abrantes (2004), a partir do estudo desenvolvido com estudantes de ensino superior, concluem que os rapazes em situaçães esporádicas, com o objetivo de ''dar uma ajuda'', esperam colaborar no cuidado familiar e no trabalho doméstico. As raparigas, por comparação com os rapazes, parecem ter maior capacidade para antecipar possíveis conflitos entre papéis familiares e profissionais, sobretudo quando ao papel familiar se associa a parentalidade. Em suma, e como defendido pelos autores, para os homens, o papel familiar e o papel profissional são independentes. Já para as mulheres, estes papéis são interdependentes.
Orientados por estas análises, levamos a cabo um estudo que pretendeu analisar as estraté gias de conciliação que os/as estudantes de ensino superior perspetivam desenvolver com vista à conciliação entre vida profissional e vida familiar. Para tal foi utilizado a Escala de Estratégias de Conciliação entre Vida Familiar e Vida Profissional de Andrade (2006), procurando atender os seguintes objetivos:
• Considerando uma amostra de jovens do ensino superior, a presente escala assume a estrutura bifatorial proposto por Andrade (2006), pretendendo assim, corroborar esse medida na referida amostra;
• Avaliar a existencia de diferenças nas respostas de rapazes e raparigas no que diz respeito às estratégias de antecipação da conciliação entre vida profissional e familiar;
• Avaliar se o exercício de um papel profissional tem reflexos na antecipação de estratégias de conciliação de papéis. Isto é, há diferenças entre grupos de estudantes e estudantes-trabalhadores no que diz respeito às estratégias escolhidas para conciliar futuramente os papéis profissionais e familiares?
• Por fim, avaliar as diferenças entre a orientação política dos sujeitos no que se refere às estratégias de antecipação da conciliação entre vida profissional e familiar.
1. Método
1.1 Amostra
408 sujeitos de ensino superior na cidade do Porto - Portugal, com idades compreendidas entre 18 e 60 anos (M=23; DP=6.97), do sexo feminino (64%) e masculino (36%). No que se refere à for mação académica, os indivíduos distribuem-se da seguinte forma nas licenciaturas indicadas: 118 (29%) em Educação Social, nos cursos diurnos e pós-laboral (PL); 49 (12%) em Gestão do Património, nos cursos diurnos e pós-laboral; 40 (9.8%) em Tradução e Interpretação em Língua Gestual Portuguesa (TILGP), nos cursos diurnos e pós-laboral; 41 (10%) em Educação Musical; 68 (16.7%) em Educação Básica; 25 (6.1%) em Línguas e Culturas Estrangeiras (LCE); 47 (11.5%) em Ciências do Desporto e 20 (4.9%) em Artes Visuais e Tecnologias Artísticas (AVTA). Destes estudantes, 161 (39%) são do 1.° ano de licenciatura, 109 (27%) do 2.° ano e 138 (34%) do 3.° ano.
''... para os homens, o papel familiar e o papel profissional são independentes. Já para as mulheres, estes papéis são interdependentes''
Quanto ao estatuto do/a estudante face ao trabalho, a maioria dos/as estudantes não tem estatuto de trabalhador-estudante (83%). No conjunto dos cursos diurnos, apenas 11% dos/ as estudantes têm este estatuto, enquanto que nos cursos pós-laboral, a percentagem é relativamente mais elevada 37%. Dos/as estudantes com estatuto de trabalhador-estudante, a maioria trabalha em regime de full-time (61%).
Por fim, e no que se refere à orientação política dos/as estudantes, cerca de 33% assinalou ser de esquerda ou de centro esquerda. Cerca de 26% assinalou ser de direita ou de centro direita. Uma percentagem considerável assinalou a opção outra (30%).
1.2 Instrumento
No sentido de responder às questães de investigação levantadas, as variáveis consideradas neste estudo foram as estratégias de conciliação que estudantes do ensino superior antecipavam utilizar para harmonizar as responsabilidades profissionais e familiares e as variáveis demográficas. Para analisar a primeira variável fez-se uso da Escala de Estratégias de Conciliação entre Vida Familiar e Vida Profissional desenvolvida por Andrade (2006). Esta escala é constituída por 21 itens em que o sujeito tem de assinalar apenas uma opção numa escala de tipo Likert de 1 a 4 (1- concordo totalmente, 2- concordo, 3- discordo, 4 – discordo totalmente).
Os resultados fatoriais observado pela autora permitiram extrair dois factores: o primeiro factor ficou saturado pelos itens 1, 2, 4, 5, 8, 9, 12, 13, 16, 17, 20 e 21, que, ao nível conceptual, remetem para uma estratégia de conciliação da vida familiar e profissional, este fator se baseia na necessidade de efetuar concessães importantes ao nível pessoal, familiar e profissional; o factor 2, saturado por itens que apontam para uma estratégia de conciliação de papéis que se baseia na negociação e partilha de papéis no casal, reuniu os itens 3, 6, 7, 10, 11, 14, 15, 18 e 19. Quanto à consistência interna dos factores, esta foi obtida através do cálculo do alpha de Cronbach, sendo de 0.82 para o factor 1 e de 0.78 para o factor 2.
1.3 Procedimentos
No que se refere à análise dos dados desta pesquisa, utilizou-se a versão 17.0 do pacote estatístico SPSS para Windows. Foram computadas estatísticas descritivas (tendência central e dispersão). Os seguintes indicadores estatísticos para o Modelo de Equaçães Estruturais (SEM) foram considerados segundo a adequação de ajuste subjetiva. Esse programa estatístico tem a função de apresentar, de forma mais robusta, indicadores psicométricos que vise uma melhor construção da adaptação e acurácia da escala desenvolvida, bem como, permita desenhar um modelo teórico pretendido no estudo.
Assim, os indicadores estatísticos para o Modelo de Equaçães Estruturais (SEM), efetuados no AMOS GRAFICS na versão 16.0, foram considerados os seguintes:
• O x² (qui-quadrado) testa a probabilidade de o modelo teórico se ajustar aos dados; quanto maior este valor pior o ajustamento. Este tem sido pouco empregado na literatura, sendo mais comum considerar sua razão em relação aos graus de liberdade (x²/g.l.). Neste caso, valores até 5 indicam um ajustamento adequado;
• Root Mean Square Residual (RMR), que indica o ajustamento do modelo teórico aos dados, na medida em que a diferença entre os dois se aproxima de zero. Para o modelo ser considerado bem ajustado, o valor deve ser menor que 0,05;
• O Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI) são análogos ao R² em regressão múltipla. Portanto, indicam a proporção de variância–covariância nos dados explicada pelo modelo. Estes variam de 0 a 1, com valores no intervalo de 0,80 e 0,90, ou superior, indicando um ajustamento satisfatório (Hair, Anderson, Tatham & Black, 2005; Bilich, Silva & Ramos, 2006);
• O Comparative Fit Index (CFI) - compara de forma geral o modelo estimado e o modelo nulo, considerando valores mais próximos de um como indicadores de ajustamento satisfatório (Joreskög & Sörbom, 1989; Hair; Anderson; Tatham & Black, 2005);
• NFI que se caracteriza por ser uma medida de comparação entre o modelo proposto e o modelo nulo e representa um ajuste incremental que varia de zero a 1 (hum) e pode ser considerado aceitável para valores superiores a 0,90;
• Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA), com seu intervalo de confiança de 90% (IC90%), é considerado um indicador de adequação de ajuste, isto é, valores altos indicam um modelo não ajustado. Assumese como ideal que o RMSEA se situe entre 0,05 e 0,08, aceitando-se valores de até 0,10 (Kelloway, 1998; Garson, 2003).
Efetuou-se também, análises descritivas e teste t de student para amostra independente, este ultimo, tinha o objetivo de avaliar as diferenças nas pontuaçães médias dos respondentes em relação as variáveis avaliadas no estudo.
2. Resultados e discussão
Inicialmente, buscou-se avaliar no presente estudo, a estrutura da escala de estratégias de conciliação entre vida familiar e vida profissional (EECFP) em universitários portugueses. Tomando como base de referência teórico-metodológico o estudo de Andrade (2006), efetuou-se no pacote estatístico AMOS 16.0, uma análise fatorial confirmatória e modelagem de equação estrutural hipotetizando a bifatorialidade do modelo de acordo com o que foi proposto no estudo citado anteriormente; a saber: dimensão Conciliação através da Concessão é composta pelos itens 1, 2, 4, 5, 8, 9, 12, 13, 16, 17, 20 e 21 e a dimensão Conciliação através da Negociação composta pelos itens 3, 6, 7, 10, 11, 14, 15, 18 e 19.
Desta maneira, para não deixar dúvidas verificou- se uma estrutura fatorial comparativa da referida escala: (a) Modelo 1: unifatorial, em que todos os itens da EECFP apresentam saturação em um único fator e (b) Modelo 2: uma estrutura bifatorial proposto teoricamente e que se espera encontrar. Com isso, optou-se por deixar livres as covariâncias (phi, f) entre os fatores. Os indicadores de qualidade de ajuste do modelo se mostraram próximas às recomendaçães apresentadas na literatura (Byrne, 2001; Van de Vijver & Leung, 1997). Os resultados obtidos nestas análises, observadas na tabela 1, revelam que o melhor modelo para a EECFP é o modelo bifatorial, pois este revelou indicadores psicométricos melhor do que o modelo unifatorial (ver tabela 1).
Considerando que todas as saturaçães (Lambdas, Λ) estiveram dentro do intervalo esperado |0 - 1| e que foram estatisticamente diferentes de zero (t > 1,96, p < 0,05), denotou-se não haver problemas de estimação psicométrica que corrobora a existência de dois fatores para se avaliar EECFP: Conciliação através da Concessão que a nível conceptual remete para uma estratégia de conciliação que se baseia na necessidade de efetuar concessães importantes ao nível pessoal, familiar e profissional e Conciliação através da Negociação, que aponta para uma estratégia de conciliação que se baseia na negociação e partilha de papéis entre ambos os elementos do casal. Neste resultado observou-se um lambda associativo negativo entre as dimensães EECFP (Λ = -0.54) (ver figura 1). No que diz respeito à consistência interna dos factores, eles apresentaram alpha de Cronbach, respectivamente, 0.86 e 0.81, indicando uma boa consistência interna da escala, sendo melhores do que os observados por Andrade (2006).
Figura 1
A partir desses resultados, o modelo teórico foi comprovado, pois ele apresentou indicadores psicométricos aceito na literatura estatística quanto à modelagem estrutural realizada (Hair, Anderson, Tatham & Black, 2005; Joreskög & Sörbom, 1989) para a referida escala; optou-se em realizar análises descritivas das dimensães das escalas e contemplando as variáveis observadas e descritas anterioremente na estrutura fatorial (isto é, estratégia de concessão versus estratégia de negociação) foi observado o seguinte resultado: os sujeitos apresentaram médias superiores na dimensão Conciliação através da Concessão (M = 3.22; DP = 0.46) do que na Conciliação através da Negociação (M = 1.80; DP = 0.46) (ver tabela 2). Estes resultados indicam que os/as sujeitos do estudo tendem a discordar dos itens que descrevem a conciliação entre a vida familiar e a vida profissional através da concessão (ex., que o homem abdique da carreira profissional) e a concordar com os itens que revelam uma negociação (ex., o apoio do/a parceiro/a na execução das tarefas domésticas).
A maioria dos/as inquiridos/as discorda (62%) ou discorda totalmente (34%) da concessão para conciliar os papéis pessoais e profissionais, em contraste com a percentagem de 4% que concorda ou concorda totalmente. Em oposição, a grande maioria dos/as inquiridos/as concorda (65%) ou concorda totalmente (29%) com a negociação, enquanto que uma pequena percentagem discorda ou discorda totalmente (6%).
No que se refere ao sexo, efetuou-se um teste t de Student a fim de avaliar a diferença nas médias de respostas entre homens e mulheres em relação a EECFP (ver tabela 3). Além desses resultados serem significativos, recorreu-se à magnitude do tamanho do efeito verificado. Para tal, foi calculado o coeficiente d de Cohen, que é baseado nas diferenças estandardizadas de médias, sendo d = 0.20 considerado um efeito pequeno ou modesto, d = 0.50 um efeito moderado e d = 0.80 um efeito importante (Cohen, 1992). Assim, observaram-se diferenças entre o sexo masculino e o sexo feminino. Isto é, os estudantes do sexo masculino obtiveram médias mais baixas do que as participantes do sexo feminino relativamente à concessão (t(399) = -3.77, p < 0.01), sendo que o valor d de Cohen indica um efeito modesto.
Em contraste, estas participantes obtiveram médias mais elevadas relativa à negociação (t(399) = 2.80, p < 0.01), com o valor d de Cohen indicando um efeito pequeno. Estes resultados indicam que os participantes do sexo masculino tendem a discordar menos da concessão como forma de conciliação entre a vida familiar e profissional e a concordar menos com a negociação do que as participantes do sexo feminino.
Procurou-se tambem, as diferenças nas opiniães dos sujeitos de acordo com o estatuto deste face ao trabalho, isto é, se ele era apenas estudante ou estudante/ trabalhador. Assim, procedeu-se à comparação entre esses grupos e a partir de um teste t para amostras independentes observou-se que nos dois estatutos face ao trabalho, estes jovens nao se diferenciaram significativamente em sua média de respostas, isto é, os dois grupos tendem a ter opiniães similares.
Por fim, no que diz respeito as opiniães dos/as estudantes de acordo com a sua orientação política, a partir de um teste t, observou-se, significativamente, que o sujeito que afirma ter uma orientação política de direita ou centro direita apresentou média (M = 4.03; DP = 0.58) superior em relação ao estudante que diz ser de esquerda ou centro esquerda (M = 1.81; DP = 0.51) (ver tabela 5). Vale destacar que essa difrença significativa entre os/as estudantes em relação a concessão na conciliação da vida familiar e profissional (t(187.93) = -1.99, p < 0.05), apresentou um valor d de Cohen de 0.27 que corresponde a um efeito pequeno. Estes resultados indicam que os/as participantes de direita/centro direita tendem a discordar menos da concessão como forma de conciliação da vida familiar e profissional.
Partindo desses resultados, é possível salientar a existência tanto de uma estrutura fatorial adequada quanto consistente para mensurar a mensura as estratégias de conciliação entre vida familiar e vida profissional, já observado por Andrade (2006) em sua análise exploratória; com isso, os resultados da análise de modelagem estrutural corrobora a existência bifatorial da presente escala, a qual poderá ser encontrada em termos da Conciliação através da Concessão e da Conciliação através da Negociação, condição e que pode ser utilização quando se pretender avaliar este construto em universitários portugueses.
Em termos globais, a amostra estudada antecipa mais a necessidade de efetuar negociaçães do que concessães para conciliar a vida profissional e a vida familiar. Perante este resultado, é necessário ter em atenção que a média de idades da amostra estudada é de 23 anos, que a maioria é solteira e é estudante. Neste sentido, e conforme sugere Weitzman (1994), se por um lado, as geraçães jovens antecipam o seu futuro integrando papéis profissionais e familiares, por outro lado, o sujeito é levado a pensar que este resultado se deve ao facto de não se ter ainda a oportunidade de refletir de uma forma direta e ativa sobre a tarefa da conciliação de papéis, uma vez que as exigências de conciliação ainda não foram sentidas e experienciadas. Estudos realizados em Portugal e em outros contextos culturais mostram que as famílias, com vista à conciliação, desenvolvem estratégias como a concessão ou desinvestimento profissional (Andrade, 2010; Eby, Casper, Lockwood, Bourdeaux & Brinley, 2005; Haddock, Ziemba, Zimmerman & Current, 2001; Matias, Fontaine, Simão, Mendonça, & Oliveira, 2010, cit. Matias, Silva, & Fontaine, 2011).
As estudantes e os estudantes apresentam diferenças significativas nas estratégias em relação à conciliação de papéis: os estudantes esperam vir a efetuar mais renúncias ao nível pessoal, familiar e profissional do que as estudantes, o que contraria os resultados de outros estudos (eg., Andrade, 2006; Guerreiro & Abrantes, 2004). Este resultado leva-nos a pensar que as estudantes, talvez por via de atitudes mais igualitárias em relação aos papéis de género, estejam desta forma mais disponíveis a recorrer a estratégias de conciliação de papéis baseadas na negociação e na partilha de papéis no casal do que os estudantes. Para os estudantes, as opçães no domínio da conciliação passam por concessães, dado ser esta a estratégia mais tradicional para lidar com questães da conciliação de papéis.
Os/as estudantes e trabalhadores/as estudantes não apresentaram diferenças significativas nas estratégias de conciliação de papéis. Estes dados não confirmam os resultados obtidos por Andrade (2006); essa autora concluiu que a existência de diferenças entre grupos tem em conta o estatuto ocupacional: ''os trabalhadores têm atitudes que favorecem a estratégia da concessão ao nível pessoal, familiar e profissional do que os estudantes'' (p. 254).
De facto, seria de esperar que a problemática da conciliação de papéis fosse mais relevante para estudantes-trabalhadores que para estudantes, pela experiência do papel profissional, pois nas práticas diárias podem ter sido forçados/as a fazer ajustamentos e concessães que se afastam da visão ideal da conciliação de papéis.
Quanto à orientação política, verificaram-se diferenças entre grupos no que diz respeito à estratégia de conciliação: concessão. Verificou-se que os/as estudantes de direita/centro direita, comparativamente com os/as estudantes de esquerda/centro esquerda, tendem a antecipar que no futuro desenvolverão estratégias que implicam concessão. Partindo da perspetiva de Bobbio (1994), sobre a diferenciação analítica entre direita e esquerda, os resultados deste estudo parecem corroborar ideais menos igualitários por parte de sujeitos, e onde os processos de conciliação inevitavelmente terão que implicar concessães.
Com isso, de forma geral, seguir novos modelos sociais, ainda que comportamentos e atitudes tradicionais persistam, provavelmente, implicaria que os próprios estudantes tenham que fazer concessães para lidar com os múltiplos papéis exigidos no binômio universidade-trabalho. Este resultado pode indicar que a temática da conciliação de papéis começa a ser encarada como um desafio também para os rapazes. Mas, por outro lado, as mulheres esperam vir a desenvolver um modelo de conciliação de papéis mais simétrico e com base na negociação e partilha de papéis.
''... as estudantes, talvez por via de atitudes mais igualitárias em relação aos papéis de género, estejam desta forma mais disponíveis a recorrer a estratégias de conciliação de papéis baseadas na negociação e na partilha de papéis no casal do que os estudantes''
3. Conclusães
No presente estudo foram levantadas algumas questães relativas às diferenças de género, estatuto ocupacional e orientação política nas estratégias de antecipação da conciliação entre papel profissional e papel familiar. Recordando as principais diferenças encontradas ao nível das estratégias de conciliação, verificou-se que as mulheres valorizam mais do que os homens a estratégia de conciliação: negociação.
Ainda ao nível das diferenças encontradas entre estudantes com uma orientação politica de direita/ centro direita e esquerda/centro esquerda, verificou-se que estes/as últimos/as valorizam, mais do que os/as primeiros/as, a estratégia de conciliação: negociação.
Enquanto profissionais de educação, estes dados levam-nos a refletir sobre a utilidade de criar espaços de debate sobre as questões inerentes à igualdade, na medida em que tal poderá facilitar o questionamento sobre os desafios que se colocam a rapazes e a raparigas na operacionalização da conciliação e a reflexão sobre as estratégias que poderão ser desenvolvidas de forma a minimizar conflitos futuros.
Considerando esses resultados, faz-se necessário salientar que, apesar dos resultados sugerirem tanto a qualidade psicométrica da escala quanto a sua comparar ?com as variáveis do sexo, estatuto de estudante ou trabalhador-estudante ou ambos e de orientação politica, quando for considerar os resultados do presente estudo, deve-se ter em conta os aspectos mais específicos ou universais entre as culturas, inter e intracultural, na avaliação dessa escala quando se pretender adaptá-las para outros contextos. Por um lado, é importante considerar as dimensões locais, específicas ou exclusivas (emics) da orientação de cada cultura, bem como, e não menos importante, avaliar as dimensões universais (etics) da Cultura, com o objetivo de comparar os construtos estudados aqui para outro espaço geo-político e social (Muenjohn & Armstrong, 2007; Triandis e cols, 1993; Triandis, 1994; Van de Vijver & Leung, 1997).
Apesar de comprovar, neste estudo, o que se pretendia; nesse contexto teórico, pretende-se refletir em relação situação-disposição quando se tratar de predizer o comportamento humano – especificamente, o tipo de estratégia de Conciliação entre Vida Familiar e Vida Profissional. Sendo assim, alguns limites merecem ser destacados, pois estes resultados estão longe de responder definitivamente o problema aqui salientado: 1) seria útil um estudo com as mesmas variáveis entre grupos juvenis em diferentes contextos sócio-econômico e escolar; 2) avaliar o poder explicativo dessas estratégias a partir da dinâmica familiar e convergência da medida entre pais e filhos; finalmente, 3) seria útil as comparações entre estudos e avaliações experimentais quanto a variação dessas estratégias em tipo de empresas (especificamente, com trabalhadores) e em diferente paises.
Referências
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NOTAS
1 La presente investigación se realizó en el ámbito del Proyecto Diagnóstico e Implementación de la Igualdad de Género en la Escuela Superior de Educación del IPP, financiado por el POPH/QREN, 7.2 – Planos de Igualdade, n.° 058520/2011/72.