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Revista do NUFEN

On-line version ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.2 no.1 São Paulo June 2010

 

ARTIGOS

 

Convergências e divergências entre as psicoterapias de Carl Rogers e Frederick Perls

 

Convergence and divergence between Carl Rogers' and Frederick Perls' psychotherapies

 

 

Virginia Moreira1

Universidade de Fortaleza

 

 


RESUMO

Este artigo tem como objetivo discutir as convergências e divergências entre as psicoterapias de Carl Rogers e Frederick Perls e colaboradores. Apresenta como convergência epistemológica entre os dois pensamentos a teoria organísmica de Goldstein, que, por sua vez, se configura diferentemente em ambas as teorias, como tendência atualizante, em Rogers, e ajustamento criativo em Perls. Aspectos existenciais dos dois enfoques são também epistemologicamente pontos convergentes. Na prática clínica podem ser encontradas divergências no que se refere ao papel do psicoterapeuta – mais ativo na Gestalt-terapia e predominantemente verbal na Abordagem Centrada na Pessoa, bem como no otimismo harmônico rogeriano em contraposição à agressividade, em Perls, e no caráter positivo presente no processo terapêutico em Rogers, ao contrário do trabalho sobre polaridades desenvolvido por Perls. Enquanto teorias expoentes no campo da psicologia humanista contemporânea, seu caráter dialógico se mostra como a convergência mais fecunda.

Palavras-chave: Psicoterapia, epistemologia, Carl Rogers, Frederick Perls.


ABSTRACT

This article aims to discuss the similarities and differences between the Carl Rogers' and Frederick Perls and collaborators' psychotherapies. It presents as epistemological convergence between the two thoughts Goldstein's organismic theory, which is configured differently in both theories, as the realization tendency in Rogers, and the creative adjustment in Perls. Existential aspects of the two approaches are also epistemologically convergent. In clinical practice it can be found disagreement regarding the role of the psychotherapist - more active in Gestalt therapy and predominantly verbal in Person Centered Approach - as well as the harmonic Rogerian optimism as opposed to aggression in Perls. There is also disagreement concerning the positive character of the therapeutic process in Rogers, unlike the work of polarities developed by Perls. As exponents theories in the field of contemporary humanist psychology, its dialogical character appears as the most fruitful convergence.

Keywords: Psychotherapy, epistemology, Carl Rogers, Frederick Perls.


 

 

INTRODUÇÃO

Ainda que as teorias de psicoterapia propostas por Carl Rogers e Frederick Perls e colaboradores sejam, atualmente, as duas propostas teóricas de psicoterapia provavelmente mais conhecidas e desenvolvidas dentre as chamadas psicologias humanistas, reconhecer suas convergências e divergências é fundamental para a prática clínica, dado que são abordagens epistemologicamente distintas e, por conseguinte, teorias de psicoterapia também diferentes. Este tema adquire especial importância no Brasil, onde a historia da psicologia humanista é peculiar no sentido de, em muitos momentos, "juntar" estas duas abordagens, fato que não acontece em outros lugares do mundo, onde gestat-terapeutas e psicoterapeutas centrados na pessoa pertencem a diferentes grupos. Quando esta aproximação entre a Abordagem Centrada na Pessoa e a Gestalt-terapia ocorre de maneira pouco criteriosa do ponto de vista epistemológico, as convergências passam a ser priorizadas e as divergências são perdidas de vista, o que não apenas empobrece estas abordagens como pode vir a ter consequências graves na prática clínica, na medida em que intervenções do psicoterapeuta aparentemente similares têm, na verdade, significados diferentes a partir de fundamentos também diferentes.

Discutir as convergências e divergências entre as propostas de psicoterapia de Carl Rogers e Frederick Perls exige que partamos deles mesmos, tanto no que se refere aos seus estilos pessoais e histórias de vida quanto no que diz respeito à teoria em si que cada um deles desenvolveu como proposta de psicoterapia. A partir das convergências e divergências epistemológicas das propostas originais de psicoterapia destes dois grandes nomes da psicologia humanista – Carl Rogers e Frederick Perls – este artigo tem como objetivo discutir as principais convergências e divergências entre as duas teorias no que se refere ao papel do psicoterapeuta, ao processo psicoterapêutico e à prática psicoterápica.

 

CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS EPISTEMOLÓGICAS

A noção de organismo no pensamento de Rogers e o conceito de tendência atualizante

Em Terapia Centrada no Cliente, aparecem as primeiras referências à tendência direcional positiva, definida como uma tendência espontânea, presente em todos os organismos vivos, que será nomeada como tendência atualizante (ROGERS 1951/1992). Este conceito passou a ser o eixo da Psicoterapia Centrada na Pessoa e, em sua última fase, da Abordagem Centrada na Pessoa, tal como descrito no livro Um jeito de ser, onde esta noção encontra-se ampliada para o conceito de tendência formativa (ROGERS, 1983). A tendência atualizante é descrita como uma possibilidade inerente e intrínseca à pessoa, como uma tendência natural ao desenvolvimento (ROGERS, 1965/1977). Rogers refere-se a esse modelo de pessoa como a que exerce completamente as potencialidades de seu organismo, sem nunca deixar de evoluir. A noção de organismo é, então, central em seu pensamento: o funcionamento organísmico (ROGERS, 1961/1976) se dá através da tendência atualizante, que faria brotar a enorme capacidade de aprendizagem e criatividade da pessoa, quando esta se encontra em uma atmosfera facilitadora (MOREIRA, 2007).

Segundo Rogers (1961/1976), a psicoterapia desempenha um papel extremamente importante na libertação e no processo de facilitação da tendência do organismo para um desenvolvimento psicológico ou para a sua maturidade, quando esta tendência se viu bloqueada. Ou seja, o processo psicoterápico gira em torno do funcionamento organísmico através da tendência atualizante do cliente. O papel do psicoterapeuta é o de facilitar que esta tendência atualizante possa fluir de forma natural e espontânea, de forma a que o cliente possa construir sua vida positivamente.

Em um de seus seis artigos seminais – As condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica de personalidade, Rogers (1957/1994, p. 157-158), resume o processo terapêutico propiciador de uma mudança construtiva da personalidade:

1. Que duas pessoas estejam em contato psicológico;

2. Que a primeira, a quem chamamos cliente, esteja num estado de incongruência, estando vulnerável e ansiosa;

3. Que a segunda pessoa, a quem chamaremos de terapeuta, esteja congruente ou integrada na relação;

4. Que o terapeuta experiencie a consideração positiva incondicional pelo cliente;

5. Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática do esquema de referência interno do cliente e se esforce por comunicar esta experiência ao cliente;

6. Que a comunicação ao cliente da compreensão empática do terapeuta e da consideração positiva incondicional seja efetivada, pelo menos num grau mínimo.

O processo terapêutico para Rogers consiste, portanto, em facilitar que o cliente saia do estado de incongruência, definido como desacordo entre o eu e a experiência, onde a pessoa deixa de seguir naturalmente o fluxo espontâneo de sua tendência atualizante.

É, pois, em conseqüência da violação de sua função de avaliação 'organísmica' que o indivíduo perde o estado de integração característico de sua infância [...] Portanto, o individuo não é mais capaz de funcionar como uma pessoa perfeitamente integrada e unificada. (ROGERS 1965/1977, p. 202).

Ou seja, o funcionamento congruente seria definido como organísmico, natural, espontâneo, inerente. O estado de incongruência ou desacordo se instala a partir da experiência vivida de não ser aceito incondicionalmente, o que vem a fazer com que a pessoa passe a funcionar incongruentemente, ou em um estado de desacordo entre seu eu e sua experiência. Como facilitador deste processo, o psicoterapeuta se utilizará das atitudes básicas facilitadoras: autenticidade, empatia e consideração positiva incondicional, que Rogers (1961/1994, p. 115), em outro destes artigos seminais – A equação do processo da psicoterapia – resume da seguinte forma:

Quanto mais o cliente perceba o terapeuta como genuíno, empático, manifestando uma consideração incondicional por ele, mais se distanciará de um tipo de funcionamento estático, sem sentimentos, fixo, impessoal e mais se aproximará de um modo de funcionamento caracterizado pela experiência fluida, mutável e aceitadora dos sentimentos pessoais diferenciados.

A noção de organismo no pensamento de Perls e o conceito de ajustamento criativo

No primeiro capítulo do livro Gestalt-terapia os autores definem psicologia como

o estudo dos ajustamentos criativos. Seu tema é a transição sempre renovada entre a novidade e a rotina que resulta em assimilação e crescimento. Correspondentemente, a psicologia anormal é o estudo da interrupção, inibição ou outros acidentes no decorrer do ajustamento criativo. (PERLS; HEFFERLINE; GOODMAN, 1951/1997, p. 45).

Ajustamento criativo significa auto-regulação, abertura ao novo, contato vivo e vitalizante, referindo-se à formação de novas configurações pessoais (ou gestalten) a partir da entrada de novos elementos através da experiência de contato. Ou seja, o ajustamento criativo é a superação de antigas estruturas relacionais que já não funcionam, através de um processo de re-estruturação com a integração do novo (LOFREDO, 1994). Trata-se da auto-regulação do fluxo figura/fundo através do contato.

O ajustamento criativo enquanto critério de saúde se contrapõe ao controle externo, agarramento ao passado, comportamento estereotipado, ou seja,

tem a ver com a dialética de continuidade e mudança, com a inserção estrutural do novo no velho, para formar com ele uma nova configuração [...] Transformar repetição em recordação é o que Perls chama de "encerrar situações inacabadas" para que novos espaços possam ser explorados. (TELLEGEN, 1984, p. 46).

Para Perls, Hefferline e Goodman (1951/1997, p.54) "método de tratamento é entrar em contato cada vez mais íntimo com a crise atual até que nos identifiquemos com o risco do salto para o desconhecido, com a integração criativa vindoura da divisão".

Contato é o reconhecimento e a forma de lidar com o outro, o diferente, o novo, o estranho, o não-eu. E comentam Perls, Hefferline e Goodman (1951/1997, p. 44): "... todo contato é criativo e dinâmico. Ele não pode ser rotineiro, estereotipado ou simplesmente conservador porque tem de enfrentar o novo, uma vez que só ele é nutritivo". É a forma como o indivíduo se relaciona com o meio e consigo mesmo, sendo sempre uma forma de atividade, a realidade mais singular e primeira, um fenômeno relativo aos limites entre o organismo e o meio: "Falamos do organismo que se põe em contato com o ambiente, mas o contato é que é a realidade mais simples e primeira" (PERLS, HEFFERLINE; GOODMAN; 1951/1997, p. 41).

O conceito de organismo é fundamental em todo o pensamento de Perls (1942/2002, p. 39), encontrando-se presente já nas primeiras páginas de Ego, fome e agressão:

O propósito deste livro é examinar algumas reações psicológicas e psicopatológicas do organismo humano em seu ambiente. A concepção central é a teoria de que o organismo se esforça pela manutenção de um equilíbrio que é continuamente alterado pelas suas necessidades, e recuperado por sua satisfação ou eliminação.

Para Perls, Hefferline e Goodman (1951/1997, p. 35), a saúde mental e o crescimento terão lugar a partir da formação de gestalten completas. A situação inacabada, ou a gestalt aberta poderá atrapalhar a formação de novas vigorosas gestalten, impedindo o desenvolvimento do indivíduo. Assim,

na luta pela sobrevivência, a necessidade mais importante torna-se figura e organiza o comportamento do indivíduo até que seja satisfeita, depois que ela recua para o fundo (equilíbrio temporário) e dá lugar à próxima necessidade mais importante agora.

Na relação figura/fundo a figura se destaca em um fundo difuso e amorfo que diz respeito ao campo perceptual, ou seja, tudo o que diz respeito ao organismo e ao ambiente. O significado da figura existe sempre em sua relação contextual com o fundo. Na perspectiva da Gestalt-terapia a vida saudável seria a expressão da fluidez no processo de formação figura/fundo, no qual as necessidades do organismo são satisfeitas conforme sua emergência.

O processo terapêutico na Gestalt-terapia busca o restabelecimento do ciclo de contato, através de novas formas de ajustamento criativo que venham a suprir as necessidades do organismo através de um funcionamento satisfatório e saudável. A psicoterapia buscará, assim, fortalecer o fluxo da dinâmica figura-fundo no campo organismo-ambiente, fechando Gestalten abertas ou situações inacabadas e re-configurando novas figuras. Para Perls (1951/1997, p. 48), Hefferline e Goodman, em psicoterapia procuramos a investigação de situações inacabadas na situação atual. O papel do psicoterapeuta será o de buscar que o cliente possa "restabelecer a fluidez do processo de formação figura/fundo por meio da análise das estruturas internas da experiência presente" (ARAÚJO, 2007, p.113).

A teoria organísmica de Kurt Goldstein como fundamento em Rogers e em Perls

Kurt Goldstein propôs a concepção de organismo como um todo, rompendo com a tradição clássica de que temos órgãos isolados. Com base nesta concepção, Perls ampliou as bases da Gestalt-Terapia, tomando por objeto não mais funções psicológicas isoladas, tais como percepção, aprendizagem etc., mas o organismo como um todo em seu funcionamento (LOFFREDO, 1994; TELLEGEN, 1984). Assim, em seu livro Escarafunchando Fritz, Perls (1969/1979, p. 21) afirma: "nós somos organismos...". E Rogers (1977/1978, p. 227) argumenta:

Não sou o único a ver tal tendência à realização como a resposta fundamental à questão do que faz um organismo funcionar. Goldstein, Maslow, Angyal e outros defenderam pontos de vista similares e influenciaram meu próprio pensamento.

A literatura referente às obras de Rogers e Perls é unânime no que se refere à influência da teoria organísmica de Kurt Goldstein no pensamento de ambos os autores. Tanto Rogers (1977/1978), como Perls (1942/2002) inclusive fazem referências diretas a Goldstein em suas obras. Ambos se utilizam da noção de organismo, de fluxo de vida bem como de exemplos marcadamente "vitalistas" ou "biológicos" em suas teorias psicológicas (BORIS, 1990; LOFFREDO, 1994; MOREIRA, 2007; TELLEGEN, 1984).

Mas, ainda que devamos reconhecer a influência epistemológica da teoria organísmica de Goldstein tanto em Rogers como em Perls, com suas devidas implicações para a prática clinica, é importante identificar como se dá esta influência em cada um destes pensamentos, até tendo em vista que Perls teve um contato direto com Goldstein, tendo trabalhado como seu assistente nas pesquisas de lesões cerebrais em soldados em 1926 (BORIS, 1995). Já Rogers, com o pragmatismo que lhe é peculiar (CAVALCANTE JUNIOR, 2008), só assume a influência de Goldstein, bem com outras influências em seu pensamento, em suas últimas obras.

O que se pode observar é que é evidente a visão de homem enquanto um organismo, tanto na Abordagem Centrada na Pessoa como na Gestalt-Terapia, tal como se pode entender a partir dos conceitos de tendência atualizante em Rogers e de ajustamento criativo, contato e figura/fundo em Perls e seus colaboradores, o que, parece inserir a ambos os pensamentos, na matriz vitalista e naturista no sentido dado por Figueiredo (1991) como teorias que priorizam o fluxo vital da vida (MOREIRA, 2009b). No entanto, a influência de Goldstein parece ter sido muito mais complexa e profunda na Gestalt-terapia através da apropriação mais direta dos princípios da psicologia da gestalt, a partir da qual, inclusive, foi nomeada a Gestalt-terapia.

A divergência epistemológica fundamental entre a Abordagem Centrada na Pessoa e a Gestalt-Terapia se refere ao fato de que a tendência atualizante em Rogers é um conceito metafísico, enquanto que os conceitos de ajustamento criativo, contato, figura/fundo são conceitos que se dão no campo organismo-meio. Ou seja, Rogers se mantém preso a dualismos como externo x interno, individual x social (MOREIRA, 2007). Rogers (1977/1978, p. 227) define a tendência atualizante como uma capacidade de desenvolvimento que o organismo traz dentro dele: "significa uma tendência para a auto-regulação e fora do controle exercido por forças externas". A visão dualista apontada por Figueiredo (1991) como característica da matriz vitalista e naturista é evidente ao longo de toda a obra rogeriana, estendendo-se até aos seus escritos mais recentes, publicados em Um Jeito de Ser, onde Rogers (1983, p. 105), constantemente, utiliza os termos "interior" e "exterior": "... parece que em nosso mundo interior está sempre ocorrendo algo que absolutamente não conhecemos, a não ser que eliminemos os estímulos externos"; ou: "o bom da vida é interior e não depende de fontes externas" (ROGERS, 1983, p. 67).

O vitalismo associado ao funcionamento organísmico está igualmente presente na Gestalt-Terapia, tal como pode ser ilustrado em Abordagem Gestáltica e testemunha Ocular da terapia, onde Perls (1973/1977, p. 174) identifica na psicose uma desorganização da força vital:

O psicótico tem uma camada de morte muito grande, e esta zona morta não consegue ser alimentada pela força vital. Uma coisa que sabemos ao certo é que a energia vital, energia biológica ou como quiserem chamá-la, torna-se incontrolável no caso da psicose.

No entanto, ajustamento criativo, contato, ciclo de contato não são conceitos metafísicos e nem se referem a uma interioridade. Ao contrário, são compreendidos no campo organismo-meio. Esta compreensão do processo psicoterapêutico na interseção do singular com o universal aproxima a Gestalt-terapia da fenomenologia, ainda que mantenha sua base naturista e organicista. Müller-Granzötto e Müller- Granzzötto (2007) afirmam que na esteira de Goldstein, os fundadores da GT se voltam para a fenomenologia formulada depois da ida de Husserl para Frankfurt em 1907.

Esta divergência epistemológica (que parte de uma convergência via teoria organísmica de Goldstein) dará lugar a diferentes compreensões do processo psicoterapêutico. O papel do psicoterapeuta centrado na pessoa será o de facilitar o livre fluxo interior da tendência atualizante enquanto que o papel do Gestalt-terapeuta será o de facilitar o fluxo figura/fundo e o ajustamento criativo no campo organismo-meio. Neste sentido é fundamental não "misturar" as teorias, ainda que ambas possam vir a alimentar a clínica, entendendo a psicoterapia enquanto um instrumento de "resgate" do funcionamento organismico do cliente.

A Fenomenologia-Existencial nas teorias de Rogers e Perls

Pesquisa fenomenológica (MOREIRA, 1990, 2001 e 2007) teve como objetivo identificar em que medida a psicoterapia rogeriana segue uma metodologia fenomenológica, investigando as articulações de sentido que derivam da relação terapeuta-paciente e se essa psicoterapia se apóia na experiência intersubjetiva que se constitui nesse campo. Esta pesquisa identificou que as intervenções de Rogers na terapia pressupõem uma concepção dualista, que prioriza um interior como sendo a pessoa em si mesma. A visão dualista evidencia-se através da priorização de um dos pólos ou de uma das partes, o interior, que, considerado por si mesmo, é entendido como único, unidade, indivíduo e centro (MOREIRA, 2007). A análise do processo psicoterapêutico e do papel do terapeuta nas décadas de 1940, 1960 e 1980, realizada na referida pesquisa, mostra que ainda que Rogers tenha adotado um direcionamento fenomenológico na década de 1960, na assim chamada fase experiencial (MOREIRA, 2007; HOLANDA, 1998 a e b), ele voltou a se distanciar de uma fenomenologia clínica na década de 1980, em sua fase coletiva ou inter-humana (1970-1987), mantendo-se preso à idéia de pessoa "interior", como centro (MOREIRA, 2001 e 2007).

Tal como lembra Moreira (2007), só em 1951, na primeira edição do livro Terapia Centrada no Cliente, Rogers (1951/1992) fez as primeiras alusões à filosofia existencial e fenomenológica. Introduziu, então, o conceito de campo fenomenal, como sua primeira tentativa de elaborar teoricamente a relação terapeuta-cliente. Em 1961, em seu livro Tornarse Pessoa, Rogers (1961/1976) discute seu dilema entre o positivismo lógico e a abordagem existencial, de fato, experiencial, pois mais baseada em sua própria experiência do que em qualquer corrente existencialista. Declarou, explicitamente, não ter estudado a filosofia existencial, com a qual tomou contato tardiamente a partir da leitura de Buber e de Kierkegaard, em resposta à insistência dos seus alunos. Seu contato com Gendlin (1970) neste período, possivelmente, contribuiu para que Rogers passasse do positivismo lógico para uma orientação existencialista, o que teria configurado, segundo seus comentadores, a fase experiencial; no entanto, considerar toda a psicologia rogeriana como fenomenológica seria um exagero, haja vista que Rogers adotou tal denominação tardiamente e nunca tentou praticar, intencionalmente, uma abordagem fenomenológica (SPIEGELBERG, 1972; CURY, 1987; HOLANDA, 1998 a e b; MOREIRA, 2001, 2007, 2009).

No que se refere mais especificamente a uma base de cunho existencial no pensamento de Carl Rogers, na medida em que ele entende o homem como seu próprio arquiteto, a ênfase existencialista, ainda que nem sempre fenomenológica, se mostra como o ponto de maior aproximação com a idéia existencialista de homem como projeto, responsável por suas escolhas, como delimita Sartre (1984, p. 177): "o homem define-se pelo seu projeto". Neste sentido, não é por acaso que a Abordagem Centrada na Pessoa em muitas formas fez parte do movimento da Psicologia Existencial encabeçado por Rollo May nos Estados Unidos. Toda a proposta clínica rogeriana parte da idéia de que o homem, que tem uma tendência atualizante, é capaz de realizar suas escolhas. Para Rogers (1961/1976, p. 171/172):

Na relação terapêutica, algumas das experiências mais intensas são aquelas em que o paciente sente dentro de si mesmo o poder nítido da escolha [...] quanto mais a pessoa viver uma 'vida plena' [o que seria o objetivo da psicoterapia] mais experimentará a liberdade de escolha e mais a sua escolha se traduzirá eficazmente no seu comportamento.

Assim, ainda que seja um engano afirmar que a fenomenologia-existencial influenciou a Abordagem Centrada na Pessoa (GOBBI e MISSEL, 1998), é possível identificar na prática clinica de Carl Rogers aspectos existenciais e fenomenológicos que se tornaram mais presentes na fase experiencial de Rogers (1957-1970). É este desenvolvimento cuja prática clinica mais se aproxima da Gestalt-terapia no que se refere à ênfase no aqui-eagora, ao trabalho com o como em lugar dos porquês e, principalmente, pela compreensão do processo psicoterapêutico como ocorrendo em um campo fenomenal com base em uma relação intersubjetiva.

Para a grande maioria dos autores da área a herança fenomenológica chega à Gestalt-terapia via psicologia da gestalt, por sua vez inspirada em Husserl. Desta forma é que, ao contrário de buscar as causas ou os porquês, a abordagem gestáltica pretende captar como ocorre um dado fenômeno, tomando-o em sua totalidade e buscando detectar em função de quê se estrutura o todo; daí o termo gestalt, que significa configuração, estrutura, tema, relação estrutural ou todo significativo (LOFFREDO, 1994).

A preocupação da Gestalt-terapia com o todo, de forma não dualista, não cindida em exterior x interior é uma característica eminentemente fenomenológica, visto que a superação do dualismo permeia toda a tradição fenomenológica. No seu livro A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, Perls (1973/1977, p. 24) critica, explicitamente, as escolas tradicionais de psicoterapia, que continuam a operar em termos da velha cisão corpo/mente, mantendo-se presas à concepção de causalidade. Segundo ele, "o homem não é uma criatura puramente racional"; em psicoterapia, o conceito de campo unificado "nos dá um instrumento para lidar com o homem global. Agora podemos ver como suas ações mentais e físicas estão entrelaçadas" (PERLS, 1973/1977, p. 30).

No que se refere a uma base epistemológica existencialista, é possível encontrar na Gestalt-terapia, de forma muito explicita, a idéia do homem como responsável por suas escolhas, idéia marcante no existencialismo. Tal idéia pode ser encontrada em Perls (1973/1977, P. 38), ao descrever, por exemplo, o funcionamento de fuga do contato do neurótico: "perdeu a liberdade de escolha, não pode selecionar meios apropriados para seus objetivos finais porque não tem a capacidade de ver as opções que lhe estão abertas". De fato, são possíveis muitas aproximações entre a Gestalt-Terapia e a Fenomenologia Existencial, tendo, inclusive, o próprio Perls (1973/1977) afirmado considerar a Gestalt-Terapia como um dos três tipos de psicoterapia existencial, juntamente com a Logoterapia, de Victor Frankl e a Dasein-Análise, de Ludwig Binswanger. De tal forma que, para grande parte dos gestaltterapeutas atuais, mais do que como base epistemológica, o processo psicoterápico terá na fenomenologia-existencial importantes elementos que levarão a intervenções do psicoterapeuta no sentido de priorizar o como e não os porquês e a ênfase no aqui-e-agora. É possível sintetizar com Loffredo (1994, p. 77) as principais características do método fenomenológico presentes no processo psicoterápico:

1) dar ênfase à experiência imediata aqui-e-agora, colocando-se entre parênteses préconcepções estranhas a este vivido imediato;

2) buscar insight dentro da estrutura própria ao todo fragmentado que é o campo experiencial da percepção;

3) voltar-se a um trabalho de experimentação sistemática pra descrever com acuidade a estrutura dos fenômenos implicados;

4) buscar insight no próprio processo de awareness;

5) estar imbuído da 'atitude fenomenológica', que supõe ser a consciência sempre "consciência de", criando condição de existência do mundo e dando-lhe sentido.

A partir desta perspectiva epistemológica das possíveis divergências e convergências entre as propostas de psicoterapia de Carl Rogers e Frederick Perls em suas implicações na compreensão do processo psicoterapêutico e do papel do psicoterapeuta, sintetizo mais diretamente a seguir estas divergências e convergências na prática clinica.

 

DIVERGÊNCIAS NA PRÁTICA CLÍNICA

Rogers e Perls: estilos e personalidades diferentes

Em 1964, com fins de pesquisa, foram filmadas2 três sessões de psicoterapia com uma mesma cliente – Glória – que foi atendida por três diferentes psicoterapeutas: Carl Rogers, Frederick Perls e Albert Ellis. Estas entrevistas se tornaram clássicas no estudo do processo e do papel do psicoterapeuta em cada uma das teorias propostas por cada um destes psicoterapeutas. A análise das sessões realizadas respectivamente por Rogers e Perls dá lugar a uma serie de observações interessantes. Mas o que salta aos olhos é a diferença de estilo de cada um, o que parece repercutir diretamente na relação intersubjetiva com a cliente.

É possível pensar que a Abordagem Centrada na Pessoa e a Gestalt-terapia são, originalmente, e em muitas maneiras, um retrato de seus criadores, tal como acontece com outras teorias. Assim, lembrar que Rogers era norte-americano e Perls europeu, Rogers era psicólogo, Perls era médico, bem como conhecer um pouco de suas vidas e personalidades possibilita uma melhor compreensão de cada uma destas teorias da psicoterapia. Neste sentido Boris (1990, p.115) observa em Rogers e Perls diferenças de estilo de vida e de tipologia de personalidade:

Perls parece caracterizar-se pela vitalidade e pela inquietação, sendo um homem de intuição e de ação. Os que conheceram Rogers salientam sempre sua serenidade e humildade, bem como sua capacidade de star com o outro e de aceitá-lo. Rogers conquistava as pessoas por estas qualidades e por sua ternura, enquanto Perls as atraía por seu impacto pessoal, seu espírito vivo e crítico, e até por sua arrogância. Enquanto Rogers demonstrou uma produtividade intelectual constante, que se estende por quase cinqüenta anos, a inquietação intelectual e pessoal de Perls impediu-o de elaborar e aprofundar mais consistentemente suas idéias e intuições.

São estes dois homens de personalidade tão diferentes que vemos atendendo a Glória, nas sessões de psicoterapia filmadas. Mas o que é interessante observar é como o processo psicoterapêutico é diferente em cada uma delas, ou, principalmente, como Glória, a mesma cliente, é uma pessoa diferente em cada uma das sessões. Com Rogers ela é reflexiva, ponderada, quieta. Com Perls Gloria se torna impetuosa, inquieta, agressiva. Esta mudança no funcionamento da cliente parece ter a ver com o estilo diferente de cada um dos psicoterapeutas. Rogers mais acolhedor, receptivo, escutando-a atentamente e falando pausadamente. Perls, entre um cigarro e outro, tem uma postura muito mais ativa e agressiva; intervém e até a corta a cliente em determinadas falas.

A partir destas observações é possível pensar em divergências entre a Abordagem Centrada na Pessoa e a Gestalt-terapia no que se refere ao papel do terapeuta, onde o Gestaltterapeuta tem um papel muito mais ativo no processo terapêutico. Na verdade, o que se observa é que o papel do psicoterapeuta é bem agressivo, questionando a cliente que, aparentemente, se sente pressionada e também age agressivamente na sessão com Perls, quando com Rogers estivera interagindo docilmente.

É difícil identificar até que ponto estas diferenças de estilo de seus criadores repercutem no processo terapêutico e no papel do psicoterapeuta em cada um destes referenciais. No entanto, o exemplo das sessões realizadas com Glória evidencia a relação intersubjetiva cliente-terapeuta onde a cliente funciona distintamente, na interseção do funcionamento do psicoterapeuta.

Psicoterapia essencialmente verbal x psicoterapia ativa

Vinculada à questão do estilo pessoal de Rogers e Perls, que faz do papel do psicoterapeuta mais ativo na Gestalt-terapia do que na Abordagem Centrada na Pessoa, é possível observar que

enquanto Rogers parece ter evitado sempre a utilização de quaisquer recursos além de sua própria presença e de sua capacidade empática, Perls, apesar de sua crítica ao tecnicismo, permitiu-se utilizar experimentos que acreditava facilitarem a tomada de consciência do(s) cliente(s), sempre tendo em vista o momento existencial do(s) mesmo(s) assumindo o que, de certo modo, poderia se chamar de uma postura "centrada na pessoa". (BORIS, 1990, p. 121)

Ou seja, embora assumindo uma postura terapêutica mais ativa através da proposta de técnicas ou experimentos, o que seria divergente da postura rogeriana, que se restringe a escuta atenta e centrada na pessoa, Boris (1990) identifica esta utilização das técnicas como convergente com uma postura "centrada na pessoa", dado que tem em vista o momento existencial do cliente. Ainda que seja possível se pensar nesta linha, a divergência quanto ao papel do psicoterapeuta como mais ativo na Gestalt-terapia e mais tranqüilo e restrito à escuta e compreensão do vivido pelo cliente se coloca, em princípio, como uma divergência entre estes dois referenciais.

Esta abertura à utilização de outros recursos levou a GT a ser classificada, da mesma forma que o psicodrama, como uma psicoterapia ativa, enquanto que a ACP tende a ser classificada como uma psicoterapia essencialmente verbal. (BORIS, 1990, p. 121).

Harmonia x agressividade

Enquanto uma abordagem eminentemente humanista norte-americana a Abordagem Centrada na Pessoa é perpassada pela visão harmônica do otimismo norteamericano. Rogers (1957) critica o paradigma da cultura ocidental de que a essência das pessoas é perigosa e destrutiva. Argumenta que sua experiência mostra o contrário: que existe outro paradigma mais eficiente para o indivíduo e para a sociedade: trata-se de assumir que a essência das pessoas é digna de confiança, uma vez que, existindo um clima psicológico adequado, elas podem mobilizar-se para o construtivo e para o criativo. Sobre esse tema, em maio de 1965, Rogers protagonizou na televisão de San Diego, nos Estados Unidos, uma discussão com o teólogo Tillich, que discordava da afirmação otimista e harmônica da natureza humana, defendendo a ambigüidade do homem e evocando suas tendências destrutivas. Nessa ocasião, Rogers mantém sua idéia otimista da natureza humana como fundamentalmente harmônica, acreditando que o destrutivo é criado pela sociedade. Esse ponto de vista mantém-se durante toda sua trajetória teórica, sempre com a base pragmática pautada em sua própria experiência clinica. Em artigos publicados posteriormente no Humanistic Psychology, Rogers (1982) re-afirma não ter encontrado em sua experiência tal tendência inata para a destruição e para o mal (MOREIRA, 2007).

Ainda que Perls tenha ido viver nos Estados Unidos, havendo, possivelmente absorvido características pragmáticas e individualistas que, inclusive, teriam a ver com suas próprias características pessoais, a Gestalt-terapia seria "um produto do existencialismo da Europa, vítima em seu próprio território das agruras da II Guerra Mundial e, por isso, tenderia a uma visão mais pessimista da condição humana" (BORIS, 1990, p. 121). Assim Perls dá à agressão e à destrutividade um destaque especial, fazendo parte, inclusive do título de sua obra seminal de 1942 – Ego, fome e agressão. Já na introdução desta obra Perls (1942/2002, p. 40) explica:

Quando decidi examinar a natureza da agressão me convenci cada vez mais de que não havia nenhuma energia chamada agressão, que agressão era uma função biológica que em nossa época tornou-se um instrumento de insanidade coletiva. (p. 40).

Entendida como função biológica, a agressão será fundamental no processo de assimilação a ser desenvolvido pelo individuo no campo organismo-meio. O processo de desenvolvimento humano implica necessariamente em um processo de destruição: tal como os molares destroem o alimento para que o organismo o absorva, no contato com o meio o individuo necessita destruir para assimilar este contato com o meio de uma forma nutritiva, que leve ao crescimento (PERLS, 1942/2002).

Assim, enquanto Rogers (1982) chega a reconhecer sua dificuldade em manejar os sentimentos negativos e sua tendência a evitá-los, para Perls (1969/1979, p. 250) a agressão "não é uma energia mística, nascida de um instinto de morte. Agressão é uma energia biológica, necessária para morder, mastigar e assimilar substâncias estranhas".

Tanto o otimismo em Rogers, que tem sua base epistemológica no conceito de tendência atualizante, como a agressividade em Perls, que tem seu fundamento na noção de assimilação no campo organismo-meio, têm implicações na prática clinica tal como pode ser observado nos filmes de Glória. Rogers acolhe a cliente e a escuta acreditando que ela mesma, de forma harmônica, é capaz de encontrar as saídas para seus problemas. Já Perls, atendendo a Gloria, confronta-a de forma notoriamente agressiva, levando-a, também a interagir agressivamente com ele. Nesse sentido, a prática clinica em ambos os enfoques diverge nitidamente. O otimismo harmônico rogeriano parece dar lugar a uma prática clinica de cunho verbal onde a escuta empática e acolhedora será o principal fator facilitador na psicoterapia, enquanto que a agressividade em Perls (tanto em sua personalidade como em sua teoria) requer do psicoterapeuta um papel não apenas mais ativo, como também mais confrontante do conflito.

Positividade x polaridades

Tendo em vista a discussão dos aspectos divergentes na prática clinica de Rogers e Perls é importante ressaltar um outro aspecto, que por sua vez está relacionado aos itens anteriores: a questão da positividade versus polaridades no processo psicoterápico a partir do papel do psicoterapeuta em cada um destas propostas de psicoterapia.

Como já mencionado neste artigo, para Rogers (1961/1976, 1965/1977 e 1977/1978), todo organismo tem uma tendência para desenvolver suas potencialidades de forma positiva; trata-se de um potencial natural de crescimento pessoal inerente à pessoa, que se desenvolve sob condições facilitadoras. A teoria rogeriana tem como postulado fundamental a tendência atualizante, definida como intrínseca e inerente à pessoa, de tal forma que o homem é considerado como seu próprio arquiteto (MOREIRA, 2001/2007). Segundo Rogers (1961/1976, p. 16) "a abordagem centrada na pessoa baseia-se em uma premissa que a princípio pareceu arriscada e incerta: uma visão de homem como sendo, em essência, um organismo digno de confiança".

Ou seja, o processo psicoterápico parte do pressuposto de que o psicoterapeuta confia na capacidade do cliente de se desenvolver positivamente, a partir das condições facilitadoras propiciadas por ele no processo psicoterapêutico. Neste sentido, é possível, também, considerar o processo psicoterapêutico na Abordagem Centrada na Pessoa como tendo um caráter positivo, sendo o papel do psicoterapeuta facilitar esta positividade intrínseca ao indivíduo.

Já a Gestalt-terapia não trabalha apenas com uma única direção, mas com polaridades: o bem e o mal, o positivo e o negativo, a construção e a destruição a vida e a morte. Esta idéia encontra-se já presente em sua obra Ego, fome e agressão, onde Perls se utiliza do círculo de Yin e Yan para explicar seu pensamento com relação ao processo de diferenciação em opostos (PERLS, 1942/2002; TELLEGEN, 1984, BORIS, 1990; LOFREDO, 1994). Perls desenvolveu a Gestalt-terapia baseado em um modo de pensar em termos de polaridades, a partir da influência de Friedländer, compreendendo o desenvolvimento e a mudança como processos dialéticos de diferenciação. Por outro lado, já na África do Sul começou a se interessar pelo Zen-Budismo, mantendo este interesse ao longo de toda a sua vida.

Assim, é possível considerar que a prática clinica da Abordagem Centrada na Pessoa e da Gestalt-terapia diverge no que se refere à ênfase na positividade na Abordagem Centrada na Pessoa em contraposição à ênfase nas polaridades na Gestalt-terapia, o que, por sua vez, tem a ver com as respectivas teorizações de cada uma destas propostas de psicoterapia.

 

CONVERGÊNCIAS NA PRÁTICA CLÍNICA

Psicologia humanista A psicologia humanista, chamada a "a terceira força" em psicologia, nasce a partir da crítica do reducionismo e mecanicismo da psicanálise e do behaviorismo no sentido de que estas não davam conta da totalidade da existência humana. Do ponto de vista histórico um dos momentos que marca o nascimento da psicologia humanista é o Simpósio de Psicologia Existencial organizado por Rollo May em 1959, contando com a presença de Maslow, Allport e Rogers, entre outras personalidades. Este movimento ganhou força nos Estados Unidos, de forma que em 1961 foi criado o Journal of Humanistic Psychology e no ano seguinte foi fundada a American Association of Humanistic Psychology, que se tornou uma divisão da American Psychologial Association, em 1971, da qual Rogers já havia sido eleito presidente, em 1947. Ou seja, Carl Rogers esteve no cerne de todo o movimento que originou a psicologia humanista.

Já Frederick Perls ou seus colaboradores nunca desenvolveram seu trabalho diretamente ligado à psicologia humanista. Na verdade, a Gestalt-terapia em seus primórdios não tinha nada a ver com a psicologia humanista e Perls era extremamente crítico com relação ao movimento da psicologia humanista e seus protagonistas (LOFREDO, 1994).

Ainda nos dias de hoje, no Brasil, chama a atenção, por exemplo, que no Dicionário de Gestalt-terapia – "gestaltês" (D´ACRI, LIMA e ORGLER, 2007) não conste termos como humanismo ou psicologia humanista. No entanto, se pensamos que temas como liberdade, responsabilidade existencial, interação, consciência, auto-regulação, potencial humano e foco no presente permeiam a psicologia humanista, é possível compreender a inserção da Gestalt-terapia em meio à psicologia humanista, passando a ser, na verdade, uma de suas vertentes mais vigorosas. Os nomes de Carl Rogers e Frederick Perls são dois dos grandes nomes que representam a psicologia humanista na atualidade. De fato, é possível se afirmar que ambos os pensamentos, por caminhos diferentes, se inserem na assim chamada "contra-cultura" do movimento do potencial humano na metade do século XX nos Estados Unidos.

É importante lembrar que a história da psicologia humanista no Brasil tem um caráter peculiar, na medida em que a formação de psicoterapeutas brasileiros que beberam das duas fontes – do pensamento de Frederick Perls e do de Carl Rogers – não é algo raro. Em muitos casos este fato tem a ver com a marcante influência de Maureen Miller O'Hara, Gestalt-terapeuta e colaboradora de Rogers em La Jolla, que nos anos setenta e oitenta realizou, no Brasil, workshops e treinamentos formando uma importante geração de gestaltterapeutas brasileiros que foram influenciados diretamente também pelo pensamento de Carl Rogers.

O trabalho com grupos

Para Boris (1990) o trabalho com grupos é um dos pontos fortes de convergência entre a Abordagem Centrada na Pessoa e a Gestalt-terapia. Rogers foi um dos pioneiros no trabalho grupal e os grupos de encontro (ROGERS, 1970/1978). Perls (1977) por sua vez, chegava a privilegiar a terapia de grupo em detrimento da terapia individual, ainda que seu trabalho consistisse mais em uma terapia individual em grupo do que um trabalho grupal propriamente dito (TELLEGEN, 1984; BORIS, 1990).

No Brasil o trabalho psicoterapêutico com grupos no referencial humanista teve seu ápice nos anos setenta e oitenta, quando Rogers e seus colaboradores do Center of Studies of the Person, em La Jolla, na California, vieram ao Brasil desenvolver atividades de grupo que marcaram toda uma geração de psicoterapeutas brasileiros. Pessoalmente,

costumo dizer que faço parte de uma geração privilegiada de psicoterapeutas no Brasil, pelo fato de poder ter contado, na minha formação como psicoterapeuta humanista, com mestres como John Wood, Raquel Rosenberg, Maria Bowen, Maureen Miller e Carl Rogers. Durante a década de oitenta, participei de diversos workshops e treinamentos com estes mestres. Tais atividades de grupo representaram um marco importante na minha formação. Vivenciar e compreender processos grupais me levou a ampliar meu olhar sobre a psicoterapia individual, contribuindo para meu atual trabalho como psicoterapeuta humanistafenomenológica mundana. (MOREIRA, 2009a, p. 13).

É importante salientar que o trabalho com grupos trouxe implicações para a prática clinica da psicoterapia individual, tal como mostra Cury (1993). As contribuições de John Wood (1983, 2008) foram fundamentais neste desenvolvimento, merecendo especial destaque o Curso de Estudos Avançados em Abordagem Centrada na Pessoa coordenado por John Wood e Rachel Rosenberg nos anos oitenta em São Paulo. Por outro lado, também é importante novamente lembrar, que, entre estes profissionais que vinham ao Brasil ministrar cursos e workshops de grupos estava Maureen Miller O'Hara, gestalt-terapeuta que fazia parte da equipe de Carl Rogers e que formou gestalt-terapeutas brasileiros também sob a influência do pensamento de Carl Rogers. Dentre estes profissionais que fizeram formação com Maureen Miller O'Hara é importante destacar o nome de Gercileni Campos de Araújo que, por sua vez, formou toda uma geração nordestina de gestalt-terapeutas, atualmente atuantes tanto na clinica como na academia.

Ou seja, pelo menos no Brasil, o trabalho com grupos passou a ser uma convergência marcante na prática clinica da Abordagem Centrada na Pessoa da Gestaltterapia no sentido da compreensão do processo psicoterapêutico individual com base na relação intersubjetiva, como um grupo de duas pessoas (WOOD, 1983 e 2008). Como sublinha Maureen Miller O'Hara (2008) no prefácio do livro de John Wood – Carl Rogers' Person Centered Approach, na visão de Wood (e na sua própria, enquanto parceiros de trabalho de tantos anos na facilitação de grupos), a essência da abordagem centrada na pessoa seria privilegiar a experiência subjetiva dos participantes e confiar na sabedoria de auto organização do grupo. Foi esta aprendizagem dos processos grupais que veio a enriquecer a prática clínica brasileira da psicoterapia individual de gestalt-terapeutas e psicoterapeutas centrados na pessoa.

Psicoterapias da consciência

Na Abordagem Centrada na Pessoa e na Gestalt-terapia o processo psicoterápico gira em torno da consciência, sendo o papel do psicoterapeuta o de facilitar o processo de conscientização do cliente.

Na Abordagem Centrada na pessoa o conceito de consciência encontra-se associado ao conceito de experienciação cunhado por Eugene Gendlin, que Rogers associa à sua idéia de "consciência organísmica", aquela que envolve o campo perceptual como um todo, não se restringindo apenas à instância cognitiva. Rogers designa como "'conscientes' as experiências ou percepções simbolizadas, ou seja, tudo aquilo que o indivíduo se dá conta no momento atual, bem como as experiências pessoais ou periféricas capazes de entrar no campo de percepção a partir de estímulos adequados" (GOBBI e MISSEL, 1998, p.48).

Rogers (1961/1976, p. 166) descreve como objetivo do processo psicoterápico levar a pessoa a

uma abertura crescente à experiência [...] Uma grande parte do parte do processo terapêutico é a descoberta constante por parte do indivíduo de que está a experimentar sentimentos e atitudes que antes não tinha sido capaz de tornar conscientes.

O papel do psicoterapeuta será facilitar o processo do cliente de funcionar plenamente. Através da psicoterapia

o indivíduo torna-se um organismo que funciona mais plenamente e, devido à consciência de si mesmo que corre livremente na e através de sua experiência, tornase uma pessoa que funciona de um modo mais pleno. (ROGERS, 1961/1976, p. 170).

Este funcionamento a ser alcançado através da psicoterapia implica em "uma tendência crescente para viver plenamente cada momento" (ROGERS, 1961/1976, p. 167). Assim, conforme Rogers (1961/1976) o que pode ser chamado de consciência ou dar-se conta é um aspecto importante do processo terapêutico.

Em seu livro Escarafunchando Fritz Perls (1969/1979, p.88) afirma: "Eu fiz da tomada da consciência o ponto central da minha abordagem (...) Sem consciência nada há".

O "conscientizar-se" fornece ao paciente a compreensão de suas próprias capacidades e habilidades, de seu equipamento sensorial, motor e intelectual. Não se trata de consciente – que é puramente mental – como se a experiência fosse investigada somente através da mente e das palavras. (PERLS, 1969/1979, p. 77).

Ginger e Ginger (1995, p. 36) sintetizam que na Gestalt-terapia é mais importante descrever do que explicar, o como precede o porquê, a experiência imediata é essencial, o processo psicoterápico se desenvolve no aqui-e-agora. "Isto conduz, particularmente, à importância de uma tomada de consciência do corpo e do tempo vivido, como experiência única de cada ser humano, estranha a qualquer teorização preestabelecida".

A partir da importância da consciência e da conscientização é que tanto a Abordagem Centrada na Pessoa como a Gestalt-terapia são psicoterapias que trabalham com a realidade imediata, com o presente, e neste sentido a prática clinica encontra-se norteada pelas intervenções no aqui-e-agora, sempre priorizando o como, em detrimentos dos porquês. Não se trata de explicar, mas de comprender, dar-se conta. Na Gestalt-terapia os termos aqui-eagora e como se encontram descritos mais explicitamente, o que confirma a preocupação de Perls com a "técnica" de sua proposta psicoterápica. Com base na mesma idéia de psicoterapia como tomada de consciência, Rogers, também realiza uma psicoterapia que trabalha no aqui-e-agora e com o como, ainda que não se utilize destes termos em sua obra, preferindo as noções de atitudes que serão facilitadoras do processo psicoterápico.

Psicoterapias dialógicas

O termo dialógico foi desenvolvido pelo filósofo Martin Buber (1974), referindose à atitude relacional do ser humano. Tanto Perls como Rogers referem-se rapidamente ao pensamento de Buber em suas obras; Perls (1973/1977) por considerar a Gestalt-terapia uma filosofia existencial como a de Buber, Rogers (1961/1976) ao fazer uma analogia da relação psicoterápica com a relação Eu-Tu proposta por Buber. No caso da alusão de Rogers, Buber chegou inclusive a discordar dele em um debate realizado entre ambos, argumentando que a relação psicoterapêutica não poderia ser considerada uma relação Eu-Tu por que não era uma relação de mutualidade (BUBER e ROGERS, 1965).

A filosofia dialógica de Buber propõe uma ontologia da relação, uma postura relacional do interhumano, ou seja, trata-se de uma filosofia do encontro Eu-Tu. O dialógico inclui a relação e a atitude de ir na direção do outro na busca do encontro da totalidade da existência humana. O psicólogo norte-americano Richard Hycner estruturou estes conceitos dialógicos de Buber criando a psicoterapia dialógica cujo objetivo é desenvolver uma postura relacional das polaridades Eu-Tu e Eu-Isso no processo terapêutico, sendo a busca de mutualidade de contato que possibilita o processo de cura. Portanto, dialógica é uma forma de psicoterapia baseada no encontro do terapeuta e seu cliente. O foco dessa abordagem é colocar o encontro como tema central da psicoterapia. Segundo Amorim (2007), a abordagem dialógica estará comprometida com o encontro verdadeiro do terapeuta com o cliente.

Ainda que o nome de Buber tenha sido apenas eventualmente citado por Rogers e Perls e o termo dialógico não se encontre desenvolvido em suas obras, os desenvolvimentos mais recentes tanto da Abordagem Centrada na Pessoa como da Gestalt-terapia fortalecem o caráter dialógico destas duas propostas psicoterápicas.

Para Holanda (1998a) a Abordagem Centrada na Pessoa representa a possibilidade uma atitude Eu-Tu em psicoterapia, tal como argumentado por Buber (Buber e Rogers, 1965). Assumir uma postura dialógica em psicoterapia significa estar aberto à existência do Outro e à unicidade deste Outro, bem como desejar estar totalmente na relação com o Outro, permitindo que ocorra o encontro genuíno.

A Abordagem Centrada na Pessoa tem, no seu âmago um profundo respeito pelas necessidades e pelo ritmo do Outro, o que lhe permite uma abertura para a totalidade de uma existência. O terapeuta, ao se abrir a esta totalidade, participando deste encontro com a sua totalidade, assume o desafio de entrar-em-contato-com. E, neste desafio, terapeuta e cliente tornam-se criadores: criam a sua dimensão especial onde suas existências se tocam, a dimensão do entre. (HOLANDA, 1998a, p. 251).

O processo psicoterápico para Carl Rogers consiste, principalmente, em um encontro de pessoa para pessoa. Entendendo a psicoterapia como um momento onde se busca retomar o diálogo é possível afirmar que:

a psicoterapia centrada na pessoa é uma possibilidade de diálogo. É a real possibilidade de resgate do dialógico na dimensão vital do ser humano. O diálogo, tanto na acepção buberiana, quanto no modelo atitudinal de psicoterapia de Rogers, estabelece a realidade histórica e a possibilidade de abertura para experimentar o outro lado, vivenciar o Outro, visto que, a vida verdadeira é a vida-com-o-outro. Diálogo é a possibilidade de encontro. (HOLANDA, 1998b, p. 198).

Como um dos representantes atuais da Gestalt-terapia, Yontef (1998), em seu livro Processo, diálogo e awareness afirma que "o trabalho fenomenológico da GT é feito por meio de um relacionamento baseado no modelo existencial do Eu e Tu-Aqui-e-Agora, de Martin Buber" (p. 221). Yontef (1998, p. 235) entende a gestalt-terapia como uma terapia dialógica:

Desde o seu início, a Gestalt-terapia enfatizou o tratamento usando a presença ativa do terapeuta como seu instrumento principal [...] Embora a linguagem usada nos primórdios da literatura da Gestalt-terapia tenha sido diferente da deste trabalho, e imprecisa, ela é uma forma pioneira de terapia por diálogo. Às vezes isto era abordado sem referência direta à palavra 'diálogo' [...] Existia uma falta de elaboração teórica, como ocorria com diversos conceitos da Gestalt-terapia. Na prática, a Gestalt-terapia mostrou a presença do terapeuta, que é o início do tratamento por diálogo. Com freqüência faltava a esta presença a diretriz de uma explicação teórica clara.

De acordo com Amorim (2007, p. 70), na Gestalt-terapia a postura do terapeuta deve ser relacional porque a existência humana é relacional. "Em Gestalt-terapia, o modelo dialógico traduz-se em uma postura relacional, sustentada na esperança de atingir, por meio do encontro terapêutico, a completude do Eu". É a relação que "cura", afirmará Aguiar (2005) em seu livro Gestalt-terapia com crianças. A concepção dialógica da Gestalt-terapia é, também, defendida por Loffredo (1994) que, mesmo lembrando que as referências às bases do Existencialismo Dialógico de Buber não se encontrem nas obras clássicas da Gestalt-terapia, considera que: "a Gestalt-terapia se inscreve na linha de uma terapia dialógica, para a qual o fundamento último da existência é relacional, sendo, portanto, voltada para o domínio ou espaço do 'entre' (p. 80).

 

CONCLUSÃO

A reflexão sobre as convergências e divergências entre as psicoterapias de Carl Rogers e Frederick Perls e colaboradores mostra que estas têm convergências epistemológicas com base na influência da teoria organísmica de Goldstein, que vêm a se tornar divergentes em suas implicações clínicas, na medida em que o processo terapêutico consiste na facilitação da tendência atualizante, na Abordagem Centrada na Pessoa, e no fortalecimento do fluxo figura/fundo no campo organismo-meio na Gestalt-terapia. Aspectos existenciais dos dois enfoques são também pontos convergentes no que diz respeito à idéia sartreana de homem como responsável por suas escolhas.

Na prática clínica podem ser encontradas divergências no que se refere ao papel do psicoterapeuta – mais ativo na Gestalt-terapia e predominantemente verbal na Abordagem Centrada na Pessoa – o que possivelmente se relaciona com os estilos pessoais diferentes de Carl Rogers e Frederick Perls, também culturalmente diferentes. Estas divergências também podem ser encontradas na psicoterapia no que diz respeito ao otimismo harmônico rogeriano em contraposição à agressividade em Perls, bem como no caráter positivo presente no processo terapêutico em Rogers, ao contrário do trabalho sobre polaridades desenvolvido por Perls.

No que se refere às convergências na prática clínica pode se mencionar o fato de que ambas são teorias humanistas em psicologia, têm um forte desenvolvimento no trabalho com grupos e ambas propõem que o processo terapêutico privilegie a conscientização. Mas é o caráter dialógico tanto da Abordagem Centrada na Pessoa como da Gestalt-terapia, possivelmente, seu mais fecundo ponto de convergência, tal como mostram os desenvolvimentos contemporâneos destas duas psicoterapias.

Tendo em vista as convergências entre estas duas abordagens em psicoterapia é interessante pensar nas possibilidades de complementação de ambas as contribuições na prática clínica. No entanto, tendo em vista suas divergências, principalmente epistemológicas, é importante que não se "misture" os dois enfoques, mantendo suas respectivas e quem sabe, enriquecedoras, diferenças.

 

 

NOTA DE AGRADECIMENTO: Agradeço a Georges Boris, Karynne Melo e Luiza Freitas, parceiros no APHETO – Laboratório de Psicopatologia e Psicoterapia Humanista- Fenomenológica Crítica, na Universidade de Fortaleza, pelos valiosos comentários realizados sobre os textos que deram origem a este artigo. De maneira especial, agradeço a Gercileni Campos de Araújo. Finalmente, agradeço a Vitor Vasconcelos (I.C. PIBIC/CNPq/UNIFOR), pela colaboração no trabalho na formatação final deste artigo.

 

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1 Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Pós-Doutora em Antropologia Médica pela Harvard University. É Professora Titular da Universidade de Fortaleza onde coordena o APHETO – Laboratório de Psicopatologia e Psicoterapia Humanista Fenomenológica Crítica e Visiting Lecturer da Harvard Medical School
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Do filme nº 1, Three Approaches to Psichotherapy (1965), E. Shostram, diretor. Orange, California: Psichological Films. A transcrição foi publicada no capítulo ROGERS, Carl. e WOOD, J. Teoria da Terapia Centrada no cliente. In: A. BURTON (Ed.). Teorias Operacionais da Personalidade. Rio de Janeiro: Imago, 1974/1978, p. 192-233.

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