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Revista do NUFEN
On-line version ISSN 2175-2591
Rev. NUFEN vol.9 no.3 Belém 2017
https://doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol09.n03revir26
Estudos de revisão
DOI: 10.26823/RevistadoNUFEN.vol09.n03revir26
O casal face as finanças: revisão da literatura
The couple facing finance: literature review
El casal hace las finanzas: revisión de la literatura
Luciana de Barros Silva Alves Cardoso; Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke
Universidade Católica de Brasília - UCB
RESUMO
O objetivo desse trabalho é analisar de que forma os psicólogos vêm desenvolvendo intervenções relacionadas ao tema finanças/dinheiro, a partir de uma revisão da produção científica sobre terapia de casais nos últimos cinco anos. O método utilizado foi o Critical Appraisel Skills Programme (CASP) a partir da busca na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) através das bases de dados: Medline e Scientific Eletronic Library Online (Scielo) pelo descritor terapia de casal, foram encontrados dois artigos, qualitativos. Esses artigos discutiram mudanças sociais nas últimas décadas as diferenças de gênero no manejo do dinheiro. Em conclusão, afirmam ser necessário preparar profissionais para intervir de forma bem orientada para o desenvolvimento cultural, social, gênero e visão econômica dos seres humanos. Conclui-se apesar de serem poucas as pesquisas sobre finanças elas colaboram para o alinhamento do casal em relação a gerenciamento financeiro, melhorando assim o impacto que o dinheiro traz para o relacionamento.
Palavras-chave: Terapia de casal; economia; casamento.
ABSTRACT
The objective of this study is to analyze how psychologists have been developing interventions related to the finance / money theme, based on a review of the scientific production on couples therapy in the last five years. The method used was the Critical Appraisel Skills Program (CASP) from the search in the Virtual Health Library (VHL) through the databases: Medline and Scientific Electronic Library Online (Scielo) by the descriptor couple therapy, two articles were found, Qualitative. These articles have discussed social changes in the last decades of gender differences in money management. In conclusion, they say that it is necessary to prepare professionals to intervene in a way that is geared towards the cultural, social, gender and economic development of human beings. It is concluded, although few financial surveys work to align the couple on financial management, thus improving the impact that money brings to the relationship.
Keywords: Double therapy; economy; marriage.
RESUMEN
El objetivo de este trabajo es analizar de qué forma los psicólogos vienen desarrollando intervenciones relacionadas al tema finanzas / dinero, a partir de una revisión de la producción científica sobre terapia de parejas en los últimos cinco años. El método utilizado fue el Critical Appraisel Skills Programme (CASP) a partir de la búsqueda en la Biblioteca Virtual de Salud (BVS) a través de las bases de datos: Medline y Scientific Eletronic Library Online (Scielo) por el descriptor terapia de pareja, se encontraron dos artículos, De calidad. Estos artículos discutieron cambios sociales en las últimas décadas las diferencias de género en el manejo del dinero. En conclusión, afirman que es necesario preparar profesionales para intervenir de forma bien orientada hacia el desarrollo cultural, social, género y visión económica de los seres humanos. Se concluye a pesar de que son pocas las investigaciones sobre finanzas que colaboran para la alineación de la pareja en relación a la gestión financiera, mejorando así el impacto que el dinero trae para la relación.
Palabras-clave: Terapia de pareja; Economía; Matrimonio.
INTRODUÇÃO
Nesta pesquisa procurou-se conhecer o estado da arte atinente ao tema do casal face a organização financeira. As publicações voltadas para essa questão das finanças estão direcionadas ao exercício da contabilidade numa perspectiva fenomenológica (Carvalho; Nakagawa, 2001) e na fenomenologia da literatura de auto-ajuda financeira e subjetividade (Borba, 2009).
O homem, na perspectiva de Sartre (1987), não possui uma essência ou uma natureza humana a priori, ele é um Nada e sua tarefa é se fazer. Por essa razão, ele afirma que "a existência precede a essência& " (Sartre, 1987, p. 5), sendo esse o primeiro princípio do Existencialismo. Se fazendo, num movimento de abertura para o mundo é que o homem constrói aquilo que é, sua essência, mas ela também está em constante construção e modificação.
O homem só pode ser compreendido como sendo "relação a& ", pois a consciência humana é intencional, ou seja, sua característica fundamental é sempre estar em constante movimento de saída de si para atingir o objeto o qual ela não é para se relacionar. Assim, Sartre (2000) nos diz que a consciência é um Nada e ela é denominada de ser Para-si, que é o ser que atribui sentidos e significados para si mesmo e para o mundo. Nesse sentido, ela é a própria subjetividade humana.
Quanto aos objetos do mundo, Sartre (2000) os chamou de seres Em-si e se tratam da objetividade do mundo. Eles não estão em "relação a& " como a consciência. Os seres Em-si englobam a realidade material, o mundo inorgânico dos objetos, tudo que está fechado em si mesmo, sem possibilidades de mudança.
Desse modo, Sartre (2000) afirma que a consciência busca uma superação ou uma negação de uma objetividade (Em-si). Essa busca ele denominou de desejo de ser ou o projeto de ser do homem. Este se caracteriza pelas ações do homem no mundo, um impulso ao não existente, aquilo que ele não é, mas que almeja ser no futuro.
Compreendendo que o homem se constrói movido por um desejo de ser, o movimento temporal do passado, presente e futuro, são essenciais para se entender o projeto humano. O passado é repleto de experiências que, em seu conjunto, possibilitaram que se agisse de determinada forma no presente, mas não é o passado que determina o presente, pois se assim o fosse, seríamos seres prontos e acabados. Somos projeto, agimos no presente à luz de um futuro, de um objetivo a alcançar, de algo que desejamos conquistar, por isso, o futuro é que guia nossos atos no presente. Essa capacidade de agir em direção ao futuro, superando uma realidade dada, implica sempre em recusa e realização dessa realidade.
Essa capacidade de o homem agir é dada pela liberdade, característica fundamental para se entender o projeto. O homem é livre para escolher e para se fazer. Mas a liberdade não pode ser confundida com livre arbítrio, ela significa apenas que o homem pode agir, escolher, atuar, em um contexto específico (Sartre, 2000).
Sartre (1967) nos diz que geralmente vivemos em projetos alienados, por isso muitas vezes há modificações nos resultados finais de nossas ações. Mas isso não quer dizer que não sejamos sujeitos de nossa própria história e não possamos transformar nossa realidade por meio de ações:
A alienação pode modificar os resultados da ação, mas não sua realidade profunda. Recusamos confundir o homem alienado com uma coisa, e a alienação com leis físicas que regem os condicionamentos de exterioridade. Afirmamos a especificidade do ato humano, que atravessa o meio social, conservando-lhes as determinações, e que transforma o mundo sobre a base das condições dadas (Sartre, 1967).
Nessa perspectiva, o projeto é ao mesmo tempo fuga e salto para frente, recusa e realização. Tal projeto retém e revela a realidade superada, negada pelo movimento que a supera (Sartre,1967). Portanto, o projeto retém a dialética do objetivo e do subjetivo, pois o sujeito subjetiva o objetivo de uma dada realidade, e também objetiva sua subjetividade. A objetividade subjetivada pelo sujeito se caracteriza pela negação da objetividade, da qual ele nega uma realidade ou uma situação, por meio da apreensão dessa realidade, e objetiva sua subjetividade. Por exemplo, o simples ato de terminar de escrever a letra de uma música, que é algo objetivado, mostra dois movimentos: a realidade superada ou negada pelo ato (aquela em que o sujeito tinha vontade de escrever mais postergava esse objetivo) e a realidade ou totalização final (que é a letra pronta). A dialética entre objetividade e subjetividade só é possível pela característica do Para-si, que visa uma objetividade qualquer e retém o sentido desta, para ser objetivada posteriormente.
Desse modo, surge um questionamento: como é a relação da consciência (Ser para si) e o dinheiro (ser em si)? O que vem sendo trabalhado e desenvolvido por psicólogos em relação a essa temática?
O dinheiro é o objeto mais comum no mundo, passou a ser moeda valorizada com a criação dos bancos. No passado, o homem comercializava por meio de escambo, o valor da mercadoria era analisado através da qualidade e/ou a quantidade de tempo que se gastava para produzi-la e pela necessidade do comprador (Trigueiros,1966). A energia que sustentava as transações comerciais entre os povos eram a terra, o gado, os escravos, á gua, sal, ferro ou armas (Vries, 2012).
Para estudiosos da psicologia o dinheiro é uma forma de energia que desempenha um papel importante na vida do indivíduo. Está presente visível e invisível nas relações, capaz de construir e de destruir (Madanes & Madanes, 1997, Vries, 2012, Harth, 2013). Ainda segundo Vries (2012) com a atual individualidade e competitividade existente, não é fácil sobreviver sem ter dinheiro. Temos necessidades específicas que para serem satisfeitas é necessária uma quantia mínima de dinheiro.
Segundo Moreira (2002), os contextos culturais, prioridades individuais, são fatores que contribuem para formar significados diferentes do dinheiro. Diante disso, podese entender que a percepção do significado do dinheiro é complexa e que está diretamente relacionada com o ambiente, o contexto, a cultura e as relações do indivíduo, ou seja, cada indivíduo a partir de suas experiências com dinheiro, vai construindo um significado próprio, um sentido para o dinheiro, em sua maioria valorizando o sentido de TER em detrimento ao SER.
O sofrimento relacionado a finanças acarreta ao indivíduo problemas de ordem física, alteração de humor, sono, apetite, baixa produtividade no trabalho, irritabilidade, hostilidade e agressividades, fatores que podem impactar no relacionamento a dois. Essa tensão financeira individual acaba afetando relações mais significativas da pessoa (Xavier, 2013; Falconier, 2014). Diante de tal constatação, como fica a interação dinheiro e casal? Neste aspecto, Harth (2013) analisa que é esperado que o nível socioeconômico do casal seja um fator que contribui para a qualidade de vida do casal, contudo, o manejo do dinheiro entre os casais pode acarretar desavenças. A forma como os casais se organizam financeiramente pode trazer conflitos ao relacionamento independentemente da quantidade de dinheiro disponível.
Analisando o contexto de educação financeira, o casal, são duas pessoas que aprenderam a usar o dinheiro de formas diferente e agora juntos precisam aprender a organizar um gerenciamento financeiro a dois. Muitos casais têm dificuldade de fazer a transição da forma como lidam com dinheiro em suas famílias de origem. Estão acostumados a lidar com dinheiro como irmãos e irmãs, pais e filhos e não como marido e mulher, são poucos os casais que sentam para dialogar a respeito dos assuntos financeiros (Blank, 2006; Shapiro, 2007). E quando não existe comunicação sentimentos como avareza, competição, ressentimento, hostilidade e traição podem surgir no relacionamento (Blank, 2006). Pensar numa organização financeira de casal é ir além de se informar sobre os rendimentos do outro, para que a organização financeira seja saudável para os dois, o casal precisa organizar um jeito do casal lidar com dinheiro.
Segundo Pahl (1989), os casais usam diferentes estilos de gerenciamento financeiro. Ele identificou 4 tipologias de manejo de dinheiro entre casais, sendo elas: gerenciamento total de gastos, no qual, a organização financeira fica aos cuidados de um dos cônjuges, responsável pelo controle de todos os gastos da casa, exceto os gastos pessoais do parceiro; Sistema de gerenciamento por mesada ou pensão, neste tipo de gestão, um dos cônjuges é o principal provedor financeiro, controla o dinheiro e distribui um valor para o outro gerenciar as despesas da casa; Gestão compartilhada de dinheiro, nessa modalidade ambos os cônjuges têm acesso ao dinheiro e são corresponsáveis pelas decisões financeiras; e sistema de gestão independente do dinheiro, em que cada um controla o seu dinheiro independente das demandas da casa. A partir desses estudos, outras duais tipologias surgiram sendo elas:
Entende-se que estilos diferentes de organização financeira não significa a existência um jeito melhor do que o outro, significa apenas a possibilidade de existir várias formas do casal se organizar financeiramente e independente do funcionamento do casal, podem funcionar bem ou resultar em conflitos, gerar estresse e diminuir a intimidade do casal. É importante ressaltar que essas categorias não são necessariamente imutáveis ou permanentes nos casais, podendo se alternar tanto na intensidade como no momento de vida do casal.
Segundo Madanes e Madanes (1997) o termo dinheiro não é um assunto conversado nas rodas de conversas de amigos, nas famílias e tão pouco na sessão de terapia. O fato de não falar, exclui a possibilidade de auxiliar os casais a lidarem com problemas financeiros, abordando questões emocionais e financeiras no mesmo processo terapêutico. Segundo Falconier (2014): "A principal força de tais modelos de terapia financeira relacional reside na sua natureza interdisciplinar, que permite que os casais trabalhem em ambos os aspectos, relacional e financeiro em terapia& " (Falconier, 2014, p. 2).
Tendo em vista que a situação financeira é uma variável que afeta a qualidade das relações conjugais, a escolha em investigar o poder do dinheiro nas relações conjugais é dar destaque a um aspecto que é tão pouco falado e tão pouco estudado no que se refere a conjugalidade. Neste sentido o objetivo desse trabalho é analisar de que forma os psicólogos vêm, desenvolvendo práticas intervencionistas relacionadas ao tema dinheiro, a partir de uma revisão da produção científica sobre terapia de casais nos últimos cinco anos. Para tal, utiliza as seguintes questões de pesquisa: (a) O que vem sendo trabalhado com os casais com relação ao dinheiro? (b) Quais os métodos empregados nestas pesquisas?
MÉTODO
Incialmente pretendeu-se fazer uma revisão sistemática. A revisão sistemática é um método que surgiu na década de 70 a partir do conceito de metanalise, técnica estática com finalidade de integrar estudos independentes de um mesmo assunto de pesquisa. Se constitui por um trabalho que visa unir de forma organizada, critica e reflexiva os resultados de vários estudos. Os artigos selecionados foram apurados através de busca na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) através das bases de dados: Medline e Scientific Eletronic Library Online (Scielo). A busca foi realizada no período de setembro a outubro de 2016.
O descritor inicialmente utilizado foi: Terapia de casal, a partir do operador and, posteriormente cruzou-se o correlato em inglês do descritor previamente utilizado: Couples Therapy. Uma busca adicional foi realizada através dos descritores: casal, cônjuge e conjugalidade a partir do operador or, posteriormente cruzou-se o correlato em inglês do descritor previamente utilizado couple, spouses or conjugalities. Os descritores deveriam estar presentes no título, no resumo ou nas palavras-chave dos artigos. O intuito era encontrar dentro das pesquisas com casais aquelas que desenvolvessem trabalhos com a temática dinheiro/finanças
Na primeira análise, foi identificado 1848 estudos nas bases de dados selecionadas que se relacionava unicamente ao tema terapia de casal ou terapia com casais. Para realizar a presente revisão, todos os resumos desses trabalhos foram lidos. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: 1) artigos científicos nos quais os participantes eram casais, 2) artigos científicos publicados nos últimos cinco anos. Foram excluídos os artigos que apresentavam as seguintes características: 1) de revisão sistemática ou bibliográfica; 2) artigos que o foco da intervenção era medicamentoso e não uma avalição psicológica; 3) artigos nos quais a família era os participantes e não o casal. Não foi especificado nenhum corte com relação ao idioma publicado, localização ou orientação sexual.
Após a leitura dos resumos, aplicação dos critérios de inclusão e exclusão e descarte dos resumos duplicados, restaram 51 artigos. Desses 51 artigos selecionados, apenas 3 deles discutiam casais e dinheiro. O primeiro passo metodológico, após a definição da amostra dos 3 estudos, foi analisar o rigor metodológico das publicações encontradas por meio do instrumento CASP – Critical Appraisal Skills Programme. Critical Appraisal Skills Programme - Programa de Competências de Avaliação Crítica é um instrumento para análise da qualidade metodológica, o mesmo auxilia na análise crítica de relatos de pesquisa qualitativas, quanto ao rigor, credibilidade e relevância. Esse programa (documento) propõe um "Check list& " de 10 itens que conduzem, traçam diretrizes, para o avaliador a pensar de forma sistemática sobre as questões a serem analisadas e classificar os artigos em categorias de acordo com estrutura metodológica.
Os textos foram revisados por duas psicólogas e de forma independente, cada texto foi analisado uma vez com base nos critérios do CASP, respondendo a cada um de seus 10 itens para pesquisa qualitativa. Os dados foram extraídos para uma folha a parte, uma para cada publicação. Após essa análise 2 artigos seguiram os critérios proposto pelo programa CASP. Sendo então a amostra final da presente revisão composta por 2 artigos.
RESULTADOS
Conforme supracitado, a amostra final do estudo foi composta por dois artigos. A primeira publicação em 2013 publicado pela revista Psicologia em Estudos. Intitulado Gênero e dinheiro: os múltiplos matizes na relação do casal, publicado por Xavier, V. R Estudo empírico de metodologia foi qualitativa, com o objetivo de conhecer a dupla perspectiva de um casal litigantes durante o período de antes da separação. Aborda conceitos culturas e sociais relacionado ao casamento, discute a relação do dinheiro e poder estabelecido pela questão de gênero. Este artigo chegou a duas conclusões, primeiro, que apesar das mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas, as funções de gênero e a diferença hierárquica entre homens e mulheres ainda persiste, neste casal estudado as brigas sempre perpassaram pela busca de liberdade e autonomia da mulher. E segundo, a necessidade de preparar os profissionais para intervir forma bem orientada para o desenvolvimento cultural, social, gênero e visão econômica dos seres humanos.
O Segundo artigo foi publicado em 2014 pela revista Journal of Marital and Family. Intitulado, Therapy, Together – A couples’ program to improve communication, coping, and financial management skills: development and initialpilot-testing, publicado por Falconier, K.M., de metodologia qualitativa. O objetivo do trabalho era descrever o desenvolvimento de um programa interdisciplinar que visa auxiliar os casais em dificuldade financeira a melhorar suas habilidades de gestão financeira, comunicação e enfrentamento diádico.
Esse artigo, relata os resultados de seu piloto-teste inicial com dados coletados a partir de 18 casais em dificuldades financeiras antes e depois do fim do programa e 3 meses após o encerramento no programa. Este artigo concluiu que, programas como esses podem reduzir a tensão financeira dos parceiros, melhorar as suas capacidades de gestão financeira, diminuir agressões psicológicas causadas por motivos financeiros. A metodologia utilizada foi qualitativa e utilizou os seguintes instrumentos: InCharge Financial Distress/Financial Well-Being Scale (IFDFW) e Dyadic Adjustment Scale (DAS). As conclusões preliminares desse artigo indicam que, programas voltados para casais sobre estresse financeiro que trabalham habilidades de comunicação, enfrentamento e gestão financeira auxiliam na redução de estresse entre os parceiros, melhora a capacidade de gestão financeira e a satisfação da relação e diminui a agressão psicológica. Além de beneficiar homens e mulheres de formas diferentes.
DISCUSSÃO
Todos os artigos utilizaram abordagem qualitativa, sendo que um relatou estudo de caso com casais em processo de separação e o outro apresentou uma proposta de intervenção psicoeducacional projetado para ajudar os casais sob estresse financeiro a melhorar suas habilidades de comunicação, enfrentamento e gestão financeira em um grupo.
Pesquisas qualitativas baseiam-se em dados de textos e imagens, têm passos singulares na análise dos dados e se concentram na coleta e na análise de redação dos dados. Inclui pesquisas de ação participativa ou a análise do discurso. Tem como objetivo explorar processos, atividades, eventos e comportamentos de forma ampla dos indivíduos ou grupos (Creswell, 2010).
O estudo de caso é apenas uma das muitas maneiras de fazer pesquisas em ciências sociais. Experimentos, levantamentos, pesquisas históricas e análise de informações em arquivos são alguns exemplos de outras maneiras de realizar pesquisas. Cada estratégia apresenta vantagens e desvantagens próprias dependendo basicamente de três condições: a) o tipo de questão da pesquisa; b) o controle que o pesquisador possui sobre os eventos comportamentais efetivos; c) o foco em fenômenos históricos, em oposição a fenômenos contemporâneos. Os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo "como& " e "por que& ", quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômeno contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (Yin, 2005). Com relação a temática dinheiro, esta pesquisa evidencia a ausência de estudos sobre terapia casal e psicologia econômica. Esse tema é ainda pouco estudado e as poucas pesquisas na área são pesquisas isoladas que pouco conversam entre si. Este fato vai de encontro com a teoria que diz que dinheiro é um assunto pouco estudado. Os dois artigos estudados evidenciam a importância do tema nas relações conjugais, relatando que o fator econômico colabora para que a relação conjugal seja mais complicada.
Os dois artigos apontam a variável dinheiro como um causador de violências contra a mulher. Atualmente, apesar da existência da Lei Maria da Penha - Lei nº 11.340/2006 (Brasil, 2006), dados publicados pela ONG Compromisso e Atitude aponta queo Brasil ocupa o 5º lugar no ranking de violência contra mulheres. (Compromisso E Atitude, 2016) sendo 4.8 mulheres assassinadas a cada 100 mulheres.
Para Madanes e Madanes (1997) o dinheiro pode ser um ponto crucial que está por trás de inúmeros conflitos familiares. Geralmente os problemas financeiros são mascarados, disfarçados, ocultados entre os membros da família. É muito difícil alguém procurar terapia por problemas envolvendo dinheiro. São poucos os casais que sentam para dialogar a respeito dos assuntos financeiros (Blank, 2006; Shapiro, 2007) e quando não existe comunicação sentimentos como avareza, competição, ressentimento, hostilidade e traição podem surgir no relacionamento (Blank, 2006). Tais dados destacam a importância da temática e a necessidade de reuni os campos da terapia de casais aconselhamento financeiro para auxiliar os casais nas dificuldades envolvendo essa temática.
CONCLUSÃO
Poucas são as pesquisas em torno de tal temática, na sua maioria estudos qualitativos. Os dois artigos encontrados nos anos 2013 e 2014 concluem que apesar das mudanças sociais nas últimas décadas, as funções de gênero e diferença hierárquica entre homens e mulheres ainda persiste. O conflito do casal perpassa pela busca de liberdade e autonomia da mulher. É necessário preparar os profissionais para intervir de forma bem orientada para o desenvolvimento cultural, social, gênero e visão econômica dos seres humanos. Programas que trabalham com gestão e habilidade comunicação no tratamento de casais com estresse financeiro, estimulam a melhora da capacidade de manejo financeiro, consequentemente proporcionando melhor qualidade e bem-estar ao casal. Tais pesquisas colaboram para o alinhamento do casal em relação a gerenciamento financeiro, melhorando assim o impacto que o dinheiro traz para o relacionamento.
A variável dinheiro pode desencadear inúmeras divergências no relacionamento, e consequentemente, o distanciamento e ausência do diálogo entre os casais. Geralmente, os problemas financeiros são mascarados, ocultados, disfarçados. Uma das formas mais eficazes de trabalhar o anseio financeiro é aprender a falar sobre o dinheiro. Deve-se promover a colaboração entre o casal e não a competição, entender a importância daquele valor financeiro para o companheiro.
Ademais, torna-se fundamental esclarecer o significado do dinheiro para o desenvolvimento do indivíduo, não atentando apensas para os comportamentos observáveis e controláveis, priorizando o objeto ou o sujeito, mas procurar interrogar as experiências vividas e significados que o sujeito lhes atribui, centrando na relação sujeito-objeto-mundo.
Consideramos a importância da relação de pesquisa de cunho fenomenológico como possibilidade de maior compreensão dessa realidade. Finalizamos com a observação de Borba (2009, p. 02) ao constatar que "a psicologia fenomenológica buscar-se-á compreender o homem em todas as suas dimensões, não como um ser fragmentado, como um mosaico, mas, sim, como um ser-no-mundo e um ser-para-o-mundo integral"
Referências
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Notas sobre a autora
Luciana de Barros Silva Alves Cardoso: Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília, UCB. Especialista em Terapia de Família e Casal pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC-MG. E-mail: lucianabcardoso@hotmail.com
Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke. Doutora em Psicologia e Sexologia pela Universidade Católica de Louvain, Bélgica. Fullbright Scholar na St. John's University, New York, Estados Unidos. Pós-doutorada na Universidade de Tübigen, Alemanha. Professora Emérita da Universidade de Brasília, UNB. E-mail: psibucher@gmail.com.
Recebido em: 17/05/2017
Aprovado em: 16/09/2017