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Revista do NUFEN
versão On-line ISSN 2175-2591
Rev. NUFEN vol.13 no.1 Belém jan./abr. 2021
BIBLIOGRAPHIC RESEARCH: REVIEWS
Clima escolar: uma revisão sistemática de literatura
School climate: a systematic review of literature
Clima Escolar: una revisión sistemática de literatura
Ellery Henrique Barros da Silva1, I; Yamila Larisse Gomes de Sousa2, II; Fauston Negreiros2, II; Sandra Elise de Assis Freire2, II
IUniversidade Estadual do Maranhão (UEMA)
IIUniversidade Federal do Piaui (UFPI)
RESUMO
O objetivo do estudo é realizar uma revisão sistemática da literatura sobre o clima escolar, considerando o período de janeiro de 2014 a dezembro de 2018. Foram selecionados 14 artigos das bases de dados: LILACS, SciELO, Web of Science, Scopus e PePsic. Os artigos derivaram de 7 países, bem como, um estudo comparativo entre dois países da América Latina. Quanto aos aspectos metodológicos, a abordagem quantitativa foi a mais utilizada, prevalecendo a validação e aplicação de escalas. Os participantes dos estudos foram realizados com alunos, professores, familiares e gestores escolares. Os resultados apontam que o clima escolar precisa ser estudado de acordo com cada contexto e que ele influencia no processo de ensino aprendizagem contribuindo de forma positiva, se o clima escolar for bom e caso não seja também trará prejuízos para a escola.
Palavraschave: Clima Escolar; Escola; Revisão Sistemática.
ABSTRACT
The objective of the study is to carry out a systematic review of the literature on the school climate, considering the period from January 2014 to December 2018. 14 articles were selected from the databases: LILACS, SciELO, Web of Science, Scopus and PePsic. The articles were derived from 7 countries, as well as a comparative study between two countries in Latin America. As for the methodological aspects, the quantitative approach was the most used, with the validation and application of scales prevailing. Study participants were conducted with students, teachers, family members and school managers. The results indicate that the school climate needs to be studied according to each context and that it influences the teaching-learning process, contributing positively if the school climate is good and if it is not, it will also bring harm to the school.
Keywords: School Climate; School; Systematic Review.
RESUMEN
El objetivo del estudio es llevar a cabo una revisión sistemática de la literatura sobre el clima escolar, considerando el período comprendido entre enero de 2014 y diciembre de 2018. Se seleccionaron 14 artículos de las bases de datos: LILACS, SciELO, Web of Science, Scopus y PePsic. Los artículos se derivaron de 7 países, así como un estudio comparativo entre dos países de América Latina. En cuanto a los aspectos metodológicos, el enfoque cuantitativo fue el más utilizado, prevaleciendo la validación y la aplicación de escalas. Los participantes del estudio se llevaron a cabo con estudiantes, maestros, parientes y gerentes escolares. Los resultados indican que el clima escolar necesita ser estudiado de acuerdo con cada contexto y que influye en el proceso de enseñanza-aprendizaje, contribuyendo positivamente si el clima escolar es bueno y si no lo es, también traerá daño a la escuela.
Palabras clave: Clima Escolar; Escuela; Revisión sistemática.
INTRODUÇÃO
A escola, dentre todos e os mais variados contextos sociais, é constituída como o espaço principal para o incremento de habilidades e desenvolvimento das mais variadas interações. Assim, apesar das diversas transformações ocorridas ao longo dos séculos, ainda existem contradições na sociedade, principalmente no que concerne à educação, uma vez que, muitas escolas a veem como mais um elemento capitalista do que pedagógico. Nesse sentido, só será possível romper com estas barreiras alienistas quando todos agirem de forma democrática, proporcionando a todos uma educação de qualidade e de transformação social (Saviani, 2007; Álvares & Pinheiro, 2014).
Cotidianamente, a escola se depara com diversas situações que ocasionam mudanças no ambiente e no clima educacional. Dentre eles, definem-se as violências, situações de incivilidade, indisciplina escolar, dificuldades de aprendizagem, absenteísmo docente, dentre outras circunstâncias (Vinha et al, 2016). Sendo assim, é possível observar como as ações que são cometidas dentro deste espaço de ensino e aprendizagem interferem diretamente dentro do seu processo pedagógico.
Destarte, a escola enquanto instituição formal de ensino possui características que vão além do seu caráter educativo, sofrendo modificações por meio de ambientes externos e internos, interferindo na personalidade do educando e agindo através do trabalho docente, bem como institucional, a partir dessas constatações, acabam modificando-a (Pereira & Rebolo, 2017).
Entende-se por clima escolar como o conjunto das expectativas e percepções em relação à instituição de ensino. Relaciona-se com as percepções de cada indivíduo de acordo com o contexto comum, de maneira subjetiva, ainda se relaciona com a qualidade dos relacionamentos e dos conhecimentos ali adquiridos, além do comportamento, atitudes, sentimentos e sensações que são compartilhados entre alunos, professores, gestão, funcionários e família. Trata-se de algo particular de cada instituição. O clima escolar, portanto, é um fator determinante para a qualidade de vida nas escolas (Cunha & Costa, 2009; Vinha et al, 2016).
Os primeiros estudos acerca do clima escolar tiveram como inspiração as organizações, já na década de 50 na qual dois americanos Andrew W. Halpin e Don B. Croft na época criaram um instrumento de medidas (Organizational Climate Descriptive Questionnaire – OCDQ) direcionado para saber a perspectiva do professor e comportamento do gestor. Vale enfatizar que esse conceito de clima organizacional foi importante para maior definição do termo clima escolar, tendo em vista que a escola se trata como uma organização cuja principal finalidade é o de educar (Ceia, 2001; Cunha, Monteiro & Lourenço, 2016; Moro, 2018).
Anos mais tarde já na década de 70, o francês Finlayson percebeu a necessidade de ampliar essas pesquisas sobre o olhar do estudante. Assim, apenas em 2007 nos Estados Unidos passou a adotar a terminologia clima escolar, tendo como princípios características que se inter-relacionam desde aos valores, metas, relação de ensino e aprendizagem, estruturas, organizações, percepções, dentre outras esferas.
No Brasil, em 2016 o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), da Unicamp/Unesp decidiu investigar nacionalmente e internacionalmente as dimensões do clima na escola. Com isso, por meio dessa investigação foi possível criar três instrumentos capazes de avaliar o clima escolar na perspectiva do aluno, do professor e do gestor (Moro, 2018).
Inúmeras são as discussões encontradas na literatura sobre o clima escolar, classificando por meio de ações individuais e a sua interação com o agir social. Cunha, Monteiro e Lourenço (2016) argumentam que "o clima constitui um elo entre a estrutura organizacional da escola, a liderança exercida e o comportamento e a atitude de todos os atores educativos"(p. 2). Então, diante desta definição, é necessário fazer a junção de inúmeros aspectos para compor o que gera o clima escolar, valendo destacar, que os ambientes externos e internos caminham paralelamente e a escola como instituição social se torna um elo entre os valores, os costumes e atitudes subjetivas.
Nessa ótica, também é possível encontrar acepções acerca do que seria o clima escolar, o associando ao aspecto subjetivo do indivíduo e à coletividade que se organiza na forma de sua relação com o meio, pensando na escola não apenas como um local destinado a aprender os conteúdos científicos, mas também de interação, uma vez que, o indivíduo passa uma boa parte do seu dia nesse ambiente de múltiplas aprendizagens (Vinha et al, 2016)
Estudos demonstram que no cenário educacional o clima escolar pode ser definido de forma positiva ou negativa. É positivo quando existem bons relacionamentos na escola pautados no cuidado, confiança, respeito, segurança e justiça, bom processo de ensino e aprendizagem, diálogo na mediação de conflitos e participação da família e comunidade. Já o clima negativo pode ser um fator de risco para a qualidade de vida escolar (Castellini, 2019; Vinha, Nunes, Silva, Vivaldi & Moro, 2017).
Existem características gerais e comuns no ambiente escolar (condições físicas de infraestrutura, materiais pedagógicos, relação professor e aluno, limpeza, segurança, entre outras), porém vale destacar que cada escola tem a sua especificidade (Pereira & Rebolo, 2017). Por isso, viver em um ambiente multicultural possibilita o bom desenvolvimento da criança em processo de formação e constituição da sua identidade social. Importante enfatizar que cada criança possui características, particularidades e que o seu modo de agir na sociedade acontece por meio das relações estabelecidas com o meio social (Souza, 2017).
Apesar do grupo que compõe uma escola ter interesses em comum, estes são antecedidos por concepções diferentes. Falar em clima escolar é também falar de cultura escolar, uma vez que nesse espaço de ensino e aprendizagem que é instituído o estabelecimento de regras, de valores, normas de convivência e inúmeras características que apresentarão a forma como ela age e se modifica socialmente (Claro, 2013; Falsarella, 2018).
Para se compreender ainda mais as definições de clima escolar é preciso entendê-lo a partir de 05 (cinco) dimensões, a saber: o clima relacional, o clima educativo, o clima de segurança, o clima de justiça e o clima de pertencimento. O primeiro está pautado na forma de interagir consigo mesmo e os outros; o segundo ao processo pedagógico, no agir educativo; o terceiro às normas de condutas, regras, confiança, segurança; já o quarto condiz na relação dialógica, no processo de ouvir a todos, no aspecto de igualdade e legitimidade; e o quinto e último se define através da acolhida ao espaço e constituído a partir das outras demais dimensões (Janosz, 1998; Vinha et al, 2016).
Cunha, Monteiro e Lourenço (2016), descrevem ainda que a escola não é apenas um local para aprendizado formal, mas também o de outras competências, desenvolvimento de habilidades e relacionamento interpessoal, diálogo, formação de grupos e pares e motivações que interferem no comportamento de cada indivíduo e ao mesmo tempo no clima escolar.
Uma boa relação no cenário educacional permitirá contribuir para o bom desenvolvimento do processo educativo, a partir da inclusão de todos os envolvidos dentro do meio educacional que são os docentes, discentes, gestores, a família e demais colaboradores da instituição, ou seja, a comunidade em geral (Claro, 2013; Pereira & Rebolo, 2017). Essas dimensões só poderão ser construídas se toda a comunidade, ou seja, todos os atores pertencentes aquele espaço possa tomar iniciativas que ocasionam transformações.
A presente revisão sistemática da literatura tem como objetivo analisar produções científicas nacionais e internacionais sobre o clima escolar publicadas entre os períodos de janeiro de 2014 a dezembro de 2018. Para a concretização do referido objetivo, leva-se em consideração os aspectos metodológicos, objetivos dos estudos, país, ano de publicação e principais resultados.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura e exploratória. Este estudo seguiu os critérios do PRISMA – Principais Itens para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-analises, um documento atual que indica cada passo detalhado de como realizar uma revisão sistemática (Moher, Liberati, Tetzlaff, & Altman, 2009).
A escolha dos artigos analisados foi feita a partir de alguns critérios de inclusão. Para ser incluído, levou-se em conta os artigos que estudam sobre a temática clima escolar. O segundo critério foi considerar artigos que tem em seu escopo o estudo sobre o referido tema pela perspectiva da psicologia escolar. Foram considerados artigos dos últimos cinco anos (2014 – 2018) e estudos nos idiomas, português, inglês e espanhol.
Como critério de exclusão foram excluídos capítulos de livros, dissertações, teses, artigos duplicados e também aqueles com acesso indisponível nas plataformas digitais. Diante dos que restaram, foi feita leitura minuciosa dos resumos para verificar adequação os critérios e assim seguir o descarte.
As bases de dados consultadas foram: Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Web of Science, Scopus e PePsic- Periódicos Electrónicos en Psicología – BVS. Assim, a seleção das bases escolhidas ocorreu em função delas indexarem estudos acerca do objeto pesquisado, bem como pelo seu respaldo científico, reconhecimento e confiabilidade nas informações disponibilizadas. A busca foi realizada através do acesso ao sítio eletrônico das próprias bases, contendo os seguintes descritores: "Clima Escolar" e "Scholl Climated". O acesso foi realizado entre os meses de abril a junho de 2019 por três juízes.
Os estudos escolhidos foram lidos minuciosamente para o processo de extração de dados e elaboração de categorias de análise. Foram considerados: autores, objetivos, ano de publicação, delineamento, categorias e principais resultados, e país de origem do estudo.
RESULTADOS
A busca na base de dados resultou em 456 artigos conforme a Figura 1: Scielo (n=110), Lilacs (n=305), Web of Science (n=0), Pepsic (n=01) e Scopus (n=40). Desses ficaram 141 sendo selecionados os dos últimos cinco anos (2014 a 2018) ficando distribuídos: Scielo (n=60), Lilacs (n=61), Scopus (n=19) e Pepsic (n=01). Por conseguinte, foram agrupados 42 artigos, destes foram excluídos 12 estudos por estarem repetidos nas bases de dados e 15 por não contemplarem o objeto de estudo.
Logo após o processo de exclusão dos artigos, foram eleitos uma quantidade de 14 artigos conforme descritos na Tabela 1 Caracterização dos Estudos.
Percebe-se que a maioria dos artigos foram em 2014, distribuídos da seguinte forma (2014= 8 artigos; 2015= 3 artigos; e 2016=4 artigos), a partir desses dados observou-se certa instabilidade, deixando os anos de 2017 e 2018 sem publicações nos objetos estudados.
Quanto ao delineamento da pesquisa, os mais utilizados foram os estudos de abordagem quantitativa, prevalecendo mais a aplicação e validação de escalas. Também foram encontradas pesquisas do tipo exploratório, análises psicométricas e experimentais. Vale ressaltar que foi possível identificar apenas uma pesquisa através de métodos mistos, um estudo de caso, e uma do tipo comparativa.
A Figura 2 mostra os países de origem dos estudos sobre o Clima Escolar. Constata-se que a maioria dos estudos foram realizados no Chile (n=5), seguido de Portugal (n=3), Brasil (n=2), Estados Unidos (n=1), México (n=1), Colômbia (n=1), Espanha (n=1) e também um estudo comparativo aplicado no Chile e Colômbia (n=1).
Posteriormente são apresentados os principais resultados por meio de três eixos analíticos, a qual foram emergidos através de uma leitura atenta sobre os estudos acerca do clima escolar, a saber: "Avaliação do clima escolar positivo e negativo"; "Papel do professor sobre o clima escolar"; e "Violência e sua interferência no clima escolar".
DISCUSSÃO
A partir da presente revisão sistemática de literatura, constatou-se que os anos de publicação dos estudos encontrados não estão distribuídos igualmente entre 2014-2018, período delimitado na busca. Assim, não houve publicações nos anos de 2017 e 2018, porém, foram publicados oito estudos em 2014, três em 2015 e quatro em 2016.
Com relação ao delineamento das pesquisas nove dos 14 trabalhos são de natureza quantitativa, prevalecendo a aplicação e validação das escalas. A existência de uma escala sobre clima escolar favorece esse dado visto que escalas são medidas utilizadas pelos estudos quantitativos. Esse dado pode indicar características devido os primeiros estudos acerca do clima escolar serem medidos de forma estatístico, conforme era proposto no clima organizacional no meio militar e industrial (Moro, 2018).
A pesquisa científica pura ou aplicada permite ampliar, aprofundar e angariar novas hipóteses, gerando novas teorias e contribuindo as novas fontes de conhecimento. Com isso, a pesquisa quantitativa aplicada permite ao pesquisador formular hipóteses, propondo a utilização de estatísticas para o tratamento dos dados na investigação, observando por meio das variáveis os principais resultados encontrados sobre o objeto pesquisado (Zanella, 2013).
Os estudos nas ciências humanas nas últimas décadas apontam que o uso de pesquisas quantitativas tem sido utilizado para compreensões mais amplas acerca do objeto de estudo a ser investigado. Desse modo, apesar dos avanços nas ciências sociais, têm sido mais empregada por pesquisadores de outras áreas não ligadas à educação (Pereira & Ortigão, 2016). Assim, pode-se por meio dessas constatações justificar o elevado número de pesquisas quantitativas acerca do clima escolar, considerando que estudos que contemplam esse objeto também podem subsidiar implementações de políticas educacionais.
Ainda sobre o delineamento, foram encontradas pesquisas do tipo exploratório, análises psicométricas, experimentais, uma pesquisa com métodos mistos, um estudo de caso e uma do tipo comparativa.
Quanto à localidade dos estudos sobre clima escolar, o Chile apresenta o maior número de publicações, seguido de Portugal, Brasil, Estados Unidos, México, Colômbia e Espanha. O destaque do Chile pode ser explicado, pois, é um dos países da América-latina que mais tem investido nas últimas décadas em qualidade educacional, nos níveis de Educação Básica e Superior. Ainda neste ano, de acordo com o ranking do Times Higher Education (THE) o Chile tem a melhor universidade da América Latina, desbancando inclusive o Brasil (Louzano, 2019).
Desse modo, existe também uma maior valorização na formação do professor, ou seja, o docente que está na faculdade recebe todo um suporte educativo de forma integral, pois ao frequentá-la, mais precisamente no curso de Pedagogia, já realiza estágio na instituição na qual ingressará no mercado de trabalho. Essa proposta só é possível devido às escolas da Educação Básica estarem conveniadas com as universidades e com isso, permitir que o discente invista na sua formação com o propósito de melhorar a aprendizagem de seus alunos (Louzano, 2019).
A avaliação do clima escolar positivo e negativo foi a primeira categoria relevante encontrada dentro do tema. Aspectos como a relação da família com a escola, o professor e o aluno, foram essenciais para compreender o bem-estar subjetivo a qual a escola deverá proporcionar.
A pesquisa de Santana e Cerqueira-Santos (2014) trazem resultados acerca da relação clima familiar e clima escolar, a maior prevalência ocorreu entre clima escolar e ansiedade. Então, esse estudo demonstrou que requer uma maior atenção de todos com o propósito de oferecer ações que possam dar suporte emocional e cuidados necessários. Ainda sobre estes resultados é o fato de os familiares não terem se assustado com estas informações, pois já haviam observado como estava o desenvolvimento de seus filhos e foram em busca de auxílio psicológico, o que diante dessas situações demonstra um clima positivo no clima familiar.
Um estudo comparativo entre estudantes chilenos e colombianos também foi preponderante para a relação entre o clima positivo e negativo. A pesquisa de Gálvez-Nieto, Salvo, Pérez-Luco, Hederich, e Trizano-Hermosilla (2017) propõem por meio desse estudo comparativo a validação do instrumento para avaliar o Clima Social do Centro Escolar como medida de clima social Escola. Com a aplicação desta escala foi possível medir o clima da escola, indicando também mais estudos interculturais como este na América Latina.
Em outra pesquisa foi possível constatar que dentre o número de estudantes que evadiram da escola os homens se encontravam em maior evidência com relação às mulheres (Orpinas & Raczunski, 2016). Desse modo, os resultados apontaram em maior evidência menores relações positivas com pares, conexão com a escola, atenção dos adultos na escola e participação significativa na escola.
O estudo de Ascorra et al (2016) mostra que as escolas públicas carregam um estigma social por serem de baixo nível socioeconômico, local que há discriminação por variáveis acadêmicas, sociais, familiares e políticas. São encontrados piores ambientes escolares nestas instituições.
Por meio de uma pesquisa com o propósito de promover a convivência escolar saudável e inclusiva Quezada, Moncada, Araya, Molina, e Sarabia (2014) definiu que quando há um clima social positivo ocorre menor prevalência de bullying e as relações de respeito, disciplina e relacionamento amigáveis aumentam. Assim, uma escola inclusiva permite que os discentes compreendam regras, gerem uma boa relação de confiança entre professor, aluno e família.
As emoções também condizem para uma boa relação do clima escolar positivo quando Mata, Peixoto, Monteiro, Sanches e Pereira (2015) define que os alunos apresentaram valores mais elevados para as Emoções Positivas do que para as Negativas. Vale ressaltar, no entanto que por não se tratar de um estudo longitudinal, devido o recolhimento de dados, em um determinado momento, trazer uma compreensão global dos estados emocionais Positivos e Negativos no cenário investigado. Essa pesquisa também indicou que é necessário fazer uma análise acerca da percepção do professor, para poder conhecer como este atribui na relação de ensino e aprendizagem do aluno.
Alguns destes estudos relacionam o papel do professor sobre o clima escolar, de acordo como consta na segunda categoria de análise. Vélez (2015) descreve em seu estudo experimental que professores que utilizam de um programa de coexistência escolar percebem um clima escolar melhor diante daqueles que não se utilizam deste programa.
Acerca da percepção dos próprios professores diante do clima escolar, Pereira e Mouraz (2015), descrevem a respeito da sua própria atuação na escola, na maneira de aprendizagem e processos educativos. Os docentes têm preocupações relacionadas ao bem-estar coletivo, almejam melhores relações tanto com a escola, com a família e os pares, visando o respeito no espaço escolar.
Cabrero e Kreisler (2013) apresentam um projeto pedagógico que incentiva a educação e cidadania, para que a população tenha mais envolvimento no processo de ensino e aprendizagem. Este projeto objetiva contribuir ativamente na criação de ambientes de convivência saudável e segura, propiciando um clima escolar de melhor qualidade, podendo evidenciar uma preocupação dessas instituições com o bem-estar subjetivo dos indivíduos.
Outros estudos estão organizados na categoria que relaciona a violência e sua interferência no clima escolar. De forma geral, estes apresentam resultados, em que foram testados variados tipos de violência no contexto escolar, quando existem essas situações o clima educacional tende a não ser positivo também e assim são pensadas estratégias que tentem minimizar a violência nas escolas.
Com isso, Cunha, Monteiro e Lourenço (2016) relacionam clima escolar e táticas de gestão de conflito. Apontam que táticas não violentas como negociação e discussão, influencia positivamente o clima escolar e uso de estratégias violentas (emocional e física) influencia negativamente.
Ambientes que oferecem ações de cuidado diferem de ambientes que não existe cuidado, a falta desse cuidado gera atitudes de apoio a violência nas escolas. Existe ainda relação de atitudes violentas em ambientes autoritários, nestes locais existem maiores cobranças e excessivas regras, ao contrário de ambientes permissivos (Ferráns, 2014).
Quanto à relação da violência como fator preponderante do clima negativo está desvelado nos estudos de (Cunha, 2014; Ferráns, 2014), demonstram que as escolas que possuem o maior número de ocorrências em meio à violência são vistas negativamente, seja dentro ou fora dos muros escolares. Partindo desse pressuposto, as concepções acerca da violência são das mais variadas e suas estereotipias dizem muito das estruturas sociais, ou seja, ela pode emergir desde a família, na própria escola, nas ruas, ocorrendo de forma verbal, física ou psicológica, interferindo direta ou indiretamente em todos os ambientes, gerando a incivilidade na sociedade e interferindo no clima escolar (Silva & Assis, 2018; Vinha et al, 2016).
Nesse sentido, quando existe um clima escolar positivo permite a maior interação entre as relações e consolida o respeito e a disciplina escolar. Assim, é necessário que a escola busque uma educação para a paz, que amplie os laços de autonomia, tolerância, solidariedade, amizade e o enfrentamento não violento dos conflitos existentes através do diálogo (Aragão & Albuquerque, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como escopo realizar uma revisão sistemática da literatura científica sobre clima escolar, considerando as produções científicas nacionais e internacionais do período de janeiro de 2014 a dezembro de 2018. Assim, foram analisados os aspectos metodológicos, objetivos, local do estudo e principais resultados. Com isso, os dados trazem reflexões importantes, na qual contribuem para maior alcance de ações informativas e interventivas sobre o clima escolar.
Desse modo, os principais resultados mostraram uma maior prevalência de estudos quantitativos sobre o fenômeno investigado, demonstrando uma escassez de pesquisas qualitativas sobre o clima escolar. Observou-se também que a maioria dos estudos sobre o clima escolar foi desenvolvida no Chile, país que lidera rankings de educação básica e superior. Além disso, ocorreu uma invariância durante o intervalo obtido na quantidade de estudos, sendo necessário o incentivo de novas pesquisas acerca desse tema.
Contudo, os estudos analisados nesta revisão auxiliaram na identificação do conceito de clima escolar positivo ou negativo, existindo uma preocupação da escola, da família, da comunidade em melhorar o clima escolar, por meio de boas relações, respeito, tolerância, mas ainda existem características discriminatórias que precisam ser revistas, principalmente quando aponta que o clima negativo só pode ser visto em instituições públicas ou de classes sociais mais baixas.
Neste sentido, as pesquisas que atenderam aos critérios desta revisão permitiram investigar a realidade específica de cada local de estudo sobre o clima escolar, ressaltando-se a importância dessa investigação para que adiante sejam feitas outras possíveis intervenções, considerando as particularidades de cada indivíduo e instituição. Estabelecendo por meio de ações educativas o melhoramento do clima escolar e da qualidade na educação.
Por fim, mediante a investigação realizada, sugere-se que sejam desenvolvidos estudos qualitativos acerca desse fenômeno, bem como longitudinais com o propósito de fazer um acompanhamento mais subjetivo de cada realidade. Também enfatiza a necessidade de que sejam investidas novas pesquisas no Brasil com o propósito de investigar os principais indicadores do clima escolar como fator positivo ou negativo, oportunizando toda a sociedade a situação do contexto educacional brasileiro, bem como, a promoção de ações e investimento de políticas públicas educacionais com o intento de beneficiar uma nação.
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Endereço para correspondência
Ellery Henrique Barros da Silva
E-mail: elleryhbs@gmail.com
Yamila Larisse Gomes de Sousa
E-mail: yamila_larisse@yahoo.com.br
Fauston Negreiros
E-mail: faustonnegreiros@ufpi.edu.br.
Sandra Elise de Assis Freire
E-mail: sandraelisa.freire@gmail.com
Recebido em: 06/03/2020
Aprovado em: 08/01/2021
1 Ellery Henrique Barros da Silva: Mestre em Psicologia e Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Professor na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Educacional, Queixa Escolar e Desenvolvimento Humano (PSIQUED). E-mail: elleryhbs@gmail.com.
2 Yamila Larisse Gomes de Sousa: Graduada em Psicologia e Mestra em Psicologia pela Universidade Federal do Piauí. Membra do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Educacional e Queixa Escolar, PSIQUED. E-mail: yamila_larisse@yahoo.com.br.
2 Fauston Negreiros: Psicólogo, graduado pela Universidade Estadual do Piauí (2005). Mestre e Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará (2009;2012). Pós-Doutorando em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo - USP. Professor Associado do Departamento de Psicologia e Programa de Pós-Graduação de Psicologia da UFPI. Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Educacional e Queixa Escolar, PSIQUED. E-mail: faustonnegreiros@ufpi.edu.br.
2 Sandra Elise de Assis Freire: Possui Licenciatura (2005) e Formação (2006) em Psicologia pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ. Mestrado (2009) e Doutorado (2013) em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Atualmente é Professora Adjunta III do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Piauí (Campus Parnaíba) e professora pesquisadora do Programa de Pós-Graduação (Stricto Sensu) em Psicologia - UFPI. E-mail: sandraelisa.freire@gmail.com.