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Revista de Psicologia da IMED

On-line version ISSN 2175-5027

Rev. Psicol. IMED vol.10 no.2 Passo Fundo July/Dec. 2018

https://doi.org/10.18256/2175-5027.2018.v10i2.2858 

ARTIGO DE REVISÃO SISTEMATIZADA DE LITERATURA

 

Idoso, depressão e aposentadoria: Uma revisão sistemática da literatura

 

Elderly, depression and retirement: A systematic review of literature

 

Ancianos, depresión y jubilación: Una revisión sistemática de la literatura

 

 

Michele Macedo Da SilvaI; Virgínia TurraII; Isabelle Patriciá Freitas Soares ChariglioneIII

IUniversidade Católica de Brasília - UCB, Brasil. E-mail: mmsvida@gmail.com | https://orcid.org/0000-0001-9436-9914
IIUniversidade Católica de Brasília - UCB, Brasil. E-mail: turra.virginia@gmail.com | https://orcid.org/0000-0002-6468-5462
IIIUniversidade Católica de Brasília - UCB, Brasil. E-mail: ichariglione@gmail.com | https://orcid.org/0000-0001-8627-3736

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A aposentadoria refere-se a um processo de mudanças que podem ser entendidas de maneira bastante diferente por aqueles que se aposentam. Neste estudo, levantou-se a hipótese de que a aposentadoria se refere a um processo gradativo de perdas que, no envelhecimento, se relaciona diretamente com a possibilidade do desencadeamento da depressão. O objetivo deste estudo foi verificar quais reflexões e resultados são apresentados em estudos nacionais e internacionais que discutem o processo de envelhecer, a aposentadoria e a depressão na última década. Para tanto, foi realizada uma revisão sistemática da literatura com as palavras-chave depressão/depression, idosos/seniors e aposentadoria/retirement, em bases de dados eletrônicas, entre 2009 e 2018. Foram analisados 13 artigos que, organizados em quatro categorias temáticas demonstraram que dificilmente a aposentadoria é considerada como um fator de risco à saúde em todas as fases da vida e como agente causador de depressão em idosos. Assim, conclui-se a necessidade da problematização dessas constatações, visto que o fenômeno da aposentadoria precisa ser pensado face às diversas condições que podem estar sobrepostas na experiência do idoso que se aposenta.

Palavras-chave: Aposentadoria, Depressão, Idoso, Revisão Sistemática da Literatura


ABSTRACT

Retirement refers to a process of change that can be understood quite differently by those who retire. In this study, it was hypothesized that retirement refers to a gradual process of losses that, in aging, is directly related to the possibility of the onset of depression. The objective of this study was to verify which reflections and results are presented in national and international studies that discuss the process of aging, retirement and depression in the last decade. To do so, a systematic review of the literature was conducted with the keywords depressão / depression, idosos / seniors and aposentadoria / retirement, in the electronic databases, between 2009 to 2018. Were analyzed 13 articles that showed that retirement is hardly considered as a health risk factor in all stages of life and the causative agent of depression in the elderly. Thus, the need to problematize these findings is concluded, since the phenomenon of retirement needs to be thought about the different conditions that may be superimposed on the experience of the retired elderly.

Keywords: Retirement, Depression, Elderly, Systematic Review of Literature


RESUMEN

La jubilación se refiere a un proceso de cambios que pueden ser entendidos de manera bastante diferente por aquellos que se jubilan. En este estudio, se planteó la hipótesis de que la jubilación se refiere a un proceso gradual de pérdidas que, en el envejecimiento, se relaciona directamente con la posibilidad del desencadenamiento de la depresión. El objetivo de este estudio fue verificar qué reflexiones y resultados en estudios nacionales e internacionales que discuten el proceso de envejecer, la jubilación y la depresión en la última década. . Para ello, se realizó una revisión sistemática de la literatura con las palabras clave depressão / depression, idosos / elderly y aposentadoria / retirement, en bases de datos electrónicas, entre 2009 y 2018. Se han analizado 16 artículos que demuestran que difícilmente la jubilación es considerada como un factor de riesgo a la salud en todas las fases de la vida y como agente causante de depresión en ancianos. Así, se concluye la necesidad de la problematización de esas constataciones, ya que el fenómeno de la jubilación necesita ser pensado frente a las diversas condiciones que pueden estar superpuestas en la experiencia del anciano que se jubila.

Palabras clave: Jubilación, Depresión, Ancianos, Revisión Sistemática de la Literatura


 

 

Introdução

O desenvolvimento humano não se restringe a uma determinada faixa etária, e pode ser compreendido como dinâmico, heterogêneo e contextualizado, ocorrendo ao longo de toda a vida, segundo a proposta paradigmática do life span. Para a compreensão do desenvolvimento, esse paradigma considera, entre outros elementos, as situações vividas subjetivamente, as dinâmicas intergeracionais, assim como as mudanças no contexto histórico dos indivíduos (Xavier, Bueno, Assis, Almeida, & Assis, 2017).

Infere-se, daí, que o processo de envelhecimento é único para cada ser humano e tem relação direta com o que cada um viveu durante sua existência. A Sociologia e a Psicologia, no que se refere aos aspectos psicossociais da velhice, deram uma contribuição que foi além do fator biológico do envelhecimento, preocupando-se com o estudo dos hábitos, práticas, necessidades sociais e psicológicas dos idosos. (Antunes, Novak, & Miranda, 2014).

Em virtude de pesquisas demográficas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2010) já é sabido que a população idosa tem se estabelecido em um grupo desigual e em quantidade significativa no país. Porém, seus atributos devem ser entendidos à luz de sua singularidade, tendo em vista o envelhecimento ser um momento de explícitas mudanças que ocorrem ao longo de toda a trajetória existencial do homem. Assim, pensar hoje sobre o envelhecer requer averiguar as angústias ocorridas entre os processos biológicos e psicossociais da vida, despertando para as especificidades da história de cada sujeito e do contexto no qual ele se introduz, em uma perspectiva capaz de integrar as diferentes experiências ao longo do curso de vida, sem estigmas e/ou hierarquias entre elas. (IBGE, 2004; Mendes, Gusmão, Faro, & Leite, 2005; Abreu, Fernandes-Eloi, & Sousa, 2017).

Do ponto de vista biológico, autores como Mafra (2011) vêm definir o processo de envelhecimento como aquele caracterizado pela queda das funções orgânicas. Isso significa que, segundo o autor, envelhecer é um processo natural, progressivo e irreversível, com alterações fisiológicas e bioquímicas associadas à idade, que se manifestam por mudanças corporais externas, como perda do tônus muscular, rugas e branqueamento do cabelo, e internas, tais como alterações no metabolismo e funcionamento de órgãos vitais. Mudanças essas que poderão causar mudanças no funcionamento do organismo, fazendo com que o indivíduo diminua a sua capacidade de adaptação ao meio ambiente, tornando-o, portanto, mais vulnerável às doenças. Tais alterações, ditas normais, recebem o nome de senescência e asseguram que envelhecer não significa, necessariamente, adoecer.

Todavia, encontrando-se o idoso em condições de sobrecarga, poderá apresentar, ocasionalmente, em seu processo de envelhecimento, alterações patológicas que, certamente, irão requerer a assistência geriátrica. A este fenômeno, dá-se o nome de senilidade e, encontrando-se nessa condição senil, o idoso poderá ter acrescido ao seu perfil doenças e/ou limitações, como osteoporose, câncer, ou mesmo aquelas que comprometem o sistema nervoso central, principalmente a depressão, fazendo com que ocorra uma incapacidade progressiva para uma vida saudável e ativa do idoso. (Dantas, Pinto Junior, Medeiros, & Souza, 2017).

A partir daí, apesar de comum a todo homem, o processo de envelhecimento não pode ser considerado igual para todas as pessoas, por envolver diferentes percepções e definições abstratas e pessoais do que vem a ser "envelhecer". Isto acontece, segundo Muenzer e Alves (2011), porque a definição pessoal do envelhecimento envolve a visão que se tem de si mesmo (autoconceito), bem como a observação das demais pessoas que ainda não chegaram a essa faixa etária. O envelhecimento produz mudança de posição da pessoa na sociedade, assim como, na sua relação com aqueles que o rodeiam.

Essa mudança diz respeito à tendência que a sociedade possui de se afastar dos idosos na proporção inversa de que eles também se afastam da sociedade. Um exemplo perceptível, e não menos grave disso, está relacionado à capacidade funcional do idoso no mercado de trabalho, quando em nome do "processo natural de renovação" substituem-se os idosos, abrindo espaço, unicamente, para o chamado "público de jovens empreendedores" (Muenzer & Alves, 2011; Ladeira et al., 2017).

Em alusão à capacidade funcional, Santana et al. (2014) a conceituam como sendo a funcionalidade que diz respeito à capacidade de realização de atividades e tarefas da vida diária e cotidiana, de forma eficaz e independente. Contudo, a falta de manutenção dessa capacidade acaba expondo o idoso à vulnerabilidade de doenças que resultam em sua dependência dos outros para adaptação social neste ciclo da vida, segundo afirmação de Terra, Silva e Schimidt (2001). Assim, com a diminuição dessa capacidade, fica evidenciado que, na velhice, serão necessários maiores cuidados em todos os seus aspectos, sendo certo que, muitas vezes, será preciso ao idoso diminuir os afazeres diários ou, até mesmo, extingui-los por completo.

Ainda acerca dessa capacidade, outra classificação bastante utilizada é a "idade funcional", ou seja, a medida de qualidade do trabalho de uma pessoa, ou a maneira como ela desempenha suas funções em um ambiente físico e social em comparação a outras pessoas que possuem a mesma idade cronológica. Por exemplo, uma pessoa de 90 anos com boa saúde física pode ser, funcionalmente, mais jovem do que uma de 65 anos que não a possua. (Papalia, Olds, & Feldman, 2006).

Antunes, Soares e Silva (2015) asseguram que a aposentadoria se configura para além de um direito previdenciário, sendo, também, um dos principais eventos críticos da vida adulta que abrange diversos processos psicológicos e sociais. Para Maria de Fátima S. Santos, a aposentadoria "é parte dos conflitos que ocorrem na velhice, caracterizados pela dualidade crise versus liberdade" (como citado em Antunes & Moré, 2016). Assim, tem-se de um lado que a aposentadoria pode ser vivenciada com tensão e dificuldade de adaptação ao novo momento e, de outro lado, pode ser expressão de liberdade e intensificação das fontes de satisfação, devido ao acréscimo de tempo livre após o desligamento do trabalho.

Como dito anteriormente, o trabalho e/ou a capacidade funcional tem um significado imensurável para a vida do homem em razão de lhe fornecer fonte de recursos materiais e de status social, além de ser o responsável por inserir a pessoa em um sistema de relações societárias. Com isso, a perda da atividade profissional pode significar, também, a perda de suas referências, chegando a atingir a própria identidade pessoal, principalmente, se a sua atividade profissional ocupar um lugar central em sua vida. Por isso, manter a autonomia e independência durante o processo de envelhecimento e consequente transição entre o "trabalho" e a "aposentadoria" é meta fundamental dos indivíduos ativos.

Silva (2011) afirma que a palavra "ativo" refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho. Entende-se, em concordância com a autora, que o idoso, quando em processo de transição de trabalho para a aposentadoria, pode continuar contribuindo ativamente nas questões acima referidas, isto porque o objetivo do envelhecimento ativo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é aumentar a expectativa de uma vida saudável e com qualidade para o trabalhador que vive esta fase. Ainda de acordo com esta organização, o "envelhecimento ativo" consiste no processo de consolidação das oportunidades para a saúde, a participação e a segurança, com o intuito de melhorar a qualidade de vida, à medida, que as pessoas envelhecem. (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2002).

Por outro lado, entende-se que a aposentadoria traz consigo certas dificuldades nas relações sociais do idoso. Isso porque sua desvinculação do trabalho - que representa ou representou um papel regulador na organização de sua vida - lhe trará a rotulação de um homem improdutivo, incapaz e indigno de conquistar novas oportunidades no mercado de trabalho.

Assim, importa que essa fase de mudanças venha carregada de entendimento e reorganização dos significados do trabalho, dos aspectos sociais e psicológicos do idoso. Assim como, de sua compreensão acerca do processo contínuo de desenvolvimento, que serão fundamentais na descoberta de uma nova identidade e de novos papéis que ocupará na transição do trabalho para a aposentadoria.

Não obstante a afirmação anterior, é notório que se vive hoje em tempos onde a depressão transpõe todas as fases da vida do homem moderno, razão pela qual se entende que, dentro do processo da aposentadoria, também será comum que alguns desses idosos venham a se inserir em um quadro depressivo provocado pela mesma.

Ao estudar o tema, facilmente observa-se que, na atualidade, a depressão tem demonstrado ser uma síndrome bastante frequente, que tem causado diversas repercussões na vida do indivíduo em todas as fases, incluindo sofrimento e prejuízos em seu desempenho social. Estudos internacionais, conforme o de Neury José Botega (como citado em Barbosa, Macedo, & Silveira, 2011), apontam a depressão como um dos principais fatores associados à ideação suicida.

Alguns autores (como por exemplo, Fleck, Lafer, Sougey, Porto, & Brasil, 2005; De Morais et al., 2018) ainda asseguram que a depressão é uma enfermidade subdiagnosticada e subtratada, principalmente quando é acometida na velhice. Observa-se, nessa fase, que o diagnóstico de transtorno depressivo demanda maior cautela, uma vez que as queixas somáticas são frequentes no próprio processo de envelhecimento normal, sendo que nos idosos deprimidos essas queixas são exacerbadas e associadas a um alto índice de ansiedade.

Frente às informações apresentadas, este trabalho teve por objetivo verificar, à luz da literatura, quais reflexões e resultados são apresentados em estudos nacionais e internacionais que discutem o processo de envelhecer, a aposentadoria e a depressão na última década.

 

Método

A presente investigação foi realizada por meio de uma revisão sistemática da literatura, constituída em três etapas. Na primeira, foram definidos os termos para a pesquisa de base, sendo testados descritores tais como "depressão/depression", "idosos/seniors" e "aposentadoria/retirement". Nessa fase de obtenção, os dados iniciais para a pesquisa foram, em um primeiro momento, selecionados através de artigos publicados, preferencialmente, entre os anos 2009-2018, que versassem sobre depressão e aposentadoria nas bases eletrônicas Pub Med, Pepsic / BVS, Scielo, Google Acadêmico e Portal Capes, assim como fazer uso de alguns periódicos disponibilizados pela Biblioteca da Universidade Católica de Brasília (UCB), que colaborassem com o tema.

Na segunda fase, utilizaram-se diversos artigos empíricos, escritos em português e/ou em inglês, avaliados conforme os critérios de inclusão, estabelecidos a partir do objetivo deste estudo, qual seja, identificar os principais resultados que a literatura tem trazido sobre fatores de risco que têm levado idosos à depressão após a aposentadoria.

As referências utilizadas nesta fase foram escolhidas por sugestão da pergunta e do tema proposto: "idoso", "depressão", "aposentadoria", contudo, as que efetivamente contribuíram para esse estudo foram coletadas por meio do Portal Capes, BVS cujo o acesso foi disponibilizado através do portal eletrônico da Biblioteca da UCB e Google Acadêmico, via internet. Na sequência, foi elaborado um fluxograma demonstrando o método de coleta de tais referências.

Assim, foram utilizados como critérios de inclusão: a) ter sido, prioritariamente, publicado nos últimos dez anos (2009-2018), destacando que a referida busca foi realizada em maio de 2018, sendo esse o período final de inclusão dos artigos do referido ano; b) o texto estar acessível na íntegra; e c) o trabalho apresentar argumentações acerca da depressão em idosos e/ou seus fatores de risco, na fase da aposentadoria. O ano de publicação e assuntos divergentes ao tema foram levados em consideração para a exclusão de diversos artigos encontrados na busca.

Ressalta-se que a busca, análise e seleção dos artigos foram feitas de forma independente por duas juízas tendo obtido um percentual de concordância de 90%. Os itens sobre os quais não houve concordância foram reavaliados por uma terceira juíza.

Os dados obtidos foram organizados por meio de fluxograma apresentado na Figura 1.

 

 

 

Resultados

Na busca realizada em todas as bases de dados referidas, foram encontradas 140 referências sobre o assunto. As mesmas tiveram seus resumos lidos e catalogados em tabela, para posterior análise detalhada do conteúdo. A amostra final para a devida análise dos artigos foi constituída por 13 publicações, as quais foram lidas na íntegra e organizadas por ordem de ano de publicação, de modo que colaborassem com o objetivo do estudo.

A título de organização do trabalho, os artigos selecionados, bem como as informações referentes aos mesmos, foram identificados a partir da Tabela 1, desenvolvida com o intuito de resumir as principais informações que caracterizam de forma metodológica as publicações apreciadas e tendo em vista a individualidade dos estudos analisados, uma vez que os mesmos foram apresentados e discutidos conforme as categorias temáticas: Objetivos, Instrumentos de Pesquisa, Resultados e Fatores de Risco de Depressão.

A análise deduziu que alguns dos autores escolhidos versaram sobre os fatores psicológicos e sociais da aposentadoria determinantes no envelhecimento patológico (Antunes & Moré, 2016; Canizares & Jacob, 2011) e sobre os fatores preditivos da decisão pela aposentadoria e/ou a mudança da qualidade de vida almejada nesta fase (França, Menezes, Bendassolli, & Macedo, 2013, França, 2016; Fontoura, Doll, & Oliveira, 2015; Leandro-França, Murta, & Iglesias, 2014). Entre eles, também foram encontrados artigos dos quais seus autores expuseram sobre a depressão advinda da vinculação feita pelos idosos, das suas atividades produtivas que antes da aposentadoria lhes favoreciam financeiramente (trabalho remunerado), com suas atividades informais não remuneradas (como cuidar de netos) que lhes foram atribuídas após a aposentadoria. (Choi, Stewart, & Dewey, 2013; Oliveira, Silva, & Drumond, 2016).

A importância dos ganhos e das perdas na aposentadoria, as percepções que os idosos aposentados apresentam frente à mudança de suas relações funcionais e/ou ocupacionais (Alvarenga, Kiyan, Bitencourt, & Wanderley, 2009; Espírito Santo, Góes, & Chibante, 2014; França et al., 2013; Fontoura et al., 2015; Kypraiou et al., 2017; Leandro-Franca et al., 2014; Mesquita, Oliveira, Souza, & Nascimento, 2014; ) e suas devidas consequências (Choi et al., 2013; França, 2016; Oliveira et al., 2016; Schofield et al., 2011) também sobressaíram nos resultados dos artigos estudados, bem como o modo de enfrentamento dos mesmos, tentando, assim, levar a compreensão de algumas razões do porquê idosos adquirirem a depressão concomitantemente com sua aposentadoria.

As técnicas de coletas de dados e os instrumentos utilizados pelos autores pesquisados variaram entre entrevistas - abertas e fechadas, questionários e observações (Canizares & Jacob, 2011; Espírito Santo et al., 2014; Fontoura et al., 2015), escalas de importância de ganhos (Leandro-Franca et al., 2014), análise transversal de população de base (Schofield et al., 2011; Choi et al., 2013, Kypraiou et al., 2017), transposição de achados de pesquisa (França et al., 2013), revisão de literatura e análise histórica de acontecimentos (Alvarenga et al., 2009; Antunes & Moré, 2016; França, 2016; Mesquita et al., 2014; Oliveira et al., 2016). Sendo certo que o uso adequado destas técnicas pôde garantir a qualidade das publicações, auxiliando ao leitor, o alcance de seu objetivo.

 

Discussão

A análise dos artigos apresentados demonstra, em um primeiro momento, que a literatura pouco tem falado acerca da depressão em idosos que se aposentam, e aqueles que exploraram esse assunto não se empenharam em relacionar a depressão diretamente com a aposentadoria. Contudo, viu-se que essa atenção diminuída em relação ao tema tem sido ultrapassada pelos "relatos das pessoas que entram na aposentadoria sem a devida preparação e não conseguem lidar com esse 'excesso' de tempo, afirmando que se sentem inúteis, que não servem mais à sociedade, acarretando um processo de depressão", explica Ramiro Zinder, doutor em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e diretor da Zinder Gestão e Capacitação. (Oliveira et al., 2016, grifo nosso).

Também foi apurado neste estudo que, em geral, seus objetivos versaram tão somente sobre a compreensão do envelhecimento humano e sua afinidade com a depressão (Mesquita et al., 2014), assim como a compreensão que o idoso possui de seu próprio envelhecimento e sua visão frente a este processo na vivência da aposentadoria (Alvarenga et al., 2009; Espírito Santo et al., 2014).

Desta forma, como dito anteriormente, constata-se a sinalização da ocorrência de baixa produção de estudos relativos ao tema que remetam a aposentadoria à depressão, não correspondendo, portanto, com a expansão populacional de idosos (IBGE, 2010) que se aposentam e, também, do elevado índice de depressão que tem ocorrido nesta fase do processo de envelhecimento (Stela, Gobbi, Corazza, & Costa, 2002) quando, teoricamente, órgãos do governo e pessoas envolvidas deveriam agregar dedicação e empenho, mediante atitudes e respostas significativas e ulteriores, a fim de reduzir o índice de adoecimento deste público.

Também observou-se, nos trabalhos selecionados, que alguns autores almejaram analisar produções anteriores sobre o tema (Antunes & Moré, 2016, Oliveira et al., 2016), caracterizar grupos de idosos aposentados (Choi et al., 2013) compreender maneiras e atitudes dos componentes destes grupos (Alvarenga et al., 2009; Espírito Santo et al., 2014; Fontoura et al., 2015; Leandro-Franca et al., 2014; Mesquita et al., 2014), quantificar perdas e ganhos sofridos por eles em consequência da aposentadoria (Schofield et al., 2011), detectar fatores psicológicos e sociais que os influenciam nesta fase (Canizares & Jacob, 2011; França et al., 2013) e compreender a afinidade do envelhecimento humano com os sintomas depressivos que surgem na velhice (Mesquita et al., 2014). Assim, tem-se, com a observação dessa categoria, que os autores ora estudados igualmente não buscaram relacionar a depressão, ou mesmo os seus sintomas, com a aposentadoria, afastando, assim, em sua ótica, a possibilidade de existirem efeitos fisiopatológicos da aposentadoria na senilidade, advindos com as mudanças na vida social e/ou no estilo inadequado da vida do idoso que se aposenta.

Outro efeito ressaltado nas análises foi a questão do tempo que é utilizado com a família. Muitos dos artigos explorados se referem aos relacionamentos familiares, ou a falta dele, como sendo um ganho importante para o idoso (Choi et al., 2013; Mesquita et al., 2014; Oliveira et al., 2016), bem como os salários e os benefícios dos cargos outrora ocupados, como sendo a perda mais importante desta transição. Com muita evidência, os artigos versaram acerca da frustração que alguns idosos carregam consigo em virtude da não realização pessoal e da ausência de projetos pós-aposentadoria (Espírito Santo et al., 2014; Fontoura et al., 2015; França, 2016; Leandro-Franca et al., 2014), sendo certo que apenas alguns dos autores (Alvarenga et al., 2009; França et al., 2013; França, 2016; Kypraiou et al., 2017; Schofield et al., 2011) enfatizaram a mudança do estilo de vida do idoso que se aposenta como sendo a responsável pelos sintomas depressivos encontrados em alguns deles, vez que agora serão submetidos a um esvaziamento da rotina de outrora, da diminuição monetária, do rebaixamento de status social e, também, da eventual ociosidade.

Concernente à aposentadoria, a observação demonstrou que a mesma é tida pelos autores como um momento importante de mudanças nos aspectos sociais, emocionais e nutricionais dos idosos analisados, repercutindo de forma positiva e, também, negativa, conforme os significados que lhes são atribuídos por cada um deles (Alvarenga et al., 2009). Assim, restou concluir que os indivíduos indagados que estavam fora da força de trabalho e que, por alguma razão, mantiveram distância de seus familiares, enfrentaram com maior veemência a depressão ou outras doenças mentais ligadas a ela (Schofield et al., 2011). Com isso, compreende-se a importância de se oferecer uma melhor socioterapia ao idoso, vez que muitos são excluídos da sociedade e de sua própria família. (Mesquita et al., 2014).

Acerca dos fatores de risco que podem aumentar a probabilidade de ocorrência da depressão nos idosos que se aposentam, destacaram-se os problemas de saúde, tais como: cardio e cerebrovasculares, respiratórios, oncológicos, dentre outros que, de alguma maneira, os impedirão de continuar vendendo sua força de trabalho, a fim de complementar a baixa renda advinda com a aposentadoria (Oliveira et al., 2016). Não menos importante, problemas como a frustração de realização pessoal e ausência de projetos pós-aposentadoria (Kypraiou et al., 2017), mudança de ambiente, esvaziamento da rotina e disponibilidade de alimentos, quando alteram o peso corporal, também apareceram como sendo fatores vinculados a alterações emocionais. (Alvarenga et al., 2009).

Ainda sobre o risco de depressão nesta fase, destacaram-se fatores como a diminuição monetária em virtude da aposentadoria e o imaginar-se como alguém sem status, que não produz nada (Fontoura et al., 2015; Shofield et al., 2011). Como dito anteriormente, a importância dada ao status social oferecido pelo trabalho (Antunes & Moré, 2016; França et al., 2013; França, 2016) tem um imenso significado para a vida do homem, pois é ele que o impulsiona a buscar seu desenvolvimento intelectual e a investir recursos na promoção de sua saúde, a fim de que consiga se manter, por um tempo maior, no mercado de trabalho (Leandro-Franca et al., 2014). A idade para se aposentar (Canizares & Jacob, 2011), o desemprego e a falta de cuidado (Choi et al., 2013), o baixo suporte social, principalmente da família, a viuvez e o abuso do álcool, também foram vistos como fatores que têm levado inúmeros idosos a se deprimirem após a aposentadoria. (Mesquita et al., 2014).

Em alusão aos métodos utilizados, percebeu-se a primazia da existência de estudos de natureza qualitativa, quando do uso de entrevistas semiestruturadas pelos autores estudados, atendendo, assim, a necessidade do entendimento da singularidade e das significações emergentes dessa fase da vida.

 

Considerações finais

Com este trabalho, verificou-se, à luz da literatura, através das reflexões e dos resultados trazidos pela análise dos artigos estudados, que, dificilmente, a aposentadoria em si é considerada como um fator de risco à saúde em todas as fases da vida e muito menos tida como fator de risco causador de depressão em idosos. Apesar disso, algumas pesquisas têm demonstrado elevados índices de incidência dos sintomas depressivos nessa fase, entretanto, muitas vezes, o idoso não tem recebido a devida atenção e as mediações que poderiam auxiliar na diminuição dos efeitos dos fatores de risco estabelecidos na transição de sua vida, quando deverá assumir uma nova condição social.

Assim, através do uso das categorias temáticas ora apresentadas, foi possível, de um modo geral, apontar diferentes fatores que se preocupam com as condições de saúde dos trabalhadores idosos que se aposentam, dentre os quais estão questões de natureza socioeconômica, frustrações de projetos de vida, mudança de relação familiar como a viuvez, falta de dinheiro, autovisão, falta de planejamento prévio para afazeres futuros e, também, falta do suporte social para o idoso, principalmente por parte da família que, de forma significativa, tem se mostrado como coadjuvante do aumento expressivo da depressão e seus sintomas entre os idosos que vivenciam essa fase.

Com isso, evidencia-se o quanto é necessário que futuras pesquisas promovam discussões acerca das condições efetivas do trabalho que propiciam contextos de adoecimento para todo o sujeito que esteja em vias de aposentar-se. Se forem idosos, esses sujeitos certamente estarão mais propícios ao adoecimento em razão de sua própria condição fisiológica, e tais discussões deverão estar amparadas em políticas e práticas governamentais, a fim de que possam auxiliar na diminuição dos prejuízos instaurados por essas condições que, potencialmente, dificultam a adaptação e o enfrentamento do período da aposentadoria para o idoso.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Universidade Católica de Brasília
Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia
Campus I - QS 07 - Lote 01 - EPCT
Águas Claras - CEP: 71966-700 - Brasília/DF

Recebido: Julho 18, 2018
Aceito: Novembro 19, 2018

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