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Trivium - Estudos Interdisciplinares

On-line version ISSN 2176-4891

Trivium vol.13 no.spe Rio de Janeiro Mar. 2021

https://doi.org/10.18379/2176-4891.2021vNSPEAp.63 

A PSICANÁLISE NA HISTÓRIA

 

Psicanálise e feminismo

 

Psychoanalysis and feminism

 

Psicoanálisis y feminismo

 

 

Raquel Jardim PardiniI; Maria Anita Carneiro RibeiroII

IDiscente do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise (UERJ). E-mail: raquelpardini07@yahoo.com.br
IIDocente do Mestrado e Doutorado em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA). E-mail: mariaanitacarneiroribeiro@yahoo.com

 

 


RESUMO

O discurso da psicanálise e o discurso do feminismo são contemporâneos. Neste trabalho, pretendemos abordar o caso Bertha Pappenheim (Anna O.), caso princeps da psicanálise, atendido por Breuer e discutido por Freud (1895/1996) "Estudos sobre a histeria", em contraponto com um conto feminista de 1892, de Charlotte Perkins Gilman, O papel de parede amarelo.

Palavras-chave: PSICANÁLISE; FEMINISMO; PAPPENHEIM, BERTHA; HISTERIA.


ABSTRACT

The discourse of psychoanalysis and the discourse of feminism are contemporary. In this work, we intend to address the case Bertha Pappenheim (Anna O.), the main case of psychoanalysis, attended by Breuer and discussed by Freud (1895/1996) "Studies on hysteria", in contrast to a feminist tale from 1892, by Charlotte Perkins Gilman, The paper looks yellow.

Keywords: PSYCHOANALYSIS. FEMINISM. PAPPENHEIM, BERTHA. HYSTERIA.


RESUMEN

El discurso del psicoanálisis y el discurso del feminismo son contemporáneos. En este artículo, tenemos la intención de abordar el caso Bertha Pappenheim (Anna O.), el caso principal del psicoanálisis, atendido por Breuer y discutido por Freud (1895/1996) "Estudios sobre la histeria", en contraste con un cuento feminista de 1892, por Charlotte Perkins Gilman, El papel se ve amarillo.

Palabras clave: PSICOANÁLISIS; FEMINISMO; PAPPENHEIM, BERTHA; HISTERIA.


 

 

O discurso da psicanálise e o discurso do feminismo são contemporâneos. Às vezes, se encontram, se chocam ou se cruzam, se combinam. Em publicação recente, Gilson Iannini (2018) afirma que, não obstante o aparente conservadorismo da vida familiar de Freud, ele sempre apoiou as causas libertárias de sua época. "Quando, em 1910, a Sociedade Psicanalítica de Viena revia seus estatutos internos, houve oposição de alguns membros à admissão de mulheres. [...] Freud posicionou-se firmemente a favor da admissão de mulheres" (Iannini, 2018, p. 23).

Segundo este mesmo autor, "não custa lembrar que, naquela altura, um livro como sobre a debilidade mental fisiológica das mulheres [...] não apenas circulava nos meios científicos, mas justificava fisiologicamente práticas de dominação social. Freud, bastante cedo, reagiria veementemente contra tais ideias" (Iannini, 2018, p. 24).

Em sua introdução ao volume "Amor, sexualidade, feminilidade", das Obras Incompletas de Freud, Iannini (2018b, p. 31) recorda que até "um dos aforismos mais conhecidos do século XX", cunhado por Simone de Beauvoir, "Não se nasce mulher, torna-se mulher", é antecipado por Freud, quase duas décadas antes, quando diz, na sua conferência "A feminilidade", que: "Corresponde à singularidade da psicanálise não querer descrever o que a mulher é - isto seria para ela uma tarefa quase impossível de resolver - mas sim, pesquisar como ela se torna mulher" (p. 318).

Neste trabalho, pretendemos abordar o caso de Bertha Pappenheim, verdadeiro nome de Anna O., caso princeps da psicanálise, atendido por Breuer e discutido por Freud (1895/1996) nos "Estudos sobre a Histeria", em contraponto com um conto feminista de 1892. O conto é O papel de parede amarelo, de Charlotte Perkins Gilman.

Gilman, escritora feminista de grande importância, viveu entre 1860 e 1935. Neste conto pioneiro, recém recuperado pelo movimento feminista, narra a experiência de uma mulher jovem, casada, com um bebê pequeno, que se muda com a família para uma casa de férias. Adoecida, talvez se recuperando do parto, é colocada pelo marido num quarto de crianças, forrado com o estranho papel de parede amarelo.

É um conto de terror! Extremamente hábil e bem escrito, o conto narra, na primeira pessoa do singular, o processo de "enlouquecimento" da jovem mulher, trancada e isolada naquele quarto infantil. O marido é sempre retratado como amoroso, gentil e atencioso, embora isole a esposa, a impeça de conviver com as pessoas que ama e, principalmente, a impeça de escrever, o que é seu grande desejo. O livro termina de forma ambígua, com um crime que libertaria a vítima.

 

 

Bertha Pappenheim, imortalizada por Freud nos "Estudos sobre a Histeria", como Anna O., ao contrário da heroína anônima do conto, se libertou pela escrita. Breuer atendeu-a de 1880 a 1882, após a doença e morte do pai, que desencadeou a doença da moça. O médico relatou que, desde o começo, a paciente apresentou uma diversidade de sintomas. Alternava dois estados de consciência - em um deles mostrava-se triste e angustiada, mas relativamente normal e no outro sofria de alucinações e ficava agressiva. Ademais, apresentava uma profunda desorganização da fala, mas, ao falar sobre seu sofrimento a seu médico, os sintomas se dissipavam e a paciente, que falava em inglês quando em crise, comentou que o tratamento parecia uma "talking cure!": cura pela fala.

Lacan, no seu Seminário, livro IX:A Identificação (1961-62, Inédito), atribui a Bertha a criação da psicanálise, o tratamento pela fala. Mais adiante em seu ensino, no Seminário, livro XI:Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964/1998), lembra: "Anna O., é a seu propósito que se descobriu a transferência". Retoma, então, a história do encontro de Anna O. com Breuer, e acrescenta: "A entrada da sexualidade se faz igualmente por Breuer" (Lacan, 1964/1998, p. 149).

De fato, Anna O. se apaixonara perdidamente por seu médico e foi até a casa dele, confrontando sua esposa com uma falsa gravidez, o que precipitou o final do tratamento, e levou Freud a descoberta da transferência.

Lacan ressalta, também, que Bertha foi "um dos grandes nomes da assistência social na Alemanha", e conta que, para agradá-lo, uma aluna uma vez lhe trouxera um selinho carimbado, da Alemanha, com a imagem de Bertha "o que é lhes dizer que ela deixou alguns traços na história" (Lacan, 1964/1998, p. 149).

Apesar da importância inequívoca de Bertha na história da psicanálise, sua trajetória como "doente dos nervos" foi terrível e quase trágica. Internada sucessivamente por sua mãe e irmão, após o malogrado tratamento com Breuer, foi submetida a choques elétricos e viciada em morfina, quase ao ponto de morrer (Guttmann, 2001, pp. 77-79). Reunindo todas suas forças, foge com o auxílio de uma tia e, através da escrita (de início, com pseudônimo masculino), recupera sua vida.

Bertha Pappenheim tornou-se líder no movimento feminista de mulheres judias no século XIX. O movimento feminista alemão reivindicava o direito das mulheres ao trabalho, à educação e ao voto. Bertha inspirou-se na feminista anglo-irlandesa Mary Wollstonecraft, de quem, em 1899, traduziu do inglês para o alemão, o primeiro argumento político em favor da igualdade de tratamento dos sexos, expondo a dependência psicológica e econômica da mulher em relação ao homem e sua exclusão da vida pública. Esse texto A defesa dos direitos da mulher fora escrito em 1792 e traduzido por Bertha em 1899, com o pseudônimo Berthold.Helene Lange, fundadora da revista Die Frau, comentou que a tradução de Berthold/Bertha do inglês para o alemão, pode ser considerada ainda atual (Brentzel, 2006, p. 94). No mesmo ano, também escreveu uma peça de teatro "Frauenrechte" (Direitos femininos), com o pseudônimo masculino Paul Berthold.

Após sua primeira publicação, como autor anônimo (1888), mudou-se para Alemanha com sua mãe. Em Frankfurt, tornou-se membro da Associação Israelita de Mulheres e fez o primeiro trabalho filantrópico em um orfanato de meninas, onde se deparou com a causa social, e posteriormente a causa feminista (Guttmann, 2001, p. 112). Continuou a escrever contos com o pseudônimo P. Berthold e escreveu e publicou artigos sobre a defesa dos direitos femininos.

No final de 1890, Bertha encontrara mais uma causa, ao descobrir que as jovens prostitutas judias, abandonadas pelos seus, eram rejeitadas nos abrigos cristãos como "possuídas pelo diabo". A partir daí, Bertha decidiu dar apoio a essas mulheres. Em 1902, Pappenheim fundou a Weibliche Fuesorge (Assistência à mulher), em Neu-Isenburg, ao sul de Frankfurt, instituição destinada a colocar órfãs em lares adotivos, educar mães a cuidar dos bebês e dar orientação vocacional e oportunidade de emprego para moças.

Em 1904, fundou a Liga de mulheres judias, Juedische Frauenbund, da qual foi a presidente por vinte anos. Também nesse ano, escreve um relato sobre sua viagem à Galícia, parte pobre da Polônia, para salvar a população de mulheres judias do comércio de mulheres, e relata: "A minha origem austríaca, o judaísmo ortodoxo, junto aos anos de auxílio aos pobres e o desejo de trazer prosperidade espiritual aquela população, justificam essa viagem" (Pappenheim, 1904, apud Guttmann, 2001). Bertha também relata sobre a atividade dos bordéis e o mercado de mulheres e meninas, que se submetiam ao comércio sexual na Galícia.

Em 1905, após a morte de sua mãe, Pappenheim viaja para a Polônia e a Rússia, pela causa social e feminista. Bertha defendeu crianças e mulheres judias abandonadas na miséria do pogrom, genocídio. Em 1907, criou o primeiro lar para mulheres na Alemanha, Das Heim des Juedischen Frauenbundes in Neu-Isenburg, defendeu seus direitos, inclusive os das prostitutas e também das crianças órfãs.

Bertha Pappenheim ganhou projeção internacional pelo seu trabalho de ajuda e educação vocacional e conseguiu ajuda nacional e internacional para sua causa como fundadora e líder da Liga das mulheres Judias. Viajou ao Oriente Médio, à Europa e à Rússia, investigando e pregando contra a prostituição e o comércio de escravas brancas. Em uma de suas publicações mais conhecidas, Sisyphus Werk (O trabalho de Sísifo), fez um paralelo entre a sua luta e o trabalho incansável desse herói grego, que persistentemente empurrava uma pedra para o alto da montanha, quantas vezes essa voltasse a rolar montanha abaixo.

Lembremos que Bertha Pappenheim sublimou sua sexualidade com a militância feminista e com a escrita, como declarou no relato da viagem a Galícia: "o ato de escrever o que vi, trouxe-me alguma paz, diante de tamanha miséria".

No período anterior em que esteve internada, agosto de 1883, Bertha recebeu a visita do Dr. Breuer. Segundo Guttmann, havia duas Berthas na vida de Breuer: sua mãe, que falecera aos 24 anos, quando ele tinha quatro anos e também se chamava Bertha e tinha a idade da paciente, quando ele a visitou no sanatório. Freud, que era discípulo de Breuer, conta, em uma carta à sua noiva Martha, que encontrou Breuer atordoado com o estado de Bertha, a qual "se envenenava com morfina, para se livrar das dores" (Freud, 1883). Em 1885, Bertha recebeu alta do sanatório de Inzersdorf.

Como sabemos, Anna O. começou o tratamento com a "talking cure" para, então, após muito sofrimento e internações, lançar-se no mundo social, intelectual e artístico através da escrita. Publicou seu primeiro livro, como autor anônimo, em 1888, depois como Bertha Pappenheim, assistente social e líder feminista, defensora da causa e tradutora para o alemão de textos sagrados do judaísmo (Guttmann, 2002).

Como nos conta Soler (2003). Bertha Pappenheim soube sublimar sua feminilidade sacrificada, tornou-se mãe dos órfãos que acolhia como advogada e defensora dos direitos da mulher. Sua vocação era, antes, para prostituta e órfã. Passando alegremente da privação assumida ao protesto militante, ela visitou as casas mal-afamadas do Oriente Médio. Foi pioneira, negociou de igual para igual com os homens do poder. O que a ajudou na cura dos sintomas? Seria a distância da mãe devastadora, ou a inesperada visita de Breuer?

Bertha Pappenheim, após uma sequência de internações em Inzersdorf, escreveu e publicou seu primeiro livro, em 1888, uma coletânea de contos: Pequenas histórias para crianças, Kleine Geschichten für Kinder. Os primeiros contos remetem ao período da talking cure com Breuer. Na história A ninfa do lago, DieWeihenixe, segundo Kluger (2002), Bertha teria pretendido fazer uma elaboração literária da separação de Breuer. A primeira edição do livro de contos para crianças foi um divisor de águas na vida de Bertha Pappenheim. Podemos dizer que ela sublimou, elevou sua condição de doente, vítima de uma educação restritiva e do sofrimento da morte de seu pai, para chegar a uma primeira produção sublimatória?

Em 1910, essa autora traduziu do iídiche para o alemão a história de sua descendente Glueckel von Hameln, que viveu de 1645-1724. Glueckel, graças a seu dom original, sustentou seu povo, família e a si própria, com sua crença. Bertha identificou-se com Glueckel, e transformou-a em seu modelo, inclusive em um papel encenado na sua própria vida e trabalho. Essa descendente viveu em Hamburgo com sua família de origem judaica, comerciantes de objetos valiosos, como joias e rendas. Glueckel foi mãe de doze filhos, que criou sozinha, devido à morte precoce do seu marido. Bertha continuou a escrever, publicou uma peça de teatro Momentos trágicos e várias pequenas histórias abordando temas relativos ao status da mulher face ao Judaísmo e o antissemitismo. Após deixar a presidência da Liga das Mulheres, Bertha traduziu narrativas judaicas tradicionais, como a bíblia seiscentista da mulher, de Isaac Ashkenaze, que viveu na Polônia cerca de 1590, e o Cântico dos Cânticos.

Bertha "exercitava sua solidão em reflexões particulares" (Guttmann, 2001, p. 218). Escreveu intermitentemente seu desespero, como no poema de 1911:

Amor não era para mim,
então, eu vivo em uma cela sem luz
O amor não era para mim,
então, eu soo como um violino
tocado como uma proa quebrada.
Amor não era para mim,
Então, me enterrei no trabalho,
e me adoeci com o dever.
Amor não era para mim,
Então, eu tentei enxergar acima da morte
um rosto amigo.

Seria uma writing-cure?

Freud nos conta sobre os escritores poetas criativos e sobre a sexualidade infantil, de onde vêm os bebês? Em 1908, esse psicanalista escreveu o texto "Sobre as teorias sexuais das crianças". As teorias infantis se formam, segundo esse autor, em pensamentos infantis e podem ser interessantes para a compreensão dos mitos e contos de fadas. Além disso, são indispensáveis para a concepção da própria neurose, pois influenciam na formação do sintoma. As crianças tomam o fato da existência de dois sexos entre os seres humanos como ponto de partida para suas pesquisas sobre os problemas sexuais. O desejo do conhecimento surge sob o aguilhão de pulsões egoístas quando a criança é surpreendida pela chegada de um novo filho na família ou quando observa esse fenômeno em outros lares e começa a se ocupar com o primeiro problema existencial, perguntando a si mesma: De onde vêm as crianças? "Woher kommen die Kindern?" (Freud, GW, Bd. VII S. 175) ou, como na tradução da edição Imago: "De onde vêm os bebês?" (Vol. IX, p.192).

O eco desse primeiro enigma parece que ouvimos em inúmeros enigmas dos mitos e lendas. As crianças não se satisfazem com as respostas dos adultos, como indica a mitologia dos países alemães, para a qual a cegonha traz os bebês aos lares após buscá-los na água. As crianças se recusam, contudo, a crer nessa teoria. Dessa maneira, elas têm a primeira oportunidade de viver um "conflito psíquico", em que suas concepções dão preferência a suas pulsões e não são consideradas corretas pelos adultos, podendo transformar-se em uma "Spaltung" - dissociação psíquica - e suas concepções não devem ser consideradas pelos adultos, tornando-as, com isso, reprimidas e inconscientes. Assim se constitui o complexo nuclear de uma neurose - "der Kernkomplex der Neurose" (Freud, 1908, GW, p. 176).

As crianças criam teorias falsas sobre sua própria sexualidade. A primeira das teorias está ligada à desconsideração da diferença entre os sexos, que consiste em atribuir a todas as pessoas, incluindo as mulheres, a posse de um pênis. A segunda teoria sexual falsa ignora a presença da vagina; nessa concepção, a criança que cresce na barriga da mãe será retirada pela passagem anal, ou através de um corte na barriga, como na história de chapeuzinho vermelho. A terceira teoria é criada quando a criança testemunha acidentalmente a relação sexual entre os pais. A percepção é incompleta, porém os ruídos e a posição das pessoas no coito poderiam ser chamados de uma concepção sádica.

Lembremos que Bertha Pappenheim (1859-1936) nasceu em Viena, em uma família da alta burguesia judaica. Os pais de Bertha seguiam os procedimentos e rituais ortodoxos do judaísmo e educaram seus filhos de acordo com as convenções da elite judaica. Segundo Dora Erdinger, sobrinha de Bertha e escritora, quando Bertha nasceu, a notícia foi dada sem entusiasmo: "é só uma menina", sendo ela a terceira filha. A segunda faleceu aos dois anos e, quando Bertha tinha oito, sua irmã mais velha também teve o mesmo destino. O luto dessas mortes marcou sua vida, as histórias contadas e depois escritas por ela. Bertha foi educada em casa, onde falava e escrevia iídiche e hebraico, aprendeu sobre as tradições judaicas e leu partes da Torá em hebraico. Como citamos anteriormente, a história de Bertha como escritora inicia-se em 1888 com o primeiro livro publicado, onde as narrativas rememoram passagens do tempo da "talking cure" com Breuer. Nelas, Bertha expressa, de forma literária, o desejo de casar-se e de ter filhos, como apresentamos, a seguir, nos fragmentos de um conto.

"Na terra das cegonhas"- Im Storchenland. (Pappenheim, 1888.) - conta a história de uma menina, Camilla, que estava noiva de um rapaz de origem humilde. Os dois combinaram, antes de se casar, que ele deveria viajar para o exterior para trabalhar e retornar como um homem rico. Enquanto isso, Camilla passava o tempo costurando seu enxoval. O noivo viajou por anos, e ela já havia terminado o enxoval. Ficou desolada com a falta do noivo e com a ideia de renunciar ao desejo ardente de ter filhos. Via a cegonha todos os dias sobrevoando perto da sua casa para entregar os bebês, mas não parava na sua casa, pois não tinha uma família. Um dia, a moça teve a visita de um grande pássaro negro que lhe avisou que, na terra das cegonhas, a líder morrera, causando um caos, e convidou-a para conhecer o lugar onde os bebês nascem. Fizeram um longo voo até a terra das cegonhas, onde os bebês nasciam das árvores. Camilla aceitou ficar e cuidar do destino de cada um que nascesse.

 

 

Retomemos a Freud e as teorias infantis sobre a sexualidade e encontramos no conto Na terra das cegonhas uma ligação com a segunda falsa teoria infantil onde o nascimento da criança pela vagina é ignorado. Bertha reinventa o nascimento em outra terra onde as crianças nascem das árvores. Seria na terra do inconsciente?

Lembremos que Bertha Pappenheim criou o primeiro lar para mulheres judias na Alemanha que funcionou de 1907 a 1942, em Neu-Isenburg, Alemanha. Bertha faleceu em 1936, em casa, aos 76 anos, alguns dias após ter sido interrogada pela polícia nazista, a Gestapo.

O contraponto entre o conto de Charlotte e a história de Bertha nos vem algumas das questões que desejamos abordar na pesquisa de doutorado. De onde veio a força que libertou Bertha/Anna? Como compreender o entrecruzar-se do discurso social com a posição feminina? No conto, embora vítima, a esposa é cúmplice ao endeusar o marido. E Bertha? Libertou-se por sua Histeria, ou apesar dela?

 

Referências

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