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versão impressa ISSN 2359-0769versão On-line ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.22 no.3 Fortaleza  2022  Epub 22-Nov-2024

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i3.e12588 

Relatos de Pesquisa

O IMPACTO DAS EXIGÊNCIAS DE EXCELÊNCIA CIENTÍFICA NA SAÚDE DE PESQUISADORAS PQ/CNPQ DA PSICOLOGIA

The impact of the demands for scientific excellence on the health of PQ/CNPq researchers in Psychology

El impacto de las exigencias de excelencia científica en la salud de investigadores PQ/CNPq en Psicología

L’impact des exigences de l’excellencescientifique sur la santé des chercheurs PQ/CNPq en psychologie

Rocelly Cunha1 
http://orcid.org/0000-0003-0201-5436; lattes: 3692864558732600

Magda Diniz Bezerra Dimenstein2 
http://orcid.org/0000-0002-5000-2915; lattes: 9681334300604531

Candida Maria Bezerra Dantas3 
http://orcid.org/0000-0003-4778-9400; lattes: 8181024208435709

1Doutora em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora do curso de Psicologia do Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNIRN)

2Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Bolsista PQ/CNPq 1-A

3Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)


Resumo

Objetivou-se discutir os efeitos das exigências da excelência científica na saúde das bolsistas PQ/CNPq da psicologia. Utilizou-se questionário on-line aplicado a uma amostra não probabilística de 85 mulheres, dentre as 204 bolsistas PQ/CNPq cadastradas no sistema e entrevistas remotas com 24 delas. As pesquisadoras identificam processos de adoecimento em razão das exigências do trabalho acadêmico e de pesquisa. Consideram que sustentar a carreira científica em nível de excelência em um contexto machista, patriarcal, desigual e precarizado reverbera negativamente na saúde. As mulheres, diferentemente dos pesquisadores homens, precisam lidar cotidianamente com o sexismo institucionalizado, com a discriminação e as hierarquias de poder nas universidades e instituições de pesquisa. Além disso, com as responsabilidades domésticas e familiares que ainda estão fortemente associadas às mulheres na cultura machista que impregna a sociedade brasileira. Esses fatores as tornam mais vulneráveis ao sofrimento e adoecimento. Percebe-se que as exigências acadêmicas se articulam às desigualdades de gênero, criando um ambiente propício à expansão dos gradientes de vulnerabilidade e intensificação do sofrimento psíquico, bem como de adesão das mulheres à racionalidade individualizante hegemônica que desconecta a produção de adoecimento do gerenciamento da vida e das imposições de gênero.

Palavras-chave gênero; ciência; processo saúde-doença; bolsistas PQ; psicologia

Abstract

The objective was to discuss the effects of the demands of scientific excellence on the health of psychology PQ/CNPq fellows. An online questionnaire was applied to a non-probabilistic sample of 85 women, among the 204 PQ/CNPq fellows registered in the system and remote interviews with 24 of them. The researchers identify processes of becoming ill due to the demands of academic work and research. They consider that sustaining a scientific career at a level of excellence in a sexist, patriarchal, unequal and precarious context reverberates negatively on health. Women, unlike male researchers, have to deal daily with institutionalized sexism, discrimination, and power hierarchies in universities and research institutions. In addition, with domestic and family responsibilities that are still strongly associated with women in the macho culture that permeates Brazilian society. These factors make them more vulnerable to suffering and illness. It is perceived that the academic demands are articulated to gender inequalities, creating an environment conducive to the expansion of vulnerability gradients and intensification of psychological suffering, as well as the adherence of women to the hegemonic individualizing rationality that disconnects the production of illness from life management and gender impositions.

Keywords gender; science; health-disease process; PQ scholars; psychology

Resumen

El objetivo era discutir los efectos de las exigencias de la excelencia científica en la salud de los becarios de psicología PQ/CNPq. Se aplicó un cuestionario en línea a una muestra no probabilística de 85 mujeres entre los 204 becarios PQ/CNPq registrados en el sistema y se realizaron entrevistas a distancia con 24 de ellas. Los investigadores identifican los procesos de enfermar debido a las exigencias del trabajo académico y de investigación. Consideran que sostener una carrera científica a nivel de excelencia en un contexto sexista, patriarcal, desigual y precario repercute negativamente en la salud. Las mujeres, a diferencia de los investigadores varones, tienen que enfrentarse diariamente al sexismo institucionalizado, la discriminación y las jerarquías de poder en las universidades e instituciones de investigación. Además, con las responsabilidades domésticas y familiares que todavía están fuertemente asociadas a las mujeres en la cultura machista que impregna la sociedad brasileña. Estos factores los hacen más vulnerables al sufrimiento y la enfermedad. Se percibe que las exigencias académicas están vinculadas a las desigualdades de género, creando un ambiente propicio para la ampliación de los gradientes de vulnerabilidad y la intensificación del sufrimiento psicológico, así como la adhesión de las mujeres a la racionalidad individualizadora hegemónica que desvincula la producción de la enfermedad de la gestión de la vida y las imposiciones de género.

Palavras chave género; ciencia; proceso salud-enfermedad; investigadoras PQ; psicología

Résumé

L’objectif était de discuter des effets des exigences de l’excellence scientifique sur la santé des boursiers PQ/CNPq en psychologie. Un questionnaire en ligne a été appliqué à un échantillon non probabiliste de 85 femmes parmi les 204 boursiers PQ/CNPq enregistrés dans le système et des entretiens à distance ont été menés avec 24 d’entre elles. Les chercheurs identifient des processus de maladie dus aux exigences du travail universitaire et de recherche. Ils considèrent que le maintien d’une carrière scientifique à un niveau d’excellence dans un contexte sexiste, patriarcal, inégalitaire et précaire se répercute négativement sur la santé. Les femmes, contrairement aux chercheurs masculins, doivent faire face quotidiennement au sexisme institutionnalisé, à la discrimination et aux hiérarchies de pouvoir dans les universités et les institutions de recherche. De plus, les responsabilités domestiques et familiales sont encore fortement associées aux femmes dans la culture machiste qui imprègne la société brésilienne. Ces facteurs les rendent plus vulnérables à la souffrance et à la maladie. Il est perçu que les exigences académiques sont liées aux inégalités de genre, créant un environnement propice à l’expansion des gradients de vulnérabilité et à l’intensification de la souffrance psychologique, ainsi qu’à l’adhésion des femmes à la rationalité hégémonique individualisante qui déconnecte la production de la maladie de la gestion de la vie et des impositions de genre.

Mots-clés genre; science; processussanté-maladie; boursiers PQ; psychologie

No Brasil, desde os anos 2000, um conjunto de políticas públicas foram implementadas com vistas a superar déficits históricos na educação superior. Contudo, evidenciou-se a renovação do projeto neoliberal ao longo desses 20 anos através de inovações ocorridas quanto à reestruturação, expansão e implementação de políticas inclusivas nas universidades. Esse cenário trouxe como marco a regulação do ensino superior por meio de políticas econômicas orientadas pela lógica da produtividade, da eficiência e da excelência (Costa & Silva, 2019).

Como consequência, observa-se, preponderantemente, nas universidades brasileiras e em programas de pós-graduação, um modo de organização do trabalho docente e de pesquisa que tem gerado profundos impactos na rotina e na saúde das(os) docentes-pesquisadoras(es). A precarização do trabalho, a sobrecarga e a intensificação laboral são alguns dos aspectos destacados pela literatura (Araújo et al., 2019; Moura et al., 2019; Sanchez et al., 2019; Souza et al., 2017).

Os estudos sobre a relação trabalho docente-pesquisador(a) e a saúde apontam, especialmente, para a ocorrência de doenças ocupacionais como os distúrbios da voz e as doenças musculoesqueléticas (Neme & Limongi, 2020; Ribeiro, 2015). Contudo, o estresse ocupacional, associado a sentimentos de hostilidade, tensão, angústia, ansiedade, frustração e depressão, desencadeados por estressores situados no ambiente de trabalho, têm ocupado um lugar de destaque no cenário atual (Campos et al., 2020; Neme & Limongi, 2020; Seabra & Dutra, 2015). De acordo com Goulart e Antunes (2020), o sofrimento psíquico dos(a) professores(a)-pesquisadores(a) dentro das universidades é uma evidência.

Para Araújo et al. (2019), apesar de tal evidência, as pesquisas que analisam o impacto do trabalho acadêmico na saúde dos(a) docentes-pesquisadores(a) não levam em conta as diferentes exigências impostas às mulheres e aos homens nas diversas esferas da vida social e nas próprias instituições acadêmicas. De acordo com as autoras, a compreensão da relação entre as dinâmicas da jornada acadêmico-científica e as condições de gênero é fundamental. Afinal, há desequilíbrios na distribuição dos tipos de atividades, recursos e poder, com os homens ocupando setores mais privilegiados e mais bem remunerados em diversas áreas de conhecimento do que as mulheres e tais condições podem provocar sofrimentos em diversos níveis (Barros & Mourão, 2019; 2020; Macêdo, 2020; Staniscuaski et al., 2020; Valentova et al., 2017).

Olhando-se mais detidamente para uma fatia desse(a)s trabalhadore(a)s, a saber das mulheres e homens bolsistas de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional Científico e Tecnológico/CNPq, a situação agrava-se ainda mais, pois estão expostos às intensas exigências de desempenho. Sendo considerado um grupo privilegiado e de excelência, esse contingente de pesquisadores(as) é responsável pela grande parte da produção científica, tecnológica e de inovação, bem como pela formação de mestres e doutores no país. Apesar do aumento de mulheres bolsistas de Produtividade em Pesquisa (PQ) nas últimas décadas, as assimetrias permanecem (Barros & Mourão, 2019; 2020). Os dados analisados por Valentova et al. (2017) mostram diferenças significativas na distribuição das bolsas pelo país. Do total de 13.625 bolsas, 8.769 (64,36%) são ocupadas por homens e somente 4.856 (35,64%) por mulheres.

Além da disparidade na distribuição de bolsas PQ, as mulheres enfrentam uma série de obstáculos para dedicar-se exclusivamente ao trabalho de investigação, o que impõe um ritmo bastante desigual em relação aos homens no que tange ao ingresso e permanência no sistema, bem como à mobilidade interna entre os diferentes níveis de bolsa PQ. Os estudos de Macêdo (2020) e Borsoi e Pereira (2013) demonstram que as mulheres têm adoecido mais do que pesquisadores homens no cumprimento das mesmas funções. Portanto, é imprescindível, na análise do trabalho da pesquisadora, levar em conta as profundas desigualdades de gênero no âmbito da ciência e seu impacto no processo saúde/doença.

Com base nisso, buscamos, nesse artigo, lançar um olhar mais apurado sobre as pesquisadoras da área da Psicologia, bolsistas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Trata-se de uma área marcadamente ocupada pelas mulheres, mas com um histórico de desigualdades internas quando se trata do reconhecimento pela comunidade científica, de posições de destaque na área e de contribuição intelectual. Objetivamos refletir sobre a relação trabalho acadêmico-científico e o processo saúde/doença, isto é, sobre o impacto das exigências de excelência científica na saúde dessas pesquisadoras.

Material e métodos

Essa pesquisa integra um estudo mais amplo de doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGPsi/UFRN) que investiga os impactos das desigualdades de gênero na ciência no cotidiano de mulheres pesquisadoras em Psicologia. Esse estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN, sob o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética – CAAE nº 32033620.0.0000.5537 de acordo com o parecer nº 4.072.688.

Partimos de uma abordagem multimétodo desenvolvida em duas etapas. Na primeira etapa, buscamos conhecer o perfil sociodemográfico e acadêmico-científico das pesquisadoras PQ da Psicologia, bem como procuramos mapear o conjunto de atividades realizadas por elas através de um formulário eletrônico. Utilizamos as seguintes estratégias para a formação da amostra: a) mapeamento das bolsistas ativas no sistema PQ em abril de 2020 (período da coleta); b) envio de e-mail às mulheres bolsistas PQ da Psicologia; e c) compartilhamento do link do formulário eletrônico, cadastrado na plataforma Survey Monkey, em determinados ambientes virtuais. Para fins desta etapa, trabalhamos com a amostra não probabilística de 85 mulheres respondentes ao questionário online, composto de questões abertas e fechadas, dentre as 204 bolsistas PQ/CNPq cadastradas no sistema.

A qualidade da referida amostra não probabilística foi avaliada no GPower 3.1, indicando que uma amostra mínima de 80 participantes era suficiente para a realização da pesquisa (t3 1,98; π3 0,95; p < 0,05). Em relação à multicolinearidade entre as variáveis, estas foram de -0,32 a 0,88 e, no teste de normalidade de Shapiro-Wilk (S-W), observou-se sua adequabilidade (S-W = 0,47; p < 0,25).

Na segunda etapa, discutimos os efeitos das exigências da excelência científica na saúde das bolsistas PQ/CNPq da Psicologia, tomando em consideração o atual modo de organização do trabalho docente e de pesquisa nas universidades brasileiras e programas de pós-graduação. Utilizamos dados extraídos do formulário eletrônico e realizamos entrevistas semiestruturadas com 24 pesquisadoras, pertencentes ao conjunto amostral de 85 bolsistas PQ (participantes da primeira etapa) que demonstraram interesse em participar.

As entrevistas foram orientadas por um roteiro que combinou questões previamente formuladas e outras abertas, possibilitando um espaço para a reflexão espontânea das respondentes sobre os tópicos assinalados (Minayo & Costa, 2018). Em função das implicações para a condução das pesquisas resultantes do distanciamento social (pandemia da COVID-19), as entrevistas foram realizadas através do uso de plataformas de videoconferência do tipo Google Meet, Skype ou WhatsApp, de forma síncrona, com interação simultânea. Para o tratamento dos dados obtidos nessas entrevistas, baseamo-nos nas proposições de Gaskell (2018), ou seja: a) realizamos leituras e releituras das transcrições das entrevistas, tomando notas e adicionando realces no conjunto de dados; b) buscamos padrões de conexões para a formação de códigos e temas; e c) inserimos esses códigos e temas em uma matriz construída a partir das questões do roteiro.

Por fim, destacamos que as questões abordadas no formulário eletrônico e nas entrevistas semiestruturadas detiveram-se sobre as experiências de adoecimento físico e psíquico, bem como, sobre a rotina alimentar, de exercício físico e de lazer das pesquisadoras participantes do estudo.

Resultados e Discussões

Perfil Sociodemográfico, Acadêmico-científico e Jornada de Trabalho das Bolsistas PQ/CNPq da Psicologia

A análise dos dados da primeira etapa do estudo demonstrou que a maioria das bolsistas PQ/ CNPq da psicologia, dentre as 85 mulheres respondentes, se concentra na faixa etária dos 41 aos 70 anos (81,1%), representando aquelas pesquisadoras com carreiras consolidadas na área e em plena fase produtiva. Esse perfil difere das mais jovens, entre 20 e 30 anos, que estão iniciando a carreira, das que têm entre 31 e 40 anos, em fase de consolidação, bem como daquelas com idades entre 71 e 80, em fase de finalização. A maior parte dessas pesquisadoras mantem relacionamentos conjugais, sejam casadas (58,8%) ou em uniões estáveis (15,3%), são predominantemente brancas (82,35%) e residem em centros urbanos, sobretudo, nas regiões Sudeste 34 (40%) e Sul (40%).

O exame dos resultados revelou ainda que, de modo geral, a maioria (n = 79) ganha acima dos 9 salários-mínimos (SM), com média em torno de 12 a 15 SM (n = 25; 29,4%) As fontes prioritárias da renda mensal das pesquisadoras são o salário (ou aposentadoria), juntamente com a bolsa de produtividade em pesquisa. A maioria (n = 50; 58,8%) compartilha a responsabilidade financeira da família com um(a) companheira(o) e/ou com amigas(os). Notamos que somente 19 mulheres (22,4%) são as únicas responsáveis financeiras da família e 16 (18,8%) são as principais responsáveis.

No que diz respeito ao perfil acadêmico-científico, a maior parte dessas pesquisadoras PQ da área é graduada em psicologia, em instituições públicas e/ou confessionais e pertence a diferentes gerações de psicólogas(o) no Brasil. Quanto à formação pós-graduada, constatamos que 55 (64,7%) cursaram mestrado e 52 (61,2%) fizeram o doutorado em psicologia, seja em instituições nacionais, seja no exterior (6/mestrado e 14/doutorado), com destaque para as universidades europeias. Nota-se, em relação às instituições brasileiras, que os programas de pós-graduação da região Sudeste, em nível de mestrado e doutorado, foram os que mais formaram, seguidos dos da região Sul.

Esses dados (referentes à etapa 1) adicionados aos obtidos na segunda etapa (entrevistas) indicam que o perfil da bolsista PQ/CNPq da área psicologia é constituído majoritariamente por mulheres brancas, cis, oriundas do Sudeste, com idade entre 51 e 60 anos e professoras de IES públicas. São pesquisadoras PQ-2 com menos de 10 anos de bolsa e renda entre 12 e 15 salários-mínimos, que vivem em relações conjugais, heterossexuais e compartilham as responsabilidades financeiras da casa. Os resultados sociodemográficos e acadêmico-científicos, considerando a amostra analisada, demonstram que há uma sub-representação de mulheres negras, indígenas, trans, lésbicas, de outras regiões do país, no topo da carreira científica da psicologia brasileira.

No mapeamento das atividades desempenhadas por essas profissionais verificamos que a maioria (45; 53%) ocupa ou ocupou atividade de direção, seja no âmbito da graduação e/ou da pós-graduação. Além disso, nos últimos 10 anos, a maioria das bolsistas ministrou ou ministra aulas na graduação (69; 81,18%) e na pós-graduação (71; 83,53%), seja na psicologia e/ou demais áreas do conhecimento, e orienta estudantes em nível de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Quanto à inserção na área, identificamos que a maioria participa de redes nacionais e/ou internacionais de pesquisa (69; 81,18%), bem como coordena ou coordenou GT vinculados à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Pesquisa (ANPEPP) (61; 71,76%), coordenam/coordenaram e/ou participam/participaram de grupos de pesquisa e/ou núcleo de excelência vinculados ao Diretório de Bases do CNPq (63; 74,12%). Quanto à produção científica, verificamos que as pesquisadoras publicaram artigos científicos e/ou capítulos de livro (71; 83,53%), elaboraram produtos técnicos na área (60; 70,59%) e foram pareceristas ad hoc para revistas científicas (71; 83,53%).

Diante desse volume de tarefas que lhes são atribuídas, a maioria das bolsistas PQ da psicologia (60; 70,59%) sente a necessidade de trabalhar nas demandas acadêmicas e científicas, tanto na universidade quanto em casa, borrando as fronteiras entre as dimensões casa/trabalho. Para elas, a autonomia para a realização das atividades e a flexibilidade na carga horária, bem como, o prazer envolvido na formação de recursos humanos para a pesquisa, estabelecem-se como aspectos positivos da profissão. De modo contrário, a obrigatoriedade do exercício administrativo e burocrático, assim como, a precarização do trabalho docente, resultante da atual configuração do trabalho de ensino e pesquisa, sobretudo, na pós-graduação, constituem-se como aspectos negativos.

Nessa investigação, tornou-se perceptível a existência de sentimentos que oscilam entre a satisfação pela ocupação da bolsa PQ – por ser um reconhecimento de seu mérito acadêmico, e pela “complementação salarial”, na medida em que é um recurso que viabiliza inúmeras atividades acadêmicas – e, por outro lado, o desânimo/cansaço ocasionado pela sobrecarga de atividades e funções. Sobre isso, a intensificação da precarização do trabalho do(a) docente-pesquisador(a)-bolsista PQ revela-se não só na expressiva demanda por produção científica qualificada, formação de recursos humanos e demais atividades de inserção na área, mas na drástica redução dos recursos para o financiamento de pesquisas, na falta de editais públicos de fomento à qualificação pós-graduada como os pós-doutoramentos no país e no exterior, bem como na estagnação do valor da bolsa PQ nos últimos 15 anos. A pesquisadora precisa lidar com as inúmeras exigências de excelência científica, sem a contrapartida adequada em termos de recursos, condições de trabalho e suporte institucional.

O estudo de Goulart e Antunes (2020) permite uma avaliação aprofundada acerca dessa questão quando apontam a necessidade de situarmos tanto a universidade quanto a ciência e tecnologia como campos de disputas, principalmente, após a implementação de políticas neoliberais que corrompem os ideais de autonomia científica crítica e impõem lógicas mercadológicas no cotidiano de trabalho das(o) professoras(e)-pesquisadoras(e), provocando efeitos deletérios em seus processos de saúde física e psíquica. Para avaliar como essas questões aparecem no cotidiano das bolsistas PQ/CNPq da psicologia, apresentaremos alguns indicadores de adoecimento físico e de sofrimento psíquico, bem como a rotina alimentar, de exercícios e lazer dessas profissionais.

Indicadores de Adoecimento Físico e Sofrimento Psíquico, da Rotina Alimentar, de Exercícios Físicos e de Lazer das Bolsistas PQ do CNPq da Psicologia das Bolsistas PQ da Psicologia

A maioria das pesquisadoras PQ da psicologia afirma ter experienciado algum tipo de adoecimento físico e/ou psíquico em razão das exigências da excelência acadêmica. Na Tabela 1 esses dados são apresentados de modo detalhado, juntamente com informações acerca da busca de auxílio profissional, de atendimento médico, bem como sobre sua rotina em termos de atividades físicas, alimentação e lazer.

Tabela 1: Indicadores de adoecimento físico e sofrimento psíquico, da rotina alimentar, de exercícios físicos e de lazer das bolsistas PQ do CNPq da Psicologia 

Sim Não Não Informou Total
n % n % n % n %
Adoecimento físico 39 45,88 32 37,65 14 16,47 85 100
Auxílio profissional 35 89,74 4 10,26 - - 39 45,88
Sofrimento psíquico 46 54,12 25 29,41 14 16,47 85 100
Auxílio profissional 32 69,57 14 30,43 - - 46 100
Atendimento médico na universidade em caso de mal-estar físico 25 29,41 46 54,12 14 16,47 85 100
Rotina alimentar saudável 64 75,29 7 8,24 14 16,47 85 100
Prática de atividades físicas 62 72,94 9 10,59 14 16,47 85 100
Atividades de lazer 62 72,94 9 10,59 14 16,47 85 100

Os dados mostrados na Tabela 1 revelam que 39 bolsistas PQ da área (45,88%) apresentaram indicadores de sofrimento e/ou adoecimento físico em algum momento de suas trajetórias acadêmicas e científicas. Sobre esse aspecto, as pesquisadoras indicaram uma variedade de situações, desde insônia, dores de cabeça (enxaqueca), dores musculares e nas articulações, problemas respiratórios (crise alérgica e sinusite), dores na coluna, tendinite, descontrole das taxas de colesterol, deficiência de vitamina D, até problemas mais graves como câncer, glaucoma, cálculo renal, gastrite, crise epiléptica, doença autoimune, Lesão por Esforço Repetitivo (LER), gastrite, hipertensão e herpes zóster. Essa variedade de doenças ocupacionais também foi constatada por estudos anteriores desenvolvidos em diferentes áreas do conhecimento (Araújo et al., 2019; Moura et al., 2019; Neme & Limongi, 2020; Sanchez et al. 2019; Souza et al., 2017; Ribeiro, 2015).

Em razão disso, as pesquisadoras PQ da psicologia identificam uma associação entre as (atuais) condições do trabalho acadêmico-científico e o sofrimento e/ou adoecimento físico, levando-as a buscar ajuda de diferentes profissionais da saúde, dentre eles, neurologistas, gastroenterologistas, oncologistas, cardiologistas e ortopedistas. Na experiência das profissionais (nº 16 e nº31), notamos como essas pesquisadoras associam determinados sofrimentos físicos a algumas tarefas que compõe o trabalho acadêmico e científico: “(Tive) Hipertensão e uma vez herpes zóster ao assumir o cargo de Diretora de Assuntos Estudantis” (Bolsista PQ/CNPq, formulário eletrônico nº 16). “Sinto dores nas costas, ombros, decorrentes da digitação e tempo no computador” (Bolsista PQ/CNPq, formulário eletrônico nº 31). Assim, surpreende-se que 25 das 39 mulheres buscaram atendimento médico na própria universidade, indicando para a possível gravidade de algumas situações que exigiram atendimento imediato.

Embora a ocorrência de doenças ocupacionais tenha sido inicialmente abordada pela maioria das respondentes sem relação direta com algum sofrimento psíquico, identificamos uma diferença significativa (X2 = 19, 02, gl=1 p< 0,001) entre essas duas variáveis, apontando para uma íntima associação entre esses sofrimentos e/ou adoecimentos, visto que das 39 (45,88%) que afirmaram sofrer e/ou ter vivenciado sofrimento físico, 34 (87%) indicaram a existência simultânea de sofrimento psíquico. Essa constatação corrobora a conclusão dos estudos de Neme e Limongi (2020), Campos et al. (2020), Goulart e Antunes (2020) e Seabra e Dutra (2015), de que o cenário acadêmico atual exige uma atenção às manifestações e/ou sintomas psíquicos, hoje em dia cada vez mais presentes no cotidiano desse(a)s profissionais.

Em nosso estudo, ao serem questionadas especificamente sobre a vivência de sofrimento psíquico em razão das exigências do trabalho acadêmico-científico, 46 das 85 (54,12%) bolsistas afirmaram ter adoecido e 32 (89%) que buscaram auxílio de um ou mais profissionais para tratar de problemas relacionados à angústia, ansiedade, depressão, burnout, distúrbio do sono e do humor, estresse e exaustão, dentre outros sintomas. Quanto ao tipo de profissional, todas as pesquisadoras destacam psicólogas(o), psiquiatras, psicanalistas, psicoterapeutas, neurologistas, acupunturistas e homeopatas. Algumas pesquisadoras (nº 23 e nº 08) indicam que a motivação pela busca dessas(e) profissionais decorreu das seguintes condições e experiências: “(Sofri) crises de ansiedade, visão turva, queda de cabelos, burnout, palpitações e falta de ar, dores de cabeça e crises de enxaqueca” (Bolsista PQ/CNPq, formulário eletrônico nº 23). “(Tive) ansiedade em relação aos prazos, às defesas dos alunos, publicações. O pesquisador nunca descansa dessas obrigações” (Bolsista PQ/CNPq, formulário eletrônico nº 08).

As queixas relacionadas ao sofrimento psíquico ou/e esgotamento profissional têm sido apontadas como causa importante de afastamentos das atividades laborais por parte das(o) docentes brasileiras(o) (Costa, 2016; Costa et al., 2013; Martins, 2007). No entanto, conforme Fiuza (2019), a análise da condição da saúde mental dessas(e) profissionais na atualidade ainda é um fenômeno pouco discutido se comparado aos estudos que se concentram na situação das(o) estudantes, sujeitas(o) também impactadas(o) em sua saúde mental.

O estudo de Goulart e Antunes (2020) levanta a hipótese de que a invisibilidade dessa questão, quando relacionada aos docentes, resulta da subnotificação do sofrimento mental entre as(o) professoras(e) universitárias(o) brasileiras(o). Essas autoras identificaram que na realidade de professoras(e)-pesquisadoras(e) de uma determinada Instituição de Ensino Superior (IES) pública, tratar do sofrimento mental produz um desconforto entre esses profissionais, salvo quando o quadro de adoecimento é bastante grave. Isso indica que há um silenciamento prolongado até chegar ao estágio de afastamento das atividades laborais. A razão da invisibilidade dos episódios de sofrimento psíquico de professoras(e)-pesquisadoras(e) está relacionada à ideia de vulnerabilidade e incapacidade, indesejadas na realidade institucional.

Desse modo, o desligamento de um(a) professor(a)-pesquisador(a) da pós-graduação ou a saída de um(a) bolsista do sistema PQ/CNPq – devido às inúmeras demandas de produtividade – impacta diretamente na autoestima e confiança de muitos profissionais. Embora os impactos dessas condições sejam manifestados na esfera pessoal, como algo estritamente individual, sabemos que estão associadas à realidade atual da universidade pública brasileira (Goulart & Antunes, 2020) e às exigências direcionadas às mulheres de uma maneira geral. A pesquisa de Oliveira et al. (2017) alertou que a realidade do trabalho acadêmico impacta a vida das(o) professoras(e)-pesquisadoras(e), na medida em que se veem cotidianamente confrontadas(o) com lógicas e regras de produção advindas do setor privado. Isso acaba expondo essas(e) trabalhadoras(e) a cargas de trabalho exorbitantes, ao acirramento de conflitos e disputas dentro das instituições e reservando um menor tempo para o lazer, para o convívio familiar, o que pode torná-la mais susceptível ao sofrimento, bem como, ao adoecimento, tanto físico quanto psíquico (Moura et al., 2019). Submersas em tais condições e envoltas em uma sensação de débito crônico, essas(e) profissionais se sentem constantemente pressionadas a produzir conhecimento velozmente e a empreender uma rotina de trabalho ininterrupto e perpétua, conforme os modos de subjetivação forjados no neoliberalismo contemporâneo (Kastrup, 2010).

Sobre esse último aspecto, faz-se imprescindível destacar a problematização de Han (2017) sobre novos regimes de poder que vem se construindo desde o início do século XXI. Hoje, segundo o autor, vive-se na sociedade do desempenho. Nesse sentido, “seus habitantes não são denominados “sujeitos da obediência”, mas sujeitos de desempenho e da (auto)produção. São empresários de si mesmos” (Han, 2017, p.14), ou seja, na atualidade, os indivíduos deixaram de operar enquanto “sujeitos da obediência” como foi identificado por Foucault na análise da sociedade disciplinar e passaram a atuar enquanto “sujeitos de poder”.

Na argumentação do autor, com a mudança de paradigma da sociedade disciplinar para a sociedade de desempenho, se estabelecem modos de existir marcados por um excesso da positividade, convocando os sujeitos a se superarem em relação às metas estabelecidas por essa nova ordem mundial. Com isso, são forjados modos de subjetivação e de sociabilidade que, por um lado, cultuam a realização de multitarefas e, por outro, provocam culpas e frustrações, já que diante das cobranças exorbitantes (auto)impostas os indivíduos tendem a sofrer diante das limitações que inevitavelmente se apresentam. Embora, ocasionem sofrimento psíquico, esses indivíduos continuam desejando ultrapassar esses limites por se reconheceram como sujeitos autônomos, empreendedores e livres. A eficácia desse processo é mérito do neoliberalismo:

O neoliberalismo é um sistema muito eficiente, diria até inteligente na exploração da liberdade. Se explora tudo aquilo que pertence às práticas e às formas de expressão da liberdade, como a emoção, o jogo e a comunicação. Não é eficiente explorar alguém contra a sua própria vontade. Na exploração de outros, o produto final é insignificante. Só a exploração da liberdade produz o maior lucro. (Han, 2017, p. 8)

Todavia, o ritmo estressante e a busca implacável pelo empreendimento de si, próprio da lógica de controle neoliberal não se restringe ao ambiente de trabalho, uma vez que na sociedade do desempenho a(o) proprietária(o) do corpo motivado e eficiente deve demonstrar sua disposição para buscar um corpo belo e saudável, “pois essa capacidade é o sinal do seu sucesso e da sua adesão à ordem dominante; seu esgotamento é a prova do seu triunfo sobre as necessidades básicas dos simples mortais” (Vergès, 2020, p. 19). Nesse estudo, embora as bolsistas PQ reconheçam as consequências físicas e psicológicas determinadas pelo mecanismo exploratório do atual modo de trabalho acadêmico-científico, a maioria tenta manter uma rotina de hábitos alimentares saudáveis e de exercícios físicos. A análise dos dados relacionados a esses aspectos da vida identificou que 62 das 71 pesquisadoras respondentes (87%) consideram ter uma rotina e alimentação saudáveis. O restante das profissionais (45%) divide-se entre a casa, a universidade e/ou restaurantes. Quando questionadas acerca da realização de atividades físicas, 62 (87%) afirmaram realizar com frequência, sozinha e/ou acompanhadas. Todavia, 58% (n = 41) delas consideram que essas atividades não são suficientes e, unanimemente, afirmam que a dificuldade em realizar tais atividades está associada à dura rotina de trabalho (Tabela 1).

Além da preocupação com os hábitos alimentares e a realização de exercícios físicos, as participantes se esforçam para reservar tempo para o lazer, principalmente na companhia dos familiares. A maioria (n = 62; 87%) realiza/participa de atividades como festas, praia, viagens, visitas e passeios culturais, em companhia dos filhos (as) e/ou companheiros, outros familiares e/ou com amigas do trabalho. Somente 31% delas (n = 22) realizam sozinha. Essas atividades de lazer ocorrem semanalmente (55%; n = 39). Apesar disso, para 54% (n = 38) das mulheres tais atividades ainda não são suficientes e 48% (n = 34) consideram que o ritmo e as exigências do trabalho as impedem de realizá-las (Tabela 1).

Diante disso, fica evidente que essa lógica neoliberal marca e produz sofrimento psíquico entre as mulheres, em geral mais expostas à desvalorização e à exploração do que os homens. Além disso, há uma intersecção entre raça, gênero, classe, sexualidade, pois segundo Vergès (2020), o corpo eficiente dessa ordem econômica e social tem como medida o corpo branco e masculino. Isso impõe condições ainda mais deletérias para as mulheres, uma vez que essa economia do esgotamento dos corpos está historicamente ancorada na violência contra elas, principalmente, as deferidas contra as mulheres negras e demais não brancas.

O impacto das exigências de excelência científica na saúde de pesquisadoras PQ/CNPq da Psicologia

A partir dos dados anteriormente apresentados, observa-se que as bolsistas PQ/CNPq da área psicologia se consideram saudáveis em termos dos hábitos alimentares, mas realizam atividades físicas e de lazer aquém do desejado. A maioria apresentou problemas físicos e/ou psíquicos em razão das exigências do trabalho, tal como vem sendo identificado pela literatura, a qual destaca as imposições neoliberais que incidem na configuração do trabalho da(o) pesquisador(a), alterando-o de modo precário (Moura et al., 2019; Oliveira et al., 2017). A bolsista PQ se vê imersa em jornadas de trabalho extenuantes, passíveis de privação do convívio familiar e de horas de lazer.

No entanto, os impactos dessas exigências para a saúde são desiguais para homens e mulheres e essa desigualdade só pode ser compreendida quando associada aos persistentes desequilíbrios de gênero que impõe às mulheres pesquisadoras desafios ainda maiores. Como sabemos, a ciência se institucionalizou em uma estrutura que privilegia o modelo “masculino” de carreira, o qual envolve compromissos de tempo integral e a valorização de certas atividades que, em certa medida, dificultam, restringem e direcionam a participação das mulheres na ciência (Tabak, 2002; Velho, 2006).

No campo de estudos sobre gênero e ciência, a contribuição trazida pela crítica feminista ao conhecimento científico tem demarcado os principais desafios a serem enfrentados pelas mulheres, a saber: a) desvelar as razões que justificam o menor quantitativo de mulheres na ciência, de modo geral; b) destacar as contribuições das mulheres cientistas e das epistemologias feministas, a fim de denunciar o androcentrismo na forma de produzir conhecimento (Lima, 2013); e c) desmontar a lógica sexista que permanece na organização social do trabalho científico (Harding, 1996). Esses três aspectos estão presentes nas diversas áreas do conhecimento, no seio dos distintos ramos de saberes e no cotidiano das universidades e das instituições de pesquisa. Sobre esse último aspecto, a pesquisa realizada por Rosa et al. (2020) demonstra que as mulheres são mais assediadas – moral e sexualmente – no ambiente universitário, incluindo as discentes, técnico-administrativas e as professoras. O assédio moral e/ou sexual no cotidiano das universidades e das instituições de pesquisa é disparador de muito sofrimento e agrava as condições de adoecimento físico e psíquico das mulheres. A esse respeito, algumas das bolsistas PQ entrevistadas destacaram que necessitaram buscar acompanhamento profissional em diferentes etapas da carreira acadêmico-científica.

Eu tive um choque muito grande porque eu comecei no departamento de (suprimido) e levo a psicologia lá para dentro (...) Quando eu vou viver a primeira renovação do contrato começo a ser assediada pelo meu chefe que além do meu chefe era meu orientador (...) Ele chegou para mim, me fechou na sala e disse assim: “ou você dá ou você desce” e eu disse: “eu não dou, nem desço e nós vamos pro pau”. Ali eu comprei uma briga que marca a minha trajetória porque eu sou desde então a briguenta (...) foram vinte anos de assédio moral, deixou de ser assédio sexual para ser assédio moral, que culmina no meu exame de titular ano passado, depois de uma reprovação eu fico em segundo lugar (...). (Bolsista PQ, entrevista nº 23)

Embora a discussão em torno da ocorrência de violências moral e/ou sexual dentro do universo laboral não seja recente, o silêncio acerca de condutas abusivas e humilhantes nos relacionamentos interpessoais – que vitimam principalmente mulheres nas universidades e demais instituições acadêmico-científicas – tem sido historicamente presente. Para uma pesquisadora, essas e outras violências no cotidiano da vida acadêmico-científica revelam o quão é desigual esse cenário para elas:

Se eu tivesse como principal objetivo de vida ser bolsista pesquisadora eu me sentiria bastante excluída, bastante oprimida. Porque o ambiente acadêmico é muito doentio, se tu não cuidar e começar a se comparar com a régua da normalidade, se tu começar a te medir pelos seus colegas você adoece, experiência própria (...) Todas as vezes que de alguma forma eu me comparei com alguém foi adoecedor. Então, hoje eu adotei o seguinte mecanismo: vou seguir o meu caminho, fazer o que eu acho certo, produzir conhecimento de acordo com as minhas identificações e se é para eu ser um dia bolsista PQ1, vou ser, mas assim eu vou seguir o meu coração (...). (Bolsista PQ, entrevista nº 02)

O relato das participantes remonta aos obstáculos e às violências historicamente impostas às mulheres no cotidiano acadêmico-científico. Só recentemente a violência contra os corpos femininos e feminizados passou a ser questionada em algumas instituições universitárias do país (Bellini, 2018; D’Oliveira, 2019; Maito, 2017; Rosa et al., 2020). O estudo de D’Oliveira (2019) aponta que a violência de gênero na universidade tem particularidades, com grande presença de piadas misóginas ou machistas, assédio moral, ameaças, humilhações e violência sexual e que ocorre em salas de aula, laboratórios, reuniões de grupos de pesquisa e de agências de pesquisa, dentre outros cenários institucionais. Essas desigualdades estão expressas também entre as bolsistas PQ da psicologia (nº 16 e 03):

Às vezes, diante de alguns discursos de falas de colegas, de “brincadeiras” dá uma revolta, né? Porque não é só o discurso do machismo ele não é só produzido pelos homens, ele também é produzido pelas mulheres, então é triste você ver uma colega também reproduzindo um discurso machista numa reunião de pós-graduação, né? E se souber que tem filho pequeno? (...) uma vez quando organizei um concurso (...) a pessoa que passou estava grávida e uma professora da instituição falou assim para mim: como assim vocês aprovam uma grávida? Fiquei chocada (...) não tive nem reação. (Bolsista PQ, entrevista nº 16)

(...) Às vezes participo de bancas só com homens e, uma vez ou outra, eu tenho que me impor. Agora recentemente, eu vivi um episódio meio esquisito. A (nome suprimido) me convidou para avaliar um edital de pesquisador. Eu fui a presidente da sessão. E eu era, além de ser mulher, era a mais nova da turma e tinha dois professores mais velhos. Todos eram das áreas humanas. A gente se sentou e começou a eleger os critérios antes de avaliar. E eles, tudo que eu falava, eles me espetavam. Tudo que eu falava (...) eles começaram a me confrontar, e eu gastei um tempo para entender que era um episódio machista. (Bolsista PQ, entrevista nº 03)

Além disso, as mulheres pesquisadoras enfrentam sérios desafios na tentativa de conciliar o trabalho acadêmico-científico com a esfera familiar. Equilibrar a carreira acadêmica com o trabalho doméstico, no âmbito da família, sobretudo, se forem mães, é ainda mais desafiador para as mulheres, como é amplamente conhecido. Staniscuaski et al. (2020) alertam que no contexto da pandemia da COVID-19 esse equilíbrio está insustentável. O deslocamento da vida acadêmica para o espaço doméstico tem interferido drasticamente nessa equação.

Conciliar trabalho remoto, cuidado da casa e acompanhamento dos filhos, em regime de isolamento, tudo isso tem reverberado negativamente em muitos aspectos, especificamente, na produção científica (Macêdo, 2020). Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) investigou como os fatores gênero e raça têm interferido na produção de cientistas brasileiros durante a pandemia da COVID-19 e concluiu que a produção masculina tem sido pouco afetada, diferentemente das mulheres negras, com ou sem filhos e das brancas com filhos em idade escolar, que são duramente impactadas, nessa ordem (Parent in Science, 2020).

As pesquisadoras que assumem a função de cuidadoras de familiares idosos têm enfrentado responsabilidades adicionais. Embora mulheres e homens possam compartilhar funções de cuidado e tenham sido impactadas(os) pelas mudanças impostas pelo cenário atual de pandemia, historicamente, as mulheres vivem uma sobrecarga de trabalho. De acordo com as estatísticas sociais divulgadas pela agência de notícias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres dedicam, em média, 10,4 horas a mais do que os homens, ao cuidado, aos afazeres domésticos e/ou ao cuidado de pessoas (IBGE, 2020). Para as pesquisadoras, a condição de adoecimento, resultante da jornada de trabalho no âmbito acadêmico-científico, se intensifica quando associada à carga horária exercida na esfera doméstica e familiar, sobretudo, no que diz respeito ao cuidado dos filhos em fase de desenvolvimento infantil: “(Tive) crises epiléticas causadas em parte pelo estresse decorrente do excesso de atividades acadêmicas e atividades domésticas, em especial cuidar de filhos pequenos” (Bolsista PQ/CNPq, entrevista nº 4). “Eu tive lesão por esforço repetitivo durante o doutorado (...) Eu passava muitas horas digitando e analisando dados e amamentando a minha filha. Adoeci devido ao excesso de esforço físico e sobrecarga de trabalho” (Bolsista PQ/CNPq, entrevista nº 6).

O impacto das exigências de excelência científica na situação de saúde das mulheres pesquisadoras, portanto, é enorme. Borsoi e Pereira (2013) indicam que as professoras tendem a apresentar mais queixas de sofrimento e adoecimento que os docentes do sexo masculino. Os autores apontam a formação de mestres e doutores como uma das atividades que mais desencadeia síndrome de burnout entre docentes-pesquisadores, mas destacam que as mulheres são as que mais sofrem e adoecem nas atividades acadêmicas de orientação e supervisão. As atividades realizadas em contato direto com alunos, em particular, aquelas que implicam atendimento individualizado, têm relação mais acentuada com as queixas de mal-estar das pesquisadoras, o que pode indicar a influência dos valores e estereótipos de gênero impostos às mulheres sobre a formação de seus sintomas e/ou sofrimentos (Zanello, 2014; Zanello & Silva, 2012).

De acordo com Zanello (2018), ao contrário dos homens, as mulheres são subjetivamente constituídas com uma ampla disposição para pensar no bem-estar dos outros. Desde a infância, há um controle social sobre os corpos femininos com vistas a assegurar um ideal naturalizado de feminilidade subserviente (Del Priore, 2009). Tal controle reproduz culturalmente performances que criam modos particulares de subjetivação e reverberam nas múltiplas dimensões de suas vidas, bem como na saúde mental (Zanello, 2014; 2018).

Dessa forma, a precarização cada vez mais acentuada das condições em que se realiza o trabalho acadêmico, a sobrecarga do trabalho doméstico, o grande volume de atividades extraclasse, os rumos das políticas educacionais e de pós-graduação no país, o sexismo institucional, o “ethos masculinista da ciência” (Bandeira, 2008, p. 211), são alguns dos inúmeros fatores que vêm ampliando os coeficientes de vulnerabilização e adoecimento físico e psíquico das mulheres pesquisadoras na psicologia. Se considerarmos que 71 pesquisadoras correspondem a 34% do total de mulheres bolsistas na área, nota-se a emergência de um contexto propício ao adoecimento, típico da “sociedade do cansaço” (Han, 2017). Como dito anteriormente, a vida humana na contemporaneidade está marcada pela hiperatividade e pelo esgotamento excessivo com características alienantes e individualizantes, que implicam em modos específicos de subjetivação e que afetam as mulheres de maneira muito particular, na medida em que essas se veem como autônomas e capazes de superar todos os obstáculos que lhes são impostos (Rago, 2019; Oksala, 2013).

Eu (...) acho que deveria ter mais oportunidade, mais atenção às particularidades do feminino, mas ao mesmo tempo isso me instiga muito a mostrar que a gente pode, né? E assim, mostrar que essa diferença existe, mas mostrar também que a gente pode fazer pesquisa com a mesma qualidade, ou mais qualidade do que homens. Não é o gênero que vai definir a qualidade do pesquisador, né? E que exatamente porque a gente dá conta de muito mais coisa do que os homens, eu acho que a gente acaba fazendo um trabalho de muito mais qualidade. (Bolsista PQ, entrevista nº 07)

É preciso, pois, operar um deslocamento no entendimento dos processos de adoecimento e sofrimento das mulheres, na medida em que a ênfase na excelência e eficiência acadêmica presente no sistema PQ/CNPq pode ser entendida como parte das tecnologias contemporâneas de dominação e de empresariamento de si, onde as mulheres são autorresponsabilizadas pelo seu fracasso ou sucesso, tecnologias que estão associadas diretamente ao colapso experimentado em várias dimensões de suas vidas.

Como disse Pinheiro (2020, p.112), “tais discussões apontam para uma figura subjetiva muito contemporânea, que é o professor endividado, que busca consumir qualidade de vida para se manter produtivo e competindo com os outros e, principalmente, consigo mesmo”. A autora nos convoca a pensar as condições psicossociais e a estreita relação entre “essa maquinaria de adoecimento e endividamento docente” (Pinheiro, 2020, p.128), as desigualdades de gênero, o processo saúde-doença e a medicalização do corpo feminino.

Nesse sentido, destacamos a complexa sinergia entre gênero, classe social e raça/etnia na produção das desigualdades sociais e, consequentemente, nos modos de adoecer das mulheres.

Como foi destacado, na psicologia, há um predomínio de bolsistas PQ brancas, apresentando a necessidade de estudos futuros que analisem a associação entre a exigência de excelência acadêmico-científica e as condições de saúde a partir de outros perfis étnico-raciais, uma vez que muitas mulheres negras, apesar de estarem no ensino superior, não têm alcançado os altos níveis de formação, como mestrado e doutorado, e/ou conseguido integrar o grupo de bolsistas PQ do CNPq (Malpighi et al., 2020). Assim, aquelas que já fazem parte do sistema PQ, podem viver uma potencialização das inúmeras vulnerabilidades existentes.

Considerações finais

Este estudo teve como objetivo discutir o impacto das exigências de excelência científica na saúde de pesquisadoras PQ/CNPq da área de psicologia. Nossos achados demonstraram que essas mulheres identificam processos de adoecimento em razão das exigências do trabalho acadêmico e de pesquisa. Consideram que sustentar-se em uma carreira científica em nível de excelência em um contexto machista e patriarcal reverbera em muitos âmbitos da vida, especialmente, na saúde. Ressaltamos que as exigências acadêmicas se articulam às desigualdades de gênero, criando um ambiente propício à expansão dos gradientes de vulnerabilidade e intensificação do sofrimento psíquico, bem como de adesão das mulheres à racionalidade individualizante hegemônica que desconecta a produção de adoecimento do gerenciamento da vida e das imposições de gênero.

Ademais, destacamos que a presente pesquisa apresentou limitações quanto à sua população e amostra. A sub-representação de mulheres negras e a inexistência de mulheres indígenas entre as bolsistas PQ da psicologia participantes, inviabilizou uma associação significativa entre as variáveis e, deste modo adiou uma análise necessária quando tratamos dos efeitos da excelência científica na saúde de mulheres pesquisadoras, já que na articulação entre as atuais exigências acadêmicas e a racionalidade neoliberal, as mulheres não brancas são as mais exploradas e, em consequência disso, introjetam mecanismos psíquicos ainda mais autodestrutivos.

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Recebido: 15 de Maio de 2021; Revisado: 16 de Novembro de 2021; Aceito: 13 de Dezembro de 2021; Publicado: 26 de Dezembro de 2022

Rocelly Cunha E-mail: rocellycunha@gmail.com

Magda Diniz Bezerra Dimenstein E-mail: magda.dimenstein@ufrn.br

Candida Maria Bezerra Dantas E-mail: candida.dantas@gmail.com

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